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Artigo O Valor Simbólico da Recreação para Crianças Surdas no Ensino Fundamental Regular

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Artigo O Valor Simbólico da Recreação para 
Crianças Surdas no Ensino Fundamental Regular 
Autor: Maria Mirtes de Sousa Silva e José Francisco 
de Sousa 
Fonte: 
https://vidacff.blogspot.com/search/label/Educa%C3%A7%C3%A3o%20especi
al em 22.03.2021 
Resumo: Este trabalho tem como objetivo verificar como acontece a interação 
das crianças surdas com as crianças ouvintes e entre si durante o recreio, 
observando como estabelecem os diferentes tipos de comunicação na 
brincadeira, entendendo porque muitas crianças ficam isoladas, preferindo não 
interagir com os colegas. Assim esse trabalho pretende colaborar com os 
profissionais de educação para que tenham uma visão diferente da inclusão na 
escola, pois incluir não é apenas inserir alunos com necessidades especiais, 
mas é preciso verificar como é feito esse atendimento observando se 
realmente existe interação desses alunos com o meio, e se essa inclusão 
contribuirá para uma educação eficaz para os alunos com necessidades 
especiais auditivas. 
1- INTRODUÇÃOO presente trabalho teve como objetivo conhecer mais sobre 
a comunidade surda inserida no ensino regular, verificando como acontece a 
interação social dos alunos com necessidades especiais auditivas. Observando 
as diferentes formas de comunicação utilizadas pelas crianças surdas e 
ouvintes durante o recreio das escolas Classe e Parque. 
Assim esse trabalho teve início com uma investigação realizada durante o 
recreio dos alunos surdos e ouvintes, em duas escolas da rede pública do 
Distrito Federal, sendo a Escola Classe que atende alunos do 1º ao 5º ano do 
ensino fundamental e uma Escola Parque que foi um projeto realizado por 
Anísio Teixeira um importante educador brasileiro, com o objetivo de ampliar os 
conhecimentos dos alunos na qual os professores procuram trabalhar de forma 
interdisciplinar. 
Este estudo partiu do princípio que muitas escolas estão incluindo os alunos 
com necessidades especiais, mas é preciso que as instituições de ensino 
verifiquem como essas crianças estão sendo acolhidas, e principalmente 
aguçar a visão em relação ao lado social deles. Sendo necessário que a escola 
incentive e promova a interação dos alunos com o propósito de garantir uma 
aprendizagem de qualidade e que as crianças com necessidades especiais 
auditivas possam participar da sociedade ativamente. 
O trabalho verificou como as relações interpessoais acontecem no espaço 
recreativo, entre as crianças ouvintes e surdas e também a relação entre as 
surdas, pois é nesse contexto que as crianças interagem espontaneamente por 
meio de brincadeiras utilizando diferentes formas de comunicação. 
Ao conhecer como interagem as crianças surdas, fica mais fácil dialogar com 
elas respeitando suas necessidades especiais. E aos profissionais da 
educação cabe investir numa formação continuada, buscando uma capacitação 
adequada para trabalhar com todas as crianças. Cabendo à escola 
proporcionar um ambiente que favoreça um aprendizado significativo, sem 
excluir nenhuma criança tendo ou não necessidades especiais. 
Assim esta investigação partiu da vontade de conhecer esse mundo tão 
diversificado que é a inclusão dos surdos, procurando analisar como a 
sociedade e a escola em particular, se preparam para auxiliar os alunos com 
suas especificidades. O primeiro passo da escola é procurar respeitar a 
diversidade, dando a chance de todas as crianças aprenderem e progredirem 
em seus estudos de acordo com suas limitações. 
2- O DESAFIO DA INCLUSÃO DOS SURDOS NO ENSINO REGULAR NO 
DISTRITO FEDERAL. 
O desafio da inclusão dentro das escolas regulares vem colaborar para que os 
alunos com necessidades especiais possam ser valorizados e seu 
desenvolvimento seja integral. Nesse sentido, cabe as instituições 
educacionais oferecer um ensino de qualidade para que a aprendizagem 
desses alunos seja significativa e sem obstáculos. 
Atualmente a intenção das escolas é incluir todos os alunos, independente de 
ter ou não algum tipo de necessidade especial. Segundo o documento 
Declaração de Salamanca (1994), as crianças que são excluídas da escola por 
motivos como trabalho infantil, abuso sexual ou que são portadoras de 
deficiências graves devem ser atendidas no mesmo ambiente que todas as 
demais. Reforça ainda que as instituições de ensino deveriam levar em conta 
as diferenças individuais dos alunos garantindo assim, uma educação de 
qualidade independente do aluno ter ou não necessidades especiais. 
Na década de 1990, as pessoas com necessidades especiais eram 
discriminadas e excluídas, não participando ativamente da sociedade. Mas 
atualmente essa realidade já está mudando, pois essas pessoas já estudam e 
trabalham buscando uma forma de viverem com dignidade e respeito. No 
contexto escolar é necessário um olhar diferente para os alunos que 
apresentam alguma necessidade especial, procurando apoiá-los e motivando 
sua participação na sociedade para que progridam sem medo da exclusão. 
De acordo com a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) 9394/96 para uma educação 
de qualidade é dever do Estado oferecer um ensino gratuito, obrigatório com 
características e modalidades adequadas às suas necessidades, garantindo 
condições de acesso e permanência na escola e esses alunos devem receber 
atendimento em classes, escolas ou serviços especializados caso não seja 
possível sua integração nas classes de ensino regular. Nesse sentido a escola 
deve estar preparada para receber esses alunos se com o ensino para fazer 
diferença na vida dessas crianças inseridas nas escolas regulares. 
Segundo a Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação 
nenhuma escola pode excluir um aluno alegando não saber atuar com ele ou 
não ter professores capacitados. Assim toda escola (regular ou especial) deve 
organizar-se para oferecer uma educação de qualidade para todos. 
Desse modo, uma escola preparada e com professores capacitados para 
trabalhar com a inclusão em sala de aula é de suma importância porque 
contribuirá para o desenvolvimento desses alunos surdos que, sendo incluídos 
precisam de apoio da toda a comunidade escolar. 
No tocante a inclusão Spinelli (1983), comenta que inserir o aluno com 
deficiência auditiva em escolas regulares é vantajoso, pois ele recebe uma 
grande quantidade de fala normal, sendo forçado a utilizá-la. Já as 
desvantagens dessa inclusão são as frustrações que esse aluno terá em 
comunidade e na aprendizagem que podem prejudicá-lo. 
Dentro dessa perspectiva educacional incluir esses alunos com necessidades 
especiais no ensino regular, pode colaborar com sua aprendizagem 
valorizando cada indivíduo com suas especificidades. Oportunizando ao aluno 
com surdez estudar, aprender, crescer e exercer a sua cidadania que lhe é de 
direito, e para que possa ser visto pela sociedade como sujeito pensante, 
capaz e único. Diante dessa inquietação que é a inclusão Sacks (1990), expõe 
que seria preciso que existisse um mundo em que ser surdo não importasse e 
que desfrutassem a plena realização e integração, não sendo vistos como 
surdos ou deficientes. 
Para que a inclusão seja uma realidade na vida de todos esses alunos é 
necessário que a escola esteja preparada para recebê-los e principalmente 
aceitá-los com suas diferenças. Diante disso, respeitar esses alunos com 
necessidades especiais é fundamental para sua formação, cabendo a escola e 
a sociedade proporcionarem sua integração para que possam viver sem medo 
de serem excluídos. No próximo tópico será abordado como os surdos utilizam 
a LIBRAS para se comunicar com os colegas ouvintes. 
3- ADAPTAÇÃO E A SOCIALIZAÇÃO DAS CRIANÇAS SURDAS E 
OUVINTES DURANTE O RECREIO NAS ESCOLAS CLASSE E PARQUE DO 
DISTRITO FEDERAL. 
 De acordo com o Ministério da Educação em 24 de abril de 2002, a Lei Nº 
10.436 referente a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) foi sancionada pelo 
presidente da época, Fernando Henrique Cardoso, que reconheceua LIBRAS 
como meio legal de comunicação e expressão. Este acontecimento foi muito 
importante para a comunidade surda que batalhou por esta conquista, sendo 
importante também para os ouvintes, pois terão um maior contato com os 
deficientes auditivos. 
Segundo o site www.planalto.gov.br normalmente os surdos se comunicam por 
meio de sinais, uma língua visual espacial com toda uma estrutura gramatical e 
regras diferenciadas da Língua Portuguesa. Essa comunicação em sinais 
acontece com a utilização das mãos, das expressões faciais que ajudam na 
interpretação do significado para os colegas ouvintes, bem como os 
movimentos do corpo. Utilizam também o alfabeto manual que serve para 
expressar nomes de pessoas, lugares e outras palavras que não possuem 
sinais. 
Durante muito tempo os surdos foram vistos como pessoas incapazes de 
aprender, por isso não iam à escola e ainda eram proibidos de utilizarem os 
sinais para se comunicarem, porém atualmente as instituições de ensino já 
permitem que essas crianças com surdez utilizem a LIBRAS e também façam a 
leitura labial para uma possível comunicação com os ouvintes. 
Essa comunicação aparece em todos os espaços da escola e não seria 
diferente na hora do recreio, pois durante as brincadeiras livres as crianças se 
tornam totalmente espontâneas, brincando sem obrigação e sem serem 
forçadas a utilizarem os sinais ou a oralidade para interagir com seus amigos 
sendo, portanto, uma relação em que os próprios envolvidos no brincar 
estabelecem para se comunicarem. 
Ampliando essa visão Kishimoto (2003), Silva (2002) e Winnicott ( 1973) 
apontam que o brincar da criança é importante para o seu desenvolvimento, 
mas que durante a brincadeira ela não tem preocupação na aquisição de 
conhecimento ou desenvolvimento de qualquer habilidade mental ou física 
dessa forma, brincando livremente ela se satisfaz e demonstra por meio de um 
sorriso. 
Portanto é no brincar que a criança pode encontrar com mais facilidade 
soluções para as dificuldades durante as brincadeiras desenvolvidas com seus 
colegas ouvintes, mas para que a escola possa integrar esses alunos com 
necessidades especiais auditivas tendem a se isolar, é necessário uma 
abordagem comunicativa para que uma vez envolvida com essas crianças 
possa auxiliá-los nessa integração. 
Dentro da perspectiva de Edler Carvalho (1999) e Quadros (1997), a escola é 
um ambiente favorável para ampliar as relações interpessoais, sendo preciso 
que estas instituições levem em conta o contexto socioeconômico dos alunos. 
Ainda segundo as autoras, no brincar a criança faz suas representações 
simbólicas da realidade representando de acordo com suas experiências 
vivenciadas em seu cotidiano. 
Nos escritos de Aberastury (1992) pode-se encontrar várias contribuições em 
relação ao brincar da criança. A autora afirma que: 
"A criança que brinca investiga e precisa ter uma experiência total que deve ser 
respeitada. Seu mundo é rico e, em contínua mudança, inclui um intercambio 
permanente entre a fantasia e a realidade. Se um adulto interfere e irrompe em 
sua atividade lúdica, pode perturbar o desenvolvimento da experiência decisiva 
que a criança realiza ao brincar". (ABERASTURY, 1992. Pg 55) 
 
O brincar da criança é importante para seu desenvolvimento afetivo e cognitivo, 
auxiliando na socialização com outras crianças. Nas escolas isso não é 
diferente, as crianças brincam durante o recreio sem a necessidade de um 
adulto para orientar nas brincadeiras livres, pois é o momento de interação só 
dos alunos. 
4- A RECREAÇÃO NA ESCOLA CLASSE E NA ESCOLA PARQUE DO 
PLANO PILOTO PARA CRIANÇAS SURDAS E OUVINTES INSERIDAS NAS 
ESCOLAS PÚBLICAS DO DISTRITO FEDERAL. 
Esse trabalho foi desenvolvido em duas instituições da rede pública que 
pertencem à Secretaria de Educação do Distrito Federal, realizado por meio de 
observações durante o recreio dos alunos. A Escola Classe observada tem 
uma área de 1.174.42m2 e existe desde 1962, sendo uma construção realizada 
pelo Banco do Brasil com o objetivo de garantir a todos os moradores 
condições de viverem plenamente a cidadania. 
Atende as modalidades de ensino da 1ª a 4ª séries do ensino fundamental, 
com um quadro de 26 professores e com 300 alunos, sendo dividida em classe 
comum, classe especial e classe bilíngüe, seu horário de atendimento é das 
07h15min às 12h15min no período matutino e das 13h15min às 18h15min no 
período vespertino. Sua clientela é diversificada, se originando de várias 
regiões administrativas: Guará, Cruzeiro, Octogonal, Taguatinga, Ceilândia, 
Valparaíso, entre outras. Mas um pequeno percentual reside nas proximidades 
da quadra da escola que são os filhos de funcionários públicos, empregadas 
domésticas, porteiros e militares, e por ser uma escola inclusiva atende 
também alunos com necessidades educacionais especiais fora da faixa etária. 
Segundo a proposta pedagógica a escola se compromete com a comunidade, 
possibilitando o sucesso escolar dos alunos no prazo estabelecido, 
desenvolvendo nos discentes a consciência crítica, ética e criativa. 
A outra instituição na qual foi realizada a observação dos alunos no recreio foi 
a Escola Parque, inaugurada em 21 de Abril de 1977. Atende alunos oriundos 
de diversas cidades do Distrito Federal no turno vespertino e matutino, recebe 
alunos nos horários contrários que estudam na Escola Classe. Funciona das 
8:00 ás 17:20, possui 2650 alunos, 40 professores divididos nos dois horários, 
esta situada numa área nobre de Brasília e tem como metas erradicar a evasão 
escolar, atender 100% os alunos com necessidades especiais e reduzir o 
índice de reprovação. 
A Escola Parque foi um projeto idealizado por Anísio Teixeira, um grande 
educador brasileiro, que tinha como objetivo para essas escolas uma educação 
integral visando ampliar a matriz curricular das escolas classes, de acordo com 
a Secretaria de Educação do Distrito Federal existem cinco escolas parques 
em Brasília, tendo como foco principal ampliar os conhecimentos dos alunos e 
prepará-los para o mundo, ensinando diferentes atividades que podem ajudar 
no seu desenvolvimento. Atende alunos inseridos nos anos iniciais e finais do 
ensino fundamental e alunos com necessidades especiais que são aquelas 
crianças que apresentam algumas limitações em comparação com os demais 
alunos. 
Essas escolas foram escolhidas por serem inclusivas e por apresentarem de 
acordo com sua proposta pedagógica um ensino de qualidade para todos os 
alunos, promovendo seu desenvolvimento integral capacitando um aluno que 
seja o sujeito da sua própria aprendizagem. Desta forma a escola visa formar 
um individuo respeitoso, solidário, digno, justo, responsável e honesto para 
atuar na sociedade. Outro ponto relevante dessa instituição é o ensino 
interdisciplinar, oferecido para os alunos, onde os conteúdos das disciplinas 
são trabalhados de forma que esses tenham um conhecimento amplo, 
favorecendo o ensino integral para que esse seja adquirido possa ser utilizado 
em seu cotidiano. 
Na Escola Parque foi determinado pelos professores e direção que os alunos 
com necessidades especiais seriam atendidos nas quintas feiras sendo 
exclusivamente para reforçar a matriz curricular da Escola Classe, no qual os 
alunos vão uma vez por semana em períodos contrários ao que estudam e 
segundo uma professora intérprete, nesse dia tem aproximadamente 20 surdos 
separados em várias turmas. 
Os alunos observados tinham aula de teatro onde aprendem a fazer peças e 
apresentações para os colegas e a comunidade, no ensino da música eles 
juntamente com os professores aprendem a cantar e reconhecer as notas 
musicais nas canções, já nas artes aprendem a se expressarem por meio dos 
desenhos e pinturas, na educação física os alunos aprendem o valor do 
exercício físico para obter uma boa saúde, todas as aulas tem 
aproximadamente 50 minutos cada, e ao final os professoresficam na sala 
esperando as próximas turmas para desenvolver as mesmas atividades 
propostas às outras turmas. 
Assim para a realização desse trabalho foram realizadas várias visitas nessas 
escolas nos períodos manhã e tarde, em dias alternados para poder verificar a 
brincadeira das crianças surdas e as ouvintes e quais as brincadeiras 
desenvolvidas no recreio. Para esse trabalho foram observados alunos na faixa 
etária de 6 a 19 anos, inseridos no ensino regular cursando as séries iniciais e 
finais do Ensino fundamental. 
Referente ao material utilizado para fazer as anotações foram utilizadas fichas 
de registro, conversas informais com alguns familiares, professores e alunos 
com a intenção de obter informações sobre a interação entre crianças surdas e 
ouvintes inseridas no ensino regular. 
O foco dessa pesquisa é analisar as crianças entre 8 a 15 anos, de acordo com 
as tabelas 1 e 2 abaixo é possível verificar quais as brincadeiras as crianças 
realizaram durante o recreio e respectivamente idades. 
Tabela 1 ? Escola Classe, crianças entre 8 a 15 anos de idade: 
Brincadeiras Idade das crianças 
Correr 8 a 9 anos 
Dançar 8 a 9 anos 
Futebol 10 a 12 anos 
Basquete 10 a 12 anos 
Pebolim 10 a 12 anos 
Ping- Pong 10 a 12 anos 
Pique Esconde 8 a 9 anos 
Pular Corda 8 a 9 anos 
Nenhuma brincadeira 13 a 15 anos 
 
 Tabela 2 - Escola Parque, crianças entre 8 a 15 anos de idade: 
Brincadeiras Idade das crianças 
Correr 8 a 9 anos 
Futebol 10 a 12 anos 
Queimada 10 a 12 anos 
Volei 10 a 12 anos 
Nenhuma brincadeira 13 a 15 anos 
Em relação às brincadeiras desenvolvidas pelas crianças nas duas escolas, 
elas aconteceram de forma diferente mesmo sendo na hora do recreio, os 
alunos não interagiram da mesma forma. 
Pode-se notar que os alunos entre 8 a 9 anos brincam de correr, dançar, pique 
- esconde, e pular corda, sendo que durante o recreio apenas as meninas 
dançavam as músicas infantis colocadas pela direção ou monitoras da escola. 
Os entre 10 a 12 anos brincam de futebol e basquete sendo apenas os 
meninos, e as brincadeiras pebolim e ping-pong os meninos e as meninas se 
divertiam juntos, já os alunos entre 13 a 15 anos que eram surdos não 
interagiam no recreio durante as brincadeiras, pois segundo esses alunos são 
grandes demais e podem machucar os menores. Todos os recursos colocados 
a disposição dos alunos eram fornecidos pela escola todos os dias para as 
crianças se divertirem, utilizavam as bolas, mesas, cordas, músicas eram com 
o auxilio de os alunos preferem as atividades de correr, esconde-esconde e 
todo material pedagógico colocado a disposição dos alunos na hora do recreio. 
Esses brinquedos segundo a direção favorecem durante a interação dos alunos 
com necessidades especiais auditivas com os ouvintes. Durante as 
brincadeiras a escola confeccionou crachás para pendurar no pescoço das 
crianças, para que todos os alunos pudessem brincar com todos os recursos, e 
só quem estava com o crachá poderia jogar e as crianças iam revezando para 
que todos os colegas pudessem jogar também, servindo para uma certa 
organização naquele momento. 
Na Escola Classe foi observado que na hora do recreio não existia interferência 
de nenhum adulto nas brincadeiras, a não ser a presença de duas monitoras 
com a função de olhar os alunos, procurando evitar algum acidente. Existem 4 
monitores de manhã e mais 4 à tarde, todos sem curso de LIBRAS. Sendo 
questionadas sobre o curso, disseram que não tiveram tempo e que só os 
intérpretes que atuam em sala de aula possuem o curso. 
A escola não tem nenhum projeto para esses monitores, sendo que sua 
colaboração é importante não só para evitar acidentes com os alunos, mas 
poderiam colaborar com brincadeiras e jogos evitando assim um desgaste para 
ambos os lados. Mesmo sabendo que o recreio serve para a criança ficar a 
vontade conversando e brincando com os colegas, pois é na brincadeira sem 
intervenção que pode acontecer os acidentes. Na verdade não é interferir nas 
brincadeiras, mas procurar dirigir as brincadeiras oferecendo mais recursos na 
hora do recreio. 
Essa observação teve como objetivo verificar como os alunos da Escola Classe 
entre 8 a 15 anos se comportavam durante as brincadeiras no recreio em 
atividades diferentes, em ambientes diferentes e com outros professores, 
verificando a interação entre crianças surdas e ouvintes em outros locais. Foi 
notado nessa escola que muitas crianças surdas ficavam paradas sem 
interação com os colegas ouvintes, e quando brincavam quem estipulavam as 
regras eram as crianças ouvintes e os surdos normalmente aceitavam, e 
acabavam terminando as brincadeiras se isolando dos demais. 
Durante as observações nessa escola, foi fácil perceber que as crianças surdas 
interagiam com os ouvintes de forma natural, mesmo tendo uma diferença de 
faixa etária entre os alunos eles conseguiam manter um diálogo. Na hora do 
recreio e do lanche os alunos formavam seus grupos de amigos para brincar 
sem separar surdos de ouvintes. 
As brincadeiras eram realizadas em vários espaços da escola, sendo que os 
alunos ficavam andando, correndo, conversando e o único recurso utilizado 
para brincar foi uma bola trazida de casa pelos alunos, não foi notado nenhum 
outro recurso. 
Percebe-se que na tabela 2 da Escola Parque sendo uma instituição voltada 
para a prática de esportes, como outras atividades diferentes em prol de uma 
aprendizagem significativa. Como os alunos precisam cuidar dos recursos 
como bola, rede, corda, jogos pedagógicos para as próximas aulas, a escola 
não os libera na hora do recreio que é a mesma hora do lanche. Nas 
observações foram notadas diferentes brincadeiras, de acordo com a tabela 2 
pode-se verificar como as crianças surdas e ouvintes se dividiam na hora do 
recreio. 
De acordo com essa tabela é possível verificar que os alunos entre 8 a 9 anos 
preferem brincadeiras de correr, de 10 a 12 jogar queimada e vôlei, sendo que 
apenas no futebol os meninos brincaram sozinhos. Já as crianças entre 13 a 15 
anos não brincaram, sendo meninos e meninas, e estas eram surdas. 
Durante as brincadeiras desenvolvidas no recreio, os alunos utilizaram as duas 
línguas, os sinais e a oralidade para se comunicar com os colegas ouvintes e 
surdos, mesmo não havendo um total entendimento da língua as crianças 
brincavam, mas não ficavam brincando por muito tempo, acabavam inventando 
outras brincadeiras onde todos entendessem. 
No recreio muitos funcionários utilizavam alguns sinais de LIBRAS com os 
alunos surdos para manter uma comunicação eficaz onde fosse possível um 
entendimento. Mesmo havendo uma distância entre essas comunicações ficou 
visível que é preciso a escola investir mais na educação inclusiva, pois não 
basta só incluir, é preciso valorizar a diferença e o potencial desses alunos 
para que possam ser estimulados a participarem sem serem vistos como 
pessoas incapazes, como eram no passado. 
CONCLUSÃO 
Conclui-se que durante as observações realizadas nas duas escolas Classe e 
Parque do Distrito Federal, foi notado que a interação entre crianças surdas e 
ouvintes e entre surdas e surdas, aconteceu de forma espontânea, mas 
durante as brincadeiras permaneciam pouco tempo juntas. 
Para que essa interação venha a acontecer de forma natural, é necessário que 
a escola busque alternativas para melhor receber e atender os alunos com 
necessidades especiais independente da sua gravidade, pois incluir esses 
alunos é recebê-los com respeito e procurar ao máximo valorizar cada um 
deles, sendo de suma importância para sua formação enquanto individuo 
pensante e capaz de se desenvolver plenamente. 
Durante as observações, os alunos da Escola Classe recebiam vários recursos 
para utilizarem durante as brincadeiras, favorecendo assim a interação dos 
surdos com os ouvintes. Já na Escola Parque os alunos não recebiam nenhum 
tipo de recurso pedagógico para auxiliarnas brincadeiras, pois os alunos que 
traziam de casa brinquedos, tinham que lanchar rapidamente para aproveitar o 
tempo brincando antes de voltarem para a sala de aula. 
Dentro dessa perspectiva a inclusão desses alunos especiais no ensino 
regular, requer que as pessoas mudem e suas atitudes e a forma de ver as 
pessoas diferentes, verificando que não existe ninguém perfeito ou normal, e 
sim pessoas diferentes que precisam do carinho, compreensão e muito 
respeito. 
REFERÊNCIAS 
 
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Médicas, 1992, p.55 
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<http://www.planalto.gov.br >>. Acesso em 11/09/2009 às 09h02min. 
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WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. Imago, 1973. 
 
Maria Mirtes de Sousa Silva: aluna do 7º. Semestre do curso de pedagogia da 
Faculdade Evangélica de Brasilia 
Jose Francisco de Sousa: Pedagogo, Historiador, Teologo, Administrador, 
Especialista em Docência do Ensino Superior, Psicodrama, Pedagogia 
Hospitalar, Educação Ambiental,Mestre em Educação, Doutor em História 
(Unileon-Espanha),Doutorando em Psicologia pela PUC-GO

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