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Inteligência Relacional - Ana Artigas

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Copyright© 2018 by Literare Books International.
Presidente:
Mauricio Sita
Capa:
Riven Melito
Andre Caliman
Bruna Pirolo Assad
Diagramação e Ebook:
Nathalia Parente
Revisão:
Bárbara Cabral Parente
Gerente de Projetos:
Gleide Santos
Diretora de Operações:
Alessandra Ksenhuck
Diretora Executiva:
Julyana Rosa
Relacionamento com o cliente:
Claudia Pires
 
Formatação e qualidade exclusivas do canal Ebooks Demais
 
https://t.me/ebooksdemais
Literare Books
Rua Antônio Augusto Covello, 472 – Vila Mariana – São Paulo, SP.
CEP 01550-060
Fone/fax: (0**11) 2659-0968
site: www.literarebooks.com.br
e-mail: contato@literarebooks.com.br
Agradecimentos Especiais
Ao meu pai, Coronel Artigas, maior gigante que conheci; diante
dele qualquer Everest se torna pequeno.
A minha mãe, Vera Artigas, a expressão mais pura de força,
coragem, garra e luta pela sobrevivência.
Ao meu marido, Claudio Diogo, grande incentivador que, com
seu amor incondicional, ensinou-me a ser mais paciente e a
acreditar que os relacionamentos podem ser sólidos.
As minhas filhas Thaís e Alice, o amor mais puro e sublime que
pode existir.
Aos meus amigos e mestres que, de coração, sabem a
importância que eles têm na minha vida.
A José Luiz Tejon, sou fã incondicional, mestre e amigo, que me
ajudou a praticar a Inteligência Relacional e a quem com muito
carinho e admiração escolhi para prefaciar este livro.
Às equipes da Tekoare e TNB Studio.
A todos os seres humanos, na plenitude da palavra, que
compartilharam comigo seu amor, ensinaram-me a importância dos
relacionamentos, dedico-lhes, de coração e alma, este livro.
Sumário
Prefácio
Introdução
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Inteligência Interpessoal + Inteligência Intrapessoal
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Conclusões
AVALIANDO SUAS HABILIDADES RELACIONAIS
Apêndice A – Sistema Cerebral – Cérebro Social Relacional
Referências bibliográficas
Prefácio
Uma obra de arte de Ana Artigas: Inteligência Relacional
Ana registra numa passagem deste livro o que gostaria que
fosse escrito na sua lápide, eu diria, o que ficaria eternizado com
sua alma nesta jornada terrena: “aqui jaz uma mulher que deixou o
seu legado e fez as pessoas acreditarem que podem se tornar seres
humanos melhores, mais inteligentes e mais felizes, na forma como
se relacionam, escolhendo melhor com quem dividir a sua
existência”.
Antes de comentar este livro sensacional, que ilustra
pedagogicamente seus conceitos, um livro sério, profundo e ao
mesmo tempo humano e comovente, preciso deixar aqui meu
depoimento sobre essas respostas que Ana nos instiga a respeito
de: “ como você quer atrair as pessoas e ser visto por elas?” e “qual
é a imagem e o legado que você deseja deixar aos outros?”
Ana alterou e mudou a minha vida. Além da competência da
inteligência relacional, sou uma testemunha viva da força desse ato,
e, claro, acrescento, para agirmos no tom ascensional da
inteligência relacional, a capacidade de amar, e a generosidade de
saber dar e doar é um ingrediente sine qua non.
Estava eu, como diretor executivo de uma das empresas do
Grupo do jornal O Estado de São Paulo, “O Estadão”. Conheci a
Ana, quando ela já realizava um trabalho de vanguarda na área
humana ao lado da Caliper, empresa americana sediada em
Princeton, Estados Unidos.
Certo dia, ela me liga e pede para que eu receba um dos
pesquisadores dessa organização exemplar no mundo do
comportamento humano, o escritor Patrick Sweeney. Ele, ao lado de
Herb Greenberg, fundador e criador do sistema de avaliação
Caliper, outro ser humano com uma historia incrível de vida e de
superação. Eles estavam preparando o lançamento mundial, de um
novo livro chamado: “Succeed on your own terms”, traduzido e
lançado no Brasil como: “O Sucesso tem Fórmula?”. Esse encontro
promovido pela Ana, teve o condão de transformar minha vida.
Descobri, graças à Ana, angulações de mim mesmo que, se não
fosse a sua presença cruzando a minha própria vida, eu não teria
descoberto. Com isso pude também estabelecer uma linda amizade
com o Maestro João Carlos Martins, da mesma forma entrevistado
nessa obra, e isso estará para sempre registrado naquele livro de
Patrick & Greenberg . Obrigado, Ana, o seu legado vive em mim.
Mudanças e adaptações fazem parte da vida, diz Ana. A sua
própria estória de vida desde a infância, registra muitas mudanças.
Cidades, amizades, escolas novas. Neste livro Ana busca marcos
históricos e fundamentos teóricos de alta relevância. Traz logo na
abertura uma pesquisa fantástica e única, com pessoas ao longo de
muitos anos, onde a busca era descobrir o que, depois de anos, os
seres humanos atribuíam como o máximo e o melhor de uma vida.
Aí partimos para o desenrolar de toda a contribuição deste livro. O
que este estudo revela não aponta para a riqueza, nem para a fama,
o sucesso termina sendo o que você vai ler neste livro, o que nos
faz verdadeiramente felizes e saudáveis.
Ao contrário de muitos livros superficiais, este livro me
impressionou pela qualidade técnica. Abre portais sérios para
ótimas imersões dos leitores. A reunião das distintas inteligências é
exemplar: musical, linguística, lógica matemática, espacial, corporal,
interpessoal, intrapessoal, naturalista, existencial e a inteligência
espiritual. Ao ler cada uma delas fui compreendendo como seria
importante, por exemplo, na educação de nossos filhos, cuidarmos
do desenvolvimento de cada uma dessas inteligências, ou seja, a
leitura deste livro não serve apenas para professores, estudantes,
executivos, líderes, ou outros profissionais, mas serve para mães,
pais e educadores, e lógico, para uma autopedagogia, uma
autossuperação. Ao conhecer melhor cada uma dessas 10
inteligências identifiquei o quanto precisei sofrer para aprender, a
muito custo, algumas delas. Sem dúvida, este livro será também de
grande valia para todos os nossos jovens, adolescentes, que podem
se preparar muito melhor para os desafios nas escolas, faculdades,
e nos primeiros passos nos estágios e na iniciação corporativa.
Ainda espetacular nesta obra são as noções da neurociência,
como neurônio-espelho, e as substâncias químicas indutoras e seus
efeitos no cérebro, como a dopamina, a testosterona e a serotonina.
Esse saber é de singular importância na arte de liderar, por
exemplo. E na área do autoconhecimento de forma inigualável.
O livro apresenta guias práticos, muito simples de serem
absorvidos. Por exemplo, quando Ana traça quadros relacionais
entre pessoas com baixa inteligência relacional versus com alta
inteligência relacional. Ao ler essa passagem, será impossível você
não identificar amigos, pessoas, colegas, com notas distintas dentro
desses quadros, acima disso, irá se enxergar ali também.
A arte da vida será sempre a arte das escolhas, e precisamos
gostar, amar o fundamento de aprender a aprender. Seres que vão
ao futuro são aqueles que aprendem a aprender em altíssima
velocidade. No meu último livro: “Guerreiros não nascem prontos”,
trato intensamente desse fundamento, e nos meus estudos,
amparado também por pensadores eternos como Victor Frankl,
criador da logoterapia, aprendemos que nos transformamos na
qualidade dos seres humanos, os quais, admiramos e que recebe a
nossa autoridade para nos influenciar.
Sem dúvida, ao estudarmos a vida de todas as pessoas as quais
consideramos admiráveis, iremos ver ali um talento superante
essencial: competência de saber ser amado, ser amável. Esse dom
acessa poderosamente a arte das artes, a Inteligência Relacional.
Ana, continua nesta obra, preocupada em oferecer meios
pragmáticos para os leitores assimilarem esses saberes. Então criou
seis passos para esta prática: CLASSE - Consciência, Liberdade,
Atração, Segurança, Sabedoria e Empatia.
Adorei a fórmula C.L.A.S.S.E, até porque a polidez costuma ser
a primeira de todas as virtudes. Ana registra a expressão de “Coco
Chanel: não é a aparência, é a essência. Não é o dinheiro é a
educação. Não é a roupa é a classe”.De novo, nestes capítulos, dicas simples operacionais e
essenciais estão à disposição do leitor, desde saber dizer bom dia,
boa tarde, boa noite, muito obrigado e por favor; até aspectos
evolutivos do auto conhecimento profundo de cada um de nós.
Adorei quando Ana trata também dos vampiros emocionais. Se, sem
dúvida, a arte relacional é segredo importantíssimo numa carreira e
na vida, saber colocar os vampiros emocionais fora da possibilidade
parasitária ou predadora da nossa vida, é, da mesma forma,
excelente opção. No capítulo da empatia, Ana também nos ajuda na
relação de casais e nos relembra a Gestalt terapia, a realidade do
aqui e agora. A importância da individualidade, e de que relações
saudáveis são complementares.
Perguntaram-me sobre isso um dia, e criei uma figura de
imagem assim: “um casal que se ama é como duas linhas paralelas,
que se encontrarão um dia, no infinito”. Quero dizer, são indivíduos,
paralelos, mas não se colam, destinos próprios, paralelos, mas cada
um, cada um....e um dia, nos encontramos no infinito, assim como
todas as linhas paralelas.
Amor e sexo estão aqui também e nas conclusões à
convergência de toda a proposta da autora Ana Artigas: “ bons
relacionamentos nos mantêm felizes e saudáveis”.
Os vampiros emocionais são comparados aos nossos anjos. As
relações tóxicas versus as saudáveis, e, ao término, estamos
abertos para continuar a exploração dessa inteligência relacional.
“Cada um de nós faz o seu hoje, consequentemente o seu amanhã,
e juntos fazemos os nossos – os amanhãs que queremos.” Assim:
Ana encerra. E ao ter o privilégio de ter acesso a este livro, e ao
prefaciá-lo, só posso acrescentar mais uma vez :
Muito obrigado Ana, já incorporei novos saberes e
procedimentos de imensa utilidade na minha vida com este livro.
Afinal, aprender a aprender é tudo, e, escolher com quem devemos
aprender a ignição positiva de todo esse processo. Escolho você
Ana, pois um dia você me escolheu. Não somos mais os mesmos,
eu sei, a lei de causa e efeito continua sendo uma lei da mais plena
sabedoria. Sua obra, a inteligência relacional, agrega um valor
evolutivo humano de inestimável valor. Seus leitores todos ganham
agora um imenso presente. Este livro, neste presente, aqui e agora.
Gratidão ao momento presente.
Boa leitura.
José Luiz Tejon
Autor e coautor de 33 livros e o Último best seller – “Guerreiros
não nascem prontos”. Mestre em Arte e Cultura pela Universidade
Mackenzie, doutorando em Ciências da Educação com a tese: “A
pedagogia da superação”. Professor de Pós-graduação na França e
ESPM, palestrante Top of Mind – Prêmio Estadão RH.
Introdução
Como tudo na vida começa com uma estória, e somos exímios
em contá-las por trazerem conteúdos originais, inesquecíveis e
muitas vezes emocionantes, vou contar uma fase importante da
minha infância para vocês.
Sou filha de militar, e, como é natural nesta carreira, as
mudanças de patente nas forças militares envolvem a troca de
quartéis e cidades. Da quinta série à conclusão do ensino médio,
passei por três grandes mudanças.
A primeira delas certamente foi a mais traumática. Tinha
estudado da pré-escola ao quinto ano no mesmo colégio de freiras,
com a mesma turminha de meninas, já que nesta época os meninos
eram “proibidos” de entrar na escola. Só nos assistiam do lado de
fora do muro pelas brechas dos portões que davam vista ao grande
pátio.
Conhecia as meninas da sala desde muito pequenas, e
consequentemente seus irmãos e pais, como se fôssemos todos
uma única e grande família.
Embora as freiras fossem bem duronas, também eram parte
integrante da nossa vida e aprendemos a respeitá-las como
ninguém. Irmã Giselda era a diretora, a mais temida e com quem
precisávamos “conversar” sempre que aprontávamos alguma coisa.
Não tenha dúvida de que eu era chamada semanalmente a sua
sala.
Com suas sobrancelhas grossas encrustadas em seu rosto fino e
branquelo, ela dizia: “Dona Bijú (este era meu carinhoso apelido de
infância), você por aqui de novo”?
Nunca entendi como não fui expulsa; acho que minhas bagunças
eram razoáveis, e tenho a impressão de que o fato da minha avó ter
sido professora e minha mãe e tias terem estudado no mesmo
colégio por anos, amenizava a repreensão.
Assim cresci. Apesar das broncas, protegida e cercada de
cuidados.
Ainda na primeira série perdi minha irmã. Eu tinha seis anos, e
ela quase oito, quando faleceu. Foram poucos meses da descoberta
ao dia fatídico da sua morte, mas um sofrimento extremo para toda
família, já que o câncer tomou conta de seu cérebro rapidamente.
Logo depois que a perdemos, tia Sandra – naquela época era
permitido chamar a professora de tia – ministrava algumas aulas
comigo no colo, pois de uma hora para outra eu começava a chorar.
Como sempre fui muito pequena, ela conseguia dar a aula e andar
comigo no colo, pela sala.
Imagine então a minha reação quando meus pais me contaram
que nós iríamos mudar de cidade.
Como assim?
Aquele colégio era a minha vida. Tinha ali minhas melhores
amigas, meu suporte, minhas tias queridas e as broncas da madre
superiora!
Como poderia viver sem aquilo? Além de tudo, eu era a
bagunceira da escola. A representante de turma que inventava e
contava longas estórias sobre o fantasma do bebê que morava no
porão do teatro, já que lá tinha sido enterrado. Sobre a esfirra de
carne que eu jurava que vinha com tatu de nariz. Quase quebrei a
cantina, e a madre superiora quase me quebrou também.
Ter que deixar tudo isso? Meu mundo caiu. De novo, eu chorava
em desespero. Mais uma grande perda!
Meus pais foram firmes. É assim e pronto. Esse era o trabalho
do meu pai, o sustento da casa e não podíamos viver sem isso. Ele
tinha que assumir o comando do corpo de bombeiros em uma
cidade do interior. Então, lá fomos nós morar em Paranaguá, um
município localizado no litoral do estado do Paraná.
Quando pensava em reclamar, meu pai me dizia: “Ana, você tem
certeza de que isso é realmente um problema? Você se lembra da
doença da sua irmã e da perda que tivemos? Pois bem, essas
pessoas vão continuar aqui e você vai poder vê-las de novo sempre
que quiser. Então, isso não é um problema. Mudanças e adaptações
fazem parte da vida.”
No começo, tive bastante dificuldade para digerir a mudança.
Para mim, era sim um problema e daqueles enormes, bem maior do
que eu, a pequena Bijú, conseguia aguentar. Aliás, esse apelido fora
dado pela minha professora da pré-escola porque eu era muito
pequena, a menor da turma, então, ela me chamava de Bijuzinha, e
o apelido pegou.
Lá fomos nós. Cidade nova, casa nova, colégio novo, amigos
novos. Sim, e dessa vez havia meninos na minha nova escola.
Mil perguntas rondavam a minha cabeça. Como seria a nova
escola? Será que as pessoas seriam legais? Com quem será que
eu teria que conversar quando fosse mandada para a diretoria?
Porque eu sabia que mais cedo ou mais tarde eu certamente iria.
Enfim, tive que enfrentar os primeiros desafios de como fazer
novos relacionamentos e conquistar as pessoas. Eu já não lembrava
como tinha feito os meus. Eles tinham crescido comigo. Eu tinha os
amigos na escola e os que brincavam comigo na rua de casa, e eles
eram o máximo!
Na minha cabeça, isso não precisava mudar, eu sentia como se
conhecesse o mundo todo, mas ele chegou. O primeiro dia de aula!
Não conhecia absolutamente ninguém. Aquelas pessoas eram
estranhas e tinham um sotaque diferente, falavam meio cantadinho,
às vezes eu nem conseguia entender o que diziam.
Os meninos faziam mais bagunça do que eu nos tempos áureos.
Essa foi a parte mais divertida, e eles até que eram bem bonitinhos.
Tive que começar a criar mecanismos para me aproximar,
conhecer as pessoas e fazer amigos. Foi neste momento, com 11
anos de idade, que comecei a entender a importância dos
relacionamentos e que não somos absolutamente nada sem eles.
São a base da nossa sobrevivência em qualquer situação.
Conhecer pessoas seria a minha felicidade ou o meu fracasso
naquele novo lugar. Nos primeiros dias de aula, quando chamavam
meu nome, mesmo que fosse pararesponder à chamada, eu ficava
roxa de vergonha. Não conhecia ninguém e nunca tinha estudado
com meninos.
A duras penas, descobri que saber tratar bem as pessoas e fazer
amigos são o maior dilema que um indivíduo precisa encarar,
principalmente quando chega a um lugar completamente novo.
Poucos meses depois já fazíamos festinhas de garagem todos
os fins de semana. Os meninos levavam refrigerantes e, as
meninas, doce ou salgado. Às vezes, um pacote de chips resolvia.
Aquilo tudo começou a ficar bem divertido e conheci muita gente
legal.
Como na vida nem tudo são flores, meu pai recebeu uma
promoção para assumir o comando em uma cidade maior.
Promoção!
Só na cabeça deles. Para mim, era uma completa desgraça.
Para piorar um pouco mais, a mudança aconteceu no meio do
ano. Os colégios tinham métodos de estudo e matérias diferentes.
Como minhas notas já não estavam aquela maravilha, juntando com
o desafio da mudança, fui para uma quase reprovação. Fiquei de
recuperação em quase todas as matérias.
Meu mundo caiu de novo. Cidade nova, colégio novo, outro
método de ensino e muita gente me observando de canto de olho.
Mudei no meio da oitava série, hoje seria o nono ano. Eu estava
com 14 anos, no auge da adolescência. Além de todos os receios
comuns dessa fase, na qual existe uma imensa necessidade de
sermos aceitos, eu precisava ganhar meu espaço e os grupos já
pareciam formados.
Reconheço que foi preciso muito esforço, observação,
esperteza, análise dos estilos de cada um, até que eu entendesse
como deveria me aproximar das pessoas para conquistar novos
amigos, fazer parte dos times e ser convidada para as festinhas nos
fins de semana.
Uma pena que naquela época não existisse um livro como este.
Seria de um valor inestimável para mim, porque eu realmente tive
que aprender sozinha, por ensaio e erro.
A vida me ensinou muito com essas mudanças. Acabei me
apaixonando por Londrina e foi maravilhoso curtir minha
adolescência em uma cidade que, com o tempo, me acolheu de
forma realmente calorosa. Tive certeza de que podemos nos dar
muito bem ou muito mal dependendo de como fazemos nossas
escolhas, com quem andamos e com quem nos relacionamos.
Compreendi que precisava entender as pessoas e lidar com elas.
Comecei a estudar melhor os conflitos com os quais me deparei
e sempre me questionava:
“Que erros cometi?”
“O que fiz estava correto? Deveria ter agido de outra forma?”
“Que lições posso tirar dessa experiência?”
Foi aí que eu realmente comecei a entender a importância dos
relacionamentos e o impacto que eles causam na vida das pessoas,
porém, só mais tarde a eles batizei de Inteligência Relacional.
Muitas coisas aconteceram depois dessa fase; voltei a morar em
Curitiba para fazer faculdade, me formei em psicologia, casei e tive
duas filhas.
Depois, eu mesma cavei algumas grandes mudanças, quando as
meninas estavam maiores, em que ficamos quase dois anos
morando no exterior. Vou contar melhor essa história no decorrer do
livro.
Hoje sou alucinada por mudanças e desafios, e eles se tornaram
absolutamente necessários para a minha vida.
O que quero registrar aqui é que apesar dessas vivências e da
bagagem de mais de 25 anos como psicóloga, coach e consultora
de executivos, conversei e troquei experiências com muitas pessoas
para conseguir escrever este livro.
Aliás, este livro não foi escrito, ele cresceu como uma criança,
através da observação e do relacionamento com milhares de
pessoas.
Demorei mais do que eu imaginava para escrevê-lo e continuo
achando pesquisas, casos e histórias que ainda precisam ser
contadas, mas se continuasse buscando-as jamais conseguiria
editá-lo, porque os relacionamentos são dinâmicos, constantes e
eternos.
Passei muito tempo observando os modelos de relacionamento à
minha volta e, sempre que tinha oportunidade, conversava com as
pessoas sobre seus sucessos e conflitos.
Fiz uma extensa pesquisa no Brasil e nos EUA. Perguntava e
observava como as pessoas se relacionavam nas empresas, nos
eventos, nos jantares com a família, nas confraternizações, nas
longas conversas com amigos mais próximos, nos breves encontros
nas poltronas de avião, no salão de beleza ou em qualquer situação
que tivesse um pouco de abertura para perguntar e escutar as
pessoas. Notei como elas têm necessidade e gostam de falar sobre
suas relações pessoais.
Essa experiência me deu a certeza de que todos nós precisamos
de ajuda para compreendermos uns aos outros. Comecei a
entender o que as pessoas buscam, o que valorizam em um
relacionamento e a importância e o impacto que isso tem na vida de
cada um de nós.
É muito claro perceber que todas as pessoas têm
relacionamentos fáceis e prazerosos em suas vidas e outros bem
difíceis, e que algumas pessoas são transitórias em nossa vida, no
trabalho ou na vida social e terão um contato superficial conosco.
Certamente sofreremos menos influência delas, e fica mais fácil
administrar as energias ruins ou até mesmo evitá-las.
O problema é quando as pessoas têm um forte vínculo afetivo
conosco e convivem com a gente diariamente. Essas realmente
causam impacto na nossa vida, como filhos, pais, irmãos, amigos,
pares/cônjuges, líderes, colegas de trabalho, clientes e
fornecedores.
Neste livro vou falar sobre como tomar alguns cuidados, fazer
melhores escolhas, aprender a nos blindar de algumas armadilhas e
principalmente nos voltarmos para nós mesmos e entendermos que,
muitas vezes, inconscientemente, nós também sabotamos os
nossos relacionamentos, ou pior, a nossa felicidade. Muitas vezes
precisamos recuar um pouco para enxergar o nosso papel na
relação.
Também vou falar sobre o que geralmente funciona e o que não
funciona em um relacionamento e o que as pessoas gostam de
receber e como querem ser tratadas.
Vou compartilhar histórias e experiências pessoais com vocês.
Situações nas quais tive que me afastar de pessoas que amava
para me reorganizar, me reconstruir e voltar melhor e mais
fortalecida para as minhas relações.
Navego para a segunda grande e motivadora história, também
baseada em histórias reais. Trata-se da pesquisa mais longa já feita
sobre a vida adulta. Imagine se pudéssemos assistir às pessoas
desde sua adolescência até a velhice para ver o que realmente as
mantêm felizes e saudáveis enquanto vivem.
Pois é, fantasticamente alguns pesquisadores engajados fizeram
isso. Desde 1938, acompanham a vida de dois grupos de homens.
O primeiro pesquisador começou o estudo quando estava no
segundo ano da Universidade de Harvard. Pesquisou um grupo de
jovens que fez faculdade durante a Segunda Guerra Mundial, e a
maioria serviu durante a guerra. O segundo grupo que foi
acompanhado era de garotos dos bairros mais pobres de Boston,
que foram escolhidos para o estudo especialmente porque eram as
famílias mais problemáticas e desfavorecidas na Boston da década
de 30.
Robert Waldinger é hoje o diretor desse projeto, intitulado
Harvard Study of Adult Development1. Ele é psiquiatra, psicanalista
e sacerdote zen, além de ser o professor clínico de psiquiatria na
Harvard Medical School. Durante 75 anos, os pesquisadores
acompanham as vidas de 724 homens, ano após ano, perguntando
sobre seus trabalhos, vida doméstica, saúde e agora seguem com
os filhos, para entender como a experiência da infância pôde afetar
a saúde e o bem-estar na meia-idade.
Estudos assim são extremamente raros. Quase todos os projetos
desse tipo se encerram dentro de uma década porque as pessoas
os abandonam, ou o dinheiro para a pesquisa acaba, ou os
pesquisadores morrem e ninguém mais dá continuidade.
O estudo tem por princípio entender o que torna as pessoas
realmente felizes até o final de suas vidas. Muitas pessoas
acreditam que o dinheiro e a fama são os fatores mais importantes
para termos uma vida boa. Como resultado, gastam seu tempo
precioso priorizando coisas e ignorando seus relacionamentos.
Isso prova que precisamos de uma melhor compreensão do que
“vida boa” parece ser. Quase tudo que sabemos sobre a vida
humana descobrimos ao perguntar para as pessoas do queelas se
lembram do passado, mas as retrospectivas nem sempre são
apuradas. Esquecemos a maior parte do que nos acontece na vida,
e às vezes a memória é criativa, assim imaginamos uma parte do
que pensamos que lembramos.
Aproximadamente 60 dos 724 homens que participaram dos
estudos ainda estão vivos, a maioria deles na casa dos 90 anos.
Tornaram-se operários, advogados, pedreiros e médicos. Um deles
tornou-se presidente dos Estados Unidos, alguns desenvolveram
alcoolismo, uns poucos sofreram de esquizofrenia. Alguns
ascenderam socialmente do fundo até o topo e outros fizeram a
jornada na direção oposta. Os fundadores desse estudo, nem nos
seus sonhos mais loucos imaginariam que depois de 75 anos ainda
estaríamos aqui, contando que ele continua. A cada dois anos, a
equipe dedicada contata seus voluntários para saber se podem
enviar-lhes mais um bocado de perguntas sobre suas vidas.
Além das perguntas, eles também os entrevistam em suas salas
de estar. Pegam informações com seus médicos, tiram sangue,
escaneiam seus cérebros, falam com seus filhos e filmam conversas
com suas esposas sobre suas maiores preocupações. Afinal, o que
aprenderam até agora? Quais são as lições extraídas das dezenas
de milhares de páginas de informação geradas sobre essas vidas?
As lições não são sobre riqueza, fama ou trabalho em excesso.
A mensagem mais clara que tiramos desse estudo de 75 anos é
esta:
Bons relacionamentos nos mantêm mais felizes e saudáveis.
Ponto final.
Aprendi três grandes lições sobre relacionamentos neste estudo
e você poderá saber quais são no final deste livro.
Quero agradecer desde já a todas as pessoas que convivem e
conviveram comigo e que certamente me deram excelentes
contribuições. Se você teve algum contato ou já conversou comigo
em alguma situação, tenha certeza de que contribuiu para este livro
existir. Suas histórias, com todo o cuidado ético e de privacidade,
ajudaram a iluminar esta obra, e se está tendo um primeiro contato
comigo, agora, tenha certeza de que suas estórias poderão ser
retratadas nos próximos livros.
Torna-se absolutamente necessário avaliarmos a relevância dos
relacionamentos na nossa vida e a forma como aceitamos e
influenciamos as pessoas.
Vale lembrar que um dos maiores best-sellers no assunto, o livro
de Dale Carnegie, intitulado Como fazer amigos e influenciar
pessoas, foi escrito em 1930, e que o autor faleceu em 1955. Ele foi
um mestre no assunto, mas não é possível que não tenha nada
novo depois de todos esses anos, principalmente com a invenção
da internet. Sabemos que a forma de se relacionar mudou
completamente. Ele não tinha site, nem nunca navegou pelas
mídias sociais. Hoje acontecem coisas que Dale Carnegie se
contorceria no caixão caso soubesse.
Não é à toa que as mídias e redes sociais como Twitter,
Facebook, Linkedin, Periscope, Snapchat, WhatsApp, Viber e outras
ferramentas conhecidas no mercado fazem tanto sucesso e tornam-
se febre em tão pouco tempo. Porque ninguém vive sem
informações sobre os outros. Temos necessidade de saber como as
pessoas são, como vivem, como aprendem, como superam
obstáculos e dificuldades.
Além disso, nossa atual geração tem sede por informação. Feliz
ou infelizmente, não sabemos mais viver sem isso, e acaba sendo
confortador quando identificamos problemas parecidos com os
nossos; é como se imediatamente nosso coração nos dissesse:
“Calma, isso não acontece só com você!”
Se de fato fomos programados a nos conectar, precisamos
desenvolver e aprimorar a nossa INTELIGÊNCIA RELACIONAL.
Nossos gestos e comportamentos podem ser melhorados a cada
dia para que possamos desenvolver mais aptidão e talento na forma
como tratamos as pessoas. Através desse conceito, você vai
aprender a gerenciar seus relacionamentos e entender os caminhos
que podem torná-lo uma pessoa mais inteligente no convívio social,
entendendo melhor como lidar com as pessoas, respeitando as
diferenças e levando-as a pensar como você, persuadindo-as de
forma mais natural e positiva.
Claro que alguns parecem ter mais facilidade e talento para se
relacionar do que outros. Mas o que importa aqui é que essas
aptidões podem desabrochar como botões de talentos, e quanto
mais cedo iniciamos essa prática mais fácil e rápido será para
obtermos sucesso nas nossas relações, pois o conhecimento e a
inteligência são aprendidos e podemos treinar para nos tornarmos
experts nessa área.
A relação entre as pessoas, apesar de prazerosa, é complicada
e um dos assuntos mais comentados no nosso dia a dia. Em
qualquer lugar que frequentamos, as pessoas estão sempre falando
bem ou mal umas das outras, seja nas empresas, nos clubes, nos
cabeleireiros, nos condomínios ou em qualquer outro lugar que você
tenha por hábito frequentar.
Sabemos que as relações que temos com as pessoas nos
impulsionam ou nos destroem. Elas podem nos dar energia e nos
incentivar para o sucesso ou podem nos conduzir à derrota e à
falência emocional, independentemente de ser através de uma
análise de desempenho ou de um bate-papo informal.
O que já sabemos há muito tempo é que 15% do sucesso das
pessoas são devidos ao seu conhecimento profissional, os outros
85% são atribuídos à competência e habilidade de se relacionar.
Isso explica por que precisamos nos relacionar bem com os
outros.
Importante lembrar que as nossas relações não se limitam a
pares românticos, mas a chefe e subordinado, relações de trabalho,
vizinhos, familiares, amigos, professor-aluno ou qualquer outro tipo
de convivência envolvendo pessoas e grupos.
Qual é o propósito dos relacionamentos?
O que ganhamos se aprendermos a nos relacionar de
forma inteligente?
Por que algumas pessoas se “afinam” mais conosco do
que outras? O que existe em cada um de nós que facilita
ou dificulta o convívio?
Envolver mais de um ser humano gera a possibilidade de
grandes emoções. Isso que você verá neste livro, a razão pura dos
relacionamentos. É preciso entender a forma como as pessoas
agem, pensam, decidem, lideram ou se relacionam.
Cada um traz consigo seu estilo, personalidade, perfil, cultura,
vivências e valores próprios, e por isso é tão importante conviver, ou
melhor, viver com outros, para aprendermos com essas diferenças e
com as possíveis trocas que podem acontecer.
Não tenho a intenção de ser a última palavra sobre o assunto,
tampouco a pioneira, é apenas uma aspiração que deve contribuir
de forma evolucionista nos resultados que cada um de vocês pode
obter nos negócios, na forma de aprender e educar, na maneira
como lideram, nas relações com a família, com as pessoas que
convivem e trabalham, enfim, aprimorar as suas relações com as
pessoas, com as suas coisas, com o mundo.
No decorrer dessa história, você certamente se identificará com
alguns exemplos e poderá entender melhor o que acontece em
essência no coração das pessoas, mesmo aquelas que lhe parecem
bizarras ou completamente diferentes de você.
Espero que você se divirta e aprenda a tirar o melhor proveito
das suas relações, de uma forma saudável e positiva.
Você também verá que existem recursos dentro de si, que
muitas vezes deixa de usar. Você pode ser mais otimista quando
está interagindo com as pessoas, e assim vai atrair coisas boas
para si e para os outros.
A inteligência relacional, que também gosto de titular de
educação social, é a habilidade de sabermos enfrentar as situações
do nosso dia a dia, dos encontros e desencontros com as pessoas e
com a vida.
Divirta-se, mande e-mail, mensagem via site ou Facebook e faça
suas sugestões, pois quero contar com você para o próximo livro.
De uma forma ou de outra, quero agradecer por já fazer parte
dos meus relacionamentos e da minha vida.
Afinal, a chance de sermos realmente felizes vem do modo
inteligente pelo qual podemos nos relacionar.
Ana Artigas
1. Estudo dirigido atualmente por Robert Waldinger, intitulado Harvard Study of Adult
Development na Harvard Medical School. Durante 75 anos, os pesquisadores
acompanham as vidas de 724 homens. Fonte: https://goo.gl/dO0bbL Endereço do vídeo do
TED: https://goo.gl/glPTXLCapítulo 1
O que é e de onde vem a
inteligência?
Você já parou para pensar na quantidade de informações que
recebe todos os dias?
Como será que a nossa mente processa essas informações para
que não aconteça um congestionamento de pensamentos,
mensagens, ideias e imagens?
O cérebro precisa de muito vigor para registrar com o mesmo
entusiasmo tanta informação. Mas temos a nosso favor a memória,
e, para nos ajudar ainda mais, ela é seletiva e auxilia a nossa mente
a filtrar o que mais nos interessa. O restante das informações a
gente não descarta, mas joga em alguma “pasta” que fica guardada
no fundo da nossa cabeça.
A memória seletiva protege a nossa mente contra esse turbilhão
de informações vindo da internet, do smartphone, da televisão, do
rádio, do que lemos: seja em cartazes, livros, outdoors, além das
informações que captamos com as pessoas com quem
conversamos todos os dias e que nos ensinam muito.
Na introdução deste livro você deve ter lido como as conversas
que tive com as pessoas foram enriquecedoras para que essa obra
existisse. Apesar do conhecimento, das pesquisas que realizei, dos
livros que li e da base conceitual que construí no decorrer desses
anos, os relacionamentos diários com as pessoas foram de uma
contribuição inigualável. Aliás, gostar de conversar é uma
característica comum nas pessoas relacionais e que gostam de
estar entre outras. Inclusive atribuo a essa habilidade de fazer e
manter relacionamentos, extraindo o melhor das pessoas, uma das
principais ações para que eu pudesse escrever este livro.
As nossas habilidades e inteligências são construídas de várias
maneiras. São milhares de correlações e influências, que veremos
adiante, mas antes de entendermos mais sobre Inteligência
Relacional, precisamos entender o que é Inteligência e como
fazemos para processar de forma adequada as informações que
recebemos no nosso dia a dia.
Durante quase 250 mil anos na Terra, o ser humano foi
dominado pelo pensamento mitológico e suas lendas. Há 2.500
anos surgiram a Filosofia e a razão, que conduzem à indução ou
dedução de algo e que tentam buscar essa resposta, abrindo
caminho para algo além dos mitos e crenças.
Há muitos anos – e por que não dizer séculos – diferentes
autores e filósofos tentaram definir e conceituar Inteligência. Os
primeiros filósofos da Grécia antiga procuraram respostas sobre
questões como consciência, mente, corpo e como estruturar a
sociedade, a política, as regras e o “viver bem”. De lá para cá,
tivemos muitos avanços e vale entender um pouco dessa evolução.
Vamos começar por Sócrates, conceituado filósofo. Ele
acreditava que a inteligência estava ligada puramente ao raciocínio
abstrato – linguagem e matemática. Considerava que as
inteligências eram diferentes e inerentes a cada pessoa, que cada
um nasce com habilidades inatas, ou seja, com uma predisposição
para determinado aprendizado.
Platão e Aristóteles entenderam a inteligência como uma
habilidade voltada para a lógica, para a geometria e a
argumentação. Os filósofos buscaram pessoas sábias e testaram
seus conhecimentos com o objetivo de identificar a inteligência
nestas pessoas, como se as outras não a tivessem.
Descartes, em torno do ano de 1600 d.C., em suas reflexões,
propôs a separação entre o corpo e a mente, dizendo que o corpo,
sendo material, poderia ser estudado, enquanto a mente, por ter
origem divina, somente poderia ser conhecida e tratada a partir do
processo introspectivo2.
Locke argumentou que não nascemos com conhecimentos, mas
que os adquirimos por meio de nossas experiências com o mundo e
por meio de nossa capacidade de refletir sobre o que nos acontece
e sobre o que vivenciamos. Como materialista, ele afirmava que a
mente poderia ser estudada também, mas, naquela época, por falta
de recursos, não sabiam exatamente como fazê-lo. Lembre-se de
que naquele período não havia exames capazes de “ler” o cérebro
como: ultrassonografia, ressonância magnética, entre outros.
Donders, Helmholtz e Broca foram grandes estudiosos da
fisiologia cerebral, que descobrindo e aprimorando o estudo da
transmissão neuronal, conexão entre os neurônios (lembrando que
neurônios são as células do nosso cérebro). Estudaram a
velocidade do impulso nervoso e algumas interessantes
interligações dentro de suas capacidades de observação. Durante
os tempos de guerra, estudaram as pessoas com graves sequelas e
acidentes cerebrais e fizeram, a partir daí, belíssimas descobertas.
Paul Broca, médico francês, revolucionou a ciência com a
descoberta da localização do centro da fala no cérebro, intitulada e
conhecida como área de Broca. No próximo capítulo, você verá
ilustrações de onde fica essa área no cérebro humano.
Renomados autores, filósofos, médicos, fisiologistas e
neurologistas exploraram a natureza material do corpo e
descobriram que havia relações entre os sentidos humanos e o
sistema nervoso, ou seja, correlação entre o cérebro e as
habilidades humanas. Vamos falar um pouco sobre essas
descobertas.
Em 1859, o cientista Charles Darwin causou um poderoso
impacto sobre o estudo da inteligência com a sua Teoria da
Evolução. Essa teoria fez surgir a estimulante possibilidade de a
mente humana ter evoluído a partir de mentes mais primitivas.
Darwin apresentou semelhanças no funcionamento mental dos
homens e dos animais e fez cair por terra a separação entre animais
e homens proposta dois séculos antes por Descartes.
Com Darwin, o estudo do comportamento animal passou a ser
considerado vital para a compreensão do comportamento humano.
A teoria evolutiva provocou também uma mudança no objeto de
estudo e no objetivo da psicologia. A obra de Darwin inspirou o
debate que perdura até hoje: até que ponto a inteligência é advinda
de herança genética ou poderia ser modificada pelas
circunstâncias?
A partir desses questionamentos temos a defesa e a
discordância de filósofos, psicólogos, médicos, cientistas e
estudiosos.
Antes de debatermos de onde advém a inteligência, a pergunta é
ainda mais básica: de onde viemos?
Desde os tempos mais remotos indagamos sobre a origem dos
seres vivos, incluindo a nós mesmos, e durante todo esse tempo
sempre tivemos “respostas” na forma de fantasias, estórias
fantásticas, mitológicas e recheadas de alegorias que foram
transmitidas de geração em geração.
Com o surgimento da filosofia e da razão tentou-se buscar
respostas, mas essa “era de lucidez” racional foi por anos
obscurecida pelas sombras da Idade Média e seus dogmas de fé
baseados na antiga mitologia judaico-cristã.
No Oriente Médio, boa parte dessa cultura racional sobreviveu
disputando lugar com a crença na mitologia islâmica, e no Extremo
Oriente, desde vinte e cinco séculos atrás, outro tipo de filosofia,
mais mística, se espalhava, baseada no Hinduísmo, Taoísmo e
Budismo.
Só há pouco mais de duzentos e cinquenta anos outra área do
potencial humano amadureceu e se consolidou: a ciência.
A ciência nada mais é que a fusão da razão com a
experimentação. Pensar, experimentar e alcançar o conhecimento
prático de processos. É tão eficiente que seus resultados e materiais
em menos de meio século foram muito mais marcantes do que as
dezenas de milhares de anos de misticismo e magia.
A ciência pode não ter algumas respostas para nossas
indagações interiores, e com certeza não tem a chave da felicidade,
mas ninguém pode negar que ela é muito eficaz em entender,
explicar e controlar a natureza.
A ciência também nos deu sua resposta para a grande pergunta
sobre a origem da vida: a Teoria da Evolução.
Não é de se admirar que essa explicação só tenha surgido há
tão pouco tempo. Primeiro, porque não se mudam rapidamente
centenas de milhares de anos de pensamento mitológico e, depois,
porque essa questão realmente não é fácil de ser respondida, tanto
por ter acontecido há muitos anos e por ninguém a ter presenciado.
As primeiras descobertas trouxeram um forte quadro de
resistência. O processo de elaboração de pensamento foi tomando
corpo aos poucos, já que o evolucionismo apresenta uma resposta
diferente daquelareferência que dominou toda a Idade Média, a
Bíblia. A Ciência teve dificuldades para se estabelecer, enfrentando
toda estrutura de repressão religiosa que até hoje não foi totalmente
vencida.
Afinal, como enfrentar o Mito da Criação? Algo do qual depende
boa parte de toda a teologia cristã e suas diretrizes de
comportamento. Até hoje é questionável, compreensível e
complicado.
Continua o trabalho árduo de vários pesquisadores, cientistas e
filósofos, e encontramos respostas e evoluções na forma de se
“pensar”, embora a teoria da evolução pareça ser a mais precisa
explicação para a origem da vida.
Enfim, o que são a Teoria da Evolução e o Evolucionismo3?
O Evolucionismo não é produto de uma só pessoa, é o resultado
inevitável de um processo de evolução científica. A Ciência lida com
fatos explicáveis e controláveis, previsíveis e reproduzíveis. Só pode
aceitar explicações que se baseiem em fenômenos comprovados e
observáveis na natureza.
Ninguém jamais viu algo surgir do nada, ou uma transformação
tão radical quanto um organismo complexo como o humano surgir
do barro. Isso não existe na natureza. Portanto, a explicação
religiosa criacionista é inaceitável, no pensamento científico, mas
completamente aceitável na crença e no coração dos fiéis e devotos
a Cristo, o que precisa ser respeitado.
A natureza e os seres humanos, lenta e progressivamente,
nascem, crescem, e se desenvolvem até atingir a maturidade, e
morrerem. Uma pequena semente se torna uma imensa árvore
enquanto um aglomerado de células menores que a cabeça de um
alfinete pode se tornar um grande animal.
Sendo assim, a evolução está em tudo o que existe. É antes de
tudo uma transformação, uma mudança lenta e gradual, desde o
mundo físico até os processos sociais.
Nada acontece sem ser resultado de estágios progressivos de
evolução e é justamente aí que a Teoria da Evolução se torna base
da Inteligência Relacional, já que o ser humano só se desenvolve
através do contato com os outros. Isso veremos com mais detalhe
nos próximos capítulos.
Continuando no caminho da evolução, Darwin abriu campo para
Galton, seu primo.
Francis Galton, matemático, estatístico e antropólogo, defendia a
herança da inteligência e seus aspectos eugênicos4. Galton
acreditava que a raça humana poderia ser melhorada caso fossem
evitados “cruzamentos indesejáveis”. O objetivo de Galton era
incentivar o nascimento de indivíduos mais notáveis ou mais aptos
para a sociedade e desencorajava o nascimento dos inaptos.
Propôs o desenvolvimento de testes de inteligência para selecionar
homens e mulheres brilhantes, destinados à reprodução seletiva.
Os estudos e conclusões de Galton influenciaram fortemente a
criação de métodos estatísticos. Foi ele quem deu origem ao
conceito de testes de inteligência, elaborando a aplicação de testes
em relação às habilidades motoras e à capacidade sensorial dos
indivíduos. Estudou a diversidade e o tempo necessário para a
produção de associações de ideias, complementações riquíssimas
para a psicologia e para o processo de estudo das habilidades
cognitivas (conhecimento).
Dando continuidade a esse estudo, entre os séculos XIX e XX,
um renomado estudioso francês teve grande impacto no
desenvolvimento e avaliação das Inteligências: Jean Piaget (1896-
1980). Sua abordagem é construtivista, uma corrente teórica que
procura explicar como a inteligência humana se desenvolve. Parte
do pressuposto de que a inteligência é determinada pela ação
mútua entre o indivíduo e o meio, ou seja, defende que o homem
não nasce inteligente, mas também não fica passivo sob a influência
do meio. Ele interage com o meio e por isso aprende e responde
aos estímulos do meio ambiente e do meio social. Assim, constrói e
organiza o seu próprio conhecimento através do contato com as
pessoas com quem interage. Para isso, utiliza-se de um mecanismo
autorregulatório que tem como base suas condições biológicas
(inatas) ativadas pela interação do organismo com o meio ambiente.
O estudo de Piaget foi o verdadeiro motor do desenvolvimento e
do progresso intelectual humano.
A partir dessa evolução histórica, acreditou-se durante boa parte
do século XIX e XX que a Inteligência podia ser mensurada e
comparada por meio de testes que estabeleciam numericamente o
QI – Quociente de Inteligência. Isto é, media-se o grau de
inteligência de uma pessoa a partir das suas competências
numéricas, lógicas e racionais.
Assim, deve-se destacar a imensa contribuição do psicólogo
francês Alfred Binet e seus sucessores, que observaram e
estudaram a inteligência com o objetivo de medi-la por meio de
testes. Pouco depois, o alemão Wilhem Stern criou um sistema de
pontuação padrão para medir o teste e lhe deu o nome de
Intelligenz-Quotient, conhecidos como Avaliação do QI5.
O fascínio de Binet pelo estudo da inteligência humana foi
despertado com o desenvolvimento de suas filhas. Percebeu que a
facilidade com que elas aprendiam e absorviam as informações
variava de acordo com a quantidade de atenção que depositavam
no assunto, o que reforça a seletividade da memória e como
registramos as informações conforme o nosso nível de interesse em
cada processo.
Binet descobriu o teste de Francis Galton e resolveu realizar uma
profunda pesquisa para avaliar as diferenças das habilidades em
profissionais como matemáticos, escritores e artistas. Na sequência,
aplicou testes e validou seus experimentos com mais de 50 crianças
e tornou-se um pesquisador educacional. Passou a fazer parte da
sociedade para o estudo da Psicologia Infantil e publicou vários
artigos na época que ajudaram professores e profissionais de
educação. Também contou com a colaboração de Theodore Simon
e juntos criaram o que foi denominado Escala Binet-Simon. Essas
escalas foram divididas por grau de dificuldade, o que facilitava a
descoberta da “idade mental” da criança.
De qualquer forma, a conclusão de Binet foi fantástica. Deixou
claro que a inteligência atua num mundo de constante
transformação e que cresce conforme a criança ou o ser humano se
desenvolve, por isso não pode ser medida como comprimento ou
volume, mas se pudesse ser acompanhada poderíamos ter uma
noção mais completa da aptidão intelectual. Colaborou muito com a
classificação das aptidões e permitiu, com a criação do teste de QI,
alargar o conhecimento sobre a inteligência humana.
Com o tempo, o teste de QI foi caindo em descrédito, pois de
maneira notória, as pessoas mais inteligentes matematicamente, ou
no estabelecimento de conexões numéricas e lógicas, nem sempre
eram as mais bem-sucedidas ou as que alcançavam os melhores
resultados no desempenho de seu trabalho ou na sua vida pessoal.
A partir disso novas descobertas foram feitas.
Lembre-se dos melhores alunos da sua sala de aula quando
você era criança ou mesmo no ensino médio ou faculdade. Será que
os mais estudiosos são hoje os mais bem-sucedidos, ou existem
outras características que determinam o sucesso e os resultados?
As pessoas que estudam bastante, ou que têm resultado alto em
testes de QI, podem obter sucesso em várias áreas, principalmente
as que exigem raciocínio lógico e estratégico, mas podem
apresentar pouco conhecimento em áreas que exigem
desembaraço, flexibilidade, facilidade de contato ou persuasão. Isso
não é uma regra, há pessoas com alto QI que também são
inteligentes emocionais e relacionais, mas o que vamos mostrar
aqui é que as pessoas podem apresentar tendências, facilidades e
dificuldades em áreas distintas.
Da mesma forma que algumas pessoas com alta Inteligência
Emocional (IE) ou alta Inteligência Relacional (IR) podem apresentar
baixo potencial nas escalas de QI (quociente de inteligência).
Dificilmente apresentamos potencial alto em todas as áreas ou
competências. Além do mais, a tendência é que o ser humano
desenvolva mais as inteligências e habilidades que são exigidas no
seu dia a dia, no trabalho ou mesmo as que estão atreladas aos
seus talentos naturais.
É muito comum também desenvolverem as que gostam mais,
como ler, escrever, fazer música, por exemplo,ou que utilizam com
mais frequência. O que quero ressaltar aqui é que cada um tem
suas próprias habilidades e dificuldades, e o desempenho delas vai
favorecer ou dificultar os resultados em sua atuação profissional e
na sua vida pessoal.
Sabe-se que para ter sucesso em uma organização, por
exemplo, ou para ser um alto potencial (high potencial), o
profissional precisa ter um desempenho acima da média.
Desempenhar significa fazer, mostrar, colocar em prática aquilo que
a pessoa diz saber ou conhecer. Um profissional considerado um
“alto potencial” faz algo de forma surpreendente, mais rápido ou
superior às pessoas que parecem ter o mesmo conhecimento, mas
não se destacam tão bem no mesmo cenário ou circunstância. O
conceito de competências, que citamos acima, foi nomeado pelos
RHs (áreas de recursos humanos) com uso do acróstico: CHA – que
nada mais é do que a soma de:
Conhecimento – o que aprendemos/informações,
Habilidades – o que as pessoas mostram facilidade para
fazer/talento.
Atitudes – o que é colocado em prática/ação.
Esses três pilares definem o conceito de competência e juntos
mostram o desempenho de um profissional. De nada adianta termos
habilidade e conhecimento se não temos atitude para colocar em
prática e também de nada vale termos atitude sem conhecimento e
habilidade.
Vale lembrar que atitude sem conhecimento é risco e
irresponsabilidade. As pessoas com muita atitude e pouco
conhecimento tendem a sair por aí fazendo absurdos e agindo de
forma inconsequente. Atitude é fundamental, mas deve sempre vir
temperada com conhecimento e habilidade.
Em função desses princípios, o conceito de sucesso vem
mudando nos últimos anos. Psicólogos, estudiosos e pesquisadores
perceberam que algumas pessoas podem obter resultados baixos
nos testes de QI ou de raciocínio lógico, mas podem ter sucesso na
conexão pessoal, emocional e relacional. Essas habilidades
favorecem o desempenho e a forma como alcançam objetivos e
resultados em suas vidas.
Da mesma maneira, pessoas muito inteligentes, como doutores,
pesquisadores, cientistas e professores universitários, nem sempre
obtêm sucesso profissional ou pessoal, apesar de seu vasto
conhecimento teórico sobre determinado tema ou assunto. Muitas
vezes são reconhecidos no mundo acadêmico ou na região onde
vivem, mas nem sempre conseguem se destacar ou ganhar dinheiro
com seu conhecimento ou suas criações.
Então, lanço algumas perguntas desafiadoras que me proponho
a responder no decorrer deste livro: que características determinam
o sucesso? Como podemos usar as nossas inteligências e
habilidades para chegar aonde pretendemos? Como podemos nos
tornar mais inteligentes nos nossos relacionamentos e com isso ter
uma vida melhor e mais feliz?
Venho estudando e descobrindo respostas para essas questões
há mais de vinte anos. Avaliei mais de quatro mil perfis profissionais
com a utilização de um dos mais renomados perfis de avaliação do
mundo, o Perfil Caliper – instrumento de assessment (avaliação),
que avalia a capacidade de raciocínio abstrato (conhecimento
lógico-matemático), habilidades, atitudes e comportamentos
voltados para o mundo do trabalho. Descobri, com isso, uma
correlação entre traços de personalidade que podem favorecer ou
comprometer a procura por sucesso e por resultados nos diversos
âmbitos da vida pessoal e profissional.
Além das habilidades pessoais, precisamos entender o que é
considerado sucesso. Existem diferentes significados para a palavra
sucesso, dependendo muito dos níveis de cobrança, exigência e
desejos de cada um. O que é ser bem-sucedido para uma pessoa
pode não ser para outra. Não devemos nos limitar às conquistas
profissionais.
A descoberta das nossas inteligências e habilidades traz muito
sucesso na vida pessoal. É possível obter ganhos em muitas áreas,
e veremos que esses ganhos podem ser aprimorados, favorecidos e
desenvolvidos também através do contato com as pessoas com
quem convivemos e nos relacionamos.
Afinal, por que algumas pessoas que obtêm sucesso na vida e
se mostram determinadas, disciplinadas ou incrivelmente
persistentes foram consideradas pessoas “limitadas” pelos testes de
QI?
Compor uma sinfonia, recitar um poema, ministrar uma palestra
encantadora, convencer uma plateia exigente ou ganhar uma
partida de tênis utilizam o mesmo tipo de inteligência?
Como e por que essas pessoas conseguem obter tanto sucesso
em diferentes áreas? Que habilidades e inteligências são
importantes, por exemplo, para mantermos bons relacionamentos
interpessoais?
A resposta começa a ser delineada quando estudamos os vários
tipos de inteligência.
Quando o ser humano vivencia experiências relacionadas a sua
mais alta inteligência (inteligência pura ou talento), ele geralmente
sofre uma forte reação emocional, capaz de transformar sua vida e
levá-la ao alto desempenho. Você já deve ter visto crianças que, por
exemplo, ao ouvir um violino ou uma orquestra sinfônica se
emocionam. Ou que, de repente, mal aprendem a ler e entonam um
texto com tal expressividade que surpreende a todos.
Estamos falando de Inteligências naturais?
2. Introspecção - ato pelo qual o sujeito observa os conteúdos de seus estados mentais
com consciência deles. Dentre eles destacam-se crenças, imagens mentais, memórias
(visuais, auditivas, olfativas, sonoras, táteis), as intenções, as emoções e o conteúdo do
pensamento em geral (conceitos, raciocínios, associações de ideias). https://goo.gl/yyU6dq
3. Teoria da evolução: https://goo.gl/z8sdY3
4. Eugenia - termo criado em 1883 por Francis Galton, significando “bem nascido”. Galton
definiu eugenia como “o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou
empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente”. O
tema é bastante controverso, particularmente após o surgimento da eugenia nazista, que
veio a ser parte fundamental da ideologia de “pureza racial”, a qual culminou no
Holocausto. Fonte: https://goo.gl/yGRGgf
5. QI – Quociente de inteligência: medida padronizada obtida por meio de testes
desenvolvidos para avaliar as capacidades cognitivas, a inteligência de um sujeito.
Expressão do nível de habilidade de um indivíduo num determinado momento em relação
ao padrão (ou normas) comum à sua faixa etária.
Capítulo 2
Quais as inteligências mais
conhecidas e como podemos
desenvolvê-las
Certo dia, fui visitar uma amiga que tinha ganhado bebê. A
criança era linda, mas o que me chamou mesmo a atenção foi seu
filho de três anos que, enquanto conversávamos, imitava ser um
maestro ao ouvir a música clássica que envolvia o ambiente. Ele
interpretava aquela música com tanta emoção que seu corpo inteiro
parecia flutuar, completamente envolto em uma atmosfera diferente
daquela em que estávamos. Ele não estava ali. Sua mente parecia
estar distante e sua expressão facial era suave, encantadora.
Já havia estudado as diferentes inteligências nesta época e pela
observação dessas situações, tive certeza de que nascemos mesmo
com algumas predisposições para determinadas inteligências e que
certamente não existe um único tipo ou forma de inteligência.
No início da década de 1980, estudiosos da Universidade de
Harvard, liderados pelo psicólogo Howard Gardner, apresentaram
uma revolucionária pesquisa, denominada inteligências múltiplas.
Esse estudo identifica e descreve didaticamente sete tipos de
inteligências possíveis de serem encontradas nos seres humanos.
Essa forma de demonstrar as inteligências revolucionou e obteve
um eco gigantesco no campo da educação.
Você vai conhecer quais são essas inteligências e vai poder
identificar pessoas e personalidades conhecidas que possuem
esses tipos de inteligência.
Segundo Gardner, a inteligência “pura” aparece no primeiro ano
de vida, mas nem sempre é fácil de ser percebida. Embora as
crianças mostrem qual é a sua área de interesse desde pequenas,
os prodígios e o aparecimento precoce das inteligências não são
comuns. Podemos observar quando algumas crianças desde cedo
gostam de música ou escrevem e desenhamantes ou melhor que
outras. Algumas mostram uma capacidade espacial acima da
média, montando blocos lógicos com facilidade, mas o desempenho
maduro, geralmente, vem com o tempo.
Apesar de as pessoas apresentarem mais facilidade para
desempenhar algumas tarefas do que outras, a excelência vem com
o treino e o desenvolvimento da habilidade que possuem de forma
inata, ou seja, mesmo que alguém nasça com uma inteligência
natural (voltada para a música, como exemplifiquei), se não
desenvolver ou treinar, pode ser que nunca se torne um expert ou
um excelente músico.
Por isso a atenção às habilidades dos nossos filhos e das
pessoas com quem convivemos, e a estimulação destas, são
fundamentais. Nesse momento se inicia a nossa responsabilidade
como pais, educadores, líderes ou facilitadores de um brilhante
processo de aprendizado e desenvolvimento.
É importante lembrar que o bom desempenho em uma área não
implica da realização talentosa em outra, mas é bem comum
apresentarmos e desenvolvermos mais de uma inteligência, no
decorrer da vida, sendo elas complementares ou não.
De forma interessante, vamos ver cada uma dessas inteligências
estudadas pela equipe de Gardner e como podemos identificá-las e
desenvolvê-las em nós mesmos, em nossos filhos e na nossa
equipe de trabalho.
1. Inteligência Lógico-matemática – pessoas com esse perfil
de inteligência geralmente apresentam uma alta capacidade
estratégica, raciocínio abstrato, fácil memorização e um grande
talento para lidar com cálculos numéricos, matemáticos e com a
lógica de modo geral. Elas têm facilidade para encontrar solução
para problemas complexos e capacidade para dividi-los em
“subproblemas” a fim de resolvê-los até chegar à resposta final.
Sentem-se motivadas pelo desafio de investigar soluções
complexas e podem desenvolver fórmulas matemáticas ou
resoluções diferentes para um problema. Essas pessoas geralmente
organizam suas coisas por tamanho, cores ou procuram por alguma
forma de classificação. Tendem também a manter a atenção e a
disciplina em atividades que exigem concentração a detalhes. Essa
inteligência é muitas vezes encontrada em engenheiros, líderes
estratégicos, financistas, contadores, matemáticos, desenvolvedores
de jogos e sistemas e outros profissionais que gostam desse tipo de
desafio intelectual.
Na década de 1980, acreditava-se que a inteligência lógico-
matemática estava fortemente relacionada ao lado esquerdo do
cérebro e que existia uma dominância cerebral para as inteligências.
No entanto, as novas descobertas neurofisiológicas, ainda em
franca evolução, estão trazendo inovações. Alguns autores já
defendem que a atividade dos neurônios (nome que se dá à célula
do sistema nervoso responsável pela transmissão de sinais
químicos e elétricos no cérebro) é sempre probabilística, ou seja,
pode mudar. Miguel Nicolelis, neurocientista brasileiro da
Universidade Duke (EUA), defende que nem sempre os mesmos
neurônios produzem a mesma ação. Sendo assim, a atividade
cerebral flutua. Se essa observação se confirmar em outros estudos,
o neurocientista diz que será preciso derrubar de vez a ideia de
hemisférios especializados em determinada área, porque eles
podem mudar ou refazer seus caminhos6.
Cientistas da Universidade de Utah (EUA) estão desacreditando
a teoria de que há diferenças entre as pessoas de acordo com o
desenvolvimento dos lados do cérebro. Até há pouco tempo,
acreditava-se que as pessoas lógicas, metodológicas e analíticas
possuíam o lado esquerdo do cérebro dominante, enquanto os
criativos e artísticos têm o lado direito mais desenvolvido. O
problema é que a ciência nunca conseguiu comprovar essa noção.
Esses novos cientistas estão desmistificando de vez essa ideia com
uma análise de mais de 1.000 cérebros. Eles não encontraram
nenhuma evidência de que as pessoas preferencialmente utilizam a
parte esquerda ou direita do cérebro. Todos os participantes do
estudo – e, sem dúvida, os cientistas – estavam usando todo o seu
cérebro da mesma forma, durante todo o curso do experimento7.
Alguns exemplos de pessoas famosas com essa habilidade
foram: Albert Einstein, Pitágoras, Platão, Tales de Mileto, entre
outros. No Brasil, destacamos Benjamin Constant, engenheiro
militar e doutor em Matemática que construiu pontes, trincheiras e
desenhou mapas que contribuíram para planejar estrategicamente
ações militares. Também o matemático Oswald de Souza, que se
tornou conhecido a partir da década de 70 quando calculava a
probabilidade de acertos na loteria esportiva no programa Fantástico
da Rede Globo.
Existem profissionais magníficos nesta área, inclusive os que
desenvolvem sistemas e aplicativos para smartphones e
computadores. São exemplos de pessoas que apresentam rapidez
de raciocínio na forma como perseguem a solução para seus
problemas e lidam com muitas variáveis numéricas e lógicas ao
mesmo tempo. Esses indivíduos parecem capazes de criar
numerosas hipóteses que podem ser avaliadas e depois aceitas ou
rejeitadas, mas fazem tentativas incríveis.
Você já obteve resultados favoráveis usando esse tipo de
inteligência ou conhece pessoas que são capazes de correlacionar
e fazer diferentes e surpreendentes análises? Existem pessoas com
essa habilidade próximas a você ou na sua equipe de trabalho?
Fique atento, uma série de benefícios e resultados pode surgir no
desenvolvimento de planos e soluções estratégicas e inovadoras, se
você souber captar e fazer um bom uso dessa habilidade.
Eis algumas formas lúdicas de desenvolver essa inteligência:
jogos com graus de dificuldade variados, como xadrez, sudoku,
jogos de computador ou videogames, em que você é desafiado a
pensar e conquistar novas fases; materiais manipulativos (quebra-
cabeças e brinquedos de montar), categorização de fatos e de
informação, muito comuns em brinquedos com letras e números,
associação de fatos e figuras, analogias, experiências laboratoriais,
jogos de memória e o desdobramento de mapas.
2. Inteligência Linguística – caracteriza-se pelo domínio e
gosto especial pelas palavras, sentenças, frases e pelo desejo de
explorá-las. As pessoas que possuem este tipo de inteligência
geralmente apresentam facilidade para se expressar e se
comunicar, tanto verbalmente quanto na forma escrita. Muitas vezes
apreciam aprender idiomas ou linguagens com símbolos. Mostram
grande expressividade no momento de se comunicar e podem usar
a linguagem para convencer, persuadir, agradar, estimular ou
transmitir ideias de forma clara. Podem apresentar um alto grau de
atenção e sensibilidade para entender pontos de vista alheios, o que
demonstra empatia. É predominante em poetas, escritores,
linguistas, jornalistas, professores e consultores. Gardner destaca
também que a inteligência linguística é uma das inteligências mais
comuns, porque usamos a escrita e a leitura com certa frequência,
somos comunicadores e estimulamos essa área diariamente.
No capítulo 1 falamos sobre Paul Broca, que descobriu onde fica
localizado o centro da fala, por isso essa região foi batizada com
seu nome, “centro de broca”, área do cérebro responsável pela
produção de sentenças gramaticais, região especial no córtex pré-
frontal que contém um circuito necessário para a formação da
palavra. Esta área está localizada parcialmente no córtex pré-frontal
postero-lateralmente e parcialmente na área pré-motora, mais
predominante no lado direito do cérebro. É onde ocorre o
planejamento dos padrões motores para a expressão de palavras
individuais. Uma pessoa com lesão nesta área pode ser capaz de
compreender palavras e frases simples, mas tem dificuldade de
juntá-las e conectá-las, dificultando a formação de frases e de ideias
mais complexas. O estudo dos prejuízos adquiridos da linguagem,
as afasias, passou a se relacionar com a investigação do
comportamento neurofisiológico natural da linguagem, por técnicas
de imagem e do aprimoramento no estudo dos potenciais
bioelétricos do tecido cerebral.
Os estudos iniciais das afasias revelaram que os danos em duas
áreas corticais estavam associados a prejuízosimportantes e
nitidamente distintos da linguagem, nas áreas descobertas por
Broca e Wernicke.
A área de Wernicke é uma região do cérebro humano
responsável pelo conhecimento, interpretação e associação das
informações, mais especificamente a compreensão da linguagem.
Graves danos na área de Wernicke podem fazer com que uma
pessoa que escuta perfeitamente e reconhece bem as palavras seja
incapaz de agrupar estas palavras para formar um pensamento
coerente, caracterizando doença conhecida como afasia de
Wernicke. A descoberta dessas áreas trouxe ganhos riquíssimos
para o estudo das habilidades e das inteligências8.
Enquanto a motricidade (ação da comunicação) acontece na
área de Broca, na área de Wernicke acontece a compreensão do
que os outros dizem e que dá ao indivíduo a possibilidade de
organizar as palavras de forma sintaticamente correta, um papel
muito importante na produção de discurso. Essa zona é onde
convergem os lobos occipital, temporal e parietal (são as três áreas
do cérebro, que se localizam na parte posterior, na lateral ou na
parte superior do cérebro), chamada de Fascículo Arqueado ou
Arcuato.
Localização: porção posterior do Giro Temporal Superior do
Córtex Cerebral. A área de Wernicke recebe o nome em
homenagem a Karl Wernicke, um neurologista e psiquiatra alemão
que descobriu e estudou essa área do cérebro.
Alguns grandes e conhecidos profissionais que se destacam com
a Inteligência Linguística são: Jean-Paul Sartre e Simone de
Beauvoir, grandes intelectuais e escritores franceses que
revolucionaram a filosofia contemporânea. Em especial, destaca-se
a obra e vida de Simone de Beauvoir, precursora de seu tempo em
sua gênese feminista. Revolucionou uma época e conquistou seu
espaço no fechado mundo intelectual masculino, escrevendo de
forma sublime e impecável sobre militância socialista e o mundo
feminino. Destacam-se, ainda, alguns grandes escritores,
compositores e poetas brasileiros, como Carlos Drummond de
Andrade, Vinícius de Moraes, Luís Fernando Veríssimo, Mário
Quintana, entre outros. Pessoas que, com suas habilidades
específicas, contribuíram de forma memorável para a cultura
linguística do nosso país e demonstraram uma inteligência
linguística acima da média.
Eis algumas formas lúdicas para desenvolver essa inteligência:
invista em atividades como desenho, pintura, escrita, leitura, jogos e
associações com palavras e letras, palavras cruzadas, caça-
palavras etc. Se quiser saber mais sobre atividades dirigidas para
crianças, pesquise sobre os melhores brinquedos para cada idade e
fase, pois essas mesmas atividades podem variar entre mais fáceis
ou mais complexas de acordo com cada idade. Como pai, estimule
desde cedo que as crianças tenham seus próprios diários, cadernos
de anotações ou agendas, onde possam vivenciar a melhor forma
de relatar suas experiências. Quando maiores podem ter uma pasta
ou arquivo em seu computador, tablet ou celular, onde podem contar
tudo o que acontece com eles na escola, nas festas, nos intervalos
de aula ou nos momentos de maior alegria ou tristeza.
É costume em muitas culturas contar histórias para crianças e
elas ajudam a desenvolver a inteligência linguística. Melhor ainda é
quando as próprias crianças são capazes de contar suas histórias
de forma original, muitas vezes com clareza e riqueza de detalhes,
relatando suas experiências com graça e precisão. Aproveite
quando a criança começa a descrever seu dia de forma rica,
cronológica e detalhada, e, se você se enche de orgulho com a
forma como seu filho ou outras crianças da família se comunicam,
fique atento, essa pode ser sua inteligência mais relevante.
É possível também estimular idosos, portadores de Alzheimer ou
pessoas com outras debilidades que envolvam a perda neurológica
da linguagem, para que se sintam estimulados a continuar
exercitando partes do cérebro que não devem entrar em desuso e
são importantes para manter a comunicação e a conexão com o
mundo.
3. Inteligência Musical – essa inteligência é identificável pela
habilidade para compor e executar padrões musicais, escutando e
discernindo sons. Pessoas com este perfil de inteligência têm uma
grande facilidade para, ao escutar uma música, identificar diferentes
padrões, ritmos, timbres e notas musicais. São capazes de ouvir e
processar sons com certa facilidade e podem, também, criar
músicas e harmonias inéditas. Pessoas com este perfil parecem
“enxergar” através dos sons. Muitas vezes mostram-se capazes de
aprender a tocar instrumentos musicais sozinhas. Este é um tipo de
inteligência fortemente relacionado à criatividade. Essa
característica geralmente está associada a outras inteligências,
como a linguística, espacial ou corporal-cinestésica. É predominante
em músicos, compositores, maestros e críticos de música. É
considerado um tipo mais raro de inteligência.
Essa inteligência pode ser identificada logo cedo, e é importante
ficar atento às crianças que tendem a cantar para si mesmas. Elas
também se mantêm atentas a sons diferentes do ambiente. Podem
aprender a tocar um instrumento musical com facilidade, inclusive
sozinhas. Essa inteligência é uma das mais fortes para comprovar
que parece mesmo existir uma influência biológica, genética ou
hereditária no aprendizado, ou seja, podemos nascer com algumas
predisposições a aprender.
As pesquisas sobre esse tema continuam em franca expansão,
algumas sérias experiências já comprovam que a música tem
ajudado crianças autistas (o autismo é um transtorno de
desenvolvimento que geralmente aparece nos três primeiros anos
de vida e compromete as habilidades de comunicação e interação
social). O comportamento autista é exteriorizado pela pobreza de
contato visual e interação emocional com outras pessoas, prejuízo
na fala, estereotipias, obsessão por rotinas e fascinação por
determinados objetos (Gadia et. al., 2004).
Essas crianças com graves comprometimentos emocionais e
incapacidade de fazer vínculos, nem mesmo com a mãe, se
mostram capazes de tocar instrumentos musicais de forma
admirável.
A musicoterapia (terapia que usa a música e seus elementos –
som, ritmo, melodia e harmonia – para a reabilitação física, mental e
social) tem uma longa tradição no transtorno autista, e há muitos
relatos na literatura sugerindo que pode ser usada para melhorar as
habilidades de comunicação social, como iniciar e responder a atos
comunicativos (Geretsegger et. al., 2012). Estímulos musicais têm
sido responsáveis por ativar regiões do cérebro associadas ao
processamento de emoções (Wan; Schlaug, 2010). Pesquisas em
psicologia da música enfatizaram a natureza intensamente social
das atividades musicais, que proporcionam interação com outras
pessoas e participação em atividades que podem facilitar o convívio
social e a aquisição de linguagem e de habilidades motoras. Por
esse motivo, atividades musicais são constantemente usadas no
tratamento de autistas, podendo assim justificar o potencial da
música como instrumento terapêutico e educacional (Molnar-
Szakacs et. al., 2009)9.
Alguns estudiosos acreditam que a capacidade musical, ao
contrário da linguística e matemática, concentra-se mais no
hemisfério direito do cérebro, embora, como falamos, existam vários
questionamentos em relação às áreas de dominância cerebral.
Alguns grandes e conhecidos profissionais com esse tipo de
Inteligência apresentam uma particularidade: começaram muito
cedo a desenvolvê-la. Músicos e compositores como Mozart,
Beethoven, Bach e Ravel iniciaram, respectivamente, suas vidas
musicais aos 5, 6, 7 e 8 anos de idade. O mesmo acontece com
grandes cantores e compositores brasileiros. Chico Buarque de
Hollanda, aos cinco anos de idade, materializou seu primeiro
interesse pela música, montando um álbum de recortes com fotos
de cantores do rádio. Não parou nunca mais de compor e cantar.
Roberto Carlos, ainda criança, aprendeu a tocar violão e piano, e
assim foi com Djavan, Noel Rosa e outros grandes compositores e
músicos que marcaram época e ainda emocionam com suas
melodias e composições.
Formaslúdicas de desenvolver essa inteligência: utilize todos os
tipos de brinquedos musicais, desde chocalhos até minibaterias (os
pais não gostam muito, mas as crianças adoram!), violão, guitarra,
pianinho, etc. Escutar música na gravidez também é uma ótima
opção. Estudiosos defendem que a mãe se acalma e
consequentemente o bebê fica tranquilo também. As músicas
clássicas ou mais tranquilas são as mais indicadas, mas outros
estilos também podem estimular a inteligência musical. Lembre-se
de que algumas músicas podem deixar tanto a mamãe como o bebê
mais agitados, por isso não são indicadas. Leve as crianças desde
pequenas a shows e concertos musicais que sejam permitidos e
seguros para elas10.
4. Inteligência Espacial – pessoas com este perfil de
inteligência têm uma enorme facilidade para criar, imaginar e
desenhar imagens multidimensionais. Elas se expressam pela
capacidade de compreender o mundo visual com precisão,
permitindo transformar, modificar e recriar percepções e
experiências visuais até mesmo sem estímulos físicos, sem ter que
olhar para desenhos, imagens ou objetos. Acredita-se que o
hemisfério direito é o local mais crucial do processamento espacial.
As pessoas com essa inteligência geralmente têm um enorme
talento para as artes gráficas ou pensamentos que envolvam
relações multidimensionais e abstratas. Apresentam como principais
características a criatividade e a sensibilidade, sendo capazes de
imaginar, criar e enxergar coisas que quem não tem esse tipo de
inteligência sente muita dificuldade em executar. Essa inteligência é
predominante em arquitetos, artistas, escultores, desenhistas,
geógrafos, navegadores, cientistas e inventores.
Um conhecido profissional com esse tipo de Inteligência no
mundo é Roger L. Easton, cientista americano e o principal inventor
do Sistema de Posicionamento Global (GPS – Global Positioning
System). Um exímio inventor que, com esse perfil de inteligência,
revolucionou a localização espacial e trouxe facilidade para a vida
de milhões de pessoas no mundo todo.
O sistema foi projetado para permitir o lançamento de mísseis
americanos durante a Guerra Fria. O sistema deu tão certo que hoje
é utilizado não apenas pelo exército, mas por vários meios de
locomoção como navios, caminhões, ônibus e carros comuns. Hoje,
inclusive, acoplado nos celulares/smartphones para orientação
geográfica e de rota. A partir do GPS outros sistemas deverão ser
lançados dentro dos próximos anos, por alguma outra pessoa que
apresente forte inteligência espacial.
Formas lúdicas de desenvolver essa inteligência: desenhar e
pintar em papéis sem linha, sem espaço delimitado. Brincar de
descobrir a forma dos objetos sem poder vê-los. Existe uma
brincadeira de que as crianças gostam muito: com os olhos
vendados, procurar, tatear procurando por objetos (dentro de
alguma caixa ou sacola) e descrevê-los sem enxergá-los. Primeiro,
descrevem o que estão percebendo, se o objeto é redondo,
quadrado, frio, quente, etc. Devem enumerar o maior número
possível de detalhes. Depois “arriscam” dizer qual é o objeto. Dentro
do saco (ou caixa) pode ter uma variedade enorme de objetos,
como chaves, fone de ouvido, bolinha de gude, caneta, carrinhos de
brinquedo, panelinhas, etc. Brincadeiras como essas são divertidas
e ajudam muito a desenvolver o cérebro e a inteligência espacial.
Brincar de andar no escuro, ou de “gato mia” (procurar as pessoas
no escuro, com os olhos vendados, sem poder enxergá-las) também
ajudam o desenvolvimento dessa inteligência.
5. Inteligência Corporal- cenestésica ou motora – pessoas
com este tipo de inteligência possuem um grande talento e
facilidade para controlar o corpo e orquestrar atividades corporais.
Conseguem fazer uso da expressão corporal e geralmente têm uma
noção admirável de espaço, flexibilidade, distância e profundidade.
Geralmente são capazes de realizar movimentos complexos e
graciosos ou que exijam força, com enorme precisão e facilidade. A
parte do cérebro relacionada a essa inteligência alcançaria o
cerebelo, gânglios e o córtex pré-frontal motor, que integra os
impulsos motores no tempo, permitindo a criação de movimentos
habilidosos e voluntários do corpo. É um dos tipos de inteligência
diretamente relacionada à coordenação e capacidade motoras. Ela
está presente em esportistas olímpicos, bailarinos, ginastas, atletas
de alta performance, artistas circenses e entre aqueles que praticam
outros movimentos que exigem controle do corpo.
Alguns grandes e conhecidos profissionais com esse tipo de
inteligência, no mundo, são os bailarinos do Cirque du Soleil. É
nítida a capacidade corporal que os atores apresentam. A facilidade
que demonstram ao se locomover, pular grandes alturas e sua
elasticidade é simplesmente fascinante aos olhos humanos. Claro
que também é fruto de muito treinamento, mas para chegar àquela
quase perfeição eles certamente apresentam alta inteligência
cenestésica.
Alguns grandes atletas brasileiros merecem destaque, como
nossos craques de futebol Pelé, Ronaldo Gaúcho, Ronaldinho,
Neymar, entre outros. Os irmãos Hypólito (Daniele e Diego) da
ginástica olímpica e demais bailarinos e atletas olímpicos do Brasil e
do mundo.
Essa capacidade também pode ser vista em cirurgiões, médicos
e dentistas, pois denota acuidade manual precisa.
Eis algumas formas lúdicas de desenvolver essa inteligência:
todas as atividades que estimulem o movimento corporal, inclusive
jogos com bola, como caçador, futebol, handebol, basquete, tênis ou
vôlei. Outras possibilidades incluem ainda polo aquático, dança,
ginástica rítmica ou artística, balé, judô, natação ou qualquer outra
atividade que exija atenção aos movimentos corporais, como
mímica ou jogos como “Imagem & Ação” (onde os jogadores
descobrem o nome de músicas através do uso da mímica) e jogos
de diversão similares a este.
6. Inteligência Interpessoal – Esta inteligência pode ser
descrita como uma habilidade para entender e responder
adequadamente a humores, temperamentos, motivações e desejos
de outras pessoas. A inteligência interpessoal é expressa pela
habilidade de entender as intenções, motivações e desejos dos
outros. Por essa razão, é um tipo de inteligência ligada à
capacidade natural de liderar, pois mostra a facilidade em entender
o que as pessoas trabalham com outras, como pensam, sentem e
desejam, e o que as motiva, ao que, hoje, chamamos de empatia.
Pessoas com esse perfil de inteligência são extremamente ativas e,
em geral, causam grande admiração nos outros. São líderes
capazes de identificar as qualidades das pessoas e extrair o melhor
delas, organizando equipes e coordenando trabalho em conjunto,
além de reagir apropriadamente a partir dessa percepção. Está mais
desenvolvida em escritores, psicoterapeutas, coaches, conselheiros,
padres, pastores, mentores, líderes natos, vendedores bem-
sucedidos, políticos, religiosos, professores, etc.
As pesquisas sobre as atividades cerebrais sugerem que os
lobos frontais desempenham um papel importante na sabedoria
interpessoal. Alguns estudos relatam que danos nesta área pode
provocar profundas mudanças de comportamento no indivíduo
lesionado.
Um renomado profissional com esse tipo de Inteligência é Daniel
Goleman, criador e autor de best-sellers mundiais, como Inteligência
emocional. Trata-se de uma tese científica que apresenta uma visão
admirável do conhecimento humano. O autor busca a ciência como
guia da mente humana e, sem fórmulas mágicas, revela como
conhecimentos científicos e as emoções podem efetivamente atuar
na transformação do homem. Utilizaremos conceitos interessantes e
consistentes desse autor, no decorrer do livro, pois sua teoria é uma
grande fonte de inspiração e informação. Goleman demonstra como
a incapacidade de lidar com as próprias emoções e a dos outros
pode destruir vidas e acabar com carreiras promissoras. Apresenta
uma forma de explicar como o controle da emoção pode trazer mais
equilíbrio às pessoas.
Formas lúdicas para desenvolver essa inteligência: uma forma
interessante de desenvolvê-la é ater-se

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