Prévia do material em texto
Laísa Dinelli Schiaveto Rinossinusites DEFINIÇÃO Compreende um processo inflamatório na mucosa de revestimento da cavidade nasal e dos seios paranasais, que ocorre como resposta de um agente físico, químico ou biológico. ETIOLOGIA (1) FATORES GENÉTICOS/FISIOLÓGICOS: hiperreatividade aérea; imunodeficiências; sensibilidade a AAS; disfunção ciliar; fibrose cística; doenças autoimunes; doenças granulomatosas. (2) FATORES AMBIENTAIS: alergia; tabagismo; irritação; poluição; viroses; bactérias; fungos; estresse. (3) FATORES ESTRUTURAIS: desvio de septo; concha bolhosa; concha média paradoxal; células de haller e frontais; doença dentária; corpo estranho; trauma mecânico. FISIOPATOLOGIA A fisiopatologia das rinossinusites é multifatorial. (1) DIMINUIÇÃO DA QUALIDADE DO MUCO: infecção bacteriana; fibrose cística; alergias alimentares (APLV). (2) DIMINUIÇÃO DO TRANSPORTE CILIAR: tabagismo; discinesia ciliar; variação da temperatura (ar condicionado). (3) OBSTRUÇÃO DOS ÓSTIOS DE DRENAGEM: edema de mucosa; variações morfológicas anatômicas. CLASSIFICAÇÃO CLASSIFICAÇÃO TEMPORAL CLASSIFICAÇÃO EPOS 2022 RINOSSINUSITE VIRAL AGUDA DEFINIÇÃO: resfriado comum com duração dos sintomas < 10 dias. EPIDEMIOLOGIA: • Alta incidência. • Estima-se que 0,5-2% das infecções virais sejam complicadas por infecção bacteriana. AGENTES ETIOLÓGICOS: • Rinovírus (24%); • Influenzae (11%). COMPLICAÇÕES: • Infecção bacteriana: diminuição da função mucociliar. OBS.: A perda dos cílios ocorre, no máximo, até uma semana após a infecção, enquanto a recuperação completa leva cerca de 3 semanas após a infecção. RINOSSINUSITE AGUDA NÃO VIRAL (PÓS-VIRAL) DEFINIÇÃO: infecção bacteriana da mucosa danificada após a infecção viral, caracteriza por aumento dos sintomas após 5 dias e sintomas persistentes após 10 dias com duração < 12 semanas. ETIOLOGIA: • Streptococcus pneumoniae; • Haemophilus influenzae; • Moraxella catarrhalis. FISIOPATOLOGIA: • Obstrução do complexo óstiomeatal. Laísa Dinelli Schiaveto FATORES DE RISCO: • Diminuição da capacidade mucociliar; • Infecção bacteriana; • Alergia; • Edema de mucosa; • Obstruções físicas: variações anatômicas. QUADRO CLÍNICO: • SINTOMAS MAIORES: - Dor ou pressão facial; - Rinorreia posterior; - Obstrução nasal; - Secreção nasal espessa; - Hiposmia; - Secreção purulenta; - Febre. • SINTOMAS MENORES: - Cefaleia; - Febre; - Halitose; - Fadiga; - Odontalgia; - Tosse; - Plenitude auricular; - Otalgia. EXAME FÍSICO: • RINOSCOPIA ANTERIOR / ENDOSCOPIA NASAL: mucosa dos cornetos nasais edemaciadas e hiperemiadas, meato médio com secreção purulenta, obstrução do complexo óstiomeatal e pólipos. • OROSCOPIA: hiperemia e secreção posterior. DIAGNÓSTICO: • PRESENÇA DE SINTOMAS: 2 maiores ou 1 maior e 2 menores. • CULTURA: secreção do meato médio. • BIÓPSIA: casos de dúvida diagnóstica. • RAIO-X SEIOS DA FACE: baixa sensibilidade e alta taxa de falsos-positivo e falsos-negativos. • TC SEIOS DA FACE: é indicado após falha terapêutica (não deve ser feito como primeira conduta); usado para avaliar a extensão da patologia e alterações da mucosa, sobretudo da cavidade nasal, complexo óstiomeatal e seios paranasais. TRATAMENTO: • Antibioticoterapia: - PRIMEIRA ESCOLHA: amoxicilina 500mg 8/8h. - SEGUNDA ESCOLHA: amoxicilina 500mg + clavulanato 125mg 8/8h ou cefaclor 250mg 8/8h ou cefuroxima 750mg 8/8h. - TERCEIRA ESCOLHA: ceftriaxone 1g 12/12h ou ceftriaxone 2g 24/24h ou clindamicina 600mg 6/6h ou novas quinolonas. • Corticoide tópico; • Anti-histamínico; • Analgesia; • Irrigação nasal: solução salina isotônica. Laísa Dinelli Schiaveto RINOSSINUSITE CRÔNICA RINOSSINUSITE CRÔNICA SEM PÓLIPOS NASAIS DEFINIÇÃO: processo inflamatório infeccioso bacteriano crônico que acomete a mucosa nasal e um ou mais dos seios paranasais, com duração dos sintomas ≥ 12 semanas, e ausência de pólipos visíveis no meato médio. Esta envolve um grupo de doenças que acometem a cavidade nasal e os seios paranasais, caracterizado pelo envolvimento de células e mediadores químicos, bem como pela formação de um processo inflamatório crônico. AGENTES ETIOLÓGICOS: • Staphylococcus aureus (36%); • Staphylococcus coagulase-negativos (20%); • Streptococcus pneumoniae (17%). OBS.: Biofilme bacteriano à estrutura tridimensional de bactérias agregadas com propriedades especiais de resistência aos antibióticos. CARACTERÍSTICAS: • Infiltrado neutrofílico; • Aumento de fibrose tecidual; • Depósito de colágeno no estroma; • Membrana basal espessada; • Não há formação de pseudocistos. FISIOPATOLOGIA: • Estase de secreções: círculo vicioso que leva à cronificação do processo vicioso. • Obstrução do complexo óstiomeatal: NÃO exerce papel preponderante. • Outros fatores contribuintes: doenças mucociliares; infecção bacteriana; alergia respiratória; edema de mucosa. MECANISMOS INFLAMATÓRIOS: • Alterações do epitélio pseudoestratificado colunar ciliado: hiperplasia de células caliciformes; perda dos cílios; metaplasia epitelial; edema subepitelial; infiltrado celular mononuclear; espessamento da membrana basal; hiperplasia de glândulas submucosas; hiperplasia de glândulas submucosas; fibrose. • Osteíte e remodelamento ósseo: estimulação osteoblástica e osteoclástica. • Mediadores inflamatórios: IL-1, IL-6, IL-8 (quimiotaxia e ativação de neutrófilos) e TNF-a. FATORES ASSOCIADOS: • Alteração do transporte ciliar; • Alergia; • Asma; • DRGE; • Imunodeficiência: congênita, adquirida ou deficiência seletiva de IgA; • Ambientais: tabagismos e baixo nível socioeconômico; • Iatrogênicos: mucoceles e procedimentos cirúrgicos endoscópicos sinusais (recirculação de muco pela não do óstio natural do seio maxilar nas antrostomias). QUADRO CLÍNICO: • Congestão nasal; • Obstrução nasal; • Rinorreia anterior e/ou posterior; • Dor ou pressão facial ou cefaleia; • Hiposmia ou anosmia; • Irritação faríngea/laríngea e traqueal; • Mal-estar; • Febre; Laísa Dinelli Schiaveto • Tosse: sinal mais comum, principalmente com exacerbação noturna, associada à rinorreia posterior ou retronasal. DIAGNÓSTICO: • EXAME FÍSICO: oroscopia, rinoscopia anterior e endoscopia nasal. • EXAMES DE IMAGEM: TC de seios da face (exame de escolha, sendo indicado para confirmação diagnóstica, avaliação da extensão da patologia e análise da anatomia), raio-x de seios da face (baixa sensibilidade) e RNM (casos suspeitos de neoplasia). • EXAMES COMPLEMENTARES: avaliação da função mucociliar (teste da sacarina, microscopia do batimento ciliar e dosagem do óxido nítrico), avaliação da potência nasal (fluxo inspiratório nasal, rinomanometria e rinometria acústica) e exames olfatórios. TRATAMENTO: (1) CLÍNICO: • Solução salina: - Isotônica: eficaz para a mobilização das secreções. - Hipertônica (3%): aumento da frequência do batimento ciliar, diminuição do edema da mucosa nasal, aumento da eficácia do transporte mucociliar e diminuição da obstrução nasal. • Corticoides tópicos: - Atuação: diminuição da atividade eosinofílica e da produção de citocinas. - Aumento da biodisponibilidade: mometasona e fluticasona. • Corticoides sistêmicos: - Pouca evidência na literatura. • Antibioticoterapia: - Deve ser coadjuvante por 3-6 semanas. - Ex.: amoxicilina + clavulanato ou clindamicina ou metronidazol + cefalosporina de primeira geração (cefalexina) ou de segunda geração (acetil- cefuroxima e cefaclor). (2) CIRÚRGICO: • Indicado apenas quando não apresenta resposta ao tratamento clínico. • Tipos de abordagem: - Functional Endoscopic Sinus Surgery (FESS): método superior aos procedimentosconvencionais. - Acesso Caldwell-Luc: elevado risco de edema facial e lesão do nervo infraorbitário. RINOSSINUSITE CRÔNICA COM PÓLIPOS NASAIS DEFINIÇÃO: processo inflamatório infeccioso bacteriano crônico que acomete a mucosa nasal e os seios paranasais, com duração dos sintomas ≥ 12 semanas, e presença de pólipos benignos no complexo óstiomeatal. EPIDEMIOLOGIA: • Doença subestimada; • Maior incidência homens que mulheres (2:1); • Aumento da incidência com a idade, sendo rara em < 20 anos. CARACTERÍSTICAS: • Acúmulo de albumina e edema no estroma; Laísa Dinelli Schiaveto • Membrana basal espessada; • Formação de pseudocistos; • Epitélio com aumento de células caliciformes; • Presença de epitélio metaplasiado. FISIOPATOLOGIA: • Multifatorial: barreira; flora comensal; potenciais patógenos; estresse exógeno. FATORES ASSOCIADOS: • Asma: 7-15% dos pacientes apresentam pólipos nasais. • Crianças com fibrose cística. • Síndrome/Tríade de Widal ou Tríade de Samter: asma + sensibilidade a AINES + polipose nasal. QUADRO CLÍNICO: • Congestão nasal; • Obstrução nasal; • Rinorreia anterior e/ou posterior; • Dor ou pressão facial ou cefaleia; • Hiposmia ou anosmia; • Irritação faríngea/laríngea e traqueal; • Mal-estar; • Febre; • Tosse: sinal mais comum, principalmente com exacerbação noturna, associada à rinorreia posterior ou retronasal. EXAME FÍSICO: • Rinoscopia anterior/endoscopia nasal: pólipos nasais bilaterais, de superfície lisa, indolor à palpação e translúcido, presentes no complexo óstiomeatal. • Classificação VAS: - Suave: 0-3. - Moderada: > 3-7. - Severa: > 7-10. • Classificação TELE: - Grau 0: ausência de pólipos. - Grau 1: restritos aos meato médio. - Grau 2: além do meato médio. - Grau 3: bloqueio da FN. TRATAMENTO: (1) CLÍNICO: • Solução salina: - Isotônica: eficaz para a mobilização das secreções. - Hipertônica (3%): aumento da frequência do batimento ciliar, diminuição do edema da mucosa nasal, aumento da eficácia do transporte mucociliar e diminuição da obstrução nasal. • Corticoides tópicos: - Atuação: diminuição da atividade eosinofílica e da produção de citocinas. - Aumento da biodisponibilidade: mometasona e fluticasona. • Corticoides sistêmicos: - Pouca evidência na literatura. • Antibioticoterapia: - Deve ser coadjuvante por 3-6 semanas. - Ex.: amoxicilina + clavulanato ou clindamicina ou metronidazol + cefalosporina de primeira geração (cefalexina) ou de segunda geração (acetil- cefuroxima e cefaclor). (2) CIRÚRGICO: • Indicado apenas quando não apresenta resposta ao tratamento clínico. • Tipos de abordagem: - Functional Endoscopic Sinus Surgery (FESS): método superior aos procedimentos convencionais, sendo fundamental evitar ressecções arriscadas. • Esclarecimento ao paciente sobre o risco de recidivas. Laísa Dinelli Schiaveto • Cuidado com hiposmia. COMPLICAÇÕES DAS RINOSSINUSITES DEFINIÇÃO: FATORES PREDISPONENTES: • Anatômicos. • Ligados ao hospedeiro: imunodeprimidos; diabetes desconhecidos ou descompensado; déficits de imunoglobulinas. • Germes oportunistas: trichomonas tenax; legionella pneumophila; bordetella broncgiseptica; vírus; micobactérias atípicas; fungos. CLASSIFICAÇÃO: • COMPLICAÇÕES REGIONAIS: - Orbitárias; - Cranianas (ósseas); - Intracranianas. • COMPLICAÇÕES À DISTÂNCIA: - Asma; - Bronquite. COMPLICAÇÕES ORBITÁRIAS • Quadros agudos de rinossinusite são ao responsáveis mais comum, principalmente em crianças, sendo que o local mais acometido é o seio etmoidal. • Os agentes etiológicos mais comuns são os mesmos causadores da rinossinusite aguda: S. pneumoniae; H. influenzae; S. pneumoniae; S. aureus; bactérias anaeróbias. • O diagnóstico é clínico, sendo complementado pela TC e RNM. • Exame oftalmológico é essencial. • Lâmina papirácea: separação do conteúdo orbital e labirinto etmoidal. - Nas crianças, os forames estão mais largos com ossos mais porosos, facilitando a disseminação da doença. • Veias oftálmicas superior e inferior: são os vasos sanguíneos mais importantes; comunicam-se com pequenos vasos dentro da órbita e também diretamente com o seio cavernosos, permitindo, assim, o livre fluxo de sangue entre as veias do etmóide e a órbita. • Septo orbital: deflexão anterior da periórbita, que funciona como barreira contra a disseminação da infecção para dentro da cavidade orbitária. • Classificação CHANDLER: 1. Celulite periorbital. 2. Celulite orbital. 3. Abscesso subperiosteal. 4. Abscesso orbital. 5. Trombose do seio cavernoso. • Classificação MORTIMORE: 1. Infecção pré-septal: (a) celulite; (b) abscesso. 2. Infecção pós-septal subperiosteal: (a) celulite; (b) abscesso. 3. Infecção pós-septal intra-conal: (a) celulite difusa; (b) celulite localizada; (c) abscesso. (1) CELULITE PERIORBITAL (PRÉ-SEPTAL): - Edema palpebral com dor local, havendo dificuldade na abertura ocular; - Edema é causado por obstrução venosa provocada pela pressão nos vasos etmoidais; - Não há modificação da acuidade visual nem da motilidade ocular. (2) CELULITE ORBITAL: - Edema se estende à região retrosseptal; - Exoftalmia; - Quemose; - Hiperemia conjuntival; - Edema acomete o tecido adiposo orbital, porém sem formação de abscesso; - Acuidade visual está conservada; Laísa Dinelli Schiaveto - Não há oftalmoplegia. (3) ABSCESSO SUBPERIOSTEAL: - Febre 39,5ºC; - Calafrios; - Alterações do estado geral; - Exoftalmia com exoforia; - Diminuição da motilidade ocular e dolorosa; - Acuidade visual ainda preservada; - Presença de coleção purulenta na parede medial da órbita, entre a periórbita e o osso orbitário. (4) ABSCESSO ORBITAL: - Exoftalmia irredutível; - Dolorosa; - Oftalmoplegia completa; - Diminuição significativa da acuidade devido à elevação da pressão orbitária ou neurite óptica; - Coleção purulenta envolve as partes moles ao redor do globo ocular; - Pode levar à amaurose se a descompressão cirúrgica imediata não for realizada. (5) TROMBOSE DO SEIO CAVERNOSO: - Complicação rara (9%), que ocorre mais frequentemente nas sinusites com acometimento etmoidal e esfenoidal. - Consiste na tromboflebite das veias ao redor dos seios paranasais, devido à propagação da infecção ao longo do canal óptico ou por via venosa. - Diminuição palpebral bilateral. - Exoftalmia. - Neuralgia do oftálmico. - Papiledema. - Irritação meníngea. - Febre alta. - Queda do estado geral. - Prostração. - Dor retro-orbitária intensa e profunda. - Perda visual e oftalmoplegia. - Pode provocar cegueira com abolição do reflexo fotomotor. - Anestesia corneana associada à paralisia do nervo abducente (VIº nervo). - Sinais centrais (fotofobia e rigidez de nuca) podem sugerir meningite. - Prognóstico reservado com mortalidade em torno de 30%. COMPLICAÇÕES ÓSSEAS (1) OSTEOMIELITE: raro. - Agente etiológico: Staphylococcus aureus. - Acometimento do seio frontal (mais comum) e seio maxilar (mais comum em crianças e infecções dentárias). - Disseminação: extensão direta e via hematogênica. - Possível progressão para complicações intracranianas. - TIPOS: - Aguda: tumor edematoso de Pott (osteomielite + sinusite frontal aguda + Laísa Dinelli Schiaveto abscesso subperiosteal) e osteomielite com fistulação (fístula cutânea). - Crônica: mucocele ou mucopiocele do frontal. COMPLICAÇÕES INTRACRANIANAS (1) MENINGITE. (2) ABSCESSO EXTRADURAL: coleção purulenta situada entre a dura-máter e a calota craniana. (3) ABSCESSO SUBDURAL: coleção purulenta no espaço entre a dura-máter e a pia- aracnóide. (4) ABSCESSO CEREBRAL: desenvolve-se por extensão diretado foco supurado com osteíte associada por tromboflebite séptica retrógrada das veias diplóicas por metástases sépticas à distância e via hemática, sendo que a localização mais frequente é o lobo frontal.