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ALIMENTOS DE ORIGEM VEGETAL Ana Manuela Ordonez Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB -10/2147 P142a Paiva, Ana Raisa Nunes. Alimentos de origem vegetal [recurso eletrônico] / Ana Raisa Nunes Paiva, Ana Manuela Ordonez, Eduardo Henrique Lima de Lucena ; [revisão técnica: Sandra Maria Pazzini Muttoni]. – Porto Alegre: SAGAH, 2018. ISBN 978-85-9502-392-5 1. Nutrição. 2. Alimentos. I. Título. CDU 641.3:613.26 Revisão técnica: Sandra Maria Pazzini Muttoni Nutricionista e Professora Especialista em Nutrição Clínica e Dietética Especialista em Terapia Nutricional Parenteral e Enteral Mestre em Medicina – Ciências Pneumológicas Técnica dietética de frutas Objetivos de aprendizagem Ao final deste capítulo, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os diferentes tipos de frutas, suas características, variedades e usos culinários. Definir as etapas de escolha, armazenamento e processamento das frutas no uso culinário, garantindo a qualidade sensorial, sanitária, microbiológica e bromatológica. Reconhecer as etapas do processo de amadurecimento das frutas. Introdução O Brasil é um país de grandes dimensões geográficas, e isso se reflete na variedade de alimentos que podem ser encontrados nas diferentes regiões do país, incluindo-se as frutas. Após a leitura deste capítulo, você vai ter mais informações a respeito do uso das Técnicas Dietéticas na utilização culinária de frutas, conteúdo compreendido no tema Alimentos de Origem Vegetal. Frutas: características e uso culinário Fruta é a parte carnuda comestível que envolve as sementes das plantas e árvores. De tecido geralmente suculento, a consistência de cada fruta varia de acordo com a espécie da planta. As frutas apresentam aroma característico e contém grande quantidade de água e açúcares, em diferentes concentrações. A maior parte das frutas podem ser consumidas cruas, sem necessidade de outros processamentos. Em relação à estrutura botânica, as frutas apresentam três partes: endocarpo (parte interna que envolve a semente), mesocarpo (camada interna suculenta e resistente) e epicarpo (pare externa que concentra fi bras). Consideradas fonte de vitaminas, minerais e carboidratos simples e com- plexos (glicose, frutose, sacarose, amido, pectina, celulose), as frutas contêm baixo teor de proteínas e gorduras. A celulose presente nas frutas adiciona volume à dieta, enquanto frutas ricas em pectina têm poder de gelatinizaç ã o. Entre as vitaminas, sã o encontradas, principalmente, a vitamina C e o caroteno; e, entre os minerais, o principal é o potássio, seguido pelo ferro. Para melhor aproveitamento desses nutrientes, as frutas devem ser consumidas cruas. O sabor doce das frutas se se deve à presença de carboidratos, minerais, ácidos orgânicos, componentes aromáticos e ésteres como o metilbutirato (responsável pelo aroma do abacaxi). Os ácidos orgânicos mais comuns são: málico (maçã), tartárico (uva), oxálico (laranja, morango), benzoico (ameixa) e cítrico (limão, laranja). Classificação São conhecidos mais de 70 tipos de frutas. De acordo com as suas caracterís- ticas, as frutas podem ser classifi cadas em diferentes categorias: Extra: frutas de elevada qualidade, sem defeitos e maduras. Devem apresentar tamanho, cor e conformação uniformes. Os pedúnculos e as polpas devem estar intactos e uniformes. Nã o sã o permitidas manchas e defeitos na casca. De primeira: frutas de boa qualidade, sem defeitos sérios, devem apresentar tamanho, cor e conformação uniformes; sã o tolerados pe- quenos defeitos. Devem estar bem desenvolvidas e maduras; podem apresentar pequenas manchas na casca, desde que nã o prejudiquem a sua aparê ncia geral. A polpa deve estar intacta e firme e o pedúnculo pode estar ligeiramente danificado. De segunda: frutas que apresentam boa qualidade, mas podem apre- sentar ligeiros defeitos na cor, no desenvolvimento e na conformação; porém, as caracterí sticas e a aparê ncia das frutas não podem estar prejudicadas. A casca nã o pode estar danificada, porém pequenos defeitos ou manchas sã o tolerados. A polpa deve estar intacta. De terceira: classe de frutas destinadas a fins industriais, são frutas que nã o foram incluídas nas classes anteriores, mas que preservam suas características. Nã o é exigida a uniformidade de tamanho, cor, grau de maturação e conformação. Sã o aceitas frutas com rachaduras cicatrizadas, pequenos defeitos e manchas na casca. Técnica dietética de frutas38 Aplicações culinárias A escolha das frutas para consumo imediato in natura ou uso culinário deve contemplar análise das características de higiene e das características senso- riais. De acordo com as formas de utilização e apresentação as frutas podem se apresentar nas seguintes formas. Polpa congelada Ótima opção para o preparo de sucos, mousses, sorvetes, vitaminas ou sobremesas. Secas ou passas As frutas passam por processo de retirada de umidade, o que leva à concen- tração do sabor e da cor. As mais comuns são as uvas passas, ameixas secas, damascos, tâ maras e frutas tropicais como mangas, peras, maçãs, caquis, mamão e outras. Essas frutas podem ser utilizadas como alternativa para as frutas frescas pela durabilidade e facilidade para transporte e armazenamento ou em preparações como saladas e sobremesas. Frutas em calda ou compotas de frutas Preparadas pela cocção geralmente rápida de frutas em caldas ralas de aç ú car. Essa técnica aumenta o tempo de vida útil das frutas. O cozimento é feito para abrandar a textura das frutas, sem desintegrá -las. As frutas em calda podem ser utilizadas para consumo como sobremesas ou como recheios de tortas e bolos. Doces de frutas em pasta Os mais comuns sã o a goiabada, a bananada e a marmelada. É realizada uma grande combinação de aç ú car e frutas, tornando esse produto concentrado em calorias. A textura deve ser fi rme, apresentando ponto de corte. Quando servido sozinho, o doce em pasta deve se apresentar em porções menores que outras sobremesas, justamente por possuir um sabor doce proeminente e apresentar elevada densidade energética. 39Técnica dietética de frutas Geleia Preparação feita com frutas maduras que possuem alto teor de pectina, à qual sã o adicionadas aç ú car (cerca de 40% do peso da fruta); as frutas sã o cozidas até que se desmanchem, formando a geleia. Quando a fruta apresentar baixos teores de pectina, pode-se adicionar essa substância em pó , para que ocorra a geleifi caç ã o. Esse processo aumenta a vida ú til do alimento, se feito corretamente. As geleias també m sã o muito doces, podendo ser utilizadas para acompanhar pães e torradas, como acompanhamento de queijos e como recheio de pães, doces, tortas e bolos. Frutas oleaginosas São compostas por sementes comestí veis de algumas plantas. Sã o oleaginosas: nozes, castanhas, avelãs, macadâ mias, amê ndoas, etc. (Quadro 1). Fonte: Adaptado de Philippi (2014). Tipos de castanhas Preparações culinárias Amêndoa Torrada doce e salgada; recheio de carnes, peixes e aves; farofas; recheio de chocolates, bolos, tortas, pães. Avelã Cristalizada; recheio de chocolates, tortas e bolos. Castanha-do-Brasil Torrada; farofa; recheio de salgados e doces, molhos, batidas. Castanha-de-caju Torrada doce e salgada; recheio de chocolate, doces, bolos; cristalizada. Castanha-portuguesa Cozida; assada; marrom-glacê; purê de castanha. Macadâmia Natural; torrada e salgada; recheio de bolo, confeitos, salgados; sorvete; azeite. Noz Recheio de chocolates, tortas, carnes, pães, molhos, batidas. Pinhão Cozido; assado; recheio de bolos, pães, purês, sopas. Pistache Torrado; recheio de doces; sorvete; salgados. Quadro 1. Castanhas e preparações culinárias. Técnica dietética de frutas40 Para a preparação de frutas em calda ou compotas podem ser utilizadas para o seu preparo principalmente de frutas em plena safra a fim de evitar desperdícios, pois se encontram emabundância e nem sempre é possível consumir toda a fruta disponível. Escolha, processamento e armazenamento Ao serem adquiridas, as frutas devem estar íntegras, sem machucados na casca, nã o devem apresentar-se excessivamente verdes e, de acordo com a utilização fi nal, devem apresentar um padrã o no tamanho e estágio da maturação. Para serem consumidas com casca, as frutas necessitam passar pelo pro- cesso de lavagem e desinfecção. Alguns tipos de frutas possuem superfície irregular e devem ser lavadas com escovas, para garantir boa higienização. Em geral, as frutas apresentam 85% de água livre, o que representam elevada Aw (atividade de água), favorecendo a deterioração natural e atividade microbiana. Para maior durabilidade, as frutas devem ser armazenadas sob refrigeraç ã o, em recipientes ou sacos plásticos próprios para a estocagem de alimentos. Os refrigeradores domésticos garantem temperatura de armazenamento entre 4 e 8 oC, suficiente para reduzir as atividades orgânicas de amadurecimento que alteram o sabor, aroma, textura e valor nutricional das frutas. Ao serem congeladas frescas, as frutas podem apresentar formação de cristais de gelo, o que causa alteração da consistência e pode comprometer o resultado final dependendo da preparação desejada. O congelamento é mais utilizado em frutas subdivididas, polpas, concentrados ou sucos e auxilia na manutenção dos teores de vitamina C. 41Técnica dietética de frutas Na utilização culinária, podem ser necessários a limpeza, a escolha, a retirada de sementes e o corte das frutas. Mas também podem ser utilizadas in natura, em sucos e vitaminas, cozidas em purês, em forma de doces, acompanhando preparações doces e salgadas. Deve-se observar que frutas podem apresentar casca grossa e caroços grandes, com elevado fator de correção. Frutas: tipos e etapas de preparação Devido à grande variedade de tipos e sabores, as frutas podem compor di- ferentes preparações, com o objetivo de ampliar o tempo de conservação ou ainda melhorar seu aproveitamento. Podem ser consumidas das seguintes formas: ao natural, em sucos, batidas, sorvetes, saladas, purês e preparações salgadas. Também podem ser consumidas assadas, em compotas e geleias, cozidas, cristalizadas ou secas. Quando submetidas ao processo de cocção, as frutas tornam-se de mais fácil digestão. Para isso, alguns pontos devem ser observados: Frutas ricas em enzimas proteolíticas (mamão, abacaxi) devem ser misturadas ao leite no momento de serem servidas. O tempo de espera faz com que as enzimas atuem sobre as proteínas do leite, produzindo coagulação com alteração da consistência e do sabor. Quando adicionadas às saladas, deve-se observar a combinação de cores e sabores. As frutas devem ser adicionadas apenas no momento de servir a salada. Para fazer compota de fruta, higienizar, descascar e cortar a fruta no formato desejado, colocar em calda rala a 30% de açúcar ou solução de edulcorante não calórico. Deixar cozinhar pelo tempo necessário para abrandar a fruta, sem que haja desintegração do tecido vegetal. Para fazer doce em pasta, higienizar, partir as frutas com casca, cozinhar até que a consistência seja abrandada. Passar por peneira e acrescentar 70% de açúcar. Cozinhar novamente, mexer sempre, apurar até o ponto desejado. Técnica dietética de frutas42 Para fazer geleia devem ser escolhidas frutas ricas em pectina (uva, maçã, morango, goiaba, laranja) e com certo grau de acidez, caso con- trário, será necessário adicionar pectina e suco de limão. As frutas devem ser cozidas até atingirem o ponto de gelificação. O processo de obtenção da fruta seca se dá pela evaporação da água, com concentração de carboidratos, celulose e minerais (o que faz das uvas passas, ameixas e figos secos boas fontes de ferro). A ameixa seca concentra substâncias estimuladoras do peristaltismo intestinal. Frutas oleaginosas: são sementes comestíveis. Tem consistência com- pacta, protegidas por uma casca dura, são concentradas em gorduras. Podem ser torradas ou não, servidas inteiras ou subdivididas, consu- midas in natura como aperitivos ou acompanhamentos de preparações doces ou salgadas. Devem ser consumidas com moderação. Embrulhar as frutas em papel para amadurecer mais rápido é uma técnica antiga e coerente, pois concentra o gás próximo ao alimento. Deve-se apenas observar que o papel esteja limpo, descartando papel de jornal, pois fornece risco de contaminação ao alimento. O amadurecimento das frutas As frutas in natura são altamente perecíveis e suscetíveis a alterações cau- sadas por enzimas presentes no próprio alimento e por microrganismos, es- pecialmente quando já estão no estágio mais avançado do amadurecimento. O processo de deterioração, que é natural e irreversível, pode ser acelerado pela presença de amassamentos (responsáveis pelo rompimento de paredes celulares) ou armazenamento inadequado. O armazenamento das frutas pode ser realizado em temperatura ambiente ou sob refrigeração, a depender do estágio de amadurecimento das frutas. Com o objetivo de ampliar o tempo de conservação ou melhorar o aprovei- tamento, as frutas podem ser congeladas ou preparadas na forma de conservas (p. ex.: frutas em calda), desidratadas (p. ex.: frutas secas), caldas, geleias e outras formas. 43Técnica dietética de frutas As frutas apresentam três fases fisiológicas de desenvolvimento: cresci- mento, maturação e senescência, e o amadurecimento das frutas (ponto no qual se apresentam no ponto ótimo para consumo) corresponde à fase final da maturação. Durante o amadurecimento, as principais alterações que ocorrem em relação às características sensoriais envolvem modificação da textura, aparência e sa- bor, que são igualmente acompanhadas por alterações bioquímicas e químicas. Assim, a diminuição da firmeza da fruta (resultado da perda da integridade da parede celular) é um dos primeiros indicativos do amadurecimento e deve ser levado em consideração quando for analisado o tempo de conservação a que a fruta será submetida. O teor de pectina das frutas também é influenciado pelo estágio da ma- turação, fator que pode interferir na obtenção do ponto correto durante a preparação de caldas e geleias. As alterações de coloração da casca devem-se principalmente à degradação da clorofila e à síntese de outros pigmentos, como carotenoides e antocianinas. O sabor das frutas resulta da associação entre gosto e aroma. Na maioria das frutas nota-se o aumento da doçura conforme avança a fase do amadurecimento, com diminuição da acidez. Essa modificação se deve a progressiva degradação dos polissacarídeos, reserva de carboidratos presentes nas frutas, com liberação de frutose e glicose. Amadurecimento natural Durante o processo de amadurecimento ocorrem modifi cações físicas e quími- cas, como intensifi cação da cor e abrandamento da polpa. Essas modifi cações ocorrem devido à transformação da pré-pectina em pectina e à ação enzimática sobre a celulose e o amido presentes nas frutas, transformando-os em açúcares solúveis, o que é percebido pelo pronunciamento do sabor adocicado das frutas conforme vão se tornando mais maduras. A presenç a do gás etileno, por sua vez, é responsável pelas mudanças que ocorrem entre o estágio da fruta verde até o seu apodrecimento. Nas frutas verdes, podem ser observadas algumas características que sofrem alteração até o amadurecimento, como a coloraç ã o verde da casca e da polpa da fruta, proveniente da presença de clorofila, que durante o amadurecimento sofrerá quebra das suas moléculas, ressaltando a cor natural da fruta. Além disso, o amido vai se transformando em aç ú car; e a textura das frutas se altera em um processo de oxidação dos lipídios, que transforma a pectina (substância responsável pela estrutura do tecido vegetal) em ácido péctico, determinando a desintegração do tecido. Técnica dietética de frutas44 Alguns alimentos podem desprender altas quantidadesde etileno e interferir na maturação de outras frutas que estejam armanezenadas no mesmo local. Sã o exemplos de alimentos que desprendem altas quantidades de etileno: banana, pera, maçã, melão, tomate, etc. A liberação de gás etileno também sofre influência do estado de conservação das frutas (frutas com partes de- terioradas liberam maior quantidade), assim como da temperatura local (em temperaturas mais altas ocorre maior liberação do gás). Amadurecimento artificial O gás etileno pode ser empregado na indústria, de forma artifi cial, no amadu- recimento de frutas que foram colhidas ainda verdes (importante nos processos de exportação, por exemplo). Essa utilização se dá devido à ação desse gás sobre o metabolismo celular, que gera amadurecimento. Quando mantidas sob temperatura e umidade controladas, as frutas apresentam pouca perda de peso e aumentam o tempo de conservação. O uso do gás etileno permite o cultivo contínuo de uma variedade de frutas empregadas na produção de outros alimentos, mas ainda há meses do ano em que a safra de determinadas frutas se sobressai. As frutas mais indicadas para o preparo de geleias sã o o morango, o damasco, a uva, a laranja e a framboesa, por terem maior quantidade de pectina e maior acidez. Para o preparo de geleias, é fundamental a presenç a da pectina, que, com aç ú car e acidez, forma o gel. Vale ressaltar que, nas frutas verdes, temos a pró -pectina e, nas passadas, o ácido péctico. Portanto, só é possí vel fazer geleias com frutas maduras. 45Técnica dietética de frutas
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