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Oncologia – Professor Victor 03/08/2023 – Introdução. Biologia Molecular do Câncer O câncer surge com o resultado de alterações do genoma, ou seja, ocorrem a partir de uma mutação no DNA de uma célula. A maioria das mutações são esporádicas, ou seja, acontecem ao acaso, uma célula que normalmente é uma célula não defeituosa sofre uma mutação decorrente de um determinado fator de risco (fatores carcinogênicos). Por exemplo, uma célula da pele é exposta ao sol e o raio ultravioleta gera uma mutação, só que uma mutação isolada não é o suficiente para gerar o câncer, então a maioria dessas células que vão culminar para o câncer, elas sofrem uma série de mutações e além dessas mutações ocorrerem, elas perdem os próprios mecanismos regulatórios que faz com que elas não se matem/não sofram apoptose. A maioria das mutações não são transmitidas para a prole (mutação somática). Se eu trabalho todo dia com raio x e isso gera uma mutação no meu espermatozoide, quando ele achar um óvulo, todas as células do meu “filho(a)” vão ter células com mutação. Ou seja, se a mutação for germinativa, a minha possível doença irá passar para os meus filhos, isso não significa que eu vá desenvolver a doença, porém, meus filhos vão ter o fator de risco aumentado para desenvolver. Temos o DNA que é uma fita dupla, temos uma enzima que corta esse DNA gerando um RNA mensageiro, esse RNA mensageiro será transcrito e vai formar uma proteína que na maioria das vezes vai exercer uma função. Isso é importante pois as vezes teremos uma mutação nas letrinhas (A, G, C...) e só o fato de eu ter mudado uma base nitrogenada não vai me fazer alterar o RNA mensageiro e talvez não necessariamente altere minha proteína, então não necessariamente eu ter uma mutação em uma parte do meu DNA vai fazer com que aquilo gere alguma função. Por exemplo um paciente com um traço falcemico, ele tem o gene que confere a anemia falciforme, mas aquilo sozinho não é suficiente para gerar a síndrome da anemia falciforme. Isso tudo geram dois novos conceitos, uma mutação que tem sentido (missence) e uma mutação sem sentido (nonsense). Nas bases nitrogenadas nós temos o AGC o análogo dele (RNAm) UCG e a cada três bases nitrogenadas a gente traduz para um aminoácido. Supondo que o AGC seja o DNA, o RNA normal seja o UCG e o aminoácido que iria ser codificado seria a serina, se eu tivesse uma mutação nesse G e ele passasse a ser A eu teria AAC, o RNA viraria outro e o aminoácido trocaria de serina para leucina. Isso não necessariamente iria dar uma alteração da conformação da proteína e sua função, essas mutações são as mutações com sentido, diferentemente de uma mutação sem sentido, antes tínhamos uma cadeia de DNA que iria transcrever uma serina, e ao invés disso eu posso fazer uma mutação que transcreve um códon de parada, e se o códon de parada ocorrer antes do momento correto, não terei proteína, essa proteína pode ser uma proteína que impede o desenvolvimento do câncer, então caso não tenhamos a proteína, o câncer teria uma chance maior de se desenvolver. A Proto-oncogenes é um conceito, onde todo gene que se sofrer uma mutação vai aumentar o risco de ter câncer. (todos nós temos a Proto-oncogenes) Quando o Proto-oncogenes sofre a mutação, ele é chamado de oncogênese. A diferença entre um e o outro é simplesmente o fato de um ter mutação (oncogênese) e o outro não. Além desse tipo de mutação, o ambiente tumoral precisa ser nutrido de alguma forma, supondo que tivéssemos um câncer na ponta do indicador, ele vai crescer, mas ele nunca vai atingir o tamanho de uma bola de basquete se ele não conseguir se nutrir, porque a vascularização que chega até a ponta do meu dedo não dá conta de nutrir uma bola de basquete. Tumor pode ser maligno ou benigno, câncer sempre é maligno. O câncer busca maneiras de ser alimentado, essa maneira é a angiogênese, que é a formação de vasos, o local que antes não tinha vasos, vai começar a ter, então a maioria dos canceres começam a produzir o fator de crescimento de fibroblasto e o fator de crescimento endotelial vascular, isso são coisas que fazem que os vasos sanguíneos anômalos cheguem nessa região. Alguns quimioterápicos agem diminuído a vascularização do tumor. Figura 1 Imagem da Internet A angiogênese faz com cheguem capilares onde não deveriam chegar, são defeituosos e normalmente eles possuem poros, ou seja, uma célula pode entrar nesses poros, caso uma célula de tumor entrar em um dos poros, a célula pega a corrente sanguínea e gera a metástase. O tumor maligno por definição é o tumor que pode dar metástase. Todas essas informações são importantes para: - A Prevenção e o diagnóstico precoce. - Diagnóstico molecular. (ainda está em processo de existir) - O tratamento. Pólipo adenomatoso confere risco para câncer, então é retirado, pois todo pólipo adenomatoso vira um câncer um dia. Exemplo: Angelina Jolie não quisesse retirar as mamas e ovários, ela poderia manter e fazer um acompanhamento, mamografia a cada 6 meses, ultrassom transvaginal de rotina para observar se aparecia algo no ovário. Hoje em dia temos drogas que agem justamente nos fatores Angiogênico (anti angiogênicos). O tratamento deve ser feito com uma equipe multidisciplinar, o paciente vai precisar de um cirurgião, um oncologista, um enfermeiro, um radioterapeuta, um fisioterapeuta e por aí e diante. Obs: É importante sabermos os conceitos histológicos e anatômicos. Todo tumor precisa de um nome e um sobrenome, da onde ele iniciou e o estadiamento (único e feito na data do diagnóstico, ele não muda). Obs: Não pôr na prova “Câncer de esôfago”, pois ele pode ser carcinoma escamoso do esôfago ou adenocarcinoma do esôfago, isso vai servir para todo tumor que formos falar de hoje em diante. Nas próximas aulas veremos bastante conceito anatômico, quando entrarmos em cada tipo de tumor. Para relembrar: - Circulação Porta: por definição é quando temos veia – capilar – veia. - Circulação admiral: artéria – capilar – artéria. Presente no rim por exemplo. Não tem exame padrão ouro, depende muito do tipo de tumor, por exemplo: - TC: bom para ver pulmão, razoável para ver a maioria das partes do abdomen. - RNM: melhor exame para pelve e fígado. - PET/TC: o pet é uma tomografia associada a um contraste a base de glicose, um tecido que estiver consumindo muita glicose, é onde vai brilhar no PET, como os canceres se proliferam muito rápido, eles consomem muita glicose e aparecem no PET, porém, nem todo tumor tem esse comportamento, então é possível termos um câncer que não aparece no PET, pois ele não se prolifera tão rápido, então não é um método utilizado sempre. - Exames endoscópicos: é usado para ver órgãos com pouca luz, como no caso do reto, do cólon, útero, dentro da bexiga. Geralmente os exames endoscópicos são o padrão ouro, pois ele além de ver o tumor, vai conseguir tirar um pedaço para confirmar. - Cirurgia: tumor de ovário por exemplo, não dá para saber se é benigno ou maligno com nenhum dos outros exames, então precisa ser feita a cirurgia para retirar e descobrir. Para os tumores sólidos, a maioria dos estadiamentos são baseados no TNM, que é Tumor (T), Metástase Linfonodal (N) e Metástase (M). O estadiamento é apenas para tumor maligno pois tumor benigno não dá metástase. (Não precisa decorar estadiamento, pois cada tumor tem um diferente). Pode ser cTNM, pTNM e ypTNM. O cTNM é o estadiamento clínico (sem cirurgia), o pTNM é o estadiamento patológico/exame histopatológico (fez a cirurgia) e o ypTNM é quando o paciente faz qualquer tratamento antes da cirurgia.O tumor pode ter graus de diferenciação celular, quanto mais parecido for o tumor com a célula que originou ele, provavelmente menos mutação essa célula teve, então o tumor é considerando mais diferenciado. Quando mais indiferenciado é o tumor, mais agressivo ele é e mais chance tem de dar metástase. Os marcadores tumorais são proteínas que podem ser identificadas em um exame de sangue e podem ou não estar aumentados em determinados tipos de canceres, mas, não é aumentado apenas em canceres, portanto eles não são usados para dar o diagnóstico de câncer. Os marcadores tumorais servem para, quando o paciente já tem o diagnóstico de câncer dosarmos os marcadores para: - Acompanhar a resposta ao tratamento (se está sendo eficaz ou não, então se o marcador reduzir durante o tratamento, significa que está surtindo efeito, se aumentar, o melhor a se fazer é mudar o tratamento). - Dar o prognóstico (se o marcador for MUITO alto, entende-se que o tumor é mais agressivo). - Em caso de paciente já operado/curado, acompanhamento da recidiva. O paciente com tratamento paliativo não significa que seja um paciente morredor, significa que você vai fazer um tratamento e independente do que você fizer com ele, ele vai falecer com o tumor maligno dele (podendo ser por outras causas, como um infarto por exemplo). Adjuvante é qualquer tratamento empregado após a cirurgia. Exemplo: retirada do intestino e depois o paciente precisou fazer quimioterapia. Neoadjuvante é qualquer tratamento feito antes da cirurgia. Essa escala é para saber se o paciente “aguenta” o tratamento, temos duas escalas aqui em cima, e a de baixo é a mais “básica”, onde 0 é uma pessoa com vida normal, sem nenhuma limitação, o 1 é o paciente que tem sintoma mas que não tem nenhuma limitação, o 2 ele tem o sintoma e esse sintoma faz com que ele fique algum dia do tempo acamado (menos de 50%), o 3 ele tem sintomas e fica mais de 50% do dia dele acamado e o 4 onde o paciente sempre está acamado. Em um paciente estagio 3 ou 4 ele não consegue ser submetido a nenhuma cirurgia ou quimioterapia, radioterapia e outros procedimentos, então se submetermos o paciente a isso, pode ser pior para ele. No caso dos pacientes com câncer pode ser feita a cirurgia aberta, abrindo todo o abdômen ou a cirurgia minimamente invasiva (laparoscópica/robótica). Não são todos os tumores que podem ser operados por vídeo (tumor grande). A cirurgia oncológica é baseada em 3 maneiras, de acordo com o que você retirou ou não. A cirurgia R0 é com margem de segurança macroscópica e microscópica negativa (é a cirurgia ideal). A cirurgia R1 é com margem de segurança microscópica positiva, não tinha a doença visível, porém tinha célula tumoral ali. A cirurgia R2 é com margem de segurança microscópica e macroscópica positiva, ou seja, tem a doença visível, nessa cirurgia o paciente não tem nenhum benefício (maior chance de vida com a cirurgia), só é feita em casos de por exemplo: o paciente ter um tumor que está sangrando, ou o paciente está obstruído e fazemos algo para melhorar a qualidade de vida do paciente. Cirurgia Paliativa. O tratamento sistêmico por definição é qualquer tratamento que vai ser feito ganhando a corrente sanguínea e vai pegar qualquer sistema do corpo. Eu posso fazê-lo com apenas 1 droga ou com várias drogas em conjunto. Esse tratamento é dividido em 5 modalidades: - Quimioterapia: A quimioterapia é um medicamento que usa a propriedade da célula de se dividir, o quimioterápico age quando a célula está em mitose. Como ela age em qualquer célula que está se dividindo, ela ataca outras células boas do nosso corpo, por isso o paciente tem queda de cabelo, diarreia, fica com anemia, entre outras coisas. - Hormonioterapia: Ela determina as células que respondem a determinados hormônios. - Terapia Alvo: Ele vai agir onde ele quer, em um alvo certo, exemplo: tenho uma célula com tumor de mama que expressa HER 2, eu tenho uma droga que se acopla ao receptor de HER 2 e gera o sinal intracelular que mata a célula, ou seja, ele só vai atacar as células que expressarem HER 2 e como eu tenho um alvo, eu tenho menos efeito colateral. - Imunoterapia: A imunoterapia faz uma droga de forma que a célula T volte a reconhecer a célula tumoral como nociva e mata ela. - Terapia Celular Adotiva (CAR-T): Ela faz basicamente uma imunoterapia associada a terapia alvo, ou seja, eu pego a célula do tumor e descubro quais são as proteínas de membrana, cato meu linfócito T, faço uma engenharia genética nele para que ele comece a reconhecer essas proteínas de membra e aí baseado nesse reconhecimento eu injeto de volta no doente e ele vai atacar as células. A radioterapia é nada mais que uma radiação ionizante que trabalha com aceleração de partículas gama e que isso gera calor. Ela pode ser considerada externa ou interna. Na radioterapia externa o paciente entra em um aparelho como se fosse uma tomografia, onde existe um arco e esse arco vai emitir as ondas ionizantes. Na radioterapia interna é quando você injeta partículas radioativas em determinados locais, é usada em lugares que você queira dispersar menos calor, mas, por ela dispersar menos, atinge apenas tumores pequenos (2 a 3 cm).
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