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GUSTAVO URZÊDA V I TÓR IA PSIQUIATRIA GUSTAVO URZÊDA V I TÓR IA PSIQUIATRIA ÍN D IC E 01 NEUROBIOLOGIA DOS TRANSTORNOS E NEUROTRANSMISSÃO 01 - NEUROTRANSMISSÃO CEREBRAL 11 - NEUROBIOLOGIA DOS TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS 13 EXAME CLÍNICO PSIQUIÁTRICO 23 TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS 23 - TRANSTORNOS DE HUMOR (DEPRESSIVOS E BIPOLAR) 51 - TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE 55 - TRANSTORNOS DE SINTOMAS SOMÁTICOS E CORRELATOS 57 - TRANSTORNOS RELACIONADOS AO USO E ABUSO DE SUBSTÂNCIAS (ABSTINÊNCIA E DELIRIUM) 68 - MANEJO DO SUICÍDIO 74 - TRANSTORNOS ANSIOSOS E AGITAÇÃO PSICOMOTORA AGUDA 88 - TRANSTORNOS PSICÓTICOS 104 - TRANSTORNO COMPULSIVO-OBSESSIVO 117 - TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO 126 - TRANSTORNOS DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA (AUTISMO, TDAH, DISRUPTIVOS) 146 PSICOFARMACOLOGIA 146 - ANTIDEPRESSIVOS 159 - ANSIOLÍTICOS 162 - ANTIPSICÓTICOS 164 - ESTABILIZADORES DE HUMOR 172 - TABELAS 206 REFERÊNCIAS 208 MAPAS MENTAIS 1 Gustavo Urzêda Vitória PSIQUIATRIA NEUROBIOLOGIA - Neurotransmissão cerebral: Eventos: • A neurotransmissão depende de neurônios e de suas estruturas. o Transmissão de impulsos entre axônios e dendritos de neurônios diferentes. o Sinapse química → mediante substâncias. o Fator deflagrador → despolarização das membranas → fluxo de íons → descarga de potencial de ação. ▪ Entra íons Na+ por canais rápidos → abrem os canais de Ca2+ → influxo de Ca2+ mobiliza vesículas → fusão e liberação do neurotransmissor → interage com receptores (metabotrópico ou inotrópico) da membrana pós-sináptica. ▪ Leva a uma descarga e mudança bioclínica → condução de impulso. 2 Gustavo Urzêda Vitória Neurotransmissores: • Estão presentes em vesículas na terminação axonal. • Chegada do impulso na terminação resulta na liberação de neurotransmissores na fenda sináptica → receptores pré e pós sinápticos, além da recaptação, metabolismo e difusão. • Os neurotransmissores atingem outro neurônio desencadeando impulso nervoso. Noradrenérgica: 3 Gustavo Urzêda Vitória • Origem no Locus Ceruleus → neurônios se projetam para o cerebelo, tálamo, hipotálamo, córtex pré-frontal etc. • Produzido a partir de tirosina (origem alimentar → ricos em proteínas) → entra na célula por cotransporte com Na+ → várias reações → transformada em dopamina. o Dopamina é transportada para o interior das vesículas → reação pela enzima dopamina-beta-hidroxilase → transformada em noradrenalina → estocada até ser estimulada por um potencial de ação. • Liberada, a noradrenalina reage com receptores alfa1, beta1 e beta2 (pós- sinápticos) e alfa2 (reguladores pré-sinápticos) → interação produz feedback negativo → acoplado a proteína Gi → inibi a produção e a secreção de nora. • Pode ser metabolizada na fenda sináptica pela COMT (catecol O- metiltransferase) → produz metabólitos inativos que são eliminados na urina. • Pode ser receptada por transportadores de nora no neurônio pré-sináptico → pode ser metabolizado pela MAO ou direcionada para uma nova vesícula (reutilização). • Ação: o SNA → SNS. ▪ Gânglios toracolombares com neurônios que se projetam até os órgãos. ▪ Primeira sinapse (ganglionar) é colinérgica e a segunda (pós-ganglionar) é noradrenérgica. ▪ Causa midríase, inibe salivação (xerostomia), broncodilatação, crono e inotropismo positivos, inibe a atividade do estômago e do pâncreas, estimula liberação de glicose pelo fígado, estimula a produção de adrenalina pelas suprarrenais, relaxa a bexiga, ejaculação. o SNC: 4 Gustavo Urzêda Vitória ▪ Controle do humor, do medo, da ansiedade, da saciedade, do sono, da cognição e aprendizado. o SCV: ▪ Receptores beta acoplados a proteínas Gs → aumentam DC, consumo de O2, FC, força de contração e PA. Serotoninérgica: 5 Gustavo Urzêda Vitória • Produção através do triptofano → aminoácido adquirido através da alimentação. o Cotransportado com Na+ → reações enzimáticas → L-aminoácido aromático descarboxilase → transformado em serotonina → estocada em vesículas e liberada por potenciais de ação. • Liga a receptores pré e pós-sinápticos, pode ser metabolizada na fenda ou recaptada. • Concentradas nos núcleos da rafe. • Ação: o SNC: ▪ Associado a cognição, alimentação e saciedade, modulação do humor, medo, ansiedade, sono/vigília. o SNP: ▪ No leito vascular → serotonina liberada pelas plaquetas modula a agregação e a percepção de dor, além de vasoconstrição. o Hipotálamo: ▪ Controle da temperatura corporal. o Zona quimiorreceptora do bulbo e próxima a medula oblonga: ▪ Centro do vômito. • A medula oblonga (centro do vômi.to) é regulada pela zona quimiorreceptora do bulbo (receptores M1 (acetilcolina), D2 (dopamina), H1 (histamina) e 5-HT3 (serotonina)) → a qual, identifica substâncias químicas, quimiocinas que podem ativar essa zona. • Estimulam o centro do vômito → relaxamento do esfíncter esofágico inferior, aumenta a pressão abdominal, aumenta a contração do diafragma, contração dos músculos abdominais → êmese. • Aparelho vestibular libera acetilcolina e histamina. • Intestino e estômago (células enterocromafins) produzem serotonina e acetilcolina. o Sistema límbico: ▪ Emoções, prazer, raiva, humor, medo. ▪ Projeções de serotonina e de noradrenalina. Dopaminérgica: 6 Gustavo Urzêda Vitória • Sintetizada através da tirosina → mas não é transformada em noradrenalina, e sim armazenada em vesículas. • Origem na substância nigra e área tegmentar ventral → para gânglios da base, neocórtex e outras áreas. • 4 vias importantes: o 1°- nigroestriatal: ▪ Da substância nigra para o striatum (núcleos caudado e lentiforme). ▪ Moduladora do sistema motor. o 2°- mesocortical: ▪ Da área tegmentar ventral para o córtex. ▪ Influencia as áreas responsáveis pelas habilidades de planejamento, decisão e execução. o 3°- mesolímbica: ▪ Da área tegmentar ventral para o hipocampo e amígdala. ▪ Influencia as emoções e sentimentos → amor, prazer, recompensa (comer, beber, relações sociais, sexo etc.), ajuda no foco, atenção e concentração. o 4°- túberoinfundibular: ▪ Da área tegmentar ventral para a hipófise. ▪ Regula a liberação de prolactina. • Ações: o Medular êmese, vasodilatação arterial coronariana, renal e mesentérica. Controla a liberação de prolactina (receptor D2), atividades motoras, habilidades pragmáticas, emoções e sentimentos. o Refluxo gastroesofágico: ▪ Músculos lisos do TGI são inervados por nervos colinérgicos → acetilcolina leva ao peristaltismo. ▪ São modulados por neurônios dopaminérgicos → dopamina liga nos D2 dos neurônios colinérgicos e impede a liberação de acetilcolina. 7 Gustavo Urzêda Vitória ▪ Bloqueadores de dopamina possuem efeito pró-cinético → retomam o peristaltismo. Colinérgica: • Origem: o Núcleo tegmental pedunculopontino, núcleo basal (de Meynert) e núcleos septais mediais → projeções amplas para o cérebro → influencia cognição, memória, sono/vigília, movimentação neuromuscular. • Síntese: o Colina + acetilCoA por ação da enzima colina-acetiltransferase. o Colina é transportada por um cotransportador com Na+ de alta afinidade → a enzima catalisa a síntese → acetilcolina é armazenada em vesículas → cotransportada com prótons. o As vesículas se fundem com a membrana durante potenciais de ação (aumento de Ca2+ intracitoplasmático) e liberam a acetilcolina. o Na fenda é degrada pela acetilcolinesterase. • Receptores: o Nicotínicos. 8 Gustavo Urzêda Vitória ▪ Canais iônicos controlados por ligantes permeáveis a cátions. ▪ Aumentam o influxo de Ca2+. o Muscarínicos. ▪ Metabotrópicos acoplados a proteínas G. ▪ M1, M3 e M5 são excitatórios. ▪ M2 e M4 são inibitórios. GABAérgica: • Principal neurotransmissor inibitório. 9 Gustavo Urzêda Vitóriao O ácido gama-amino-butírico possui efeitos ansiolíticos, hipnóticos, anticonvulsivantes e controle de estresse. • Origem: o Interneurônios cerebrais → entre neurônios de Purkinje do cerebelo e seus alvos, entre neurônios pequenos e células eferentes principais do córtex cerebelar, do bulbo olfatório, do hipocampo, dos núcleos septal lateral e cunciforme, entre os núcleos vestibulares e neurônios motores trocleares, entre caudado e substância nigra. • Síntese: o Alfa-cetoglutarato (produzido pelo ciclo de Krebs) é substrato para a enzima gaba-transaminase → forma glutamato → convertido em GABA pela descarboxilase do ácido glutâmico. • Receptores: o Inotrópicos: ▪ GABAa: • 4 domínios transmembrana → alfa1, beta1, beta2 e gama2 são as subunidades (tem duas alfa1). • Um sítio para barbitúricos e dois para GABA. ▪ GABAc: • Pentamêrico. • Mais na retina. • Tem subunidades diferentes e não há fármacos específicos. o Metabotrópico: ▪ GABAb: • Heterodiméricos acoplados a proteínas G. • Afetam as correntes iônicas através de segundos mensageiros, excitatórios ou inibitórios. Glutamatérgica: • Principal neurotransmissor excitatório do SNC. • Vias: o 1°- descendente: 10 Gustavo Urzêda Vitória ▪ Neurônios piramidais do córtex pré-frontal para os centros neurotransmissores. ▪ Regula a liberação de outros neurotransmissores. o 2°- do córtex para o núcleo estriado e accumbens (centro de recompensa). o 3°- ascendente (tálamocortical). o 4°- corticotalâmico. o 5°- neurônios piramidais intracorticais que tem comunicação entre si. • Receptores: o Inotrópicos: ▪ AMPA, Kainato, NMDA. ▪ Formam canais iônicos que se abrem quando ligados ao glutamato. • Entra Na+ e sai K+. • No NMDA entra Ca2+ e sai K+. ▪ Homo ou heterodiméricos. o Metabotrópicos: ▪ mGlu1 a mGlu8. ▪ 7 domínios transmembrana, um sítio de ligação extracelular e outro intracelular. ▪ Subunidade alfa é a efetora. 11 Gustavo Urzêda Vitória - Neurobiologia dos transtornos psiquiátricos: Histórico: • Egito: coração é o centro afetivo e cognitivo. o Início da dissociação entre cérebro e coração. • Grécia: teoria dos humores. o Perceberam que algumas pessoas apresentavam diferenças em seus comportamentos. • Roma: lítio. o Galeno observou que as pessoas que consumiam água de fontes ricas em lítio tinham menos ideações suicidas. • Idade Média: visão espiritual e religiosa. o Possessões e exorcismos. o Ainda perduram esses princípios. o Exclusão social. • Períodos mais recentes: neuroanatomia e psicanálise. o Freud e Jung. o Phineas Gage, 1848 → mudança comportamental e de personalidade por uma lesão cerebral. o Manicômios: era pré-medicamentosa → presos e encarcerados por falta de conhecimento e acesso a um tratamento efeicaz. o Clopromazina: criado como anti-histamínico, há 70 anos, mas com propriedades anti-psicóticas por bloquear o receptor D2 da dopamina. o Importância de tratar: causas de mortalidade de outros sistêmicas, como infecções e doenças cardiovasculares, estão em queda, mas o suicídio e outros desfechos psiquiátricos seguem em aumento no mundo. o Doenças psiquiátricas estão entre as causas mais comuns de afastamento do trabalho. Neurobiologia: • Possuímos mais ou menos 100 bilhões de neurônios e 100 trilhões de sinapses, sendo que qualquer mínima alteração pode gerar desordens diversas. • O transtorno começa antes do nascimento. o Idade dos pais, materna e paterna, devem ser levadas em consideração. o Exposições de grávidas a substâncias, como o ácido valpróico. o Alterações genéticas e epigenéticas estão sendo cada vez mais associadas a transtornos psiquiátricos, por gerarem alterações nos circuitos cerebrais. • Eixo cérebro-intestino: o Microbiota alterando o funcionamento cerebral e vice-versa. 12 Gustavo Urzêda Vitória o Disbiose está sendo estudada e associada a transtornos, como o autismo, ansiedade, depressão e Parkinson. Considerações: • Dopamina: o Vias: nigroestriatal, mesocortical, tuberoinfundibular e mesolímbica. o Esquizofrenia: ▪ Sintomas positivos: excesso de dopamina na região mesolimbica. ▪ Sintomas negativos: escassez de dopamina na região mesocortical. ▪ Outras vias estão normais. ▪ Bloqueio excessivo pode gerar efeitos adversos: • Nigroestriatal: sintomas extrapiramidais. • Tuberoinfundibular: galactorreia. • Serotonina: o Tanto o aumento quanto a diminuição causam distúrbios, mas as vias também tem sua ação na fisiopatologia dos transtornos. o Anti-depressivo: inibidor da recaptação de serotonina → aumenta sua quantidade na fenda sináptica. o Diferentes receptores com diferentes respostas. o Quetamina: resposta fugaz e quase imediata. ▪ Faz sinaptogênese. o Terapia com eletrochoque também é eficaz e segura. • Ômega-3: o Associado ao tratamento de transtornos de humor. • Sono: o Quase todos os transtornos interferem no sono → prejudica o ciclo circadiano e a saúde mental. • Atividade física: o Fator protetor para depressão e pode ser usado como tratamento também. 13 Gustavo Urzêda Vitória PSIQUIATRIA EXAME PSIQUIÁTRICO - Apresentação: • Aspecto geral. • Cuidado pessoal. o Vestes e higiene. • Postura. • Mímica facial e corporal. • Atitude global do paciente → dramática, hostil, sedutora, esquiva, manipuladora. - Consciência: • Alterações: o Vígil. o Obnubilação ou turvação da consciência (rebaixamento leve do nível de consciência). o Sopor (muito sonolento). o Transe (nem sempre é patológico, faz parte da ritualística de diversas religiões). o Flutuante (oscila ao longo do dia). • Se tiver alteração do nível de consciência, mas não haver indícios de transtornos psiquiátricos, investigar causas orgânicas, como o delirium. • Teste do papel em branco: o Olhar atento e fixamente para uma folha branca ou parede branca, rebaixados podem ter alucinações visuais. - Atenção: • Voluntária: o Concentração, tenacidade. o O que eu quero prestar atenção. o Aumentada no autismo. • Espontânea: o Vigilância. o Atento a estímulos externos. o Aumenta no TDAH. 14 Gustavo Urzêda Vitória • Alterações: o Hipo ou hiperprosexia: aumento ou diminuição global da atenção. o Distração: hipertenaz e hipovigil. o Distraibilidade: hipotenaz e hipervigil. • Teste dos dígitos: o Pedir para repetir uma série de dígitos pronunciados em voz alta, de forma pausada, evitando distrações. o Adulto normal repete corretamente 6-7 dígitos. - Memória: • Tipos: o De fixação (recente) → mais afetada nas demências. o De evocação (remota). o Trabalho, episódica, semântica, procedimentos. • Alterações: o Quantitativa: ▪ Hipermnésia (excesso de detalhes). ▪ Hipomnésia. ▪ Amnésia. o Qualitativa: ▪ Ilusões (acrescenta algo a um fato) e alucinações (cria uma memória, fato inventado) mnêmicas. ▪ Confabulações (cria história para completar lacunas da memória). o Síndrome de Capgras: assume que pessoa(s) seria(m) impostor(es), sósia(s), falso(s). o Síndrome de Frégoli: identifica um estranho como alguém íntimo (falso reconhecimento). • Testar com MINIMENTO e perguntando sobre dados remotos históricos e/ou biográficos. - Sensopercepção: • Alterações: 15 Gustavo Urzêda Vitória o Quantitativa: ▪ Hipoestesia (diminuição da sensibilidade). ▪ Hiperestesia (aumento da sensibilidade). o Qualitativa: ▪ Ilusão (percepção alterada de um objeto real e presente). ▪ Alucinose (paciente percebe a estranheza do quadro, ou seja, reconhece que o que está acontecendo não é normal). ▪ Alucinação (percepção de um objeto (som ou imagem) sem que ele esteja presente, sem estímulo sensorial respectivo). • Verdadeira: possui nitidez, corporeidade, projeção, estabilidade → pode ser auditiva, visual, tátil, olfativa, gustativa, musical.o Tumores, esquizofrenia, intoxicação por drogas, depressão. • Pseudoalucinação: quando não há elementos para que seja verdadeira → vultos, vozes dentro do pensamento, pobreza de detalhes. • Hiponopômpica: quase acordando. • Hipnagógica: quase dormindo. • Visuais: zoopsias (ver insetos e animais no geral), liliputianas (ver miniaturas). • Táteis: síndrome de Ekbom → sente que está infestada por bichos. - Linguagem: • Alterações: o Afasia: não fala. o Disartria: não consegue articular as palavras. o Dislalia: troca letras e/ou sílabas. o Disfonia: gagueira. o Bradisfasia: fala devagar, lentificada. o Mutismo: voluntariamente ou não. ▪ Pode ser seletivo (fala apenas com algumas pessoas). o Ecolalia: repete o que o outro disse. o Palilalia: repete suas últimas palavras. o Logoclonia: repete suas últimas sílabas. o Tiques verbais. o Glossolalia: falar em línguas, não é patológico e está relacionado a tradições religiosas. o Neologismos: criar novas palavras ou novos significados. o Parafasia: falar palavras semelhantes àquilo que quer dizer. o Logorreia: fala muito rápido e perde o assunto. o Taquifasia: fala rápido, mas não perde a linha de raciocínio. o Loquacidade: conversa muito, mas é articulado. o Coprolalia: fala muitos palavrões sem querer → tique verbal. 16 Gustavo Urzêda Vitória - Pensamento: • Elementos fundamentais: o Conceito: representações expressas por palavras (ex.: céu, azul). o Juízo: relação entre dois conceitos (ex.: o céu é azul). o Raciocínio: relação entre dois juízos, levando a novos juízos/conclusões. ▪ Pode ser falso. ▪ Ex.: todo homem é mortal, Sócrates é um homem, então Sócrates é mortal. • Processo de pensar: o Curso: modo como o pensamento flui (velocidade, ritmo). ▪ Acelerado: mania, esquizofrenia, ansiedade, depressão ansiosa. ▪ Lentificado: depressão grave, intoxicação. o Forma: estrutura básica. ▪ Fuga de ideias: mania; associa palavras por sons ou estímulos externos, não seguindo uma linha definida. ▪ Frouxidão dos laços associativos: fala coisas frouxas. ▪ Desagreagação: salada de palavras. o Conteúdo: temática, aquilo que dá substância ao pensamento; o assunto em si. • Delírio: o É um juízo patologicamente falso, com convicção extraordinária, não são suscetíveis à influência (irremovível, não muda de ideia) e possuem conteúdo impossível. o Produção associal → não possui associação lógica. o Dimensões: ▪ Grau de convicção: até onde acredita. ▪ Extensão. ▪ Desorganização. o Primário (psicose) ou secundário (humor, drogas). o Podem ser simples, complexos, sistematizados ou não. o Percepção delirante: revelações, ver sinais. - Conteúdo do pensamento: • Depende da constituição social e história individual, universo cultural e estrutura psicológica e neurológica. • Delírios: o Persecutório, depressivo, religioso, sexual, poder, riqueza, prestígio, ruína, culpa, influência, controle, hipocondríaco, ciúmes, obsessões, pensamentos prevalentes. - Afetividade: • Humor ou estado de ânimo: 17 Gustavo Urzêda Vitória o Tônus afetivo, estado basal. o Alterações: ▪ Hipertimia: humor patologicamente alterado no sentido da exaltação e da alegria. ▪ Euforia: alegria patológica, humor morbidamente exagerado, alegria intensa, desproporcional às circunstâncias. ▪ Elação: além da alegria patológica, envolve expressão do eu. ▪ Disforia: tonalidade afetiva desagradável, mal-humorado. ▪ Irritabilidade patológica: hiperatividade patológica, hostil e eventualmente agressiva a estímulos leves. ▪ Hipotimia: base afetiva do transtorno depressivo. ▪ Ansiedade: estado de humor desconfortável, apreensão negativa em relação ao futuro, inquietação interna desagradável. Inclui manifestações somáticas e fisiológicas. ▪ Angústia: sensação de aperto no peito e na garganta, compressão, sufocamento. • Afeto: o A forma de demonstrar o humor. o Alterações: ▪ Hipomodulação: incapacidade de modular resposta afetiva de acordo com a situação (rigidez em relação ao mundo), não consegue demonstrar o que sente. ▪ Inadequação do afeto ou paratimia: reação incongruente com a situação, contradição entre as esferas ideativa e afetiva. ▪ Pobreza de sentimento e distanciamento afetivo: perda progressiva e patológica das vivências afetivas. ▪ Embotamento afetivo: perda profunda de todo tipo de vivência afetiva. ▪ Indiferença afetiva: belle indifference → triste indiferença, pálida indiferença → indiferente. • Emoções: o Reações fisiológicas sobre o que sentimos. • Sentimentos: o Conceitos para definir ou classificar o que sentimos. • Alterações das emoções e sentimentos: o Anedonia: incapacidade total ou parcial de obter ou sentir prazer em algo que era prazeroso. o Apatia: diminuição da excitabilidade afetiva e emotiva → não consegue sentir, mesmo sabendo que deveria. o Sentimento de falta de sentimento: incapacidade de sentir e isso causa sofrimento (apatia não gera sofrimento). o Labilidade afetiva: mudanças súbitas e imotivadas de humor, sentimos ou emoções. 18 Gustavo Urzêda Vitória o Incontinência afetiva: não consegue conter de forma alguma suas reações afetivas. o Ambivalência afetiva: sentimentos opostas a um mesmo estímulo ou objeto, simultaneamente. - Consciência do Eu: • Mais raro, pode acontecer na esquizofrenia. • Jaspers, 1979: o Consciência de atividade do Eu. ▪ Não é a pessoa que realiza as coisas, algo está controlando seu corpo. o Consciência de unidade do Eu. ▪ Duas ou mais entidades estão habitando o corpo da pessoa, geralmente possuem característica opostas. o Consciência de identidade do Eu no tempo. ▪ Sente que sua identidade mudou com o tempo. o Consciência da oposição do Eu em relação ao mundo. ▪ Acha que todo mundo sabe o que ela pensa e o vê o que ela faz. - Inteligência: • Modelo de inteligências múltiplas. • QI: o Retardo mental: ▪ Limítrofe: 70-85. ▪ Leve: 50-69. ▪ Moderado: 35-49. ▪ Grave: 20-34. ▪ Profundo: < 20. • Avalia mais se tem alguma deficiência intelectual. o Capacidade de resolver problemas. o Considerar o contexto sociocultural e escolaridade. o Diversos testes. ▪ Interpretação de fábulas e provérbios. ▪ Cálculos simples. ▪ Definição de conceitos abstratos. ▪ Resumo de textos. ▪ Diferenças e semelhanças entre conceitos ou elementos. ▪ Conhecimentos básicos e gerais. ▪ Solução de problemas básicos. ▪ Quebra-cabeças. ▪ Labirintos. ▪ Copiar desenhos. ▪ Encaixar objetos em tabuleiros de formas. 19 Gustavo Urzêda Vitória - Volição: • Conação: o Atividade psíquica direcionada para a ação (impulso e vontade). • Vontade: o Querer propriamente dito. o Hipo/abulia. • Processo volitivo: o Fases de intenção, deliberação, decisão e execução. • Atos impulsivos: o Vai da fase de intenção para a execução, sem deliberar. • Atos compulsivos: o Indesejável, desconfortável, egodistônico. o Possui tentativa de resistir e alívio ao realizar o ato. o Associado a ideias obsessivas. - Pragmatismo: • Capacidade de colocar em prática, de realizar de forma eficaz aquilo que se deseja ou que foi planejado. • Avalia o grau de eficácia das funções psíquicas. • Hipo/apragmatismo. • Avaliar se o paciente possui planos e se eles são factíveis. - Psicomotricidade: • Agitação psicomotora. • Lentificação psicomotora. • Flexibilidade cerácea: fica do jeito que é colocado. • Apraxia: não faz o momento. • Ecopraxia: imita seus movimentos. • Tremores, rigidez muscular, robotizado. • Estereotipias motoras: repetições automáticas e uniformes de determinado ato motor complexo (perda de controle voluntário). • Maneirismo: movimentos bizarros, repetitivos, complexos, mas com certo objetivo. • Tiques: atos coordenados, repetitivos, contrações súbitas e breves, intermitentes e aumentam com a ansiedade.- Crítica e noção de doença: • Paciente consegue ou não reconhecer que determinadas vivências ou comportamentos não são normais e representam processos patológicos. • Reconhecer que necessita de tratamento. • Boa, pobre ou ausente. 20 Gustavo Urzêda Vitória - Orientação: • Capacidade de se situar em relação a si (autopsíquica) e em relação ao ambiente (alopsíquica). • Não é uma função psíquica primária, e sim secundária a outra, como memória e atenção. • Alterações podem ser parciais ou totais: o Confusional: diminuição da consciência. o Amnésica: afeta mais a noção de tempo. o Apática: desinteresse pelo ambiente. o Delirante. o Déficit intelectual. • Testar orientação em tempo e espaço. 21 Gustavo Urzêda Vitória 22 Gustavo Urzêda Vitória Um dos principais instrumentos para avaliação simples e rápida do exame psíquico. 23 Gustavo Urzêda Vitória PSIQUIATRIA TRANSTORNOS - Transtornos de humor: Transtornos depressivos: Conceito: • É um transtorno mental grave, de humor deprimido, de curso episódico, recorrente ou persistente ao longo do tempo, que traz prejuízos funcionais nas esferas psicológicas, comportamentais, sociais, familiares e ocupacionais. • Quando não tratada adequadamente, leva a incapacitação e está associada a elevados custos econômicos e sociais. Diferença entre luto e depressão: • As síndromes e reações depressivas surgem com muita frequência após as perdas significativas → pessoas queridas, emprego, moradia, status socioeconômico, algo simbólico, bichos de estimação. • Apesar de muitas vezes ser desencadeada por perdas, a depressão não é o mesmo sentimento normal do luto. ESFERAS LUTO INTENSO DEPRESSÃO Humor e sua evolução Tristeza muito relacionada à experiência de perda, que tende a diminuir com o passar do tempo (duração muito variável, geralmente semanas a meses, podendo chegar a anos). Humor deprimido constante que abrange mais que as perdas, não melhora com o tempo. Padrão temporal Tristeza em ondas (dores do luto), associadas a lembranças do ente perdido Tristeza e desanimo oscilam menos ao longo dos dias 24 Gustavo Urzêda Vitória Conteúdo do pensamento Tristeza e angústia mais centradas em pensamentos relacionados ao que foi perdido Ruminações autocríticas e pessimistas abrangentes, não apenas a uma perda Pensamento típico Culpa por não ter tido que amava ou por não ter passado tempo o suficiente A vida não vale a pena, não sirvo para nada Fantasias relacionadas a pensamentos suicidas Gostaria de morrer para me juntar a quem perdi Quero morrer para não sofrer mais; não mereço viver Epidemiologia: • Depressão já era caracterizada desde a época de Hipócrates. • O período renascentista é considerado a idade de ouro da melancolia → penetrando o romantismo nos séculos XVIII e XIX. • Atualmente, a estimativa de prevalência mundial é em torno de 4,4% a 4,7%. • Brasil, um estudo revelou prevalência de 17%. E, segundo o IBGE, em 2013, 21% da população se descreveu como depressiva. • Está associada a grande incapacidade, sobretudo da classe economicamente ativa, e a mais ou menos 16 milhões de suicídios em 2010. • Cerca de 15% a 40% das pessoas com depressão tentaram suicídio alguma vez → risco 20 vezes mais alto para autoextermínio. Fisiopatologia: • Contribuição genética: o Depressão é abordada como a resultante da interação de influências ambientais sobre indivíduos geneticamente pré- dispostos. o Carga genética contribui em 40%. o Transmissibilidade genética é estimada em 33-42%. o Não segue um padrão de transmissão autossômico-dominante mendeliano, mas se relaciona com um tipo de herança poligênica. o Polimorfismo funcional do gene transportador de serotonina tem sido constantemente associado à predisposição. o Pela heterogeneidade clínica, é difícil detectar e replicar loci suscetíveis. • Modelos bioquímicos: o Começou a ser reconhecida como um fenômeno bioquímico na década de 1960 → teoria monoaminérgica da depressão. ▪ O estado depressivo é decorrente de uma deficiência na atividade de monoaminas cerebrais (noradrenalina (nora), serotonina (5-HT) e dopamina (dopa)). ▪ Mostrou-se simplista e falha, pois não conseguiu explicar muitos fenômenos, como por exemplo, como a cocaína e as 25 Gustavo Urzêda Vitória anfetaminas aumentam a atividade monoaminérgica cerebral, mas não são antidepressivos eficazes. ▪ Nem todos respondem do mesmo jeito aos antidepressivos → mais mecanismos envolvidos. ▪ A concentração de monoaminas aumenta em horas, mas os efeitos dos antidepressivos só são vistos ao longo de semanas. o Nova teoria monoaminérgica: ▪ Aumento agudo de monoaminas nas fendas sinápticas associado a administração de antidepressivos, induz a longo prazo, modificações adaptativas nos sistemas monoaminérgicos → principalmente dessensibilização auto (mesmo terminal sináptico) e hétero (terminal de outro neurônio) dos receptores inibitórios pré-sinápticos. • Estimulação desses receptores regula a liberação da monoamina no terminal nervoso, gerando feedbak negativo que controla a quantidade de monoamina na fenda. • A dessensibilização leva a maior atividade monoaminérgica central → coincide com o aparecimento do efeito terapêutico. • Efeito principalmente observado com os receptores de serotonina (5-HT1a e 5-HT1b), mas também com noradrenérgicos e dopaminérgicos. • Estudos de neuroimagem: o Alterações cerebrais associadas às vulnerabilidades (endofenótipos) para transtornos mentais. o RM: diminuição volumétrica do córtex pré-frontal e de estruturas límbicas (principalmente complexo amígdala-hipocampo). o Diminuição dos hipocampos tem se relacionado com a cronificação. o Não tem muito valor no diagnóstico, mas pode ser usado para investigação complementar nos casos de depressão secundária. • Fatores ambientais: o Fatores de risco: ▪ Eventos adversos precoces (baixo suporte social, perda precoce de pais, percepção de falta de carinho pelos pais, abuso físico e/ou sexual). ▪ Eventos adversos na infância estão relacionados com alterações persistentes nos sistemas de resposta a estresse. Quadro clínico: • Humor: o Geralmente polarizado para depressão (sentimento expresso e sinais de tristeza na maior parte do tempo). 26 Gustavo Urzêda Vitória o Anedonia (perda da capacidade de sentir prazer em algo que anteriormente era prazeroso, perda de interesse). o Choro fácil (labilidade afetiva). o Indiferença afetiva (apatia) ou ansiedade e irritabilidade podem estar presentes. • Pensamento: o Preocupação frequente e por vezes exageradas, pessimismo, desesperança, podendo ocorrer ideias de ruína e niilismo. o Baixa autoestima, ideias de desvalia, sentimentos de culpa, por vezes inapropriados, hipocondria. ▪ Ruína, hipocondria e culpa podem estar associadas a características delirantes → forte certeza e convicção, não aceita argumentação. o Podem ter quadro psicótico associado com delírios persecutórios e autorreferencia delirante. • Sensopercepção: o Alucinações, principalmente auditivas, podem ocorrer nas depressões psicóticas (> 10% dos casos). • Alterações cognitivas: o Dificuldade de concentração, déficits de atenção e mesmo prejuízo de memória. o Pode se assimilar a síndrome demencial, principalmente em idosos. • Psicomotricidade: o Lentificação e retardo tento de pensamentos quanto de movimentos, podendo haver latência de resposta e até laconismo (respostas breves, por vezes monossilábicas). o Sensação de fadiga, baixa energia ou inquietação (comorbidade com ansiedade). • Sintomas neurovegetativos: o Anorexia com perda de peso ou ganho de peso. o Alterações do sono → insônia inicial ou fragmentação do sono, despertar precoce, sono não reparador ou hipersônia.o Disfunção sexual → baixa libido, disfunção erétil ou ejaculação precoce. • Volição: o Frequente a diminuição da vontade e perda do interesse por atividades habituais (hipobulia). o Pode ser observado ideação suicida ou tentativa de autoagressão. Subtipos: • Transtorno disruptivo da regulação do humor: o Característica central é a irritabilidade crônica grave: ▪ Frequentes explosões de raiva que tipicamente ocorrem em resposta a frustrações e podem ser verbais ou comportamentais → devem ser frequentes (3 ou mais 27 Gustavo Urzêda Vitória episódios por semana) por pelo menos 1 ano e em pelo menos 2 ambientes diferentes, e inapropriados para o desenvolvimento. ▪ Humor persistentemente irritável ou zangado entre as explosões de raiva → característico de crianças; presente na maior parte dos dias, quase todos os dias e ser observável por outras pessoas. o Deve ser diferenciado de outros transtornos, como o bipolar da infância. o Comum em crianças → mais presente em meninos e em idade escolar. o Critérios diagnósticos: • Transtorno depressivo maior (TDM): o Os sintomas dos critérios para TDM devem estar presentes quase todos os dias, com exceção de alteração de peso e ideação suicida. o Humor depressivo deve estar presente na maior parte do dia, quase todos os dias. o Insônia ou fadiga frequentemente são as queixas principalmente relatadas. 28 Gustavo Urzêda Vitória o Tristeza pode ser negada inicialmente, mas pode ser revelada no meio da entrevista ou inferida pela linguagem corporal. o Perturbações psicomotoras são muito menos comuns, mas são indicativas de maior gravidade geral, assim como a presença de culpa delirante ou quase delirante. o Anedonia e humor depressivo por pelo menos 2 semanas, mais pelos menos 4 sintomas associados: perda de peso ou apetite, alteração do sono, sentimentos de desvalia ou culpa etc. o Deve ser recente ou ter claramente piorado em relação ao estado pré-episódico. o Deve ser acompanhado de prejuízo ou sofrimento significativo nos âmbitos social, profissional etc. o Podem enfatizar questões somáticas, como dores difusas. o Crianças e adolescentes podem desenvolver humor irritável ou rabugento. o Frequentemente interpretam mal eventos triviais do cotidiano, imputando como prova de defeitos pessoais ou encarando como responsabilidade excessivas. o Pode ser confundida com demência em idosos. o Ideação e tentativas de autoextermínio são comuns. o Critérios diagnósticos: 29 Gustavo Urzêda Vitória • Distimia: o Característica essencial do transtorno depressivo persistente (distimia) é um humor depressivo que ocorre na maior parte do dia na maioria dos dias, por pelo menos 2 anos, ou por pelo menos 1 ano em crianças e adolescentes. o Representa uma consolidação do TDM → crônico. o Podem relatar que sempre foram desse jeito, devido ao prolongamento de sintomas, principalmente se o início foi precoce. o Critérios diagnósticos: 30 Gustavo Urzêda Vitória 31 Gustavo Urzêda Vitória • Transtorno disfórico pré-menstrual: o Característica essencial é a expressão de labilidade do humor, irritabilidade, disforia e sintomas de ansiedade que ocorrem repetidamente durante a fase pré-menstrual do ciclo e remitem por volta do início da menstrual ou logo depois. o Pode ser acompanhado por sintomas comportamentais e físicos. o Deve ter ocorrido na maioria dos ciclos menstruais durante o último ano e ter um efeito adverso no trabalho ou no funcionamento social. o Intensidade e/ou expressividade dos sintomas acompanhados podem estar intimamente relacionadas a características do grupo social e cultural da mulher afetada. o Sintoma somáticos e ansiedade podem ocorrer. o Presença de sintomas comportamentais sem sintomas de humor e/ou ansioso não é suficiente para o diagnóstico. o Critérios diagnósticos: 32 Gustavo Urzêda Vitória Depressão secundária: • Na maioria das vezes, a apresentação das depressões secundárias a uma causa orgânica não difere fenotipicamente das primárias, mas pode ter sinais e sintomas de outras patologias. • CV: IAM, circulação extracorpórea. • Reumato: LES. • Endócrino: hipo e hipertireoidismo, Addison, Cushing, hipopituitarismo, hiperparatireoidismo. • Hematológicas: anemias, deficiências de vitaminas. • Hepato: Wilson, insuficiência hepática. • Nefro: distúrbios hidroeletrolíticos. • Infecções: mononucleose, hepatites, influenza, HIV, meningites e encefalites. 33 Gustavo Urzêda Vitória • Neurológicas: lesões cerebrais, meningites, neurossífilis, hidrocefalia, esclerose múltipla, epilepsia, demência, Parkinson. • Neoplasias: CA de pâncreas e pulmões, síndromes paraneoplásicas. • Medicações e substâncias: reserpina e metildopa, corticoides, AINEs, vigabatrina, topiramato, uso prolongado de benzo e barbitúrico, intoxicação com depressores do SNC (álcool etc.), abstinência de psicoestimulantes (cocaína etc.) e opiáceos. Tratamento: • Desde o uso de antidepressivos até abordagens psicológicas e tratamentos biológicos não farmacológicos (eletroconvulsoterapia, estimulação magnética transcraniana etc.). • Escolha da estratégia isolada ou associada leva em consideração as características das doenças, subtipo, curso da doença, evento da vida envolvidos, personalidade do paciente, suporte psicossocial, gravidade, antecedentes de resistência a tratamentos anteriores e preferência do paciente, custo do tratamento. • Determinar necessidade ou não de internação psiquiátrica. o Casos de risco iminente de suicídio (ideação persistente ou planejamento explícito) e incapacidade de reconhecer a doença ou seguir orientações médicas. o Falta de suporte familiar/social, acentuado prejuízo funcional ou debilidade física, outras comorbidades. • 3 fases: o Aguda: ▪ Visa a remissão dos sintomas e a recuperação do funcionamento psicossocial → 8-12 semanas. ▪ Escolha do tratamento inicial depende da gravidade, do subtipo, da disponibilidade de recursos e preferências. ▪ Antidepressivos sempre são oferecidos como primeira linha para moderados e graves, combinados ou não com psicoterapia. ▪ ECT: alto grau de gravidade e comprometimento funcional, sintomas psicóticos e catatônicos associados → resposta mais rápida pelo risco de suicídio e comprometimento nutricional. ▪ Terapia cognitivo comportamental (TCC) possui eficácia documentada. ▪ Resposta clínica é medida com a evolução do quadro sintomatológico e funcional, além de escalas de avaliação. ▪ Em jovens, o uso de antidepressivos tem mais risco de suicídio, principalmente naqueles bipolares não diagnosticados. o Continuação: ▪ Visa a prevenção de recaídas → 6-12 meses. 34 Gustavo Urzêda Vitória ▪ Antidepressivos que foram introduzidos na fase aguda continuam na mesma posologia, assim como o apoio psicoterapêutico. o Manutenção: ▪ Deve ser considerado em alguns pacientes com o objetivo de prevenir recorrências da depressão. ▪ Indivíduos com altos índices de recorrência e que tenham apresentado episódio depressivo de alta gravidade são candidatos. ▪ Fatores de risco para recorrência: depressão resistente (mais de 2 episódios em 2 anos) ou recorrente (3 ou mais episódios ao longo da vida), distimia concomitante e/ou presença de sintomas depressivos residuais, comorbidades psiquiátricas. • Parâmetros para escolha do antidepressivo: o Antecedente pessoal e/ou familiar de resposta a um antidepressivo específico. o Mulher em idade fértil: evidências ainda inconclusivas sugerem superioridade dos ISRS. o Comorbidades psiquiátricas: ansiedade (ISRS), dependência de nicotina (bupropiona e nortriptilina) etc. o Suspeita de alteração primária do sono: preferência para tricíclicos ou trazodona. o Depressão graves: tricíclicos, IMAOs, venlafaxina, milnaciprano,mirtazapina, escitalopram e ECT. o Atípica: ISRS, se não der certo, IMAOs não seletivos (tranilcipromina). o Melancólica: tricíclico, venlafaxina, milnaciprano, mirtazapina e ECT. o Distimia: TCC e psicoterapia tem equivalência, e não existe diferença entre os antidepressivos. o Psicótica: tricíclico + antipsicóticos, ECT. o Sazonal: fototerapia e ISRS. • Terapias alternativas: o Hypericum perforatum (erva de São João): ▪ Eficácia superior ao placebo e comparável ao antidepressivo na depressão leve a moderada. ▪ Efeito decai com o tempo. ▪ Possui grande variabilidade nas preparações. ▪ Varias interações medicamentosas por ser pan-inibidor da CYP 405 e alterar o transporte mediado por glicoproteínas. o Valeriana: ▪ Carece de estudos sobre eficácia para tratamento de depressão. ▪ Melhora sintomas ansiosos e insônia. o Passiflora: 35 Gustavo Urzêda Vitória ▪ Efeito sedativo. ▪ Ainda sem evidencias de efetividade na depressão. o Ômega-3 e triptofano: ▪ Parece que a suplementação melhora os sintomas depressivos. Transtorno bipolar: 36 Gustavo Urzêda Vitória Conceito: • Distúrbio com alterações patológicas do humor, caracterizado pela recorrência de episódios de depressão e de euforia (mania e/ou hipomania). • Diferencia das depressões unipolares pela ocorrência de episódios maníacos e/ou hipomaníacos. Epidemiologia: • Prevalência ao longo da vida é de aproximadamente 1%, mas salta para 3-11% se considerar todo o espectro. • 6° maior causa de incapacidade segundo a OMS e, quando não tratado, cursa com taxas de suicídio de 15%. • Pode ter início em qualquer fase da vida → entre os 10 e os 35 anos tem mais risco. • Incidência do tipo I é igual entre os sexos, mas o tipo II é mais frequente em mulheres (1,5-3:1). • Homens tem mais mania, mas mulheres têm mais quadros mistos. Fisiopatologia: • Neurobioquímica: o Os sistemas de neurotransmissão noradrenérgicos, serotoninérgicos, dopaminérgicos, GABAérgicos e glutamatérgicos já foram estudados. ▪ Aumento de metabolitos de noradrenalina em líquor, urina e sangue nas fases maníacas (hiperatividade adrenérgica) e diminuição nas fases depressivas. ▪ Diminuição da atividade serotoninérgica na mania. ▪ Aumento dos receptores D1 em hipocampo, diminuição da concentração de GABA no líquor e no sangue na maníaca. ▪ Aumento de glutamato em líquor de bipolares deprimidos, e do glutamato em espectroscopia e aumento do receptor excitatório AMPA na mania. ▪ A transdução de sinais na membrana neuronal parece estar alterada na TB, com aumento da atividade de proteínas G, hiperatividade da PIP2 na mania e na depressão, aumento do Ca2+ intracelular e da proteína C quinase. o Há evidências de alterações neuroendócrinas e imunológicas, como a diminuição de receptores de glicorticoides em córtex pré- frontal e amígdala cerebral, e ausência de suspensão no teste com dexametasona na mania e na depressão. ▪ Aumento da atividade de IL-2 na mania e de IL-2 e IL-6 na ciclagem rápida. • Neuroimagem: o Achado mais consistente é a diminuição do córtex pré-frontal. 37 Gustavo Urzêda Vitória o Na mania tem significativa redução do metabolismo do córtex pré- frontal dorsolateral esquerdo, aumento do metabolismo no córtex pré-frontal subgenual. o Hipometabolismo cerebral na depressão. • Genética: o Importante componente genético. o Parentes de primeiro grau de bipolares tem risco 3 vezes maior para depressão unipolar, e 7 vezes maior para transtorno bipolar. o Herdabilidade é de aproximadamente 70%. o Estudos para mapear os genes ainda são inconclusivos → pode ser uma transmissão poligênica. Quadro clínico: • Maioria passa a maior parte do tempo experimentando sintomas depressivos (e não maníacos), subsindrômicos ou em episodio depressivo pleno, sendo os períodos de eutimia mais raros. • Os ciclos podem começar com mania e depois depressão, ou o inverso. • Grande parte não apresenta qualquer padrão identificável de ciclagem, com imensa variação interindividual e ao longo do tempo. • Costuma demorar anos para ser corretamente diagnosticado, podendo ser confundido com depressão, esquizofrenia, borderline, histriônica etc. • Geralmente não se queixa de sintomas de hipomania ou não reconhece o antecedente maníaco, queixando-se, geralmente, de depressão. • Comorbidades: o É alta a prevalência de comorbidades no bipolar, principalmente com transtornos do eixo I (abuso e dependência de álcool e drogas, transtorno do pânico, TOC, TAG, fobia social, TEPT, TDAH). o Com frequência se faz o diagnóstico da comorbidade e não do TB (bipolar), sendo o último é hierarquicamente mais importante, uma vez que, molda a gênese e a patoplastia da comorbidade, além de impactar negativamente o tratamento. • Depressão bipolar: o Exibe basicamente o mesmo repertório psicopatológico das depressões unipolares. o Geralmente o padrão atípico é mais comum na TB tipo II e o melancólico na TB tipo I. o Deve-se atentar a sinais sugestivos de TB em um episódio depressivo: ▪ Hipersonia, hiperfagia, pouca tristeza aparente, sintomas psicóticos, grave retardo psicomotor, não consegue desligar a noite, idade de início antes dos 25 anos e remissões abruptas, início no pós-parto, história familiar de TB, sinais e sintomas de síndrome maníaca durante o episódio depressivo (impulsividade, hiperatividade, taquipsiquismo, muita irritabilidade), recorrência muito grande de sintomas, 38 Gustavo Urzêda Vitória perda da resposta terapêutica ao antidepressivo ou falta de resposta a vários antidepressivos. • Mania: o Durante as fases maníacas, o humor se apresenta mais comumente irritável (euforias são mais raras), podendo o paciente exibir graus variados de impaciência, ira, raiva, ódio, irritabilidade, hostilidade ou heteroagressividade nas manias graves, ou pode ficar muito desconfiado, podendo ter delírios de perseguição nos episódios psicóticos. o Quando está eufórico, ele experimenta sentimentos de autossuficiência, onipotência, otimismo extraordinário ou alegria incomum, podendo ter delírios de grandiosidade. o É comum a labilidade afetiva, com acessos de choro abruptos. o Há aceleração dos processos psíquicos, raciocínio mais rápido, pensamentos acelerados ou não consegue parar de pensar. ▪ Pode chegar ao ponto de não conseguir discernir entre os vários pensamentos. o Pode haver fuga de ideias, tangencialidade, arborização de pensamento, distraibilidade e pensamento mais rápido do que consegue falar (atrapalha a dicção). o Paciente fala muito e muito rápido (logorreia), sendo difícil interrompê-lo (pressão de discurso). o Libido fica aumentada, o comportamento desinibido e impulsivo, podendo o paciente cometer indiscrições. o Pode exagerar no gasto com compras desnecessárias, fazer negócios tolos, viagens súbitas ou se engajar em inúmeras atividades simultâneas, começando e não terminando a maioria delas. o Dorme pouco e não se sente cansado. o Há prejuízo psicossocial e ocupacional para o indivíduo, inclusive com risco a saúde física (acidentes de trânsito, brigas, suicídios, ISTs). • Hipomania: o Os sintomas fundamentais da mania estão presentes (euforia ou irritabilidade, aceleração psíquica, hiperatividade), mas os sintomas não são suficientemente graves para causar prejuízo psicossocial e ocupacional. o Pode se sentir extremamente bem, produtivo, energizado e sociável → apenas as pessoas que convivem costumam perceber as mudanças. • Episódios mistos: o Concomitância de um episódio depressivo maior e de um episódio maníaco ou a rápida alternância entre os dois em um mesmo dia. o Mania mista: predomínio dos sintomas de mania. o Depressão mista: predomínio dos sintomas de depressão. 39 Gustavo Urzêda Vitória o Fenomenologia é rica e variada: desespero, aflição, agonia,raiva injustificada, aumento da ansiedade, agitação, abuso de drogas, frangofilia (vontade de quebrar as coisas), autoagressão e comportamento suicida. o Quadros mais leves podem referir variações no estado de energia ao longo do dia, com dificuldade de arranque matinal e progressiva aceleração, culminando com inquietação ou hiperatividade noturna (insônia etc.). • Ciclagem rápida: o Especificar o curso de pacientes com TB que ocorrem 4 ou mais episódios em um período de 12 meses. Subtipos: • Tipo I: o A característica essencial de um episódio maníaco é tida como um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável e aumento persistente da energia, com duração de pelo menos uma semana e presente a maior parte do dia, quase todos os dias (ou qualquer duração se precisar ser internado), acompanhado de pelo menos 3 sintomas adicionais. o Se o humor é irritável ao invés de elevado ou expansivo, pelo menos 4 sintomas adicionais. o Pode ter labilidade e o irritável é mais comum que o eufórico. o Em crianças, a felicidade, tolice e estupidez são normais no contexto de ocasiões especiais → porém se forem recorrentes, inadequados ao contexto e além do esperado para o nível de desenvolvimento da criança, pode ser mania. ▪ Se a felicidade for incomum para a criança e a mudança de humor ocorrer concomitante aos sintomas adicionais para mania → aumenta a certeza de diagnóstico. o Projetos da mania: inicia várias atividades com pouco preparo ou conhecimento, tem níveis de energia elevados, autoestima inflada, delírios de grandeza são comuns, supervalorização de si próprio. ▪ Diminuição da necessidade de sono, que inclusive pode abrir o quadro de mania. o Fala rápida, pressionada, alta e difícil de ser interpretada → piadas, trocadilhos, bobagens, teatralidade, maneirismo dramático, gestos excessivos. ▪ Quando irritados, podem ser reclamões, hostis e mal educados. o Pode haver fuga de ideias, pela velocidade de pensamento ser maior do que a da fala. o Distraibilidade acentuada com grande incapacidade de filtrar estímulos externos. 40 Gustavo Urzêda Vitória o Impulso, fantasias e comportamento sexuais estão geralmente aumentados. o Agitação e inquietação psicomotora. o Podem se envolver em projetos imprudentes por conta do prejuízo no julgamento crítico, tendo comportamentos de risco. o Pode provocar prejuízos no funcionamento psicossocial e profissional, e até necessitar de hospitalização em alguns casos. o Sinais e sintomas maníacos induzidos por drogas ou fármacos não satisfazem os critérios de mania, mas se o quadro persistir após o efeito dos mesmos, pode caracterizar episódio maníaco. o Durante a mania, é comum os pacientes não perceberem que estão doentes ou necessitando de tratamento, resistindo as tentativas de instituição terapêutica. o Critérios diagnósticos: 41 Gustavo Urzêda Vitória 42 Gustavo Urzêda Vitória • Tipo II: o Caracteriza-se por um curso de episódios de humor recorrentes, consistindo em um ou mais episódios depressivos maiores e pelo menos um episódio hipomaníaco. ▪ Depressivo: duração de pelo menos 2 semanas. ▪ Hipomaníaco: duração de pelo menos 2 semanas. 43 Gustavo Urzêda Vitória ▪ Devem estar presentes na maior parte do dia, quase todos os dias, além de representarem uma mudança notável do comportamento e do funcionamento habituais. o Presença de um episódio maníaco durante o curso da doença, exclui o diagnóstico de TB tipo II. o Não pode ser levado em consideração efeitos colaterais de fármacos e ação de drogas, a menos que os mesmos persistam além dos efeitos fisiológicos deles. o Devem causar sofrimento ou prejuízo em todas as esferas da vida. ▪ Geralmente causados pela depressão e não pela hipomania. o Episódios depressivos costumam ser mais recorrentes e duradouros na TB tipo II. o Não confundir hipomania com períodos de recuperação de um estado depressivo unipolar. o Tende a ser menos crônico, mas pode ser igualmente incapacitante e perigoso para o paciente. o Hipomania pode gerar aumento de produtividade e criatividade, dificultando o reconhecimento da doença e a aceitação de tratamento. o Critérios diagnósticos: 44 Gustavo Urzêda Vitória 45 Gustavo Urzêda Vitória • Transtorno ciclotímico: o Tem como característica essencial a cronicidade e a oscilação do humor, envolvendo vários períodos de hipomania e de sintomas depressivos distintos entre si. ▪ Os episódios de depressão e hipomania não conseguem preencher totalmente os critérios diagnósticos desses quadros. 46 Gustavo Urzêda Vitória o Durante o período inicial de 2 anos (1 ano para crianças e adolescentes), os sintomas precisam ser persistentes, presentes na maior parte dos dias, e qualquer intervalo sem sintoma não pode durar mais do que 2 meses. o Diagnóstico só é fechado quando os critérios para mania, depressão bipolar e hipomania não são fechados. ▪ Se o subsequente (após o período inicial) apresenta um episódio de depressão, mania e/ou hipomania → diagnóstico muda para TB tipo I ou tipo II. o Deve haver prejuízos significativos em todas as esferas da vida. o Critérios diagnósticos: Diagnósticos diferenciais: • Mania secundária é rara e geralmente acontece em idosos. • Síndromes de desinibição: demência fronto-temporal, síndrome de Kluver-Bucy. • Hipertireoidismo, AIDS, policitemia, esclerose tuberosa, sarcoidose, hidrocefalia de pressão normal, esclerose múltipla, neurossífilis, neurocisticercose, uso de corticoides etc. 47 Gustavo Urzêda Vitória Tratamento: • Deve envolver obrigatoriamente o componente médico-clínico e o psicoterapêutico. • Pode geralmente ser feito ambulatorialmente, com exceção de casos com risco de suicídio, falta de crítica e não adesão ao tratamento, comportamento francamente desorganizado ou auto/heteroagressivo → internação psiquiátrica. • Uso de estabilizadores de humor é o ponto chave. o Não existe ainda um estabilizador que alcance todos os objetivos do tratamento, por isso, normalmente são combinados entre si ou com outras classes de psicofármacos. • Lítio: o Foi o primeiro estabilizador a ter sua eficácia antimaníaca comprovada em ensaio duplo-cego controlado. o Eficácia em torno de 70-80% no tratamento de mania → principalmente de mania pura. o Latência de resposta de 2-3 semanas. o Tem moderado efeito antidepressivo e é considerado o mlehor estabilizador de humor na profilaxia de TB tipo I sem ciclagem rápida, com episódios bem delimitados e com boa recuperação interepisódica (mania > depressão). o Carbonato de lítio com meia vida de eliminação de 18-24h, posologia de 1-2x/dia, iniciado com 600mg/dia → titulando até dosagem sérica ficar entre 0,8-1,2mEq/L. (Depressão) 48 Gustavo Urzêda Vitória ▪ Coletar sangue 4-7 dias após o início da terapia e de 10-14 dias após a última tomada. ▪ Repetida sempre que houver dúvidas sobre toxicidade ou adesão. o Contraindicações absolutas: IAM recente, arritmias graves, psoríase e IRA. o Efeitos adversos comuns: tremor fino de mãos, náuseas, polidipsia, poliúria, ganho de peso e acne. o Aproximadamente 20% desenvolvem hipotireoidismo subclínico a médio-longo prazo (aumento do TSH) → corrigir. o Nefropatia induzida por lítio é rara, mas pode levar a suspensão do medicamento. • Valproato: o Ou ácido valproico → comprovada eficácia antimaníaca, principalmente nas manias mistas, na ciclagem rápida, na comorbidade com transtornos ansiosos e no abuso de álcool e de outras substâncias. o É a primeira opção, em alternativa ao lítio, no tratamento de mania aguda (ou em combinação). o Doses em torno de 20mg/kg → melhora o quando em mais ou menos 1 semana. o Níveis séricos entre 45 e 125mcg/mlsão necessários, sendo guiado pela tolerância do paciente. o 1-2x/dia, dependendo se a liberação é prolongada ou não. o Eficácia na depressão e na profilaxia é menor. o Efeitos adversos comuns: náuseas, tremores dose-dependentes, aumento do apetite e do peso, queda ou modificação dos cabelos e discreta elevação de transaminases. o Hemograma e enzimas hepáticas periodicamente. • Carbamazepina: o Eficácia antimaníaca, sobretudo nas disfóricas e ciclagem rápida → opção para tratamento de casos menos graves. o Eficácia antidepressiva é menor. o Eficácia profilática é significativa. o 2x/dia, com dose máxima de 1200mg/dia → nível sérico ideal de 4- 12 mcg/ml. o Efeitos adversos comuns: diminuição benigna dos leucócitos, tontura, visão turva, sonolência. o Enzimas hepáticas e hemograma periódicos. o Oxcarbazepina é um análogo com menos efeitos colaterais e eficácia semelhante → dose de 600-2400mg/dia. • Lamotrigina: o É um anticonvulsivante e tem papel importante no tratamento da depressão bipolar e na profilaxia de episódios depressivos. o Não há evidências da eficácia no tratamento e na prevenção de mania. 49 Gustavo Urzêda Vitória o 1x/dia, na dose de 50-200mg/dia. o Efeitos colaterais: rash cutâneo (pode evoluir para Stevens- Johnson), por isso a dose é escalonada gradualmente. o Deve ser evitada em associação ao valproato devido ao aumento do risco de rash e síndrome de Stevens-Johnson. • Antipsicóticos: o Tem um papel importante no manejo do TB, principalmente os antipsicóticos de 2ª geração ou atípicos. o 1ª geração tem eficácia na agitação e hiperatividade maníaca, mas devem ser evitados por conta do risco de síndrome extrapiramidal e discinesia tardia. o Dentre os atípicos, a olanzapina tem eficácia antimaníaca aguda e alguma eficácia antidepressiva. ▪ Quetiapina: antimaníaca e antidepressiva. ▪ Risperidona, ziprasidona e aripiprazol: antimaníaca aguda. ▪ Clozapina: tratamento de casos refratários pelo risco de agranulocitose. o Episódios agudos: antipsicótico + estabilizador de humor → resposta mais rápida. o Os atípicos têm risco de desenvolvimento de obesidade e síndrome metabólica (prováveis exceções: ziprasidona e aripiprazol). • Antidepressivos: o Deve ser evitado no tratamento de TB → pode induzir episódios de mania e de hipomania, acelerar a ciclagem, piorando a evolução da doença. o Reservado para casos em que as estratégias de primeira linha não tenham sido eficazes no tratamento ou profilaxia de episódio depressivo. ▪ Preferir ISRS ou bupropiona. • Eletroconvulsoterapia: o Indicada na mania refratária. o 1ª escolha para depressões com estupor grave ou aumento do risco de suicídio. o 1ª linha para depressões psicóticas. • Algoritmo: o Mania aguda: ▪ 1º linha: lítio, valproato, olanzapina, quetiapina, aripiprazol, ziprasidona; lítio ou valproato + risperidona; lítio ou valproato + quetiapina; lítio ou valproato + olanzapina. ▪ 2º linha: carbamazepina, oxcarbazepina, ECT, lítio + valproato. ▪ 3ª linha: haloperidol, clorpromazina, lítio ou valproato + haloperidol, lítio + carbamazepina, clozapina. 50 Gustavo Urzêda Vitória ▪ Não recomendado: monoterapia de gabapentina, topiramato, lamotrigina, verapamil, risperidona + carbamazepina. o Depressão bipolar: ▪ 1ª linha: lítio, lamotrigina, lítio ou valproato + ISRS, olanzapina + ISRS, lítio + valproato, lítio ou valproato + bupropiona, quetiapina. ▪ 2ª linha: quetiapina + ISRS, lítio ou valproato + lamotrigina. ▪ 3ª linha: carbamazepina, olanzapina, valproato, lítio + IMAO, ECT. ▪ Não recomendado: monoterapia com gabapentina. o TB: ▪ 1ª linha: lítio, lamotrigina (mania leve), valproato, olanzapina. ▪ 2ª linha: carbamazepina, lítio + valproato, lítio + carbamazepina, aripiprazol, quetiapina, risperidona. ▪ 3ª linha: adjuvantes: fenitoína, clozapina, ECT, topiramato, ácidos graxos ômega-3, oxcarbazepina, gabapentina. ▪ Não recomendado: flupentixol adjuvante. • Não farmacológico: 51 Gustavo Urzêda Vitória o Intervenções psicossociais: pacientes e familiares são orientados sobre a doença e o tratamento → diminui 50% o número de recaídas e o impacto da doença, além de aumentar a adesão. o Psicoterapia cognitivo-comportamental (TCC): dispõe de mais recursos e evidencias de eficácia. - Transtornos de personalidade: Personalidade: • Nosso jeito de ser → é um padrão, estável. • Teoria dos humores → Grécia antiga. o Melancólico. o Colérico. o Sanguíneo. o Fleumático. • Teorias psicanalistas de Freud. • Definição: conjunto integrado de traços psíquicos, consistindo no total de características individuais, em relação com o meio, incluindo fatores físicos, biológicos, psíquicos e socioculturais de sua formação, conjugando tendências inatas e experiências adquiridas. Transtornos: • Um padrão persistente de vivência íntima ou comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, que se manifesta em 2 ou mais das seguintes áreas: o Cognição (modo de perceber e interpretar a si próprio e aos outros). o Afetividade (variação, intensidade, labilidade, adequação da resposta emocional). o Funcionamento interpessoal. o Controle dos impulsos. • Vira transtorno quando causa sofrimento. • Padrão inflexível que gera prejuízos. • Início geralmente na adolescência ou no início da fase adulta. • Não é melhor explicado por outro transtorno mental. 52 Gustavo Urzêda Vitória • Não é decorrente de substâncias ou condições médicas. • Caso mais grave pode ser diagnosticado na infância. Grupo A: • São percebidos como estranhos e excêntricos. • Paranoide: o Desconfia de tudo, tem ciúmes excessivos, sente-se humilhado e maltratado pelas pessoas. o Tendência a guardar rancor. o Comum em quem desenvolve esquizofrenia. • Esquizoide: o Não gosta e não deseja interagir socialmente. o Não liga para elogios ou críticas. • Esquizotípica: o Personalidade pré-mórbida para esquizofrenia. o Comportamento estranho, ideação delirante, pensamento e afeto alterados, sentimentos de perseguição. Grupo B: • Parecem dramáticos, erráticos e emocionais. • Antissocial: o Psicopata e sociopata. o Fracasso em se associar as normas sociais. o Tendência a falsidade. o Ausência de remorso e agressividade. o Idade mínima de 18 anos para diagnóstico. o São sedutores e manipuladores. • Borderline: o Instabilidade emocional importante. o Se esforça muito para não ser abandonada. o Impulsiva. o Extremos de emoções. o Práticas excessivas e irresponsáveis. o Diferente da mania bipolar, que é transitória. o Automutilação alivia os sintomas. o Raiva intensa, vazio crônico. • Histriônica: o Mais comum em mulheres. o Centro das atenções. o Sexualmente sedutora de forma inadequada. o Mudanças rápidas de expressões e emoções. o Dramática, teatral e muito sugestionável. o Considera-se mais íntima do que realmente é. • Narcisista: 53 Gustavo Urzêda Vitória o Sentimentos de superioridade excessivo → espera ser reconhecido como melhor em tudo. o Explora as pessoas e não tem empatia. o Invejoso, não aceita críticas e se associa por conveniência. o Arrogante. Grupo C: • Podem parecer medrosos ou ansiosos. • Esquiva: o Inibição social → quer se relacionar, mas tem medo da rejeição e de ser humilhado. o Complexo de inferioridade. • Dependente: o Extremamente dependente para tomar decisões simples. o Medo de perder o apoio ou a aprovação → faz coisas extremas para agradar todo mundo. o Vai de um relacionamento para outro. • Obsessivo-compulsivo: o Perfeccionismo e preocupado com regras e normas. o Interesse em conclusão de tarefas. o Excessivamente dedicado ao trabalho. o Inflexível e incapaz de descartar objetos. o Reluta em delegar tarefas. o Rigidez e teimosia. Critériosdiagnósticos: 54 Gustavo Urzêda Vitória Tratamento: • Psicoterapia para todos → TCC, psicodinâmica e outras abordagens. • Farmacológico: o A: antipsicóticos em doses baixas. o B: depende do quadro → antidepressivos, antipsicóticos de 2ª geração, estabilizadores de humor. o C: ISRS. 55 Gustavo Urzêda Vitória - Transtornos de sintomas somáticos e correlatos: Conceito: • Proeminência de sintomas somáticos associados a sofrimento e prejuízo significativos. • Bastante comum em atendimentos primários de outras especialidades. • Não é diagnóstico de exclusão → várias entidades clínicas podem coexistir. • Muito ligados aos transtornos depressivos e de ansiedade. Causas: • Vulnerabilidade genética e biológica → sensibilidade a dor. • Experiencias traumáticas precoces → epigenética. • Cultural: estresse acumulado gera vários processos, como fibromialgia e gastrite. Diagnóstico diferencial: • Esclerose múltipla, miastenia graves, LES, AIDS, porfiria aguda intermitente. Transtornos: Transtorno de sintomas somáticos: • Um ou mais sintomas que causam aflição. • Pensamentos desproporcionais e ansiedade em relação aos sintomas. • Geralmente é relacionado a dor. • Diferenciar de pânico, TAG, depressão e TOC. Transtorno conversivo: • Um ou mais sintomas de função motora ou sensoriais alteradas (fraqueza, tremor etc.). • Não é melhor explicado por outro transtorno. • Achados físicos incompatíveis com os sintomas. • Manifestação inicial pode ser o estresse. • Fatores de risco: personalidade histriônica, doença neurológica, sexo feminino. • Sintomas dissociativos (sensação de perda da relação com a realidade) podem estar presente. • Como a presença de la belle indiference. 56 Gustavo Urzêda Vitória • Diferenciar de epilepsia (pode ter convulsões), tumores cerebrais, doenças dos núcleos da base, simulação, Guillain-Barré. Transtorno factício: • Feito em si ou no outro. • É de propósito, mas sem benefícios secundários óbvios. • Se apresenta e simula doenças. • Quando é imposto a outra pessoa, o diagnóstico é feito no impositor. Transtorno de ansiedade de doença: • Hipocondria → ansiedade para adquirir doenças graves. • Sintomas somáticos, quando presentes, são leves. • Preocupações muito desproporcionais. • Faz muitas investigações ou evita muito investigar. Fatores psicológicos que afetam outras condições médicas: • Comportamentos que afetam negativamente outras condições médicas → má adesão, sabotagem do tratamento etc. • Precipitam ou exacerbam os sintomas. 57 Gustavo Urzêda Vitória • Critérios diagnósticos: Tratamento: • TCC (terapia cognitivo-comportamental) é a modalidade com melhor nível de evidência. • ISRS podem ser usados a depender da situação. - Transtornos relacionado ao uso e abuso de substâncias: 58 Gustavo Urzêda Vitória Abstinência: Alcoólica: • Síndrome de abstinência alcoólica: o Usuários crônicos, ao abster-se ou reduzir a ingestão de álcool, apresentam a SAA → quadro clínico advindo da alteração de um “equilíbrio adquirido”. o Inicia 24-36h após a última dose → tremores, insônia, agitação e inquietação psicomotora. o Critérios diagnósticos: o Bases neurobiológicas: 59 Gustavo Urzêda Vitória o Autolimitada, com duração média de 7-10 dias. o Crises convulsivas ocorrem em 3% dos casos graves e, geralmente, são autolimitadas. o Mortalidade em torno de 1%. o Tremor de intensidade variável, que aparece algumas horas após a diminuição ou parada da ingestão, mais pela manhã → sintoma mais comum, acompanhado de irritabilidade, náuseas, vômitos, hiperatividade autonômica (taquicardia, aumento da PA, sudorese, hipotensão ortostática e febre < 38ºC). o Preditores de gravidade: ▪ História pregressa de SAA grave. ▪ Alcoolemia alta sem sinais e sintomas de intoxicação. ▪ Alcoolemia de 300mg/dl. ▪ Uso concomitante de sedativos. ▪ Comorbidades clínicas e psiquiátricas. ▪ Idade avançada. o Escala de gravidade CIWA-AR: 60 Gustavo Urzêda Vitória o Níveis: ▪ I: • Leve a moderada → agitação, ansiedade, tremores finos de extremidades, alterações do sono, da sensopercepção, do humor, do relacionamento interpessoal, do apetite, sudorese em surtos, aumento da FC, do pulso e da temperatura. • Alucinações são raras. 61 Gustavo Urzêda Vitória ▪ II: • 5% evoluem para SAA grave após 48h da última dose → tremores generalizados, alucinações auditivas e visuais, desorientação têmporo-espacial. • Delirium tremens após 72h da última dose, piorando ao entardecer (sundowning). • 10-15% apresentam convulsões do tipo grande mal, uma psicose orgânica reversível, dura de 2-10 dias, cursa com despersonalização, humor intensamente disfórico, alternando da apatia até a agressividade. • Diagnóstico diferencial com TCE e doenças epileptiforme, pois há riscos de sequelas e morte. 62 Gustavo Urzêda Vitória • Tratamento hospitalar. • Algoritmo para SAA com alteração da sensopercepção: 63 Gustavo Urzêda Vitória o Tratamento: ▪ I: • Ambulatorial, com consultas frequentes e participação da família. 64 Gustavo Urzêda Vitória ▪ II: • Hospitalar, pela necessidade de monitorização e uso de dose mais adequadas de medicamentos. 65 Gustavo Urzêda Vitória Cocaína e crack: • Síndrome de abstinência a cocaína: o Usuários crônicos e/ou de altas doses que cessam ou reduzem o uso podem apresentar, poucas horas após, geralmente com pico de 2-4 dias, uma fase inicial (crash) → sintomas intensos, como humor disfóricos ou depressivo, anedonia, redução da energia, retardo psicomotor, hipersonolência e fissura; comum ter sonhos vívidos e desagradáveis. o Com o passar dos dias, há maior predomínio da anedonia, fissura e sintomas ansiosos, com aumento do apetite e da insônia, podendo durar semanas. o Por fim, a fissura costuma ser o único sintoma, oscilando ao longo dos anos, muitas vezes vinculada a gatilhos ambientais. o Maioria tem sintomas leves, sem necessitar de qualquer tratamento. Raros casos têm complicações clínicas relevantes e com risco de morte → sempre avaliar risco de suicídio, além de sinais de isquemia miocárdica. o Tratamento: ▪ Bom vinculo médico-paciente. ▪ É crônico e demanda tratamento prolongado. ▪ Lapsos e recaídas não representam falha, apenas indicam necessidade de reavaliação das estratégias usadas. ▪ Inicialmente: completa avaliação clínica e psiquiátrica, com foco nas motivações pessoais e no apoio social/familiar. ▪ Ações multidisciplinares com medicações, grupos de ajuda e psicoterapia devem ser incluídos. o Tratamento da intoxicação aguda: ▪ Angina é um dos principais fatores que levam a procurar os serviços de saúde. ▪ Costuma ser leve e autolimitada. ▪ Avaliar e descartar SCA. ▪ Não é recomendado o uso de beta-bloqueador, pois podem piorar a hipertensão. ▪ Alguns podem ter excited delirium → intensa agitação psicomotora, agressividade, hipertermia e outras alterações autonômicas; maior risco de mortalidade. 66 Gustavo Urzêda Vitória ▪ Uso de medicações com propriedades depressoras (benzodiazepínicos) para antagonizar os efeitos da cocaína. E antipsicóticos, isolados ou associados, principalmente na suspeita de intoxicação concomitante com álcool ou presença de sintomas psicóticos. ▪ Evitar via EV até contenção do paciente, física e medicamentosa. ▪ Ainda não foi descoberto um antídoto. ▪ Instituir medidas profiláticas para ISTs, devido ao comportamento sexual de risco dos usuários de drogas. Maconha: • Aumenta em 4 vezes o risco de desenvolver esquizofrenia, além de piorar o prognóstico. • Está associado à alteração basal do humor, ao desencadeamento ou intensificação de sintomas psiquiátricos, como os de humor, bemcomo aumento dos desfechos negativos, piora da adesão ao tratamento, risco aumentado de suicídio e baixa resposta ao lítio. • Tratamento: o Abordagem psicossoal → TCC e manejo de contingências. Club drugs: • Drogas de boate → diferentes substâncias sintéticas de diversas classes, como estimulantes, alucinógenos e hipnóticos, muitas vezes de produção caseira ou em laboratórios clandestinos. • Usadas principalmente por jovens e adultos jovens em ambientes festivos. • MDMA, LSD, cetamina, metanfetaminas, GHB e rohypnol. • Ecstasy (MDMA): o Composto sintético desenvolvido em 1914 com estrutura química semelhante às anfetaminas e à mescalina. o Propriedades alucinógenas e estimulantes → euforia, sensação de bem-estar e aumento da empatia/sensação de sociabilidade. o Aumenta catecolaminas e a liberação de serotonina. o Comprimidos, cápsulas, pó ou líquido. o Pico de ação de 2h, com duração de 4-6h. o Intoxicações podem levar a quadro agudos graves → síndrome serotoninérgica, hiponatremia, hipertermia, convulsões e rebaixamento do nível de consciência. o Tratamento: ▪ Suporte clínico e redução dos efeitos estimulantes, com benzodiazepínicos → não usar haloperidol, fenitoína, beta- bloq e antipiréticos. • LSD: o Sintetizado em 1938. 67 Gustavo Urzêda Vitória o Principal representante dos alucinógenos, gerando alterações de sensopercepção, da consciência do Eu, do humor e do pensamento → envolve glutamato, serotonina e dopamina. o Papel impregnado ou líquido. o Início de ação na 1ª hora, com pico em 3-5h e duração de até 12h. o Intoxicações graves são raras → síndrome serotoninérgica e colapso cardiovascular. o Tratamento: ▪ Suporte e redução dos sintomas psicóticos → preferencia para haloperidol + benzodiazepínicos. Delirium: Conceito: • Síndrome neurocognitiva marcada pela alteração da consciência (obnubilação, redução da clareza quanto ao ambiente) e atenção (redução da capacidade de direcionar, focalizar, manter ou deslocar a atenção), acompanhada de déficit cognitivo (déficit de memória, desorientação, transtorno da linguagem) que não pode ser explicado por um quadro demencial preexistente. • Curto período e a intensidade dos sintomas tende a flutuar durante o dia. • Prevalência aumenta com a idade e com as internações hospitalares. Fatores de risco: • Prejuízo funcional, história de quedas, baixos níveis de atividade e uso de drogas e medicamentos com propriedades psicoativas (álcool e anticolinérgicos). • Transtornos neurocognitivos maiores e leves. • Pode ser sobreposto a demência → mais difícil diagnóstico pelo prejuízo cognitivo de base. • Baixo nível de escolaridade, idade avançada, multicomorbidades, deficiência visual, imobilidade, história de abuso de álcool, depressão, desnutrição e uso abusivo de opioides ou benzodiazepínicos. Avaliação: • Recuperação completa com ou sem tratamento específico → reconhecimento e intervenção precoces costumam reduzir a duração. • 70% passam despercebidos. • Pode progredir para estupor, coma, convulsões ou morte. • Uma das principais causas é a medicamentosa → idosos são mais sensíveis a efeitos adversos, principalmente de sedativos e anticolinérgicos. • CAM20 e CAM-ICU21 são instrumentos baseados no DSM-III, que avaliam 9 aspectos → início abrupto, alteração da atenção, pensamento desorganizado, alteração do nível de consciência, desorientação, prejuízo 68 Gustavo Urzêda Vitória da memória, distúrbio da percepção, agitação ou retardo psicomotor e alteração do ciclo sono-vigília. o Exigem a presença de quadro agudo e distúrbio da atenção associados a alteração do nível de consciência ou pensamento desorganizado. Abordagem: • Identificar e tratar a causa base. - Manejo do suicídio: Introdução: • Suicídio ou autoextermínio é a morte autoprovocada com evidencia de que a pessoa pretendia morrer. 69 Gustavo Urzêda Vitória • É tema de discussões morais, religiosas, antropológicas e sociológicas, além de ser um crescente problema de saúde pública mundial, atrelado a outros problemas de saúde mental. • Reações causadas pelo suicídio incluem: raiva, vergonha, angustia e perde de confiança profissional, bem como a necessidade de encontrar uma causa ou um culpado. • É um problema complexo e multifatorial, mas evitável. • Conceitos: • Mente do suicida: Epidemiologia: • OMS considera o suicídio e as tentativas sérios problemas de saúde pública, pois demandam muita atenção médica e grandes quantidades de recursos de saúde. 70 Gustavo Urzêda Vitória • Todos os anos 1 milhão de pessoas cometem suicídio. Fatores de risco: • Sexo: o Sexo masculino comete mais. o China é o único país com mais casos femininos que masculinos. • Idade: o Mais idosos, adolescentes e adultos jovens. o Idosos têm mais letalidade. o Ideação suicida é relativamente frequente em crianças. • Estado civil: o Solteiras, viúvas ou divorciadas apresentam maior risco. o Casamento é fator protetor para o sexo masculino, mas não para o feminino. • Ocupação: o Médicos, veterinários, farmacêuticos, dentistas, policiais e fazendeiros têm taxas mais altas. o Forte associação entre taxa de desemprego e suicídio. o Provavelmente mediado por fatores como pobreza, diminuição da condição social, dificuldades financeiras e desesperança. • Imigração e migração: o Independente dos fatores associados, como pobreza, habitações precárias e guerra, aumentam o risco de suicídio. o Além de aumentar as chances de desenvolver transtornos mentais. • Transtornos mentais: o Todos os transtornos mentais aumentam o risco de suicídio. • Transtorno de humor: o Risco estimado de 6-15% ao longo da vida. o Depressão é mais comum. o Principalmente quando não reconhecidos ou não tratados. o Sintomas depressivos associados a maior risco: insônia persistente, autonegligência, inquietação, déficits cognitivos, abuso de álcool, fases iniciais da doença, mania psicótica e estados mistos (maníacos-depressivos). • Alcoolismo e uso de drogas: o Tanto o abuso quanto a dependência, principalmente em adultos jovens. o Frequentemente existe comorbidade psiquiátrica. • Esquizofrenia: o Risco 8-14 vezes maior. o Relacionado a delírios e alucinações, percepção de deterioração, sexo masculino, jovem, desemprego e comorbidade depressiva. o Fase inicial, com funções cognitivas melhores, e reagudizações têm maiores riscos. • Transtornos de personalidade: o 12 vezes maior para homens e 20 vezes para mulheres. 71 Gustavo Urzêda Vitória o Especialmente borderline e antissocial. o A impulsividade e agressividade podem gerar ato sem associação com ideação, além de ser mais letal ou deixar graves sequelas. • Transtornos de ansiedade: o Pânico é o mais frequentemente associado a suicídio, seguido de TOC. o Alto risco para comorbidades. • Transtornos alimentares: o Bulimia é mais associada que anorexia. • Primeiro episódio psicótico: o Taxas maiores, 1-3% em um período de 4-5 anos. o Preditores: antecedentes de autoagressividade, desesperança e humor deprimido. o Quanto maior o tempo de psicose não tratada, maior as taxas de suicídio. • Doenças clínicas: o Aids, epilepsia, doença de Huntington, neoplasias, doenças neurológicas e LES. o Alguns efeitos colaterais de medicações podem afetar o estado mental. • Tentativas prévias: o Primeira tentativa costuma ser mais letal para homens. o 12% dos sobreviventes tem êxito na segunda tentativa. o Tentar uma vez representa risco 38 vezes maior e é o principal fator de risco. • Outros: o Porte ou acesso a arma de fogo, problemas legais ou estar preso, luto decorrente de perda familiar ou amigo próximo, abuso físico ou sexual na infância. Fatores de proteção: • Religiosidade, uma vez que as religiões em geral condenam o suicídio.
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