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Ciências do Ambiente e Bioclimatologia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Esp. Valéria Leite Aranha Revisão Textual: Prof. Ms. Claudio Brites Adaptação e bem-estar dos animais • Introdução • Adaptação animal e evolução • Atuação do Homem no Bem-Estar dos Animais • Considerações Finais · Compreender como os animais se adaptam aos fatores abióticos do ambiente, como as diferenças de temperatura através das características morfológicas e fisiológicas dos animais, bem como aprender técnicas de conforto para o bem-estar animal. OBJETIVO DE APRENDIZADO Adaptação e bem-estar dos animais Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Adaptação e bem-estar dos animais Introdução Na Unidade anterior, vimos como os fatores abióticos afetam os seres vivos e seus efeitos sobre eles. É importante entender os efeitos dos fatores abióticos sobre os seres vivos, como fator limitante e de que modo os seres vivos se adaptam, para tirarmos lições não apenas para nossa própria sobrevivência, mas também para aumentar a produção dos animais domesticados, porque o crescimento é máximo quando o organismo vive em ambiente com fatores ecológicos no seu valor ótimo. Adaptação animal e evolução Segundo Takahashi (2009), considera-se um animal adaptado quando este apresenta o mínimo de perdas no desempenho produtivo, boa eficiência reprodutiva, resistência às doenças, longevidade e baixa taxa de mortalidade, estando exposto a agentes estressores que anteriormente lhe eram prejudiciais ou fatais. Segundo Baccari (1986), a evolução é a consequência da contínua adaptação das populações frente às mudanças ambientais e que foram modelando-se paulatinamente ao longo de bilhões de anos. Neste particular, a seleção natural é o principal responsável por esse processo de modificações contínuas. Os organismos que hoje existem, evoluíram gradativamente de algum antepassado, e nessa seleção natural contínua, somente os indivíduos mais aptos sobrevivem, ou seja, aqueles que conseguirem adaptar-se às condições do meio ambiente deixam seus descendentes que continuam evoluindo, os que não conseguem essa evolução contínua, sucumbem e tornam-se “animais extintos”. Quanto maior o grau de adaptação, maior a tendência da sobrevivência e reprodução do animal, de forma que suas características biológicas persistam. Adaptação – conceito O conceito genético de adaptação refere-se às características herdáveis que possibilitam a sobrevivência de uma espécie em determinado ambiente, podendo resultar da seleção natural, que envolve modificações evolutivas espontâneas através de gerações. Para o conceito biológico, adaptação é o resultado da ação das características morfológicas, anatômicas, fisiológicas, bioquímicas e comportamentais para proporcionar o bem-estar e a possibilidade de sobrevivência de um animal em um ambiente qualquer. 8 9 Formas de adaptação O animal apresenta diferentes respostas frente à pressão do ambiente, que podem ser definidas como: • Adaptabilidade: a capacidade que o animal tem de se adaptar, ou seja, a habilidade de que o animal dispõe de se ajustar ao ambiente em que vive, até nos extremos climáticos; • Aclimatação: ajuste fisiológico ao longo do tempo que resulta na tolerância aumentada ao complexo de estressores imposto pelo meio a que o animal se submete; • Aclimação: quando o animal se adapta a uma única variável climática (por exemplo: temperatura). Figura 1 – Peixes-boi no tanque de aclimatação, aguardando reintegração no ambiente natural Fonte: Paulo Cattelan, Laboratório de Mamíferos Aquáticos (LMA), do INPA Aspectos Morfológicos e Fisiológicos na Adaptação dos Animais Nos estudos de Takahashi (2009) e de acordo com Silva (2008), “a superfície externa do corpo representa a principal linha de fronteira entre o organismo e o ambiente, sendo a outra linha constituída pelos tecidos pulmonares e respiratórios”. Essa condição de fronteira determina as características da superfície externa do corpo, em função do ambiente e da natureza do organismo. Assim, animais que vivem em desertos e locais extremamente secos devem possuir proteção extra contra a perda de água e a intensa radiação solar. Os que são próprios de regiões frias necessitam de um isolamento adequado contra a perda de energia térmica. As espécies de regiões muito quentes devem ser capazes de transferir o excesso de energia metabólica para o ambiente e, ao mesmo tempo, evitar a entrada de calor procedente do ambiente. Outros ainda, que vivem em regiões de considerável 9 UNIDADE Adaptação e bem-estar dos animais variação climática, nas quais extremos de frio se alternam com extremos de calor, necessitam possuir características externas apropriadas à compensação dessas bruscas alterações ambientais. Como o ambiente é complexo, com muitas alterações, a superfície externa do corpo do animal deve ser dotada de adaptabilidade para se ajustar a variações do ambiente e, assim, poder sobreviver em ambiente inóspito. Tegumento: é constituída por capa externa, epiderme, derme e hipoderme: • Capa externa: constitui a cobertura dos animais e os principais tipos são: pelos, lã e epiderme nua (sem cobertura) nos mamíferos, penas e penugem nas aves, escamas e couro nos peixes, escamas córneas em répteis, e superfície nua nos anfíbios; • Entre os mamíferos, o conjunto de pelos é a principal proteção térmica. Possibilita uma barreira do fluxo de calor sensível por meio do isolamento proporcionado pela estrutura e, principalmente, pelas camadas de ar aprisionadas entre os pelos; • A plumagem das aves apresenta uma gama de variações de tipos de penas quanto ao tamanho e à forma. Os principais tipos são as penas de contorno, que são predominantes e dão formato às aves, com penas maiores nas asas, que auxiliam nos vôos. As penas são constituídas na parte inferior por uma formação plumácea, com a parte superior ou as extremidades mais rígidas. Abaixo dessas penas, existem as penugens, que são filamentos localizados na base das penas de contorno, e sua função é essencialmente de isolamento térmico, por isso os pintinhos recém-nascidos, até aos doze dias de vida, são totalmente cobertos de penugem,pois, nesse período, necessitam de calor (32ºC). Existem ainda, a semipluma, que é o intermediário entre a pena e a penugem; e a filopluma, que é semelhante aos pelos. Algumas aves possuem uma glândula uropígia que produz secreção oleosa, localizada sobre a última vértebra caudal e elas passam periodicamente essa secreção com o bico nas penas para impermeabilizar, e assim evitar que as penas se molhem nas chuvas, sendo de maior utilidade para as aves aquáticas; • Epiderme: camada epitelial estratificada externa e fina, origina a maioria dos anexos do tegumento, como pelos, penas, garras e cascos. A epiderme consiste em um epitélio escamoso estratificado, composta normalmente por várias camadas de células. As células da camada epidérmica basal frequentemente sofrem mitose para renovar as camadas superiores. Como as camadas externas de células são deslocadas para cima por novas gerações de células de camadas inferiores, uma proteína fibrosa extremamente dura, chamada de queratina, acumula-se no interior das células, um processo denominado queratinização. As células cornificadas, altamente resistentes ao desgaste e à passagem da água, constituem o estrato córneo mais externo. Essa camada epidérmica torna-se particularmente mais espessa em áreas expostas a atritos ou ao uso contínuo, como observado em calos, nas solas dos pés de mamíferos e nas escamas de répteis e aves; 10 11 • Um aspecto muito importante da epiderme é a pigmentação, ou seja, a cor escura (negra e marrom) da pele e do pelame dos animais. A cor escura da epiderme e de seus anexos é proporcionada pela formação de melanina, que é formada pela oxidação de um composto ortodi-hidroxifenílíco do aminoácido tirosina. Este pigmento tem como principal função a proteção contra radiação ultravioleta, fator muito importante na adaptação de animais em climas quentes. A melanina é produzida por células especializadas, os melanócitos, que se localizam na camada basal da epiderme e na base dos folículos pilosos; • A cor da capa externa é fundamental na preservação da espécie, pois apresenta as seguintes funções: camuflagem, para não ser percebido pelos predadores ou para poder aproximar-se sem ser visto pela presa, sinalização e atração sexual, pois alguns animais e particularmente as aves, mudam de cor quando atingem a maturidade sexual, e também, na maioria das espécies, o macho é bem mais colorido, e relacionado à radiação solar, dependendo da cor, varia na intensidade de absorção ou reflexão da radiação solar, influenciando diretamente no conforto térmico dos animais; • O grau de pigmentação está vinculado aos fatores climáticos, principalmente em relação à radiação solar. De modo geral, animais que vivem em regiões quentes e úmidas apresentam maior pigmentação. O grau de pigmentação está relacionado à quantidade de grânulos de melanina. • Derme: nela se encontram o folículo piloso, as glândulas sudoríparas, as glândulas sebáceas, além dos vasos sanguíneos, das fibras nervosas e das fibras musculares; • O folículo piloso constitui um desenvolvimento de epiderme, ou seja, é a invaginação do Stratum glanulosum e spinosum, cujo número é estabelecido pela carga genética. De modo geral, o animal já nasce com um número definido de folículos, de acordo com a característica da espécie e raça; • Quanto ao tipo de folículo, varia de espécie para espécie e também entre raças, podendo ser comprido e grosso, curto e liso ou suave e lanado; • Pelos compridos e grossos retêm muito ar entre a pele e a capa externa, dificultando a perda de calor, adequados, portanto, ao clima frio para proteger da perda de calor. Por outro lado, o curto, liso e suave facilita a perda de calor e serve para os animais de regiões quentes; • Pelos curtos e brilhantes refletem o calor e também facilitam a perda por convecção. Em dias frios, os pelos compridos estão entremeados com fibras finas para proporcionar uma cobertura melhor; • Quanto à cor do pelame ou da plumagem, podemos observar que com a pigmentação escura ocorre maior absorvidade e menor refletividade da radiação solar, e consequentemente, maior armazenamento de energia térmica. Com a pigmentação clara, ocorre maior refletividade, mas maior transmissão de energia absorvida, principalmente radiação ultravioleta. Portanto, para animais criados em clima tropical como o nosso, é importante o pelame de cor branca ou clara com pelos grossos, curtos e bem assentados, sobre uma epiderme bem pigmentada; 11 UNIDADE Adaptação e bem-estar dos animais • As glândulas sudoríparas, responsáveis pela produção e secreção de suor, desempenham um dos mais importantes papéis na termorregulação quando a temperatura ambiente supera a temperatura de conforto térmico. Com exceção de roedores e lagomorfos, todos os animais placentários utilizam a sudorese termorreguladora para dissipar calor para o meio ambiente. Entretanto, alguns animais, como cães e suínos, apresentam poucas glândulas sudoríparas, portanto utilizam outros processos para dissipar calor; • Existem ainda as glândulas sebáceas, que formam um apêndice ou um anexo dos folículos pilosos de alguns animais e também em conjunto com as glândulas sudoríparas. Produzem substâncias gordurosas que são excretadas com o suor e têm a finalidade de lubrificar as fibras (pelos ou lã) e, com isso, há maior proteção à radiação solar e também ao encharcamento; • Hipoderme: é constituída de células adiposas, e no caso de suínos, pela camada de gordura e também de fibras musculares estriadas. As células adiposas têm a função de estoque de energia, mas podem funcionar também como camada termo isolante em alguns animais. Pelo Glândula sebácea Epiderme Derme Hipoderme (camada subcutânea) Glândula sudorípara Folículo piloso Músculo eretor do pelo Terminações nervosas Figura 2 – Sistema tegumentar, evidenciando as principais camadas Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images Como os atuais animais criados pelo homem foram domesticados há milha- res de anos, como bovinos (9.000 anos), ovinos (10.900 anos), caprinos (9.500 anos), suínos (9.000 anos), equinos (4.800 anos), entre outros, poucas adaptações ocorreram porque o homem praticamente garante a sua sobrevivência. O que não acontece com os animais que continuam na natureza e têm de adaptar-se ao meio em que vivem. Nos animais domésticos ocorrem algumas adaptações, principalmente envol- vendo a seleção artificial, que é a incorporação de características desejáveis, efetu- adas pelo homem. 12 13 Atuação do Homem no Bem-Estar dos Animais Proporcionar ao animal um estado em que as necessidades fisiológicas, ambientais, nutricionais e sociais estejam satisfeitas é quase impossível. Isto porque existem muitos fatores estressantes que atuam na vida do animal e os animais domésticos são muito sensíveis às oscilações de temperatura, umidade e outros fatores climáticos. Nos países de clima tropical como no Brasil, um grande causador do estresse é a temperatura ambiental e com destaque o calor excessivo, porque o animal tem uma faixa muito estreita de conforto térmico, em que se encontra em termoneutralidade, ou seja, o animal não necessita acionar o mecanismo de termorregulação para manter a temperatura corporal desejável e esses mecanismos, além de não serem muito eficazes na maioria dos animais, consomem energia que poderia ser direcionada para o processo produtivo. Quando a temperatura ambiente se torna abaixo da temperatura crítica inferior, o animal entra em hipotermia; ou quando ultrapassa a temperatura crítica superior, o animal entra em hipertermia e em ambos os casos o animal se encontra em estresse extremo, com excessivo desgaste, pois não consegue manter a temperatura corporal aos níveis de sobrevivência, quando o estresse ultrapassa em tempo ou em intensidade, o animal sucumbe. Isto acontece com certa frequência em animais altamente produtivos, importados de clima mais ameno na tentativa desenfreada de aumentar a produtividade,mas se esquecendo das diferenças entre os ambientes. Diante destes fatos serão apresentadas algumas técnicas que o homem pode desenvolver para proporcionar o bem-estar do animal e, como consequência, maior produtividade (TAKAHASHI, 2009). Estratégias de alimentação e conforto térmico Um dos manejos importantes que deve ser adotado na tentativa de amenizar o estresse térmico dos animais é o alimentar. Uma das primeiras respostas comportamentais do animal em estresse térmico por temperatura elevada é a diminuição na ingestão de alimento com consequente prejuízo na produção. Dessa forma, algumas medidas podem ser tomadas, tais como: • Fornecimento de água: os animais devem ter acesso fácil à fonte de água limpa e fresca com temperatura entre 18 a 24°C, com bebedouros colocados à sombra; • Manejo alimentar: oferecer aos animais, nas horas mais frescas do dia, maior número de refeições, devendo os alimentos ser colocados em alimentadores à sombra; 13 UNIDADE Adaptação e bem-estar dos animais • Uso de gordura ou óleos nas rações: a ração deve possuir elevado conteúdo energético e alta digestibilidade, proporcionando baixo incremento calórico, compensando a redução no consumo de alimento; • Redução do teor proteico das rações: a redução do teor de proteína na ração diminui o incremento calórico, além do fato da metabolização do excesso de proteína ter elevado custo energético. Essa redução deve ser acompanhada da suplementação com aminoácidos essenciais, principalmente lisina e metionina, para não comprometer o crescimento dos animais; • Uso de dietas úmidas ou líquidas: proporciona aumento no consumo de alimento, favorece o consumo de água e permite o uso de ingredientes líquidos; • Suplementação de dietas: alimentos como alguns minerais que atuam no balanço hídrico, iônico e de metabolismo, ou outras substâncias, como vasodilatadores, podem atuar positivamente na Fisiologia do animal. Estudo de Caso 1 Atuação do homem no bem-estar dos bovinos (TAKAHASHI, 2009) Instalações: um dos aspectos eficientes e de pouco investimento é o sombreamento, visto que no verão, em horas de excessivo calor, os animais deixam de se alimentarem e procuram sombras de árvores, das instalações e até de pouquíssima sombra em cercas. A recomendação de melhor sombreamento é o plantio de árvores com copas densas, porque as árvores têm maior eficiência na redução do calor que abrigos artificiais, pois sob as árvores os animais ficam expostos a menor radiação solar direta e maior ventilação natural. Na falta de árvores, recomenda-se o sombreamento artificial através de sombras portáteis ou abrigos permanentes. O importante desses abrigos é que seja de cobertura com laterais abertas, o que dá melhores condições de renovação de ar. O sombreamento em piquetes de vacas leiteiras pode induzir o aumento de produção de leite em até 15%. A recomendação para abrigos permanentes é a altura mínima de 3,6 m, com largura máxima de 15 m e instalada com distância mínima de 15 m entre outras edificações, essas dimensões permitem a ventilação adequada, o piso deve ser de concreto áspero, para evitar que os animais escorreguem e com declividade de 1,5 a 2,0%, facilitando a limpeza do piso. Outro fato muito importante, caso seja possível, é a presença de lagos naturais ou represas artificiais para os animais se banharem. O fato de umedecer a superfície corporal favorece a ocorrência do resfriamento evaporativo, muito eficiente na diminuição da temperatura corporal. 14 15 Equipamentos: como os bovinos têm poucos meios de dissipar calor, mesmo em abrigos ou instalações, quando o calor é muito intenso, o animal sente um estresse por calor, e nem sempre é possível manter represas adequadas ao banho. Uma forma muito efetiva é a aspersão de água em cima dos animais, provocando o resfriamento evaporativo, através da superfície corporal. Este aspersor deve ter uma pressão mínima de 20 libras por polegada quadrada. Manejo: em ambiente muito quente, que provoca grande estresse, é importante atentar para o manejo na alimentação, isto é, manipular a concentração de minerais nas rações. Embora isto não alivie do estresse calórico, é uma tentativa de auxiliar a vaca na manutenção da homeostase. Ao alterar a proporção de proteína degradável e não degradável no rúmen, a suplementação com lipídios, alguns aditivos podem aliviar a fermentação ruminal e pode influenciar na quantidade de calor produzido pelo animal e com isso diminuir a produção de calor interno do animal. Outra maneira de aliviar o estresse calórico pelo manejo alimentar é a adição de gordura na ração, pelo fato de a gordura ser altamente energética, em situação de menor consumo de alimento esta prática mantém o consumo de energia mesmo com pouca ingestão de ração. Vacas que recebem gordura na dieta em estresse calórico não apresentam elevação na temperatura retal e nem na frequência respiratória. Quanto ao manejo de água de beber, este deve estar sempre na sombra, com renovação constante se for possível e em quantidade de bebedouro suficiente para atender a todos os animais, pois animais mais fracos, muitas vezes são impedidos de se aproximar do bebedouro pelos animais mais dominantes e isso pode desestimular o consumo de água. Figura 3 – Produção e bem-estar animal Fonte: iStock/Getty Images 15 UNIDADE Adaptação e bem-estar dos animais Estudo de Caso 2 Atuação do homem no bem-estar dos suínos (TAKAHASHI, 2009) As temperaturas ideais para suínos apresentam uma variação muito grande conforme a idade do animal. Em uma granja suinícola existem todas as categorias ao mesmo tempo, o que significa que cada instalação, de acordo com a idade dos animais que abriga, deve apresentar uma temperatura específica para proporcionar o bem-estar dos animais. O que dificulta mais é que os suínos têm pouca capacidade de termorregulação, pois as glândulas sudoríparas nos suínos são poucas e menos eficientes que a maioria dos outros animais, portanto, o controle é precariamente feito com a vasodilatação periférica e o aumento de frequência respiratória, isto torna os suínos os mais sensíveis às altas temperaturas entre os animais domésticos. Desta forma, devemos procurar favorecer o melhor possível em instalações, equipamentos e manejo para minimizar as possibilidades do estresse calórico. Instalações: tanques de água dentro das instalações trazem vantagens quando a temperatura ambiente for superior a 23°C, o tanque de água para os suínos se banharem deve estar à sombra, dentro da instalação. O animal não consegue perder calor pela imersão e sim pela evaporação da água sobre a pele, cada litro de água evaporada consome 584 kcal de energia. Levando em consideração esse princípio, pode-se aspergir água diretamente no animal a cada 40 minutos para se obter ótimos resultados, portanto, se o suinocultor não dispor de equipamento de aspersão, pode molhar os animais com mangueira ou balde com água, o importante é molhar os animais nas horas mais quentes do dia. Na construção das instalações suinícolas, um dos principais fatores que influen- ciam na carga térmica radiante é o telhado. O melhor material para cobertura é a telha de barro, em seguida, cimento-amianto pintado de branco e alumínio. Outra possibilidade de proporcionar melhor ambiente para os animais é a arborização, porque a árvore não só proporciona sombra, mas absorve 90% da radiação solar. Assim, através do plantio de árvores, tem-se a diminuição da radiação de onda curta, diminuindo o efeito de ofuscamento e reflexão no aquecimento das superfícies e consequentemente o calor emitido por essas superfícies. Além disto, a evapotranspiração dos vegetais contribui para o abaixamento da temperatura, pois uma árvore adulta perde por transpiração até 400 litros de água por dia, desde que encontre água suficiente no solo e esses efeitos correspondem a cinco condicionadores de ar com capacidade de 2.500 kcal cada, durante 20 horas por dia.A ventilação em uma instalação é outro fator de suma importância, pois é responsável pela remoção da umidade, dispersão de gases e dispersão de calor, então a construção das instalações deve ser feita de tal forma que favoreça o máximo a ventilação natural. A velocidade recomendada do vento é de 0,1 a 0,2 m/s em leitões e 1,0 a 3,0 m/s para suínos adultos. 16 17 Nas instalações dos suínos o tipo de piso também é importante, pois os suínos passam em média de 60 a 80% do tempo deitados ou sentados sobre o piso e o material com que este é construído interfere na temperatura efetiva da seguinte forma: ripado em cimento (7 a 8°C), chapa de metal perfurado (5,8°C), chapa de plástico (3°C) e concreto (2,8°C). Portanto, em altas temperaturas o melhor é ripado sobre concreto, porém no frio é o inverso, ou seja, o concreto é o melhor ou uma cama de palha que aumenta a temperatura em 6°C. Equipamentos: como a ventilação natural em muitas situações não pode proporcionar um ambiente adequado, Moura (1999) recomenda o uso de ventilação forçada, apesar de ser mais oneroso. Isto porque a ventilação forçada não depende das condições atmosféricas e pode distribuir melhor o ar no galpão. Manejo: a frequência de ida ao bebedouro é maior em períodos mais quentes. Dessa forma, oferecer água na temperatura de 18 a 24°C em bebedouro coberto favorece a termorregulação e com isso o animal passa a ingerir mais alimento. Ademais, deve-se fornecer alimento em maior número de vezes, principalmente nas horas mais frescas do dia e oferecer ração úmida para aumentar o consumo. Na falta de equipamentos de aspersão de água nos suínos, pode-se jogar água com mangueira a cada 40 minutos nas horas mais quentes do dia. Na verdade, tudo o que for feito em prol do bem-estar animal, com toda certeza, trará benefício ao animal e também ao suinocultor. Figura 4 – Criação de suínos feita no Sistema de Suinocultura ao Ar Livre (Siscal), onde os suínos são mantidos em piquetes, com pastagens, nas fases de reprodução Fonte: iStock/Getty Images 17 UNIDADE Adaptação e bem-estar dos animais Considerações Finais Um animal estará adaptado quando apresentar o mínimo de perdas no desempenho produtivo, boa eficiência reprodutiva, resistência às doenças, longevidade e baixa taxa de mortalidade, estando exposto a agentes estressores que anteriormente lhe eram prejudiciais ou fatais. Quanto maior o grau de adaptação, maior será a tendência da sobrevivência e reprodução do animal, de forma que suas características biológicas persistam. O animal apresenta diferentes respostas frente à pressão do ambiente, que podem ser definidas como: adaptabilidade, aclimatação e aclimação. Como o ambiente é complexo com muitas alterações, a superfície externa do corpo do animal deve ser dotada de adaptabilidade para se ajustar a variações do ambiente e assim poder sobreviver em ambiente inóspito. Um dos manejos importantes e que deve ser adotado na tentativa de amenizar o estresse térmico dos animais é o alimentar. Uma das primeiras respostas comportamentais do animal em estresse térmico por temperatura elevada é a diminuição na ingestão de alimento com consequente prejuízo na produção. Dessa forma, algumas medidas podem ser tomadas, tais como: fornecimento de água, manejo alimentar, uso de gordura ou óleos nas rações, redução do teor proteico das rações, uso de dietas úmidas ou líquidas e suplementação nas dietas. 18 19 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Bem-estar Animal https://goo.gl/ITZFQJ Livros Ecologia CAIN, Michael L.; BOWMAN, William D.; HACKER, Sally D. Ecologia. Porto Alegre, RS: ArtMed, 2011. Vídeos Prática de bem-estar animal privilegia sistema diferente de manejo de porcos - Globo Rural https://youtu.be/CWRL1BnxwBg Leitura Adaptação e Aclimatação Animal BRIDI, Ana Maria. Adaptação e aclimatação animal. https://goo.gl/rfpDn3 19 UNIDADE Adaptação e bem-estar dos animais Referências HICKMAN, Cleveland P.; ROBERTS, Larry S.; KEEN, Susan L.; EISENHOUR, David J.; LARSON, Allan, I. Princípios integrados de zoologia, 16. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. HILL, Richard W.; WYSE, Gordon A.; ANDERSON, Margaret. Fisiologia animal. 2. ed. Porto Alegre, RS: ArtMed, 2015. SARIEGO, José Carlos. As ameaças ao planeta azul. São Paulo: Scipione, 1994. TAKAHASHI, Leonardo Susumu. Bioclimatologia zootécnica. Jaboticabal: UNESP, 2009. 20