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Recursos Humanos Noções sobre plano de carreira: conceito e aplicação É correto afirmar que uma adequada gestão de carreira leva à motivação e ao comprometimento dos empregados com os objetivos da organização. As promoções são uma outra forma de recompensa, já que consistem na escalada de nível na estrutura de carreira. Se percebem que a organização possibilita essa escalada, as pessoas se sentem mais motivadas. No início do século XX, era a organização a responsável pelo plano de carreira de seu pessoal. Tradicionalmente, pensava-se que a gestão da carreira era de inteira responsabilidade dela. A carreira era vista como algo dado, predefinido, uma estrada pronta que conduziria à riqueza e ao sucesso profissional. Entretanto, com o tempo, as pessoas perceberam que elas mesmas deveriam ter um papel ativo na gestão de suas carreiras. Esse despertar foi impulsionado por problemas e dificuldades surgidos no ambiente organizacional que resultaram em reestruturações e enxugamentos. Atualmente, recomenda-se que a responsabilidade pela gestão de carreira seja compartilhada entre profissional e organização. Ao primeiro cabe planejar sua carreira e garantir sua competitividade, enquanto a segunda deve estimular e apoiar o desenvolvimento da carreira do profissional enquanto ela própria se desenvolve. Trabalhamos em um mundo mutável. As mudanças ocorrem de forma ininterrupta, e a incerteza e a turbulência impedem o crescimento, o desenvolvimento e a busca incansável pela competência estratégica que conduz à tão desejada excelência profissional. Conceito O desenvolvimento profissional dos colaboradores deve ser o objetivo principal de um plano de carreira. O desenvolvimento do colaborador é resultado da associação de dois principais fatores: disposição para se qualificar e oportunidades. Ele ainda pode traçar sua carreira com base na sua trajetória e em requisitos e critérios estabelecidos. Entende-se por carreira as várias posições ocupadas por uma pessoa e os trabalhos realizados por ela no decorrer de sua vida. Ela é composta de várias etapas, e a ocorrência de transições reflete diferentes necessidades, motivos e aspirações individuais, resultado de expectativas e de imposições da organização e da sociedade. Na visão do profissional, isso compreende o entendimento e a avaliação de sua experiência. Na visão da organização, isso compreende políticas, procedimentos e decisões ligadas a espaços ocupacionais, níveis organizacionais, compensação e movimentação de pessoas. Essas visões são conciliadas pela carreira dentro de um contexto de constante ajuste, desenvolvimento e mudança. Ao se traçar um plano de carreira, pelo menos duas estruturas são possíveis: uma com cargos compondo trajetórias; e outra com cargos amplos que se constituirão em segmentos. Na estrutura de segmentos de carreira, o foco é o desenvolvimento de pessoas, uma vez que os cargos são descritos por competências. A escolha desse formato requer decisão na análise de cargo. O papel do profissional na gestão de carreira As pessoas geralmente mostram resistência a fazer um planejamento da sua vida profissional. Muitas vezes, elas não têm muito estímulo para isso ou encaram a carreira como algo dado. No Brasil, é comum as pessoas guiarem suas carreiras mais por razões externas, como remuneração e status, do que por preferências pessoais. Mas já é uma realidade as empresas estimularem as pessoas a planejarem as suas carreiras tendo em vista a necessidade de elas próprias se tornarem mais competitivas. Isso é alcançado com pessoas que tenham potencial, que busquem um contínuo desenvolvimento e que sejam empreendedoras. As pressões sociais e econômicas se originam nas mudanças organizacionais, quando ocorrem as reestruturações, em avanços tecnológicos, na diversificação do mercado de produtos e serviços, na valorização social do contínuo crescimento, da mobilidade e flexibilidade, nas crises e na escassez de empregos. Quando as pessoas não têm um projeto de desenvolvimento profissional sustentado por suas crenças e valores, os riscos são maiores de enfrentarem determinadas situações. Essas situações incluem: O projeto de desenvolvimento profissional minimiza os riscos citados porque pressupõe uma visão de carreira de dentro para fora. A pessoa olha para dentro de si e procura seus pontos fortes. Descobre aquilo de que gosta e o que lhe faz bem, o que servirá de referência para identificar oportunidades de carreira. Dessa maneira, passa a ter uma postura ativa e atuante sobre a realidade, de modo a adaptá-la a suas características e preferências. Em um modelo de planejamento de carreira, três tarefas são de responsabilidade do indivíduo. São elas: Autoavaliação: avaliam-se as próprias qualidades, interesses e potencial. Estabelecimento de objetivos de carreira: com base na autoavaliação e na avaliação das oportunidades de carreira, estabelecem-se objetivos, e elaboraram- se planos de ação realistas. Implementação do plano de ação: envolve a conquista da capacitação e da experiência profissional necessárias ao alcance dos objetivos. Figura 1 – Etapas do processo de planejamento de carreira Fonte: adaptado de Cuenca (2012). Essas etapas interagem, e ocorre contínua influência entre elas ao longo do processo de planejamento de carreira. Veja a seguir sete passos para o planejamento de carreira. Clique ou toque para visualizar o conteúdo. 1.Identificação individual Identificam-se as preferências individuais. 2.Avaliação dos pontos fortes e fracos da carreira Envolve as vantagens e as desvantagens competitivas do profissional no mercado de trabalho, considerando características pessoais, experiências, relações pessoais, formação e resultados. 3.Análise do ambiente Dentro da empresa e da ocupação, dentro da empresa e fora da ocupação, dentro da ocupação e fora da empresa, fora da ocupação e da empresa: é necessário verificar as oportunidades e as ameaças que existem nesses ambientes. 4.Identificação de estratégias de carreira Com base nas ameaças e nas oportunidades identificadas, é possível desenvolver uma das seguintes estratégias em relação aos ambientes: crescimento ou investimento no caminho trilhado; desaceleração ou mudança de rumo; diversificação ou acréscimo de uma nova ocupação não relacionada com a atual; integração ou busca de uma nova ocupação complementar à atual; revisão ou repensar o encaminhamento da carreira até o momento; e ainda combinação (combinar duas ou mais estratégias). 5.Definição dos objetivos de carreira Sugere-se que os objetivos de carreira sejam definidos em curto (até um ano), médio (de um a três anos) e longo prazos (de três a cinco anos). Eles devem estar relacionados ao desenvolvimento de habilidades, relacionamento interpessoal e níveis de recompensa. 6.Implementação da estratégia de carreira Provoca mudanças de comportamento, das relações pessoais e profissionais e do cotidiano, visando ao alcance dos objetivos. 7.Avaliação dos resultados A avaliação deve ocorrer de maneira contínua, para que as ações estejam direcionadas aos objetivos e para que os objetivos continuem válidos. A etapa mais importante e difícil do processo de planejamento de carreira é a autoavaliação, pois ela requer autoconhecimento. As técnicas de autoconhecimento mais comuns envolvem a análise de realizações, de valores pessoais e de personalidade. Quanto à análise de valores pessoais, destacam-se as chamadas âncoras de carreira. Estas consideram diferentes habilidades, necessidades e valores, que determinam as preferências por determinada ocupação, carreira ou empresa. As oito âncoras de carreira são: competência gerencial, competência técnica, segurança e estabilidade, criatividade, autonomia e independência, dedicação à causa, desafio constante e estilo de vida integrado. Uma pessoa pode ter de uma a quatro âncoras de carreira, sendo que uma é predominante. Conforme estudos da área de ciências sociais, as teorias de escolhada carreira se dividem nestas duas categorias: Compatibilidade As ocupações são escolhidas quando são compatíveis com as pessoas que as escolheram. Destaca-se o que influencia a escolha da carreira. Processo de escolha A escolha da carreira não ocorre de repente. Trata-se de um processo gradual ao longo da trajetória de vida de um profissional. O processo de escolha da carreira ocorre em três estágios da vida. Fantasia: é o período da infância, até os 11 anos. Escolhas e tentativas: é período dos 11 aos 16 anos. Em princípio, ele tem como base os interesses e, mais tarde, capacidades e valores. Escolhas realistas: ocorre a partir dos 17 anos. Geralmente, abrange três períodos: exploratório, no qual se examina uma série de opções de carreira; cristalização, em que as opções passam a ser focadas; e especificação, que é a escolha da carreira. Os três períodos podem ser vividos pelo profissional várias vezes durante a sua fase adulta. A escolha mais definitiva da carreira acontece por volta dos 40 anos. Há ainda três categorias de fatores que exercem pressão sobre o profissional na definição e na atualização do seu planejamento de carreira. Clique ou toque para visualizar o conteúdo. Processo biológico, psicológico e social associado ao envelhecimento Estão associados à idade determinantes de natureza biológica (como alterações no corpo e na capacidade física e mental) e de natureza social e cultural. Relações da pessoa com a sua família As pressões se modificam conforme a natureza da relação com a família. Exemplo: ser solteiro, estar casado, divorciado ou viúvo; ter filhos ou não, pequenos, adolescentes ou adultos. Têm maior ênfase o modo como se processa a escolha e o porquê. Trabalho e construção da carreira Ao longo do tempo, o profissional muda a sua postura diante de sua carreira, que sofre mudanças do início até se estabilizar. Os profissionais passam por três ciclos formados por essas categorias. Muitas vezes, pressões resultam deles, o que fortalece a necessidade de tomada de decisão em relação ao planejamento de carreira e de vida. É importante destacar que esses ciclos vêm sofrendo alterações nos últimos anos devido ao aumento da longevidade. As pessoas trabalham por mais tempo, o que faz com que o ápice da sua carreira se dê mais tarde. Além disso, a oferta de empregos foi reduzida, e muitas pessoas estudam por mais tempo para obter maior qualificação, o que retarda a sua entrada na vida profissional e até o início das suas próprias famílias. O papel da empresa na gestão de carreira A empresa também deve participar ativamente do planejamento de carreira de seus empregados, para que se sintam satisfeitos e úteis. Isso também ajuda a não perder os mais talentosos para os concorrentes. Mas não é fácil participar da gestão de carreira de tantas pessoas, conciliando diferentes expectativas de carreira com as necessidades organizacionais. É por isso que as empresas precisam de um sistema de gestão de carreira, formado a partir de diretrizes, estruturas de carreira e instrumentos de gestão. O sistema de gestão de carreiras serve para organizar possibilidades e como um suporte para as pessoas planejarem suas carreiras na empresa. Pode-se dividir o sistema de gestão de carreiras nas seguintes partes: Clique ou toque para visualizar o conteúdo. Princípios O sistema deve se firmar sobre princípios que representam os compromissos acordados entre a empresa e os empregados. Apesar de poderem ser revistos ao longo do tempo para se ajustarem a novas necessidades, é improvável que esses princípios precisem ser alterados ao mesmo tempo, o que atribui estabilidade e garante, portanto, a consistência do sistema. Estrutura de carreira A estrutura dá consistência ao sistema, pois define a sucessão de posições, sua valorização e requisitos de ingresso. Os principais tipos de estrutura são: carreira em linha, carreira em rede, carreira paralela em Y e carreira paralela múltipla. Instrumentos de gestão Garantem o nível de informação das pessoas com relação à empresa e vice-versa, estimulam e dão suporte para que a pessoa planeje sua carreira. Eles permitem que a empresa decida sobre oportunidades de carreira e sobre escolha de pessoas e garantem espaços para a negociação de expectativas. O papel da empresa na gestão de carreira pode ser dividido em três categorias, de acordo com a natureza das decisões. São elas: Definição estratégica A preocupação é tornar o sistema de gestão de carreira compatível com os princípios que regulam a gestão de recursos humanos e com as estratégias organizacionais e de negócios da empresa. Fazem parte decisões como conciliação entre desenvolvimento da empresa e das pessoas, definição de trajetórias de carreira e especializações importantes para a manutenção ou ainda incorporação de vantagens competitivas e grau de liberdade dado às pessoas. Definição do sistema de gestão de carreira Envolve decisões relativas à configuração técnica do sistema. Dessa forma, decide-se sobre a formatação e as características das estruturas de carreira, sobre os níveis dentro de cada estrutura, sobre os requisitos de acesso e ainda sobre a escolha dos instrumentos de gestão a serem integrados no sistema. Definição da metodologia de concepção, implementação e atualização do sistema Nesta categoria, as decisões estão voltadas para o melhor funcionamento do sistema. Na elaboração deste, devem-se considerar a cultura da empresa, o seu momento histórico e as suas reais necessidades. Estrutura de carreira Podemos considerar que existem três tipos básicos de estrutura de carreira, os quais podem ser combinados de diferentes maneiras para atender às particularidades e às necessidades da empresa e das pessoas. Os tipos básicos de estrutura de carreira são: Instrumentos de gestão Os instrumentos de gestão de carreira podem ser caracterizados como um conjunto de políticas e práticas que dão suporte para: Clique ou toque para visualizar o conteúdo. Decisões individuais sobre carreira São resultado de instrumentos de autoavaliação, de processos de aconselhamento profissional, de assimilação de informações sobre as oportunidades profissionais e de processos estruturados de retorno dos resultados (feedback). Gerenciamento de carreira pela empresa Compreende previsão de demanda por recursos humanos, programas de desenvolvimento, captação interna e processos de acompanhamento do desempenho e do crescimento profissional. Comunicação entre as pessoas e a empresa Fazem parte programas de preparação e de aperfeiçoamento dos gestores como conselheiros e orientadores, processos de negociação de objetivos de carreira e desenvolvimento. Compartilhamento de decisões sobre carreira O compartilhamento de decisões sobre a carreira surge como resposta às pressões sobre a organização para um maior envolvimento das pessoas com o trabalho. É preciso tornar as pessoas responsáveis pelo seu futuro profissional e adequar o processo de desenvolvimento das pessoas às necessidades da organização. A resistência que existem nas pessoas e nas organizações ainda é uma grande barreira entre a idealização e a prática da gestão compartilhada de carreira. Veja o que torna as pessoas resistentes: Já por parte das empresas, o que causa a resistência são outros fatores. A tendência é de que essas resistências se enfraqueçam. As pessoas terão de verificar sua posição com relação à carreira enquanto as empresas constatarão que o seu sucesso está diretamente ligado ao sucesso de seus colaboradores. Tendências da gestão de carreiras Como principais características da gestão de carreira, destacam-se: O sistema de carreira por competência é o que melhor representa essas características destacadas. Reunir os componentes carreira e remuneração é o ideal para compreender o sistema de gestão por competências. A tabela 1 apresenta quatro eixos de carreira, que são: gerencial, administrativo, técnico e operacional. Elestêm naturezas distintas. Trata-se de uma estrutura de carreira paralela múltipla. As carreiras gerenciais estão ligadas às atividades de gestão da organização, enquanto as carreiras profissionais estão ligadas as atividades específicas e fundamentais, como: administração, tecnologia e comercialização. Já as carreiras operacionais estão relacionadas com a atividade-fim da organização, o que exige alto grau de estruturação. Faixa salarial Gerencial Administrativo Técnico Operacional IX G5 VIII G4 T6 VII G3 A7 T5 VI G2 A6 T4 V G1 A5 T3 IV A4 T2 O4 III A3 T1 O3 II A2 O2 I A1 O1 Tabela 1 – Eixos de carreira e faixas salariais É fundamental para a organização e para as pessoas estabelecer os critérios de mobilidade, no caso de migração entre carreiras de naturezas distintas. Para cada um dos eixos, são definidas as principais competências. Desse modo, cada eixo tem um conjunto específico de competências, alguns comuns a mais de um. Essas competências devem ser graduadas conforme a sua complexidade. O grau de complexidade do conjunto das competências determinará a posição na estrutura de carreira e a sua faixa salarial. Um plano de carreiras precisa adotar princípios ou políticas de pessoal, então, caso a organização não os tenha, é fundamental defini-los. A construção da carreira deve se apoiar em requisitos crescentes de qualificação profissional, definindo requisitos como instrução, conhecimentos, habilidades e experiência. Além disso, é preciso definir políticas de crescimento, o que requer um instrumento de análise individual da qualificação dos profissionais e do seu desempenho, em equipe ou individualmente. Para que um profissional possa se desenvolver, é fundamental que tenha um planejamento de carreira. Ele deve saber o que quer e definir estratégias para o seu crescimento. Assim, ele poderá obter o êxito que espera. Trata-se de um processo em que é preciso seguir passos, os quais levam a uma carreira de sucesso.
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