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Aula 4: Poder, tempo e informação nas negociações* Negociação X uso da força, da coação e da violência física ou cessão unilateral dos direitos De acordo com Monteiro (2006), a negociação é uma forma de solução dos conflitos que se opõe ao uso da força. A negociação pressupõe algum grau de acordo entre as partes. No processo de negociação há fatores/elementos que podem favorecer e privilegiar uma das partes, entre elas: a informação, o tempo e o poder. * Este esquema de aula é baseado primordialmente no texto de Monteiro (2006), no livro de Martinelli e Ghisi (2006) e em outros autores indicados abaixo na referências bibliográfica. 1) VARIÁVEIS BÁSICAS DA NEGOCIAÇÃO: DEFINIÇÕES O poder é definido, de maneira geral, como capacidade de exercer influência sobre o outro, ou de impor a própria vontade sobre outro. Para Monteiro (2006) a dimensão do poder é importante, e a correta apreensão das assimetrias de poder nas relações é essencial para a negociação. O tempo considera, de maneira geral, a sucessão de anos, dias e de acontecimentos, e inclui também a noção de duração (Monteiro, 2006). A informação é essencial à negociação, seja ela de natureza subjetiva – sobre as necessidades e expectativas, valores e posicionamento das partes –, ou de natureza objetiva – prazos, custos, situação financeira, prioridades, entre outras. Quanto maior a reunião de informações na etapa do planejamento e no decurso da negociação, maior a chance de o negociador ter um acordo favorável para si (Monteiro, 2006). 1.1) O poder: definições e características A variável poder está presente em “qualquer situação que envolva a negociação” (Monteiro, 2006, p. 96). A negociação é uma atividade que está presente tanto nas atividades formais (estabelecimento de negociações contratuais e institucionalizadas), quanto nas informais (negociações estabelecidas nas nossas relações interpessoais cotidianas, com a família ou com os colegas de trabalho), e em grande parte de nossas interações cotidianas. Neste sentido, estabelecemos a todo o tempo negociações tácitas e/ou explícitas com pessoas/instituições com as quais podemos ter algum tipo de dependência, o que pode influenciar nas decisões e nos resultados destas. Portanto é necessário, em qualquer negociação, identificar claramente as assimetrias de poder entre as partes, bem como a origem destas (as assimetrias podem ser em relação a diferenças econômicas, políticas, técnicas, entre outras). 1.1) O poder: definições e características (continuação) O poder pode ser definido de várias formas, destacamos abaixo duas delas: 1) De acordo com Sparks (apud Monteiro) ele pode ser definido como imposição da própria posição ou vontade sobre a outra parte. 2) De acordo com Weber (apud Sell, 2001) o poder é “capacidade de impor a própria vontade dentro de uma relação social”. O conceito de poder não se confunde com o conceito de dominação, que significa: “a probabilidade de encontrar obediência a um determinado mandato” Portanto, a dominação pressupõe a existência uma forma de exercer o poder e a autoridade legítimas, de maneira que a obediência é resultado não de uma imposição, mas da aquiescência do dominado/subordinado. Entre as formas típicas de dominação na sociedade estão: “Dominação legal racional: a obediência apoia-se na crença na legalidade da lei e dos direitos de mando das pessoas autorizadas a comandar pela lei; Dominação tradicional: sua legitimidade apoia-se na crença de que o poder de mando têm um caráter sagrado, herdado dos tempos antigos; Dominação carismática: a legitimidade da autoridade do líder carismático lhe é conferida pelo afeto e confiança que os indivíduos depositam nele.” (Sell, 2001, p. 66) 1.1.2) Poder e negociação Sobre o poder e a negociação, Sparks (apud Monteiro, 2006, p. 97-98) estabelece as seguintes observações: 1) Deve-se identificar/reconhecer as desigualdades de poder entre as partes; 2) Deve-se buscar “modificar os desequilíbrios de poder”; 3) Deve-se “reconhecer o risco pelo uso do poder”; 4) Deve-se “evitar o uso de argumentos baseados no poder”; 5) Deve-se “evitar a manipulação”; 6) Deve-se “usar ferramentas lógicas”; 1.1.3) O Poder em suas diferentes formas O poder e a forma de exercê-lo pode ser visto a partir de diferentes perspectivas: Em um nível pessoal, segundo Martinelli e Almeida (apud Monteiro, 2006), classificado como poderes pessoais ou poderes inatos – que inclui, entre outros, a moralidade, a atitude, da persistência, da capacidade persuasiva. Os mesmos autores ainda identificam os poderes circunstanciais que estão relacionados ao momento e às influências do meio – entre eles o poder de investimento, poder da posição, poder de legitimidade e o poder do compromisso, entre outros. Em nível macrossocial e/ou institucional o poder pode ser exercido pelos aparelhos de segurança, como as Forças Armadas, pelos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, pelas instâncias administrativas e pelas repartições públicas (Monteiro, 2006). O poder pode manifestar-se dos pontos vista ideológico, político, econômico e psicológico (Monteiro, 2006). 1.2) O tempo: definições e características Para Monteiro (2006), além do poder o tempo é uma variável essencial nas negociações. Considerando o tempo em que as partes podem estar envolvidas em uma negociação, Monteiro destaca que, apesar de não declarado, cada uma delas tem um prazo-limite a partir do qual a ausência de um acordo passa a ser custosa (do ponto de vista dos interesses do indivíduo). Isso pode ser exemplificado em uma situação em que um proprietário de uma casa tenha em vista a utilização do valor da venda de seu imóvel com vistas à compra de outro. A demora em negociar a venda do imóvel atual pode significar a perda da possibilidade de comprar outro que o indivíduo já tenha em vista. Ou ainda, alguém que precise vender um bem para quitar uma dívida com prazo definido, não poderá lançar mão de sucessivas negociações sob risco de ver sua dívida aumentada, ou de ser negativado nas instituições de crédito. Finalmente, podemos pensar na situação de uma empresa que deseja substituir uma prestadora de serviços em sua sede. Caso as negociações durem tempo excessivo, sem aditivos ou acordos para a extensão dos acordos vigentes, pode ocorrer: 1) a necessidade de manter os funcionários da antiga prestadora de serviços por mais tempo do que o esperado, gerando aditivos ao contrato que se visa encerrar; 2) a empresa ficar sem os funcionários e os serviços dos quais necessita enquanto não houver acordo. 1.3) A informação: definições e características Finalmente a variável “informação” é essencial pois ela pode afetar as negociações de diferentes formas. Uma nova informação pode alterar os rumos da negociação e/ou alterar as relações de poder entre as partes. É preciso ter cuidado, no entanto, no levantamento das informações, pois informações falsas ou equivocadas podem prejudicar os negociadores em uma negociação. Na sociedade moderna ou ainda, na “Era da Informação” tal como denominada por Castells (2000), a difusão da informação está principalmente associada ao advento das novas tecnologias da comunicação e da informação, como o telefone, a internet, os softwares, etc. Mas há ainda outras fontes de informação como os jornais, os livros, ou informantes. - As variáveis se relacionam de diferentes maneiras, entre elas: a disponibilidade de tempo e de informação são importantes fontes de poder nas negociações; Referências Bibliográficas: CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura. In: A Sociedade em rede. São Paulo : Paz e Terra, 2000. v. 1 MONTEIRO, F. As variáveis básicas da negociação. In. MARTINELLI, D. P.; GHISI, F. A (orgs). Negociação: aplicações práticas e uma abordagem sistêmica. SãoPaulo: Saraiva, 2006, p. 95-105. SELL, C. E. Sociologia clássica: Durkheim, Weber e Marx. Itajaí, 2001.
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