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Controle da qualidade total – qualidade e produtividade Introdução Qualidade e produtividade são aspectos que, segundo a metodologia do controle da qualidade total (TQC), são considerados complementares. A qualidade está relacionada com o atendimento das necessidades das pessoas por meio da ofer- ta de produtos e de serviços sem falhas, com preço justo, que não trazem risco para o usuário e sejam entregues de acordo com os requisitos do cliente ou do consumidor. A produtividade está relacionada com a necessidade de produzir mais produtos e serviços, com a utilização de menos recursos. Desse modo, o objetivo desta aula é apresentar os conceitos de qualidade e produtividade e ve- rificar como eles se relacionam. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 86 | Controle da qualidade total – qualidade e produtividade Qualidade assegurada A garantia da qualidade deve ser a busca de qualquer empresa. Segundo Barbosa et al. (1999, p. 20), assegurar a qualidade de um produto ou de um serviço significa “garantir que o produto ou o serviço será entregue de acordo com os requisitos dos clientes”. A base para a garantia da qualidade é o domínio da tecnologia, ou seja, a empresa deve dominar o know-how (como fazer). Esse domínio da tecnologia acontece a partir dos conhecimentos específicos sobre como realizar os processos produtivos. Numa empresa da área de hospitalidade e turismo, alguns dos processos produtivos principais podem ser: a operação de um hotel;:::: a operação de um avião;:::: o funcionamento de um cozinha de um restaurante.:::: E para realizar esses processos, deve-se ter domínio tecnológico. Esse domínio da tecnologia está relacionado com o conhecimento sobre a utilização das máquinas e dos equipamentos, sobre as espe- cificações das matérias-primas (ou insumos), sobre os fornecedores, sobre todos os aspectos da realiza- ção dos processos produtivos, sobre as formas e canais de distribuição e entrega dos produtos ou dos serviços, sobre os clientes, sobre os consumidores etc. Percebe-se que a gestão do conhecimento é o fator fundamental para o domínio da tecnologia. Outro aspecto importante é a motivação para a realização do trabalho, ou seja, os profissio nais das empresas (como: garçons, recepcionistas, cozinheiros, comissários de bordo etc.) devem apresentar um comportamento voltado para a proatividade, para o trabalho em equipe, para solução de proble- mas etc. Após certificar-se do domínio tecnológico e da motivação das equipes de trabalho, deve-se cui- dar de três outros aspectos: o domínio dos conceitos básicos sobre controle da qualidade total;:::: o domínio e a utilização de métodos e técnicas para o controle da qualidade total;:::: o domínio de técnicas gerenciais diversas, tais como o gerenciamento da rotina (ou do traba-:::: lho do dia a dia) e o gerenciamento pelas diretrizes (ou gerenciamento interfuncional). Esses aspectos, se estruturados adequadamente, garantem (ou asseguram) a qualidade do pro- duto e do serviço. Essa estrutura para a garantia da qualidade também pode ser representada por meio da figura de um templo grego: Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 87|Controle da qualidade total – qualidade e produtividade Motivação para a qualidade Domínio tecnológico Qualidade assegurada Co nc ei to s so br e TQ C M ét od os e té cn ic as d e TQ C Té cn ic as g er en ci ai s d iv er sa s (B A RB O SA , 1 99 9, p . 2 0. A da pt ad o. ) Figura 1 – Garantia da qualidade. Percebe-se que a base para a garantia da qualidade é o domínio da tecnologia. Esse domínio tec- nológico é a base da motivação para a qualidade. Apoiados nessas bases estão o domínio: dos conceitos sobre TQC, o de métodos e técnicas do TQC e o de técnicas gerenciais diversas. Todos esses elementos suportam a garantia da qualidade (ou qualidade assegurada). Produtividade Antes de abordarmos o tema produtividade, vamos rever a conceituação de processo. Segundo a NBR ISO 9001:2000, um processo produtivo é “um conjunto de atividades inter-relacionadas ou inte- rativas, um processo tem por objetivo transformar inputs (insumos) em outputs (produtos). Vale reforçar que a saída de um processo é chamada de “produto”, que pode ser tangível (bens ou objetos) ou intan- gível (serviços)”. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 88 | Controle da qualidade total – qualidade e produtividade A figura 2 apresenta um modelo de fluxo de processo. Figura 2 – Abordagem de processo. Fornecedor Processo Cliente Insumos (input) Produtos ou serviços (output) Num processo, os fornecedores entregam insumos para serem processados. Os insumos podem ser: materiais (ou bens), informações e até o cliente (no caso de alguns tipos de prestação de serviços). Nesse momento, há custos para o dono do processo. Os insumos são processados e, nesse momento, acontece a agregação de valor ao insumo. A saída do processo gera um “produto”, que pode ser tangível (um bem manufaturado) ou intangível (um serviço ou uma informação). Esse “produto” é entregue a um cliente e, nesse momento, acontece o lucro resultante da agregação de valor do processo. O dicionário Aurélio define produtivo com sendo aquele que é “rendoso ou proveitoso”. Desse modo, produtividade é um conceito que pode ser definido genericamente como sendo “a relação entre os resultados alcançados (em termos de qualidade e/ou quantidade) e os recursos (ou insumos) uti- lizados nos processos produtivos”, ou ainda, a relação entre output e input, representada da seguinte maneira: Produtividade = Output/Input Desse modo, para aumentar a produtividade, é preciso produzir cada vez mais, com cada vez menos. Para que se tenha alta produtividade, deve-se fazer certo da primeira vez, pois o retrabalho não agrega valor aos processos nem aos produtos. O retrabalho aumenta os custos da produção, e isso se reflete no custo final do produto. Se o cliente aceitar assumir esse custo, o preço do produto final torna-se mais alto. Porém se o cliente não aceitar assumir esse custo, fatalmente ele terá que ser absorvido pela empresa. Desse modo, a equação da produtividade, quando se analisam custos, é a seguinte: Produtividade = Faturamento/Custos Para que se aumente a produtividade, deve-se agregar o máximo de valor ao produto e ao servi- ço, com o menor custo. Não basta apenas aumentar a quantidade produzida, o produto deve ter valor para atender as necessidades dos clientes. Vejamos alguns exemplos de produtividade em empresas da área do turismo e da hospitalidade: O setor administrativo de uma agência de turismo utiliza papel em suas impressoras. Então, :::: o papel é considerado o input do processo de impressão de documentos, e o documento im- presso é o output. Considerando que 100 folhas em branco foram colocadas na impressora e, devido a falhas na digitação dos documentos e na operação da impressora, 60 folhas foram descartadas (devido a erros de impressão). Por fim, 40 folhas foram impressas corretamente. Nesse caso a produtividade pode ser calculada da seguinte maneira: Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 89|Controle da qualidade total – qualidade e produtividade Produtividade = Número de folhas impressas / Número de folhas em branco Produtividade = 40/100 = 0,40 ou 40% Nesse caso, a produtividade foi de 40%, ou seja, um baixo índice. A cozinha de um restaurante utiliza arroz arbório para a preparação de risotos. Então, o arroz é :::: considerado o input do processo de cozimento, e o risoto pronto é o output. Considerando que 20 porções de arroz foram utilizadas nas preparações dos pratos de risoto e, devido a falhas no processo de preparação, 2 porções foram descartadas (devido a problemas no processo de cozimento). Por fim,18 pratos de risoto foram servidos corretamente aos clientes. Nesse caso a produtividade pode ser calculada da seguinte maneira: Produtividade = Número de pratos de risoto / Número de porções de arroz Produtividade = 18/20 = 0,90 ou 90% Nesse caso a produtividade foi de 90%. Um hotel tem 50 apartamentos para a locação. Então, o apartamento disponível é considera-:::: do o input do processo de hospedagem, e o apartamento ocupado é o output. Nesse exemplo, vamos supor que todos os apartamentos disponíveis estavam em perfeitas condições para receber os hóspedes, e que todos os apartamentos foram alugados num determinado período de tempo, ou seja, não houve nenhuma falha que impossibilitasse a ocupação dos apartamen- tos. Nesse caso, a produtividade pode ser calculada da seguinte maneira: Produtividade = Número de apartamentos ocupados / Número de apartamentos disponíveis Produtividade = 50/50 = 1 ou 100% Nesse caso, a produtividade foi de 100%, ou seja, uma situação desejada e ideal. Para melhorar a produtividade, as empresas devem investir em três aspectos; são eles: Hardware:::: – os equipamentos, os materiais e a estrutura física da empresa. Em empresas das áreas de turismo e hospitalidade, o hardware é toda a parte tangível da estrutura. Por exemplo: num hotel, esses aspectos tangíveis são os apartamentos, as camas, os chuveiros, a estrutura da recepção, as matérias-primas usadas na cozinha, os fogões, as geladeiras etc. Software:::: – os procedimentos, a maneira de realizar o trabalho, as informações etc. Em empre- sas das áreas de turismo e hospitalidade, o software é toda a parte intangível da estrutura. Por exemplo: num restaurante esses aspectos intangíveis são as receitas dos pratos, as instruções para a utilização de equipamentos (como fornos combinados, resfriadores de alimentos etc.), as instruções e procedimentos para o trabalho, os programas instalados em computadores etc. Humanware:::: – as pessoas que atuam nas empresas. Em empresas das áreas de turismo e hos- pitalidade, o humanware consiste nos profissionais que nelas atuam. Por exemplo, num hotel esses profissionais são os mensageiros, os recepcionistas, os gerentes, os cozinheiros etc. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 90 | Controle da qualidade total – qualidade e produtividade Os investimentos nesses três aspectos aumentam a probabilidade de as empresas, que prestam serviços nas áreas de turismo e hospitalidade, conseguirem altos índices de produtividade em seus processos produtivos. Conclusão Retornado aos objetivos propostos para esta aula, foram apresentados os conceitos relacionados à qualidade e à produtividade. Os aspectos relacionados à garantia da qualidade (tecnologia, motivação, técnicas gerenciais) e a medição dos níveis de produtividade e as formas para aumentá-la devem ser adotadas pelas empresas que prestam serviços nas áreas de turismo e hospitalidade. Essa é uma oportunidade para tornar essas empresas mais eficientes e mais eficazes, por meio da redução do retrabalho, redução dos desperdícios, da satisfação e da lealdade dos clientes. Texto complementar Ganhos infinitos de produtividade O Brasil vive um momento inédito de renovação da sua estrutura produtiva, que tem tudo para ser duradouro (CAMPOS, 2007) É muito comum ouvir de alguns empresários a seguinte frase: “Após todas as melhorias que já fizemos eu não esperava que ainda tivéssemos tantos ganhos a realizar!” Outra coisa: ouço esta frase, das mesmas pessoas, ano após ano. E mais: continuarei a ouvir! Estamos, neste momento, vivendo uma experiência inédita no Brasil (e, creio, no mundo todo) onde ocorre a confluência de vários fatores que se somam na melhoria dos resultados de uma empresa. No caso brasileiro, essa experiência ainda é potencializada pelas próprias transformações es- truturais que ocorrem em sua economia, dando um caráter explosivo às transformações. Saímos de uma economia fechada, inflacionária e tabelada, em que os preços eram autorizados pelo governo com base numa planilha de custos fornecida pelo interessado (caíamos no absurdo de inflar a pla- nilha de custos para aumentar a rentabilidade do capital empregado). Não interessava investir em novas tecnologia, novos equipamentos e novos métodos. Não in- teressava criar exigências de nível educacional no recrutamento e nem treinar o pessoal. A abenço- ada crise promovida pela abertura da economia e pela estabilidade da moeda nos acordou e está mudando o Brasil. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 91|Controle da qualidade total – qualidade e produtividade Existe agora um movimento inédito de renovação empresarial, em que é notável o esforço de recrutar talentos e treiná-los. Hoje a maioria das grandes empresas já exige o segundo grau comple- to como requisito mínimo no recrutamento de pessoal (é evidente que isso se reflete na conscienti- zação do povo quanto à necessidade de se ter uma educação de boa qualidade). Além disso, o país tem importado entre US$ 15 bilhões e US$ 20 bilhões de dólares por ano em equipamentos, o que mostra a elevada taxa de renovação tecnológica (alguns setores, tais como o de tecidos, voltaram a ser competitivos principalmente por esse motivo). A tecnologia de informação nos atinge em cheio nesta década e quase todas as maiores empresas brasileiras estão implementando sistemas ERP de informação gerencial (esses sistemas estão sendo indevidamente chamados de “sistemas de gestão empresarial”). A existência desses sistemas permite à empresa fazer coincidir as informações gerenciais com as contábeis. Isso propicia um controle orçamentário antes inexistente. Os sistemas ERP ainda for- çam as empresas a repensar seus processos e contabilizar seus custos de forma antes impossível. Em grande número de casos, a internet vem sendo utilizada não só em comunicação (e-mail), mas também no relacionamento comercial entre as empresas e entre estas e seus clientes. Já existem muitos desses casos no Brasil com ganhos substanciais de produtividade (por exem- plo, o cliente se conecta à rede do fornecedor, diz o que quer, o sistema verifica a possibilidade de atendimento, responde positivamente ou com alternativas, marca a data e hora em que o cliente deve buscar a encomenda, melhorando substancialmente a programação de produção reduzindo a necessidade de estoques e o tempo de espera de caminhões e, como consequência, os custos de logística). Todos esses fatores vêm acontecendo de forma simultânea e, inegavelmente, muito têm con- tribuído para a melhoria da eficiência e competitividade de nossas empresas (com reflexos fortes na economia nacional). Existe ainda um outro fator que tem um papel muito importante e que transcende todos os outros porque os afeta e direciona: o grande avanço no domínio das tecnolo- gias modernas de gerenciamento nas empresas brasileiras. Lembro-me de que há dez anos pou- cas pessoas tinham pleno conhecimento do que era uma meta e como estabelecer um plano de ação para atingi-las! Hoje, existe uma consciência bem difundida de que gerenciamento é método e conhecimento científico e não apenas bom senso (já dizia Descartes no século XVII, ao defender o método, que “o bom senso é o bem mais bem distribuído do mundo, pois ninguém deseja ter mais do que já tem!”). Quando se sabe que gerenciamento é conhecimento, então descobre-se que, quanto mais conhecimento sua equipe tenha, metas mais desafiantes ela será capaz de atingir. Já temos empresários bem conscientes dessas coisas e que estão fazendo uso disso para ganhos de competitividade e crescimento de suas empresas. Gerenciar é resolver problemas (ou atingir metas, o que é o mesmo). Portanto, uma consequên- cia do avanço do gerenciamento é a necessidade de os gerentes conhecerem suas lacunas (opor- tunidades de melhoria). Existem hoje métodos avançados para determinar essas lacunas, principal-mente em ambientes industriais. A Fundação de Desenvolvimento Gerencial tem ajudado algumas empresas nesse sentido e, mesmo naquelas de gerenciamento já razoavelmente avançado, têm sido encontradas lacunas da ordem de 6% a 8% da receita operacional líquida. É muito dinheiro. Existe, além de todos os fatores mencionados, um outro de grande interesse: a percepção de que o gerenciamento está se tornando cada vez mais científico. O desenvolvimento da tecnologia Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 92 | Controle da qualidade total – qualidade e produtividade de informática está permitindo, nesta década, pela primeira vez na história, a utilização intensiva de conhecimento científico na gestão. Um dos exemplos que mais gosto de citar, não sendo todavia o único, é o caso dos notebooks modernos (com 300 megaHertz e capacidade de memória de 64 megabytes) que propiciaram o aparecimento de software de estatística que podem agora ser uti- lizados, de forma muito rápida, organizada e eficiente, na solução de problemas empresariais no local de trabalho. Este é o caso do mundialmente famoso programa de treinamento “Seis Sigma Black Belts” que a FDG vem oferecendo a dezenas de empresas brasileiras. Os resultados são verdadeiramente excepcionais e revolucionários, tanto na área industrial como nas áreas de logística, vendas e até financeira. Todos esses fatores mencionados estão promovendo grandes ganhos de produtividade numa escala nunca antes imaginada. O que propicia isso é, sem dúvida, uma nova consciência das carac- terísticas dinâmica do meio empresarial promovida pela evolução dramática do conhecimento, da tecnologia de equipamentos, da informática e da tecnologia de gerenciamento que está cada vez mais científica. Não é mais possível ficar fora disso. Atividades 1. Calcule a produtividade do seu processo de estudo. 2. Visite um hotel, identifique e faça uma lista dos itens que compõe o hardware, o software e o humanware do setor da recepção. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 93|Controle da qualidade total – qualidade e produtividade Gabarito 1. Produtividade: horas de estudo efetivo/horas disponíveis para estudo. Caro aluno, se você tiver quatro horas para estudar e aproveitar 100% desse tempo, pode con- siderar que sua produtividade é excelente. Se você aproveitar 50%, sua produtividade pode ser considerada regular. Procure manter uma produtividade sempre crescente, ou seja, aumentar as horas de estudo a cada semana. 2. Hardware (balcão, computadores, impressoras, escaninho, telefone, rádio de comunicação etc.), o software (programas do computador, informações sobre os hóspedes etc.) e o humanware (o recepcionista, a telefonista, o mensageiro etc.). Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br