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GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA Edição IV Autor Principal Guilherme Barroso Langoni de Freitas Autores colaboradores Alana Santa Rosa Santos Alice Freitas Ana Clara dos Santos Matos Ana Clara dos Santos Souza Ana Flávia Mendes Silva Anna Clara Lopes Costa Brenda Mirelly Jastrow Bruno Chiaretti Cossenzo Abdo Camila Guimarães Maciel de Castro Carolina Campos Rezende Libanio Carolina Loyola Prest Ferrugini Cleverson Gomes do Carmo Junior Daniela Borges Mielke Davi Fernando Gomes Pereira Deborah Ferreira Duget Arruda Djalma Gomes Neto Eduarda de Oliveira Teixeira Emerson Batista da Silva Santos Felipe Guimarães Martini Fernanda Chaib Fonseca Pereira Gabriel Junqueira Guimarães¹ Gabriela Neves de Souza Gabriela Silveira Anatólio Lima Gilberto Santos Cerqueira Giovanna Martins Oliveira Magalhães Giulia Messias Cadaval Pessoa Isabela Lamounier de Carvalho Isabella Souza Assunção Isadora Amabile Lopes Fabres Isadora Lima Teles Baeta Zebral Ítalo de Souza Porto Janine Martins Machado Jayme Murad Magalhães Júlia Abreu Dorneles Júlia Benevenuto Moreira Júlia Resende Ferreira Magri Kamila Jales Corteleti Lara Garcia Magalhães Laura Figueiró Euler Vaz de Melo Fernandes Laura Helena Boy Paiva Laura Moore Gaissler Laura Vasconcelos Rodrigues de Oliveira Tonello Letícia de Cássia Freire Franco Letícia Nogueira Falcão do Carmo Lucas Daniel Dos Anjos Guimaraes Maria Eduarda Piffer de Almeida Maria Eduarda Ribeiro de Figueiredo Maria Guimarães Petry Mariana Barino Melo Mariela Sthefany Silva Marina Henriques Amaral Natália Mourão de Pinho Tavares Nathalia Perondi Passarela Patrick Romanzini Pedreira Paula Salomão Libânio Pauline Christina Campos Martins Ferreira¹ Pedro Chamon Pacheco Rafael de Oliveira Marra Rodrigo Veloso Souto Rocha Sávio Laguardia Marra Filho Tainá Evangelista Diniz Morais Thaís Viana de Ávila Oliveira Victoria Cardoso Alves Vitória Figueiredo Garrido Cabanellas Nogueira 2023 2023 by Editora Pasteur Copyright © Editora Pasteur Editor Chefe: Dr Guilherme Barroso Langoni de Freitas Corpo Editorial: Dr. Alaercio Aparecido de Oliveira (Faculdade INSPIRAR, UNINTER, CEPROMEC e Força Aérea Brasileira) Dra. Aldenora Maria Ximenes Rodrigues MSc. Aline de Oliveira Brandão (Universidade Federal de Minas Gerais -MG) Dra. Ariadine Reder Custodio de Souza (Universidade Estadual do Centro-Oeste – PR) MSc. Bárbara Mendes Paz (Universidade Estadual do Centro-Oeste -PR) Dr. Daniel Brustolin Ludwig (Universidade Estadual do Centro-Oeste -PR) Dr. Durinézio José de Almeida (Universidade Estadual de Maringá -PR) Dr. Everton Dias D’Andréa (University of Arizona/USA) Dr. Fábio Solon Tajra (Universidade Federal do Piauí -PI) Francisco Tiago dos Santos Silva Júnior (Universidade Federal do Piauí -PI) Dra. Gabriela Dantas Carvalho Dr. Geison Eduardo Cambri MSc. Guilherme Augusto G. Martins (Universidade Estadual do Centro-Oeste -PR) Dr Guilherme Barroso Langoni de Freitas (Universidade Federal do Piauí -PI) Dra. Hanan Khaled Sleiman (Faculdade Guairacá -PR) MSc. Juliane Cristina de Almeida Paganini (Universidade Estadual do Centro-Oeste -PR) Dra. Kátia da Conceição Machado (Universidade Federal do Piauí -PI) Dr. Lucas Villas Boas Hoelz (FIOCRUZ -RJ) MSc. Lyslian Joelma Alves Moreira (Faculdade Inspirar -PR) Dra. Márcia Astrês Fernandes (Universidade Federal do Piauí -PI) Dr. Otávio Luiz Gusso Maioli (Instituto Federal do Espírito Santo -ES) Dr. Paulo Alex Bezerra Sales MSc. Raul Sousa Andreza MSc. Renan Monteiro do Nascimento Dra. Teresa Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Editora Pasteur, 2023) F866 FREITAS, Guilherme Barroso Langoni de GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA/ Freitas, G.B.L.-Irati: Pasteur, 2023. 1 livro digital; 169 p.; ed. IV; il. Modo de acesso: Internet ISBN 978-65-6029-005-1 https://doi.org/10.59290/978-65-6029-005-1 1. Medicina 2. Ciencias da Saúde 3. Mulher I. Título. CDD 610 CDU 612.6 https://doi.org/ Desde a puberdade, menarca, desenvolvimento das mamas, gravidez até a menopausa, doenças significativas afetam as mulheres. uma equipe multidisciplinar poderá assistir da melhor forma esta mulher e ser apoio fundamental no trabalho do médico ginecologista. A partir da maturidade, quando os órgãos reprodutivos amadurecem, as mulheres são aconselhadas a fazer um exame de saúde anual ou pelo menos a cada 3 anos com um ginecologista, porém muitas delas não terão esse acesso com facilidade pelos serviços públicos de saúde ou ainda se depararão com profissionais sem a formação adequada. A consciência das funções corporais básicas e a manutenção de um bom bem- estar físico e mental são aspectos vitais da gestão da saúde da mulher e no bom atendimento ginecológico e obstétrico. A detecção precoce de doenças e outros problemas de saúde pode ser importante para ajudar qualquer paciente a ter uma vida mais saudável, feliz e, em alguns casos, mais longa. Na verdade, a detecção precoce e bom manejo da paciente pode aumentar significativamente as chances de sobrevivência de certas doenças, incluindo muitas formas de câncer. É por isso que os especialistas recomendam a adesão a um cronograma regular de exames médicos e exames apropriados com base em seus dados demográficos e fatores de risco. O livro Ginecologia e Obstetrícia aborda capítulos sobre sexualidade, atendimento clínico, cuidados do aparelho genital feminino e intervenções cirúrgicas e medicamentosas para as principais complicações. O leitor encontrará capítulos pré-definidos, construídos por autores convidados e atualizados sobre os principais temas. A Editora Pasteur fica feliz em apresentar esse material de alta qualidade e importância. Guilherme Barroso L de Freitas Dr. Prof. Dpto. Bioquímica e Farmacologia, Universidade Federal do Piauí (UFPI) Diretor Científico do Grupo Pasteur Capítulo 1 CONSULTA GINECOLÓGICA ....................................................................................................... 1 Capítulo 2 SEXOLOGIA .................................................................................................................................. 10 Capítulo 3 GINECOLOGIA INFANTO-PUBERAL ........................................................................................ 18 Capítulo 4 GONORREIA .................................................................................................................................. 30 Capítulo 5 VAGINITE E VAGINOSE ............................................................................................................. 38 Capítulo 6 INFECÇÃO URINÁRIA NA GRAVIDEZ .................................................................................... 50 Capítulo 7 DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA ....................................................................................... 61 Capítulo 8 GINECOLOGIA ENDÓCRINA ..................................................................................................... 68 Capítulo 9 MIOMAS ......................................................................................................................................... 75 Capítulo 10 ENDOMETRIOSE .......................................................................................................................... 85 Capítulo 11 INFERTILIDADE ........................................................................................................................... 93 Capítulo 12 HISTERECTOMIA ....................................................................................................................... 103 Capítulo 13 CLIMATÉRIO ...............................................................................................................................111 Capítulo 14 PLANEJAMENTO FAMILIAR ................................................................................................... 123 Capítulo 15 MASTOLOGIA ............................................................................................................................. 137 file:///C:/Users/mayum/Documents/EDITORA%20PASTEUR/GINECOLOGIA%20ED4/GINECOLOGIA%20E%20OBSTETRÍCIA%20Ed%20IV.docx%23_Toc138417369 file:///C:/Users/mayum/Documents/EDITORA%20PASTEUR/GINECOLOGIA%20ED4/GINECOLOGIA%20E%20OBSTETRÍCIA%20Ed%20IV.docx%23_Toc138417370 file:///C:/Users/mayum/Documents/EDITORA%20PASTEUR/GINECOLOGIA%20ED4/GINECOLOGIA%20E%20OBSTETRÍCIA%20Ed%20IV.docx%23_Toc138417371 file:///C:/Users/mayum/Documents/EDITORA%20PASTEUR/GINECOLOGIA%20ED4/GINECOLOGIA%20E%20OBSTETRÍCIA%20Ed%20IV.docx%23_Toc138417372 file:///C:/Users/mayum/Documents/EDITORA%20PASTEUR/GINECOLOGIA%20ED4/GINECOLOGIA%20E%20OBSTETRÍCIA%20Ed%20IV.docx%23_Toc138417373 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file:///C:/Users/mayum/Documents/EDITORA%20PASTEUR/GINECOLOGIA%20ED4/GINECOLOGIA%20E%20OBSTETRÍCIA%20Ed%20IV.docx%23_Toc138417400 file:///C:/Users/mayum/Documents/EDITORA%20PASTEUR/GINECOLOGIA%20ED4/GINECOLOGIA%20E%20OBSTETRÍCIA%20Ed%20IV.docx%23_Toc138417401 file:///C:/Users/mayum/Documents/EDITORA%20PASTEUR/GINECOLOGIA%20ED4/GINECOLOGIA%20E%20OBSTETRÍCIA%20Ed%20IV.docx%23_Toc138417402 1 | P á g i n a Palavras Chave: Saúde da Mulher, Ginecologia, Exame Ginecológico. Capítulo 1 ANA FLÁVIA MENDES SILVA¹ ANNA CLARA LOPES COSTA¹ BRUNO CHIARETTI COSSENZO ABDO1 CAROLINA CAMPOS REZENDE LIBANIO1 1. Discente – Medicina da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais. CONSULTA GINECOLÓGICA 2 | P á g i n a INTRODUÇÃO A consulta ginecológica é fundamental na vida de todas as mulheres, já que ela promove o cuidado à saúde individualizada da mulher e a prevenção de diversas condições que afetam sua qualidade de vida. Essas consultas envolvem anamnese detalhada e exame físico ginecoló- gico, que abrange inspeção e palpação de ma- mas e genitálias, podendo incluir, também, co- leta de exames como a colpocitologia. Além disso, durante o atendimento, o médico pode re- comendar medidas de planejamento familiar como o uso de contraceptivos e medidas de pre- venção de doenças sexualmente transmissíveis como a aplicação de vacinas e o uso de preser- vativos. Já que, muitas vezes, a ida ao ginecolo- gista representa o único contato das mulheres com o sistema de saúde, é um importante mo- mento para sanar dúvidas, fazer encaminhamen- tos necessários e solicitar os exames periódicos segundo as demandas individualizadas de cada paciente. É interessante ressaltar que essa é, in- clusive, uma oportunidade para a detecção pre- coce de câncer de colo de útero e de câncer de mama, o que favorece o prognóstico, aumenta a sobrevida e reduz os gastos em saúde pública. A consulta ginecológica A consulta ginecológica apresenta o roteiro semelhante a outras especialidades médicas, sendo composta pela anamnese, o exame físico, a solicitação de exames complementares, con- duta e terapêutica. Entretanto, diferentemente das outras especialidades, durante uma consulta ginecológica, a paciente irá comunicar assuntos extremamente pessoais como sexualidade, higi- ene, planejamento familiar, sintomas urogeni- tais, sintomas mamários e por isso, cabe ao mé- dico se atentar ao seu porte perante a paciente, sempre deixando-a confortável e segura para abrir suas queixas. (BEREK, 2014) Além disso, o exame físico também é um momento de bastante exposição da mulher e por isso é de extrema importância que o médico se atente a sua conduta para deixá-la o mais con- fortável possível. Isso pode ser facilitado, expli- cando para a paciente cada passo a ser realizado, pois gera uma maior confiança no profissional. Um atendimento completo, com anamnese e exame físico de qualidade é a base de todo acompanhamento ginecológico e por isso nunca deve ser feito com descuido. Uma conduta ade- quada e pedidos de exames complementares ne- cessários dependem exclusivamente de um bom atendimento clínico e cabe ao médico realizá-lo de forma adequada (PASSOS et al., 2017). Anamnese A anamnese é um dos principaispassos da consulta ginecológica pois é a partir dela que a maioria das hipóteses diagnósticas são traçadas. Dessa forma, é nesse momento que o médico deve se atentar para construir uma boa relação médico-paciente, de forma a criar um ambiente acolhedor e confortável para a paciente trazer suas queixas (PASSOS et al., 2017). Inicialmente são coletadas as informações de identificação como nome completo, idade, estado civil, profissão, naturalidade, procedên- cia, cor autodeclarada e religião. Esses dados permitem, muitas vezes, evidenciar patologias, devido a sua prevalência em determinado grupo de mulheres (FEBRASGO, 2018). A queixa principal deve ser registrada com a linguagem da paciente e seu detalhamento é explorado na história da moléstia atual, onde deve-se questionar data de início da queixa, du- ração, intensidade, fatores de melhora ou piora e sintomas associados. Nem sempre as pacientes vão ao consultório devido a queixas específicas, mas pode ocorrer de ser apenas consultas de ro- tina para exames periódicos ou necessidade de orientações para planejamento familiar. 3 | P á g i n a Em seguida começa a abordagem dos ante- cedentes ginecológicos e obstétricos. Esses itens são de extrema importância para uma consulta ginecológica. Inicia-se perguntando à paciente sobre sua primeira menstruação (menarca) e as características de seus ciclos menstruais como regularidade, duração, volume do fluxo, sinto- mas associados (cólicas), intervalo e se ocorrem atrasos. Em seguida, questionar sobre a data da última menstruação. Se a paciente já tiver pa- rado de menstruar, é importante perguntar a data da menopausa, sintomas do climatério e se faz uso de terapia hormonal. Se possível, resgatar informações da telarca e pubarca. A abordagem da vida sexual feminina mui- tas vezes não é fácil, mas para uma consulta gi- necológica completa é necessário. A construção de uma boa relação médico paciente permite uma comunicação mais aberta sobre esses te- mas, fazendo com que a paciente sinta liberdade para relatar aspectos íntimos e pessoais de sua vida. Então, registra-se a idade da primeira rela- ção sexual (sexarca); número de parceiros sexu- ais; se faz, ou já fez, uso de métodos contracep- tivos; se já teve alguma infecção sexualmente transmissível; se apresenta alguma queixa rela- cionada a disfunção sexual, como diminuição da libido e impossibilidade de relação. Sempre as- segurar que as consultas abordam temas sigilo- sos e que nenhuma abordagem deve ser feita com julgamentos e sim de maneira respeitosa. (FEBRASGO, 2018). Ao final desses questionamentos é impor- tante registrar quando foram feitos os últimos exames complementares como a mamografia, ultrassom de mama, exame preventivo e ultras- som transvaginal ou abdominal. Com esses da- dos o médico consegue apurar a necessidade de refazer esses exames como forma de preven- ção. Em seguida, perguntar sobre o número de gestações, quantidade de partos e as vias (nor- mal ou cesáreo), se já sofreu abortamentos es- pontâneos ou induzidos, se já teve traumas ge- nitais ou complicações durante as gestações. Abordar também sobre o período do puerpério e lactação (duração e limitações). Como em outras consultas, de outras espe- cialidades, na consulta ginecológica também é interrogado se a paciente apresenta comorbida- des, faz uso de medicamentos diários, se já teve internações prévias, se já realizou cirurgias, se apresenta alergias, se já foi submetida a transfu- sões de sangue e qual o status de vacinação. Es- ses tópicos devem ser registrados na história pa- tológica pregressa da paciente (PASSOS et al., 2017). Assim como o histórico de patologias da pa- ciente é relevante, o histórico de patologias da família também é importante, principalmente de doenças cardiovasculares, doenças endócrinas, obesidade, osteoporose, câncer de mama e de ovário. Além disso, o questionamento sobre as con- dições de vida e hábitos da paciente contribui para uma anamnese completa. Dessa forma, per- gunta-se sobre a estrutura da moradia, da famí- lia, escolaridade, alimentação, trabalho, exercí- cios físicos, etilismo, tabagismo e uso de outras drogas. Para finalizar o roteiro da anamnese é im- portante assegurar se a paciente não deseja com- pletar algo que ela tenha esquecido de abordar ou se ela apresenta alguma preocupação que possa ser solucionado ou averiguada durante a consulta ou exame físico (PASSOS et al., 2017). Exame físico Após a anamnese, inicia-se o exame físico geral. Sempre que possível, deve-se realizá-lo na presença de um profissional de enfermagem, mesmo que a médica seja do sexo feminino, 4 | P á g i n a para que a paciente fique mais confortável e a segurança dela e do profissional seja garantida (BEREK, 2014). Na primeira parte do exame deve ser feita a ectoscopia. É imprescindível analisar a pele e as mucosas, procurando por sinais de palidez, cia- nose, anemia e resistência insulínica, assim como a distribuição de pelos e gordura corporal. Além disso, devem ser aferidos os dados vitais da paciente, pressão arterial, frequência e aus- culta cardíaca, frequência respiratória, tempera- tura e oxigenação em ar ambiente. Medidas an- tropométricas como a altura, o peso e o índice de massa corporal podem ajudar na avaliação de obesidade, fator de risco para diversas comorbi- dades, incluindo câncer de endométrio. O exame da tireoide também pode ser realizado, mas atualmente não é obrigatório nas consultas ginecológicas. O exame físico específico da ginecologia é dividido em exame das mamas e exame pélvico. A primeira etapa do exame das mamas é a ins- peção estática, realizada com o profissional de frente para a paciente, que são orientadas a per- manecerem sentadas com os braços ao longo do corpo e sem qualquer vestimenta recobrindo os seios, conforme representado na Figura 1.1. Se- rão analisados o volume (pequeno, médio, grande), o formato (arredondado ou pendular), os mamilos e as auréolas, atentando-se para a coloração, a presença de assimetrias, de abaula- mentos e retrações, de lesões, de edema e de eri- tema (LASMAR, 2017). Figura 1.1 Imagem da inspeção estática da mama Fonte: Passos et al., 2017. O segundo passo é a inspeção dinâmica das mamas, em que serão analisados os mesmos as- pectos anteriores, mas enquanto a paciente se encontra sentada, com as mãos na cintura, con- forme a Figura 1.2, de forma a contrair o mús- culo peitoral e assim expor algum tipo de abau- lamento, retração e assimetria (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2023). Figura 1.2 Imagem da inspeção dinâmica da mama Fonte: Passos et al., 2017. Os linfonodos podem ser acometidos em caso de metástase linfonodal no câncer de mama e, por isso, sempre devem ser avaliados. A or- dem de avaliação é supraclavicular, cervical posterior e por último os axilares. 5 | P á g i n a Em seguida, pede-se para a paciente deitar, com os braços apoiados na cabeça para ser rea- lizada a palpação da mama, Figura 1.3. Nesse momento, devem ser realizados movimentos circulares, em todos os quadrantes da mama, com as duas mãos, de forma que o exame fique mais preciso. Nesse exame, é possível identifi- car adensamento e nódulos, caso houver. Ao fim da palpação, pode-se realizar a expressão do mamilo para avaliar presença de derrame papi- lar, caso a paciente apresente queixa de descarga mamilar (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2023). Figura 1.3 Imagem da palpação da mama Fonte: Passos et al., 2017. O exame pélvico e especular é uma parte importante do exame ginecológico. Para sua re- alização, é imprescindível que todos os materi- ais necessários estejam devidamente separados e que o local seja adequado. Inicialmente, deve- se solicitar a paciente que fique em posição gi- necológica, também chamada deposição de li- totomia, ou seja, em decúbito dorsal, com as ná- degas junto à borda da mesa ginecológica, com coxas e joelhos fletidos descansando a fossa po- plítea nos estribos. É de extrema importância que a paciente esteja coberta com avental de abertura posterior e um lençol para cobrir ab- dome e membros inferiores, deixando as demais partes despidas para que haja ampla visualiza- ção da genitália externa (CAMARGOS et al., 2008). O examinador, com as mãos devidamente enluvadas, iniciará então o exame de inspeção estática da vulva e da região perineal, avaliando o monte pubiano, pequenos e grandes lábios, clitóris, vestíbulo, meato uretral, corpo perineal e ânus. Para melhor visualização da região ves- tibular, é necessário que o examinador afaste os pequenos lábios através da apreensão destes com seu polegar e indicador. Nessa etapa do exame, diversas doenças podem ser evidencia- das, por isso, é fundamental atentar-se para a presença de condilomas acuminados ou sifilíti- cos, cancros, úlceras herpéticas, doenças epite- liais ou processos alérgicos (CAMARGOS et al., 2008). Em seguida, é realizado o exame da genitá- lia interna. A finalidade desse exame é a visua- lização do colo uterino e das paredes vaginais. O exame especular é contraindicado em casos como estenose vulvar, atresia vaginal, integri- dade do hímen (pacientes virgens) e vaginismo. Para iniciar então o exame, é necessário esco- lher o tamanho apropriado do espéculo vaginal. Os espéculos podem ser de plástico ou metal e possuir diferentes tamanhos (número 1, 2 e 3), além de possuir vários modelos, como o Collins ou Graves, Figura 1.4. Figura 1.4 Imagem do espéculo de Collins Fonte: Passos et al., 2017. 6 | P á g i n a Após a seleção do espéculo, o examinador deve então introduzi-lo com suas lâminas fecha- das. Para expor a vagina, a mão não dominante deve, com os dedos indicador e médio, afastar os grandes lábios. A mão dominante do exami- nador deve então apoiar o espéculo na fúrcula e no períneo, em uma angulação de aproximada- mente 75º, Figura 1.5. É importante a introdu- ção correta do espéculo para evitar traumatismo uretral. Após completar a introdução, as lâmi- nas, que ainda permanecem fechadas, devem ser afastadas para evidenciar as paredes vaginais e o colo uterino (LASMAR, 2017). Figura 1.5 Imagem do espéculo de Collins Fonte: Passos et al., 2017. Com boa visualização do colo, o examina- dor é capaz de avaliar diversos aspectos cervi- cais, como a coloração das paredes vaginais, pregueamento, presença ou ausência de secre- ções, como muco, leucorreia ou mesmo sangue. Na presença de secreções clinicamente suspei- tas de infecção, pode ser feita a coleta desse ma- terial para realização de exame microscópico a fresco, chamado teste amínico (KOH a 10%), para auxiliar na identificação de germes anaeró- bios. Em seguida, é realizada a coleta colpocito- lógica. Inicialmente deve-se utilizar a espátula de Ayre em movimento giratório (rotação de 360º) na região ectocervical e a escova, prefe- rencialmente do modelo Cytobrush, também em movimento giratório, na região endocervical. A coleta ectocervical precede a endocervical com a finalidade de evitar sangramentos provocados pela escova durante o exame da endocérvice, que possam, por consequência, acabar prejudi- cando a coleta do material da ectocérvice. Após cada coleta, o examinador deve dividir a lâmina imaginariamente em duas metades e espalhar todo o material separadamente em cada uma dessas partes. Imediatamente após a transferên- cia do material para a lâmina, deve-se imergir completamente em um frasco com álcool ou fi- xada com um spray apropriado, para evitar o ressecamento do esfregaço. Por fim, identifica- se atentamente a lâmina e o frasco (BOTELHO et al., 2018). Finalizada a coleta colpocitológica, é reco- mendada a realização da limpeza do colo ute- rino com ácido acético 2% ou 5% para remoção de secreções. Após feita a lavagem, realiza-se o teste de Schiller para identificar regiões da ecto- cérvice com depleção de glicogênio celular. Na presença do Lugol, essas áreas não se coram de- vido a intensa divisão celular na presença de al- terações celulares neoplásicas. Essas áreas são denominadas iodo-negativo, teste de Schiller positivo, em que também é possível identificar a presença de lesões precursoras de câncer cer- vical. Esse teste ainda é capaz de facilitar a iden- tificação e a confirmação das colpites (áreas de iodo-claras). Antes da retirada do iodo com bis- sulfito de sódio 5%, pode-se avaliar o colo do útero através do colposcópio, caso haja indica- ção. Dessa forma, avalia-se detalhada e minuci- osamente todas as áreas suspeitas. Um bom exame colposcópico apresenta diversas vanta- gens, como melhor seleção de áreas a serem bi- opsiadas e evitar falsos negativos (BOTELHO et al., 2018). Para finalizar o exame físico deve-se reali- zar o toque vaginal bimanual. Para sua realiza- ção é necessário calçar as luvas e lubrificar os dedos indicador e médio que serão introduzidos no canal vaginal. 7 | P á g i n a Simultaneamente à inserção dos dedos indi- cador e médio, o dedo anelar e o dedão são usa- dos para afastar os pequenos lábios. Interna- mente, toca-se na musculatura pélvica, na pa- rede da vagina, no colo uterino e no fundo do saco vaginal. Com a outra mão comprime-se a parede ab- dominal na região do hipogástrio, enquanto o colo uterino é elevado para cima com os dedos usados no toque. Com esse exame é avaliado o volume uterino, a posição, consistência e mobi- lidade, além de dor. Exames complementares Os exames complementares devem ser sem- pre precedidos por um bom exame clínico, com anamnese detalhada e exame físico minucioso (PORTO et al., 2019). Quando o exame clínico é realizado de ma- neira adequada, os exames complementares são prescritos de maneira individualizada, aten- dendo às demandas da paciente. Somente assim é possível cumprir com os preceitos de Preven- ção Quaternária, que consiste em evitar a reali- zação excessiva de exames, reduzindo a chance de iatrogenias. Além disso, tratando sobre a realidade do Brasil, é preciso fazer o manejo correto dos re- cursos escassos do SUS, sempre baseando a conduta médica em evidências científicas. Muitos são os exames complementares dis- poníveis na atenção à saúde da mulher. Neste capítulo, serão abordados os seguintes exames: colpocitologia, colposcopia e mamografia, bem como suas principais indicações segundo preco- nizado pelo Ministério da Saúde. A Colpocitologia é o exame de escolha para o rastreamento do câncer de colo do útero e deve ser realizado de maneira periódica (ONU, 2019). Ele é realizado durante o exame especu- lar, sendo utilizada uma Espátula de Ayre para a análise da ectocérvice e uma Escova Cervical (citobrush) para a endocérvice. Após a coleta, o material deve ser fixado em uma lâmina e enca- minhado para a análise citológica, em que o laudo será dado segundo as nomenclaturas cito- patológicas, Tabela 1.1. O exame citopatológico é utilizado como método de rastreio do câncer do colo do útero, porque esse tipo de neoplasia origina-se de uma lesão precursora que, na maior parte dos casos, é curável (INCA, 2011). Apesar da possibili- dade de regressão, as lesões NIC II e III têm maior chance de progressão para adenocarci- noma e, por isso, devem ser tratadas (INCA, 2011). Tabela 1.1 Nomenclaturas citopatológica e histopatoló- gica utilizadas para o diagnóstico das lesões cervicais es- camosas e suas equivalências. Richart 1967 INCA 2006 - - - Alteração benigna - Indeterminado NIC I LO-SIL NIC II E III HI-SIL Carcinoma invasor Carcinoma invasor Fonte: Adaptado de INCA, 2011. A colpocitologia deve ser iniciada em mu- lheres a partir de 25 anos quejá iniciaram a vida sexual. O intervalo entre os exames deve ser de três anos, após dois exames negativos com in- tervalo anual (INCA, 2011). O rastreio deve se- guir até os 64 anos, podendo ser interrompidos após essa idade se a paciente possuir pelo menos dois exames negativos consecutivos nos últimos cinco anos (INCA, 2011). 8 | P á g i n a Para que o exame seja válido, é preciso ava- liar se a amostra está satisfatória que permita uma conclusão diagnóstica. Para isso, o resul- tado da coleta deve indicar a presença de células representativas dos epitélios do colo do útero: Células escamosas Células glandulares Células metaplásicas Caso o resultado apresente alterações da normalidade, a paciente deve ser orientada a se- guir com a propedêutica segundo a lesão apre- sentada. A colpocitologia deve ser repetida em 3 anos em pacientes menores de 25 anos em caso de lesões do tipo ASC-US e LO-SIL. Já em pa- cientes com lesão ASC-US entre 25 e 29 anos, o exame citológico deve ser realizado nova- mente dentro de 12 meses. Pacientes acima de 30 anos com ASC-US ou acima de 25 anos com LO-SIL devem realizar outra citologia dentro de 6 meses. Todas as demais alterações - ASC-G, AOI, HI-SIL, carcinoma invasor e adenocarci- noma - devem ser imediatamente encaminhadas para a realização de colposcopia e, então, bióp- sia guiada. A Colposcopia é a análise do colo do útero a partir de um Colposcópio, instrumento dotado de lentes que possibilitam o aumento da estru- tura a ser visualizada (PORTO et al., 2019). Esse exame é indicado, como citado anteri- ormente, em alterações específicas da normali- dade no exame colpocitológico. Além disso, é indicado quando o colo do útero apresenta as- pecto suspeito, inspeção visual com ácido acé- tico positiva ou teste de Schiller positivo. Sua utilização justifica-se pelo fato de o exame colposcópico permitir a detecção de le- sões pré-cancerosas e malignas do colo do útero. Isso é possível devido ao aumento proporcio- nado pelo colposcópio que possibilita a realiza- ção de biópsia de maneira guiada e direcionada, fazendo com que a amostra enviada para o ana- tomopatológico seja mais certeira (PORTO et al., 2019). Após a realização do exame colpos- cópico, a paciente será direcionada ao nível de atenção à saúde adequado para, então, seguir com a terapêutica. A Mamografia é o exame de rastreio para o câncer de mama. É realizado um raio-X da mama em duas incidências mínimas: crânio- caudal e médio-lateral oblíqua. Existem outras incidências que podem ser realizadas de ma- neira individualizada. Segundo o INCA, esse exame deve ser rea- lizado bianualmente em mulheres entre 50 e 69 anos. No Brasil, o Ministério da Saúde não in- dica, como rotina esse exame em pacientes com menos de 50 anos e em pacientes maiores de 69 anos, sem fatores de risco associados. A propedêutica a ser seguida após a realiza- ção da mamografia varia de acordo com o BI- RADS, conforme demonstrado na Tabela 1.2. Tabela 1.2 Tabela de propedêutica segundo BI-RADS BI-RADS CONDUTA 1 Incidência adicional ou ultrassonografia 2 Seguimento conforme idade 3 Seguimento conforme idade 4A Biópsia 4B Biópsia 5 Altamente sugestivo de carcinoma 6 Carcinoma confirmado com biópsia Fonte: Adaptado de Hoffman et al, 2014. 9 | P á g i n a REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS BEREK, J. Tratado de Ginecologia. 15. ed. Rio de Ja- neiro: Guanabara Koogan, 2014. BOTELHO, N.M. et al. Manual de habilidades profissio- nais: atenção à saúde da mulher e gestante. 2. ed. Belém: EDUEPA, 2018. CAMARGOS, A.F. et al. Ginecologia Ambulatorial: ba- seada em evidências científicas. 2.ed. Belo Horizonte: Coopmed, 2008. FEBRASGO. Tratado de Ginecologia. 1. ed. Rio de Ja- neiro: Grupo GEN, 2018. p. 31-45. HOFFMAN, B. et al. Ginecologia de Williams. 2. ed. Porto Alegre: McGraw-Hill Artmed, 2014. INCA. Diretrizes brasileiras para o rastreamento do cân- cer do colo do útero. Rio de Janeiro: INCA, 2011. LASMAR, R.B. Tratado de ginecologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. 1 recurso online. ISBN 978852773240. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Exame clínico das mamas. Disponível em: < https://linhas de cui- dado.saude.gov.br/portal/câncer-de-mama/atenção-espe- cializada/planejamento-terapeutico/exame-clinico-ma- mas/>. Acesso em: 11 abr. 2023 ONU. Organização das Nações Unidas. Programmes and projects. Cancer. Screening and early detection of cancer. Nova York: United Nations, 2019. PASSOS, E. et al. Rotinas em Ginecologia. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, p. 45-50, 2017. PORTO, C.C. et al. Semiologia médica. 8. ed. Rio de Ja- neiro: Guanabara Koogan, 2019. 10 | P á g i n a Palavras Chave: Disfunção sexual; Dispareunia; Sexologia Capítulo 2 DEBORAH FERREIRA DUGUET ARRUDA¹ FERNANDA CHAIB FONSECA PEREIRA¹ RAFAEL DE OLIVEIRA MARRA¹ SÁVIO LAGUARDIA MARRA FILHO¹ 1. Discente - Medicina - Faculdade da Saúde e Ecologia Humana (FASEH). SEXOLOGIA 11 | P á g i n a INTRODUÇÃO No século passado, a sexologia era abordada com os recursos terapêuticos herdados da psica- nálise. À medida que a medicina ginecológica foi evoluindo, abriu-se o leque de novas teorias e seus respectivos manejos, além do aperfeiçoa- mento na condução das comorbidades sexuais até então descobertas. Acometimentos sexuais são corriqueiros e fazem parte do cotidiano da mulher em múlti- plas faixas etárias, e manifestam-se de formas variadas como queda ou até mesmo supressão da libido, desconcerto ou falha em se chegar ao orgasmo e desconforto físico durante o ato se- xual. Tal quadro costuma vir acompanhado de relatos que provocam grande sofrimento mental na mulher, atrapalhando seu convívio com a sua parceria sexual e também na sua qualidade de vida de uma forma generalizada. Quando o mé- dico recebe essas queixas de sua paciente, pode- se assim dizer que está diante de um quadro de disfunção sexual feminina. Com o aumento das informações disponí- veis para o público de uma forma geral, tem-se nos dias atuais surgido um aumento na demanda de pacientes que buscam soluções e terapias para os seus acometimentos sexuais. A disfunção sexual feminina surge a partir de uma descompensação nos estágios da res- posta sexual conectando-se com relevantes sis- temas endócrinos, anatômicos, neural, vascular, psíquico, além também do fator social, acarre- tando quase sempre em deficiências na quali- dade de vida feminina. A maioria dos distúrbios sexuais dá-se de- vido à falta de conhecimento, lendas, e crenças sobre a parte fisiológica e anatômica dos órgãos sexuais. O profissional que acolhe e trata pacientes com queixas de distúrbios na vida sexual neces- sita estar preparado plenamente para lidar com tal situação, então recomenda-se que esse indi- víduo tenha o devido conhecimento sobre o tema e seus recursos propedêuticos, como tam- bém possíveis tratamentos, além de também compreender e aceitar a sexualidade de cada in- divíduo; esse preparo tem por finalidade reduzir possíveis influências maléficas e iatrogênicas no enfermo. Tipos de disfunção sexual As formas de disfunções sexuais, segundo Ribeiro et al. (2013), são catalogadas em: Distúrbio do desejo Sexual Hipoativo (Desejo Sexual Inibido): Ocorre quando há di- minuição ou ausência total de fantasias e de de- sejo de ter atividade sexual. Aversão Sexual (Evitação Sexual. Fobia Sexual): Evitação ativa de ter sexo com parcei- ros, com sentimentos de repulsa, ansiedade e medo. Transtorno de Excitação (Frigidez): É a incapacidade persistente ou recorrente de adqui- rir ou manter a lubrificação vaginal e turgescên- cia até o fim do ato sexual. A mulher tem pouca ou nenhuma sensação de excitação. Antiga- mente, esse problemaera denominado de Frigi- dez. Anorgasmia (Inibição do Orgasmo): Quando a mulher se sente incapaz de atingir or- gasmo. Pode haver um atraso ou ausência recor- rente ou persistente do orgasmo, mesmo após estímulo sexual adequado. Dispareunia: É a dor genital associada ao ato sexual. Para ser denominada dispareunia não deve ser causada por fatores orgânicos, como in- fecções ou nódulos, por exemplo. Vaginismo: É a contração involuntária dos músculos próximos à vagina que impedem a pe- netração pelo pênis, dedo, ou espéculo gineco- lógico ou mesmo um tampão. A mulher não 12 | P á g i n a consegue controlar o movimento de contração, apesar de até desejar o ato sexual. Disfunção Sexual Devido a uma Condição Médica: Caracteriza-se quando há um pro- blema orgânico que gera problemas sexuais, como, por exemplo, a diminuição de desejo de- vido a Diabetes Mellitus. Disfunção Sexual Induzida por Substân- cias: Caracteriza-se quando há um problema se- xual pelo uso de algumas substâncias. Por exemplo, diminuição do desejo sexual por uso de altas doses de sedativos hipnóticos, como o diazepam. Tratamento O profissional deve começar orientando so- bre as questões anatômicas e fisiológicas da atu- ação sexual. Durante o exame físico, o médico pode fazer o uso de espelho com o intuito de que a paciente possa acompanhar o exame e poder ser orientada sobre achados anatômicos normais e/ou alterados, tal prática tem como finalidade esclarecer de uma maneira melhor a explicação anatomofisiológica da ação sexual. Após a etapa do exame físico, é necessário explicar sobre o que é “normal” e esclarecer possíveis dúvidas que a mulher possa vir a ter relacionados com o ato sexual (FEBRASGO, 2019). O manejo dos sintomas sexuais deve ser abrangido de forma global visando a estabiliza- ção dos sinais somáticos, psíquicos, local, além de abranger também a parceria sexual. Outro fa- tor que não deve ser negligenciado envolve con- dutas direcionadas unicamente para as queixas da atual paciente, criando-se assim um manejo único para cada caso (BARRETO et al., 2018). Um modelo que tem mostrado muita efici- ência e praticidade no manejo da disfunção se- xual feminina, tendo ganhado muita atenção na prática médica, é o modelo conhecido como PILSET (PLISSIT). Tal protocolo proporciona ao profissional da saúde executar uma aproxi- mação amplificada capaz de abranger sintomas originados do sistema psíquico, biológico, e também de queixas que envolvam pouco ou ne- nhum conhecimento referente a questões anatô- micas e sexuais (LARA et al., 2008). Sendo assim, o modelo de PILSET é utili- zado como um mnemônico sendo apresentado da seguinte forma, segundo Lara et al. (2008): permissão (P): o especialista “permite” ao paci- ente praticar o ato sexual levando-se em conta a fisiologia da relação sexual. Abrangendo espe- cialmente a elucidação, além de transpor as ob- jeções que possam existir em relação ao ato se- xual. Podendo ser exemplificado da seguinte forma: a “aprovação” do terapeuta para que a mulher com disfunção sexual faça uso de fanta- sias sexuais e consuma conteúdo erótico para a estimulação sexual; informação limitada (IL): orientar questões fisiológicas resultantes du- rante a prática sexual e também explicar a res- peito da constituição anatômica do órgão genital feminino, explicando onde localizam-se os pon- tos com maior sensibilização e satisfação da re- gião vulvar e vaginal que compreendem o clíto- ris, pequenos lábios e intróito vaginal, pois tais regiões possuem uma maior quantidade de pon- tos vásculo-nervosos; sugestão específica (SE): orientar e propor alterações no comportamento sexual, tendo como modelo parâmetros basea- dos na função orgânica que constitui o ato se- xual e consequentemente chegando a um resul- tado esperado, nortear alterações de conduta (atitude assertiva), podendo ser exemplificado da seguinte maneira: a mulher vive uma vida conflituosa com seu companheiro, mesmo assim preserva a relação, pois tem os seus motivos particulares para a causa. A aparência desfavo- rável da convivência resulta em uma situação onde os malefícios superam os benefícios e com isso desfavorece a relação afetiva-emocional do 13 | P á g i n a casal. A medida que a mulher com disfunção se- xual pontua e eleva as questões benéficas que a intimidade com o parceiro gera como produto, a possibilidade de se promover um progresso fa- vorável a sua vivência sexual é extremamente alta; terapia sexual (T) a terapia sexual é indi- cada para todos os casos de extrema complexi- dade como por exemplo anedonia, confrontos que como consequência acarretem em ataques verbais e físicos, abuso sexual, alterações no comportamento sexual, manejos que não se ob- teve uma resolução positiva após explicações (LARA et al., 2008). Entende-se que as condutas habituais são tá- ticas que devemos utilizar primariamente no manejo da disfunção sexual feminina, evidenci- ando-se a instrução anatomofisiológica do ór- gão genital, elucidando o produto que se obtém durante o ato sexual, a atribuição sexual da mu- lher, a orientação sexual tanto para a mulher quanto para a sua parceria sexual, alterações de cunho mutável pelo auxílio médico, modifica- ção do estilo de vida, etc. Essas condutas englo- bam o modelo PILSET. (BARRETO et al., 2018; SILVA et al., 2013). De forma comple- mentar e generalizada o médico deve abordar questões relacionadas a saúde geral e bem como o manejo de comorbidades infecciosas do trato genital que venham a acarretar em quadros de dispareunia, além de intervir cirurgicamente em quadros de incontinência urinária, prolapsos de órgãos pélvicos, ou outras queixas que tenham sofrido alguma alteração anatômica e possam interferir na atividade sexual da mulher (LARA et al., 2008). Acrescenta-se também a necessi- dade avaliar e substituir quando necessário dro- gas que possam prejudicar a resposta sexual, também deve-se orientar sobre a prática e os be- nefícios que os exercícios físicos para o fortale- cimento dos músculos da região pélvica vão promover a vida sexual da mulher. (SOUZA et al., 2020). Terapia hormonal A terapia hormonal em mulheres que estão na fase pós menopausa tem se mostrado bas- tante eficaz, já em mulheres que estão na fase do menacme, a terapia hormonal necessita de mais estudos que possam documentar e comprovar a sua real indicação e efetividade (STUDD, 2007). Mulheres que chegam no estágio da menopausa tem como consequência natural uma redução considerável nos níveis de estrogênio em seu or- ganismo, a redução androgênica a medida em que se envelhece somada ao abrupto declínio hormonal acarretam em um quadro de distúrbio do desejo sexual hipoativo. O surgimento da re- dução do desejo/excitação sexual feminino ao longo do climatério sugere estar associado com quadros de hipoestrogenismo / hipogonadismo (FEBRASGO, 2019). Em quadros onde a mu- lher relata uma redução da libido que venha cor- relacionada ao surgimento de sintomas da me- nopausa sendo eles vasomotores e atrofia uroge- nital, a terapia hormonal mostra-se bastante efi- caz e de fácil aceitação pela paciente. (PAR- DINI, 2007). Sendo assim, segundo Febrasgo (2019), o médico pode lançar mão dos seguintes medicamentos para o manejo do quadro: • Tibolona (esteroide sintético advindo da noretisterona) utilizando-se a dosagem de 2,5 mg ao dia. Essa droga é indicada para mulheres que apresentam o quadro de distúrbio do desejo sexual hipoativo, e encontram-se pós menopau- sadas dentro da janela de oportunidade. Mulhe- res que fazem uso desta medicação, relatam o aumento do desejo sexual, excitação, e também satisfação durante o ato propriamente dito e re- dução dos sintomas urogenitais. O seu uso não é recomendado para mulheres com câncer de mama, câncer de endométrio,tromboembo- lismo agudo, hepatopatia aguda e/ou grave, car- diopatia grave e sangramento uterino sem causa diagnosticada. 14 | P á g i n a • Undecanoato de testosterona: 40 mg por dia, durante 15 dias, realizando-se a sua suspen- ção durante os próximos 15 dias após a última dose. Essa droga é indicada para pacientes que apresentem déficit androgenal relacionado com queixas de disfunção sexual do desejo, ou pre- viamente diagnosticada com distúrbio do desejo sexual hipoativo, e não necessite da aferição re- gularmente dos níveis de testosterona total e li- vre. A reposição de testosterona em mulheres pré e pós menopausa tem seu uso contraindi- cado relativamente em mulheres que apresen- tem alopecia androgênica, acne, hirsutismo, dis- lipidemia e disfunção hepática, já as contraindi- cações absolutas são para quadros de hirsutismo grave, acne grave e risco grande de câncer de mama, câncer de endométrio, episódios trom- boembólicos e doença cardiovascular. Terapia não hormonal O uso de drogas de ação no sistema nervoso central para o manejo da disfunção sexual femi- nina tem apresentado grande efetividade. Estu- dos relatam que alguns neurotransmissores atuam na sensibilização e não sensibilização de regiões do cérebro que influenciam na resposta sexual feminina. (PARDINI, 2007). Segundo a Febrasgo (2019), as medicações que podem ser utilizadas estão descritas a seguir: • Flibanserina 100 mg ao dia. Trata-se de uma droga que atua como agonista do receptor 2A (5HT-2A), exerce de forma parcial agonista também sobre os receptores de dopamina (D4). Esse medicamento atua liberando grandes quan- tidades de noradrenalina e dopamina e redu- zindo os níveis de serotonina no cortéx cerebral tendo como consequência o restabelecimento do controle pelo cortéx pré-frontal sobre as áreas de recompensa e motivação do cérebro, possibi- litando o início do desejo sexual. Esse medica- mento está indicado para mulheres na pré-me- nopausa que apresentem o quadro de distúrbio do desejo sexual hipoativo, admitindo-se que o balanceamento dos neurotransmissores cere- brais aprimore o desempenho da resposta se- xual. A flibanserina pode apresentar como efei- tos colaterais quadros de hipotensão, síncope, sonolência, náuseas, fadiga, insônia e xerosto- mia. Seu uso também não está indicado como terapia para outros tipos de disfunção sexual que não seja a de desejo. Além disso, recomenda-se abolir o seu uso quando a paciente não apresen- tar melhora após 2 meses de terapia. • Bupropiona 150 mg por dia. Esse medi- camento inativa a recaptação de dopamina e no- repinefrina, além de bloquear os receptores de serotonina 5HT-2, além de promover um certo efeito prossexual. Seu uso está indicado para o tratamento da disfunção sexual feminina resul- tante do uso de antidepressivos. Pode ser usada também no manejo de mulheres com o quadro de distúrbio do desejo sexual hipoativo. Está contra indicada para pacientes com epilepsia, bulimia e anorexia. Na maioria das vezes, o tratamento que tem se mostrado mais eficaz para mulheres com de- sejo sexual hipoativo é aquele desenvolvido a partir de componentes da terapia sexual, terapia cognitivo-comportamental, e abordagens que englobem a mulher como um todo (LARA et al., 2008). Terapia sexual A terapia sexual foi desenvolvida com o in- tuito de se abordar e auxiliar tanto a mulher quanto a sua parceria sexual com o intuito de compreender, antever e resolver situações rela- cionadas com a monotonia da vida conjugal, de- sajuste na comunicação do casal, bem como a ausência de intimidade entre os parceiros (LARA et al., 2008). 15 | P á g i n a Sua abordagem se dá através de técnicas que promovam a inclusão sensorial bem como o aconselhamento global da vida do casal. (STUDD, 2007). A peça chave que a terapia sexual se baseia se dá através da terapia de foco sensorial ou sen- sitivo, que se desenvolve através de exercícios de toque sensual realizados de forma progres- siva. Essa forma de terapia tem como objetivo reduzir a aversão aos toques sensuais ou da prá- tica sexual ligada a quadros de muita ansiedade, permitindo-se assim a possibilidade de se rees- tabelecer o diálogo e a intimidade entre os par- ceiros. Recomenda-se que os primeiros toques não se comecem por áreas genitais, mas sim to- cando-se regiões “comuns” como face, mãos e dorso, e à medida que os parceiros vão ga- nhando novamente intimidade entre eles, a indi- cação de toques em áreas genitais pode ser ini- ciada e só após essa etapa espera-se que tenha o reestabelecimento das relações sexuais (FE- BRASGO, 2019). Terapia cognitivo-comportamental: A terapia cognitivo-comportamental tem como objetivos principais elucidar e modificar questões relacionadas tanto ao cognitivo quanto questões que envolvam a distorção de crenças, responsáveis por fomentar o declínio do desejo e da função sexual feminina. Uma peça signifi- cativa que compõe a terapia cognitivo-compor- tamental é a questão do conhecimento, pois cos- tuma ser de grande auxílio tanto para a mulher quanto o casal estabelecendo formas de se com- preender pontos relacionados ao estímulo eró- tico físico e mental (FEBRASGO, 2019). Sua aplicabilidade se dá através de técnicas voltadas para a questão de aprendizagem como a prática de atenção plena, reconhecimento cor- poral, além da autoestimulação genital não mas- turbatória (STUDD, 2007; FEBRASGO, 2019). Tratamento do distúrbio da excitação se- xual: As excitações mental/subjetiva ou geni- tal/objetiva ou fisiológica podem estar ou não relacionadas. A excitação sexual subjetiva cons- titui a compreensão feminina perante a sua rea- tividade genital ou não. Já, quando nos referi- mos a excitação genital, estamos diante de um quadro fomentado por uma questão fisiológica, que envolve vasocongestão e lubrificação da va- gina. Podem estar ou não associados entre si, ou se manifestarem de forma singular (SILVA et al., 2013; RIBEIRO et al., 2013). Compreender qual o mecanismo excitatório encontra-se blo- queado e também quais os fatores desencadea- ram esse bloqueio disfuncional da excitabili- dade sexual, é de suma importância para se es- tabelecer a terapia mais eficaz. Basicamente o manejo do quadro é realizado através da excita- ção psicomental da atenção plena na terapia cognitivo-comportamental, tornando-se peça chave para se alcançar resultados efetivos. Em situações onde o único componente é a excita- ção genital, opta pelo manejo do quadro fa- zendo-se o uso de medicamentos e/ou dispositi- vos vaginais (FEBRASGO, 2019). Tratamento da desordem do orgasmo: O passo inicial para se obter êxito no trata- mento da desordem do orgasmo consiste em elucidar e orientar a paciente (se possível, o ca- sal) referentes ao orgasmo, dedicando-se as perspectivas do que seria, bem como o desen- volvimento do quadro e a sua periodicidade, deve-se também se situar o quão compromete a vivência da mulher quanto do parceiro devido ao quadro. É necessário também distinguir or- gasmo clitorinano de orgasmo vaginal. (STUDD, 2007; SILVA et al., 2013). A con- versa deve ser direcionada para episódios de or- gasmo promovido durante o coito que não ne- cessitou de estímulo do clitóris, e episódios de 16 | P á g i n a orgasmo surgido durante estimulação do clitó- ris. É necessário ao longo da consulta orientar a paciente que o orgasmo pode não estar presente em todas as relações sexuais consideradas satis- fatórias (FEBRASGO, 2019). Outro ponto importante diz respeito a avali- ação minuciosa se a anorgasmia está relacio- nada ao uso de determinadas substâncias que di- ficultem o seu acontecimento como por exem- plo anorgasmia induzida pelo uso de antidepres- sivos ou pelo abuso de drogas, também deve ser perguntado se a mulher possui alguma comorbi- dade de causavascular, neuropática e reumato- lógica (LARA et al., 2008). A partir do mo- mento que se tiver excluído as causas orgânicas e a paciente encontra-se esclarecida quanto a sua situação, a terapia mais indicada é a técnica da masturbação dirigida, tal técnica tem como finalidade orientar a mulher a explorar o seu corpo tornando-a mais familiarizada e confortá- vel com o seu órgão genital e outras partes ana- tômicas do seu corpo (FEBRASGO, 2019). Tratamento da dor sexual: O manejo da dispareunia leve a moderada quando associada ao quadro de atrofia vulvova- ginal, pode-se lançar mão do uso de constituin- tes não hormonais como lubrificantes a base de água, cremes hidratantes (LARA, et al., 2008). A estrogenização local é proposta para quadros mais graves em mulheres que se encontram na pós menopausa e possuem atrofia vulvovaginal, outra alternativa de tratamento é a laserterapia (PARDINI, 2007). Tratamento do vaginismo: A terapia consiste na aplicação de técnicas de dessensibilização sistemática, combinando- se com a fisioterapia do assoalho pélvico, tendo como meta não permitir que a musculatura pél- vica apresente espasmos (SOUZA et al., 2020). O tratamento da disfunção sexual deve ser direcionado a queixa principal da paciente, sendo o foco primordial a instrução sexual, re- lacionando-se ou não a drogas, e a psicoterapia sexual. Por fim, é extremamente importante en- fatizar que a cada caso deve ser individualizado e abordado a parte social, mental e física da mu- lher com disfunção sexual (FEBRASGO, 2019). 17 | P á g i n a REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARRETO, A.P.P. et al. O impacto da disfunção sexual na qualidade de vida feminina: um estudo observacional. Revista Pesquisa em Fisioterapia, v. 8, n. 4, p. 511–517, 2018. FEBRASGO - Tratado de ginecologia. Editores Cesar Eduardo Fernandes, Marcos Felipe Silva de Sá; coorde- nação Agnaldo Lopes da Silva Filho. [et al.]. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Elsevier, 2019 LARA, L.A.S. et al. Abordagem das disfunções sexuais femininas. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrí- cia, v. 30, p. 312- 321, 2008. PARDINI, D. Terapia hormonal da menopausa. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, v. 51, n. 6, p. 938–942, ago. 2007. RIBEIRO, B. et al. Disfunção sexual feminina em idade reprodutiva: prevalência e factores associados. Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, v. 29, n. 1, p. 16-24, 2013. SILVA, B.M. e; et al. Incidência de disfunção sexual em pacientes com obesidade e sobrepeso. Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, v. 40, n. 3, p. 196–202, 2013. SOUZA, L.C. de; et al. Fisioterapia na disfunção sexual da mulher: revisão sistemática. Revista Ciência e Saúde On-line, v. 5, n. 2, 2020. STUDD J.A comparison of 19th century and current at- titudes to female sexuality. Gynecological endocrinology the official journal of the International Society of Gyne- cological Endocrinology, v. 23, n. 12, p. 673-681, 2007. 18 | P á g i n a Palavras Chave: Contracepção; Adolescência; Gravidez na adolescência. Capítulo 3 JÚLIA RESENDE FERREIRA MAGRI¹ LUCAS DANIEL DOS ANJOS GUIMARÃES¹ VICTORIA CARDOSO ALVES¹ 1. Discente - Medicina na Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais. GINECOLOGIA INFANTO- PUBERAL 19 | P á g i n a INTRODUÇÃO Segundo Rosaneli et al., 2020, a adolescên- cia é marcada por diversas modificações, sejam elas de natureza emocional, psicológica, física e social. Entretanto, é também nessa fase, carac- terística pela descoberta do próprio corpo e pra- zer, que a gravidez indesejada pode se fazer pre- sente. Ainda segundo os mesmos autores, com- preende-se que a gestação na adolescência, de forma indesejada, perpetua ciclos intergeracio- nais de pobreza, isso porque, as meninas, em sua maioria, fazem parte de níveis socioeconômicos mais baixos e são afetadas de forma despropor- cional pela gravidez precoce. Ademais, corroborando com tais estudos, é possível entender que a educação funciona como fator de prevenção da gravidez, de forma efetiva, quando as meninas começam a estudar desde os primeiros anos de vida, de forma que o espaço de estudo e aprendizado e amigável e acessível, e o Estado age como fomentador de oportunidades, as jovens são protegidas contra exclusão, violência, expulsão do ambiente esco- lar, e o ensino é voltado ao conhecimento do próprio corpo, ao manejo da saúde reprodutiva, ao empoderamento nas relações pessoais e aos direitos como cidadã (UNESCO, 2017). Ainda dentro do espectro de prejuízos na sa- úde pública, o parto prematuro, as anemias, a pré-eclâmpsia e a desproporção feto pélvica po- dem se configurar como complicações possíveis no cenário de gestação precoce, na adolescência (PAIVA et al., 2020). Em relação a gravidez precoce, entende-se que a condição de pobreza potencializa a exposição aos riscos, provavel- mente porque pertencer a um nível socioeconô- mico menos favorável pode levar a um menor nível de informações sobre sexualidade, cuida- dos de saúde e importância de contracepção (SANTOS et al., 2021). Além disso, o contexto social e político atual, a precariedade da vida, as inequidades de gênero e a negação dos Direitos Sexuais Repro- dutivos, culminam na exclusão dos saberes dos adolescentes, sendo estes reduzidos ao saber bi- omédico, o que lhes exclui da completude dos direitos sexuais e reprodutivos, bem como o di- reito de decidir sobre seus próprios corpos (SILVA et al., 2020). Em relação ao uso de métodos contracepti- vos, o panorama de uso pelos jovens é bastante abrangente e os cenários são diversificados. Nesse sentido, segundo Costa et al., 2016 e Spindola et al., 2012, adolescentes que viven- ciam relacionamentos mais estáveis priorizam a prevenção de gestação em detrimento da pre- venção de infecções sexualmente transmissíveis (IST), assim as IST são temáticas apontadas com frequência, e corroboram com fatores que podem aumentar a probabilidade de gravidez (NEIVA-SILVA et al., 2018). Além disso, pelo fato de a sexualidade ainda ser um tabu, os assuntos não são discutidos com facilidade assim, essa condição prejudica uma orientação sexual adequada com os jovens e in- viabiliza um discurso objetivo e assertivo quanto ao uso de métodos contraceptivos (COSTA et al., 2016). Ainda de acordo com o autor, a carência de orientação contraceptiva fornecida aos estudan- tes e algo concreto e é importante que o papel dos profissionais de saúde como fomentadores da comunicação seja incentivado e destacado, de forma que haja a promoção do conhecimento entre os estudantes e a motivação para o uso correto dos métodos pelos adolescentes que decidiram iniciar suas práticas sexuais. Seguindo ainda a linha de raciocínio do es- tudo acima, os adolescentes considerados mais vulneráveis a gravidez na adolescência são pro- venientes de famílias com baixa renda, pouca 20 | P á g i n a escolaridade e estão na fase inicial da adoles- cência. Costa et al., 2016 reafirma que os ado- lescentes têm iniciado suas atividades sexuais sem orientação contraceptiva e com pouco co- nhecimento relacionado ao uso dos métodos. Assim, encontram-se expostos a gravidez não planejada, em concordância com o fato de que a maioria tem iniciado as práticas sem nunca ter usado quaisquer métodos. Outro ponto impor- tante levantado por Piantavinha & Machado, 2022, é que é preciso considerar a dificuldade dos jovens em conhecer os métodos como uma questão multifatorial, a qual depende de motiva- ções de cunho religioso, valores pessoais e ques- tões familiares dos adolescentes. Dados epidemiológicos É indispensável para o assunto em questão, estarmos cientes da importância e da relevância que a gravidez na adolescênciapossui dentro de uma sociedade na qual os gastos em saúde per- passam por esse âmbito, além de tantos outros motivos que serão descritos no decorrer do texto. Em setembro de 2015, líderes mundiais e re- presentantes da sociedade civil reuniram-se na sede da ONU, em Nova York e definiram os de- safios do Brasil para atingir as metas pactuadas na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sus- tentável, com ações voltadas a adolescentes e jo- vens, espera-se dessa forma a garantia do acesso universal aos serviços de saúde sexual e repro- dutiva, incluindo planejamento familiar, infor- mação e educação (VIEIRA et al., 2021), dessa forma em alguns estudos as estatísticas demons- traram uma queda no número de gestantes com menos de 20 anos de idade, no entanto, os nú- meros ainda são muito preocupantes (DA SILVA, 2018), pois dentro do que foi encon- trado nos estudos de acordo com o que é defi- nido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) a adolescência corresponde ao período de vida entre 10 e 19 anos (VERLI, 2020, PAIVA et al., 2020). Por ano em todo mundo de 16 a 18 milhões de adolescentes ficam grávidas e a grande maioria em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento (CHEROBINI et al., 2022; PAIVA et al., 2020; DA SILVA, 2018). Um outro retrato que conseguimos levantar é que na América Latina o índice é de 65,5 nasci- mentos para cada mil já no Brasil a taxa chega a 68,4 nascimentos para cada mil adolescentes mulheres, assim é importante salientar que por ano 434 mil crianças nascem no Brasil mulheres adolescentes na faixa etária de 15 a 19 anos va- lendo destacar que o referido país possui a maior taxa de mães adolescentes da América Latina (MOURA et al., 2021) e por fim nesse cenário, há destaque para a região Norte do país, que possui a maior média entre todas as regiões do país, com a média de 21,3 % dos partos, um va- lor que está mais de 7 % acima da já revelada média nacional (BEZERRA & MATOS, 2022). Ainda assim podemos ressaltar que adoles- centes com menos de 14 anos tem a probabili- dade de 5 a 7 vezes maior de morrer durante a gravidez do que mulheres com mais idade que são mães (ALMEIDA et al., 2021), e além disso a gravidez na adolescência é a segunda maior causa de mortalidade materna nas faixas etárias de 15 aos 19 anos (CHEROBINI et al., 2022). Com isso, a maternidade na adolescência é con- siderada um grande risco devido às complica- ções biológicas e sociais, ainda assim dentro das complicações biológicas temos a grande inci- dência de Doenças Sexualmente Transmissíveis (IST´s) associado diretamente ao início precoce da atividade sexual que segundo estudo brasilei- ros de todos adolescentes, 27,5% deles já possu- íam experiência sexual precoce (VIEIRA et al., 2021). Portanto, a realização do presente estudo re- lacionado à temática, é essencial para a constru- ção coletiva do conhecimento, pois o estudo 21 | P á g i n a possibilita à sociedade acadêmica e científica ampliar os horizontes e dessa forma estratégias e mudanças concretas, contínuas e palpáveis para possíveis resoluções a longo prazo do ce- nário em questão (LEITE et al., 2021). Determinantes sociais Precisamos entender também que a gravidez na adolescência não é um fenômeno homogê- neo, e que dessa forma depende do contexto so- cial em que o adolescente está inserido, por- tanto, surgiu após consenso da comissão homô- nima da Organização Mundial de Saúde (OMS) os determinantes sociais da saúde sendo eles as condições sociais em que as pessoas vivem e trabalham e que são relevantes para que os ór- gãos públicos consigam prever os fatores exter- nos que influenciam de maneira negativa na qualidade de vida das pessoas ajudando assim na criação de medidas globais para redução da desigualdade (MOURA et al., 2021). Diante do exposto, a pergunta norteadora é: quais os determinantes sociais da saúde relacio- nados à gravidez na adolescência? De acordo com um dos estudos analisados, os resultados encontrados mostraram alguns determinantes sociais da saúde e sua associação com a gravi- dez na adolescência, destacando-se a renda, condições de moradia, escolaridade e acesso aos serviços de saúde. Inicialmente foi observado em um dos estudos que as condições de margi- nalização e pobreza têm uma associação consi- derável com a gravidez e taxa de fertilidade en- tre adolescentes, em outros estudos conclusões semelhantes foram levantadas, em João Pessoa- PB por exemplo foi constatado que a maioria das adolescentes entrevistadas que possuíam fi- lhos tinham renda familiar menor que um salá- rio mínimo, e além disso os resultados eviden- ciaram que, para 54% das participantes da pes- quisa, a principal fonte de renda provinha do cônjuge/companheiro, sendo que 31,7% viviam da renda familiar em estudos parecidos também 65% das entrevistadas eram totalmente depen- dentes financeiramente de terceiros, sendo que em 50,4% dos casos, o companheiro era o res- ponsável pelo sustento, e uma a cada quatro jo- vens tinha dependência financeira dos pais, além disso no Brasil estudos levantaram que 72% das jovens não trabalhavam (MOURA et al., 2021). No que diz respeito às condições de mora- dia, a prevalência da maternidade adolescente foi maior em áreas rurais do que em áreas urba- nas, além disso outro estudo apontou que eram mais predispostos a começar ter filhos adoles- centes de residência rural, casados, com pai ou mãe sem escolaridade e a falta de pais para co- municação em relação a questões de saúde se- xual e reprodutiva, ainda quanto à condição de moradia, o referido estudo demonstra que 68% das entrevistadas referiram morar em residência própria da família de origem e 32% falaram que moravam em residência alugada. Dentro do contexto de acesso aos serviços de saúde, os resultados evidenciaram que, quanto às consultas de pré-natais, as mães ado- lescentes tiveram menos consultas que as mães com idade entre 20 e 35 anos (MOURA et al., 2021), além disso em outro foco da análise as pacientes que tiveram desde a infância um acompanhamento longitudinal e integral pre- visto pela atenção primária, tiveram melhores contextos a longo prazo na adolescência e na vida adulta, apontando assim a relevância e ne- cessidade de um acesso universal e com equi- dade para todas elas, portanto, a atenção básica (AB) tem um papel fundamental no processo de educação em saúde e na preconização de novas formas de ações coletivas e a renovação de prá- ticas promovendo o bem-estar (ALMEIDA et al., 2021). E por fim em relação à escolaridade, de acordo com estudo inglês, a evasão escolar não 22 | P á g i n a está associada com a gravidez na adolescência entre meninas adolescentes inglesas, entretanto outros estudos destacaram que as adolescentes que não estudam têm chances 2,76 vezes maio- res de maternidade adolescente do que suas con- trapartes que têm nível de ensino maior que se- cundário os mesmos autores afirmam ainda que a prevalência de maternidade adolescente foi cerca de quatro vezes maior entre as adolescen- tes com nenhuma educação em comparação com aqueles com maior do que o ensino secun- dário durante o período de 2004-2014, outros estudos ainda documentaram 48% das adoles- centes grávidas pesquisadas tinham menos de 8 anos de estudo, ou seja, não haviam concluído o ensino fundamental, e 64% não estudavam. Em outro sentido da análise, o estudo brasileiro ava- liou os fatores preditores da evasão escolar entre adolescentes com experiência de gravidez e os resultados demonstram que 94,4% das jovens afirmaram ter interrompido os estudos em al- gum momento da vida durante ou após uma gra- videz, sendo que 54,4% abandonaram os estu- dos definitivamente. Além disso, os autores res- saltam que, destas jovens, as que trabalhavam e tiveram gravidez recorrente foram maisfavorá- veis a abandonar os estudos dessa forma o baixo nível de escolaridade foi associado com maiores chances de maternidade adolescente entre as jo- vens que aquelas que têm ensino superior, por- tanto o estudo da associação da gravidez na ado- lescência com a educação como determinante social da saúde é importante, pois a maioria dos trabalhados estudados mostraram que o nível de escolaridade baixo foi associado com maiores chances de maternidade adolescente entre as jo- vens. Impactos da gravidez na adolescência A gravidez na adolescência vem associada com diversos problemas atuais e futuros para essa adolescente, para sua família e pessoas de contato próximo. A gestação nesse período da vida tem maiores chances de risco, e é uma das maiores causas de morte materna, podendo tam- bém haver implicações na saúde do bebê, como a ocorrência de baixo peso do recém-nascido. Dessa forma é importante ressaltar que a adoles- cência é um período extremamente perigoso para uma gravidez, uma vez que tais perigos apresentam-se presentes tanto para o bebê quanto para a parturiente, tanto em questões psi- cológicas, emocionais e fisiológicas. Segundo o Fundo de População das Nações Unidas (UN- FPA) a saúde da jovem pode passar por compli- cações durante a gestação e dificuldades no parto. O UNFPA relata também os desdobra- mentos após o parto, com o destaque de que a parte fisiológica da jovem também pode ser afe- tada (BEZERRA & MATOS, 2022). Além desses impactos para a saúde da mãe e do bebê, é relevante citarmos também os pro- blemas mais imediatos para o contexto de vida dessa jovem. Na questão social, fica evidente que uma gestação precoce poderá dificultar a continuidade dos estudos, acometendo direta- mente a parte educacional de escolarização, for- mação profissional e o acesso futuro ao mercado de trabalho, o que aumentará ainda mais a de- pendência financeira dos pais ou parceiros. Essa situação costuma levar a desdobramentos em que a pubescente eleva seu risco de desemprego, visto que sua pequena escolaridade dificulta a entrada no competitivo mercado de trabalho. Uma vez que, pode-se observar que uma gesta- ção precoce não costuma ser planejada, o que pode levar a mudanças bruscas na rotina dos jo- vens e das famílias. Como já dito anteriormente a o contexto da gravidez na adolescência acaba influenciando no âmbito familiar, pois a possível situação de desemprego ou emprego de baixa remuneração pela jovem, acarretará gastos para sua família. Além disso, outro fator de importante destaque 23 | P á g i n a é que a maioria das gestações precoces ocorre fora do contexto de uma relação formal, ou seja, a pubescente e o pai da criança não são nem na- morados. Frente a essa situação, é comum que ao invés de encontrar apoio, a jovem se depare com repressão familiar, o que pode somar no seu comprometimento psicológico e contribuir para uma possível fuga de casa, o que piora ainda mais o contexto da gravidez na adolescên- cia e o aumento dos riscos para o feto e a mãe (BEZERRA & MATOS, 2022). Retomando um pouco mais a fundo aos pro- blemas de saúde materna e do bebê, é impres- cindível expor que o bebê pode apresentar alte- ração no crescimento e no desenvolvimento, caso sejam fruto de um parto prematuro em de- corrência do corpo da pubescente ainda não es- tar completamente formado, de modo que é co- mum que tais recém-nascidos apresentem baixo peso (Organização Mundial da Saúde, 2020). Já para as adolescentes grávidas tem riscos aumen- tados para infecções puerperais, anemia e pré- eclâmpsia. Por fim, em relação aos impactos da gravi- dez na adolescência é significativo ressaltar o fato da gravidez precoce encontra-se associada à recorrentes casos de disseminação de IST’s. Além disso, também relacionado gestação inde- sejada, encontra-se a questão do aborto. Sobre o assunto, afirmam que “[...] o aborto inseguro é um dos maiores problemas de negligência à sa- úde da mulher, gerando inúmeras consequências sexuais e reprodutivas” (BEZERRA & MA- TOS, 2022). Importância do conhecimento dos adolescentes ao iniciar a vida sexual O baixo conhecimento das práticas contra- ceptivas está associado ao planejamento de gra- videz, aumentando em 4,5% as chances de uma gravidez não planejada (DE ARAÚJO & NERY, 2018). A maioria dos adolescentes pos- suem conhecimento insuficiente ou até mesmo ausente sobre métodos contraceptivos, o que contribui para o uso incorreto dos mesmos. Dessa forma, de acordo com o artigo (PIANTA- VINHA & MACHADO, 2022) a maior preva- lência é do uso do preservativo masculino e do anticoncepcional oral, mas estes em maioria são utilizados sem orientação de profissionais da sa- úde como fonte de informação para o uso cor- reto dos métodos. Sendo assim, mediante a esse contexto re- tratado para Villela & Doreto (2006), é impor- tante ainda ressaltar que os maiores índices de gravidez na adolescência se encontram nas po- pulações mais pobres e com baixa escolaridade, ficando evidente, uma maior dificuldade de acesso a informações e contraceptivos (DA SILVA, 2018). Como já dito anteriormente, as meninas adolescentes são as mais atingidas com a falta de informações e orientações seguras so- bre educação sexual, uma vez que a gravidez na adolescência é um problema de saúde pública tanto para a saúde materna como para a saúde infantil (CHEROBINI et al., 2022). O artigo de Cherobini et al. (2022), por meio de pesquisas evidenciou que a educação em sa- úde na escola é uma das mais importantes estra- tégias educativas para prevenção de gravidez na adolescência, uma vez que é nas escolas que os adolescentes iniciam a vivência da sexualidade, expressão suas dúvidas e questionamentos, além de estarem dispostos a receberem orientações sobre a questão da sexualidade, pois é nessa fase que está presente a descoberta do próprio corpo e do prazer sexual. Essa prática é orientada pe- los órgãos mundiais de saúde (Nações Unidas, UNESCO e OMS). Considerando os problemas já ditos, um fator que contribui negativamente é o fato do relacionamento sexual e os modos de viver a sexualidade estarem sendo explorados cada vez mais cedo. Sendo que tal fato vem 24 | P á g i n a sendo desacompanhado de uma orientação efe- tiva que possa nortear os adolescentes sobre a prevenção de gravidez indesejada e de ISTs (CHEROBINI et al., 2022). Dessa forma, podemos concluir que o co- nhecimento não é o único fator responsável, mas contribui significativamente para o desfecho da gravidez não planejada. Porém, outros fatores, como idade, sexarca, renda, estado civil e esco- laridade estão também associados à gravidez na adolescência e ao não planejamento da gestação (DE ARAÚJO & NERY, 2018). Contraceptivos e infecções sexualmente transmissíveis O conhecimento dos adolescentes acerca dos métodos contraceptivos e das infecções se- xualmente transmissíveis é um tópico muito im- portante de ser abordado. Começando então fa- lando dos métodos contraceptivos temos que em resumo o conhecimento sobre eles na faixa etá- ria estudada é muito precário (DOS SANTOS, 2021) na maioria o conhecimento era insufici- ente ou até mesmo ausente (PIANTAVINHA, 2022). Uma vez que, as principais fontes de in- formações desses adolescentes são a família, a escola e os amigos, levantando assim um ques- tionamento sobre a atuação dos profissionais de saúde, que parece ser restrita, no que tange à as- suntos de contracepção e saúde sexual de forma geral (DOS SANTOS, 2021). Dessa forma, fica evidente também que a maioria dos adolescentes ainda não tiveram acesso a informações e serviços adequados ao atendimento de suas necessidades de saúde se- xual e reprodutiva que os orientassem a tomar decisões de maneira livre e responsável (PIAN- TAVINHA & MACHADO, 2022).
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