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gestão empresarial comunicação e expressão Visão geral da noção de texto: dissertação 3 ObjetivOs da Unidade de aprendizagem Ao final desta aula o aluno deverá ser capaz de estru- turar e redigir dissertações com coerência e clareza de apresentação de ideias. COmpetênCias Capacidade de definir, ordenar e discutir com precisão informações e ideias, valendo-se dos recursos apropria- dos à construção de textos dissertativos informativos ou polêmicos. Habilidades Dar expressão a informações e ideias na modalidade textual estudada, em linguagem adequada à situação de produção do texto. comunicação e expressão Visão geral da noção de texto: dissertação ApresentAção Nesta aula, você aprenderá a estruturar e redigir uma dissertação, partindo do reconhecimento da organização e da natureza essencialmente argumentativa desse tipo de texto. Aprenderá também a expor e relacionar ideias em cada uma das partes da dissertação; dominando es- sas informações, você poderá realizar tarefas de com- posição textual exigidas nos ambientes profissional e acadêmico. pArA ComeçAr Veja o link desta tirinha da página Geekcats.com. Na situação representada nesses quadrinhos, o gato preto e o malhado reagem com estranheza à fala do branco, certamente por que a linguagem deste é abstra- ta, com jeito de especulação filosófica... Ele fala como se dissertasse acerca de um tema cuja complexidade con- trasta visivelmente com os temas singelos comentados pelos outros dois. Por certo você já deparou com a necessidade de re- digir um texto de dissertação. Enganam-se aqueles que pensam que ela pode ser improvisada; esse tipo de texto tem uma organização muito precisa, para que seja real- mente eficaz. Ao longo desta aula, você poderá perceber que se trata de um gênero discursivo de extrema impor- tância, que merece sua atenção, de modo especial. Trataremos de questões que devem facilitar a reda- ção de textos dissertativos, presentes em atividades de caráter acadêmico (artigos, monografias) e das organiza- ções empresariais (relatórios, pareceres). Vamos lá? https://scontent.fgig1-3.fna.fbcdn.net/v/t31.0-8/337457_413535108696303_1604715079_o.jpg?oh=6e513ac9653477e73bb033f952c2d735&oe=58EACF67 Geekcats.com Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Comunicação e Expressão / UA 03 Visão Geral da Noção de Texto: Dissertação 4 FundAmentos Essa modalidade de texto é temática e toma por objeto teses em torno das quais se instala uma polêmica, com a exposição de pontos de vista e argumentos que lhe dão suporte; as partes componentes do texto disser- tativo são lógicas, havendo diversas formas de ordenamento das sequên- cias textuais responsáveis pela significação do todo. A rigor, o texto dissertativo desprende-se de situações concretas e pro- põe-se como análise destas, ultrapassando o particular, o único, e esten- dendo-se a muitos casos, pessoas e situações. A construção do raciocínio do enunciador do texto para defender e combater teses dá-se pela seleção de um léxico no qual predominam vo- cábulos abstratos (daí o principal elemento de que decorre a natureza temática desse tipo de texto). Isso não significa que não se encontrarão na dissertação termos concretos; eles estarão presentes nela, mas somente para dar suporte à abstração. As teses do enunciador e os argumentos de que se vale para prová- -las são fundadas na realidade histórica, política e humana na qual ele se insere; seu repertório (valores, leituras, estudos, experiências de vida) fornece-lhe os elementos de que necessita para desenvolver seu texto; seu objetivo sempre será conseguir a adesão do outro às ideias que de- fende; seu fazer é, pois, um fazer crer no que diz. Esse aspecto da disser- tação confere particular relevância às relações que se estabelecem entre o enunciador do texto e aquele a quem o texto se dirige, os enunciatários. O enunciador assume a responsabilidade sobre a afirmação / negação dos valores inscritos no texto e empreende a busca da adesão do enun- ciatário. O sucesso daquele será tanto maior quanto maior for a crença que este depositar tanto no discurso do enunciador quanto no objeto desse discurso. O reconhecimento da inscrição das estruturas de realida- de e dos valores de cultura no texto é fundamental para que as teses apa- reçam alicerçadas e, portanto, passíveis de passar por testes de validade. Nesse quadro, as relações que se estabelecem entre as partes do texto serão lógicas – e não cronológicas; caberá, por conseguinte, ordenação textual por restrição, paralelismo, inclusão, alternância, causa-efeito, con- tradição, enumeração, entre outras formas de ordenação. Além disso, a referência a tempo e espaço no texto dissertativo tem função de deflagrar o comentário que dele se abstrai. As mudanças, as transformações presentes no texto dissertativo não são apenas relatadas; são interpretadas. Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Comunicação e Expressão / UA 03 Visão Geral da Noção de Texto: Dissertação 5 estrUtUra da dissertaÇÃO É lugar-comum apresentar a estrutura da dissertação como sendo cons- tituída de Introdução, Desenvolvimento e Conclusão. Esses títulos são ge- néricos, aplicando-se, de resto, não somente à dissertação, mas a todo gênero de texto que pretenda objetividade, unidade de apresentação e coerência. Para que essa estrutura ganhe significação, é preciso saber que elementos caracterizam cada uma de suas partes e como desenvolvê-las. 1. Limitando o assunto e encontrando o tema Antes mesmo de pensar na Introdução, será preciso definir o recorte do assunto e o ângulo do qual será abordado – será necessário acertar o foco, fixar-se num aspecto do assunto, pois o mais das vezes ele apresen- ta uma generalidade tal, uma multiplicidade de opções de enfoque, que há risco de o redator perder-se no genérico e tratar o assunto superficial- mente, deixando escapar aspectos de real importância para uma polêmi- ca frutífera e criativa. Pensemos em uma sugestão de assunto como “problemas urbanos”, apresentado objetivamente como proposta de redação ou abstraído da leitura de outros textos. Esse assunto inicialmente se apresenta de for- ma bastante vaga para o redator, sendo, portanto, necessário limitar sua abrangência, definir seus contornos, selecionando, entre vários, o aspecto que será desenvolvido. Para abordá-lo, abrem-se várias possibilidades, tais como: → Objeto a ser considerado: metrópoles; qualquer cidade; os dois tipos de cidade, comparativamente; → Problemas: de infraestrutura (moradia, transportes, abastecimento etc.); socioculturais (educação, violência, lazer etc.). Feita a escolha, terá sido especificado, delimitado o tema e a dissertação se desenvolverá com contornos nítidos, expondo a real capacidade de análise e de crítica do redator. Este, por sua vez, terá muito maior segu- rança e possibilidade de mostrar domínio do tema, lastro para tratá-lo, habilidade para expor ideias e construir argumentos. Segue-se, daí, que o primeiro passo para começar a estruturar uma dissertação é fazer o recorte do assunto, delimitar seus contornos, definir o tema. Isso é condição para que se passe à introdução, já que esta apre- sentará o tema ao leitor e, desde logo, apontará o ponto de vista adotado no tratamento desse tema. Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van RealceMah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Comunicação e Expressão / UA 03 Visão Geral da Noção de Texto: Dissertação 6 2. PreParando a introdução É comum que se diga que a introdução explicita a hipótese que o texto quer provar; de fato, é nas primeiras linhas do texto que se configuram o tema e o enfoque escolhidos pelo autor. Esse enfoque fica mais bem definido se o redator traça um objetivo claro; por exemplo, se o tema da dissertação for “a crise econômica no Brasil”, o objetivo do texto pode ser definido como “mostrar de que maneira a crise econômica mundial afeta os brasileiros”. Observe os três exemplos a seguir: Exemplo 1 Entender como Tolstoi constrói sua narração não é fácil. Aquilo que tantos narradores mantêm à mostra – esquemas simétricos, vigas mestras, contrapesos, dobradiças – nele permanece oculto. Oculto não significa inexistente: a impressão que Tolstoi dá de levar tal e qual para a página escrita “a vida” (esta misteriosa entidade que para ser definida nos obriga a partir da página escrita) não passa de um produto da arte, isto é, de um artifício mais complexo que tantos outros. — CALVINO, I. ‘Dois Hussardos’. In: Por que ler os clássicos. São Paulo: Cia. das Letras, 1993. p. 162. Nota-se que a hipótese que deverá ser provada no texto de Calvino está explicitada na primeira linha do texto: não é fácil entender como Tolstoi constrói sua narração; em seus textos, os recursos construtivos não estão evidentes. Exemplo 2 Os modelos educacionais implantados no País e institucionalizados pelas políticas go- vernamentais em um sistema nacional de Educação demonstram uma clara desvincu- lação do trabalho produtivo. — M.NETO, P. E. Universidade: ação e reflexão. Fortaleza: UF do Ceará, 1983. p. 32. Nesse texto, a hipótese é a de que no Brasil não há vínculo entre os mo- delos educacionais e o trabalho produtivo; em outras palavras, que a edu- cação não se põe a serviço do trabalho. Exemplo 3 A constatação é geral e pode ser percebida por qualquer professor (ao menos, por qualquer professor de Letras): o nível intelectual dos alunos que ingressam nas Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Comunicação e Expressão / UA 03 Visão Geral da Noção de Texto: Dissertação 7 faculdades vem baixando a cada ano. Vez por outra, mas não com suficiente clareza e jamais com a energia que seria de esperar, fala-se na incapacidade dos alunos, em especial na sua incapacidade de redigir. Como solução, tem-se sugerido redação nos vestibulares e cursos de composição nas faculdades. Isto é tangenciar o problema e abordá-lo apenas de um lado. Não é só o aluno que está em causa; o professor tam- bém, como adiante veremos. — LINS, O. Reflexões sob um Quadro-Negro. In: Do ideal e da glória: problemas in- culturais brasileiros. São Paulo: Summus, 1977. p. 79. O que o texto se propõe demonstrar é que se deve considerar também o trabalho do professor para avaliar o problema das dificuldades em redigir apresentadas pelos alunos. Tratemos um pouco da importância da introdução de um texto disser- tativo para estabelecer o vínculo com o leitor. Reportemo-nos a nossas próprias experiências com leituras iniciadas e logo abandonadas e pode- remos encontrar, entre os vários e insondáveis motivos que nos levaram a deixar de lado um texto de revista, jornal ou livro, a falta de entusiasmo ocasionada pela natureza “morna” do texto, pelo início pouco atraente, que deixou de cooptar-nos, deixou de instigar nosso intelecto. Uma introdução pouco (ou nada) desafiadora, que não desperte o exer- cício intelectual do leitor pode condenar um texto que teria boa sequência a ser desprezado antes de a sequência ser conhecida. 3. redigindo a introdução Ao introduzir um assunto, podemos / devemos empregar recursos para atrair a atenção do leitor. Entre os muitos recursos disponíveis, lembra- mos os seguintes: Interrogação, citação, asserção polêmica, frase de efeito, definição, afirmação categórica, aforismo, generalização, referên- cia histórica. Vamos examinar alguns deles. Por sua natureza, podemos dizer que a referência histórica, a citação, o aforismo e a generalização constituem formas de introduzir o tema assentadas no conhecimento de algo que se supõe seja partilhado com o leitor, podendo, por isso, fazer nascer o interesse pela argumentação em que se sustentará a hipótese suposta- mente partilhada. Reportemo-nos à frase introdutória do parágrafo, já citado, de Osman Lins: A constatação é geral e pode ser percebida por qualquer professor (ao menos, por qualquer professor de Letras)... Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Comunicação e Expressão / UA 03 Visão Geral da Noção de Texto: Dissertação 8 Trata-se de uma frase contendo uma generalização que abrange o pró- prio leitor, que está incluído na asserção do autor (a constatação é geral). Com esse recurso, o autor laça o leitor, que é desafiado a conferir como será desenvolvido o argumento de que ele próprio seria enunciador. Vamos observar, a seguir, o efeito de sentido da afirmação categórica, que se combina com um desafio à experiência do leitor, na introdução de texto dissertativo de Angélica de Moraes, publicado no Caderno 2/Cultura, de O Estado de S. Paulo de 14/5/2000, p. 10: Nada melhor para entender a extensão de um desastre do que seu avesso, ou seja, o sucesso que ocorre quando as coisas são feitas como podem e devem ser feitas. Experimente sair de alguma das áreas de maior abuso cenográfico da Bienal do Re- descobrimento para outras onde houve o fundamental respeito às qualidades das obras expostas. O que se pode concluir é que a afirmação categórica pressupõe um co- nhecimento quase inquestionável, dado ao qual se soma o chamamento à experiência do leitor, para que faça constatações. Um outro exemplo: Claro que a história não se repete. Mas o reprimido sempre volta em nova roupagem, enquanto não é elevado à consciência e superado junto com suas condições. Europa, a mãe da modernidade capitalista, também deu à luz o fascismo e, com a versão alemã do nacional-socialismo, inaugurou o crime contra a humanidade. — KURZ, R. K. A síndrome neofascista da Fortaleza Europa. In: Mais! Folha de S. Paulo, 14/5/2000. p. 14. Efeito análogo provoca o aforismo, por remeter a um conhecimento anô- nimo, assentado na ciência popular: “Lobo velho perde o pelo, mas não perde a manha”, ensina velho ditado que aprendi na Argentina. Serve à perfeição para o Sr X, ou ao menos para o artigo que publicou ontem nesta Folha. Nele, esse senhor entoa um hino de amor à democracia e posa de campeão da luta pela liberdade no Brasil. Falso como nota de R$ 7,50. — ROSSI, C. As digitais de Maluf. In: Folha de S. Paulo, 20/8/ 1996. Texto adaptado. Observe, ainda, o efeito de sentido da citação na introdução do texto dissertativo: Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Comunicação e Expressão / UA 03 Visão Geral da Noção de Texto: Dissertação 9 O pensamento tornou-se mais imortal que nunca; ficou volátil, intangível, indestrutível. Mistura-se ao ar... Ele se transforma, agora, em revoada de pássaros, dispersa-se aos quatro ventos e escapa de uma só vez todos os pontos do ar e do espaço. Quem fala assim não é um apologista da Internet, e sim um entusiasta do livro. É Victor Hugo, que num capítulo de “Notre Dame de Paris” intitulado “Ceci Tuera Cela”, “isto matará aquilo”, afirma que a imprensa, levando a razão a todos os recantos da terra, expulsará os últimos resíduos da tirania e da superstição. Em seu conteúdo descritivo, as palavras de Hugo aplicam-se perfeitamente à nova era da comunicação digital.Mais do que nunca, o pensamento se desmaterializa, faz-se ar, voa, dispersa- -se, anula o tempo e o espaço. Mas Hugo não estava elogiando uma nova tecnologia. Estava tomando posição num debate político. — ROUANET, S. P. Da pólis digital à democracia cosmopolita, in Mais! Folha de S. Paulo, 21/5/2000, p. 15. A citação faz referência a uma personalidade consagrada pela cultura como especialista num determinado assunto e, com isso, a hipótese lan- çada pode conduzir o leitor a partilhar o reconhecimento do argumento. Os trechos a seguir exemplificam a introdução utilizando frase de efei- to, chocando a opinião do leitor, pelo conteúdo às vezes agressivo e sem- pre polêmico: O bazar de sandices culturais que Ziraldo Alves Pinto, presidente da Funarte, enviou ao ministro da Cultura, Aluísio Pimenta, contém seis equívocos básicos – além dos que deles derivam –, a saber: (...) — SUZUKI Jr., M. Um ideário confuso. In: 20 textos que fizeram história. São Paulo: Folha de S. Paulo. p. 183. Na barbárie se está atolado até o pescoço. Ninguém põe em dúvida a brutalidade do cotidiano, vivendo como está as agruras da cidade e a opacidade das relações humanas. — GIANOTTI, J. A. A universidade em ritmo de barbárie. São Paulo: Brasiliense, 1986. p. 9. É interessante observar que a polêmica frase introdutória de Gianotti vem precedida dos seguintes comentários, feitos nas “Preliminares” de seu li- vro: Escrevi este texto como um panfleto, fazendo das ideias armas de com- bate. Dessa forma, bem apropriado a tal objetivo é o emprego de uma fra- se de efeito para introduzir as ideias polêmicas sobre as quais discorrerá. A interrogação é outra maneira de introduzir texto que lança ganchos sobre o leitor: havendo uma pergunta, espera-se uma resposta; e posta aquela, cria-se a simulação de um diálogo no texto, cujo efeito de sentido Mah e Van Realce Mah e Van Realce Comunicação e Expressão / UA 03 Visão Geral da Noção de Texto: Dissertação 10 será uma interação de saberes – o texto se mostrará como o espaço de construção do conhecimento. Uma amostra: Que busca o escritor? O verdadeiro escritor, isto é: o que faz da palavra escrita sua razão de viver. — LINS, O. L. Op. cit., p. 43. 4. o desenvoLvimento do texto Com o desenvolvimento começa mais especificamente o trabalho de ar- gumentação em torno da hipótese lançada na introdução. Essa fase pode resumir-se a um único parágrafo, de uma dissertação breve, ou estender- -se por páginas e páginas de texto. Num e noutro caso, não importa a extensão, no texto haverá uma ordem lógica presidindo as sequências de ideias. E, se adentramos o terreno da lógica, devemos atentar para as de- clarações com as quais argumentamos, pois nossos argumentos podem estar baseados em fatos, em julgamentos ou em inferências. Caso argumentemos com base em inferências, teremos como resul- tado apenas certezas relativas ou presunções. Quanto aos julgamentos, guardam muito de subjetivismo, são meras declarações de aprovação ou desaprovação e, por isso mesmo, tendem a levar a declarações vagas e lugares-comuns que compõem o repertório popular. Finalmente, vêm os fatos, que são acontecimentos verificáveis e, portanto, dispensados de questionamento. Vejamos como uma declaração tem maior ou menor peso argumenta- tivo dependendo do suporte que a ela se dá: Fulano é um homem de sólida formação cultural a. Porque há muitos livros nas estantes de sua casa. ou b. Porque pertence a uma geração mais bem preparada. ou c. Porque estudou e diplomou-se na Universidade “X”. Na construção (a), a declaração se apoiou numa inferência, sendo, pois, baixa a probabilidade de a asserção ser verdadeira e, por consequência, menor o peso argumentativo. Em (b), a base do que se declara é um jul- gamento, uma opinião, bastante improvável, sendo também baixo o peso do argumento. Em (c), referem-se fatos para sustentar a declaração, o que garante a probabilidade e confere maior peso ao argumento apresentado. Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Comunicação e Expressão / UA 03 Visão Geral da Noção de Texto: Dissertação 11 Como já afirmamos, a construção das sequências de ideias obedece à lógica de concatenação de argumentos, e essa concatenação pode eviden- ciar, entre outras, as seguintes relações de sentido: Oposição, restrição, ressalva Com persistência rara, para o Brasil, 68 ainda povoa o nosso imaginário coletivo, mas não como objeto de reflexão. É uma vaga lembrança que se apresenta, ora como to- tem, ora como tabu: ou é a mitológica viagem de uma geração de heróis, ou a proeza irresponsável de um “bando de porralocas”, como se dizia então. Na verdade, a aventura dessa geração não é um folhetim de capa e espada, mas um romance sem ficção. O melhor do seu legado não está no gesto – muitas vezes de- sesperado; outras, autoritário –, mas na paixão com que foi à luta, dando a impressão de que estava disposta a entregar a vida para não morrer de tédio. Poucas – certamen- te uma depois dela – lutaram tão radicalmente por seu projeto, ou por sua utopia. Ela experimentou os limites de todos os horizontes: políticos, sexuais, comportamentais, existenciais, sonhando em aproximá-los todos. — VENTURA, Z. 1968 – o ano que não terminou. Texto com adaptações. Enumeração O problema é que medidas como essas causam espécie, primeiro, pelos excessivos prazos de carência para que entrem em vigor, e que são quase sempre prorrogados. Essa nova resolução do Conama só valerá a partir de janeiro de 2013, para os veículos a diesel, e a partir de janeiro de 2014, para os movidos a gasolina e álcool. Não serve de consolo o “antes tarde do que nunca”, porque o “tarde” quase sempre vira “nunca”. Em segundo lugar, desanima saber que mesmo daqui a três ou quatro anos, quando a poluição veicular no Brasil – nos carros novos apenas – será mais de um terço me- nor, ainda assim estará muito acima da que é tolerada, hoje, na Europa e nos Estados Unidos... — Tolerância com envenenamento. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/ estadaodehoje/20090908/not_imp430947,0.php>. Acesso em: maio de 2010. Interrogação Uma das características fundamentais do conhecimento contemporâneo é o seu uti- litarismo. Em que sentido o conhecimento utilitário das economias globalizadas na sociedade do conhecimento difere da utilidade ética constitutiva de todo conhecimento? Procurar responder a essa questão é também procurar entender, na lógica de funcionamento das tecnociências, como as grandes transformações tecnológicas http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090908/not_imp430947,0.php http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090908/not_imp430947,0.php Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Comunicação e Expressão / UA 03 Visão Geral da Noção de Texto: Dissertação 12 influenciam a ciência e como a ciência, ela própria, propicia novas tecnologias e ino- vações que dinamizam os mercados e ativam o consumo das novidades dos produtos delas decorrentes. — VOGT, C. Ética e conhecimento. Com Ciência- Revista Eletrônica de Jornalismo Cien- tífico – SBPC. Disponível em: <http://www.comciencia.br>. Acesso em: junho de 2007. Paralelismo O debate sobre a utilidade econômica e social da pesquisa está longe de ter-se encer- rado. Alguns pretendem que as descobertas científicas são a fonte essencial da tecno- logia edo progresso econômico e social que dela decorre. Em suma, os pesquisadores revelariam as leis da natureza, publicariam artigos, e os engenheiros e as empresas os transformariam, em seguida, em objetos ou equipamentos úteis. Daí resulta que a sociedade em geral, e os governos em particular, devem financiar a pesquisa funda- mental, fator insubstituível de progresso econômico e social. No outro extremo, alguns pensam que os resultados da pesquisa fundamental, no pior dos casos, são quase inúteis e, no melhor, tendo em vista o fato de que sua publi- cação é um “bem gratuito”, estão disponíveis a quem quer que os deseje utilizar. Con- sequentemente, os governos deveriam financiar a pesquisa fundamental nas mesmas bases que a arte, o esporte ou as outras formas da atividade cultural. — PAVITT, K. Tem a pesquisa uma utilidade econômica? In: WITKOWSKI, Nicolas (coord.). Ciência e Tecnologia Hoje. São Paulo: Ensaio, 1995, p. 85-6. Por fim, vejamos um exemplar de desenvolvimento por contraste: Ética e política não convergem com muita frequência na história do Brasil e do mundo. Esse enigma moral do processo histórico leva a indagar: pode a política ser conforme à época? A essa pergunta o realismo político, tal como formulado, por exemplo, por Maquiavel, no capítulo 15 de “O Príncipe”, responde pela negativa. A esta mesma e sempre recorrente pergunta André Franco Montoro deu uma clara resposta afirmativa, no percurso de sua fecunda e bem-sucedida vida pública. São precisamente as razões do seu sim à convergência entre ética e política o que me proponho discutir neste texto, que é uma homenagem à sua memória e uma celebração da importância de sua lição. — LAFER, Celso. Ética e política em Franco Montoro. Mais! Folha de S. Paulo, 14/5/2000. p. 17. Note-se a riqueza de recursos presentes na introdução desse trecho de Celso Lafer: há uma declaração inicial que remete à história, há interroga- ção, há citação (argumento de autoridade), todos esses elementos refor- çando, dando destaque ao contraste que se evidencia no desenvolvimen- to, a partir da frase: A essa pergunta... Mah e Van Realce Mah e Van Realce Comunicação e Expressão / UA 03 Visão Geral da Noção de Texto: Dissertação 13 5. a concLusão do texto Também chamada desfecho, a conclusão do texto dissertativo deve re- presentar, de modo lógico, o tratamento dado ao tema na fase de de- senvolvimento do texto. Será lógica a conclusão que, em decorrência dos argumentos apresentados, expressar a opinião do redator sobre o tema em discussão. Da mesma forma, será lógica a conclusão que resgatar os argumentos distribuídos no texto, apresentando uma súmula deles, com destaque para a informação central visada pelo autor. Seja de uma ou de outra espécie a conclusão escolhida, devem-se evi- tar certas soluções consideradas clichês ou fórmulas, quais sejam, os fi- nais forçadamente éticos, dos quais se extrai uma “moral”, um preceito, uma “lição de vida” a seguir; também os encerramentos que incitem o leitor a tomar posição, assumir compromissos, levantar e/ou portar ban- deiras ideológicas... Essas são todas soluções que, quase invariavelmente, caem no lugar-comum e, pior, ultrapassam os limites do tema, projetando conteúdos não incluídos na proposta textual escolhida. Evitem-se, pois, as referências a soluções mágicas, que se evocam para neutralizar ou anular o problema discutido (por exemplo, a classe políti- ca, as leis, o governo...); evitem-se, finalmente, os apelos à consciência, ao humanitarismo, à solidariedade, à adoção de medidas, à mudança de atitudes... são clichês que roubam ao texto toda originalidade de que ele tenha se revestido nas etapas anteriores. Conclua, como foi dito, com uma referência-síntese do conteúdo do de- senvolvimento, ressaltando os principais argumentos expostos. Isso será lógico e revestirá de naturalidade o encerramento do texto. Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce Mah e Van Realce antena pArAbóliCA Nas atividades de estudo, assim como nas profissionais e sociais, deparamos com a necessidade de lançar hi- póteses, expor teses e sustentar nossos pontos de vista com argumentos. Nos estudos, o suporte bibliográfico das disciplinas demanda o contato com textos de ciência e/ou tecnologia elaborados segundo a matriz da disser- tação. Como se pode notar, trata-se de um gênero dis- cursivo muito presente nas várias atividades de nosso dia a dia. Portanto, dominar as condições de produção e recepção desse gênero é de grande importância para o sucesso de várias de nossas ações. e AgorA, José? Bem, agora você já desenvolveu a habilidade de plane- jar e executar atividades de produção de textos disser- tativos, sejam eles opinativos ou informativos. Você já aprendeu as etapas de planejamento do texto e conta com recursos para compor o desenvolvimento adequa- do ao tema sobre o qual discorrerá, bem como para concluir coerentemente o texto. Esses elementos serão extremamente úteis para outras atividades de produção textual, especialmente para a elaboração de textos per- tinentes à área administrativa, tais como Propostas, Pro- jetos, Pareceres e Relatórios empresariais, assuntos de que trataremos em aulas posteriores. Coloque em prática seus novos conhecimentos, com- petências e habilidades! Comunicação e Expressão / UA 03 Visão Geral da Noção de Texto: Dissertação 15 glossário Afirmação categórica: declaração de caráter assertivo, geralmente indiscutível. Aforismo: ditado popular; frase, reflexão ou má- xima que sintetiza um princípio ou uma regra de caráter prático, moral ou costumeiro. Citação: referência a ideia ou manifestação, es- crita ou oral, de outrem. Asserção: proposição de intenção declarativa de sentido completo, que pode ser afirmati- va ou negativa, verdadeira ou falsa. Generalização: operação intelectual que con- siste em reunir um conjunto de fatos, fenômenos ou seres semelhantes em uma classe, termo ou proposição geral. Inferência : Processo pelo qual se chega a uma proposição, afirmada na base de uma ou ou- tras mais proposições aceitas como ponto de partida do processo. (COPI, Irving. Introdu- ção à lógica. São Paulo: Mestre Jou, 1977). Operação intelectual por meio da qual se afirma a verdade de uma proposição em de- corrência de sua ligação com outras já reco- nhecidas como verdadeiras. (Dicionário Ele- trônico Houaiss da língua portuguesa 1.0.7). reFerênCiAs bibliográFiCAs ABREU, A. S. �Curso de redação. São Paulo: Áti- ca, 2004. BECHARA, E. �Moderna gramática língua por- tuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2001. BELLINE, A. H. C. DISSERtAção. 4A ED. São PAU- Lo: ÁtICA, 1999. EMEDIAto, W. �A fórmula do texto. Redação, argumentação e leitura. São Paulo: Geração, 2008. FARACo, C. A.; tEZZA, C. �Prática de texto para estudantes universitários. 17a ed. Petró- polis: Vozes, 2008. GARCIA, o. M. �Comunicação em prosa moder- na. 18a ed. Rio de Janeiro: FGV, 2000. GIANottI, J. A. �A universidade em ritmo de barbárie. São Paulo: Brasiliense, 1986. p. 9.