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OBJETIVOS
1. Estudar os transtornos psicóticos;
a. Diferenciar TP primário e secundário.
b. Tratamento: estudar a farmacodinâmica e farmacocinética dos antipsicóticos.
2. Compreender o exame físico neurológico.
Transtornos Psicóticos
INTRODUÇÃO
A psicose é uma síndrome associada à desregulação dos
neurotransmissores dopamina e serotonina e ao
funcionamento anormal dos principais circuitos
cerebrais, particularmente envolvendo as regiões
cerebrais frontal, temporal e mesoestriatal. Pessoas com
psicose geralmente apresentam alucinações (por exemplo,
auditivas, visuais, táteis), delírios e pensamentos e ações
desorganizados.
A psicose pode ser devida a transtornos psiquiátricos
primários ("não orgânicos") ou ser secundária ao uso de
substâncias ou etiologias clínicas específicas
("orgânicos").
− Os transtornos psicóticos primários incluem:
esquizofrenia, transtorno delirante, transtorno
esquizoafetivo, transtorno esquizofreniforme e
transtorno psicótico breve.
− Os pacientes com psicose secundária ao uso de
drogas ou causas clínicas geralmente apresentam
sinais vitais alterados, alucinações visuais e
comprometimento cognitivo grave, incluindo
confusão ou desorientação.
Uma síndrome psicótica pode também acompanhar outras
condições psiquiátricas, como transtorno depressivo maior
e transtorno bipolar. Pacientes com psicose associada a
transtornos psiquiátricos apresentam uma combinação de
alucinações (principalmente, auditivas), delírios e
processo de pensamento desorganizado, mas geralmente
são orientados e apresentam deficits cognitivos
observáveis mínimos. Com exceção da agitação aguda, os
pacientes com psicose (que, do contrário, sejam saudáveis)
tendem a ter sinais vitais normais.
A avaliação da psicose inclui exame físico, história
médica e psiquiátrica completas e um investigação
laboratorial. O exame físico deve incluir exame
neurológico detalhado e exame completo do estado
mental, com as seguintes áreas de foco: humor e afeto,
processo e conteúdo do pensamento (incluindo uma
avaliação dos delírios, percepções anormais, ideação
suicida e homicida, e crítica), e um exame cognitivo.
A história médica deve incluir uma revisão dos
traumatismos cranioencefálicos, convulsões, doenças
cerebrovasculares, infecções sexualmente transmissíveis e
cefaleias novas ou em agravamento. A história colateral é
recomendada para traçar o início e a evolução da psicose.
As investigações laboratoriais iniciais recomendadas
incluem um hemograma completo, perfil metabólico
abrangente, testes de função tireoidiana, toxicologia
urinária e medição do hormônio paratireoide, cálcio,
vitamina B12, folato e niacina. Com base na suspeita
clínica, testes para infecção por HIV e sífilis, bem como
neuroimagem cerebral (por exemplo, TC ou RNM),
devem ser considerados como parte da investigação
inicial.
Sintomas positivos
Padrões da fala Descrição
Neologismos
Uso de palavras
inventadas
Desassociação Associações desconexas
Tangencialidade
Incapacidade de se ater ao
ponto de origem
Incoerência Perda de conexões lógicas
“Salada” de palavras
Grupos de palavras
desconexas
Sintomas negativos
Comportamento Descrição
Alogia
Tendencia a falar muito
pouco
Avolição
Ausência de motivação
para atividades
direcionadas a objetivos
Apatia
Ausência de interesse ou
preocupação
Embotamento afetivo
Ausência de expressão
emocional
Afeto inadequado
O afeto não corresponde à
situação
Anedonia
Incapacidade de sentir
prazer com as coisas
normalmente prazerosas
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PSICOTICO BREVE
O transtorno psicótico breve (TPB) é um distúrbio de curta
duração que envolve o início súbito de ao menos 1
sintoma psicótico positivo. Esses sintomas incluem
delírios, alucinações, fala desorganizada (por exemplo,
agitação frequente ou incoerência) ou comportamento
grosseiramente desorganizado ou catatônico, onde pelo
menos 1 sintoma deve ser delírios, alucinações ou fala
desorganizada.
O TPB pode durar entre 1 e 30 dias antes de o paciente
retornar completamente ao nível pré-mórbido de
funcionamento.
Para ser diagnosticado como TPB, o distúrbio não deve ser
induzido por substâncias nem ser justificado por um
transtorno esquizoafetivo, por um transtorno do humor
com características psicóticas, por esquizofrenia ou por
uma condição médica geral (por exemplo, transtorno
convulsivo, sarcoidose, câncer de pulmão, tireotoxicose
ou trauma cranioencefálico)
A. Presença de um (ou mais) dos sintomas a seguir. Pelo
menos um deles deve ser (1), (2) ou (3):
1. Delírios.
2. Alucinações.
3. Discurso desorganizado (p. ex., descarrilamento
ou incoerência frequentes).
4. Comportamento grosseiramente desorganizado
ou catatônico. Nota: Não incluir um sintoma que
seja um padrão de resposta culturalmente aceito.
B. A duração de um episódio da perturbação é de, pelo
menos, um dia, mas inferior a um mês, com eventual
retorno completo a um nível de funcionamento pré-
mórbido.
C. A perturbação não é mais bem explicada por transtorno
depressivo maior ou transtorno bipolar com características
psicóticas, por outro transtorno psicótico como
esquizofrenia ou catatonia, nem se deve aos efeitos
fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso,
medicamento) ou a outra condição médica.
Início súbito é definido como uma mudança de um estado
não psicótico para um estado claramente psicótico em
duas semanas, geralmente sem um pródromo. Um
episódio da perturbação tem duração mínima de um dia,
ainda que inferior a um mês, e a pessoa eventualmente tem
um retorno completo ao nível de funcionamento pré-
mórbido
Pessoas com transtorno psicótico breve costumam
vivenciar turbulência emocional ou grande confusão.
Podem apresentar mudanças rápidas de um afeto intenso a
outro. Ainda que a perturbação seja breve, o nível de
prejuízo pode ser grave, podendo haver necessidade de
supervisão para garantir o atendimento às necessidades
nutricionais e higiênicas e para que a pessoa fique
protegida das consequências de julgamento insatisfatório,
prejuízo cognitivo ou atos baseados em delírios. Parece
haver risco aumentado de comportamento suicida,
particularmente durante o episódio agudo.
O transtorno psicótico breve pode aparecer na
adolescência e no início da fase adulta, podendo ocorrer
durante a vida toda, com idade média de início situando-
se aos 30 anos. Por definição, um diagnóstico de
transtorno psicótico breve exige remissão completa de
todos os sintomas e eventual retorno completo ao nível de
funcionamento pré-mórbido em um mês do aparecimento
da perturbação. Em algumas pessoas, a duração dos
sintomas psicóticos pode ser muito breve (p. ex., alguns
dias).
O transtorno psicótico breve (TPB) pode ser desencadeado
por um evento acentuadamente estressante ou pelo parto.
Também pode ocorrer na ausência de estressores. A
exposição pré-natal ao estresse aumenta o risco de TPB
pós-parto, assim como uma história de sintomas
psiquiátricos. Algumas pessoas podem ter uma
vulnerabilidade genética ao TPB, que ocorre com maior
frequência em pessoas cujos parentes tiveram TPB.
Transtornos e traços de personalidade preexistentes (p.
ex., transtorno da personalidade esquizotípica, transtorno
da personalidade borderline ou traços de psicoticismo,
como desregulação perceptiva, e no domínio da
afetividade negativa, como desconfiança) podem
predispor o indivíduo ao desenvolvimento do transtorno.
Os fatores de risco incluem: presença de estressores
significativos na vida, história familiar de transtorno
psicótico, estar grávida ou em até 4 semanas pós-parto,
sintomas psiquiátricos prévios em mulheres, idade entre
30 e 40 anos e ser mãe solteira.
TRANSTORNO ESQUIZOFRENIFORME
A. Dois (ou mais)dos itens a seguir, cada um presente por
uma quantidade significativa de tempo durante um período
de um mês (ou menos, se tratados com sucesso). Pelo
menos um deles deve ser (1), (2) ou (3):
1. Delírios.
2. Alucinações.
3. Discurso desorganizado (p. ex., descarrilamento
ou incoerência frequentes).
4. Comportamento grosseiramente desorganizado
ou catatônico.
5. Sintomas negativos (i.e., expressão emocional
diminuída ou avolia).
B. Um episódio do transtorno que dura pelo menos um
mês, mas menos do que seis meses. Quando deve ser feito
um diagnóstico sem aguardar a recuperação, ele deve ser
qualificado como “provisório”.
C. Transtorno esquizoafetivo e transtorno depressivo ou
transtorno bipolar com características psicóticas foram
descartados porque 1) nenhum episódio depressivo maior
ou maníaco ocorreu concomitantemente com os sintomas
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da fase ativa ou 2) se os episódios de humor ocorreram
durante os sintomas da fase ativa, estiveram presentes pela
menor parte da duração total dos períodos ativo e residual
da doença.
D. A perturbação não é atribuível aos efeitos fisiológicos
de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento)
ou a outra condição médica
Genéticos e fisiológicos. Familiares de pessoas com
transtorno esquizofreniforme têm risco aumentado de
desenvolver esquizofrenia
fala desorganizada ou rápida, pode pular de um assunto
para outro com o mínimo de conexão, tempo prolongado
entre perguntas e respostas (evidência de preocupação
interna), respostas verbais a estímulos internos (evidência
de alucinações), possível identificar pensamento delirante,
afeto pode ser incongruente ou embotado, ansiedade,
comportamento pode ser altamente desorganizado ou
catatônico, pode ser bizarro, movimentos repetitivos que
pareçam ter um direcionamento mas são realizados de
forma rígida; nenhum achado que sugira ser uma causa
secundária da psicose.
O diagnóstico de transtorno esquizofreniforme é feito em
duas condições:
1) quando um episódio da doença dura entre 1 e 6
meses, e a pessoa já se recuperou;
2) quando um indivíduo está sintomático por menos
de seis meses, tempo necessário para o
diagnóstico de esquizofrenia, mas ainda não se
recuperou.
Nesse caso, o diagnóstico deve ser registrado como
“transtorno esquizofreniforme (provisório)”, porque
ainda não há certeza se o indivíduo irá se recuperar da
perturbação no período de seis meses. Se a perturbação
persistir por mais de seis meses, o diagnóstico deve ser
mudado para esquizofrenia.
O transtorno esquizofreniforme difere em relação à
duração do transtorno psicótico breve, que dura menos
de um mês.
TRANSTORNO DELIRANTE
Pode haver história familiar de transtorno psiquiátrico;
história de AVC; delírios de duração de, ao menos, 1 mês;
critérios para o diagnóstico de esquizofrenia não
satisfeitos; funcionamento normal exceto pelo impacto
dos delírios; distúrbios de humor são breves ou ausentes.
A. A presença de um delírio (ou mais) com duração de um
mês ou mais.
B. O Critério A para esquizofrenia jamais foi atendido.
Nota: Alucinações, quando presentes, não são
proeminentes e têm relação com o tema do delírio (p. ex.,
a sensação de estar infestado de insetos associada a
delírios de infestação).
C. Exceto pelo impacto do(s) delírio(s) ou de seus
desdobramentos, o funcionamento não está
acentuadamente prejudicado, e o comportamento não é
claramente bizarro ou esquisito.
D. Se episódios maníacos ou depressivos ocorreram, eles
foram breves em comparação com a duração dos períodos
delirantes.
E. A perturbação não é atribuível aos efeitos fisiológicos
de uma substância ou a outra condição médica, não sendo
mais bem explicada por outro transtorno mental, como
transtorno dismórfico corporal ou transtorno obsessivo-
compulsivo.
Problemas sociais, conjugais ou profissionais podem ser
consequências de crenças ou transtorno delirante.
Indivíduos com transtorno delirante podem ser capazes de
descrever, de forma factual, que outras pessoas veem suas
crenças como irracionais; são incapazes, no entanto, de
aceitar isso (i.e., pode existir “insight dos fatos”, mas não
um insight verdadeiro). Muitos indivíduos desenvolvem
humor irritável ou disfórico, que costuma ser
compreendido como uma reação às suas crenças
delirantes. Raiva e comportamento violento podem
ocorrer com os tipos persecutório, ciumento e
erotomaníaco. A pessoa pode se envolver em
comportamento litigioso ou antagonista (p. ex., envio de
centenas de cartas de protesto ao governo). Podem ocorrer
dificuldades legais especialmente nos tipos ciumento e
erotomaníaco.
A prevalência ao longo da vida de um transtorno delirante
foi estimada em 0,2%, e o subtipo mais frequente é o
persecutório. O transtorno delirante do tipo ciumento é
provavelmente mais comum em indivíduos do sexo
masculino do que nos do feminino, embora não haja
grandes diferenças de gênero na frequência geral do
transtorno delirante
ESQUIZOFRENIA
A esquizofrenia é um transtorno caracterizado pela
ocorrência concomitante de pelo menos dois dos
sintomas a seguir: delírios, alucinações, discurso
desorganizado, comportamento desorganizado/catatônico
ou sintomas negativos (por exemplo, embotamento
afetivo, avolição, anedonia, deficit de atenção ou
empobrecimento discursivo e de linguagem) que ocorrem
por um intervalo de tempo significativo durante um
período de 1 mês (a fase ativa) e associados a problemas
contínuos que se estendem por um período de no mínimo
6 meses.
Pelo menos um dos sintomas precisa ser um sintoma
positivo (isto é, delírios, alucinações ou discurso
desorganizado). A duração da fase ativa pode ser de menos
de 1 mês se os deficits forem tratados com sucesso. Para
um diagnóstico de esquizofrenia, os sintomas não
precisam ocorrer somente e concomitantemente ao uso de
substâncias ou a um episódio de transtorno do humor.
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Episódios afetivos podem ocorrer durante a evolução do
transtorno; no entanto, sua duração deve ser menor que a
duração total dos períodos das fases ativas e contínuas.
A. Dois (ou mais) dos itens a seguir, cada um presente por
uma quantidade significativa de tempo durante um período
de um mês (ou menos, se tratados com sucesso). Pelo
menos um deles deve ser (1), (2) ou (3):
1. Delírios.
2. Alucinações.
3. Discurso desorganizado.
4. Comportamento grosseiramente desorganizado
ou catatônico.
5. Sintomas negativos (i.e., expressão emocional
diminuída ou avolia).
B. Por período significativo de tempo desde o
aparecimento da perturbação, o nível de funcionamento
em uma ou mais áreas importantes do funcionamento,
como trabalho, relações interpessoais ou autocuidado, está
acentuadamente abaixo do nível alcançado antes do início
(ou, quando o início se dá na infância ou na adolescência,
incapacidade de atingir o nível esperado de funcionamento
interpessoal, acadêmico ou profissional).
C. Sinais contínuos de perturbação persistem durante, pelo
menos, seis meses. Esse período de seis meses deve incluir
no mínimo um mês de sintomas (ou menos, se tratados
com sucesso) que precisam satisfazer ao Critério A (i.e.,
sintomas da fase ativa) e pode incluir períodos de sintomas
prodrômicos ou residuais. Durante esses períodos
prodrômicos ou residuais, os sinais da perturbação podem
ser manifestados apenas por sintomas negativos ou por
dois ou mais sintomas listados no Critério A presentes em
uma forma atenuada (p. ex., crenças esquisitas,
experiências perceptivas incomuns).
D. Transtorno esquizoafetivo e transtorno depressivo ou
transtorno bipolar com características psicóticas são
descartados porque 1) não ocorreram episódios
depressivos maiores ou maníacos concomitantemente com
os sintomas da fase ativa, ou 2)se episódios de humor
ocorreram durante os sintomas da fase ativa, sua duração
total foi breve em relação aos períodos ativo e residual da
doença.
E. A perturbação pode ser atribuída aos efeitos fisiológicos
de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento)
ou a outra condição médica. F. Se há história de transtorno
do espectro autista ou de um transtorno da comunicação
iniciado na infância, o diagnóstico adicional de
esquizofrenia é realizado somente se delírios ou
alucinações proeminentes, além dos demais sintomas
exigidos de esquizofrenia, estão também presentes por
pelo menos um mês (ou menos, se tratados com sucesso)
Em geral, a idade para o início do transtorno é de <25 anos
para os homens e <35 anos para as mulheres. Uma
incidência maior do transtorno ocorre entre populações
urbanas e de menor renda, em comparação a grupos rurais
e com maior renda.
A esquizofrenia é um transtorno multifatorial. O modelo
mais usado é a diátese-estresse. De acordo com essa
hipótese, uma pessoa com vulnerabilidades específicas
enfrenta uma série de influências estressantes ao longo do
tempo, as quais levam aos sintomas. Estressores
específicos (diátese) podem ser biológicos, ambientais ou
ambos. Os fatores ambientais incluem perdas e traumas,
enquanto os fatores biológicos podem ser infecções e uso
indevido de substâncias, entre outros.
A genética também desempenha um papel importante na
herdabilidade. Evidências atuais sugerem um modelo
multifatorial/limiar da hereditariedade da esquizofrenia.
Sinais e sintomas diferentes podem estar ligados aos genes
e alguns sintomas podem ser encontrados em familiares
assintomáticos de pacientes com esquizofrenia (por
exemplo, funcionamento psicossocial desfavorável).
Muitos neurotransmissores desempenham um papel,
incluindo dopamina, serotonina e glutamato. Embora
faltem dados definitivos, existe uma base moderada para
sustentar a teoria hiperdopaminérgica, que propõe que a
hiperatividade dos neurônios dopaminérgicos no trato
mesolímbico seja o principal fator de desequilíbrio. Os
medicamentos que bloqueiam a dopamina reduzem os
sintomas psicóticos, enquanto aqueles que aumentam os
níveis de dopamina intensificam os sintomas.
SINTOMAS POSITIVOS são aqueles considerados um
excesso de funções mentais normais. Por exemplo, além
da percepção habitual, comum a todos, pessoas com
esquizofrenia também têm alucinações. Sintomas
positivos incluem delírios, alucinações e processos de
pensamento desorganizados.
Alucinações são um dos principais sintomas positivos.
Devem ser feitas perguntas quanto à presença e à
qualidade das alucinações. As alucinações auditivas são as
mais comuns e podem se manifestar dentro ou fora da
mente do paciente. Geralmente, são descritas como
comandos, conversas e/ou comentários depreciativos ou
incessantes. Geralmente o paciente se preocupa com esses
sintomas e há uma tendência em descrevê-los
detalhadamente quando questionado a respeito, contanto
que não seja julgado. Também é possível perceber uma
preocupação interna, evidenciada pelo longo tempo
decorrido entre as perguntas e as respostas. O paciente
pode estar respondendo a estímulos internos, retardando
as suas respostas. Ele pode inclusive responder
verbalmente a esses estímulos, dando claras evidências ao
médico de que as alucinações estão presentes. Alucinações
visuais, olfativas e gustativas também podem ocorrer, mas
são menos comuns. As alucinações táteis (ou seja, pulsos
elétricos, sensação de rastejamento) raramente estão
presentes na esquizofrenia e devem alertar para a suspeita
de psicose induzida por drogas. Raramente, o paciente
pode relatar alucinações cinestésicas, descritas como
sensações somáticas infundadas, como a sensação de
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queimação no cérebro, dor insuportável na medula óssea
ou uma sensação de dilatação dos vasos sanguíneos.
Delírios referem-se a crenças fixas que não se baseiam na
realidade e não podem ser explicadas como parte do
histórico cultural do paciente. Tipos comuns incluem
delírios persecutórios, de grandiosidade, de niilismo ou
religiosos. Outros tipos de delírios incluem delírios de
controle de pensamento, como inserção de pensamentos
(falsas crenças de que alguém colocou pensamentos na
cabeça do paciente) ou delírios de retirada de pensamentos
(crenças de que alguém está roubando pensamentos da
cabeça do paciente). A irradiação de pensamentos refere-
se a uma crença de que os pensamentos do paciente estão
sendo transmitidos em voz alta e podem ser percebidos por
outras pessoas. Os delírios de referência consistem na
crença de que eventos comuns ou coincidências referem-
se diretamente ao paciente (por exemplo, mensagens
pessoais na televisão e jornais; dois estranhos que
começam a conversar "de propósito" quando o paciente
passa por eles). Os delírios comumente se apresentam no
início do transtorno, possivelmente como uma tentativa de
explicar as mudanças de experiências prodrômicas.
Geralmente, os delírios mudam de tema durante o período
prodrômico e a fase inicial da doença; com o passar dos
anos, os delírios tendem a se tornar cristalizados.
A identificação de delírios pode ser mais desafiadora que
a identificação de alucinações, já que as crenças do
paciente estão ligadas a situações da vida real. Os
pacientes acreditam que seus delírios sejam reais, e com o
tempo desenvolvem conexões bastante elaboradas. Eles
podem apresentar grande preocupação a respeito de seu
sistema de ideias. A grandiosidade e a paranoia associadas
podem ajudar a identificar possíveis delírios.
Além de alucinações e delírios, vários sintomas positivos
deverão ser avaliados durante a entrevista inicial. Elas
incluem:
Comportamento bizarro ou desorganizado.
Afeto incongruente: refere-se a uma falta de conexão entre
o conteúdo do pensamento e do discurso.
− Fala maníaca: refere-se ao discurso rápido e
intenso.
− Discurso distraível: refere-se à incapacidade de
manter a atenção. O paciente muda de um tópico
a outro com a mínima provocação ou é
frequentemente distraído por estímulos externos
sem importância ou irrelevantes.
− Tangencialidade: refere-se à incapacidade de
focar em um tópico, pulando de um assunto a
outro sem a mínima conexão entre eles.
− Circunstancialidade: refere-se à incapacidade de
oferecer uma resposta precisa devido a inclusão
demasiada de detalhes desnecessários.
− Frouxidão de associação (descarrilamento):
refere-se à incoerência completa causada pela
tangencialidade extrema.
− Verbigeração: uma repetição de palavras na
ausência de estímulos.
− Perseveração: uma repetição da mesma resposta
(por exemplo, palavra ou frase) a estímulos
diferentes.
− Salada de palavras: um tipo de discurso onde não
há conexões entre as palavras.
− Desrealização: refere-se a uma percepção alterada
onde o mundo externo é estranho ou irreal. O
paciente pode relatar que se sente "como em um
filme". Se esse sintoma for saliente, outras
patologias deverão ser consideradas.
− Déjà-vu: uma paramnésia onde os pacientes têm a
sensação de que estão vendo algo que já viram. Se
esse sintoma for saliente, outras patologias
deverão ser consideradas.
SINTOMAS NEGATIVOS
Sintomas negativos referem-se a uma diminuição ou perda
da função mental normalmente presente em pessoas sem
esquizofrenia. Uma diminuição da função dopaminérgica
em determinadas áreas do cérebro, especialmente no
córtex pré-frontal, pode contribuir para os sintomas
negativos de esquizofrenia. Sintomas negativos incluem
deficits de motivação, aumento do isolamento social e
diminuição da expressão emocional e mostraram estar
inversamente correlacionados ao funcionamento geral e à
qualidade de vida dos pacientes com esquizofrenia. Os
sintomas negativos podem se manifestar a qualquer
momentodurante a evolução do transtorno e podem piorar
com a psicose aguda, a depressão e os efeitos adversos
relacionados ao uso de drogas. Eles incluem:
− Comportamento de isolamento social: os
pacientes apresentam uma perda de entusiasmo
por qualquer atividade
− Embotamento afetivo: refere-se à redução ou à
ausência da capacidade de expressar emoções
− Anedonia: uma ausência da capacidade de
apreciar todos os tipos de atividades, incluindo
atividades construtivas e recreacionais e
interações sociais
− Alogia: redução quantitativa e qualitativa da fala
− Avolição: a capacidade reduzida ou a
incapacidade de iniciar e persistir em um
comportamento direcionado à realização de um
objetivo. Isso pode levar ao desenvolvimento de
comportamentos que são aparentemente
direcionados a um objetivo, mas que são
realizados de maneira afetada.
CATATONIA
Os sintomas catatônicos representam um estado de perda
extremo ou excesso prejudicial de atividade motora. Os
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sintomas catatônicos a seguir são ocasionalmente
observados em pacientes com esquizofrenia:
− Estupor catatônico: uma resposta reduzida ao
ambiente, imobilidade e mutismo (casos mais
graves). Pode apresentar agitação ou retardo
psicomotor.
− Rigidez catatônica: refere-se à imobilidade e à
resistência ao movimento.
− Negativismo catatônico: ocorre quando o paciente
recusa todas instruções.
− Excitação catatônica: é um aumento geral da
atividade motora, que não é uma resposta ao
ambiente
− Estereotipias: comportamentos afetados
direcionados à realização de um objetivo que se
manifestam uniformemente, como movimentos
repetitivos
− Paracinesias: comportamentos afetados
direcionados à realização de um objetivo que se
manifestam como caretas, espasmos e
movimentos bruscos
− Ecopraxia: um comportamento afetado
direcionado à realização de um objetivo que se
manifesta como a repetição dos movimentos
observados em outras pessoas
− Obediência automática: um comportamento
afetado direcionado à realização de um objetivo
que se manifesta como a execução automática de
instruções
− Flexibilidade cérea: um comportamento afetado
direcionado à realização de um objetivo que se
manifesta como a habilidade de manter posições
impostas por longos períodos de tempo.
TRATAMENTO
Caso se considere que uma pessoa apresenta maior risco
de desenvolver psicose, o recomendável é oferecer terapia
cognitivo-comportamental (TCC) e não iniciar qualquer
medicamento antipsicótico.
Se o episódio agudo é a primeira manifestação, o paciente
precisa ser estabilizado com medicamento antipsicótico.
Para pacientes diagnosticados recentemente, recomenda-
se o uso de um antipsicótico que não seja clozapina e
olanzapina como tratamento de primeira linha. Na
gestação, os antipsicóticos típicos (de primeira geração)
parecem ser menos prejudiciais que os antipsicóticos
atípicos (de segunda geração) em termos de risco de
complicações metabólicas gestacionais, peso elevado para
a idade gestacional e peso ao nascer
OPÇÕES PRIMÁRIAS
− Risperidona: 1 mg por via oral duas vezes ao dia
inicialmente, aumentar gradualmente de acordo
com a resposta, máximo de 16 mg/dia, doses >6
mg/dia aumentam o risco de efeitos
extrapiramidais
− Quetiapina: 25 mg por via oral (liberação
imediata) duas vezes ao dia inicialmente,
aumentar gradualmente de acordo com a resposta,
máximo de 800 mg/dia administrados em 2-3
doses fracionadas; 300 mg por via oral (liberação
modificada) uma vez ao dia inicialmente,
aumentar gradualmente de acordo com a resposta,
máximo de 800 mg/dia
Em casos de agitação extrema e violência, um
medicamento antipsicótico intramuscular de curta duração
pode ser administrado, geralmente em combinação com
um benzodiazepínico injetável, como lorazepam
− Lorazepam: 1-2 mg por via intramuscular em
dose única, repetir a cada 8 horas se necessário
Há evidências mistas que sugerem que a ECT, em
combinação com medicamentos antipsicóticos, pode
oferecer benefícios para melhorar o estado mental e a
probabilidade de alta hospitalar, embora os benefícios não
sejam sustentados em médio a longo prazo. A ECT pode
resultar em deterioração da memória
Os antipsicóticos atípicos parecem ser mais eficientes na
prevenção da recidiva que os antipsicóticos típicos.
ESQUIZOAFETIVO
O transtorno esquizoafetivo é uma doença definida por
uma evolução que combina sintomas afetivos e psicóticos
significativos. A definição do Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) requer a
presença de sintomas de esquizofrenia concomitantes a
sintomas de humor (depressão ou mania), com duração
considerável em um período de 1 mês. O transtorno
esquizoafetivo é também classificado como do tipo bipolar
(quando os sintomas maníacos são proeminentes;
episódios depressivos maiores podem também ocorrer) ou
do tipo depressivo (quando apenas esquizofrenia e
sintomas depressivos maiores estão presentes).
− Estima-se que o transtorno esquizoafetivo seja
menos comum que a esquizofrenia.
− Idade de início: 30% das pessoas iniciam antes
dos 25 anos de idade, 30% entre os 25 e 35 anos
de idade e 30% depois dos 35 anos de idade.
− Distribuição entre os sexos: parece ocorrer com
maior frequência em mulheres
− A maioria dos estudos etiopatológicos agrupa o
transtorno esquizoafetivo junto com a
esquizofrenia ou com o transtorno bipolar.
Portanto, não há fisiopatologia específica que seja
atribuída exclusivamente a esse transtorno.
− Dados genéticos sugerem que o cromossomo
1q42 (próximo ao local do gene DISC1) e o gene
BDNF (gene do fator neurotrófico derivado do
cérebro) podem estar associados ao transtorno
esquizoafetivo.
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Um período ininterrupto da doença durante o qual há um
episódio de humor (maníaco ou depressivo maior)
concomitante com um episódio de esquizofrenia
caracterizado por 2 ou mais dos sintomas a seguir
presentes durante uma parte considerável de um período
de 1 mês:
− Delírios
− Alucinações
− Fala desorganizada (por exemplo,
descarrilamento ou incoerência frequentes)
− Comportamento excessivamente desorganizado e
catatônico
− Sintomas negativos (isto é, embotamento afetivo,
alogia ou avolição).
Durante esse tempo, deve haver um período de pelo menos
2 semanas com delírios e alucinações na ausência de
sintomas de humor proeminentes ao longo da duração total
da doença.
Sintomas de humor estiveram presentes na maior parte da
duração total do período ativo e residual da doença.
Outras etiologias possíveis foram excluídas, como
substâncias (por exemplo, medicamentos ou abuso de
drogas) ou uma condição médica geral.
Especificar se é do tipo bipolar (se o episódio maníaco for
parte da manifestação; também podem ocorrer episódios
depressivos maiores) ou do tipo depressivo (se apenas
episódios depressivos maiores são parte da manifestação).
SINTOMAS DE ESQUIZOFRENIA
SINTOMAS POSITIVOS
− Sintomas que ultrapassam o que seria considerado
como funcionamento normal
− Incluem alucinações, ideação delirante, distúrbios
de pensamentos e comportamento bizarro
− Delírios ou alucinações ocorrem durante ≥2
semanas na ausência de sintomas depressivos ou
maníacos.
SINTOMAS NEGATIVOS
− Sintomas resultantes de um deficit no que seria
considerado como funcionamento normal
− Exemplos incluem anedonia, desmotivação,
isolamento social ou embotamento afetivo.
PERTURBAÇÕES NA EMOÇÃO OU AFETO
INCONGRUENTE
− Ansiedade, depressão, exaltação e perplexidade
podem ocorrer a qualquer momento durante a
evolução da doença
− Afeto incongruente é também comum e se refere
à incongruência entre o conteúdo do pensamento
e a fala
− Estes ocorrem com mais frequência em pacientes
com transtorno esquizoafetivo do que na
esquizofrenia.
SINTOMAS DO HUMOR
− Episódiosde humor maiores (depressão maior ou
mania) devem ocorrer durante, pelo menos,
metade do tempo em que o paciente satisfizer os
critérios de esquizofrenia.
As características dos episódios depressivos maiores
incluem:
− Humor depressivo, falta de interesse/prazer,
alterações de peso, insônia ou hipersonia, agitação
ou retardo psicomotor, fadiga, sentimentos de
inutilidade ou culpa, concentração reduzida,
ideação suicida
− Os sintomas causam sofrimento clinicamente
significativo ou comprometimento social,
ocupacional ou em outras áreas importantes de
atuação.
As características dos episódios maníacos incluem:
− Autoestima inflada, diminuição da necessidade de
dormir, aumento da loquacidade, aceleração dos
pensamentos, fácil distração, aumento da
atividade dirigida a objetivos ou agitação
psicomotora, engajando-se em atividades que têm
o potencial de consequências prejudiciais
− Para pacientes inicialmente diagnosticados com
transtorno esquizoafetivo, o tratamento deve
começar com uma dose baixa de um agente
antipsicótico, com atenção especial ao
desenvolvimento de efeitos adversos. O padrão de
cuidado é iniciar o tratamento dos pacientes com
um medicamento antipsicótico atípico (de
segunda geração). Os benefícios dos
antipsicóticos atípicos, em termos de risco
reduzido de efeitos adversos extrapiramidais e de
discinesia tardia, precisam ser ponderados de
forma individualizada em comparação ao risco
elevado de ganho de peso e síndrome metabólica,
os quais são relatados com antipsicóticos atípicos
(por exemplo, olanzapina).
− Um estabilizador do humor pode ser adicionado
ao medicamento antipsicótico para sintomas
maníacos ou mistos associados à doença.
− Lítio: 300 mg por via oral (liberação regular) duas
a três vezes ao dia inicialmente, aumentar
gradualmente de acordo com a resposta e com o
nível sérico do medicamento, máximo de 2400
mg/dia
TRANSTORNO BIPOLAR:
O DSM-5-TR classifica o transtorno bipolar
separadamente dos transtornos depressivos, do espectro de
esquizofrenia e de outros transtornos psicóticos. O
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8
diagnóstico de transtorno bipolar tipo I requer um episódio
maníaco, que pode ter sido precedido ou seguido por
episódios depressivos maiores ou hipomaníacos. Um
episódio maníaco dura pelo menos 1 semana e é definido
como um período de humor persistentemente elevado,
expansivo ou irritável e aumento persistente da atividade
ou da energia, com características específicas que
representam uma mudança em relação ao comportamento
normal.
Três ou mais das seguintes características (ou quatro, se o
humor for apenas irritável) estão presentes:
− Autoestima inflada
− Alteração no padrão de sono: o paciente relata
necessitar significativamente de menos horas de
sono para se sentir descansado.
− A fala é rápida na maioria das conversas.
− Fuga de ideias e o paciente relata pensamentos
que surgem rápido demais para acompanhar
− Distraibilidade
− Aumento da atividade dirigida a objetivos ou
agitação psicomotora
− Envolvimento excessivo em atividades que têm
alto potencial de consequências dolorosas.
As pessoas com transtorno bipolar tipo I apresentam
comprometimento funcional acentuado durante o episódio
maníaco, o qual não se deve a nenhum outro distúrbio
clínico ou substância pode requerer hospitalização ou ter
características psicóticas. Episódios depressivos maiores
são comuns, mas não são necessários para o diagnóstico
de transtorno bipolar tipo I.
As pessoas com transtorno bipolar tipo II nunca
apresentaram nenhum um episódio maníaco completo,
mas podem ser diagnosticadas após, pelo menos, um
episódio hipomaníaco e pelo menos um episódio
depressivo maior. Os episódios hipomaníacos duram ≥4
dias e estão presentes na maior parte do dia, quase todos
os dias. Há uma inequívoca alteração no funcionamento
durante este período, observável por outras pessoas, mas
que não se deve a nenhuma outra afecção clínica ou
substância. No entanto, o comprometimento funcional não
é acentuado e não há psicose durante o episódio
hipomaníaco.
DELIRIUM
uma alteração flutuante e aguda no estado mental, com
desatenção, pensamento desorganizado e níveis alterados
de consciência. Trata-se de um distúrbio com potencial
risco de vida caracterizado por alta morbidade e
mortalidade. As diretrizes tratam do reconhecimento, dos
fatores de risco e do tratamento do delirium.
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais, Quinta Edição (DSM-5-TR) observa que, para
ser diagnosticado com delirium, o paciente deve
apresentar todas as 4 seguintes características.[15]
1. Um distúrbio de atenção (ou seja, clareza
reduzida da consciência do ambiente) é
evidente, com capacidade reduzida de focar,
manter ou desviar a atenção. Esse distúrbio na
consciência pode ser sutil, manifestando-se
inicialmente apenas como uma letargia ou
distração. Muitas vezes os médicos e
familiares ignoram este distúrbio,
considerando que está relacionado com a
doença primária.
2. Uma alteração cognitiva (como deficit de
memória, desorientação, distúrbio de
linguagem) ou o desenvolvimento de um
distúrbio perceptivo não necessariamente
justificado por uma demência preexistente ou
em evolução.
3. O distúrbio desenvolve-se ao longo de um
curto período (geralmente de horas a dias),
representa uma alteração aguda da linha basal
e tende a oscilar no decorrer do dia.
4. Existem evidências provenientes das histórias
dos pacientes, de exames físicos e de achados
laboratoriais de que o distúrbio seja causado
pelas consequências fisiológicas diretas de
uma afecção generalizada ou de uma
intoxicação ou supressão de substâncias. As
alterações de atenção e cognição não devem
ocorrer no contexto de um nível de
consciência gravemente reduzido, como o
coma.
Foram identificados três subtipos clínicos de delirium.
Elas incluem:
1. Delirium hiperativo - um quadro clínico em
que o paciente pode apresentar um nível de
alerta elevado, com inquietação, agitação,
alucinações e comportamento inapropriado
2. Delirium hipoativo - um quadro clínico em
que o paciente pode apresentar letargia,
atividade motora reduzida, fala incoerente e
falta de interesse
3. Delirium misto - uma combinação de sinais e
sintomas hiperativos e hipoativos.
O termo delirium subsindrômico também é usado para
definir formas de delirium com remissão parcial ou
incompleta
TRANSTORNO PSICÓTICO INDUZIDO POR
SUBSTÂNCIA/MEDICAMENTO
A. Presença de pelo menos um dos sintomas a seguir:
− Delírios.
− Alucinações.
B. Existe evidência na história, no exame físico ou nos
achados laboratoriais de (1) e (2):
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− Os sintomas do Critério A se desenvolveram
durante ou logo após intoxicação por uma
substância ou abstinência ou após exposição a um
medicamento.
− A substância/medicamento envolvida é capaz de
produzir os sintomas do Critério A.
C. A perturbação não é mais bem explicada por um
transtorno psicótico não induzido por
substância/medicamento. Essas evidências de um
transtorno psicótico independente podem incluir: Os
sintomas antecederam o aparecimento do uso de
substância/medicamento; os sintomas persistem por um
período de tempo substancial (p. ex., cerca de um mês)
após o término da abstinência aguda ou intoxicação grave;
ou há outras evidências de um transtorno psicótico
independente não induzido por substância/medicamento
(p. ex., história de episódios recorrentes não relacionados
a substância/medicamento).
D. A perturbação não ocorre exclusivamente durante o
curso de delirium.
E. A perturbação causa sofrimento clinicamente
significativo ou prejuízo no funcionamento social,
profissional ou em outras áreas importantes da vida do
indivíduo.
Podem ocorrer transtornos psicóticos associadosa
intoxicação pelas seguintes classes de substâncias: álcool;
Cannabis; alucinógenos, inclusive fenciclidina e
substâncias relacionadas; inalantes; sedativos,
hipnóticos e ansiolíticos; estimulantes (inclusive
cocaína); outras substâncias (ou substâncias
desconhecidas). Podem ocorrer transtornos psicóticos
associados a abstinência das seguintes classes de
substâncias: álcool; sedativos, hipnóticos e ansiolíticos;
outras substâncias (ou substâncias desconhecidas).
Alguns dos medicamentos relatados como evocativos de
sintomas psicóticos incluem anestésicos e analgésicos,
agentes anticolinérgicos, anticonvulsivantes, anti-
histamínicos, anti-hipertensivos e medicamentos
cardiovasculares, antimicrobianos,
antiparkinsonianos, agentes quimioterápicos (p. ex.,
ciclosporina, procarbazina), corticosteroides,
medicamentos gastrintestinais, relaxantes musculares,
medicamentos anti-inflamatórios não esteroidais,
outros fármacos sem receita médica (p. ex., fenilefrina,
pseudoefedrina), antidepressivos e dissulfiram. As
toxinas relatadas como indutoras de sintomas psicóticos
incluem anticolinesterase, inseticidas organofosforados,
gás sarin e outros gases que atuam sobre o sistema
nervoso, monóxido de carbono, dióxido de carbono e
substâncias voláteis como combustível ou tintas.
Transtornos psicóticos induzidos por anfetamina e cocaína
partilham características clínicas similares. Delírios
persecutórios podem rapidamente surgir logo após uso de
anfetamina ou de um simpatomimético de ação
semelhante. A alucinação com insetos ou vermes
rastejantes sob ou sobre a pele (formigamento) pode levar
ao ato de coçar e a grandes escoriações. Transtorno
psicótico induzido por Cannabis pode surgir logo após o
uso de dose elevada de Cannabis, normalmente
envolvendo delírios persecutórios, ansiedade acentuada,
labilidade emocional e despersonalização. O transtorno
costuma ter remissão em um dia; em certos casos, no
entanto, pode persistir por alguns dias. Transtorno
psicótico induzido por substância/medicamento pode,
algumas vezes, persistir quando o agente ofensivo é
removido, podendo ser difícil inicialmente distingui-lo de
um transtorno psicótico independente.
No caso de drogas de abuso, precisa haver evidências da
história, do exame físico ou achados laboratoriais de uso
de substância, intoxicação ou abstinência. Os transtornos
psicóticos induzidos por substância/medicamento surgem
durante, ou logo após, exposição a um medicamento ou
após intoxicação por substância ou abstinência, mas
podem persistir por semanas, ao passo que os transtornos
psicóticos primários podem anteceder o início do uso de
substância/medicamento ou podem ocorrer em períodos
de abstinência sustentada. Quando iniciados, os sintomas
psicóticos podem continuar enquanto persistir o uso da
substância/medicamento. Outra consideração é a presença
de características atípicas de um transtorno psicótico
primário (p. ex., idade de início ou curso atípicos). Por
exemplo, o surgimento de delírios de novo em uma pessoa
com mais de 35 anos, sem história conhecida de algum
transtorno psicótico primário, sugere a possibilidade de
um transtorno psicótico induzido por
substância/medicamento. Mesmo uma história anterior de
transtorno psicótico primário não descarta a possibilidade
de transtorno psicótico induzido por
substância/medicamento. Diferentemente, fatores que
sugerem que os sintomas psicóticos são mais bem
justificados por um transtorno psicótico primário incluem
persistência de sintomas psicóticos durante período de
tempo substancial (i.e., um mês ou mais) após o término
da intoxicação por substância ou abstinência aguda de
substância ou após o término do uso de um medicamento,
bem como história prévia de transtornos psicóticos
primários recorrentes.
TRANSTORNO PSICÓTICO DEVIDO A OUTRA
CONDIÇÃO MÉDICA
A. Alucinações ou delírios proeminentes.
B. Há evidências da história, do exame físico ou de
achados laboratoriais de que a perturbação é a
consequência fisiopatológica direta de outra condição
médica.
C. A perturbação não é mais bem explicada por outro
transtorno mental.
D. A perturbação não ocorre exclusivamente durante o
curso de delirium.
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E. A perturbação causa sofrimento clinicamente
significativo ou prejuízo no funcionamento social,
profissional ou em outras áreas importantes da vida do
indivíduo.
As características essenciais do transtorno psicótico
devido a outra condição médica são delírios e alucinações
proeminentes atribuídos aos efeitos fisiológicos de outra
condição médica, não sendo mais bem explicados por
outro transtorno mental (p. ex., os sintomas não são uma
resposta psicologicamente mediada por alguma condição
médica grave, caso em que deve ser apropriado um
diagnóstico de transtorno psicótico breve, com estressor
evidente). Podem ocorrer alucinações em qualquer
modalidade sensorial (i.e., visual, olfativa, gustativa, tátil
ou auditiva), mas alguns fatores etiológicos
provavelmente evocam fenômenos alucinatórios
específicos. Alucinações olfativas sugerem epilepsia do
lobo temporal. As alucinações podem variar de simples e
informes a altamente complexas e organizadas,
dependendo de fatores etiológicos e ambientais.
Transtorno psicótico devido a outra condição médica não
costuma ser diagnosticado se o indivíduo tem o teste de
realidade preservado para alucinações e avalia que elas
resultam da condição médica. Delírios podem ter uma
variedade de temas, incluindo somático, de grandeza,
religioso e, mais comumente, persecutório. Em geral,
porém, as associações entre delírios e condições médicas
particulares parecem ser menos específicas do que no caso
das alucinações. Na determinação de se a perturbação
psicótica é atribuível a outra condição médica, precisa ser
identificada a presença de uma condição médica
considerada a etiologia da psicose por meio de um
mecanismo fisiológico. Embora não existam diretrizes
infalíveis para determinar se a relação entre a perturbação
psicótica e a condição médica é etiológica, várias
considerações oferecem alguma orientação. Uma delas é a
presença de associação temporal entre o início, a
exacerbação ou a remissão da condição médica, bem como
da perturbação psicótica. Outra consideração é a presença
de características atípicas para o transtorno psicótico (p.
ex., idade atípica de início ou presença de alucinações
visuais ou olfativas). A perturbação deve também ser
diferenciada de transtorno psicótico induzido por
substância/medicamento ou de outro transtorno mental (p.
ex., transtorno de adaptação).
A associação temporal do início ou da exacerbação da
condição médica oferece a maior certeza diagnóstica de
que os delírios ou as alucinações são atribuíveis a uma
condição médica. Outros fatores podem incluir
tratamentos concomitantes para a condição médica
subjacente que conferem risco de psicose independente,
como tratamento com esteroides para distúrbios
autoimunes.
As taxas de psicose também variam conforme a condição
médica subjacente; as condições mais comumente
associadas à psicose incluem distúrbios endócrinos e
metabólicos não tratados, distúrbios autoimunes (p. ex.,
lúpus eritematoso sistêmico, encefalite autoimune do
receptor N-metil- -D-aspartato [NMDA]) ou epilepsia do
lobo temporal. Psicose em decorrência de epilepsia foi,
ainda, diferenciada em psicose ictal, pós-ictal e interictal.
A mais comum é a pós-ictal, observada em 2 a 7,8% dos
pacientes com epilepsia. Entre os indivíduos com mais
idade, pode haver elevada prevalência do transtorno em
mulheres
Transtorno psicótico devido a outra condição médica pode
ser um estado passageiro isolado ou pode ser recorrente,
ciclando com as exacerbações e remissões da condição
médica subjacente. Embora o tratamentoda condição
médica subjacente costume resultar em resolução da
psicose, nem sempre é esse o caso, e os sintomas
psicóticos podem persistir por muito tempo após o evento
médico (p. ex., transtorno psicótico por lesão encefálica
focal). No contexto de condições crônicas, como esclerose
múltipla ou psicose interictal crônica da epilepsia, a
psicose pode assumir um curso prolongado. A expressão
de um transtorno psicótico devido a outra condição médica
não difere substancialmente na fenomenologia,
dependendo da idade na ocorrência. Grupos de pessoas
com mais idade, porém, têm alta prevalência do
transtorno, o que é, mais provavelmente, devido à maior
sobrecarga médica associada à idade avançada e aos
efeitos cumulativos de exposições nocivas e processos
relacionados ao envelhecimento (p. ex., aterosclerose). A
natureza das condições médicas subjacentes
provavelmente muda ao longo da vida, com grupos mais
jovens mais afetados por epilepsia, trauma encefálico,
doença autoimune e doenças neoplásicas no começo ou
porção intermediária da vida, e pessoas mais velhas mais
afetadas por doença como acidente vascular cerebral,
eventos anóxicos e múltiplas comorbidades sistêmicas. Os
fatores subjacentes ao aumento da idade, como prejuízo
cognitivo preexistente e prejuízos visuais e auditivos,
podem significar risco maior de psicose, possivelmente
funcionando para baixar o limiar para a ocorrência da
doença.
O diagnóstico de transtorno psicótico devido a outra
condição médica depende da condição clínica de cada
pessoa, e os exames diagnósticos irão variar conforme essa
condição. Uma variedade de condições médicas pode
causar sintomas psicóticos. Incluem condições
neurológicas (p. ex., neoplasias, doença cerebrovascular,
doença de Huntington, esclerose múltipla, epilepsia, lesão
ou prejuízo nervoso visual ou auditivo, surdez, enxaqueca,
infecções do sistema nervoso central), condições
endócrinas (p. ex., hiper e hipotireoidismo, hiper e
hipoparatireoidismo, hiper e hipoadrenocorticismo),
condições metabólicas (p. ex., hipoxia, hipercarbia,
hipoglicemia), desequilíbrios hídricos e eletrolíticos,
doenças hepáticas ou renais e distúrbios autoimunes, com
envolvimento do sistema nervoso central (p. ex., lúpus
eritematoso sistêmico). Achados associados do exame
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físico, achados laboratoriais e padrões de prevalência ou
aparecimento refletem a condição médica etiológica
Idade tardia no aparecimento e ausência de história
pessoal ou familiar de esquizofrenia ou transtorno
delirante sugerem a necessidade de uma avaliação
completa para descartar diagnóstico de transtorno
psicótico devido a outra condição médica. Alucinações
auditivas que envolvem vozes que falam frases complexas
são mais características de esquizofrenia do que de
transtorno psicótico devido a outra condição médica.
Outros tipos de alucinações (p. ex., visuais, olfativas)
costumam sinalizar transtorno psicótico devido a outra
condição médica ou transtorno psicótico induzido por
substância/medicamento.
Transtorno psicótico devido a outra condição médica em
pessoas com mais de 80 anos está associado a transtorno
neurocognitivo maior concorrente (demência).
Os antipsicóticos tradicionais (primeira geração) ou
típicos têm potencial significativo para causar efeitos
colaterais extrapiramidais e discinesia tardia. Já os
antipsicóticos de segunda geração, também conhecidos
como antipsicóticos atípicos, geralmente apresentam
menor risco de efeitos colaterais extrapiramidais e
discinesia tardia em comparação com os antipsicóticos
típicos.
− Antipsicóticos de primeira geração:
Clorpromazina, haloperidol, levomepromazina,
trifluoperazina, zuclopentixol.
− Antipsicóticos de segunda geração: Aripiprazol,
clozapina, lurasidona, quetiapina, olanzapina,
risperidona, ziprasidona.
MECANISMOS DE AÇÃO
Tanto os antipsicóticos típicos quanto atípicos parecem
realizar o bloqueio pós-sináptico dos receptores cerebrais
D2 da dopamina. Este bloqueio atinge tratos
dopaminérgicos, como o mesolímbico, mesocortical,
nigroestriatal e túbero infundibular, causando ações
terapêuticas e efeitos adversos.
Acredita-se que os transtornos esquizofrênicos e
psicóticos haja uma desregulação nos circuitos de
dopamina, constituídos de excesso de atividade
dopaminérgica na via mesolímbica e hipoatividade na via
mesocortical.
A hiperatividade dopaminérgica mesolímbica seria
responsável pelos sintomas positivos da esquizofrenia,
como ideias delirantes e alucinações. Já a hipoatividade
mesocortical seria responsável pelos sintomas negativos,
como embotamento afetivo, pobreza de discurso e
hipobulia.
A maioria dos antipsicóticos de segunda geração difere
dos medicamentos mais antigos farmacologicamente na
alta afinidade ao receptor 5HT2 da serotonina excede sua
afinidade pelos receptores D2 da dopamina, ao passo que
nos de primeira geração não ocorre esse efeito.
Acredita-se que esse efeito no receptor 5HT2 seja
responsável pelo menor risco geral de efeitos colaterais
extrapiramidais com os medicamentos atípicos em
comparação com os típicos.
Em geral, os antipsicóticos são absorvidos
satisfatoriamente quando administrados por via oral.
Entretanto, sua absorção pode ser prejudicada pelo uso
concomitante de antiácidos, café e nicotina em grande
quantidade.
São lipofílicos, altamente ligados a proteínas e tecidos
como uma classe com grandes volumes de distribuição. O
pico plasmático é atingido em 1-4 horas, sendo alcançado
mais rapidamente com o uso de concentrados líquidos.
A maioria dos antipsicóticos é metabolizada
principalmente por meio do sistema do citocromo P450 do
fígado, embora difiram quanto a quais e quantas enzimas
estão envolvidas, o que lhes confere suscetibilidade um
pouco diferente à insuficiência hepática e interações
medicamentosas.
Muitos antipsicóticos podem ser administrados por via
intramuscular ou endovenosa, eliminando o efeito da
primeira passagem, resultando em concentrações maiores.
Enquanto os injetáveis de curta ação são recomendados no
tratamento de episódios de agitação psicomotora, os de
longa ação são indicados nos casos de pacientes com
histórico de baixa adesão ao tratamento.
Em geral, a meia-vida dos APS é de cerca de 20 a 40 horas,
o que possibilita o uso de dose única diária e a obtenção
de estado de equilíbrio em 4 a 5 dias.
INDICAÇÕES E ESCOLHA DOS
ANTIPSICÓTICOS
As principais indicações dos antipsicóticos são
esquizofrenia, transtornos de personalidade, delirium,
demência, psicoses por uso de substâncias, transtornos do
humor, quadros de agitação psicomotora, além de serem
indicados como ansiolítico e hipnótico muitas vezes.
Há definido benefício de antipsicóticos convencionais e
atípicos em controle sintomático de esquizofrenia e
transtornos psicóticos agudos. Estudos recentes não
confirmaram as expectativas da superioridade em eficácia
dos atípicos sobre os convencionais, por isso os
tradicionais ainda possuem importante papel nos dias de
hoje.
Apenas o perfil benéfico sobre os efeitos extrapiramidais
foi confirmado no grupo dos atípicos. Mas para além
desses efeitos, deve ser levado em consideração o custo
benefício e disponibilidade do fármaco na hora da
prescrição. As formulações genéricas dos agentes de
primeira geração costumam ter preços duas a cinco vezes
mais baixos do que os de segunda geração genéricos.
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12
EFEITOS ADVERSOS DOS ANTIPSICÓTICOS
Os efeitos colaterais extrapiramidais estão presentes
principalmente nos antipsicóticos convencionais,
incluindo rigidez, bradicinesia, tremor e acatisia. Nessa
classe há também discinesia tardia e hipercinética, com
movimentos involuntários mais facilmente observados no
rosto e nas extremidades.
O ganhode peso e os efeitos metabólicos são os efeitos
colaterais mais proeminentes dos medicamentos de
segunda geração, mas ocorrem em frequência semelhante
nos de primeira geração.
Os efeitos anticolinérgicos dos atípicos são mais
proeminentes com a olanzapina , quetiapina e clozapina .
Os efeitos colaterais mais comuns são boca seca ou
constipação e, com menos frequência, visão turva ou
retenção urinária.
A hipotensão ortostática, frequentemente acompanhada de
taquicardia ortostática, é mais comum nos primeiros dias
de administração dos antipsicóticos atípicos ou quando a
dose é aumentada. Os sintomas são geralmente benignos e
autolimitados, mas em alguns casos podem exigir uma
redução na taxa de titulação da dose, divisão de uma única
dose diária em duas ou três doses menores ou uma
mudança na medicação.
As taxas mais altas de prolongamento do intervalo QT e
arritmia cardíaca são observadas com haloperidol
intravenoso e formas orais de tioridazina e pimozida em
comparação com outros antipsicóticos convencionais. Nos
de segunda geração, o prolongamento do intervalo QT
tende a ser leve, mas um pouco maior com iloperidona e
ziprasidona do que com outros agentes.
Os de segunda geração podem gerar elevação da
prolactina, principalmente associada à risperidona e
paliperidona, ocorrendo raramente com a olanzapina e a
ziprasidona.
Os antipsicóticos de alta potência têm afinidade alta pelos
receptores de dopamina e menos afinidade pelos
receptores alfa-adrenérgicos e muscarínicos. Os
antipsicóticos de baixa potência, que são raramente
utilizados, têm menos afinidade pelos receptores de
dopamina e afinidade relativamente maior pelos
receptores alfa-adrenérgicos, muscarínicos e de histamina.
ANTIPSICÓTICOS DE SEGUNDA GERAÇÃO
Cerca de 95% de todos os antipsicóticos prescritos nos
EUA são ASGs.
Bloqueiam os receptores de dopamina de maneira mais
seletiva do que os antipsicóticos convencionais,
diminuindo a probabilidade de efeitos adversos
extrapiramidais (motores). Maior ligação aos receptores
serotoninérgicos pode contribuir para as ações
antipsicóticas nos sintomas positivos e os benefícios dos
efeitos adversos dos ASGs.
ASGs também fazem o seguinte:
− Tendem a aliviar os sintomas positivos
− Podem diminuir os sintomas negativos em
extensão maior que os antipsicóticos
convencionais (embora tais diferenças tenham
sido questionadas)
− Podem causar menos embotamento cognitivo
− Têm menos probabilidade de causar efeitos
adversos extrapiramidais (incluindo risco muito
mais baixo de discinesia tardia)
− Aumentam levemente ou não aumentam a
prolactina (exceto a risperidona, que eleva a
prolactina tanto quanto os antipsicóticos
convencionais)
− Podem causar síndrome metabólica, com
resistência à insulina, ganho ponderal e
hipertensão arterial.
ASGs podem parecer diminuir os sintomas negativos
porque é menos provável que tenham efeitos adversos
parkinsonianos do que os antipsicóticos convencionais.
A clozapina, o primeiro ASG, é o único ASG que
demonstrou ser eficaz em até 50% dos pacientes
resistentes aos antipsicóticos convencionais. A clozapina
reduz os sintomas negativos, reduz a probabilidade de
suicídio, produz pouco ou nenhum efeito adverso motor e
tem risco mínimo de causar discinesia tardia, mas produz
outros efeitos colaterais, como sedação, hipotensão,
taquicardia, ganho ponderal, diabetes tipo 2 e aumento na
salivação. Também pode ocorrer convulsão proporcional
à dose. O efeito adverso mais sério é a agranulocitose, que
pode ocorrer em cerca de 1% dos pacientes. Por
conseguinte, monitoramento frequente dos glóbulos
brancos (feitos semanalmente durante os 6 primeiros
meses, depois a cada duas semanas, e então uma vez por
mês depois de um ano) é necessário nos EUA, e a
clozapina é, geralmente, reservada para pacientes que
responderam inadequadamente a outros fármacos.
Os novos ASGs (Antipsicóticos de segunda geração)
fornecem alguns dos benefícios da clozapina, porém sem
o risco de agranulocitose, e costumam ser preferidos aos
antipsicóticos convencionais para o tratamento de
episódios agudos e para prevenir a recorrência. Entretanto,
em um grande ensaio clínico controlado de longo prazo, a
melhora dos sintomas usando 4 ASG (olanzapina,
risperidona, quetiapina e ziprasidona) não foi maior do que
com a perfenazina, um antipsicótico convencional com
efeitos anticolinérgicos. Em um estudo de
acompanhamento, os pacientes que abandonaram o estudo
prematuramente foram alocados aleatoriamente para um
dos outros 3 ASG ou para clozapina; esse estudo
demonstrou clara vantagem para a clozapina em relação
aos outros ASG. Dessa forma, a clozapina parece ser o
único tratamento eficaz para pacientes que não
responderam com antipsicótico convencional ou ASG.
Todavia, a clozapina continua subutilizada,
@anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues MARC 17
13
provavelmente, em decorrência da baixa tolerabilidade e
da necessidade de monitoramento sanguíneo continuado.
A lumateperona é o ASG mais recente para o tratamento
da esquizofrenia em adultos. Parece melhorar a função
psicossocial com menos efeitos colaterais metabólicos e
motores. Não deve ser usada em pacientes idosos com
psicose relacionada à demência, nos quais acarreta maior
risco de morte. Outros efeitos colaterais são sedação e
xerostomia.
Os ASG mais novos são muito parecidos em termos de
eficácia, mas diferem quanto aos efeitos colaterais; assim,
a escolha do fármaco se baseia na resposta individual e em
outras características dos fármacos. Por exemplo, a
olanzapina, a qual tem taxa de sedação relativamente alta,
pode ser prescrita para pacientes com agitação
proeminente ou insônia; fármacos menos sedativos devem
ser preferidas no caso de pacientes com letargia. Uma
tentiva durante 4 a 8 semanas costuma ser necessária para
avaliar completamente a eficácia e o perfil dos efeitos
adversos. Após a estabilização dos sintomas agudos, o
tratamento de manutenção é iniciado, no qual a menor
dose que previna a recorrência dos sintomas é usada.
Aripiprazol, olanzapina e risperidona estão disponíveis na
formulação injetável de longa ação.
Ganho de peso, hiperlipidemia e aumento do risco de
diabetes 2 são os efeitos adversos principais dos ASG.
Portanto, antes que seja iniciado o tratamento com ASG,
todos os pacientes devem ser avaliados para fatores de
risco, incluindo história pessoal/familiar de diabetes, peso,
circunferência abdominal, pressão arterial, glicemia de
jejum e perfil lipídico. Aqueles verificados ou
considerados em risco significante de síndrome
metabólica podem ser mais bem tratados com ziprasidona
ou aripiprazol do que com outros ASG. Deve-se fornecer
aos pacientes e aos familiares educação a respeito dos
sinais e sintomas de diabetes, incluindo poliúria,
polidipsia, perda ponderal e cetoacidose diabética
(náuseas, vômitos, desidratação, respiração rápida,
rebaixamento sensorial). Além disso, aconselhamento
nutricional e de atividade física deve ser fornecido para
todos os pacientes que iniciam uso de ASG. Todos os
pacientes em tratamento com ASG requerem
monitoramento periódico de peso, IMC e glicemia de
jejum; aqueles que desenvolverem hiperlipidemia ou
diabetes tipo 2 devem ser encaminhados para avaliação
especializada.
ANTIPSICÓTICOS TÍPICOS
São divididos em:
− Alta potência: (o que é diferente de maior poder
sedativo! Eles na verdade são menos sedativos e
mais “deliriolítico”. São dose-dependentes para
diminuir os efeitos psicóticos. São eles:
haloperidol, trifluoperazina, flufenazina.
− Baixa potência: muitas vezes são mais sedativos
que os de alta potência. Apresentam mais
propriedades anticolinérgicas, anti-histamínicas e
antagonistas alfa-1 (uma vez que são necessárias
doses mais elevadas para atingir propriedades
antipsicóticas). São eles: clorpromazina,levomepromazina, tioridazina.
MECANISMO DE AÇÃO
Bloqueio dos receptores D2 da dopamina. Sabe-se que os
sintomas positivos da esquizofrenia são gerados por um
aumento da atividade dopaminérgica na via mesolímbica,
devido a maior ligação do neurotransmissor dopamina aos
seus receptores D2. Todos os antipsicóticos agem em D2,
a maioria deles bloqueando sua ação. Os de baixa potência
são eficazes, mas para bloquear D2 necessitam de doses
mais altas, o que pode gerar efeito adversos. (bloqueio M1
– constipação, retenção urinária; H1 – aumento do apetite,
sonolência; alfa-1-periférico – hipotensão postural).
PRINCIPAIS MEDICAMENTOS
− Haloperidol: (menos sedativo, mas também causa
sedação, alta potência, maior bloqueio D2). Pode
ser injetável de ação rápida – IM (pico em 20 min)
ou oral (1h a 4h). Existe a formulação de depósito
– haloperidol decanato – 50-200mg/mês. Ele é
liberado gradativamente e pode ser utilizado em
pacientes com baixa adesão. Também é usado
para tratar agitação psicomotora de outras causas.
− Clorpomazina: é de baixa potência. É muito
utilizado, sobretudo para profilaxia enxaqueca e
outros sintomas neurológicos. É uma medicação
mais sedativa e que precisa de doses maiores para
efeito antipsicótico. Existe uma formulação
injetável ou oral. É uma medicação que apesenta
muitos efeitos colaterais. Foi o primeiro
antipsicótico descoberto por acaso, devido a suas
propriedades anti-histamínicas.
EFEITOS COLATERAIS
A maioria deles são derivados do bloqueio dos receptores
D2 em outras vias que não a mesolímbica.
Bloqueio dos receptores anti-colinérgicos muscarínicos
M1:
− Visão turva, boca seca, constipação.
− Bloqueio dos receptores anti-histamínicos H1:
− Ganho de peso, sonolência.
Bloqueios dos receptores alfa-1-adrenérgicos:
− Hipotensão ortostática.
Via nigroestriatal:
− Manifestações extra-piramidais;
Via tuberoinfundibular:
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− Galactorreia, amenorreia, redução da libido,
desmineralização óssea;
− Redução do limitar convulsivo, sobretudo a
clorpromazina;
− Síndrome neuroléptica maligna (complicação
comum – 2%, fatal até 20%): reação
idossincrática ao uso de psicóticos,
principalmente haldol. Caracterizada por:
hipertermia refratária a antipiréticas, alterações de
consciência + rigidez muscular extrema (pode
gerar rabdomiólise). Alguma casos graves
necessitam de terapia intensiva. A primeira
conduta é suspender o medicamento. Está
relacionada ao bloqueio de D2 na via
nigroestriatal.
Obs – Neurolepsia: o núcleo accumbens é considerado o
“centro do prazer” e faz parte do sistema de recompensa
do cérebro. Acredita-se que ele é a via final comum de toda
a recompensa (até mesmo por uso de drogas) e esforço.
Com o bloqueio de D2, há também um bloqueio desse
mecanismo de recompensa, mimetizando os sintomas
negativos da esquizofrenia (apatia, anedonia, falta de
motivação, interesse, alegria, interações sociais). Isso
pode explicar a alta incidência de tabagismo e uso abuso
de drogas ilícitas na esquizofrenia.
Podemos associar o haldol a prometazina – fenegan (ação
antimuscarínica) – para reduzir os efeitos adversos
extrapiramidais. Para entendermos isso, precisamos saber
que: os antipsicóticos que causam mais SEP, apresentam
menos ação anticolinérgica, e aqueles que causam menos
SEP, tem maior ação anticolinérgica. Na via nigroestriatal,
a dopamina inibe a acetilcolina. Logo, a dopamina inibida
por um agente antipsicótico acaba por estimular um
aumento da acetilcolina. Assim, foi criada a estratégia de
administrar antipsicóticos típicos com anticolinérgicos
(como fenegan) no intuito de reduzir efeitos extra-
piramidais agudos – mas não reduz a evolução para
discinesias tardias.
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS
Tem propriedades iguais de reduzir sintomas positivos,
porém causam menos sintomas extra-piramidais (SEP) e
hiperprolactinemia.
MECANISMO DE AÇÃO
Apresentam um mecanismo de ação diferente dos
antipsicóticos típicos: atuam bloqueando o receptor da
serotonina (receptor 5HT2A). Isso proporciona o aumento
da dopamina, que vai competir em outras áreas com os
antagonistas dos receptores D2, o que pode proporcionar
redução dos efeitos colaterais. Então, existem 2 formas de
redução dos efeitos colaterais: aumentar a dopamina para
competir com os bloqueadores, ou bloquear os receptores
M1 (fenegan). Além de bloquearem o receptor 5HT2A,
também fazem um bloqueio parcial de D2 e agonismo
parcial 5HT1A.
− Bloqueio D2: Bloqueia dopamina
− Bloqueio 5HT2A: Estimula a liberação de
dopamina.
O bloqueio de serotonina não gera depressão nesse caso!
Janela terapêutica: não trata totalmente os sintomas
negativos. Os antipsicóticos até agora são muito bons para
tratar os sintomas positivos.
PRINCIPAIS MEDICAMENTOS E EFEITOS
COLATERAIS
− Risperidona: em doses altas pode gerar efeitos
extra-piramidais com haloperidol. Ela também
eleva a prolactina, apesar de ser um atípico.
Relacionada também ao ganho ponderal, bloqueio
alfa periférico. Depósito de 15 dias.
− Paliperidona: apresenta formações de depósito
de 30 dias e recém-chegado no Brasil de 3 meses.
− Lurasodona: recém-chegada no Brasil. Boas
evidencias na depressão no transtorno bipolar.
− Ziprazidona: menor ganho de peso, menos
efeitos na prolactina. Pouco acessível no Brasil.
− Aipiprazol: não bloqueia D2. Está menos
relacionada a sintomas extra-piramidais. Menor
ganho de peso.
− Olanzapina: estabilizadora do humor, pode ser
utilizada na depressão, apresenta um impacto
metabólico importante: aumento da glicemia, TG,
ganho de peso. Apresenta efeito D2.
− Quetiapina: antipsicótico em doses mais altas.
MEDICAMENTOS ANTIPSICÓTICOS: NOMES,
FORMA FARMACÊUTICA E CONCENTRAÇÕES
Nome
genérico
Nome
comercial
Forma farmacêutica e
concentrações
Aripiprazol Abilify
Comprimidos: 2, 5, 10,
15, 20, 30 mg
Abilify Disc
Melt
Comprimidos
orodispersíveis: 10, 15
mg
Solução oral: 1 mg/mL
(150 mL)
Injeção: 9,75 mg/1,3 mL
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Abilify
Maintena
Injeção intramuscular:
300, 400 mg
Asenapina Saphris
Comprimidos
(sublingual): 5, 10 mg
Clorpromazina Thorazinea
Comprimidos: 10, 25, 50,
100, 200 mg
Injeção: 25 mg/mL
(ampolas de 1 e 2 mL)
Clozapina Clozarila,b
Comprimidos: 25, 50,
100, 200 mg
Suspensão oral: 50
mg/mL
FazaClo
Comprimidos
orodispersíveis: 12,5, 25,
50, 100, 150, 200 mg
Droperidol Inapsinea
Injeção: 2,5 mg/mL
(ampolas e frascos de 1 e
2 mL)
Flufenazina Prolixina
Comprimidos: 1, 2,5, 5,
10 mg
Concentrado: 5 mg/mL
(frasco de 120 mL)
Elixir: 2,5 mg/5 mL
(frascos de 60 e 473 mL)
Injeção: 2,5 mg/mL
(frasco multidoses de 10
mL)
Decanoato de
flufenazina
Prolixin
Decanoatea
Injeção: 25 mg/mL
(frasco multidoses de 5
mL)
Haloperidol Haldola
Comprimidos: 0,5, 1, 2,
5, 10, 20 mg
Concentrado: 2 mg/mL
Injeção: 5 mg/mL
(ampola e frasco de dose
única de 1 mL; frasco
multidoses de 10 mL)
Decanoato de
haloperidol
Haldol
Decanoatea
Injeção: 50 mg/mL
(ampola de 1 mL e frasco
multidoses de 5 mL), 100
mg/mL (frasco
multidoses de 5 mL)
Iloperidona Fanapt
Comprimidos: 1, 2, 4, 6,
8, 10, 12 mg
Loxapina Loxitanea
Cápsulas: 5, 10, 25, 50
mg
Adasuve
Pó para inalação:
unidade de dose única no
inalador de 10 mg; deve
ser administrado por
profissional da saúde
Lurasidona Latuda
Comprimidos: 20, 40, 60,
80, 120 mg
Olanzapina Zyprexaa
Comprimidos: 2,5, 5, 7,5,
10, 15, 20 mg
Zydisa
Comprimidos
orodispersíveis: 5, 10,
15, 20 mg
Zyprexa
Intramuscular
Injeção: frasco de 10 mg
(antes da reconstituição)
Paliperidona Invega
Comprimidos (liberação
prolongada): 1,5, 3, 6, 9
mg
Palmitato de
paliperidona
Invega
Sustenna
Injeção: 39, 78,117, 156,
234 mg
Perfenazina Trilafona
Comprimidos: 2, 4, 8, 16
mg
Pimozida Orap Comprimidos: 1, 2 mg
Quetiapina Seroquela
Comprimidos: 25, 50,
100, 200, 300, 400 mg
Seroquel XR
Comprimidos (liberação
prolongada): 50, 150,
200, 300, 400 mg
Risperidona Risperdala
Comprimidos: 0,25, 0,5,
1, 2, 3, 4 mg
Solução oral: 1 mg/mL
(frasco de 30 mL)
Risperdal M-
TABa
Comprimidos
orodispersíveis: 0,5, 1, 2,
3, 4 mg
Risperdal
Consta
Injetável de ação
prolongada: 12,5, 25,
37,5, 50 mg
Tioridazina Mellarila
Comprimidos: 10, 25, 50,
100 mg
Concentrado: 30 mg/mL
(frasco de 120 mL)
Tiotixena Navanea Cápsulas: 1, 2, 5, 10 mg
Trifluoperazina Stelazinea
Comprimidos: 1, 2, 5, 10
mg
Ziprasidona Geodona
Comprimidos: 20, 40, 60,
80 mg
Injeção: frasco de 20 mg
(antes da reconstituição)
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AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA
INTRODUÇÃO
A avaliação neurológica no contexto da doença
neuropsiquiátrica tem como objetivo saber se há sintomas
e sinais de lesão neurológica e, então, definir a topografia
dessa lesão.
A anamnese é o primeiro passo dessa avaliação e não
menos importante do que o exame neurológico
propriamente dito. A formulação da hipótese diagnóstica
inicia-se com a interrogação sobre os sintomas, modos de
instalação e evolução dos mesmos.
É importante questionar ativamente a respeito de
antecedentes patológicos e uso de substâncias exógenas,
medicamentos, drogas lícitas ou ilícitas.
Após a anamnese, são realizados o exame físico geral e o
exame neurológico, que buscam confirmar as alterações
descritas e observar outros sinais relevantes.
A constatação de exame neurológico normal é muito
importante em casos de cefaléia, de transtornos
psiquiátricos, de tonturas ou em situações em que há
suspeita de lesão do sistema nervoso secundária a outras
doenças sistêmicas, como neoplasias, doenças do tecido
conjuntivo, diabete melito e alcoolismo.
As alterações ao exame neurológico são inicialmente
categorizadas em síndromes conhecidas. Essas síndromes
são: síndrome piramidal, síndrome motora periférica,
síndrome sensitiva, síndrome extrapiramidal, síndrome
cognitiva, síndrome cerebelar, síndrome de nervos
cranianos, síndrome álgica e síndrome disautonômica.
ANAMNESE
Excluindo-se os casos em que há transtornos mentais ou
de comunicação, a anamnese do paciente neurológico não
se diferencia da habitualmente realizada na clínica médica.
Portanto, deve ser cuidadosa e objetiva.
Nos casos em que não é possível realizar a anamnese com
o paciente, deve-se procurar um familiar ou testemunha
capaz de fornecer os dados necessários.
EXAME FÍSICO
O exame físico geral deve ser feito conforme propedêutica
habitual. Sinais de insuficiência de órgãos ou sistema é
fundamental para a correta interpretação dos sintomas
neurológicos, que podem muitas vezes ser secundários a
quadros metabólicos.
Os dados obtidos ao exame físico podem ser mais
importantes para o diagnóstico do que os do próprio exame
neurológico.
Por exemplo, quando um paciente refere episódios
transitórios de déficit neurológico, a realização de
semiologia cardiovascular pode ser mais relevante do que
qualquer outro procedimento.
EXAME NEUROLÓGICO
O exame neurológico pode ser dividido, na prática clínica,
em seis partes principais:
− Exame neuropsicológico;
− Exame do equilíbrio e da marcha;
− Exame da motricidade;
− Exame da sensibilidade;
− Exame das funções neurovegetativas;
− Exame dos nervos cranianos.
EXAME NEUROPSICOLÓGICO
Durante a anamnese, o examinador é capaz de avaliar os
níveis de consciência e de atenção, o humor, a iniciativa,
as capacidades de julgamento e de crítica, a concatenação
de idéias, a memória para fatos recentes e antigos e a
capacidade de comunicação verbal (expressão e
compreensão).
A presença de queixas de alterações mentais, ou a suspeita
pelo examinador dessas alterações durante a anamnese,
demanda um exame aprofundado do estado mental.
EXAME DO EQUILÍBRIO E DA MARCHA
Solicita-se ao paciente que fique em pé, com os pés
próximos, descalço e sem meias, com os braços pendentes
ao lado do corpo. Observa-se a postura, a presença de
oscilações e de dança dos tendões. Leves empurrões para
a frente, para trás e para os lados permitem avaliar a
capacidade de manter o equilíbrio. Na doença de
Parkinson, em que um dos sinais é instabilidade postural,
pequenos empurrões podem permitir verificar se existe
tendência à queda para trás. O sinal de dança dos tendões,
observação dos tendões do calcâneo (Aquiles) e do tibial
anterior que ressaltam de forma irregular, é característico
da síndrome cerebelar.
A seguir, avalia-se o equilíbrio com os olhos fechados. O
sinal de Romberg, oscilação ou queda ao fechar os olhos,
estando o indivíduo em pé, com os pés aproximados,
indica comprometimento das vias de sensibilidade
proprioceptivas conscientes.
EXAME DA MOTRICIDADE
Os distúrbios neuropsiquiátricos frequentemente estão
acompanhados de transtornos do movimento, como nos
quadros de catatonia. As doenças que comprometem a
motricidade freqüentemente apresentam sintomas
neuropsiquiátricos, como, por exemplo, a doença de
Parkinson. Diversas substâncias utilizadas para controle
de sintomas ou doenças psiquiátricas podem comprometer
o sistema motor, sendo muito comum na prática clínica o
desenvolvimento de sintomas de síndromes
extrapiramidais secundários ao uso de neurolépticos.
O exame da motricidade pode ser dividido em: exame
da força muscular, do tono, dos reflexos, da coordenação
e dos movimentos involuntários anormais.
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EXAME DA SENSIBILIDADE
Deve-se questionar especificamente sobre a presença de
parestesias, dores espontâneas ou perversões da
sensibilidade. O exame compreende a avaliação da
sensibilidade superficial e da profunda e a pesquisa dos
sinais de irritação meníngea e radicular.
O exame da sensibilidade busca constatar queixas
específicas do paciente ou procura encontrar distúrbios de
sensibilidade que habitualmente acompanham a doença de
base ou outros sinais neurológicos verificados ao exame.
Quando não há queixas ou indícios de que a sensibilidade
esteja comprometida, não há necessidade de pesquisá-la.
Os estímulos são aplicados das regiões distais para as
proximais, sempre com comparação entre os dois
hemicorpos.
EXAME DAS FUNÇÕES NEUROVEGETATIVAS
Alterações das funções neurovegetativas e distúrbios
tróficos são comuns nas lesões do sistema nervoso central
ou periférico.
Durante a anamnese, deve-se interrogar especialmente
sobre a presença de distúrbios vasomotores das
extremidades, hipotensão postural, modificações da
salivação e transpiração, alterações do controle
esfincteriano e da potência sexual.
Durante a inspeção, o examinador deve observar o estado
nutricional, a presença de deformidades osteoarticulares,
o ritmo respiratório, o aspecto da pele e anexos e o
trofismo muscular.
Quando há queixa ou suspeita de hipotensão postural, esta
deve ser confirmada com a aferição da pressão arterial e
do pulso do paciente em decúbito horizontal, sentado e em
pé, com interva- lo de três minutos após a mudança de
posição.
Alguns distúrbios e funções do sistema nervoso
neurovegetativo, como a síndrome de Claude Bernard-
Horner (miose, semiptose e enoftalmo) e o reflexo
fotomotor, são avaliados durante o exame dos nervos
cranianos.
O reflexo bulbocavernoso consiste na contração do
músculo bulbocavernoso, que pode ser sentida colocando-
se um dedo no períneo atrás da bolsa escrotal, quando se
percute ou pressiona a glande. O reflexo anal consiste na
contração do esfincter anal externo em resposta à
estimulação cutâneada região perianal. O exame desses
reflexos é essencial na avaliação dos distúrbios do controle
esfincteriano.
EXAME DOS NERVOS CRANIANOS
1.º nervo craniano
Nervo olfatório (olfativo)
(NC I) - sensorial
2.º nervo craniano
Nervo óptico (NC II) -
sensorial
3.º nervo craniano
Nervo oculomotor (NC
III) - motor
4.º nervo craniano
Nervo troclear (NC IV) -
motor
5.º nervo craniano
Nervo trigêmeo (NC V) -
misto
6.º nervo craniano
Nervo abducente (NC VI)
- motor
7.º nervo craniano
Nervo facial (NC VII) -
misto
8.º nervo craniano
Nervo vestibulococlear
(NC VIII) - sensorial
9.º nervo craniano
Nervo glossofaríngeo (NC
IX) - misto
10.º nervo craniano
Nervo vago (NC X) -
misto
11.º nervo craniano
Nervo (espinhal)
acessório (NC XI) - motor
12.º nervo craniano
Nervo hipoglosso (NC
XII) - motor