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FUNDAMENTOS E PRÁTICAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA - SFG001 Semana 8 Este texto tem como objetivo rever os conteúdos propostos na disciplina de Fundamentos e Práticas no Ensino de Geografia ao longo das semanas. trazemos os principais tópicos que foram desenvolvidos, destacando alguns pontos que consideramos fundamentais para o entendimento da disciplina: 1. A geografia escolar, sua importância e principais conceitos e categorias teóricas 2. Geografia: conceitos e categorias 3. Princípios da geografia escolar e sua apropriação pela Base Nacional Curricular (BNCC) e Currículo paulista 4.Raciocínio geográfico e Pensamento espacial 5.Cartografia escolar e Alfabetização geográfica 1. Qual o papel da Geografia na Escola? Ler o mundo da vida, ler o espaço e compreender que as paisagens que podemos ver são resultado da vida em sociedade, dos homens na busca da sua sobrevivência e da satisfação das suas necessidades é o papel da geografia na escola. (CALLAI, 2005) 2. Geografia: conceitos e Categorias 2.1 O conceito de ESPAÇO, objeto central da Geografia A Geografia, enquanto área do conhecimento utiliza, em suas abordagens, uma série de conceitos e categorias que são considerados como basilares para a fundamentação de seus estudos. Vamos relembrar cada um deles? Espaço sobre o qual o ensino de Geografia na Educação Infantil e nos anos iniciais deve tratar é o espaço de vivência, ou seja, o espaço do vivido. É nesse espaço que o aluno estabelece seu dia a dia. É o espaço onde o aluno mora, brinca, estuda, circula etc. O espaço geográfico é diferente do espaço sideral ou mesmo do espaço teórico e organizado nos livros ou atlas. O professor que ensina Geografia precisa perceber que a criança, desde seus primeiros meses de vida, começa a estabelecer relações espaciais. Daí a importância de estudar as noções espaciais elementares para promover ações que a auxiliem nesse desenvolvimento. 2.2 Principais categorias geográficas: Paisagem, Território, Lugar, Região https://ava.univesp.br/webapps/blackboard/execute/courseMain?course_id=_5706_1 A Paisagem pode ser definida como um conjunto heterogêneo de elementos ou formas naturais e artificiais (estas últimas também são denominadas como “culturais” ou “humanizadas”). Ela é formada por frações desses dois elementos ou formas. A sucessão histórica nos permite entender os modos de sua produção, assim reconhecemos os diferentes elementos que a compõem e podemos, ainda, observar a quão marcante e significativa é a ação antrópica em determinado espaço geográfico. O geógrafo brasileiro Milton Santos (1988) explica que o domínio da paisagem é o que a nossa visão alcança, ou seja, é um espaço cujo domínio é o do nosso visível. Outro importante aspecto relacionado a essa categoria espacial é que ela se trata de uma dimensão da nossa própria percepção. Exemplo: paisagem é o espaço que pode ser visto da janela da sala de aula. Ela pode ser considerada feia ou bonita, a depender da opinião de quem a define. A paisagem não é formada apenas por formas, mas por cores, sons, movimentos, odores e outros atributos sensoriais Legenda: Paisagem urbana: Araraquara/SP Território deve ser entendido como um espaço produzido e apropriado pelos seres humanos, portanto, envolve relações de poder e de produção, além de uma dada população. Exemplo: Os territórios quilombolas Legenda: Projeto Povos começa a caracterizar 28 territórios tradicionais de Paraty e Ubatuba (Fev/2020) O lugar pode ser compreendido como o ponto de referência de várias redes e conexões existentes num dado espaço. O espaço transforma-se em lugar à medida em que adquire definição e significado (TUAN, 2015). O lugar está associado à localização. O valor do lugar depende da intimidade de uma relação humana. Exemplo: minha casa, minha escola, meu bairro. Legenda: Palafitas: tipos de moradia Região: estudar uma região significa entender as relações, as formas, as funções, as organizações de um dado espaço, mas significa, também, considerar seus vários níveis ou esferas de interação. Exemplo: a região metropolitana de Ribeirão Preto - SP. Legenda: Mapa do Estado de São Paulo com destaque para a Região Metropolitana de Ribeirão Preto. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Regi%C3%A3o_Metropolitana_de_Ribeir%C 3%A3o_Preto Atenção: nos anos iniciais, o currículo de Geografia prioriza o ensino de duas das categorias, a saber: lugar e paisagem. 3. Princípios da geografia escolar e sua apropriação pela BNCC e Currículo paulista https://pt.wikipedia.org/wiki/Regi%C3%A3o_Metropolitana_de_Ribeir%C3%A3o_Preto https://pt.wikipedia.org/wiki/Regi%C3%A3o_Metropolitana_de_Ribeir%C3%A3o_Preto Os princípios lógicos da Geografia envolvem as ações de entender, dentre outros aspectos, a localização, a distribuição, a extensão, a distância, a posição (orientação) e a escala de determinado fenômeno (natural ou social) em dado espaço. Assim sendo, é importante que o docente incentive desde a Educação Infantil, por meio do ensino de Geografia, a apropriação de algumas noções e conceitos geográficos. Uma das maiores contribuições da Geografia Escolar refere-se ao pensamento espacial, que está diretamente relacionado ao modo de pensar geográfico, ou seja, ao raciocínio geográfico. Para representar e interpretar nosso mundo, que está em permanente transformação, a ciência geográfica dispõe de sistemáticas específicas que permitem analisar os componentes do binômio Sociedade e Natureza. Assim, a função social e a relevância da Geografia no currículo escolar estão associadas, segundo a BNCC de Geografia, ao domínio de conhecimentos fatuais - isto é, aqueles que podem ser observados e localizados no tempo e no espaço - e ao exercício da cidadania. Aprender Geografia permite o reconhecimento da diversidade étnico-racial e das diferenças dos grupos sociais, possibilita pensar na resolução de problemas da própria vida do estudante, dentre outros. A Geografia está presente nos currículos oficiais, tanto na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), de abrangência federal, quanto no Currículo Paulista, de abrangência estadual. É preciso estudar esses documentos para saber seus limites e suas potencialidades. 3.1 Base Nacional Comum Curricular e o Currículo Paulista Na BNCC, a Geografia está apresentada em cinco unidades temáticas comuns ao longo de todo o Ensino Fundamental. São temas e objetivos nos anos iniciais Ensino Fundamental: Tema: O sujeito e seu lugar no mundo Foco do aprendizado: noções de pertencimento e identidade. 1. Ampliar as experiências das crianças com o espaço e o tempo, por meio de jogos e brincadeiras, proporcionando aprofundamento do conhecimento dos estudantes sobre si mesmos e sua comunidade. 2. Permitir que as crianças percebam e compreendam a dinâmica de suas relações sociais e étnico-raciais, identificando-se com a sua comunidade e respeitando os diferentes contextos socioculturais. 3. Estimular o desenvolvimento das relações espaciais topológicas, projetivas e euclidianas, além do raciocínio geográfico, importantes para o processo de alfabetização cartográfica e a aprendizagem com as várias linguagens (formas de representação e pensamento espacial). 4. Possibilitar que os estudantes construam sua identidade relacionando-se com o outro (sentido de alteridade); valorizem as suas memórias e marcas do passado vivenciadas em diferentes lugares; e, à medida que se alfabetizam, ampliem a sua compreensão do mundo. (p. 360) 3.2 Currículo Paulista No Currículo Paulista, a seguinte observação é destacada para a Geografia dos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental: O Currículo Paulista de Geografia no Ensino Fundamental Anos Iniciais e Finais está organizado com base nos principais conceitos da Geografia contemporânea, diferenciados por níveis de complexidade. Embora o espaço seja o conceito mais amplo e complexoda Geografia, é necessário que os estudantes dominem outros conceitos operacionais e que expressam aspectos diferentes do espaço geográfico: território, lugar, região, natureza e paisagem. (p. 41) O ensino de Geografia mobiliza competências e habilidades por meio de diferentes linguagens, de princípios e dos conceitos estruturantes espaço geográfico, paisagem, lugar, território e região e outras categorias que contemplam a natureza, a sociedade, o tempo, a cultura, o trabalho e as redes entre outros, considerando as suas diversas escalas. Outro conceito estruturante refere-se à educação cartográfica que deve perpassar todos os anos do Ensino Fundamental. (p.43) 4. Raciocínio geográfico e Pensamento espacial A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) de Geografia salienta o raciocínio geográfico do seguinte modo: O raciocínio geográfico, uma maneira de exercitar o pensamento espacial, aplica determinados princípios para compreender aspectos fundamentais da realidade: a localização e a distribuição dos fatos e fenômenos na superfície terrestre, o ordenamento territorial, as conexões existentes entre componentes físico-naturais e as ações antrópicas. (p. 357) Os princípios do raciocínio geográfico são expostos no documento como: Analogia, Descrição, Diferenciação, Distribuição, Extensão, Localização e Ordem. O currículo Paulista também salienta esses aspectos: O raciocínio geográfico está relacionado com uma maneira de exercitar o pensamento espacial por meio de princípios fundamentais: .Analogia - um fenômeno geográfico sempre é comparável a outros. A identificação das semelhanças entre fenômenos geográficos é o início da compreensão da unidade terrestre; .Conexão - um fenômeno geográfico nunca acontece isoladamente, mas sempre em interação com outros fenômenos próximos ou distantes; .Diferenciação - é a variação dos fenômenos de interesse da geografia pela superfície terrestre (por exemplo, o clima), resultando na diferença entre áreas; .Distribuição - exprime como os objetos se repartem pelo espaço; .Extensão - espaço finito e contínuo delimitado pela ocorrência do fenômeno geográfico; Localização - posição particular de um objeto na superfície terrestre. A localização pode ser absoluta (definida por um sistema de coordenadas geográficas) ou relativa (expressa por meio de relações espaciais topológicas ou por interações espaciais); .Ordem - ordem ou arranjo espacial é o princípio geográfico de maior complexidade. Refere-se ao modo de estruturação do espaço de acordo com as regras da própria sociedade que o produziu. Segundo Castellar e Juliasz (2017): Partimos da concepção de que o pensamento espacial mobiliza e desenvolve o raciocínio geográfico pois trata-se de inserir os princípios e conceitos estruturantes para análise do espaço e sua dinâmica, por exemplo, escala, extensão, localização, as relações entre as unidades de medida, as diferentes formas de calcular a distância (milhas, tempo de viagem, custos de viagem), os sistemas de coordenadas, a natureza dos espaços (bidimensionalidade e tridimensionalidade). Trata-se de buscar fundamentos para consolidar a Geografia no currículo escolar por meio de novas abordagens de aprendizagem, integrando a didática com os conceitos e princípios geográficos. Trata-se, também, de dar força a educação geográfica, por meio da compreensão dos fenômenos e situações geográficas vivenciadas pelos alunos em seu cotidiano, relacionando-os e compreendendo-os. (p. 162) O trecho a seguir nos ajuda a compreender melhor a questão feita por um professor em formação: “Como definimos raciocínio espacial?” Essa pergunta nos mobiliza para pensarmos as habilidades espaciais e na necessidade de consolidar a discussão dos princípios geográficos nos conteúdos escolares, sugerindo uma nova pergunta: Que habilidades ou conhecimentos são relevantes para que o aluno compreenda o espaço, a dinâmica espacial e como perceber a localização dos objetos e fenômenos espacialmente? (ibidem, p. 172) 5. Cartografia Escolar e Alfabetização Geográfica Já sabemos que o ensinar e aprender Geografia envolve entender como o espaço é produzido e reproduzido na nossa sociedade, envolve o pensamento espacial. Para essa tarefa, o ensino de Geografia utiliza diferentes linguagens, como a cartográfica, a musical, a cinematográfica, a textual, a oral etc. Entre todas, a linguagem cartográfica é a central para a Geografia. Assim sendo, a Cartografia Escolar está no currículo de Geografia para possibilitar mais do que o ensino “do” mapa e “pelo” mapa. A Cartografia é uma LINGUAGEM que permite o raciocínio espacial. Cartografia - linguagem simbólica que permite ler e escrever as características de um território e por ser instrumental, poderia ser utilizada em todas as áreas do conhecimento. Assim, contribui para a percepção espacial na medida em que: Projetam na memória dos lugares, suas formas e relações -Alfabetizar em Geografia é desenvolver uma estrutura de pensamento por meio das competências sobre conhecimento geográfico, com as quais será possível tornar-se hábil, isto é, desenvolver capacidades como a de descrever, observar, fazer leituras cartográficas, relacionar, compreender diferentes níveis de escalas, entre muitas outras que são necessárias para a estruturação do ensino de Geografia desde as séries iniciais Assim, o desenvolvimento da alfabetização geográfica, por meio de noções espaciais a serem promovidas pelo educador, deve ser feito desde a Educação Infantil. A esse respeito, Castellar (2017) destaca que: Para iniciar o processo de letramento é preciso começar explorando com as crianças as relações topológicas elementares (entre, antes, depois, ao lado....), projetivas (esquerda e direita, acima e abaixo...) e euclidianas (área, distância, tamanho...), que auxiliam na interação dos conteúdos de diferentes áreas e no início do saber geográfico. Esse processo se dá quando o professor articula com as habilidades que o aluno possui os conceitos que serão desenvolvidos e, para isso, deve levar em consideração o desenvolvimento cognitivo desse. (p. 227) Exemplo de algumas noções espaciais elementares são: as noções de vizinhança, separação, localização e ordenamento. A respeito das relações topológicas, projetivas e euclidianas, é interessante considerar que o que destacam as professoras Rosangela Doin de Almeida e Paula Juliasz (2014): “As primeiras relações espaciais a serem estabelecidas no espaço representativo são as topológicas, seguidas das projetivas e euclidianas” (p. 36). Os mapas mentais são representações cartográficas que podem ser utilizadas nas práticas pedagógicas com estudantes da Educação Infantil e anos iniciais, ajudando, inclusive, o aluno a desenvolver seu raciocínio geográfico. Os mapas mentais apresentam localização de objetos e arranjos espaciais, o que amplia a percepção espacial, além de que vários elementos do mapa convencional podem ser introduzidos, como o título e a legenda. Segundo CASTELLAR e JULIASZ (2017): Além disso, os mapas mentais também envolvem a representação espacial, por exemplo os conceitos cartográficos tais como as visões (vertical, oblíqua e frontal), as noções de medida e proporção, os efeitos das projeções e os princípios do desenho gráfico. Legenda: Exemplo de mapa mental (representação bidimensional) de uma criança de Manaus - AM Para finalizar, não podemos deixar de dizer que além do conceito de ESPAÇO, o conceito de TEMPO é fundamental para o professor. Na articulação com o conceito de espaço, busque desenvolver práticas educativas integradas. Assim, tempo e espaço possibilitam ao aluno, desde a Educação Infantil, o desenvolvimento de noções como as de curta e longa duração, de sequência temporal, de cronologia histórica, de tempo cíclico (estações do ano), dentre outras, de modo interligado às noções espaciais. Referencias usadas nesta revisão final: ALMEIDA,R. D.; JULIASZ, P. S. Espaço e Tempo na Educação Infantil. São Paulo: Contexto, 2014. CASTELLAR, S. M. V. Cartografia escolar e o pensamento espacial fortalecendo o conhecimento geográfico. Revista Brasileira de Educação em Geografia, Campinas, v. 7, n. 13, p. 207-232, jan./jun. 2017. CASTELLAR, S. M. V.; JULIASZ, P. S. Educação geográfica e pensamento espacial: conceitos e representações. ACTA Geográfica, Boa Vista, Edição Especial, p. 160-178, 2017. LASTÓRIA, Andrea C. Texto Base. Revisão final. UNIVESP,2020 SANTOS, M. Metamorfoses do Espaço Habitado. São Paulo: Hucitec, 1988. TUAN, Y. F. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. Londrina: EDUEL, 2015. (livro digital) Assim, apresentamos os pontos principais presentes na proposta de Ensino de Geografia e propostos na disciplina. Esperamos que vocês continuem pesquisando e aprofundem os conhecimentos. Bons estudos e boa prova! Profª Dra. Claudete de Sousa Nogueira
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