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CICLO MENSTRUAL O ciclo menstrual é um processo fisiológico que ocorre durante a idade reprodutiva da mulher e resulta na extrusão de um óvulo e no preparo do endométrio para a implantação embrionária. Qualquer alteração no metabolismo, na secreção ou excreção dos hormônios ou de seus reguladores interfere na regularidade, volume e duração do ciclo. FISIOLOGIA O ciclo ovariano é dividido em duas fases: folicular e lútea. - FASE FOLICULAR: começa com o início da menstruação e termina no dia anterior ao aumento do hormônio luteinizante (LH) = apresenta uma duração variável, sendo responsável pela regularidade (ou irregularidade) menstrual. - FASE LÚTEA: começa no dia do pico de LH e termina no início da próxima menstruação = apresenta uma duração fixa de 14 dias. O ciclo menstrual tem duração de 28 a 35 dias, com aproximadamente 14 a 21 dias na fase folicular e 14 dias na fase lútea. SINDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS A síndrome do ovário policístico (SOP) é um distúrbio endócrino mais comum nas mulheres em idade reprodutiva e a causa mais comum de infertilidade em mulheres. Frequentemente se manifesta durante a adolescência e é caracterizada por disfunção ovulatória e hiperandrogenismo. Ela se apresenta por: Anovulação crônica; Hiperandrogenismo com diferentes graus de manifestações; Ovários micropolicísticos, principalmente em sua periferia. Além disso, pode haver alterações metabólicas, como: Resistencia a insulina + hiperinsulinemia; Alterações lipídicas; Síndrome metabólica. FISIOPATOLOGIA A anovulação em mulheres com SOP é caracterizada por secreção inadequada de gonadotrofinas (GnRH). Essa secreção inadequada de GnRH causa: Hipersecreção do hormônio luteinizante (LH); Redução de hormônio folículo estimulante (FSH). - LH EM EXCESSO: Estimula as células da Teca, que têm a capacidade de transformar o colesterol circulante em testosterona e androstenediona. - FSH REDUZIDO: Não estimula as células granulosas a converter os andrógenos em estrogênio. Por causa dessas alterações, há um aumento na produção de androgênios, predominantemente a ANA CLARA SANTOS - 6P (IESVAP) testosterona. Esse aumento de androgênios impede o desenvolvimento folicular normal, causando múltiplos folículos pequenos na periferia do ovário. Como ocorre uma anovulação crônica, não há a formação de corpo lúteo e, consequentemente, não há produção de progesterona. Com isso, o endométrio é estimulado somente por estrogênio, causando quadros de sangramento uterino anormal e de hiperplasia de endométrio. O tipo A e o tipo B se associam a alterações mais graves e são mais comuns em pacientes acima do peso. O tipo C é intermediário e o tipo D se apresenta de forma mais branda. RESISTÊNCIA A INSULINA O excesso de insulina, chamado de hiperinsulinemia, atua na teca ovariana estimulando a produção de hormônios androgênios e diminui a quantidade da globulina de ligação dos hormônios sexuais (SHBG), consequentemente aumentando as concentrações de andrógenos na circulação, sendo assim é possível relacionar a hiperinsulinemia e a hiperandrogenemia. A SHBG tem a capacidade de se ligar principalmente a testosterona e diminuir a testosterona livre. O aumento de testosterona livre, mais atuante, que é convertida em di- hidrotestosterona, causa na periferia o hirsutismo. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As principais manifestações clínicas da SOP são: Hiperandrogenismo ( que pode ter diferentes graus de manifestações); Anovulação crônica. Além disso, o quadro clínico de SOP tem queixas com origem em diversos efeitos endócrinos, como: Disfunção menstrual: Amenorreia (ausência de menstruação durante 3 meses consecutivos); Oligomenorreia (aumento do intervalo entre os ciclos e redução do volume) Menometrorragia (Aumento do volume menstrual e sangramentos fora do ciclo), cursando com anemia. A amenorreia e a oligomenorreia são consequências do estado de anovulação que não forma corpo lúteo e por isso não produz progesterona. Sinais de Hiperandrogenismo: Hirsutismo; Acne; Pele oleosa; Queda de cabelo; Casos mais graves: sinais de virilização (clitomegalia e alopecia androgênica) Além disso: Infertilidade; Resistencia a insulina; Acantose nigricans; Intolerância a glicose (DM 2); Dislipidemia. O hirsutismo é comumente classificado de acordo com o sistema Ferriman-Gallwey, que quantifica a extensão do crescimento do cabelo nas áreas mais sensíveis aos andrógenos. ANA CLARA SANTOS - 6P (IESVAP) É atribuída uma pontuação de 0 a 4 para cada área, para caracterizar o hisutismo em focal ou generalizado. COMO DIAGNOSTICAR O critério diagnóstico mais utilizado é o de Rotterdam. A SOP é considerada um diagnóstico de exclusão, em que atualmente se confirma o diagnóstico quando há a presença de no mínimo 2 critérios diagnósticos, dos 3 critérios de Rotterdam: - OLIGOMENORREIA: ausência de menstruação por 90 dias ou mais, ou a ocorrência de menos de 9 ciclos menstruais em 1 ano - HIPERANDROGENISMO CLINICO E/OU LABORATORIAL: O hiperandrogenismo laboratorial ocorre quando há elevação de pelo menos um androgênio, que pode ser testosterona total, androstenediona e/ou sulfato de desidroepiandrosterona sérica (SDHEA). - US PÉLVICA: demonstrando mais de 20 folículos antrais de tamanho entre 2 e 9 mm, em pelo menos um dos ovários ou volume ovariano de maior ou igual à 10 cm3. O hiperandrogenismo pode ser clinico ou laboratorial. O hiperandrogenismo laboratorial ocorre quando há elevação de pelo menos um androgênio, que pode ser: testosterona total; androstenediona; sulfato de desidroepiandrosterona sérica (SDHEA). Como exames complementares adicionais podemos solicitar LH e FSH, que normalmente virá com a relação aumentada, maior que 2. Importante também solicitar BHCG para exclusão de gravidez em pacientes com amenorreia. SOP NA ADOLESCENCIA Para adolescentes, os critérios são mais específicos: A morfologia ovariana não é considerada; Hiperandrogenismo implica necessariamente a presença de hirsutismo. *NOTA: A ultrassonografia não é de muita ajuda, pois os ovários das adolescentes, geralmente, têm dimensões e volume maiores que os das mulheres adultas, sendo muitas vezes multifoliculares, principalmente quando há imaturidade do eixo, induzindo diagnóstico errôneo de SOP durante a adolescência. Ainda assim, quando se recebe o diagnóstico na adolescência, ele deve ser revisto após 8 anos da menarca. O grande desafio no diagnóstico da SOP durante a adolescência é o diferencial com a imaturidade do eixo hipotálamo-hipofisário-ovariano. Distúrbios psíquicos também podem levar a distúrbios ovulatórios, como anorexia nervosa, bulimia e síndrome depressiva. O diagnóstico só será firmado após a exclusão de outras patologias: disfunção da tireóide, hiperprolactinemia, tumor ovariano ou da suprarrenal, defeitos de síntese da suprarrenal, síndrome de Cushing. DISGNÓSTICO DE RESISTÊNCIA INSULÍNICA O estado glicêmico da mulher com SOP deve ser avaliado na primeira consulta e reavaliado após 3 anos. Os exames mais comuns solicitados são: Insulina de jejum; Glicemia de jejum; TOTG – consiste na administração de 75 g de glicose e, a seguir, faz-se a determinação de glicemia e insulina nos tempos 0, 30 minutos, 1 e 2 horas; Teste de tolerância à glicose simplificado (com 75 g de glicose), no qual se fazem as dosagens apenas nos tempos 0 e 2 horas; Hemoglobina glicada. O diagnóstico de diabetes mellitus é considerado quando a glicemia de jejum for maior do que 126 mg/dL ou o TOTG após 2 horas da de glicose for superior a 200 mg/dL. SINAL CLÍNICO: acantose nigricans é o principal sinal que mostra a existência de RI. DIAGNÓSTICO DE DISLIPIDEMIA A dislipidemia por ser identificadapela determinação sérica de colesterol total e triglicerídeos. COLESTEROL TOTAL >190 MG/DL HDL <40 MG/DL LDL >130 MG/DL TRIGLICERÍDIOS >150 (EM JEJUM) >175 (SEM JEJUM) DIAGNÓSTICO DE SINDROME METABÓLICA Em pacientes com síndrome metabólica, são necessárias as avaliações das enzimas hepáticas, da ultrassonografia de abdome superior e avaliação cardiológica. ANA CLARA SANTOS - 6P (IESVAP) Para diagnosticar SM, sugerem-se os critérios de ATP-III (Adult Treatment Panel III): É PRECISO TER 3 DOS 5 CRITÉRIOS: CIRCUNFERÊNCIA ABDOMINAL >88 EM MULHERES HDL <50 MG/DL TRIGLICERÍDIOS >150 MG/DL PAS >135 / 85 OU USO DE ANTIHIPERTENSIVOS GLICEMIA >100 MG/DL DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS - HIPERPROLACTINEMIA: Dosagem de prolactina – se elevada, repetir em nova amostra. - DISFUNÇÕES TIREOIDIANAS: Dosagem de TSH – se alterada, repetir juntamente com T4 livre. - TUMOR OVARIANO PRODUTOR DE ANDROGÊNIO: Dosagem de testosterona total ou livre. - HIPERPLASIA ADRENAL CONGÊNITA: Dosagem de 17- alfahidroxiprogesterona (170HP) na fase folicular do ciclo. -TUMOR ADRENAL: Dosagem de deidroepiandrosterona sulfatada (DHEA-S) TRATAMENTO O tratamento da SOP é baseado na correção das principais disfunções que acometem a paciente, como: irregularidade menstrual, infertilidade, hirsutismo e resistência insulínica. TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO: Atividade física anaeróbicas e aeróbicas., de 40 min/dia, 3x na semana; Redução calórica e adequação da dieta – em geral, a redução de 5% a 10% do peso corporal pode melhorar o padrão menstrual, reduzir a RI e atenuar os efeitos do hiperandrogenismo cutâneo Acompanhamento psicológico de suporte para redução do estresse, bem como de ansiedade/depressão nas mulheres com baixa autoestima e sem autocontrole. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO: MULHERES QUE DESEJAM ENGRAVIDAR A metformina é o medicamento de escolha para a disfunção menstrual, auxiliando no retorno ovulatório em 30-50% em pacientes que seguem as orientações não farmacológicas. Inicialmente: metformina 500mg, VO, 1x ao dia, tomar a noite, após o jantar; Posteriormente: ir aumentando as doses até 1000 ou 1500mg/ dia *NOTA: A hiperinsulinemia aumenta a produção de androgênios nos ovários e também diminui a produção hepática das proteínas carreadoras dos hormônios sexuais (SHBG). A metformina diminui o SHBG, diminuindo assim os níveis circulantes de testosterona livre. METFORMINA: Não é a melhor medicação para indução da ovulação. Pode ser usada em mulheres com intolerância a glicose. Muitos dos efeitos da metformina você pode conseguir através da perda de peso, atividades físicas regulares e controle da dieta. MULHERES QUE NÃO DESEJAM ENGRAVIDAR: Para mulheres sem o desejo reprodutivo, os contraceptivos orais combinados (COCs) são de primeira escolha. A primeira e segunda escolhas são: Drospirenona 3mg + etinilestradiol 0,03mg, VO, tomar por 21 dias e fazer uma pausa por 7 dias., repetir ciclo continuamente; Acetato de ciproterona 2 mg + etinilestradiol 0,035 mg, VO, tomar por 21 dias e fazer uma pausa por 7 dias., repetir ciclo continuamente. Em mulheres com contraindicações para COSs, utiliza-se PROGESTÁGENOS*: *hormônios sintéticos que mimetizam o efeito da progesterona. PROGESTÁGENO CÍCLICO: AMP 5-10 mg – 10 a 14 dias a cada 2 meses; Progesterona micronizada 200 mcg - 10 a 14 dias a cada 2 meses. PROGESTÁGENO ORAL CONTÍNUO: Desogestrel 0,75 mg (Cerazette); Norestirenona 0,35 mg; DIU HORMONAL (MYRENA): Levonorgestrel. *pode piorar a acne *DIU DE COBRE: Não agrava alterações endócrinas e metabólicas existentes em mulheres com SOP e não piora o perfil lipídico. Além de possibilitar que o médico possa associar drogas sensibilizadoras da insulina, com segurança. ANA CLARA SANTOS - 6P (IESVAP) Desvantagem: Usado apenas como método contraceptivo. Não trata a irregularidade do fluxo e nem disfunções endócrinas. TRATAMENTO DO HIPERANDROGENISMO: A primeira linha são os COCs, associados a antiandrogênico: Acetato de ciproterona 50-100mg/dia, VO, tomar 10 comp juntamente com os 10 primeiros comp do COC (efeito teratogênico, associado a feminização de fetos masculinos); Espironolactona 50-200mg/dia, VO, continuamente (classe C de risco teratogênico). *ESPIRONOLACTONA: Interfere na produção adrenal e ovariana de androgênios, liga-se aos receptores intracelulares dos andrógenos e inibe a enzima 5α-redutase. TRATAMENTO PARA ENGRAVIDAR: Perda ponderal deve ocorrer antes do início da terapia de indução ovariana, sendo mais efetivo que o uso prévio de anticoncepcionais. Terapia de indução ovariana: Citrato de Clomifeno – primeira linha para mulheres com IMC < 30. Pode ser associado a Metformina; Letrozol – inibidor da aromatase, uso off label e para mulheres obesas. REFERÊNCIAS: FERNANDES, Lidiane Aparecida; LAZZAROTTO, Julia. SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS E RESISTÊNCIA À INSULINA: UMA REVISÃO. Revista Renovare, v. 2, 2020. ARIE, Wilson Maça Yuki et al. Síndrome do ovário policístico e metformina: revisão baseada em evidências. Femina, 2009. Publicação oficial da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia Volume 47, Número 9, 2019 PTS DIAGNÓSTICO: SINDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS METAS TERAPÊUTICAS: CURTO PRAZO: Redução do peso: Orientar sobre alimentação adequada, com frutas e legumes e menos gordura. Prática de exercício físico, pelo menos 3x na semana. Encaminhar ao psicólogo, devido ao estresse e baixa autoestima. Encaminhar ao dermatologista, para tratar acne. Prescrever COCs associados a antiandrogênicos: Drospirenona 3mg + etinilestradiol 0,03mg, VO, tomar por 21 dias e fazer uma pausa por 7 dias., repetir ciclo continuamente; Espironolactona 50-200mg/dia, VO, continuamente. Solicitação de exames: Hemograma, lipidograma, BetaHCG; Glicemia em jejum, TOTG, hemoglobina glicada; Gonadotrofinas, Prolactina, FSH; o TSH, T4 livre, testosterona total. MÉDIO PRAZO: Avaliar os exames solicitados e fazer o tratamento de acordo com os resultados; Manutenção das orientações dadas no curto prazo; Verificar IMC e analisar a possibilidade do uso da Metformina; Conversar com a paciente a respeito do uso do DIU; Manter o acompanhamento psicológico; LONGO PRAZO: Avaliar a adesão a terapêutica, e se está surtindo efeito, cessando a irregularidade menstrual e o hiperandrogenismo; Manter acompanhamento psicológico; Perguntar sobre efeitos colaterais dos contraceptivos. REAVALIAÇÃO: Reavaliar a adesão ao tratamento e necessidade de manutenção ou troca de medicações e complicações da SOP. ANA CLARA SANTOS - 6P (IESVAP)
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