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RCC-Ana Catarina V Sales Uropatia Obstrutiva Introdução Uropatia obstrutiva é o bloqueio do fluxo urinário, que pode afetar um ou ambos os rins, dependendo do nível da obstrução. Epidemiologia • 2x mais incidente em homens brancos • Adultos de 40-50 anos • Em grupos de idade avançada, a obstrução urinária é comum em homens devido a hiperplasia prostática benigna ou neoplasia maligna Etiologia • Nefrolitíase • Hiperplasia prostática benigna • CA de próstata • Tumores vesicais • Menos comuns: obstrução da junção ureteropélvica, cistocele, hérnia vesical para o interior do canal inguinal, lesão iatrogênica durante cirurgia ginecológica e malignidade pélvica Fisiopatologia Uropatia obstrutiva, independentemente da causa específica, pode acarretar pressão retrógrada renal ao impedir o fluxo urinário. Isso pode resultar na diminuição do fluxo sanguíneo renal, taxa de filtração glomerular reduzida e up-regulation do sistema renina- angiotensina. Por sua vez, isso pode causar atrofia e apoptose dos túbulos renais e fibrose intersticial com infiltração dos espaços intersticiais por macrófagos. Essas alterações podem causar a diminuição da reabsorção de solutos e água, incapacidade de concentração da urina e excreção deficiente de hidrogênio e potássio. Classificação No início pode ser classificada como aguda ou crônica • Unilateral aguda • Bilateral aguda • Unilateral crônica • Bilateral crônica Casos unilaterais são mais comumente causados por distúrbios renais, ureterais, retroperitoneais ou de porções da bexiga. Casos bilaterais geralmente são decorrentes de distúrbios vesicais, da próstata e da uretra ou de malignidades pélvicas. Quadro Clínico • Dor no flanco • Febre • Polaciúria • Diminuição da força do jato • Esvaziamento incompleto • Abdome distendido (macicez a percussão) • Incapacidade de urinar • Próstata aumentada ou nodular com consistência dura no exame retal • Sensibilidade do ângulo costovertebral • Hematúria Diagnóstico • Tira reagente para exame de urina • USG renal • Ureia e creatinina • Hemograma completo • Pielograma por tomografia computadorizada • Urocultura, hemocultura • TC de abdome e pelve RCC-Ana Catarina V Sales Apresentações Agudas Retenção Urinária Aguda Paciente apresenta dor com abdome inferior distendido e tenso e história de incapacidade para urinar por muitas horas Cólica Renal Paciente com início agudo de dor unilateral no flanco. Dor geralmente intensa e de natureza espasmódica e pode ser acompanhada por sensibilidade do flanco Pode apresentar náuseas e incapacidade de permanecer deitado, acompanhado por hematúria microscópica. Pielograma por TC sem contraste é o método de imagem de escolha. Tratamento Obstrução uni ou bilateral decorrente de cálculos renais • Analgesia e reidratação • Cálculos <5 mm passará sem intervenção • Remoção ativa do cálculo: cálculos >10 mm, por litotripsia extracorpórea por ondas de choque, ou ureteroscopia com litotripsia a laser ou nefrolitotomia percutânea. Obstrução unilateral não decorrente de cálculos uretrais • Colocação de Endoprótese uretral • Nefrostomia, se necessário: dreno colocado diretamente no rim Obstrução bilateral não decorrente de cálculos renais • Colocação de um cateter para aliviar a obstrução aguda ou crônica • Terapia com alfabloqueador é recomendada para melhorar o fluxo urinário, caso se acredite que a hiperplasia prostática benigna (HPB) seja a causa. Lítiase Urinária Introdução Trata-se de uma obstrução por cálculo em alguma região do trato urinário. • Acomete 25% a junção ureteropiélica • 5% no ureter médio, cruzamento dos vasos ilíacos • 60% na junção ureterovesical Fisiologia e litogênese Com a alimentação normal, ingere-se 1 g de cálcio por dia, e 30 a 40% deste são absorvidos ativamente pelo intestino (duodeno e jejuno proximal) com o auxílio da vitamina D. Em contrapartida, 10 g de cálcio são filtrados no rim, dos quais 98% são reabsorvidos pelos túbulos renais. Esse equilíbrio é mantido pela regulação do cálcio sérico controlado pelo paratormônio (PTH), por meio da mobilização do cálcio ósseo. O mecanismo de formação do cálculo implica um estado de supersaturação de solutos (sais formadores de cálculos, como o oxalato de cálcio) associado a certas condições (pH e temperatura) que levam à precipitação de cristais. A cristalização do soluto não costuma ocorrer em condições normais, pois o organismo possui substâncias que inibem esse mecanismo, denominadas inibidores da cristalização. Estes atuam ligando-se aos solutos ou aumentando o solvente (diluindo o soluto). Para ocorrer a litogênese, os inibidores de cristalização urinária geralmente estão com níveis abaixo do necessário. Quadro Clínico • Dor em cólica de forma repentina na região lombar ou abdominal, podendo irradiar para região inguinal, para o testículo do homem/ para lábio vaginal RCC-Ana Catarina V Sales • Náusea/Vômito • Infecção urinária Diagnóstico Avaliar sinais vitais, realizar sinal de Giordano, investigar sensibilidade testicular A avaliação metabólica demonstra a etiologia da litíase em 90% dos pacientes. Dosagem urinária de 24 horas:e sérica • Cálcio • Fósforo • Ácido úrico • Creatinina • Oxalato e Citrato • Ph urinário: alcalino >7,6 • Volume urinário total • Hemograma • Urinálise/urocultura • USG/TC/ Raio x de abdome Tratamento Depende do tamanho, da localização, do grau de obstrução do cálculo e do quadro clínico do paciente Cálculo uretral: • Analgésicos, anti-inflamatórios não esteroides e antiespasmódicos para dor • Antiemético para náuseas e vômitos • Tansulosina promove o relaxamento da via urinária e auxilia na eliminação do cálculo • Deflazacorte diminui o edema uretral • Alfabloqueadores e aines não esteroidais auxiliam na eliminação do cálculo • Cálculo <5 mm: analgésicos e hidratação • Intervenção cirúrgica quando há alto grau de obstrução do trato: ureterolitotripsia, litotripsia extracorpórea por ondas de choque, ureterolitotripsia laparoscópica, ureterolitotomia aberta O tempo de saída é de 4 a 6 semanas, monitorizar através de raio x ou USG Os locais com maior dificuldade para passagem são a junção ureteropiélica, cruzamento do ureter com vasos ilíacos e a junção uterovesical. Cálculo Renal: • <6 mm apresentam grandes chances de serem eliminados espontaneamente RCC-Ana Catarina V Sales • Litotripsia extracorpórea por ondas de choque (LECO) cálculos com até 2cm de diâmetro • Ureterolitotripsia flexível • Nefrolitotripsia percutânea Cálculos vesicais: • Geralmente encontrados em homens, portadores de qualquer disfunção infravesical (bexiga neurogênica, hiperplasia prostática benigna, câncer de próstata, estenose de uretra) • Dor no hipogástrio ou genitália, sidúria, hematúria e infecção de repetição • Tratamento direcionado para etiologia Infecção do Trato Urinário Pediátrica Introdução É definida como uma infecção bacteriana comum envolvendo o trato urinário inferior (cistite), o trato urinário superior (pielonefrite) ou ambos, causando a doença em crianças Epidemiologia • Mais comum nas meninas • 8% das meninas e 2% dos meninos terão ITU ate os 7 anos • Lactentes do sexo masculino <3 anos de idade Etiologia As infecções bacterianas são a causa mais comum • Escherichia coli é a causa de 85% a 90% • Proteus mirabilis pode ser encontrado em 30% dos meninos com cistite não complicada. • Staphylococcus saprophyticus é encontrado em adolescentes de ambos os sexos com infecção do trato urinário (ITU) aguda • Klebsiella aerogenes e espéciesde Enterococcus Fisiopatologia Existe a hipótese de que a colonização da mucosa periuretral com bactérias geniturinárias preceda a infecção do trato urinário (ITU). A infecção ascendente para a bexiga é o mecanismo causador da maioria dos episódios de cistite. Classificação • Cistite/ Infecção do trato Urinário Inferior • Pielonefrite/ITU superior Quadro Clínico • Febre >39°C • Irritabilidade (neonatos e lactentes) • Baixa aceitação alimentar • Sensibilidade suprapúbica • Urina de odor pútrido • Disúria • Polaciúria • Dor abdominal/ no flanco Diagnóstico Crianças que apresentem sintomas urinários ou febre de origem desconhecida devem ser prontamente avaliadas para um diagnóstico de infecção do trato urinário (ITU). A abordagem diagnóstica geral para as ITUs pediátricas é diferenciada por: • Idade do paciente • Gravidade da doença • História de anormalidades urogenitais subjacentes Lactentes e crianças maiores (verbais) podem fazer primeiro uma urinálise de rastreamento. Em crianças que apresentam sinais e sintomas sugestivos de ITU, um diagnóstico definitivo é baseado em: RCC-Ana Catarina V Sales • Urinocultura:ASP : >1000 unidades formadoras de colônia. UJM: >100,000 UFC/mL Um único organismo cultivado de um aspirado suprapúbico (ASP), amostra de cateter ou amostra de urina de jato médio (UJM). Com frequência, os neonatos apresentam sintomas muito inespecíficos, como doença febril indiferenciada, irritabilidade, vômitos ou má alimentação. Uma aparência em geral ruim, manchas, sinais vitais instáveis, diminuição da atividade e ingestão oral inadequada indicam que suspeita de sepse Em lactentes (incluindo bebês) é provável que a apresentação também seja inespecífica, incluindo febre, diarreia ou vômitos com desidratação, deficit de crescimento, dor abdominal/no flanco, urina com odor pútrido e incontinência urinária Em crianças maiores (verbais) e adolescentes, os sintomas e sinais podem ser mais específicos para o sistema urinário e incluem disúria, urina com odor pútrido, urgência, polaciúria, incontinência urinária de novo episódio ou hematúria macroscópica. Investigações iniciais: • Urinálise microscópica • Urocultura *Padrão-ouro* • Hemocultura • USG: para descartar anormalidades anatômicas dos rins e do sistema coletor. Rastreamento positivo da urina: • Presença de nitrito • Esterase leucocitária • Piúria • Bactérias Tratamento O objetivo do tratamento é a erradicação de bactérias. ITU não complicada: • Neonatos e lactentes < 6 semanas ➢ Antibióticos intravenoso: Ampicilina, Gentamicina, Cefotaxima • Lactentes >6 semanas a <2 anos estáveis ➢ Cefixima, Amoxilina, trimetropina, ácido clavulânico, sulfametoxazol • Lactentes >6 semanas a <2 anos instáveis ➢ Ceftriaxona, cefotraxima • Crianças de 2-13 anos estáveis: ➢ Cefixima, cefibuteno, amoxilina, ac clavulânico • Crianças de 2-13 anos instáveis: ➢ Ampicilina, gentamicina • Adolescentes >13 anos estáveis: ➢ Cefixima, cefibuteno, nitrofurantoína • Adolescentes >13 anos instáveis: ➢ Ampicilina, gentamicina, ceftriaxona via IV UroPediatria Obstrução da Junção Pielouretral Definida como dificuldade no transporte da urina da pélvis renal para o ureter, conforme o grau de obstrução pode evoluir com perda progressiva da função renal. Esta enfermidade ocorre devido à falha no processo de recanalização ureteral. A hidronefrose é definida para caracterizar a presença de dilatação do sistema pielocalicinal, podendo evoluir para atrofia progressiva do parênquima renal, com perda da função renal. Fisiopatologia A presença de fator obstrutivo causa aumento da pressão intrapiélica com conseqüente aumento da pressão nos túbulos e diminuição do fluxo sanguíneo RCC-Ana Catarina V Sales renal. Essa diminuição do fluxo sanguíneo causa isquemia e evolui para lesão renal com perda progressiva do parênquima renal funcionante. Quadro Clínico • Dor abdominal • Sintomas de ITU • Formação de cálculos • Hipertensão arterial • Tumoração abdominal Diagnóstico • USG: grau de dilatação, tamanho do rim e da pélvis renal, espessura do parênquima renal • Urografia excretora: anatomia para avaliação cirúrgica • Uretrocistografia • Tc99-DTPA com prova de diurético: exame dinâmico para avaliar se a dilatação é consequente a obstrução ➢ Quando a retenção desse radiofármaco for igual ou maior à 50% indica presença de fator obstrutivo. • Cintilografia renal estática: avalia função tubular Tratamento • Pieloplastia desmembrada ➢ Essa técnica possibilita a remoção do segmento alterado, com criação de uma transição entre a pélvis renal e o ureter em forma de funil , além da ressecção do bacinete redundante, possibilitando a drenagem de urina de maneira satisfatória. ➢ O acesso à junção pieloureteral pode ser realizado por lombotomia clássica, lombotomia posterior ou por via anterior extra-peritoneal • Endopielotomia anterógrada RCC-Ana Catarina V Sales Hidronefrose Antenatal O critério aceito na caracterização da hidronefrose antenatal baseia-se na medida do diâmetro antero-posterior da pélvis renal, considerado igual ou maior que 5 a a milímetros no feto entre a 18 e a 20 semana gestacional. Classificação • Grau O: Ausência de hidronefrose. Com plexo ecogênico central normal. • Grau 1: Leve separação do complexo ecogênico central. • Grau 2: Complexo ecogênico central mais aberto e aparecem alguns cálices. • Grau 3: Pelve dilatada com quase todos os cálices visíveis. • Grau 4: Grau 3, mais afilamento do parênquima. Etiologia A hidronefrose transitória é a causa mais comum de hidronefrose antenatal. Ocorre devido a um processo de maturação insuficiente, causando obstrução transitória na junção pieloureteral ou refluxo transitório na junção ureterovesical. Tratamento No período neonatal, o ultra-som é realizado no segundo dia. Se for normal, deve-se repetir o ultra-som após um mês e, se detectar dilatação, deve-se instituir antibioticoterapia e seguimento. As indicações de intervenção cirúrgica baseiam-se nos seguintes critérios: a) Ultra-som - hidronefrose grau 3 ou 4. b) Diâmetro da pelve renal maior que 15 mm ou 20 mm c) Função renal menor que 35 a 40 % d) T ½ maior que 20 minutos Refluxo Vesicoureteral O refluxo vesicoureteral é definido como a volta da urina da bexiga para o trato urinário superior. É muito mais freqüente em meninas que em meninos. Fisiopatologia Existem dois mecanismos anti-refluxo: 1. Ação valvular passiva: Fator de manutenção do mecanismo anti-refluxo nos períodos intramiccionais. O enchimento vesical pelo aumento progressivo do volume urinário é acompanhado do aumento da pressão intravesical, causando maior compressão do túnel submucoso contra a parede do músculo detrusor, colabando o ureter nessa posição. 2. Ação valvular ativa: A contração muscular ativa tem importante papel na prevenção do refluxo vesicoureteral durante as micções Classificação • Primário: devido ao defeito na junção ureterovesical • Secundário: por aumento na pressão intravesical válvula de uretra posterior - disfunções miccionais - Iatrogênica. Quadro Clínico • Infecção do trato urinário podendo cursar com febre ou não • Hipertensão arterial • Proteinúroa de 24 hrs acima de 2g Diagnóstico RCC-Ana Catarina V Sales • Uretrocistografia miccional ➢ Grau I: refluxo para o ureter pélvico ➢ Grau II: refluxo para todo o sistema coletor, sem dilatação ➢ Grau III: refluxo para todo o sistema coletor, com dilatação, sem sinais de pielonefrite ➢ Grau IV: refluxo para todo o sistema coletor, com dilatação e com sinais de pielonefrite➢ Grau V: Megadolicoureter • USG do trato urinário superior • DMSA Tc99 Tratamento Clínico ou cirúrgico O tratamento cirúrgico está indicado principalmente nos casos de: • Refluxos de grau IV e V • Refluxo grau III que não resolveu com o tratamento conservador. • Não aderência ao tratamento clínico • Piora da função renal ou aparecimento de novas lesões renais • Associado ao divertículo parauretral, duplicidade pielouretral completa e anomalias ureterovesicais com ectopia ureteral Podem ser classificadas em: técnicas intravesicais - Glenn-Anderson, Politano- Leadbetter, Cohen e Gil-Vernet; e técnicas extravesicais LichGregoir. Válvula de Uretra Posterior É uma enfermidade congênita caracterizada pela presença de membrana localizada na uretra posterior, atribuída ou pela regressão incompleta das pregas urovaginais ou pelo resquício do ducto de Wolf não reabsorvido. É a causa mais freqüente de obstrução infravesical em meninos. Classificação • Tipo I: Inframontanal, a mais freqüente e caracteriza-se pela presença de pregas que se originam a partir do verumontano, em direção às paredes laterais da uretra. • Tipo II: Supramontanal, as pregas se localizam no colo vesical, em direção ao verumontano, são raros e muitos questionam a sua presença. • Tipo III: Diafragmática, de localização distal ao verumontano, causa obstrução mais severa. Quadro Clínico • Jato fraco • Gotejamento pós-miccional • Esforço para urinar • Quadro de retenção urinária aguda • ITU recorrente • Insuficiência renal pode variar de leve até grave • Ascite urinária por extravasamento de urina para retroperitônio Diagnóstico • USG • Uretrocistografia miccional: é o método mais utilizado para o diagnóstico de válvula da uretra posterior. • Uretrocistoscopia: é o método propedêutico mais adequado, pois permite a visibilização da válvula da uretra posterior. RCC-Ana Catarina V Sales Tratamento O tratamento da VUP em pacientes estáveis, compensados, sem infecção urinária preconiza-se a fulguração dessa válvula, endoscopicamente, por via anterógrada ou retrógrada. Em crianças com alterações metabolicas, deve-se inicialmente corrigir esses distúrbios e na presença de infecção urinária, instituir tratamento antimicrobiano adequado.
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