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Colagem no Psicodiagnóstico - cap 6

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107 
Capítulo VI 
Colagem: uma prática no 
psicodiagnóstico 
Ligia Corrêa Pinho Lopes 
Maria Fernanda Mello Ferreira 
Mary Dolores Ewerton Santiago 
Imagens são palavras que nos faltaram. 
Manoel de Barros 
1. Introdução
A prática da avaliação psicológica de crianças, que, por definição, 
é um processo que se propõe chegar a uma compreensão de determi- 
nado fenômeno, apresentado como “queixa” pelos pais ou responsá- 
veis que buscam ajuda psicológica para seu filho, coloca o psicólogo 
diante da tarefa de encontrar sentido no conjunto de informações que 
lhe são apresentadas e organizá-las. 
108 SILVIA ANCONA-LOPEZ 
Para isso, deve possuir conhecimentos teóricos e dominar pro- 
cedimentos e práticas com o objetivo último de que, ao entender 
determinada situação-problema, possa proporcionar, por meio de 
planejamento e uso de intervenções, benefícios às pessoas envolvidas, 
criança e seu grupo familiar, promovendo a saúde e o desenvolvi- 
mento psíquico. 
A avaliação psicológica ocupa um lugar de destaque na história 
da psicologia, na consolidação da profissão como campo de conheci- 
mento e prática, e associou-se, inicialmente, ao trabalho médico, que 
lhe imprimiu forte influência. Foi: 
Com o uso de testes, principalmente junto a crianças, que os psicólogos 
ganharam maior autonomia. Nesse trabalho, esforçavam-se por deter- 
minar, através dos testes, a capacidade intelectual das crianças, suas 
aptidões e dificuldades, assim como sua capacidade escolar (Ancona- 
-Lopez, 1984, p. 5). 
A utilização de testes psicométricos que, por princípio, visavam 
identificar, classificar e medir características, foi, e continua sendo, 
uma prática bastante criticada, uma vez que grande parte das discus- 
sões entre os profissionais das ciências humanas no país está voltada 
para a preocupação com processos de exclusão social, ideia subjacen- 
te aos métodos classificatórios. 
Desde a regulamentação da profissão de psicólogo no Brasil, na 
década de 1960, a avaliação psicológica tem sido amplamente deba- 
tida, passando por reflexões e modificações no que se refere a instru- 
mentos e recursos utilizados. Mesmo assim, como apontado na revis- 
ta Diálogos (Ciência e Profissão, n. 3, dez. 2005), há diversidade de 
compreensões, usos e objetivos. 
Observamos na experiência e no contato com os supervisores 
dos Centros de Psicologia Aplicada da Universidade Paulista (Unip), 
que trabalham com avaliação psicológica, uma postura comum. Ape- 
sar de partirem de pressupostos e métodos por vezes diferentes para 
compreender o homem, configurando uma diversidade de abordagens, 
PSICODIAGNÓSTICO INTERVENTIVO 109 
prevalece a ideia de que se faz necessária a organização de conheci- 
mentos que se referem à vida biológica, intrapsíquica e social do 
cliente, como citado por Ancona-Lopez (1984), entre outros. 
Os encontros e discussões, formais ou informais, visam com- 
partilhar experiências, falar sobre supostas conquistas e dificuldades 
do dia a dia no atendimento a crianças e pais. Há uma inquietação 
que se origina da constatação de que nossos recursos, teóricos ou 
instrumentais, são limitados diante das diferentes demandas psico- 
lógicas dos clientes, dadas as múltiplas possibilidades de expressão 
da subjetividade. 
Dessa forma, entram em jogo questões a respeito da denomina- 
ção do que fazemos, de qual seria o melhor termo a empregar: ava- 
liação psicológica, diagnóstico psicológico ou psicodiagnóstico, sendo 
que, concretamente, o que buscamos nesse atendimento é chegar a 
uma compreensão da demanda e à possibilidade de propiciar ao 
cliente uma compreensão e mudança, que por sua vez permitam 
melhor qualidade de vida aos envolvidos. 
Os recursos utilizados, tais como entrevistas com pais (entrevis- 
ta inicial, entrevista de anamnese, entrevistas devolutivas), observa- 
ções lúdicas, testes, visita à escola e visita domiciliar, têm como ob- 
jetivo ajudar no processo de investigação e na consequente 
compreensão da problemática apresentada pelos pais ou responsáveis 
pela criança. 
Essa prática passa por reformulações e adaptações constantes, 
tanto em função da demanda psicológica dos clientes que buscam os 
Centros de Psicologia Aplicada, quanto em função das modificações 
pedagógicas pelas quais o curso de Psicologia passa, tendo em vista 
as diretrizes do MEC para o ensino superior. 
Além disso, a Resolução n. 002/2003, do Conselho Federal de 
Psicologia, acerca dos testes psicológicos, trouxe mais um desafio para 
aqueles que trabalhavam com avaliação psicológica, visto que tais 
instrumentos não poderiam mais ser utilizados antes de passarem 
por uma revisão. No artigo 16 da referida Resolução constava: “Será 
considerada falta ética, conforme disposto na alínea c do art. 1º e na 
110 SILVIA ANCONA-LOPEZ 
alínea m do art. 2º do Código de Ética Profissional do Psicólogo, a 
utilização de testes psicológicos que não constam na relação de testes 
aprovados pelo CFP, salvo os casos de pesquisa”. 
O reflexo dessa medida na prática clínica pode ser considerado 
a partir de duas perspectivas. De um lado, a suspensão dos proce- 
dimentos que costumávamos utilizar no processo de avaliação 
psicológica, como, por exemplo, alguns testes projetivos infantis 
como CAT-A, resultava não somente num empobrecimento de re- 
cursos para uma compreensão mais ampla e profunda do cliente, 
como também na falta de “mediadores” que pudessem facilitar a 
comunicação devolutiva com a criança. Vale lembrar que, no psico- 
diagnóstico interventivo, os desenhos e as histórias eram frequen- 
temente utilizados como “facilitadores” do diálogo com a criança. 
Por outro lado, essa mesma suspensão nos estimulava a revisar 
nossa prática clínica e a buscar outros procedimentos que pudessem 
nos oferecer, de alguma forma, a possibilidade de lidar com estas 
faltas. 
A atividade de colagem, proposta por Violet Oaklander (1980) 
como um recurso a ser utilizado no processo psicoterápico de crian- 
ças e adolescentes, despertou nossa curiosidade e interesse. Oaklander, 
que trabalha com referencial teórico da Gestalt, considera que: “A 
colagem é qualquer desenho ou quadro feito grudando-se ou pren- 
dendo-se materiais de qualquer espécie a um fundo plano, tal como 
um pedaço de pano ou papel” (1980, p. 99). 
Tal descrição remete a uma atividade simples e ao mesmo tempo 
significativa, dado que “pode ser utilizado como experiência sensorial, 
e também como manifestação emocional” (p. 101). É interessante 
notar que Oaklander refere-se à colagem com diversas denominações: 
“atividade de colagem”, “exercício de colagem”, “técnica de colagem”, 
“técnica projetiva”. Contudo, é esta última acepção que subjaz a al- 
gumas de suas afirmativas, tais como: “O processo de fazer a colagem 
ou relato posterior acerca da mesma pode ser o mais significativo” 
(idem, ibidem, p. 101; grifo nosso). Ainda no mesmo texto, ela acres- 
centa: “Muita coisa é revelada através da seleção de figuras. O estado 
PSICODIAGNÓSTICO INTERVENTIVO 111 
de espírito revelado pelo conjunto escolhido pode contar algo sobre 
o que a criança está sentindo naquele momento, ou na sua vida em
geral” (ibidem, p. 102-3). Parece claro que ela trabalha com a ideia de 
que a colagem é representativa do mundo interno da criança, de seus 
sentimentos e pensamentos. 
Ainda segundo a autora, pode se trabalhar com a colagem in- 
dividual ou em grupo com diferentes temas e de inúmeras maneiras. 
Dentre os variados tipos de colagem, Oaklander (1980, p. 100) des- 
taca que: “Um bom trabalho de colagem pode ser feito simplesmen- 
te com figuras de revistas, uma tesoura, cola, e algum tipo de fundo”. 
Foi com essas ideias que começamos a propor aos nossos clientes 
a realização de uma colagem. Nossa pretensão inicial era apenas ob- 
servar como eles (os clientes) se comportavam diante dessa tarefa, se 
ficavam motivados ou não, se rejeitavam algumas figuras, quais co- 
mentários faziam e qual era sua atitude com relação ao trabalho 
realizado, istoé, se queriam ou não levar para casa a colagem feita 
em uma cartolina. 
Com o decorrer do tempo, percebemos que a atividade de cola- 
gem se revelava cada vez mais como um recurso riquíssimo, tanto 
para o conhecimento do cliente quanto para aplicação de intervenções. 
2. Utilização da colagem
Descreveremos a seguir o nosso modo de trabalhar com a 
colagem. 
Material utilizado: figuras de revistas, tesouras, colas, cartolinas 
para serem usadas como fundo, incluindo lápis preto e de cor, cane- 
tinhas e/ou giz de cera, caso haja interesse em complementar a ati- 
vidade com desenhos ou escrita. 
As figuras que são oferecidas na ocasião da utilização da colagem 
são previamente recortadas pelos estagiários e supervisores, e devem 
abordar diversos temas, como pessoas, situações, animais, objetos, 
112 SILVIA ANCONA-LOPEZ 
alimentos, transportes, móveis, ambientes etc., em quantidade sufi- 
ciente para permitir que haja uma escolha por parte do cliente. 
Por se tratar de figuras recortadas de revistas, deve-se prestar 
atenção ao verso das figuras selecionadas, pois estas podem apresen- 
tar imagens também interessantes e que por vezes acabam sendo es- 
colhidas pelo examinando, ou imagens que podem ter uma conotação 
imprópria, como nus ou insinuações de sexo. Evita-se usar imagens 
de artistas e personagens, pois estas podem carregar um significado 
cultural restrito, limitando a análise e as associações do cliente. 
Na nossa prática, os estagiários chamam esta parte do trabalho 
de “recortagem”. Ela costuma ser proveitosa para todos, pois o exer- 
cício desenvolve a capacidade de associações entre as imagens que 
selecionam e as diferentes representações possíveis. 
A atividade de colagem pode ser proposta em qualquer momen- 
to do processo psicodiagnóstico, mas, quando ocorre após alguns 
atendimentos e procedimentos, deve-se tomar cuidado para que as 
figuras selecionadas pelos estagiários não sejam apenas de imagens 
associadas a aspectos já revelados pela criança ou família. Portanto, 
é preciso verificar a quantidade de figuras selecionadas e a variedade 
de temas antes de utilizá-las com a criança. 
Em grupo ou individualmente, é proposto um tema para o tra- 
balho das crianças considerando aspectos a ser avaliados, tais como: 
autoimagem, percepção de situações internas, pensamentos e senti- 
mentos. Assim, pedimos que façam uma colagem representando 
aquilo de que gostam ou não gostam em si mesmos, ou escolham 
figuras que indiquem do que têm medo e quais são as suas preocu- 
pações. Outro tema proposto com frequência é o “Álbum de família”, 
que convida a criança a utilizar o material disponível para represen- 
tar as pessoas de sua família. Outras vezes, apenas disponibiliza-se 
o material sem propor um tema. Neste caso, a criança trabalha livre- 
mente e ao final dá um título a sua produção. 
Para a realização da colagem, as figuras recortadas são dispostas 
de modo aleatório, são escolhidas pelo cliente e coladas em uma 
PSICODIAGNÓSTICO INTERVENTIVO 113 
cartolina. Durante a escolha, observa-se a forma de exploração, falas, 
figuras que parecem chamar a atenção, mas não são escolhidas etc. É 
possível que a criança utilize o material oferecido, por exemplo, ca- 
netinhas e tesouras, para complementar ou modificar as figuras. 
Depois de concluída a colagem, pede-se para que atribua um signi- 
ficado a ela, ou que apresente o seu cartaz o grupo de estagiários e 
para as outras crianças, o que pode variar, dependendo da relação 
estabelecida no grupo. 
Com a prática, notamos que as crianças queriam mostrar para 
os pais ou para os responsáveis as suas produções. Passamos então 
a perguntar para as crianças se gostariam que o resultado desta ati- 
vidade fosse apresentado para eles na presença delas e, em caso 
afirmativo, ao final do atendimento convidávamos os responsáveis 
presentes na clínica a entrar na sala para ver os trabalhos. Nessas 
ocasiões, algumas crianças começaram a sugerir um tipo de “jogo” 
de adivinhação, que consistia em apresentar aos pais as cartolinas de 
todas as crianças, questionando-os se identificavam qual era a pro- 
dução de seus filhos. 
Nessas situações, os pais se veem diante de uma mensagem 
simbólica que precisam decifrar, dar um significado, e mostrar ali, 
diante de todos, o conhecimento que têm do filho. Quando esta es- 
tratégia é adotada, muitas vezes são necessárias a discussão e a com- 
preensão conjunta dos “acertos” ou “erros” por parte dos pais e das 
manifestações de felicidade ou frustração por parte das crianças. 
Discute-se a compreensão que a atividade lhes proporcionou, 
observando-se a construção de um significado conjunto, o que per- 
mite algumas ressignificações. Nota-se que essa atividade de colagem 
compartilhada com os pais permite maior aproximação afetiva e re- 
conhecimento por parte dos pais a respeito dos sentimentos e da 
problemática de seus filhos, além de facilitar a elaboração da avalia- 
ção e sua compreensão por parte dos avaliados. 
A colagem também pode ser proposta para os pais ou responsá- 
veis na presença dos filhos. Neste caso, a instrução dada costuma ser 
a de representar o “Álbum de família” sem explicitar se devem fazê- 
114 SILVIA ANCONA-LOPEZ 
-lo em conjunto ou individualmente, o que é observado e discutido 
ao término da atividade. Após o registro (fotos, relatório descritivo e 
análise) das produções realizadas, as cartolinas são devolvidas para 
os clientes. Por vezes, ao serem observadas em outro momento, pelos 
pais e crianças, promovem mais reflexões. 
3. Análise
De modo geral, consideram-se: 
• Tempo de reação.
• Postura e modo de reação — observação a distância, ou im- 
pulsividade, descuido etc.
• Figuras escolhidas, figuras coladas, figuras abandonadas.
• Tema preferido.
• Tamanhos das figuras.
• Uso do espaço da cartolina.
• Uso do verso da cartolina.
• Localização das figuras na cartolina, coladas de forma aleató- 
ria ou ligadas, apresentando uma organização ou aglutinação.
• Sentimentos expressos, impressões que a colagem causa ao
ser observada.
• Figura central e/ou localização
• Recortar a figura já cortada — para caber na cartolina, ou para
separar, excluir elementos.
• Associações, explicações, falas durante a atividade.
• Uso do lápis de cor, canetinhas — para molduras, ligações,
complementos, abandono da colagem para fazer desenhos.
• Modo de utilização da cola — em excesso, colocada cuidado- 
samente, pouca quantidade.
PSICODIAGNÓSTICO INTERVENTIVO 115 
Quando a colagem é realizada por pais e filhos, no momento da 
análise levamos em conta todos os aspectos anteriormente descritos, 
sendo o mais importante aquele que se refere à interação entre pais 
e crianças e as significações dadas por eles às figuras escolhidas. Ci- 
tamos dois exemplos esclarecedores. 
A colagem de “tema livre” realizada por pai e filho adolescente 
de 12 anos, que apresentava mau comportamento em casa e na es- 
cola, mostrou aspectos significativos da interação entre ambos. Ape- 
sar de previamente à realização da tarefa terem combinado que di- 
vidiriam igualmente o espaço disponível e que cada um deles 
realizaria a atividade que quisesse, o pai, no decorrer do trabalho, 
foi gradativamente ampliando “sua área”, restando ao filho apenas 
um pequeno espaço na cartolina para colar as suas figuras. A atitude 
do pai contribuiu para maior compreensão da problemática do ado- 
lescente, uma vez que ele não respeitava os limites acordados com 
o filho.
Outra colagem conjunta realizada por mãe e filha também re- 
sultou muito interessante. A criança de 8 anos foi levada a atendi- 
mento psicológico por apresentar dificuldades de aprendizagem e 
atitude de dependência em relação à mãe. Durante a colagem com 
“tema livre” cada escolha da criança era acompanhada de um co- 
mentário da mãe: “Não, essa é feia”, “Nossa! Muito triste”, “Não, 
essa não” etc. Ao final, nenhuma figura inicialmente escolhida pela 
criança foi incluída, mas somente aquelas aprovadas pela mãe. Des-se modo, apesar de a mãe ter mostrado disposição para colaborar 
com a filha no desempenho da tarefa, ela não permitiu que a crian- 
ça realmente se expressasse. Ficou evidente que o comportamento 
da mãe intensificava a atitude de dependência da filha com relação 
a ela. 
A observação da qualidade da interação entre pais e filhos pos- 
sibilita tanto uma maior compreensão diagnóstica das dificuldades 
de ambos, quanto nos permite fazer intervenções que ampliem o 
entendimento que cada integrante do grupo familiar tem sobre elas. 
116 SILVIA ANCONA-LOPEZ 
A seguir apresentaremos outros exemplos, acompanhados de 
imagens. 
menina, 9 anos de idade 
Figura 1. Autorretrato. 
Figura 2. Álbum de família. 
PSICODIAGNÓSTICO INTERVENTIVO 117 
Os pais, embora separados, compareceram juntos para a primei- 
ra entrevista, preocupados com o fato de a filha de 9 anos apresentar 
falta de apetite. Ela foi encaminhada para o atendimento psicológico 
pela Unifesp — Ambulatório de Distúrbios do Apetite —, pois fazia 
acompanhamento no local há um ano. Apesar de não comer adequa- 
damente, o seu desenvolvimento decorreu dentro do que era espera- 
do, em termos de idade, peso e altura. Apresentava somente proble- 
mas intestinais. A mãe enfatizou sua preocupação com a alimentação 
e o pai relatou que observava dificuldades gerais, dando como exem- 
plos a determinação da filha na escolha de roupas, a teimosia e o fato 
de não ceder facilmente. Ela residia com a mãe e a irmã de 17 anos 
de idade, e as meninas ficavam com o pai a cada 15 dias. 
Quanto à alimentação, a mãe contou que costumava oferecer 
refeições variadas, como torta de ricota com espinafre, berinjela à 
parmegiana e saladas, buscando todas as formas para que as filhas 
se alimentassem bem. Acrescentou que a menina não demonstrava 
interesse por qualquer tipo de alimento, nem mesmo por doces. Na 
atividade de colagem, pudemos constatar junto com os pais alguns 
dos desejos e interesses da menina que não eram reconhecidos por 
eles, como, por exemplo, gosto por doces, preocupação com a apa- 
rência, desejo de ver os pais juntos etc. 
118 SILVIA ANCONA-LOPEZ 
menina, 11 anos de idade 
Figura 3. Autorretrato. 
Figura 4. Álbum de família. 
PSICODIAGNÓSTICO INTERVENTIVO 119 
Os pais procuraram atendimento psicológico por indicação da 
escola em função do comportamento da filha descrito por eles, que 
era diferente do das outras crianças da sua idade. Contaram que ela 
era muito quieta, introvertida e sem iniciativa. Disseram também que 
ela apresentou desenvolvimento geral mais lento, quando comparado 
com o desenvolvimento do filho mais velho, de 17 anos de idade. 
Na ocasião da atividade de colagem, a menina revelou interesses 
variados relacionados a artes, pinturas, relação com a mãe, atividades 
físicas etc. O resultado final, bastante colorido e diversificado, quando 
apresentado junto com os trabalhos das outras crianças do grupo, com 
o consentimento delas, foi reconhecido pela mãe, porém não pelo pai,
que parecia não conseguir percebê-la com tal capacidade de expressão. 
Quando solicitamos aos pais e à criança que realizassem a ativi- 
dade de colagem do “Álbum de família”, a postura da menina chamou 
atenção. Na presença dos pais, ela mostrou-se assustada, afastando-se 
deles e se aproximando de uma das estagiárias, como se quisesse 
evitar ser exposta ou questionada. Percebemos que não houve uma 
atitude autoritária ou exigente explícita por parte dos pais naquela 
situação, mas parecia haver um tratamento de cobrança sútil, implí- 
cito, como se ela não pudesse “errar” ao responder aos questiona- 
mentos deles relativos a quem era quem na família de figuras coladas. 
Ela se comportava como se tivesse algum tipo de “retardo”. 
Figura 5. Álbum de família dos pais. 
120 SILVIA ANCONA-LOPEZ 
menino, 13 anos de idade 
Figura 6. Autorretrato. 
Figura 7. Álbum de família. 
PSICODIAGNÓSTICO INTERVENTIVO 121 
A mãe procurou atendimento psicológico por encaminhamento 
da escola, pois o filho apresentava dificuldades de aprendizagem. 
Apesar de a criança ter feito anteriormente uma avaliação psicope- 
dagógica, os pais não compreendiam o que acontecia em relação à 
aprendizagem. De acordo com a mãe, o filho não era uma criança 
agitada ou agressiva, e sim dispersa; não demonstrava interesse e não 
prestava atenção nas aulas, e também não fazia suas tarefas. Parecia 
estar sempre “no mundo da lua”, não respondendo aos questiona- 
mentos dos professores. A mãe referiu-se a ele como “cabeção”. 
Na atividade de colagem, o menino mostrou dificuldade para 
escolher as figuras que o representassem, sendo que o resultado final 
evidenciava um vazio na cartolina. A figura do avô apareceu como 
sendo de grande importância para ele, e, na representação da família, 
projetou a situação para o futuro, indicando desejar crescer logo. Na 
presença da mãe, permaneceu calado, e ela aparentemente não reco- 
nheceu o trabalho realizado por ele, ou por não percebê-lo, ou por 
não querer aceitá-lo como se mostrava. O menino não expressou 
sentimentos, demonstrando também uma autoimagem empobrecida, 
pois não soube falar de si e de suas próprias características. 
122 SILVIA ANCONA-LOPEZ 
menino, 12 anos de idade 
Figura 8. Autorretrato. 
Figura 9. Álbum de família. 
PSICODIAGNÓSTICO INTERVENTIVO 123 
A mãe procurou atendimento psicológico por indicação da esco- 
la, com a queixa de dificuldade de aprendizagem. Na ocasião, contou 
que o filho sempre foi uma criança “atrasada em tudo”, que aprendeu 
a andar no “último prazo”, falou com quase três anos, junto com sua 
irmã de dois anos. Embora fosse descrito pelos professores como uma 
criança inteligente, entregava sempre as provas “em branco”, mas em 
prova oral respondia a tudo. Sua caligrafia era feia e escrevia em letra 
bastão. 
Na atividade de colagem com o tema “Autorretrato”, notou-se 
que o menino representou a si mesmo com uma grande quantidade 
de figuras de objetos de seu interesse, indicando possivelmente ca- 
rência afetiva revertida em característica consumista. A única repre- 
sentação humana foi por meio da figura de um exército, que poderia 
simbolizar a falta de identidade somada a aspectos de repressão e de 
controle. Fez posteriormente “Álbum de família” utilizando muitas 
figuras de prédios, que refletia a sua vivência familiar, visto que a 
mãe como arquiteta desenvolvia seus projetos em casa; além disso, a 
ausência de figuras humanas remetia, mais uma vez, a dificuldades 
afetivas. Quando a produção da criança foi apresentada à mãe, o 
menino ficou aparentemente amedrontado com a decepção que ela 
mostrou em relação ao seu trabalho. 
124 SILVIA ANCONA-LOPEZ 
outras análises 
Alguns comentários poderiam ser acrescentados com a finalida- 
de de ressaltar a riqueza expressiva da colagem. 
Como nos referimos anteriormente, o uso do espaço também é 
um indicador importante. Algumas vezes, a criança utiliza todo o 
espaço, ou cola as figuras umas sobre as outras, resultando em uma 
produção caótica que pode refletir tanto aspectos emocionais como 
comprometimentos de outra ordem. Outras vezes, a imagem escolhi- 
da tem maior significado, dependendo da posição que ocupa na 
cartolina, central ou não, invertida ou não. Um exemplo curioso 
deste fato ocorreu na colagem de um menino de 8 anos de idade, que 
apresentou refluxo no início da vida e, por vomitar na perua escolar, 
foi apelidado de “mister vômito” por seus colegas. A primeira figura 
escolhida por ele foi de uma mãe amamentando um bebê colocada 
de ponta-cabeça no centro da cartolina. 
A escolha de figuras para realização da colagem também pode 
ser utilizada pela criança para revelação de segredos familiares, tais 
como situações que envolvem uso de drogas, prisão e alcoolismo por 
parte de algum membro da família. Tais imagens oferecem a possibi- 
lidade de incluir esses assuntos nas intervenções a serem realizadas, 
tanto com as crianças, quanto com os pais. 
Outra conduta da criança que merecedestaque é a de recortar uma 
figura já cortada com o objetivo de separar ou excluir alguns de seus 
elementos ou, simplesmente, para fazê-la caber na cartolina. A imagem 
fica destituída então de uma parte, o que indica que a criança não quer 
aceitar o significado a ela atribuído. Por exemplo, excluir um dos mem- 
bros da figura de uma família, sendo que, no material oferecido, cons- 
tam diversos tipos de configurações familiares. O ato de recortar, ex- 
cluindo ou dividindo as partes constitutivas do todo de uma figura, 
parece obedecer à necessidade da criança de explicitar seu desejo. 
Raramente ocorre de a criança abandonar a colagem para fazer 
desenhos utilizando o material gráfico oferecido. Tal comportamento 
pode ser entendido como uma oposição ao psicólogo ou como uma 
PSICODIAGNÓSTICO INTERVENTIVO 125 
resistência em realizar a tarefa, que, na concepção de Oaklander (1980), 
a colagem remete a criança a experiências sensoriais primitivas base- 
adas no tato e na visão. Vale lembrar que desenhar ou escrever, como 
também ocorre às vezes, são habilidades que surgem em etapas pos- 
teriores do desenvolvimento da criança. 
Menos frequente ainda é a criança assinar ou escrever o seu nome 
ao término da colagem. Exceções ocorrem quando ela teme que sua 
produção não seja identificada pelos pais no “Jogo de adivinhação”, 
anteriormente mencionado, ou quando ela tem necessidade de rea- 
firmar sua identidade. 
Alguns indícios de criatividade podem ser observados quando 
a criança integra em um todo harmônico o uso dos materiais dispo- 
níveis, completando com desenhos as imagens escolhidas. 
Sakamoto e Bacchereti (2007) abordam a utilização da técnica de 
recorte-colagem na psicoterapia, orientação profissional e psicodiag- 
nóstico de adolescentes e de adultos, porém não trazem detalhes de 
suas experiências clínicas. Enfatizam, contudo, sua importância para 
viabilizar a expressão de pacientes muitos ansiosos ou com dificul- 
dades de comunicação. 
4. Considerações finais
Notamos que a realização da colagem é, de modo geral, de fácil 
aceitação por parte do cliente, seja criança, seja adolescente, ou dos 
pais. Enfim, pessoas de diferentes faixas etárias e de diferentes con- 
dições socioeconômicas costumam realizar tranquilamente a tarefa 
proposta, por se tratar de uma atividade conhecida por todos que um 
dia frequentaram a escola. 
Do ponto de vista psicológico, consideramos que a atividade de 
colagem tem um caráter projetivo na medida em que expressa senti- 
mentos e conflitos, ou seja, aspectos do mundo interno das crianças 
e também de seus pais que são desconhecidos para eles. 
126 SILVIA ANCONA-LOPEZ 
Naquele momento em que nos vimos sem a possibilidade de 
utilizar os testes projetivos antes usados nos psicodiagnósticos de 
crianças, a colagem foi introduzida como um novo recurso e tem-se 
mostrado muito valiosa para a observação e compreensão não só dos 
aspectos intrapsíquicos, como também das interações familiares quan- 
do a tarefa é conjunta. 
Constatamos com a prática que as intervenções do psicólogo 
durante o psicodiagnóstico interventivo são facilitadas por meio da 
colagem. O aspecto lúdico dessa atividade parece também atuar como 
motivação para sua realização e para compreensão de aspectos sub- 
jetivos, expressos de forma simbólica. 
Concluímos que o uso da colagem como material expressivo na 
clínica de crianças contribui sobremaneira para a compreensão diag- 
nóstica que ultrapassa a individualidade da criança e oferece efetiva- 
mente material de intervenção que está além dos limites de uma 
comunicação verbal. 
Referências bibliográficas 
ANCONA-LOPEZ, M. Contexto geral do diagnóstico psicológico In: TRINCA, 
Walter (Org.). Diagnóstico psicológico: a prática clínica. São Paulo: EPU, 1984. 
DIÁLOGOS CIÊNCIA E PROFISSÃO, n. 3, dez. 2005. 
OAKLANDER, V. Descobrindo crianças: abordagem gestáltica com crianças e 
adolescentes. Tradução de George Schlesinger; revisão científica da editora e 
direção da coleção de Paulo Eliezer Ferri de Barros. São Paulo: Summus, 1980. 
PSICOLOGIA. Legislação, Resoluções e Recomendações para a Prática Pro- 
fissional. Publicação do Conselho Federal de Psicologia, 2011/2012. 
SAKAMOTO, C. K.; BACCHERETI, L. F. A técnica de recorte-colagem e suas 
aplicações nas práticas psicológicas. In: (Org.). O olhar criativo sobre 
a prática em psicologia. São Paulo: Mackenzie, 2007. 
	Sobre os Autores 7
	Apresentação
	Capítulo I
	Um pouco de história
	O psicodiagnóstico
	O processo psicodiagnóstico fenomenológico‑existencial com crianças e seus pais
	Psicodiagnóstico interventivo, na abordagem fenomenológica‑existencial: uma mudança de atitude
	O estilo das intervenções do psicólogo
	A utilização dos testes psicológicos
	Outros recursos utilizados: a visita domiciliar e a visita à escola
	As repercussões deste trabalho sobre os pais
	Referências bibliográficas
	Capítulo II
	1. Psicodiagnóstico como processo de intervenção
	2. Psicodiagnóstico como prática colaborativa
	3. Psicodiagnóstico como prática compartilhada
	4. Psicodiagnóstico como prática de compreensão das vivências
	5. O psicodiagnóstico interventivo como prática descritiva
	6. O psicodiagnóstico interventivo e o papel do psicólogo e dos clientes
	Descrição Do atenDimento em PsicoDiagnóstico interVentiVo
	1. Entrevista inicial
	2. História de vida da criança
	3. Contato inicial com a criança
	4. Sessões devolutivas com os pais
	5. Encontros com a criança: uso de testes psicológicos
	6. Visita escolar e vista domiciliar
	7. Últimas sessões com os pais
	8. Relatório final
	9. Devolutiva final para a criança
	Referências bibliográficas
	Capítulo III
	As devolutivas para as crianças em forma de narrativas
	Referências bibliográficas
	Capítulo IV
	Referências bibliográficas
	Capítulo V
	I. Apresentação
	II. Religião e o psicólogo clínico
	III. O psicodiagnóstico interventivo
	IV. Considerações sobre procedimentos que possibilitam a compreensão da religiosidade no psicodiagnóstico interventivo
	V. O modelo investigativo para compreensão da religiosidade no psicodiagnóstico interventivo fenomenológico‑existencial
	VI. Considerações finais
	Referências bibliográficas
	Capítulo VI
	1. Introdução
	2. Utilização da colagem
	3. Análise
	4. Considerações finais
	Referências bibliográficas
	Capítulo VII
	Referências bibliográficas
	Capítulo VIII
	Referências bibliográficas
	Capítulo IX
	Introdução
	A experiência do psicodiagnóstico no Centro de Psicologia Aplicada da Unip
	A interdisciplinaridade como prática colaborativa
	Referências bibliográficas
	Capítulo X
	Mary Dolores Ewerton Santiago
	I. Introdução
	II. Fundamentos da devolução psicodiagnóstica
	III. A técnica de devolução e suas possibilidades
	IV. O uso de histórias na psicoterapia de crianças
	V. A utilização do livro de história como procedimento devolutivo no psicodiagnóstico interventivo de crianças
	Referências bibliográficas
	Capítulo XI
	Introdução
	Alguns aspectos sobre a produção de documentos escritos no campo da Psicologia
	Sobre o prontuário e registro documental
	Da supervisão e sobre a discussão dos relatos
	Considerações a respeito dos relatos da primeira entrevista, da hora de jogo e do uso de teste
	Considerações finais
	Referências bibliográficas
	Capítulo XII
	Referências bibliográficas

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