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Modulo 7 Texto Humanista

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10
A EXPERIÊNCIA DE IMPLANTAÇÃO DE UM SERVIÇO 
DE PLANTÃO PSICOLÓGICO NO PROJETO ESPORTE- 
T a le n to p o r a lu n o s de g ra d u a ç ã o d o IPUSP
Marina Halpern Chalom 
 ̂ Camila Munhoz
Luiz Celso Castro deToledo 
Simone Aparecida Ramalho 
André Meller Ordonez de Souza 
Alexandre Moreira 
Kelma Assunção Souza 
Rebecca Campos
O Serviço de Aconselhamento Psicológico (SAP) e o Instituto de Psicologia 
da Universidade de São Paulo (IP-USP) junto ao Projeto Esporte-Talento1 ofe­
receram um serviço de Plantão Psicológico2 por 3 meses, de setembro a novembro 
de 1996, voltado aos usuários, seus familiares e técnicos deste projeto.
A opção por este modelo de atendimento resultou de um pedido inicial por 
um "pronto-socorro psicológico” da parte do corpo técnico do Projeto Esporte- 
Talento à equipe da psicologia, com o objetivo de lidar com algumas situações 
pelas quais passavam em seu cotidiano e que não sabiam como resolver.
1 O Projeto Esporte-Talento é um projeto do CEPEUSP junto à Fundação Ayrton Senna com
o intuito de promover “educação através do esporte” para crianças carentes de 10 a 16 anos que 
habitam as proximidades da Cidade Universitária. Isto é feito dentro das seguintes modalidades 
de esporte: basquete, futebol, canoagem e handebol. Esse projeto será descrito detalhadamente 
no capítulo 23.
2 O projeto do Serviço de Aconselhamento do IPUSP contava também com um grupo 
terapêutico para crianças e um grupo de supervisão de apoio psicológico para os técnicos do 
Projeto Esporte-Talento.
1 7 8 A c o n s e l h a m e n t o P s ic o l ó g ic o C e n t r a d o n a P e s s o a
A proposta de atendimento do plantão psicológico caracteriza-se como um espaço 
aberto para receber a pessoa que procura ajuda psicológica em situações de dificulda- 
de ou crise atual, sejam elas de qualquer ordem ou motivação. O plantão no Projeto 
Esporte-Talento realizava-se todas as segundas-feiras das 9:00 às 11:00 e das 14:00 às 
16:00. O plantonista era um estagiário do quinto ano de Psicologia do IP-USP Às 
terças-feiras das 13:30 às 16:30, realizavam-se as supervisões destes plantões,
A pessoa que procurava o serviço era atendida na hora e, se fosse necessário, 
marcavam-se retornos. Estes dependiam da vontade e necessidade do cliente, 
associada à avaliação do plantonista, até que fosse esclarecida a demanda do 
cliente. O que queremos dizer com isso? Que o cliente que procura um plantão 
psicológico pode estar buscando diversas coisas diferentes, desde uma orienta­
ção sobre métodos contraceptivos até um espaço para falar sobre a maneira com 
que se relaciona com os colegas e com a família e o sofrimento que isso lhe traz. 
Em um primeiro momento, pode não estar claro nem para a pessoa que procura 
nem para o terapeuta que busca é essa, e, portanto qual seria o melhor encami­
nhamento a se dar. Assim, diferenciamos conceitualmente a fala do paciente 
que explica sua ida ao plantão na primeira sessão (sua queixa) e o desdobra­
mento que terapeuta e cliente fazem dessa fala no processo de atendimento 
(sua demanda). O objetivo deste trabalho é acolher a pessoa no momento em 
que ela sentiu a necessidade de buscar alguma ajuda, dar tempo para que ela 
possa perceber, junto com o psicólogo, que ajuda ela quer e adequar a interven­
ção psicológica à real necessidade do cliente. Assim, os atendimentos ocorre­
ram por um breve espaço de tempo (o atendimento mais longo que realizamos 
durou 4 sessões), e se fossem constatados a necessidade e o desejo de uma 
psicoterapia mais longa o cliente seria encaminhado para outro serviço.
A divulgação foi feita de três formas: cartazes no CEPEUSI? cartas para os fami­
liares e avisos nos grupos de crianças e no de profissionais pelos psicólogos do SAP 
Durante o período foram atendidos 8 clientes pelo serviço de Plantão Psico­
lógico junto ao CEPEUSP Cinco adolescentes, usuários do Projeto, duas mães 
de usuários e uma funcionária do CEPEUSP que não tinha vínculo com o Pro­
jeto Esporte-Talento.
Devido ao pequeno número de clientes atendidos, dispomos de poucos dados 
para tirarmos qualquer conclusão acerca do Plantão Psicológico dentro do Projeto 
Esporte-Talento. Poderemos apenas levantar questões. No entanto, sobre a experi­
ência vivida pelos integrantes da equipe de plantão e sua influência na formação de 
cada um como psicólogo nos sentimos à vontade para discutir sua importância.
A form ação de plantonistas no Projeto Esporte-Talento
A formação de terapeutas que utilizam a Abordagem Centrada na Pessoa 
pode ser considerada a partir de três pontos: teoria, prática e crescimento pes-
A e x p e r iê n c ia d e im p l a n t a ç ã o d e u m s e r v iç o d e p l a n t ã o p s ic o l ó g ic o 1 7 9
soai (CAM ARGO, 1987, p.53). Pretendemos a partir destes eixos discutir as­
pectos' da formação ligados ao trabalho realizado pelos estagiários e supervisores 
do Plantão Psicológico.
Já havíamos passado pela experiência de realizar atendimentos nesses m ol­
des no SA P da U SP quando nos foi oferecida a possibilidade de inserção neste 
projeto. Entretanto, esta proposta guardava características diferentes em relação 
ao trabalho que realizávamos no SAP: em primeiro lugar, agora éramos nós os 
responsáveis pelo andam ento do Serv iço , não trabalhando apenas com o 
terapeutas que dão plantão, mas também na confecção das regras institucionais 
e reflexão sobre as mesmas. A instituição “Projeto Esporte-Talento/CEPEUSP” 
também tinha características diferentes quanto à geografia, população atendida 
etc..., o que nos fez perceber que por melhor que seja o modelo de atendimento 
ele precisa se adequar e se recriar em função do lugar em que ele vai ser oferecido.
Em reuniões (que ocorriam nos espaços de supervisão) anteriores ao primei­
ro atendimento do plantão, surgiram questionamentos sobre o local de atendi­
mento, como faríamos encaminhamentos e se daríamos conta do número de 
clientes, além de outros problemas que refletiam as expectativas, anseios e angús­
tias da equipe. E interessante observar que a discussão de aspectos supostamente 
práticos como local e conduta quanto aos pacientes surjam em alunos de gra­
duação, nos mostrando como na faculdade estamos sempre seguindo condutas 
preexistentes sem nunca pensar sobre elas. Essas primeiras supervisões foram 
muito importantes, já que tornaram mais claras as intenções do projeto, o nível 
de conhecim ento de cada um sobre a proposta de plantão, e possibilitaram a 
criação de vínculos entre as supervisoras e os estagiários.
Organizamo-nos em escala para oferecer o plantão semanalmente e, a prin­
cípio, nos foi oferecida uma sala com paredes vazadas dentro de um espaço que 
é a “sede” das atividades do Projeto Esporte-Talento no C EPEU SP Cobrimos as 
paredes com papel e requisitamos uma sala fora destas dependências para garantir 
uma maior privacidade dos clientes. Acabamos nos mudando para um lugar 
que consideramos mais apropriado. Organizamos cadeiras no corredor, caso ch e­
gasse mais de uma pessoa ao mesmo tempo, e afixamos na porta um aviso que 
pedia que a pessoa desse três batidas na porta e aguardasse para ser atendida. 
Pensamos que, sabendo que havia gente esperando, poderíamos nos organizar 
temporalmente no atendimento para acolher a todos.
A equipe de trabalho era formada por alunos do 5Q ano da graduação, que 
estavam na expectativa ansiosa de se tornarem psicólogos e não saberem o que 
iriam encontrar na sua futura vida profissional, nem como se relacionariam com 
os problemas práticos que surgissem. Por sua vez, as supervisoras também estavam 
fazendo a sua formação: tinham acabado o curso de graduação no ano anterior 
e já haviam participado da equipe que implantou o serviço de plantão psicoló­
1 8 0 A c o n s e l h a m e n t o P s i c o l ó g ic o C e n t r a d o n a P e s s o a
gico em uma instituição pública do poder judiciário (vide capítulo 11), na qual 
tiveram atuação também como supervisoras. A formação das supervisoras se 
dava principalmenteem supervisões de apoio do trabalho que elas estavam 
realizando com os estagiários. Esta proximidade entre estagiários e supervisoras 
criou uma coesão na equipe, o que ajudou muito na construção deste serviço e 
do saber sobre ele. A implantação e manutenção dele dependiam desta equipe, 
e essa responsabilidade, além de implicar todos os integrantes de forma ativa, 
foi muito desafiante e bastante educativa.
Falaremos, em linhas gerais, como concebemos um plantão psicológico. Um 
plantão pode ser um atendimento emergencial, pode ser o início de um processo 
que se estenderá por uma ou mais sessões, pode ser um fim em si mesmo, pode 
ser usado por alguém que acredita que a própria família precisa de atendimento 
e deseja conversar sobre isso, pode ser o local para onde o adolescente “proble- 
ma” será encaminhado por um professor, ou um local onde o cliente encontre 
um encam inham ento para outro serviço. Em certo sentido, ele se assemelha 
muito a um plantão médico, já que não se sabe o que irá aparecer e no qual é 
necessário tomar decisões rápidas e lidar com as demandas mais variadas. Por 
não ter um número de sessões fixo a priori, e ser um atendimento que se finaliza 
no momento em que a demanda se esclareça (momento único e cheio de suti- 
lezas, o que o tornava bastante misteriosos para nós), foram nas supervisões que 
pudemos enriquecer nossa própria definição de plantão: um plantão psicológico 
se caracteriza por um processo cujo início se dá no momento da procura do 
cliente, e que pode se estender pelo número de sessões necessárias — esta 
necessidade é avaliada pelo cliente e pelo plantonista — para que ele se aproprie 
de sua busca, ou seja, tendo o seu caminho clareado naquilo que o mobilizou 
em busca de ajuda.
Compreendemos então que o que define o plantão não é propriamente a 
queixa, já que essa pode variar muito, mas é a m aneira de lidar com esta 
enquanto sintoma de uma demanda cujo esforço de compreensão é feito na 
medida em que interesse ao cliente. Um plantão pode ter uma função iniciadora 
de um processo maior ou reveladora/organizadora de uma problemática. Pode 
ser também um local no qual a angústia pode ser expressa e acolhida. Sobretu­
do o plantão é um processo com começo, meio e fim.
Na formação de futuros profissionais, a teoria tem uma função norteadora, cria 
e mantém um sistema de referência ao qual se pode recorrer e se atualiza sempre 
que é repensada dentro de situações vividas nos contatos com os clientes e com as 
instituições onde esses são acolhidos. Porém, o conhecimento teórico, por si só, 
nem sempre tranqüiliza o estudante que se depara, na prática, com a problemáti- 
ca da pessoa que o procura. Nem é essa a sua função primeira. Nesse sentido, as 
supervisões foram muito ricas e, como não poderiam deixar de ser, ancoravam-se
A e x p e r iê n c ia d e im p l a n t a ç ã o d e u m s e r v iç o d e p l a n t á o p s ic o l ó g ic o 181
na prática. Neste sentido, houve plantões nos quais não apareceram clientes e 
aproveitávamos desta experiência para pensar nos outros aspectos que nos cabiam 
no tocante a este serviço: sua divulgação, sua inserção a nível institucional, sua 
real necessidade, enfim, procurávamos iluminar cada parte do que fazíamos. Como 
fica claro, o espaço de supervisão não era usado para discutir a dinâmica interna 
ou a personalidade do paciente, mas sim todas as questões envolvidas em um 
atendimento: desde o cliente até problemas de ordem prática, que inevitavelmente 
ajudam a configurar o campo de um atendimento psicológico. Eram, portanto, 
discutidos aspectos relativos ao atendimento no tocante ao paciente, ao terapeuta 
em sua formação, às questões institucionais que o influenciam e as relações entre 
todos estes, que não são, logicamente, independentes.
Do ponto de vista dos plantonistas estagiários, o processo de apropriação de 
seu trabalho e de seu saber teórico era fomentado nas supervisões. Este acontecia 
remetendo-os a suas próprias pré-concepções e levando-os a avaliadas. Por 
exemplo, no início dos atendimentos, a sala nas quais esses eram realizados não 
permitia o sigilo necessário, segundo a opinião da equipe. Além disso, enquanto 
um cliente era atendido, outros adolescentes circulavam em frente à sala. Imagi­
návamos que surgiriam reclamações sobre falta de privacidade nas salas e sobre 
o fato de que todos os jovens que passavam pelo corredor saberiam quem estava 
em atendimento ou quem seria o próximo cliente. Isso foi amplamente discutido 
entre a equipe, mas nunca apareceu como uma preocupação por parte da clien- 
tela. A partir dessa percepção, pudemos repensar a questão do setting e o quanto 
essa preocupação da equipe vinha de informações teóricas aprendidas na 
faculdade, mas que nunca tinham sido pensadas em suas sutilezas, por exemplo, 
como a preocupação com a privacidade varia de uma população para outra e de 
uma instituição para outra. Inserindo-se assim uma perspectiva reflexiva sobre 
aquilo que é dado como verdade no curso de graduação, ou seja, implicando o 
futuro psicólogo na sua prática, não definindo-a a partir de concepções externas 
a ela, mas construindo-a no dia-a-dia a partir de uma proposta prévia. Nosso 
trabalho não partiu da estaca zero, mas permitiu reconsiderações a partir da 
prática: este é o tão desejado e idealizado diálogo entre teoria e prática.
Nessa prática pudemos observar que existem pacientes que chegam angusti­
ados e confusos ao plantão e saem mais aliviados, sem ter a necessidade de um 
retorno. Existem pessoas que procuram o plantão em um momento de crise, 
esclarecem alguns pontos sobre essa crise e sentem-se satisfeitas com o resultado 
obtido, não precisando mais do serviço. Por estranho que pareça, esse tipo de 
uso de um serviço por parte dos clientes pode ser muito frustrante para certos 
profissionais da área psicológica, já que, na graduação, acabamos “aprendendo 
teoricam ente” não só como os psicólogos devem agir, mas também como os 
pacientes deveriam reagir: demandando um tratam ento longo e profundo.
1 8 2 A c o n s e l h a m e n t o P s ic o l ó g ic o C e n t r a d o n a P e s s o a
JU RA N D IR FREIRE C O ST A (1978) coloca como a palavra superficial é usada 
para definir atendimentos psicológicos em relação à prática psicanalítica, que 
já normatizou o que é ou não válido no campo terapêutico. Nesse sentido, o 
plantão questiona a prevalência da psicanálise e de outros tratamentos longos, 
que nos são apresentados como única forma de ajuda psicológica válida. Por 
isso, tivemos que constantemente reavaliar as nossas propostas e atitudes à luz 
dos resultados do trabalho desenvolvido.
O que estamos fazendo ao escrever este texto é um exemplo de uma das 
questões sobre a formação do psicólogo mais difíceis sob o ponto de vista prático, 
mas de fácil compreensão teórica: a teoria tem de ser internalizada. Parece 
simples... Pensemos na premissa: “o cliente é fonte de seus próprios recursos”. 
Se acreditamos nisso, devemos concluir que o cliente disporá desses recursos da 
melhor maneira possível para ele, cabendo ao psicólogo acompanhá-lo quando 
solicitado a fazê-lo. Podemos inform ar a pessoa que nos procura sobre a 
possibilidade de estender o número de sessões se acharmos necessário, mas ele, 
o cliente, deve continuar sendo sua própria fonte de recursos. Não devemos 
tentar impor ou convencê-lo. A intenção é: “Facilitar a expressão do sentimento, 
potencializar a pessoa, liberar o indivíduo para um a escolha au tôn om a...”. Disso 
resultaria "...mais aprendizagem, mais produtividade, mais criatividade do que resulta 
do exercício do poder sobre a pessoa” (RO GERS, 1988, p. 13). Na maior parte das 
vezes, não ficamos sabendo como se desenrolou a história do paciente que nos 
procurou em um plantão.
A premissa, que é de fácil compreensão do ponto de vista teórico, pode ser 
muito frustrante quando colocada em prática. Se não for internalizada, a atitude 
do terapeuta não será norteada por ela, mas por idéias,conceitos e desejos que 
provavelmente não estarão claros nem para o próprio psicólogo.
A questão levantada acima chama a atenção para o que se chama de “cres­
cimento pessoal”. Conhecer a si mesmo promove crescimento pessoal, lidar com 
dificuldades, trabalhar em grupo, rever pontos de vista, assim como ser supervi­
sionado. Só quem tem um conhecim ento razoável de si mesmo é capaz de perceber 
o mundo do cliente.
A implantação do serviço de plantão no projeto Esporte e Talento foi uma 
experiência riquíssima para os que dela participaram, em todos os aspectos do 
tripé supracitado. Essa experiência teve como meta a formação dos plantonistas 
e supervisores a partir do conceito de Aprendizagem Significativa, ou seja: 
“aquisição de novos significados; pressupõe a existência de conceitos e proposições 
relevantes na estrutura cognitiva, uma predisposição para aprender e uma tarefa de 
aprendizagem potencialmente significativa." (M A SIN I e M O REIRA , 1982, p. 101)
Resumindo o que foí dito até aqui, diríamos que os principais aspectos rela­
tivos à formação presentes nessa proposta foram a possibilidade de os estagiários
A e x p e r iê n c ia d e im p l a n t a ç ã o d e u m s e r v iç o d e p l a n t ã o p s i c o l ó g ic o 1 8 3
participarem da implantação de um serviço psicológico diferenciado e toda a 
discussão em torno da prática do plantão, a reflexão constante sobre as questões 
técnicas ligadas ao atendimento psicoterapêutico e a aproximação dos estagiá­
rios com a realidade do trabalho em uma instituição distinta das clínicas existentes 
no Instituto de Psicologia da USP
Algumas considerações sobre o Plantão Psicológico
Apesar do pequeno número de atendimentos realizados, nossa experiência 
nessa instituição nos suscitou questões sobre as quais vamos discorrer agora.
Gostaríamos de fazer algumas considerações sobre a baixa procura do P lan ­
tão. Pensamos que esta se deveu a um problema de divulgação ou esclarecim entos 
insuficientes sobre o serviço. Além disso, cabe ressaltar que durante os 3 meses 
de existência do Plantão Psicológico ocorreram alterações na freqüência dos 
usuários devido a falta de passes de ônibus, o que também pode ter prejudicado 
a sedimentação do espaço do Plantão. s fantasias e preconceitos que circulam 
entre os usuários e técnicos a respeito da procura por um atendimento psicológico 
podem ainda ter sido um fator complicador desta im plantação. Além disso, a 
possibilidade de procura de uma ajuda psicológica pode não fazer parte do 
universo desses adolescentes, tanto por características da faixa etária como por 
características socioculturais. Seria interessante que a divulgação do Serviço 
de Plantão levasse em conta essas características, para uma maior eficácia.
Em relação ao tipo de vínculo com o projeto, percebemos que o Serviço foi 
utilizado por familiares e usuários, mas não por técnicos, dado que também merece 
atenção: poderia mais uma vez ser um problema de divulgação e/ou esclarecimento 
acerca do serviço ou da imagem que eles fazem de um serviço psicológico. N o 
entanto, é bom lembrar que os técnicos dispõem de um espaço psicológico para lidar 
com suas questões relativas à participação no projeto, que é o grupo de técnicos.
Houve uma grande variabilidade na faixa etária dos clientes atendidos, o 
que dificultou a análise destes dados em uma pequena amostra. Sobre o sexo, 
verificou-se que todos os clientes eram do sexo feminino.
O maior número das queixas eram relativas à orientação e ao ajustam ento, 
estando ligadas às situações de crise ou conflito e bem -estar geral. O plantão 
parece ter propiciado um espaço de escuta para estas situações específicas que 
acabaram ali se resolvendo. Daí o fato de não haver ocorrido nenhum encam i­
nhamento para fora do serviço, como poderia ocorrer, em caso de necessidade 
de um processo psicoterápico, por exemplo. Houve ainda queixas classificadas 
como dificuldades relativas à fam ília, que, por vezes, vinham acompanhadas de 
considerações e reclam ações de mau rendim ento nos treinos. Sobre estas, 
pensamos que, sendo a população de usuários dependentes de seus pais, acabavam
1 8 4 A c o n s e l h a m e n t o P s ic o l ó g ic o C e n t r a d o n a P e s s o a
ficando sujeitos às oscilações conjugais e familiares que aconteciam em casa. A 
resolução desses conflitos fam iliares muitas vezes não está ao alcance do 
adolescente, que precisa conviver com um sentimento de impotência que gera 
muita ansiedade. Ao mesmo tempo, ficam impossibilitados de agir em conflitos 
n este âmbito, pois não lhes dizem, diretam ente, respeito, causando muita 
ansiedade. Neste sentido, o espaço do plantão serviu como uma possibilidade 
de ajuda na tentativa de situar o cliente no tocante a este tipo de problemática, 
ou a outras que possam vir a surgir. Apareceram também queixas emocionais e de 
distúrbios de comportamento.
Ressaltamos que é um plantão que se diferencia de outros já existentes, pois 
é voltado para o atendimento de adolescentes. A adolescência é uma fase crítica, 
no sentido de que as mudanças internas (fisiológicas, na aparência etc) e as 
externas (novo lugar social, não mais a criança, mas tampouco ainda um adulto) 
por si só já causam bastante atribulação na vida da pessoa. O que gera uma 
demanda própria, por vezes mais próxima de uma orientação sobre o período 
que o sujeito está vivendo, sobre sexualidade etc. Demanda por um auxílio 
pontual, como em um “pronto-socorro” (exatam ente como foi pedido) para 
questões que não estão sendo elaboradas, ou conversadas entre os adolescentes, 
entre familiares e adolescentes ou entre adolescentes e técnicos.
Este espaço poderia se constituir no futuro como um espaço privilegiado de 
atenção psicológica profilática para a adolescência, na medida em que as questões 
estariam sendo discutidas no momento em que emergem.
Diferentemente do que ocorre no SAP os clientes do Projeto Esporte Talento 
não deram continuidade aos atendimentos, de modo que estes não se caracteriza­
vam como psicoterapia, nem mesmo como uma psicoterapia abreviada. Também 
não demandaram encaminhamento para um auxílio psicológico outro. A demanda 
dessa clientela se caracterizou em um primeiro momento por um atendimento de 
poucos ou nenhum retorno para se tratar de uma determinada questão.
A intervenção psicológica propiciada pelo Serviço de Plantão Psicológico parece 
ir ao encontro dos objetivos do Projeto Esporte-Talento, uma vez que possibilita 
um espaço no qual aspectos que não conseguiram ser abordados nos treinos sejam 
analisados, ajudando desta forma a promover a educação através do esporte. Além 
disso, o cuidado oferecido ao usuário através do atendimento psicológico contribui 
para uma inserção mais integral daqueles que participam do Projeto.
A EXPERIÊNCIA d e im p l a n t a ç ã o d e u m s e r v iç o d e p l a n t ã o p s ic o l ó g ic o 185
R eferên cias B iblio g rá ficas
C a m a r g o , I. (1987) In R o s e n b e r g , R . L.; o r g ., A c o n s e l h a m e n t o P s ic o l ó g ic o 
C e n t r a d o n a P e s s o a , S ã o P a u l o : E d i t o r a P e d a g ó g ic a e U n iv e r s it á r ia . 
C o s t a , J.F. (1978) In F ig u e ir a , S.A .; c o o r d (1978) S o c ie d a d e e D o e n ç a M e n t a l , 
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Psicodinâmicos, Brasília (1), 4: 35-44 (impresso em 1972).
P la n tã o psico ló g ico em ho spital psiq uiátrico
Walter Cautella Júnior
Antes de nos aprofundarmos na experiência do plantão psicológico no hospi- 
tal psiquiátrico, considero importante salientar que este breve trabalho não tem 
a pretensão de esgotar a questão. Estia é uma abordagem terapêutica recente, 
pelo menos no que se referea uma instituição psiquiátrica, e temos que clar 
tempo ao tempo para que possamos vivenciar a experiência e conceituá-la. Enfim, 
fazer ciência e teorizar sobre os fatos. Até o término deste relato, não tivemos 
conhecim ento de outras instituições psiquiátricas que utilizassem esta moda­
lidade terapêutica da forma como aqui será abordada.
E importante iniciar a apresentação com caracterização do hospital psiquiá­
trico onde está sendo realizada a prática, para que possamos visualizar a 
experiência do plantão inserida dentro de um contexto mais amplo.
A Casa de Saúde Nossa Senhora de Fátima é uma instituição mantida por 
religiosas católicas pertencentes à Congregação das Irmãs Hospitaleiras do Sagra­
do Coração de Jesus. Essa congregação possui hospitais distribuídos pela Europa, 
África, Ásia e América Latina, e elege como objeto de sua dedicação exclu­
sivamente o doente mental. A forte influência humanista na ideologia dessa 
congregação e, conseqüentemente, na ideologia do hospital facilitou muito a 
implantação e aceitação do plantão psicológico, assim como suas conseqüências 
na dinâmica hospitalar.
A instituição em questão é um hospital de porte médio, com 170 leitos que 
permanecem invariavelmente ocupados. Esses leitos estão distribuídos em enfer­
marias que formam 5 setores distintos. A saber: térreo, primeiro andar — alas A 
e B — e segundo andar -alas A e B. No térreo ficam pessoas cujo o nível de 
desorganização e comprometimento causados pelo quadro patológico não é tão 
intenso, e clientes provenientes de convênios particulares. O primeiro andar/ 
ala A é constituído por pessoas cronificadas ou deficientes moderados e graves
1 6 2 A c o n s e l h a m e n t o P s ic o l ó g ic o C e n t r a d o n a P e s s o a
que necessitam de uma atenção direta da equipe da enfermagem. A atuação 
terapêutica neste setor é centrada na terapia ocupacional visando melhor 
organização e uso mais eficiente dos recursos internos disponíveis. No primeiro 
andar/ ala B iremos encontrar pessoas que estão em uma etapa mais avançada 
do tratamento e, portanto em um quadro sub-agudo. Nesta ala estão alojados os 
idosos e clientes em condições de receberem alta hospitalar. O segundo andar/ 
ala A é constituído por pessoas em quadro agudo de sua doença. E portanto o 
andar de entrada na instituição. Neste setor a ação é prioritariamente medica­
mentosa, visto que o nível de desorganização e a ruptura com a lógica são intensos. 
O estabelecimento de um vínculo psicoterápico e a ação verbal é bastante 
restrito. No segundo andar/ala B encontramos pessoas que saíram do momento 
agudo de sua doença, porém ainda não estão aptas a serem transferidas para as 
outras alas de terapêutica menos ostensiva do ponto de vista medicamentoso. 
Espera-se que o segundo andar/ala B seja um andar de transição, uma etapa 
intermediária entre o momento agudo e a saída do hospital. E nesse momento 
que o trabalho psicoterápico tem se mostrado mais eficiente. A experiência nos 
mostra que no momento agudo a relação terapêutica é pouco eficaz devido a 
vários fatores, tais como: o alto grau de desorganização interna que o indivíduo 
apresenta; a necessidade de uma intervenção medicamentosa mais agressiva 
que pode influenciar a capacidade elaborativa; etc. Nos momentos que prece­
dem à alta hospitalar, a vinculação ao processo também fica prejudicada, visto 
que o indivíduo encontra-se mobilizado para abandonar a instituição.
Como o breve relato estrutural da instituição deixou explícito, trabalhamos 
com uma população bastante heterogênea, composta de pessoas em quadro agudo 
e sub-agudo de suas doenças. Mesmo os pacientes crônicos que estão internados 
encontram-se em um momento agudo na sua cronicidade. Não possuímos paci­
entes asilados e o período de internação visa ser o mais breve possível, no intuito 
de minimizar as seqüelas inevitáveis de uma instituição psiquiátrica a nível 
social. Além disso, acreditamos que o lugar do paciente deva ser junto à sua 
família e inserido na sociedade. A função da institucionalização é exercer uma 
ação terapêutica enquanto essa ainda não possa ser realizada em âmbito 
ambulatorial.
O corpo clínico é constituído por oito psiquiatras, sendo dois plantonistas, 
nove residentes em psiquiatria, cinco clínicos gerais, três psicólogos, quatro 
estagiários de psicologia, dois terapeutas ocupacionais, duas recreacionistas, 
dois assistentes sociais, quatro enfermeiros, um farm acêutico e, por fim, um 
nutricionista. A equipe tenta trabalhar de uma maneira coesa, com o intuito de 
potencializar ao máximo o curto tempo de internação.
O setor de psicologia realiza grupos psicoterápicos, atendimentos individuais 
(em esquema de psicoterapia breve e focal) e o plantão psicológico. Esporadica­
P l a n t á o p s i c o l ó g ic o e m h o s p it a l p s iq u iá t r ic o 163
mente, são realizados processos psicodiagnósticos, porém essa tarefa não é a 
prioridade do setor, visto que o psicólogo é reconhecido nesta instituição pela 
sua ação terapêutica direta.
Para que possamos compreender o plantão psicológico dentro do con texto 
hospitalar, é necessário conhecermos os conceitos de doença mental que orientam 
a conduta terapêutica nesta instituição.
São vários os conceitos de doença que circulam pela nossa cultura e socie- 
dade. A O M S. (Organização Mundial de Saúde, 1993) considera a saúde com o 
um estado de completo bem -estar físico, m ental e social e não somente a ausência 
de sintomas. Se nos determos sobre esta conceitu ação, concordaríam os com 
M A U R ÍC IO K N O BEL (1986 , p .10),que ao avaliar tal conceito em seu livro 
sobre psicoterapia breve afirma qüe a única verdade que essa definição contém 
é a de que a ausência de sintomas não significa saúde, pois pode haver processos 
não manifestos ou uma negação da doença. Se considerarmos esse con ceito , 
chegaríamos à conclusão que estamos todos doentes. Quando em uma sociedade 
moderna, pós revolução industrial, capitalista e repleta de tensões e exigências, 
alguém pode afirmar que encontra-se em tal equilíbrio? Aparentem ente, esse 
conceito propõe uma homcostase utópica. A vida é conseqüência de um jogo 
de tensões onde há mom entos em que estam os bem fisicam ente, porém a 
ansiedade ou a angústia podem aflorar nossa consciência, pois estamos vivos. 
Qual cidadão pode falar de bem -estar social em uma sociedade como a brasileira?
Outro conceito utilizado pelo senso comum, e que surgiu a partir das primeiras 
tentativas da psiquiatria em definir seu campo de atuação, costum a definir o 
doente mental como alguém “anormal”. Portanto, a doença mental seria definida 
pelo não pertencimento a uma regra geral (normalidade). Se nos orientássemos 
por esse conceito popular haveria com certeza uma superlotação das instituições 
que tratam do doente mental. Estariam em tratamento gênios e todos os indi­
víduos que possuem uma habilidade especial. Grandes personagens da história 
universal não poderiam realizar feitos memoráveis, pois estariam institucionalizados 
por serem “loucos”, sob a ótica desse conceito. Afinal, Wolfgang Amadeus Mozart, 
Albert Einstein e muitos outros foram decididamente indivíduos portadores de 
um dom especial que foge à regra geral, porém não foram doentes m entais. 
Percebemos que, nesse conceito, a “normalidade”, e portanto a saúde, seria definida 
pela constância na manifestação do fenômeno. A saúde seria uma faixa estatística. 
Se levarmos esse raciocínio às últimas conseqüências, poderíamos considerar 
normais e saudáveis manifestações evidentes da patologia social como os crimes, 
por exemplo, esses ocorrem com uma certa freqüência e são considerados um 
fenômeno esperado dentro de um contexto social.
E comum ouvirmos, principalmente no contexto hospitalar, familiares referi- 
rem-se ao doente mental como aquele que “sofre de uma doença dos nervos”
1 6 4 A c o n s e l h a m e n t o P s ic o l ó g ic o C e n t r a d o n a P e s s o a
ou da “cabeça”. Existeimplícito nesse discurso um outro conceito ineficiente 
de doença mental. Sob essa ótica, o doente mental é aquele que sofre. Embora 
muitas vezes o sofrimento psíquico esteja evidente na doença mental, não po- 
demos definir a doença pela sua existência.
O sofrimento psíquico não precisa ser sintoma de doença. Em alguns casos, a 
angústia ou a tristeza são sinais de saúde. Dentro de um processo psicoterápico, "o 
sofrimento pode significar que o sujeito está entrando em contato com questões 
que até então eram negadas. Em situações de luto se espera a tristeza no caminho 
para a elaboração da perda. Por outro lado, a ausência do sofrimento também não 
significa saúde. Quem já teve a oportunidade de entrar em contato com uma 
pessoa em quadro maníaco pôde perceber que não há evidências de sofrimento 
no seu discurso e na sua interação com o meio, assim como não há angústia no 
psicopata, no entanto, é inquestionável a existência de uma patologia.
A conceituação da doença mental é um tema vasto e impreciso. Não existem 
leis absolutas como na física ou na matemática para a formulação de um conceito 
pleno. Qualquer definição de doença mental vai sofrer influências da cultura, da 
linha filosófica, da linha teórica e etc. daquele que conceitua. A psiquiatria vem 
tentando classificar e homogeinizar a doença mental desde sua origem. No final 
do século XV III, Pinei fazia grande revolução do diagnóstico dos transtornos 
mentais, e no final do século X IX foi a vez de E. Kreapelin fazer a segunda revo­
lução (OM S. 1993). Até hoje vemos o esforço da psiquiatria na confecção do 
C.I.D .-10 (Código Internacional de Doenças - 10). Poderia citar vários autores 
que contribuíram positivamente com essa complexa questão, criando conceitos 
que seriam úteis para orientar nossa prática terapêutica institucional (SCHEFF, 
1978; SIVADON, 1973; BLEGER, 1967; etc.), porém optei por duas conceituações 
que se destacam pela simplicidade, abrangência e complementaridade.
O primeiro conceito define a doença mental como uma “patologia da liber­
dade” (SON ENREICH , C. e BA SSITT, W., 1979). Esse é um conceito de ori­
gem psiquiátrica, no entanto, apesar de ser um conceito médico, ele pode ser 
plenamente eficiente orientando uma ação terapêutica psicológica.
Nesse conceito, a palavra “liberdade” refere-se à capacidade de o indivíduo 
optar, ou seja, de criar normas próprias para se gerenciar. O doente mental seria 
aquele indivíduo que perdeu a capacidade de optar e passa a viver regido pelas 
normas ditadas pela sua patologia. Portanto, o doente mental não é mais senhor 
de seus atos, e, sim, escravo de sua doença. Para melhor compreender esse 
conceito, basta pensarmos em um indivíduo neurótico obsessivo. Os rituais ob­
sessivos são sintomas considerados absurdos frente a uma lógica racional, porém 
o doente não se arrisca a não cumpri-los. As idéias obsessivas permanecem na 
consciência, apesar de não aceitas pelo sujeito.
Percebemos uma clara regência dos sintomas sobre a racionalidade. É por 
esse motivo que a doença mental leva à perda da cidadania do indivíduo, pois
P l a n t á o p s ic o l ó g ic o e m h o s p it a l p s iq u iá t r ic o 165
esse não pode fazer suas escolhas livre da pressão patológica interna e, sendo 
assim, passa a ter a necessidade de ser protegido. Essa proteção no momento 
agudo de sua enfermidade tem o intuito de impedir que o indivíduo cometa 
atos que possam prejudicar a si e a seus próximos. Vemos nesse ponto a justifica- 
tiva para a institucionalização, desde que ela seja breve e eficiente.
O segundo conceito vem para complementar e aprofundar o que foi acima 
citado. Segundo ALFREDO M O FFA TT (1983), a patologia seria uma desorgani­
zação da temporalidade e, conseqüentemente, da identidade. Tentarei transmitir 
dè’ maneira sucinta as idéias desse teórico. Para ele, a consciência é um proces­
so pontual que ocorre de momento a momento, e o homem através de um longo 
processo evolutivo conseguiu desenvolver uma construção imaginária que lhe 
assegura a continuidade de seu psiquismo (tempo) e, conseqüentemente, de 
sua identidade. Desta forma, o que nos difere dos animais é que esse só possui 
um presente imediato, enquanto que o homem, através dessa trama, possui o 
presente, sabe de seu passado e pode inferir sobre seu futuro. Essa continuidade 
no processo cie consciência permite que o indivíduo crie sua identidade. O 
ponto central dessa teoria define q\ie a doença mental é a destruição dessa 
trama de sustentação da continuidade do EU. Conseqüentemente, a pessoa se 
fragmenta e dissolve a sua vivência de existir (crise). Ela descobre que o tempo 
não existe e cai em um vazio paralisante e insuportável. Para superar essa situação, 
o indivíduo tenta construir uma nova trama de continuidade, que nada mais é 
do que uma restituição neurótica ou psicótica. Essa nova trama não é com­
partilhada por todos. O sujeito cria um novo EU isolado e alheio à cultura geral.
Concluindo de maneira breve e simplificada nosso raciocínio, compreendemos 
a doença mental como um momento de crise onde há uma total desorganização 
da identidade do indivíduo que o retira da cultura geral, impedindo-o de tomar 
decisões e optar de maneira isenta no processo de gerenciamento da vida.
A partir do momento em que a doença mental passa a ser vista por essa 
ótica, toda a ação terapêutica deve levar o indivíduo a se perceber como agente 
de sua existência, inserido e comprometido com o meio sociocultural que o 
cerca e apto para fazer opções livre de pressões internas. De maneira geral, o 
psicoterapeuta deve resgatar o indivíduo de um vazio paralisante (crise - doença 
mental) para a plenitude da sua cidadania.
De posse desses conceitos, o desafio que se apresentou foi de como operado- 
nalizar esse processo de mudança levando em conta que esse deve ocorrer, ou 
pelo menos iniciar-se, dentro de uma instituição com características peculiares, 
como todo hospital psiquiátrico, e em um tempo bastante reduzido, visto a bre­
vidade das internações. As formas tradicionais de atendimento mostravam-se 
eficientes. Porém, havia a necessidade de otimizar ao máximo o tempo que 
dispúnhamos para favorecer ao indivíduo as condições necessárias para o seu
166 A c o n s e l h a m e n t o P s ic o l ó g ic o C e n t r a d o n a P e s s o a
desenvolvimento. Além disso, percebíamos na dinâmica institucional caracte- 
rísticas que, embora tivessem a melhor das intenções, não facilitavam o movi­
mento do cliente em direção à saúde como a compreendemos.
A boa vinculação aos grupos psicoterápicos e aos atendimentos individuais 
muitas vezes eram fictícios. O alto nível de freqüência não tinha a ver com uma 
conscientização de sua demanda ou o desejo de se conhecer e se desenvolver, 
mas, sim, com uma pressão implícita para que o indivíduo se vinculasse a uma 
atividade terapêutica. Dessa forma, o cliente vinha ao grupo mobilizado pelo 
desejo da instituição e não pelo próprio desejo, e, conseqüentemente, não fazia 
opções, não se gerenciava e não havia o resgate da própria identidade. Estar em 
um grupo psicoterápico, ou mesmo em atendimento individualizado pelo desejo 
alheio, mobiliza fortes sentimentos persecutórios e cria um clima que dificulta o 
estabelecimento de uma relação terapêutica eficiente.
O psicoterapeuta nessa situação não era visto como um elemento facilitador 
para que o cliente se percebesse, elaborasse uma queixa e ditasse seus rumos, e, 
sim, como um “olheiro” da instituição que iria “informar” aos outros membros 
do corpo clínico se os seus sintomas regrediram ou se estava ou não na hora da 
alta. E obvio que a constância no atendimento mudava essa relação. Porém, isso 
custava um tempo muito precioso, de que às vezes não dispúnhamos.
Os atendimentos em psicoterapia breve-focal, embora também cumpram seu 
papel, levantam questões. A técnica psicoterápica breve determina a eleição 
de focos que devem surgir a partir de diferentes níveis de diagnósticos como 
propõeFIORIN I (1978): diagnóstico clínico, psicodinâmico, psicopatológico, 
evolutivo, psicossocial, comunicacional, adaptativo, etc. Esses focos quase sem­
pre são determinados pelo psicoterapeuta. Nesse caso estaríamos determinando 
diretrizes externas para um processo que pertence ao cliente. Concordo que um 
psicoterapeuta bem-treinado possa identificar e antecipar focos conflitivos. Porém, 
de nada servirá ao cliente se conflitos não forem percebidos como seus, e esse 
não esteja mobilizado a abordá-los. Cabe ao cliente determinar o que é mais 
im portante e m erece ser abordado no m om ento, porém é crucial que o 
psicoterapeuta confie na capacidade do cliente para fazer esse movimento e 
tente proporcionar um ambiente facilitador para tal.
Havia, portanto, a necessidade de uma abordagem que viesse suprir todos os 
pontos acima citados. A intenção não era suprir as modalidades terapêuticas 
existentes e sim implantar uma forma de atendimento que fosse terapêutica por 
si só, e ao mesmo tempo, caso necessário, uma maneira de integrar o cliente às 
abordagens psicoterápicas tradicionais de forma mais comprometida.
A ansiedade frente a tal demanda institucional levaram-me ao encontro do 
plantão psicológico que acontece no Serviço de Aconselham ento Psicológico 
do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Ao familiarizar-me
P l a n t ã o p s ic o l ó g ic o hm h o s p it a l p s iq u iá t r ic o 167
com os aspectos teóricos dessa modalidade terapêutica, percebi a viabilidade 
de implantá-lo na instituição em questão.
Para que seja possível a realização do plantão psicológico em uma instituição, 
é necessário que essa acredite na capacidade de sua clientela em desenvolver- 
se. CA RL R O G ER S e K IN G ET (1975) afirmavam que: “Todo organismo é m ovido 
por uma tendência inerente para desenvolver toda as suas potencialidades e p ara 
desenvolvê-las de maneira a favorecer sua conservação e seu enriquecimento” (p. 159). 
Se esse conceito, conhecido pelos rogerianos como tendência atualizante, não 
for absorvido pela instituição é impossível a viabilidade do plantão, pois não 
haveria um solo fértil para que a experiência germine. Acreditar nesse conceito 
gera um clima facilitador para que a pessoa possa mover-se em direção ao en­
contro terapêutico que o plantão propicia.
Ainda do ponto de vista institucional, é necessário que haja uma sistem ati­
zação do serviço. O cliente precisa saber quando e onde o plantonista vai estar 
à disposição. Dentro de um hospital psiquiátrico, a sistematização do serviço 
assume um caráter terapêutico, na medida em que estabelece coordenadas (tem ­
po e lugar) fixas que facilitam a reorganização alopsíquica e autopsíquica do 
indivíduo. Além disso, a sistematização ajuda o cliente “em potencial” a controlar 
sua angústia ao saber que poderá contar com alguém, caso suas sensações tornem- 
se insuportáveis em determinado lugar e espaço de tempo.
Quanto ao plantonista, esse deve estar preparado para uma situação tera­
pêutica muito diferente das abordagens tradicionais. O profissional deve estar 
ciente e disposto a se defrontar com o não planejado, situação muito comum em 
um hospital psiquiátrico.
Tanto o profissional como o cliente devem saber da possibilidade de esse 
encontro ser único. A percepção da limitação temporal vai gerar uma modificação 
interna nos participantes do encontro. Possibilitará ao plantonista uma maior 
sensibilidade frente as questões do cliente, e esse, por sua vez, tentará reorganizar 
sua demanda de maneira a hierarquizar e priorizar aquilo que é mais importan­
te para si naquele momento., O limite é por si só um fator reorganizador. ,Como 
elegeríamos nossas prioridades na vida se não soubéssemos da existência da 
morte? Hierarquizamos nossos projetos de vida e nos organizamos a partir da 
percepção de nossa finitude. Sendo a vida um bem transitório, propomo-nos a 
utilizá-la de maneira eficiente no intuito de tentarmos saciar nossas demandas.
O plantonista também deve se propor a responder à demanda do clien te 
naquele momento. Essa proposta, aparentem ente impossível, torna-se viável 
quando o profissional coloca-se à disposição para acolher a experiência do cliente 
e não apenas seus sintomas. Adotando essa forma de conduta será possível 
facilitar ao cliente uma visão mais ampla de si, que poderá questionar-se e 
entender seus sintomas inserido em um contexto mais amplo. O que se deseja é
1 6 8 A c o n s e l h a m e n t o P s ic o l ó g ic o C e n t r a d o n a P e s s o a
que o cliente perceba-se inserido no mundo e passe a compreender suas ques­
tões e sintomas não mais dissociados do geral, e, sim, como parte integrante 
desse todo. Esse movimento vai dar um nov o valor à doença para o indivíduo 
institucionalizado, pois essa não mais será uma entidade isolada e sim algo 
contextualizado.
Agora que abordamos de maneira sucinta os pontos básicos dessa modalida­
de terapêutica, fica fácil justificar o plantão psicológico na instituição em ques­
tão. A possibilidade de realizar um atendimento eficiente em um curto espaço 
de tempo integra-se plenamente à proposta do hospital em trabalhar com inter­
nações de curto prazo.
Quando o plantão psicológico propicia ao cliente uma visão mais clara e 
abrangente de si e de suas perspectivas frente à problemática, ele está promovendo 
saúde, como a compreendemos. Quando o indivíduo se questiona e se posiciona 
frente a seus conflitos, ele está fazendo opções e percebendo sua existência inserido 
em um contexto histórico-sociocultural. Nesse momento, há um resgate da capa­
cidade de optar e da própria identidade do sujeito. Mesmo que esse resgate seja 
momentâneo — como muitas vezes acontece — e o indivíduo mergulhe na estag­
nação e nulidade patológica em seguida, esses núcleos devem ser valorizados, 
pois falam de um potencial de saúde. Dentro do caos psicótico há momentos de 
organização e o plantão tem se mostrado eficiente como facilitador para que esses 
momentos ecludam. A postura desenvolvida pelo psicoterapeuta de aceitar in­
condicionalmente a experiência do cliente permite que se estruture um campo 
onde este pode entrar em contato com os fatores que vêm causando desorganização 
na sua relação com o mundo e, a partir daí, tentar uma organização mais eficiente.
Estar em sintonia consigo mesmo facilita ao cliente identificar sua demanda 
e fazer uma opção comprometida com as outras modalidades terapêuticas dis­
poníveis, inclusive a terapêutica medicamentosa.
Geralmente, os clientes que procuram o plantão psicológico conseguem uma 
integração mais ativa no grupo psicoterápico e melhor se beneficiam da dinâmica 
grupai. Para essas pessoas, o grupo psicoterápico assume uma nova conotação. 
Não é mais uma tarefa imposta pela instituição, mas, sim, um instrumento de 
auto-conhecimento e resgate da saúde como a compreendemos. Eles estão no 
grupo por opção, pois sentem necessidade.
A mesma coisa ocorre com a psicoterapia individual. E comum o cliente 
querer prosseguir o trabalho iniciado no plantão de maneira mais sistemática. 
Após ter tido uma visão mais ampla da sua experiência, e conseqüentemente de 
sua demanda, a pessoa tem mais condições de estabelecer e hierarquizar os 
focos a serem abordados nessa nova etapa de tratamento. Não existe mais a 
necessidade de o psicoterapeuta estabelecer de maneira unilateral os focos da 
abordagem. Esse movimento do cliente determinando os rumos do processo
P l a n t ã o ps ic o l ó g ic o e m h o s p it a l p s iq u iá t r ic o 1 6 9
psícoterápico só é possível devido ao clima de aceitação incondicional que pre- 
v a lece no encontro.
A própria possibilidade de escolher se quer ou não utilizar-se do plantão é 
um ato de saúde, pois está im plícito nessa atitude uma opção e uma ação 
contestatória da nulidade patológica.
O utra vantagem do plantão psicológico no contexto hospitalar refere-se à 
possibilidade de atender de maneira eficiente uma população bastante hetero­
gênea. Podembeneficiar-se do plantão pessoas bastante deterioradas pela história 
de doença (deficientes, crônicos, oligofrênicos, demenciados, etc.) e aqueles 
que mantêm preservado sua capacidade simbólica e elaborativa (neuróticos, 
depressivos, alguns quadros psicóticos, etc.), visto que a ação psicoterapêutica 
é centrada na própria experiência do cliente. Para melhor compreendermos a 
abrangência dessa modalidade terapêutica, irei expor dois casos que passaram 
pelo nosso serviço de plantão psicológico.
R. F.A. possui o diagnóstico psiquiátrico de esquizofrenia residual. As seqüe­
las deixadas pelos vários surtos psicóticos transformaram-na em uma pessoa bas­
tante comprometida e marcada pela cronicidade. O contato é difícil e a afeti- 
vidade encontra-se bastante prejudicada. Seria impossível vincular uma pessoa 
com este grau de deterioração a um grupo psicoterápico ou mesmo a uma psicote- 
rapia individual. Certo dia, R.F.A. entrou no consultório onde era realizado o 
plantão psicológico. Sentou-se e permaneceu em silêncio por um longo período. 
Por trás de sua expressão cronificada e de seu quase autismo, deixava transparecer 
um certo incômodo. Perguntei o que havia acontecido. Com muito esforço e 
com poucas palavras R.F.A. apontou para os pés descalços e contou que havia 
perdido seus sapatos. Nesse momento, começamos um exaustivo trabalho visan­
do relembrar quando fora a última vez que os havia visto. Apontei a importân­
cia de cuidar daquilo que lhe pertence. Saímos à procura dos sapatos de R.F.A. 
por todo o setor até os encontrarmos abandonados sob uma cadeira. R.F.A. 
calçou-os, sorriu e voltou para o seu mundo de alheamento. Porém, até o fim de 
sua internação, toda vez que me via pelos corredores do hospital apontava para 
os pés e sorria, como se quisesse dizer que havia se beneficiado do nosso breve 
atendimento. Nesse rápido encontro foi resgatado, sem dúvida, muito mais do 
que um par de sapato. Estava implícito nesse atendimento o resgate da indivi- 
dualidade de R .FA . à medida que agora tentasse cuidar do que é seu. Parece 
ser pouco, porém é muito se levarmos em conta o quadro patológico de R.F.A.
O segundo caso não fala de uma pessoa tão comprometida. N.S.C. tinha, na 
época da sua internação, 31 anos. Na verdade, aquela era sua segunda internação 
com diagnóstico psiquiátrico de politóxicofilia. Apesar do uso constante, a droga 
não havia comprometido sua capacidade simbólica e elaborativa. Na sua primeira 
internação, N.S.C. participava dos grupos psicoterápicos e foi atendida individu­
almente, porém não apresentava uma boa vinculação às abordagens.
1 7 0 A c o n s e l h a m e n t o P s ic o l ó g ic o C e n t r a d o m a P e s s o a
Na segunda internação, o quadro era marcado por uma grande ansiedade e 
forte irritabilidade causada pela abstinência da droga. Em uma crise de angústia 
mais intensa, N.S.C. procurou o plantão psicológico. Nos primeiros momentos do 
encontro ficou claro a preocupação da cliente em constatar se podia ou não con­
fiar no plantonista. Afirmava que a questão que a levara a procurar o plantão era 
meramente administrativa. Após vencer uma grande resistência, N.S.C. relatou 
que ouvira outras internas combinarem de trazer drogas para dentro da instituição 
após a licença hospitalar. N.S.C. mostrava-se extremamente irritada com o discurso 
de suas colegas ao ponto de quase perder o controle de suas atitudes. Tentava 
racionalizar suas emoções justificando que era incorreto o não respeito às regras 
do hospital.
Após ouvi-la por um longo período, apontei que tanta carga emocional não 
estava sendo mobilizada apenas pelo desrespeito a uma das regras do hospital. 
Na verdade, havia a possibilidade de N.S.C. ficar frente a frente com a droga, e 
isso a atemorizava, pois não acreditava na sua capacidade de controlar-se. A 
cliente conseguiu perceber sua fragilidade frente à droga e de como depositava 
toda a raiva mobilizada em suas colegas. Havia sido destruído naquele momento 
o discurso típico do toxicofílico, que costuma afirmar sua supremacia frente ao 
impulso de se drogar. A medida que a sessão prosseguia, N.S.C. foi entrando em 
contato com sua angústia e pode elaborar uma queixa. Após esse encontro, a 
vinculação de N.S.C. com as várias modalidades terapêuticas se modificou por 
completo. Ao sair de alta levou consigo um encaminhamento para prosseguir 
seu processo psicoterápico.
Além do caráter terapêutico, o plantão psicológico pode ter várias finalidades 
secundárias. Na instituição em questão, a composição dos grupos psicoterápicos 
tende a ser a mais homogênea possível, no que se refere à capacidade elaborativa 
e de simbolização. Apesar de termos plena consciência que a heterogeneidade 
pode enriquecer a dinâmica grupai, o pequeno prazo de internação não nos 
permite uma composição que possa levar a uma ação terapêutica mais lenta.
Com o intuito de facilitar o processo de integração ao contexto grupai e, conse­
qüentemente, otimizar o processo psicoterápico, os grupos são constituídos pela 
fusão das enfermarias de uma ala. Dessa forma os internos podem usufruir de um 
período de convivência maior. Isso facilita a interação no ato da sessão, diminuindo, 
assim, o período de adaptação ao processo. Portanto, para que esse fim seja 
alcançado, a composição das alas deve obedecer a uma orientação do setor de 
psicologia.
Durante o plantão psicológico, o plantonista tem a possibilidade de avaliar a 
capacidade do indivíduo em lidar com as intervenções, seu potencial elaborativo 
e sua capacidade de simbolização e, a partir desses dados, encaminhá-lo a uma 
enfermaria que o levará a um grupo mais condizente com seu potencial. Nesse
P l a n t ã o p s ic o l ó g ic o hm h o s p it a l p s i q u iá t r ic o 171
caso, o plantão psicológico serve como um instrumento de organização estru tu ­
ral-do setor de psicologia.
As exigências da sociedade moderna levaram os profissionais de saúde a um 
processo de especialização intenso que acabou gerando uma visão fragm entada 
do ser humano. Os profissionais se restringem às suas especialidades e esquecem 
de ver o indivíduo como um todo. O psicólogo não é exceção, pois m uitas vezes 
o cliente é visto como um grande “aparelho psíquico”.
O plantão psicológico é um instrumento que se propõe a facilitar o resgate de 
uma visão mais integrada do cliente (Psico-Bio-Social). O plantonista não deve 
estar atento apenas às queixas psicológicas do cliente, mas sim, no modo com o a 
situação conflitiva interfere nas várias esferas da vida da pessoa. Acolher a ex p e­
riên cia global do c lie n te , e não o rie n ta r os rumos do en co n tro p e la sua 
especialidade, coloca o p lantonista em uma posição privilegiada para fazer 
encaminhamentos quando necessário. N o hospital psiquiátrico não é diferente. 
Após o plantão, o ato de encaminhar para os serviços internos (terapia ocupacional, 
serviço social, clínico geral) ou externos tornou-se mais fácil e eficiente.
Apesar da abrangência dessa modalidade terapêutica, existem alguns limites 
que impedem ou dificultam a relação de ajuda. Esses limites tornam -se mais 
evidentes no contexto hospitalar.
Os quadros esquizóides onde o indivíduo tem uma exclusão sistem ática da 
vida afetiva, ou esteja mergulhado em um profundo autismo bleuleriano, não 
irão poder aproveitar-se dessa abordagem. Para que haja um encontro e uma 
relação terapêutica eficiente c necessário que a pessoa mantenha relativam ente 
preservada sua capacidade de interação. Quadros maníacos caracterizados por 
uma profunda agitação psicomotora, aceleração do pensamento e alterações da 
imaginação também são de ambição limitada. O máximo que pode ser feito é 
estabelecer limites externos para a exaltação, visto que os internos estão ausentes. 
Mesmo os clientes que não estejam com suas capacidades básicas prejudicadas 
pela doença irão beneficiar-se de maneira limitada se não tiverem disponibili­
dade interna para se auto-conhecerem . Os limites não devem ser atribuídosapenas a lesões residuais causadas pela doença ou a indisponibilidade interna 
do cliente, pois dessa forma a responsabilidade do fracasso recai som ente no 
cliente. Muitas vezes é o plantonista que limita a potencialidade do encontro. 
Não é todos os dias que o plantonista sente-se apto para estabelecer uma relação 
em pática. A relação de ajuda com pessoas em quadro psicótico exige uma 
disponibilidade imensa que vai depender de como o plantonista lida com seus 
conteúdos internos. Fatores externos à relação de ajuda também limitam sua 
abrangência. Questões ligadas à organização técnica institucional, excesso de 
m edicação, efeitos co laterais dos psicofárm acos e e tc ., são extrem am ente 
lim itantes.
1 7 2 A c o n s e l h a m e n t o P s ic o l ó g ic o C e n t r a d o n a P e s s o a
O plantão psicológico, com sua proposta inovadora, proporcionou mudanças 
significativas na dinâmica hospitalar. Constatam os de maneira empírica uma 
diminuição nos níveis de ansiedade e irritabilidade nos setores que têm acesso 
a esse serviço. A irritabilidade e a agressividade, excluindo os quadros onde tal 
manifestação faz parte integrante da estrutura nosográfica (encefalopatias por 
exemplo), podem ser interpretadas como sintomas provenientes da inadaptação 
à instituição e à situação de ruptura no processo de vida do indivíduo. Se o 
cliente tem um espaço onde ele pode falar de sua internação e de suas conse- 
qüências, este não precisará interagir com o meio influenciado por essa forte 
carga afetiva. O interno não precisará projetar sua irritabilidade para o meio- 
externo, pois poderá utilizar-se do plantão para colocar o afeto na sua verdadeira 
representação. Portanto, o plantão psicológico tem se mostrado uma eficiente 
válvula de escape para as tensões institucionais. Talvez por ser uma forma de 
atendimento com características diferentes das tradicionais, os internos se per- 
mitem procurar o plantão para falar da relação com a instituição. Nesses casos, 
a crise e o sofrimento psíquico são colocados em segundo plano, e o cliente 
passa a abordar as atitudes institucionais. Além do sinal de saúde, tal atitude 
evidencia uma mudança na qualidade da relação psicólogo-cliente.
O setor de psicologia parece ter assumido um lugar muito mais próximo da 
clientela graças à disponibilidade e ao acolhimento que caracterizam o plantão 
psicológico.
A resposta positiva que o plantão psicológico gerou nos internos mobilizou- 
nos para ampliarmos a experiência. Se tal abordagem permite que pessoas com 
acen tu ad o nível de com p rom etim en to possam estar v ivenciand o novas 
experiências e se reorganizando a partir delas, nada impede de a utilizarmos 
como instrumento terapêutico junto às famílias dos internos e à própria instituição.
A experiência nos mostra que o processo terapêutico torna-se mais eficiente 
quando compreendemos a doença mental como um fenômeno amplo que não se 
encerra somente naquele que apresenta o quadro psicopatológico. O contexto 
social — e principalmente a família — tem papel relevante no processo de 
adoecimento e desencadeamento da crise. A partir da segunda metade do século 
X X vários autores abordaram a importância desta dinâmica relacional. Apesar 
dos progressos da genética e da neurologia, a ação do meio continua a ter papel 
relevante no desenvolvimento psíquico do indivíduo.
Partindo deste pressuposto, o Departamento de psicologia viu a necessidade 
de ampliar o seu espectro de ação. Apesar de o indivíduo institucionalizado ser o 
alvo principal de nossa ação, percebemos que nossa intervenção poderia ser poten­
cializada se atingíssemos também a família. A intenção é aproveitar este momen­
to de ruptura que a doença mental e a própria necessidade de internação geram 
nesta dinâmica familiar pouco adaptada e patogênica e tentar fazer com que
P l a n t ã o p s ic o l ó g ic o e m h o s p it a l p s iq u iá t r ic o 173
ambas as partes (familiares-indivíduo institucionalizado) tenham uma vivência 
diferente da anterior. A princípio, tentamos promover esta intervenção através da 
convocação dos familiares. No entanto, a resposta era bastante pequena. A família 
que com parecia não se colocava no lugar de cliente e prevaleciam fortes 
sentimentos persecutórios que bloqueavam o acesso a uma intervenção eficaz. O 
discurso permanecia voltado ao elemento familiar internado e a convocação era 
vivenciada como um ato agressivo da instituição. Conseqüentemente, surgiam 
fortes resistências e atitudes defensivas.
Estava sendo ignorado nesta proposta uma das leis básicas da intervenção 
terapêutica. Qualquer proposta que vise mudanças em uma estrutura conflitiva 
só pode ter êxito se ambas as partes envolvidas (cliente - psicoterapeuta) sabem 
de seu papel e o aceitam. E necessário que a pessoa identifique em si a demanda 
e faç9 um pedido de ajuda. Sendo assim, configura-se o lugar de cliente (aquele 
que sofre e se propõem a intervir neste sofrimento) e psicoterapeuta (aquele 
que se propõe a acompanhar e a ajudar neste processo de intervenção).
Novamente o plantão psicológico^surgia como uma opção eficaz para conci­
liar o que é aparentemente inconciliável. Foram abertos vários horários na rotina 
do hospital para que as famílias pudessem se beneficiar desse espaço terapêutico. 
Esses horários ficavam estrategicamente próximos do horário de visitas e da 
conversa com o médico. Sendo assim, quando a família vinha visitar seu doente 
poderia, se desejasse, beneficiar-se do plantão psicológico familiar. Promovemos 
na equipe e na instituição um clima propício para que as famílias se sentissem 
mobilizadas e seguras para utilizarem esse espaço.
A princípio o número de famílias que procuravam o serviço era pequeno. A 
tendência era de comparecer para obter informações do familiar internado. Cabia 
ao plantonista localizar e resgatar a angústia do cliente e deixar claro que aquele 
espaço era de uso exclusivo dele, se assim desejasse. Conseqüentemente, os 
primeiros “aventureiros” voltavam e traziam novos clientes. O embrião deste 
projeto de atendimento foi implantado em 1995; hoje percebemos que o número 
de famílias beneficiadas aumentou significativamente. Nos primeiros meses do 
ano de 1997 atendemos o dobro de famílias que no mesmo período do ano ante.rior. 
Frente a esta resposta positiva surgem novos questionamentos. Temos como 
projeto futuro examinarmos a correlação entre o comparecimento da família ao 
plantão psicológico e os índices de reinternação.
A grande vantagem do plantão psicológico é a possibilidade de gerar uma 
intervenção eficiente e breve através de uma técnica versátil que permite uma 
ampla aplicabilidade. Tal flexibilidade só é possível porque todo o processo de 
intervenção fica centrado no cliente. Podemos atender a pessoa internada com 
grave comprometimento, a sua família, e até mesmo a instituição que a acolhe de 
uma forma indireta.
1 7 4 A c o n s e l h a m e n t o P s ic o l ó g ic o C e n t r a d o n a P e s s o a
Partindo do pressuposto que uma instituição está bem quando os membros 
que a compõem estão bem, fez-se necessário em um determinado momento da 
história do hospital oferecer um espaço de continência para seus funcionários. 
Percebíamos o quanto o contato constante com a doença mental sem o devido 
respaldo psicológico criava uma vivência interna ameaçadora, que refletia* no 
trato com o cliente e na própria dinâmica institucional. A demanda era evidente, 
porém não possuíamos instrumentos para nela intervir. Não podíamos encaminhar 
todos os funcionários para psicoterapia, pois sabíamos da ineficácia e da 
impossibilidade dessa conduta. Novamente recorremos à estrutura do plantão 
psicológico para dar conta dessa demanda institucional. O funcionário passou a ' 
possuir um espaço para expressar suas angústias, seus anseios e se instrumentalizar 
para dar conta das exigências internas e do seu cotidiano. Este pôde procurar o 
plantão quando sentia necessidade ou desenvolvia um projetopsicoterápico 
breve na própria instituição. Se desejasse, poderia ser encaminhado para uma 
psicoterapia de longo curso fora da estrutura do hospital.
Após a implantação deste serviço, percebemos que as tensões institucionais 
tornaram-se menos emergentes e o acolhimento ao doente mental, mais efi­
ciente. Desenvolver um projeto de plantão psicológico para os funcionários exigiu 
certos cuidados. Primeiro, tivemos que contar com a compreensão da direção, 
pois o plantão ocorre durante o horário de trabalho. Sendo assim, muitas vezes 
o funcionário abandona seu posto para beneficiar-se do atendimento. Tal situação 
foi contornada graças ao sucesso das experiências com os internos e seus fami­
liares. Em seguida, a situação exigia que o plantonista tivesse uma vinculação 
especial com a instituição. Consideramos improdutivo que o plantonista respon­
sável pelo atendimento aos internos e seus familiares também atendesse os fun­
cionários. A proximidade do vínculo profissional poderia intervir na liberdade 
de expressão do cliente. Sendo assim, o plantonista que atendesse os funcionários 
teria exclusividade nesta tarefa. Seu trabalho ficaria totalm ente voltado à 
instituição. Hoje, além do plantão psicológico aos funcionários, grupos operativos 
são realizados com a equipe de atendentes de enfermagem visando o aprimora­
mento pessoal e inter-relacional.
Como havia dito nas primeiras linhas deste trabalho, não tenho a intenção 
de esgotar a questão. A cada plantão realizado nos deparamos com novas 
potencialidades que nos instigam para novos estudos e pesquisas. O plantão 
psicológico é um instrumento viável para o resgate da cidadania e a reinteração 
do indivíduo institucionalizado no jogo social, assim como é eficaz para o pro­
cesso de aprimoramento humano.
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