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NUTRIGENÔMICA 2 Faculdade de Minas NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 Faculdade de Minas Sumário 1. INTRODUÇÃO......................................................................................................4 2. EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GENETICO..................................................6 2.1. A INFLUENCIA DOS ALIMENTOS NA REGULAÇÃO GENERICA...................7 2.2. A NUTRIGENÔMICA E A PREVENÇÃO DAS DOENÇAS................................8 2.2.1. FIBROMIALGIA E DOENÇAS CIRCULATORIAS ..........................................9 2.2.2. DIABETES.....................................................................................................11 2.2.3. CONTROLE LIPIDEMIA................................................................................11 3. NUTRIGENOMICA E SAÚDE..............................................................................12 3.1. TESTES GENÉTICOS .....................................................................................13 4. NUTRIGENÔMICA E CANCER..........................................................................16 4.1. NUTRIGENÔMICA: OBESIDADE E INFLAMAÇÃO.........................................17 4.2. NUTRIGENÔMICA: ACIDOS GRAXOS E INFLAMAÇÃO................................17 4.3. NUTRIGENÔMICA NO CENÁRIO BRASILEIRO SOB A PERSPECTIVA CIENTIFICA..............................................................................................................18 5.NUTRIGENÔMICA NO CENÁRIO BRASILEIRO SOB A PERSPECTIVA POPULAR.................................................................................................................19 6.ANÁLISE DA NUTRIGENÔMICA SOB A PERSPECTIVA DA INTERFACE ENTRE BIOÉTICA E SAÚDE GLOBAL.................................................................................21 6.1. INSERÇÃO DA NUTRIGENÔMICA NOS CONTEXTOS FILOSOFICOS, BIOLOGICOS E CULTURAL ...................................................................................22 6.2. NUTRIGENÔMICA SOB A PERSPECTIVA DA SAUDE...................................25 6.3. NUTRIGENÔMICA SOBE A PERSPECTIVA LEGAL.......................................27 BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................31 4 Faculdade de Minas 1. INTRODUÇÃO Nutri genômica? Ela é a área da Nutrição que utiliza ferramentas moleculares para pesquisar, acessar e entender as diversas respostas obtidas por meio de uma determinada dieta aplicada entre indivíduos ou grupos populacionais. O objetivo da nutri genômica é entender como os componentes de uma dieta específica (compostos bioativos) podem afetar a expressão de genes (aumentando ou suprimindo o seu potencial). Um exemplo dessa interação gene-nutriente é a capacidade de ligação a fatores de transcrição. Essa ligação aumenta ou interfere na capacidade de fatores de transcrição e na interação com os elementos que conduzem à cadeia da RNA polimerase. O objetivo da nutri genômica é fazer uma extrapolação de como a nutrição induz as alterações na expressão gênica afetando as características de desempenho e saúde. O enfoque é o efeito dos componentes bioativos dos alimentos no genoma, transcriptoma, proteoma e metaboloma. Através da determinação do mecanismo do efeito do nutriente ou efeito do regime nutricional a nutri genômica busca definir a relação entre estes componentes específicos ou dietas e características de desempenho. As novas tecnologias como a PCR tempo real e os micros arranjos tornam possível mensurar a expressão gênica desde um único gene até um genoma inteiro. Essa nova ciência está demonstrando com clareza que ninguém é igual e que também não podemos saber de maneira exata o que um indivíduo precisa para atingir a sua saúde máxima. Já que os conceitos de nossa nutrição foram baseados em populações grandes, precisamos revê-los com humildade. A nutrição não é ciência exata, e a prática comum de impor regras rígidas aos pacientes está gerando estresse e terrorismo desnecessários. Cientificamente, o termo nutri genômica, ou genômica nutricional, se caracteriza pelo estudo do impacto de nutrientes na expressão gênica, que permite conhecer melhor o mecanismo de ação das substâncias biologicamente ativas, contidas nos alimentos, e seus efeitos benéficos. A partir de 2001, quando foram iniciados os estudos de sequenciamento do DNA humano, a relação entre nutrição e https://www.conquistesuavida.com.br/noticia/alimentos-sao-fontes-de-vitalidade-descubra-o-que-e-comida-bioativa_a812/1 https://www.conquistesuavida.com.br/noticia/alimentos-sao-fontes-de-vitalidade-descubra-o-que-e-comida-bioativa_a812/1 5 Faculdade de Minas genoma foi evidenciada pouco a pouco, auxiliando na melhor compreensão de como cada organismo responde a determinada dieta. 2. EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GENÉTICO • 1950: citando o trabalho de alguns cientistas, Linus Pauling, no início da década de 50, demonstrou que a origem da doença era influenciada por radicais livres e que existia uma dose adequada de nutrientes para cada pessoa e não uma dose padrão para todos. Com esta noção da individualização da nutrição, Pauling trouxe à tona a “medicina ortomolecular”. • 1953: Watson e Crick propuseram o modelo de dupla hélice para a estrutura do DNA, o que provocou outro grande impacto sobre o estudo das doenças. • 1956: Roger Williams introduziu o princípio da “individualidade bioquímica”, anunciando uma nova era na nossa compreensão da etiologia da doença e o papel dos nutrientes como ferramentas de intervenção. Notavelmente, o Dr. Williams reconheceu que o estado nutricional pode influenciar a expressão de características genéticas, embora na época não houvessem ferramentas disponíveis para determinar a individualidade bioquímica e genética. Assim, o conceito de “medicina individualizada” começou a ser introduzido e marcou o pioneirismo dos campos da nutri genômica e Nutri genética. • 2003: a conclusão do Projeto Genoma Humano em 2003 identificou aproximadamente 3 bilhões de pares de bases que compõem o genoma humano (o chamado Livro da Vida), despertou a esperança de que doenças incuráveis pudessem ser curadas, como o câncer e Alzheimer, e definiu o que seria a estrutura básica do genoma humano para conseguirmos identificar as diferenças individuais. A partir de um desenvolvimento vertiginoso na tecnologia e suas técnicas de sequenciamento e identificação genética, atualmente já é possível, com apenas um pouco de saliva, realizar um mapeamento genético de muitos polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs – sigla em inglês de Single Nucleotide Polimorfisms), definir nossa hereditariedade, nossas tendências a doenças, características https://pt.wikipedia.org/wiki/Linus_Paulinghttps://pt.wikipedia.org/wiki/James_Watson https://pt.wikipedia.org/wiki/Francis_Crick https://genoma.ib.usp.br/sites/default/files/projeto-genoma-humano.pdf 6 Faculdade de Minas farmacogenéticas (tendências do corpo a não responder ou a responder excessivamente a certos medicamentos), e obter a base informativa para a interpretação nutri genética. 2.1 A Influência Dos Alimentos Na Regulação Gênica Figura 1 Os alimentos possuem substâncias, que quando ingeridas auxiliam na regulação da 5 expressão gênica de um organismo. Assim sendo, a nutri genômica busca analisar a interação dos nutrientes ingeridos e sua interação com o genoma humano, encontrando assim formas de ajudar na promoção da saúde e prevenção de doenças (Tessarin e Silva, 2013; Vieira et al., 2015). Os nutrientes presentes nos alimentos podem induzir alterações nos padrões de metilação do DNA e na expressão genética. Por isso, dietas personalizadas podem ajudar a promover a saúde e reduzir o risco de DCNTs como doenças cardiovasculares, câncer, diabetes entre outras (Slomko et al., 2012; Vieira et al., 2015). A reação química denominada metilação é a adição de um radical metil (CH3) em regiões promotoras de genes, podendo assim anular a expressão do mesmo. Essa ação só ocorre no organismo porque as enzimas DNA metil transferases utilizam a S-adenosilmetionina (SAM) como doadora do radical metil. Entretanto, 7 Faculdade de Minas sabe-se que a disponibilidade da SAM é grandemente influenciada pela dieta alimentar (Milagro e Martínez, 2013; Vieira et al., 2015). 2.2 A nutri genômica E A Prevenção De Doenças Figura 2 (Fonte: Google) Neoplasias Diversos estudos buscam avaliar a nutri genômica como meio de prevenção e tratamento de neoplasias, os quais revelam ser um problema mundial. As neoplasias são caracterizadas pela proliferação anormal de células, de forma parcial ou totalmente descontrolada e é a segunda maior causa de mortes por doenças no Brasil. Estima-se que em 2030 haverá cerca de 21,4 milhões de casos novos de câncer (Tessarin e Silva, 2013; MS/INCA, 2014; Vieira et al., 2015). Uma enzima conhecida atualmente e com grande atividade em neoplasias é a desatilasse de histona (HDAC), que inibe genes supressores tumorais e de reparo do DNA. Porém, substâncias encontradas em fibras solúveis (butirato), no alho, cebola (dialildissulfeto) e brócolis (sulforato) podem inibir sua atividade, favorecendo assim a saúde do indivíduo acometido pela doença (Ordovás, 2013; Tessarin e Silva, 2013; Vieira et al., 2015). 8 Faculdade de Minas Outros acontecimentos importantes que devem ser levados em consideração quando falamos de nutri genômica é a formação de radicais livres e o processo de oxidação. Radicais livres são átomos ou moléculas que contém elétrons não pareados, que possuem sua reatividade química aumentada e podem existir independentemente (Vieira et al.; 2015). Barbosa et al. (2010), afirma que sua formação se dá pelas mitocôndrias no processo de metabolismo do oxigênio no corpo e podem causar câncer, diabetes e aterosclerose. De forma semelhante, a oxidação no organismo pode causar consequências graves, revelando assim a importância dos antioxidantes (Vieira et al., 2015). Estudos afirmam que antioxidantes podem retardar ou até mesmo prevenir o aparecimento do câncer. Além de serem facilmente encontrados em diversos alimentos (Leite e Sarni, 2003; Peluzio et al, 2010; Cominetti et al., 2011; Nasser et al., 2011; Vidal et al., 2012; Vieira et al., 2015). 2.2.1. Fibromialgia E Doenças Circulatórias Figura 3 (Fonte: Google) 9 Faculdade de Minas A fibromialgia é uma síndrome frequente em pessoas de meia idade (mas pode afetar adolescentes, crianças e idosos) e apresenta sintomas como dor crônica, fadiga, alterações no sono, ansiedade e depressão. Embora não existam recomendações alimentares específicas, sabe-se que os portadores de tal síndrome podem beneficiar-se com uma dieta rica em antioxidantes (Siena e Marrone, 2009; Silva, 2011; Mazocco e Chagas, 2015; Silva e Schieferdecker, 2017). Alguns nutrientes, ingeridos como suplementos também vêm apresentando muitos benefícios à saúde. Alguns exemplos são os ácidos graxos essenciais (importantes para manter a integridade da membrana celular e ajudar na síntese de prostaglandinas), substâncias provenientes de peixes de água fria (principalmente ômega-3, são capazes de alterar a expressão gênica de mais de 100 genes. Inibindo assim o desenvolvimento da aterosclerose, auxiliando no fluxo sanguíneo e na transmissão dos impulsos nervosos), o resveratrol (capaz de reprimir a expressão de genes com capacidade vasodilatadoras e vasoconstritoras, beneficiando àqueles com doenças cardiovasculares), e o procianidólico oligômero (capaz de proteger músculos e prevenir artrite e bursite) (Giraldi, 2010; Vieira et al., 2015; Silva e Schieferdecker, 2017). Nos casos de Alzheimer, os polifenóis antioxidantes têm obtido resultados que demonstraram ser uma boa alternativa para retardar a progressão da doença (Silva, 2011). Um exemplo é a romã, que é capaz de reduzir o dano oxidativo, inibir citocinas, melhorar a memória, função motora e reduzir a ansiedade. A epigalocatequina-3-galato (EGCG) presente no chá verde reduz a atividade da enzima DYRK1A. O aumento dessa enzima está associado ao maior risco de Alzheimer (Zimmermann e Kirsten, 2008; Torres, 2016). Atualmente, sabe-se que indivíduos com Síndrome de Down apresentam maior dificuldade de realizarem a metilação, característica essa que contribui para o envelhecimento acelerado e surgimento de doenças de maneira precoce (Smith, 1999). Pacientes com tal síndrome também possuem maior risco de desenvolverem Alzheimer, principalmente pelo fato de que o estresse oxidativo (característico da Síndrome de Down) também eleva a excitação glutamatérgica, contribuindo assim para o surgimento de seus sintomas (Torres, 2016; Vasconcelos, 2019). 10 Faculdade de Minas 2.2.2 Diabetes Outra aplicabilidade do uso da nutri genômica bem demonstrada ser refere ao combate do diabetes mellitus tipo 2. Que consiste em uma doença metabólica muito frequente no mundo todo atualmente (90% dos casos de diabetes) caracteriza-se pela hiperglicemia como consequência da sensibilidade diminuída à insulina no organismo do portador. Apesar de sua maior prevalência na terceira idade, sabe-se que a incidência em jovens vem crescendo a cada ano (Palou et al., 2004; López e Casaverde, 2016; Moraes et al., 2017). Nesse tipo de diabetes as células não conseguem metabolizar a glicose de maneira eficiente, podendo assim causar visão embaçada, dificuldade na cicatrização de feridas, o chamado ‘pé de diabético’ e outras complicações (López e Casaverde, 2016; Moraes et al., 2017; Fonseca e Rached, 2019). Por ser uma doença diretamente relacionada à nutrição/alimentação, o estudo de sua relação gene-nutriente se torna imprescindível (Palou et al., 2004). Um estudo realizado em 2012 observou que a ingestão de ácido fólico por pacientes diabéticos do tipo 2 reduziu em parte sua resistência à insulina (Torres, 2016; Pereira 2019). 2.2.3 Controle Da Lipidemia Apesar da grande semelhança genética entre os humanos (99,9%) as diferenças de 0,1% são responsáveis por muitas alterações como cor da pele, olhos, cabelos, necessidades de determinados nutrientes, compostos bioativos e também do maior ou menor risco de desenvolvimento de doenças. Essas diferenças são denominadas polimorfismos de nucleotídeos únicos (SNPs) (Conti, 2010; Tessarin e Silva, 2013; Vieira et al., 2015). Um SNP de grande importância foi identificado no gene PPARγ, que controla em parte as concentrações sanguíneas de triacilglicerol (Conti, 2010). Pessoas com esse tipo de polimorfismo apresentam maiores concentrações dessa substânciae, portanto, devem reduzir o consumo de alimentos gordurosos para evitarem problemas cardíacos no futuro (Conti, 2010; Day e Loss, 2011; Youngson e Morris, 2013; Huang e Hu, 2015). Outro SNP de interesse foi observado no gene APOA1. Indivíduos com esse polimorfismo não são 11 Faculdade de Minas beneficiados com o ômega-3, quando este beneficiaria outros, aumentando as concentrações do colesterol HDL (Conti, 2010; Giraldi, 1010). 3. NUTRIGENÔMICA E SAÚDE Como citado previamente, as utilizações de ferramentas avançadas de genética molecular contribuem para uma melhor compreensão de como as dietas interagem com o genoma humano. Doenças crônicas e complexas acometem milhares de pessoas todos os anos, levando muitas vezes a morte. Nestas doenças, como diabetes, obesidade, doenças cardiovasculares, a dieta tem papel fundamental pois está incluída entre os fatores ambientais que também exercem influência sobre os genes no desenvolvimento e progressão das mesmas (AZEVEDO; MARTINEZ; STEEMBURGO, 2009). Os genes podem sofrer alterações desde a vida intrauterina, com os nutrientes e outros compostos de alimentos modelando suas expressões. A alimentação contribui como ferramenta para modular as respostas do organismo frente a exposição a compostos tóxicos e infecções. É preciso cada vez mais aprofundar os estudos sobre a influência dos compostos bioativos, assim como as consequências de polimorfismos gênicos nas necessidades de nutrientes e destes compostos no risco do aparecimento de doenças (LIMA, 2014). O alimento é um fator ambiental que merece destaque, visto a exposição a diversos patógenos podendo causar consequências. Os hábitos alimentares são os fatores que mais merecem atenção, uma vez que a identificação de que os nutrientes têm a capacidade de interagir e modular mecanismos moleculares essenciais nas funções fisiológicas dos organismos sugere uma revolução no campo da nutrição. Atualmente, sabe-se que o genoma humano possui de 20 a 25.000 genes, um número muito menor daquele pensado antes. A tecnologia atual permite identificar um número superior a 500.000 polimorfismos por pessoa. Alguns deles podem afetar as funções das proteínas, bem como suas interações com outras proteínas e substratos. (FUJII; MEDEIROS; YAMADA, 2010). 12 Faculdade de Minas O conhecimento empírico sobre nutrição baseado em pesquisas e rotina já é aplicado para o benefício da saúde pública, como trabalhos de conscientização junto à população sobre os benefícios e malefícios dos alimentos individualmente (cardápios personalizados). Estudos têm sido realizados com a indicação de cardápios individualizados para a redução de peso em pacientes obesos, em tratamento de câncer, diabetes tipo I e tipo II, sendo que o cardápio adequado pode resultar em significativa perda de peso e na melhora metabólica (BAUMLER, 2012). Baseado nestas aplicações, a grande contribuição da nutri genômica é a nutrição personalizada, uma vez que os indivíduos não respondem da mesma forma aos tratamentos e as dietas, sendo alguns favoráveis e a outros não. Esta vertente vem de encontro também com a medicina personalizada, sendo que na primeira, os dados genéticos devem estar relacionados com a dieta para um determinado genótipo, a fim de reduzir o risco de doença, enquanto na segunda, os dados genotípicos estão ligados ao risco de desenvolver doença (GIBNEY; WALSH, 2013). 3.1 Testes Genéticos Figura 4 (Fonte: Google) Os avanços nas ferramentas de biologia molecular permitiram o desenvolvimento e oferecimento de testes genéticos em genes relacionados à nutrição. Estes testes incluem identificação de variações nos genes relacionados aos mecanismos de absorção dos nutrientes, o metabolismo, a excreção e até 13 Faculdade de Minas mesmo o paladar. Além disso, estudos genéticos têm demonstrado o quanto determinados genes determinam a preferência alimentar e o grau de satisfação (saciedade e apetite) dos seres humanos (OLGUIN, 2018). Os exames laboratoriais permitem detectar, por exemplo, níveis séricos anormais de IgG4 (proteínas associadas à sensibilidade). A intolerância alimentar, corresponde a uma reação de hipersensibilidade tipo III, nas quais se formam imuno complexos circulantes, mediada por IgG específicas (IgG4). A reação de hipersensibilidade alimentar que culmina na produção de IgG4, tem na base uma má tolerância alimentar a algum grupo de alimentos, onde a digestão permanece incompleta, provavelmente por alguma deficiência enzimática do sistema digestivo. Como consequência, são produzidos polipeptídios que o organismo reconhece como substâncias estranhas e que causam uma reação de sensibilidade alimentar. (MONTE, 2015). Algumas evidências sugerem que a eliminação do consumo dos alimentos para os quais são detectados níveis de IgG específicas acima da normalidade, induz melhorias notáveis em elevada porcentagem das situações clínicas. Testes mais conhecidos, como da intolerância a lactose e ao glúten tem se tornado bastante populares e acessíveis. A intolerância a lactose ocorre pela incapacidade do organismo de digerir a lactose devido a quantidade insuficiente de enzimas digestivas responsáveis por quebrar as moléculas lácteas, como a lactase (SWALLOW, 2003). Os principais sintomas em decorrência à intolerância são gastrointestinais, como inchaço, flatulência, dor abdominal, fezes moles e diarreia ou constipação (KATSILA; PATRINOS; PAVLIDIS, 2015). Polimorfismos populacionais são testados para a identificação da intolerância primária. O SNP no intron 13 do gene da lactase LCT (LCT-13910 C>T ou rs4988235) é o mais prevalente entre os polimorfismos para o gene. Um indivíduo homozigoto para o alelo C é considerado intolerante à lactose ou lactase não persistente. Diferente da maioria das variantes genéticas que apresentam consequências nutri genômicas de perda de função, mutações no gene LCT resultam em persistência da lactase (PL), conferindo a habilidade de produzir a enzima lactase até a idade adulta (KATSILA; PATRINOS; PAVLIDIS, 2015). 14 Faculdade de Minas Notavelmente, a doença é mais frequente em algumas populações do que outras (HEANEY, 2013), evidenciando o fator genético herdado. A recomendação dietética para estas populações, na confirmação da variante genética é eliminar ou limitar alimentos contendo lactose, usar suplementos de lactase ou consumir produtos sem lactose para evitar desconforto gastrointestinal (SWAGERTY et al., 2002). Como consequência da grande parcela da população incluída nesta limitação alimentar, foram desenvolvidas enzimas sintéticas que podem ser ingeridas como suplemento à falha da enzima corpórea. Um outro exemplo é a intolerância ao glúten, uma reação do organismo a alimentos que tenham trigo, cevada, centeio e outros tipos específicos de grãos. Chamada de doença celíaca, esta intolerância é uma inflamação crônica hereditária comum no intestino delgado causada por intolerância permanente a glúten/gliadina (FERRETI et al., 2012). Após uma digestão proteolítica não completa, a estrutura e as funções da célula intestinal são afetadas, modulando a expressão gênica de citocinas pró-inflamatórias, moléculas de adesão e enzimas da via NF-κB. Portanto, glúten deve ser restrito como parte do manejo nutricional e dietético da doença (LUDVIGSSON et al., 2014). Há uma forte associação entre a doença celíaca e os genes específicos do antígeno leucocitário humano (HLA), tornando a genotipagem do HLA uma ferramenta útil em situações clínicas específicas. Da mesma forma, há variabilidade étnica e populacional, sendo que os principais genes de susceptibilidade são o HLA- DQ2 (especificamente HLADQ2.5 e HLA-DQ2. 2) e HLA-DQ8, que são encontrados na grande maioria (99%) dos pacientes com doença celíaca, o que auxilia o diagnóstico (Tye-Din, 2018). Emboraesses genes, transmitam risco relativo substancial para a doença celíaca, o risco absoluto é baixo e a maioria dos pacientes com um ou mais desses genes não desenvolverá doença celíaca. Um teste HLA positivo não diagnostica a doença celíaca, mas indica que mais investigações podem ser necessárias. A nutri genômica emergiu como uma forte aliada à nutrição, fornecendo conhecimento e ferramentas para que vias metabólicas de absorção e degradação de compostos alimentares sejam identificadas, sugerindo novos marcadores moleculares que podem ser utilizados em testes genéticos. O esforço de 15 Faculdade de Minas profissionais multidisciplinares no tratamento e prevenção de doenças é imprescindível para a formulação de dietas personalizadas. O custo dos testes ainda é elevado para grande parte da população e nem todos estão disponíveis comercialmente, porém acredita-se que em um futuro breve a acessibilidade será maior. E que serão implantadas políticas públicas de prevenção, em detrimento aos altos custos de tratamentos de doenças complexas. A nutrição como base para a qualidade de vida saudável do indivíduo, aliada aos conhecimentos fornecidos pela nutri genômica sugerem adicionalmente alterações no cultivo, processamento e consumo dos alimentos. O desenvolvimento tecnológico, pesquisas e conscientização da população sobre a influência do estilo de vida no desenvolvimento de doenças multifatoriais aliados ao avanço da medicina permitirão somente o aumento da expectativa de vida, mas um aumento com qualidade para usufruir com saúde da melhor idade. 4. NUTRIGENÔMICA E CÂNCER Epigenética é o estudo das alterações passíveis de transmissão hereditária na expressão de genes que ocorrem sem alterações na sequência do DNA. Fatores epigenéticos são componentes importantes para o desenvolvimento e proliferação celular normais. Anormalidades nesses mecanismos são fatores promotores de doenças. Os fatores dietéticos são importantes para a provisão e regulação do suprimento e regulação de grupos metil para a formação da S-adenolimetionina (SAM ou SAMe). Compostos bioativos da dieta podem modificar a utilização do grupo metil, alterando a atividade da DNA metil transferase. A desmetilação do DNA, pode alterar a regulação dos genes que influenciam absorção, metabolismo ou o local de ação de componentes bioativos. Compostos fitoquímicos com potencial anti-inflamatórios podem ter papel importante na quimioprevenção. Muitas pesquisas têm focalizado vários polifenóis vegetais, incluindo epigalocatequina 3 galato (EGCG), curcumina, 6-gingerol e resveratrol. Esses compostos demonstraram inibir as vias de transdução de sinais na cascata de quinases, incluindo as vias da proteína quinase C (PKC), I-kB quinase (IKK), quinase de proteínas ativas de mitógenos (MAPK) e fosfoinositol-3- 16 Faculdade de Minas quinase (PI3K), provocando ativação diminuída de fatores de transcrição pró- inflamatórios como NFkB, AP-1 e β-catequina. A inibição dessas vias reduz a formação de enzimas pró-inflamatórias, incluindo ciclooxigenase-2 (COX-2) e óxido sintase induzível (iNOS) e de mediadores pró-inflamatórios como TNF-α, IL-8, PGE2 e óxido nítrico. Efeitos semelhantes sobre a sinalização celular e a inflamação foram observados nas antocianinas, e em uma variedade de polifenóis vegetais comuns em alimentos de cores vivas, como batata doce. 4.1. Nutri genômica: Obesidade E Inflamação Dentre os mecanismos moleculares envolvidos no desencadeamento da resposta inflamatória induzida pela obesidade, destaca-se a via de sinalização do fator de transcrição NF-kB, a qual aumenta a expressão de diversos genes que codificam proteínas envolvidas na resposta inflamatória e, consequentemente, está ligada à patogênese de diferentes doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). A estimulação da via de sinalização do NF-kB pode ocorrer pela ligação de um ligante em um receptor de superfície celular, como o receptor do TNF-α e o receptor do TLR-4, sendo que este último pode ser ativado tanto por lipopolissacarídeos (LPS) quanto por ácidos graxos saturados. O aumento do consumo de ácidos graxos saturados na dieta favorece a ativação da resposta inflamatória e, consequentemente, o aumento do risco para DCNT. A ativação da via de sinalização do NF-kB pelo TNF-α envolve a participação da família das proteínas quinases ativadas por mitígenos (MAPK), que atuam em reguladores upstream da via de sinalização do NF-kB. O aumento da atividade da MAPK e seu envolvimento na regulação da síntese de mediadores inflamatórios, tanto em nível de transcrição quanto de tradução, tornam essas enzimas alvos moleculares relevantes no contexto da nutri genômica, da inflamação e da síndrome metabólica. 4.2. Nutri genômica: Ácidos Graxos E Inflamação No tocante ao efeito metabólico dos ácidos graxos saturados no tecido adiposo branco, verifica-se que o excesso de palmitato aumenta a inflamação e a apoptose, por meio do estresse oxidativo, do estresse do retículo endoplasmático, 17 Faculdade de Minas da síntese de ceramidas e da ativação da via de sinalização da proteína quinase C (PKC). Em adipócitos, o palmitato aumenta a fosforilação da JNK, ao mesmo tempo em que ativa a PKC, o NF-kB e a via de sinalização da MAPK, o que induz a síntese de citocinas pró-inflamatórias em adipócitos. Ácidos graxos saturados podem causar diretamente inflamação e resistência insulínica no tecido muscular, por exemplo, o acúmulo de lipídios no tecido muscular causa resistência periférica à insulina mediada pelo palmitato, através da via de sinalização da PKC. Adicionalmente o palmitato aumenta a expressão e a secreção de citocinas pró-inflamatórias (IL-6 e TNF-α) e prejudica a via de sinalização da insulina a partir da ativação da via do NF-kB. Além disso, ácidos graxos saturados induzem a resistência insulínica por sua ação antagônica sobre o co ativador do receptor ativado por proliferadores de peroxissomos gama (PPAR-γ) o qual promove a expressão de genes mitocondriais envolvidos com a fosforilação oxidativa e com a captação de glicose mediada pela insulina. 4.3. Nutri genômica No Cenário Brasileiro Sob A Perspectiva Científica Metade da produção científica associada à nutri genômica condicionada ao Brasil, que teve seu auge em 2014, abordou as temáticas: suplementação, dietas ou ingestão de determinados nutrientes para mitigar efeitos de doenças ou suas modificações no dna. Registraram-se também as associações de doenças com genes presentes no dna (33,3%) e estudos de revisão sobre os aspectos da nutrição e/ou nutri genômica (17%). Já o descritor “nutrigenomics” em abrangência global resultou em 939 registros relativos ao período de 2001 a 2017, com prevalência em 2007, destacando-se como temas abordados: nutri genômica (39,2%), fenômenos fisiológicos da nutrição (14,9%) e dieta (13,6%). A análise do conteúdo dos artigos nacionais indicou potenciais conflitos. Santana Santos, Prosdocimi e Ortega (23) apenas citaram que a nutri genômica pode trazer complicações, dependendo de como os testes são disponibilizados à sociedade. Os aspectos econômicos referentes à utilização dessa nova ferramenta também foram considerados (24), principalmente quanto à dificuldade de acesso. Veem-se também questões sobre os possíveis problemas e incertezas à saúde 18 Faculdade de Minas proveniente do consumo de alimento enriquecido (suplementação), seja pela falta de estudos, seja pelas controversas (25). Fujii, Medeiros e Yamada (13) destacam a correlação da Bioética com a nutri genômica, uma vez que está ainda precisa de muitas pesquisas, tendo em vista suas incertezas, cuja realização é orientada pela Bioética. A proteção das informações dos indivíduos foi levantada por Sales, Pelegrini e Goersch (26), ao afirmarem que é necessária a existência de órgãode proteção contra as empresas que possam oferecer o serviço. Os outros artigos não levantaram quaisquer pontos de conflitos decorrentes da utilização da nutri genômica. 5. NUTRIGENÔMICA NO CENÁRIO BRASILEIRO SOB A PERSPECTIVA POPULAR O conteúdo textual disponível na mídia digital indicou um posicionamento direcionado para clientes, para a população geral e para a academia que aborda principalmente o conteúdo sobre a fundamentação da nutri genômica, com conceitos, definição, processos e aplicação na área da saúde, na prevenção e tratamento de doenças. Na rede social YouTube, têm sido divulgados vídeos com explanação e palestras, cujo conteúdo se refere, na sua maioria, à fundamentação teórica com exposição de conceitos, definições e processos, sendo este mais evidente para o termo “nutri genômica”, assim como à apresentação das possibilidades de aplicação no dia a dia, sendo evidenciada uma relação da nutri genética com a obesidade (c2(3)=12,7; participantes, cujo objetivo principal é divulgar notícias sobre a temática, com relação também a grupos escolares e profissionais. Já as páginas que congregaram grande número de seguidores apresentaram cunho predominantemente comercial. O conteúdo vinculado aos testes de nutri genômica referiu-se ao oferecimento de testes e à discussão sobre o tema. A maioria dos sites de testes (40%) não disponibiliza informações precisas quanto aos procedimentos de coleta de material, ao diagnóstico e ao retorno, e não responderam prontamente à solicitação de informações por e-mail. Além disso, 33,3% indicam a necessidade de consulta prévia com médicos, nutricionistas ou laboratórios e apenas 13,3% dão 19 Faculdade de Minas autonomia para o cliente coletar o material por meio de kit, enviar pelo correio e obter o resultado por meio digital, muitas vezes ligados ao laboratório italiano. O custo médio dos testes foi de 2.585,00 reais, com até 40 dias para o resultado. Na avaliação do mapeamento do conteúdo associado à expressão “nutri genômica animal”, 44% não apresentavam associação com a temática ou consistiam em réplicas de notícias já caracterizadas. Das notícias analisadas (56%), observou-se que a maioria (79%) detinha como eixo orientador animais de produção, com o elenco de fatores como a intensificação da produtividade, a qualidade da carne, a produção de alimentos funcionais e com melhores processos metabólicos, bem como as técnicas de produção sustentável. Com índices menores (5%), foram encontrados registros relacionados a estudos nutrigenômicos que envolviam animais de pesquisa, com a identificação de fatores genéticos como possíveis causas para melhorias e transtornos metabólicos em humanos e animais. Apenas 16% das notícias analisadas continham informações relacionadas a animais domésticos, com a abordagem de temáticas relacionadas ao manejo nutricional, ao aumento da longevidade, bem como à relação de enfermidade que acometem humanos e animais. Nutri genômica no cenário brasileiro 20 Faculdade de Minas Figura 1. Fluxograma dos resultados obtidos com a categorização da abordagem científica e popular da nutri genômica no cenário brasileiro. 6. ANÁLISE DA NUTRIGENÔMICA SOB A PERSPECTIVA DA INTERFACE ENTRE BIOÉTICA E SAÚDE GLOBAL A expectativa de atuação da nutri genômica foi ressaltada em 47 referências agrupadas em oito categorias, relacionadas principalmente à prevenção das doenças, à aplicação na saúde pública e à importância do conhecimento gerado (c2(7) = 47,2; P<0,001). Por sua vez, foram registrados 165 pontos conflitantes agrupados em 24 categorias; dos registros relativos a mais de cinco citações (58%), a maioria indicou a incipiência de diretrizes para os diagnósticos. Logo, demandam uma regulamentação mais incisiva que questione a idoneidade das informações passadas tanto pelo participante das pesquisas quanto pelo paciente e pelo cidadão (c2(11) =19,2; P<0,001). Os textos recuperados evidenciaram que a Bioética tem sido pouco inserida nos debates sobre a nutri genômica, nos quais apenas 11 traziam alguma referência da Bioética associada à atuação dos comitês de ética na proteção dos participantes da pesquisa, dos vulneráveis, dos interesses da sociedade, além de regulamentar, orientar e acompanhar pesquisas e aplicação dos testes (Figura 2). Nutri genômica na perspectiva bioética (Fonte: Google) 21 Faculdade de Minas 6.1 Inserção Da nutri genômica Nos Contextos Filosófico, Biológico E Cultural O processo civilizatório ocidental, como resultado da relação do homem com a natureza e baseado no conhecimento científico, o qual considera o pensamento decorrente da Antiguidade grega (Platão e Aristóteles), da época Medieval (São Tomás de Aquino), dos tempos modernos (em especial, os séculos XVI e XVII, representados por pensadores como Nicolau Copérnico, Thomas Hobbes, René Descartes, Isaac Newton, Immanuel Kant, e o século XIX, com Hegel, Darwin, Spencer) e da visão contemporânea (Hans Jonas, Arthur Koestler, Lutzenberger e Kesselring) — evidencia a consolidação do pronunciamento do domínio do homem sobre a natureza e da sua exploração pela técnica, na qual não se percebe como parte integrante, o que o torna simultaneamente ator e vítima do seu próprio progresso. Essa análise filosófica da questão mostra que a construção do homem moderno passou por uma sequência atrelada ao processo evolutivo do conhecimento, que o conduziu ao exercício de múltiplos papéis na relação com a natureza, ora se posicionando como parte, ora como expectador e, ainda, como dominador. A ciência, diante da impossibilidade de retornar ao estágio prévio à degradação e à insalubridade atual, passou a ser direcionada na busca de meios de adaptar o homem, como os demais seres vivos de interesse comercial ou social, a esse ambiente artificialmente inóspito à vida no planeta. A evolução do pensamento humano e a forma como se percebia conduziram ao cenário atual, cuja relação insustentável e predatória da natureza evidencia inegáveis e catastróficas consequências, potencialmente irreversíveis. O questionamento é se o atalho que o ser humano acreditava que o levaria a uma vida mais leve, sem tanto esforço físico, que o liberaria para dispor de mais tempo para viver, o prendeu em uma teia de artificialidade que frustrou a expectativa de retomar o ponto inicial. Partindo do pressuposto da impossibilidade de retornar a uma relação natural com o ambiente a partir de uma reversão dos danos já causados à natureza, a outra opção seria, por meio do conhecimento dos processos e da tecnologia, promover a adaptação do homem ao ambiente alterado, mediante a manipulação genética e epigenética, constituindo como nova meta o domínio do caos. 22 Faculdade de Minas O conflito entre o corpo biológico do ser humano paleolítico, de mais de 200 mil anos, lentamente moldado pela evolução, e as demandas de adaptação decorrentes das intensas e exponenciais mudanças tecnológicas do homem neolítico é um ponto relevante para os estudos genéticos e principalmente os nutrigenômicos .Considerando que, em menos de 4% da sua história de vida, o Homo sapiens sapiens foi exposto a essas novidades, não é plausível de esperar uma adaptação instantânea. Os alimentos gerados pelos novos meios de produção neolítico criaram tensão ao entrarem em contato com o genoma lentamente selecionado para a interação com os alimentos disponíveis no ambiente natural, subjugados às disponibilidades sazonais e aos inerentes contaminantes biológicos de uma época sem saneamento. Os novos alimentos caracterizam-se por carências de determinados nutrientes, abundância de calorias, diversidade de elementos artificiais e contaminantes de agrotóxicos. Para Zwart, o conflito entre as dietas neolíticas e os genomas paleolíticos incorreu nos problemas que hoje a saúdepública investe para remediar, tais como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, câncer de colón e intolerâncias alimentares. O autor sugere a interação entre pesquisadores da genômica e da arqueologia a fim de que se insiram na sociedade dietas trans neolíticas compostas por alimentos paleolíticos, que readaptem a interação ambiental com genomas acrescidos de mudanças de modos de vida. Comer é um ato de convívio social, de identidade, com costumes que simbolizam um povo ou uma crença, sendo o alimento concebido pelo viés saúde, seja pelo comportamento por meio de restrições, seja por sua abundância de variedade e quantidade. Boff utilizou o termo “comensalidade” para representar o ato de comer como um convívio social; segundo o autor, esse comportamento permitiu o salto da animalidade em direção à humanidade; nesse sentido, a destituição dessa condição é um meio de retornar à desumanidade e à crueldade, tal como já se apresenta em muitas situações atuais. Nas sociedades contemporâneas, o consumo alimentar tem refletido influências da mídia nas escolhas, o que retira do alimento seu papel central como cultura, resultando no vício em açúcar, sal e gordura. Dessa forma, o valor atribuído ao alimento passa a ser o prazer imediato e a saciedade dos vícios, incorrendo em uma diversidade de agravos à saúde. 23 Faculdade de Minas A ciência da nutrição é a área base da nutri genômica e são justamente os seus fundamentos que devem ser usados para permear a orientação do homem na busca da sua restauração natural aos seus processos hemostáticos. Fujii, Medeiros e Yamada classificaram a nutri genômica como o que há de mais atual na ciência da nutrição, indicando a disseminação no meio acadêmico e profissional; contudo, assumiram a necessidade de novos estudos. A utilização da nutri genômica como ferramenta para criar dietas personalizadas deve considerar a diversidade de metabolismos e de necessidades decorrentes de diferentes modulações genéticas e atividades diárias das pessoas. Assim, utiliza-se da influência das características genéticas em uma nova forma de fazer recomendações nutricionais individualizadas, com a promoção principal da saúde e da escolha de alimentos específicos que auxiliem na redução das ocorrências de doenças crônicas não transmissíveis. Por sua vez, existe o risco do reducionismo em conduzir a uma relação instrumental com o alimento a ponto de lhe atribuir um valor secundário, quando comparado com a saúde. O sucesso da nutri genômica está condicionado à integração da ciência com a tradição cultural, emocional, ética e sensual da relação com o alimento. Deve-se considerar que o alimento é a base da formação, manutenção e evolução das sociedades, visto que o momento da ingestão materializa um dos raros instantes da vida em que o sujeito abre totalmente seu organismo para incorporar o mundo exterior. Logo, automaticamente, está vulnerável a incorporar elementos físicos e emocionais que podem ser nocivos. Nordström, Jönsson, Nordenfelt e Görman reforçaram que o alimento representa o empoderamento biopsicossocial, representando um ato deliberado na construção da identidade pessoal. A exacerbação da suplementação nutricional pode reduzir o ato da alimentação apenas à ingestão de nutrientes básicos e descontextualizar o processo biológico, fisiológico e social. Dessa forma, recomendou-se que a dieta personalizada não devesse apenas ajustar a alimentação, mas também o estilo de vida. Mudanças de hábitos são difíceis, principalmente se abrangerem a alimentação, devido às representações envolvidas no processo de produção, preparo e consumo, cujo autoconhecimento, criticidade e protagonismo são importantes para alcançar a qualidade de vida. Nesse contexto, para Hurlimann et 24 Faculdade de Minas al., devido ao papel sociocultural do alimento, a recomendação dietética pode ser recebida com resistência por ser percebida como um obstáculo para as tradições culturais, para as conexões entre os membros da família e para a percepção holística de saúde, apresentando distintas expressões que dependem de fatores geográficos, étnicos e socioeconômicos. Os autores alertaram para a preocupação das pessoas em transformarem alimento em medicação e passarem a perceber o alimento in natura como algo perigoso. 6.2. Nutri genômica sob A Perspectiva Da Saúde O principal benefício atrelado à nutri genômica é a possibilidade de prevenir o aparecimento de doenças e diminuir a vulnerabilidade dos doentes, o que aliviaria as demandas da saúde pública. A relação das pessoas com a saúde tem influências pessoais e sociais que devem ser inseridas na discussão de como implementar a nutrição personalizada. A saúde pode ser percebida no meio médico simplesmente como viés estatístico, cuja doença é entendida como a ausência daquela; por consequência, o foco da intervenção médica parte da doença para sua mitigação. Além disso, pode ser analisada com base em uma visão holística, na qual o indivíduo saudável é entendido a partir da sua habilidade em associar metas vitais, preferências e saúde, entendendo a saúde como qualidade de vida. Para Nordström, Jönsson, Nordenfelt e Görman, a nutri genômica deve adotar a visão holística, na qual a motivação para promover a saúde é individual, munida pelo autoconhecimento e pelo interesse no autocuidado. Para tal, o profissional de saúde deve elaborar estratégias de informação, sensibilização e conscientização para cada paciente. A exagerada atenção e valorização da saúde pelas sociedades ocidentais foi vista como uma questão preocupante. Embora essas sociedades tenham dobrado a expectativa de vida nas últimas décadas, a obsessão pela saúde, principalmente por parte da classe média, pode ser reflexo de uma redução da autonomia na escolha. Isso porque se encontra diante da concepção do alimento como medicamento e da diminuição da percepção da saúde como um limitante do bem-estar geral. Profissionais da saúde canadenses consideraram que a associação da saúde com o 25 Faculdade de Minas estilo de vida independe de testes genéticos mais precisos, sendo a conduta preventiva almejada pelos profissionais e pela sociedade atual detentora de maiores níveis de informação, educação e monetário. As síndromes metabólicas decorrentes do mau funcionamento do organismo, desencadeado por múltiplos fatores genéticos, como a consanguinidade, e ambientais, tais como alimentação e estresse, são atualmente generalizadas, o que se torna uma preocupação da saúde pública. Entre os agravos à saúde e as principais causas de morte no Brasil, Brant et al. destacaram que as doenças crônicas não transmissíveis são as mais violentas e notadamente evitáveis. A intervenção pode se dar por meio da mudança de modo de vida, de dietas e do consumo de alimentos funcionais, suplementos e nutracêuticos, cuja eficácia pode ser maior, caso a intervenção seja adaptada ao indivíduo mediante marcas genéticas. A expectativa da adesão popular por tratamentos nutrigenômicos e consequente prevenção de doenças faz com que essa área seja de interesse da saúde pública, principalmente no que tange à possível redução de custos, uma vez que há redução dos efeitos colaterais associados à medicação generalizada. A dieta personalizada pode auxiliar em resultados mais satisfatórios para a saúde, contanto que leve em conta a herança genética (que pode ter alterações decorrentes da influência da condição de saúde física e dos hábitos dos progenitores) e o estilo de vida do paciente. 6.3. Nutri genômica sob A Perspectiva Legal Além dos resultados do presente estudo atestarem para a necessidade da consolidação de uma base filosófica, teórica e ética para alicerçar a controversa aplicação da nutri genômica, concomitantemente, deve-se prover proteção legal. Todo cidadão tem seu direito resguardadono que tange a meios e instrumentalização para que possa exercer o autocuidado com autonomia e ter acesso à informação, ambiente e alimentação saudáveis. Promover autonomia dos sujeitos no seu modo de viver por meio de informações que favoreçam as suas escolhas responsáveis e saudáveis poderá garantir-lhes maior qualidade de vida e saúde. Contudo, ser autônomo não é a mesma coisa que ser respeitado como um agente autônomo. Logo, devido à íntima relação com a vulnerabilidade diante desse 26 Faculdade de Minas conflito, o cidadão deve ter garantido o direito de autodeterminação, que sustenta o direito de autonomia, confidencialidade e privacidade. Nos termos da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde do Brasil, a vulnerabilidade refere-se ao estado de pessoas ou grupos que, por diferentes motivos, tenham a sua capacidade de autodeterminação reduzida ou impedida, ou, de qualquer forma, estejam impedidos de opor resistência, sobretudo no que se refere aos termos da pesquisa . O excesso de normas alimenta a burocracia, e esta infla os custos da pesquisa, podendo dificultar e até inviabilizar o processo. Acordos internacionais já sinalizam a mobilização da gestão pública para prevenir doenças por meio da manutenção do ambiente saudável. A Declaração Universal dos Direitos Humanos — dudh —, os objetivos de desenvolvimento sustentável e a apa são documentos que devem ser inseridos na questão da nutri genômica. A dudh garante a alimentação adequada como condição primária para o exercício da cidadania. A alimentação adequada é um direito inerente a todas as pessoas quanto ao acesso regular, permanente e irrestrito, quer diretamente, quer por meio de aquisições financeiras, a alimentos seguros e saudáveis em quantidade e qualidade adequadas e suficientes. Assim, a alimentação adequada é um dos direitos fundamentais previstos no ordenamento jurídico nacional e internacional (dudh, 61), no Pacto Internacional de Direitos Humanos, Econômicos, Sociais e Culturais de 1966 e na Convenção sobre os Direitos da Criança. A estratégia da apa é fortalecer comunidades locais balizadas em princípios de sustentabilidade, equidade, cooperação, comunicação e responsabilidade, o que lhe dá um caráter interdisciplinar. Ao promover um novo modelo de gestão ambiental, inclui a participação ativa de todos os atores em prol da organização, da prevenção, da proteção, da diversidade, da autogestão, da autonomia e da solidariedade. Existe a necessidade da criação de novas legislações para a inserção da nutri genômica ou a adequação das já existentes, sendo imprescindível que incorporem a percepção da população e considerem que o pouco tempo de atuação da nutri genômica é insuficiente para determinar quais são as boas práticas 27 Faculdade de Minas esperadas. Bergmann, Görman, Mathers e Bergmann, Bodzioch, Bonet, Defoort, Lietz e Mathers (66) divulgaram parte das diretrizes na pesquisa nutri genômica por meio de uma ferramenta implementada em 2004, denominada “European Nutrigenomics Organization” (nugo), em quatro áreas: • Proteção do participante da pesquisa por meio de informação e consentimento; • Geração e uso de informação genotípica; • Estabelecimento e manutenção de biobancos; • Troca de amostras e de dados. Os autores esperam que essas diretrizes ultrapassem a aplicação ética acadêmica e sejam incorporadas por comitês normalizadores, revistas científicas, agências de fomento e indústria. 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS O panorama da nutri genômica até o momento assinala uma expectativa de mitigar a vulnerabilidade do ser humano às condições de vida impostas pelas sociedades contemporâneas, cujo ritmo de vida tem oferecido poucas chances de promoção da saúde biopsicossocial. A possibilidade de conhecer as necessidades específicas individuais e de poder prover os nutrientes que já não são viáveis de serem obtidos in natura pode se constituir de alternativas para pessoas que se encontram em situação de risco. Por sua vez, assim como outras ciências inovadoras, a nutri genômica traz atrelada uma série de incertezas técnicas, sociais e éticas, que não devem ser negligenciadas em prol do idôneo objetivo de prevenção de doenças, pois são plausíveis de gerarem mais vulnerabilidades. A promoção de um ambiente saudável, de alimentos eficazes e seguros, do autocuidado e da autogestão da saúde como medidas preventivas são as expectativas ideais para que o ser humano desfrute de uma existência saudável. Contudo, as demandas modernas, principalmente decorrentes das impactantes alterações ambientais e da atuação do sistema capitalista de consumo, criaram um conflito entre o biológico e o cultural, cuja alternativa tecnológica inseriu um 28 Faculdade de Minas elemento conflitante a mais. Essas novas questões podem ser difíceis de resolver com a utilização dos recursos legais, morais e éticos atuais, portanto, requerem a intervenção da Bioética como ferramenta para intermediar o diálogo e a busca de soluções consensuais. A Bioética, todavia, se vê inserida na questão como regulamentadora das investigações, com o objetivo de superar a vulnerabilidade do participante da pesquisa diante dos interesses da ciência ou da indústria, da pouca capacitação técnica e ética dos profissionais. Além disso, das informações incipientes, incompletas ou manipuladas, potencialmente capazes de comprometer a tomada de decisão autônoma e consciente quanto à participação na pesquisa, no âmbito direto das consequências biopsicossociais da intervenção na sua integridade e quanto ao destino do seu material genético. A Bioética pode e deve ter uma atuação mais ampla e efetiva, questionando a concepção e relação do ser humano com a natureza, com incentivos ao autoconhecimento e à autopercepção como ser vivo componente de uma teia de inter-relações atemporais. Estas, cada vez mais, demandam a instrumentalização desse cidadão quanto à sua criticidade, autonomia e protagonismo, para que contribua para um planeta melhor para todas as gerações de seres vivos. 29 Faculdade de Minas BIBLIOGRAFIA Augusto LGS. Saúde e vigilância ambiental: um tema em construção. Epidemiologia e Serviços de Saúde. 2003;12(4):177-87. doi: https://doi.org/10.5123/S1679- 49742003000400002 AZEVEDO, M. J. de; MARTINEZ, J. A; STEEMBURGO, T. Interação entre gene e nutriente e sua associação à obesidade e ao diabetes melito. Artigo publicado no site Scielo em 2 de junho de 2009, disponível no link: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004- 27302009000500003>, acesso em 28 de outubro de 2018 as 15h. BARBOSA, K.B.F.; COSTA, N.M.B.; ALFENAS, R.C.G.; DE PAULA, S.O.; MINIM, V.P.R.; Barreto M.L. Desigualdades em saúde: uma perspectiva global. 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