Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................... 3 2 A HISTÓRIA DA NEFROLOGIA ........................................................ 4 2.1 Diálise .......................................................................................... 6 2.2 Transplante renal ........................................................................ 8 3 ANATOMIA RENAL ......................................................................... 10 3.1 Néfron ........................................................................................ 16 3.2 Glomérulo .................................................................................. 18 3.3 Túbulo proximal ......................................................................... 20 3.4 Alça de Henle ............................................................................ 21 3.5 Túbulo distal .............................................................................. 22 3.6 Ducto coletor ............................................................................. 23 4 FISIOLOGIA RENAL ........................................................................ 24 5 PATOLOGIAS DO SISTEMA RENAL .............................................. 29 5.1 Insuficiência renal aguda ........................................................... 30 5.2 Insuficiência renal crônica ......................................................... 35 6 AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO RENAL .................................................. 39 6.1 Exame de urina ......................................................................... 39 6.2 Exames de sangue .................................................................... 40 6.3 Clearance renal ......................................................................... 41 7 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO PACIENTE RENAL ........... 42 7.1 Insuficiência renal aguda (IRA) ................................................. 42 7.2 Insuficiência renal crônica | Doença renal terminal ................... 51 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................. 57 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para ser esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é o mesmo. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 A HISTÓRIA DA NEFROLOGIA Atualmente, a Nefrologia dispõe de um conjunto técnico e tecnológico altamente avançado. Inclui técnicas de microscopia, análise de marcadores da função renal, exames de imagem sofisticados e diversas outras ferramentas que possibilitam uma compreensão cada vez mais precisa da estrutura e função dos rins. No entanto, é importante ressaltar que esse panorama é resultado de uma evolução ao longo de muitos anos. Os fundamentos que sustentam a Nefrologia atual têm raízes antigas que remontam ascendência milenar (FINE, 2013). A urina, como o fluido mais facilmente acessível no corpo humano, sempre despertou interesse entre aqueles que observavam qualquer alteração em suas características, independentemente de serem médicos ou pacientes. Ao longo da história, a urina foi considerada uma espécie de portal de informações sobre o funcionamento do organismo humano. É por isso que a análise de urina é considerada o exame laboratorial mais rudimentar na história da humanidade, sendo utilizada por inúmeras civilizações há mais de 6 mil anos (ECHEVERRY; HORTIN; RAI, 2010). Richard Bright (1789-1858) é um dos nomes de maior destaque na história da Nefrologia. Foi ele quem documentou pela primeira vez a correlação entre proteinúria, edema e doença renal. Com isso, o exame de urina passou a ser visto como ferramenta diagnóstica cientificamente comprovada para nefropatias. Em sua obra Reports of Medical Cases, de 1827, ele relatou por escrito nunca ter examinado o corpo de um paciente morrendo com edema e com urina coagulável (ou seja, com alta concentração de proteína) sem encontrar também algum desarranjo nos rins, esboçando o que viria a ser definido como síndrome nefrótica. A função renal é de alta importância para a saúde humana. Provavelmente a maioria dos brasileiros já ouviu falar que a diferença entre o remédio e o veneno está na dose. Isso não é apenas uma expressão popular, mas uma verdade no campo das ciências médicas. Uma mesma substância que pode resgatar a saúde, pode causar a morte. Isso não vale só para remédios, mas também para sais, proteínas, hormônios, entre outras substâncias. Para se manter vivo, o corpo precisa ter a dose exata de cada substância circulando no sangue e os protagonistas desse mecanismo biológico são os rins. 5 Quando os rins falham, como em casos de insuficiência renal, algo precisa ser feito para alcançar essa regulação. Caso contrário, o desfecho pode ser fatal em dias ou em semanas. Há séculos, os tratamentos incluíam banhos quentes e sangrias, por exemplo. Atualmente, o cenário é outro; máquinas de alta tecnologia cuidam do processo. De forma inovadora, em 1924, o médico alemão Georg Haas realizou ensaios experimentais que tinham como objetivo avaliar o desempenho de uma máquina extracorpórea na filtragem sanguínea de pacientes com insuficiência renal crônica. Esses estudos aconteceram na Universidade de Giessen e são um ponto alto na história da Nefrologia ao documentar a primeira diálise feita em um ser humano (BENEDUM, 2003). Segundo o Portal da Diálise, ao final da década de 1930, em um hospital universitário na Holanda, um novo fato marcou a história de progressos da Nefrologia. Ao ver um rapaz morrer de falência renal lentamente, Willem Kolff (1912-2009), jovem médico na época, se debruçou sobre pesquisas, aprendendo sobre remoção de toxinas do sangue. Logrando êxito nesses estudos, conseguiu propor uma solução para o caso, a qual, mais tarde, seria reconhecida como o primeiro rim artificial funcional da história. Kolff criou um cilindro rotativo capaz de filtrar o sangue humano mesmo com recursos limitados, utilizando uma máquina de lavar roupa como base da estrutura e tripas para enchidos, garrafas de sumo de laranja e papel de celofane na função de filtragem. Meio litro de sangue circulava nesse aparelho e era reinfundido, em um processo que durava por volta de seis horas. Em frente à máquina de diálise construída por Hass, o cilindro rotativo de Kolff apresentava algo novo: um sistema de propulsão sanguínea que permitia uma diálise contínua. Essa tecnologia propiciou o primeiro relato da história de recuperação da função renal por um rim artificial. Em 1945, poucos anos após sua invenção, o cilindro de Kolff permitiu que uma senhora de 67 anos em coma urêmico restabelecesse o seu nível de consciência após cerca de 11 horas de diálise, vivendo mais sete anos a partir desse momento. Quatro anos depois, a invenção de Kolff é replicada no Brasil, quando o médico Tito Ribeiro de Almeidautilizou o rim artificial para tratar uma paciente com 27 anos de idade portadora de insuficiência renal no Hospital das Clínicas de São Paulo. A partir disso, a Nefrologia despontou no Brasil. 6 Segundo a Sociedade de Nefrologia do Estado de São Paulo, o número de pacientes dialisados, que somavam cerca de 500, em 1979, passou para 100 mil em 2014. Entre um ano e outro, houve avanços em moléculas coagulantes, em processos de filtração sanguínea e em dispositivos acessórios, aumentando a segurança e a efetividade do tratamento dialítico, atraindo financiamentos e, consequentemente, ampliando cada vez mais sua área de abrangência. No Brasil, a Nefrologia restrita, por volta de 1952, a São Paulo e ao Rio de Janeiro alcançou Salvador, Recife, Belo Horizonte, Vitória, Porto Alegre, Fortaleza e Curitiba nos anos seguintes. Essa especialidade continuou conquistando, aos poucos, maior espaço em outras regiões, sendo impulsionada especialmente pela demanda por serviços de diálise. Foi, sem dúvidas, um percurso intenso, partindo da abordagem das doenças renais em teses de doutorados até a construção de serviços de residência, definindo a Nefrologia como especialidade médica (MARTINELLI; GUSMÃO, 2015). 2.1 Diálise A prática dialítica chegou no Brasil em 1957 de forma semelhante à que se instalou em outros países da América Latina: estudantes e clínicos interessados no procedimento se especializaram em serviços de diálise no exterior, onde ela era rotineira, e trouxeram o conhecimento e experiência adquiridos para o Brasil. As primeiras hemodiálises no Brasil foram realizadas em pacientes com insuficiência renal aguda, em São Paulo, no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HC-USP), e no Rio de Janeiro, no Hospital dos Servidores do Estado. Pouco tempo depois, o grupo de São Paulo teve a visita do dr. Gabriel Richet – progono da Nefrologia europeia e precursor da prática dialítica – por cerca de dois meses, que abrilhantou a prática da diálise, ajudando no manuseio e no estímulo à utilização dos processos dialíticos nesse centro (ROCHA, 1992). Apesar dos avanços no que tange às técnicas em diálise (hemodiálise e diálise peritoneal), foi apenas no final de 1962 que elas foram usadas para o tratamento de pacientes com Doença Renal Crônica (DRC), no HC-USP, em São Paulo. Os médicos brasileiros precursores dessa prática foram influenciados pelo grupo do prof. Scribner em Seattle, que desenvolveu o shunt arteriovenoso. Nesse cenário, cabe destacar o 7 trabalho do dr. Adyr Mulinari, de Curitiba, que recebeu influência direta desse grupo, na Universidade de Seattle, e organizou, ao retornar, o serviço de hemodiálise. O grupo, formado em Curitiba no Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná, um dos primeiros núcleos, e mais relevantes para a implantação de hemodiálise crônica na prática clínica brasileira, e para o treinamento de interessados. Na mesma época, o dr. Emil Sabbaga retornava de Boston e iniciava no HC-USP a hemodiálise e diálise peritoneal para o tratamento de pacientes renais crônicos (ROCHA, 1992). Na Bahia, o serviço de diálise peritoneal foi implementado antes mesmo da disciplina Nefrologia. O prof. Jorge Valente ofereceu ao dr. Ernane Gusmão, que à época ainda era estudante do internato de Medicina na Universidade Federal da Bahia (UFBA), a perspectiva da chefia do primeiro serviço de diálise no Norte e Nordeste, assim que completasse sua graduação. A posição de dr. Ernane como chefe do serviço seria consolidada no momento em que ele completasse sua graduação. Doutor Ernane aceitou a proposta animado. Contudo, o prof. Jorge Valente insistiu que dr. Ernane permanecesse na área de Urologia. Como Ernane possuía uma formação clínica, e a Urologia era uma especialização em cirurgia, o professor impôs que o serviço não seria em Nefrologia, mas em “urologia clínica”. Após a assertiva do prof. dr. Ernane, o prof. Jorge Valente conseguiu para ele uma bolsa de estudos no Centro de Aperfeiçoamento das Equipes em Saúde (CAPES) pelo CNPq, e, após alguns meses, dr. Ernane embarcava para o Rio de Janeiro, onde se especializou na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado de Guanabara (GUSMÃO, 2016). Em 1968, após especialização no Rio de Janeiro, o agora professor, dr. Ernane comandava, ainda no serviço de Urologia, a primeira sessão de hemodiálise do Norte e Nordeste. Seu tão estimado preceptor, o prof. Jorge Valente, faleceu em 1970. Doutor Ernane permaneceu na Urologia, enquanto o seu professor esteve vivo, como havia prometido (GUSMÃO, 2016). Ainda em 1970, com a reforma do ensino, foi implementada a disciplina de Nefrologia na UFBA, sob coordenação de dr. Heonir Rocha. A disciplina passou a integrar o Departamento de Doenças do Aparelho Urinário, juntamente com a disciplina de Urologia (MARTINELLI; GUSMÃO, 2015). 8 A princípio, a hemodiálise não era feita em portadores de DRC, mas em casos de lesão renal aguda (LRA) ou DRC agudizada. Apesar disso, se iniciou em 1972 o programa de hemodiálise crônica no HUPES, sendo o primeiro na Bahia. Tal programa contou com apenas um paciente e funcionou até 1976, quando encerrou suas atividades. Após essa data, pacientes internados ainda tinham acesso a tratamentos dialíticos, mas já não havia uma forma de planejamento a fim de promover esse acesso organizado, que era feito a depender da demanda no ambulatório. Já em 1991, foi inaugurada a primeira unidade de hemodiálise da Bahia, no HUPES, com o mérito de um dos seus maiores expoentes: o dr. Heonir Rocha. Hoje, os serviços de hemodiálise ainda são concentrados nas grandes cidades e o número de especialistas não atende à demanda dos pacientes (MARTINELLI; GUSMÃO, 2015). 2.2 Transplante renal O primeiro transplante renal em solo brasileiro ocorreu em 1965, no HC-USP, em São Paulo, tendo sido entre dois irmãos, ambos vivos. Algumas complicações ocorreram, mas o procedimento foi bem-sucedido, e o paciente transplantado viveu oito anos após a cirurgia. Nesse mesmo ano, três outros transplantes ocorreram no HC-USP, também em São Paulo, todos de doadores vivos. Nessa época, a tipagem HLA (Human Leukocyte Antigens) não era conhecida, já que surgiu apenas em 1969, e o teste imunológico a ser feito para definir compatibilidade era a tipagem sanguínea, baseada no sistema ABO. Além disso, a imunossupressão dos pacientes era feita com azotioprina e, por vezes, prednisona. Ao longo dos anos, foram surgindo novos centros de transplante renal pelo Brasil, especialmente no eixo Sul Sudeste, sendo que a maioria ocorreu em hospitais universitários (ROCHA, 1992). Na Bahia, a chegada dos transplantes renais ocorreu no Hospital Português, onde, em 1980, a primeira cirurgia desse tipo, feita pela equipe de dr. Ivo Coelho Silva e de dr. Antonio J. Vinhaes, e assim, se iniciou o primeiro programa de transplantes renais do estado. A princípio, esse procedimento só ocorria entre pacientes vivos e com parentesco, e o primeiro transplante com doador cadáver nesse hospital ocorreu em 1984 (MARTINELLI; GUSMÃO, 2015). Em 1985, houve a expansão dos horizontes do transplante renal para o interior do estado, quando, na Clínica Senhor do Bonfim, em Feira de Santana, foi iniciado o 9 programa de transplante renal, pelos doutores Edson Paschoalin e José Andrade Moura, mantido em funcionamento até 1997. Houve também uma tentativa em Itabuna, em 2002, mas rapidamente foi suspenso, só sendo retomado em 2011 (MARTINELLI; GUSMÃO, 2015). É interessante mencionar que a chegada do programa de transplantes não se deu no HUPES, que era o centro da Nefrologia da Bahia da época devido à falta de estrutura para abarcar um serviço de tamanha complexidade, apesar de os nefrologistas atuantes no HUPES à época serem capacitados em transplante renal. Houve tentativas em 1995, ealguns transplantes ocorreram, mas não havia condições de continuar realizando tais cirurgias no HUPES, e o programa se encerrou em 2001. Até a atualidade, não foi possível implementar com sucesso um centro de transplantes renais no HUPES, mesmo com os esforços e interesse da equipe desse local (MARTINELLI; GUSMÃO, 2015). No Hospital Ana Nery, em Salvador, tentou-se implementar um programa de transplante renal em 1988, que foi interrompido pouco tempo depois e reiniciado em 2008 (BAHIA, 2016). Em 2009, se iniciou o programa de transplantes pediátricos nesse hospital, sendo o primeiro da Bahia (MARTINELLI; GUSMÃO, 2015). Atualmente, o Hospital Ana Nery tem o maior centro de transplante renal da Bahia, tendo realizado 105 transplantes renais em 2018 e 128 de janeiro a novembro de 2019 (RODRIGUES, J., 2019). De janeiro a novembro de 2020, foram realizados 224 transplantes renais na Bahia (217 de doador cadáver e 7 intervivos), o que representa 1,5 transplante por 100 mil habitantes. Assim, a Bahia está na primeira colocação em realização de transplantes no Nordeste no número absoluto, sendo também o único do Brasil que não suspendeu esse tipo de cirurgia durante a pandemia de COVID-19. Atualmente, há seis hospitais em Salvador que realizam transplantes: Hospital Ana Nery, Hospital Martagão Gesteira, Hospital Geral Roberto Santos, Hospital São Rafael, Hospital Português, Hospital Cárdio Pulmonar. No interior do estado, esse procedimento ocorre em Feira de Santana, nos Hospitais Dom Pedro de Alcântara e Hospital EMEC; em Vitória da Conquista, ocorre no Hospital Instituto Brandão de Reabilitação (IBR). Ainda há cerca de 500 pessoas na fila do transplante renal, o que demonstra o grande potencial de crescimento dessa área no estado da Bahia, com 10 aumento quantitativo dos centros de transplantes existentes e surgimento de novas unidades aptas a realizar esse tipo de cirurgia (BAHIA, 2020). 3 ANATOMIA RENAL Os rins, em número de dois, são órgãos que lembram a forma de um grão de feijão, de coloração marrom-avermelhada, situados no espaço retroperitoneal, um de cada lado da coluna vertebral, de tal modo que seu eixo longitudinal corre paralelamente ao músculo psoas maior. Na posição ortostática, sua margem superior está no nível da primeira vértebra lombar; e a inferior, da quarta vértebra lombar. Em decúbito dorsal, as margens superior e inferior dos rins elevam-se ao nível do bordo superior da 12ª vértebra torácica e da 3ª vértebra lombar, respectivamente. Com a respiração, os rins podem deslocar-se cerca de 1,9 cm, chegando a 4,1 cm na inspiração profunda. Normalmente, o rim direito é 1 cm menor e encontra-se ligeiramente mais caudal em relação ao esquerdo (Figura 1) (RIELLA, 2018). Figura 1 – Localização do sistema renal. Fonte: Riella, 2018 p.5. 11 O rim de um indivíduo adulto tem 11 a 13 cm de comprimento, 5 a 7,5 cm de largura e 2,5 a 3 cm de espessura, pesando entre 125 e 170 g, no homem, e 115 e 155 g, na mulher. Com o envelhecimento, há uma diminuição do peso renal. Em recém-nascidos, esse peso varia de 13 a 44 g. A variação do tamanho e do peso dos rins na população demonstrou estar mais relacionada com a superfície corporal do indivíduo, não sendo influenciada por sexo, idade ou raça, quando se leva em consideração o tipo de constituição corporal. Outros estudos demonstraram também que o nível de hidratação do organismo e a pressão arterial provocam variações no tamanho do rim (RIELLA, 2018). Figura 2 – Estrutura do rim. Fonte: Riella, 2018 p.6. Na parte medial côncava de cada rim, localiza-se o hilo renal, no qual se encontram a artéria e a veia renal, os vasos linfáticos, os plexos nervosos e o ureter, que se expande dentro do seio renal formando a pelve. Toda a superfície do rim é envolvida por uma membrana fibroelástica muito fina e brilhante, denominada cápsula renal, que se adere à pelve e aos vasos sanguíneos na região do hilo. No rim sadio, consegue-se destacar facilmente a cápsula renal do restante do órgão, mas isso não acontece no rim doente. 12 Ao redor dos rins, no espaço retroperitoneal, tem-se uma condensação de tecido conjuntivo, que representa a fáscia de Gerota ou fáscia renal. Ela divide-se em fáscias renais anterior e posterior, envolvendo um tecido adiposo, denominado gordura perirrenal, que contorna o rim e a glândula adrenal de cada lado, constituindo o espaço perirrenal. Essa gordura é a responsável pela visualização radiológica da silhueta renal, por sua maior radiotransparência. A fáscia renal tende a limitar a disseminação de infecções renais, hemorragias ou extravasamento de urina e determina a divisão do retroperitônio em três compartimentos: espaços pararrenal anterior, perirrenal e pararrenal posterior (RIELLA, 2018). Ao corte, o parênquima renal apresenta uma porção cortical de cor avermelhada e uma porção medular de cor amarelo-pálida. Na região medular, observam-se várias projeções cônicas ou piramidais, de aspecto estriado, cujas bases estão voltadas para o córtex, enquanto seus ápices se dirigem ao hilo renal e se projetam na pelve renal. O conjunto formado pela pirâmide renal e seu córtex associado denomina-se lobo renal. A parte do córtex que encobre a base é o córtex centrolobar, e a parte localizada lateralmente à pirâmide renal, o septo renal. A união de septos renais adjacentes constitui a formação das colunas renais ou de Bertin, que separam uma pirâmide da outra (RIELLA, 2018). O rim humano contém, em média, 14 lobos, sendo seis no polo renal superior, quatro no polo médio e quatro no polo inferior. Outro estudo, feito por Inke, propõe que o rim se forma a partir de quatro protolobos, que se dividem de maneira desigual, resultando em um número variável de lobos, sendo geralmente oito. A medula é constituída somente por túbulos e divide-se em duas regiões. A zona medular interna contém os ductos coletores (DC), as partes ascendente e descendente dos segmentos delgados das alças de Henle e os vasa recta. A zona medular externa é formada por duas faixas: a externa, composta pela porção terminal reta dos túbulos contornados proximais, pelos segmentos espessos da alça de Henle e pelos DC; e a interna, contendo os ramos ascendentes espessos e descendentes delgados das alças de Henle e os DC (RIELLA, 2018). Com cerca de 1 cm de espessura, o córtex contém túbulos e glomérulos. Nele, observam-se, a intervalos regulares, estriações denominadas raios medulares. Esses raios originam-se das bases das pirâmides e contêm túbulos coletores, ramos ascendentes da alça de Henle e as porções retas terminais dos túbulos contornados 13 proximais, cuja disposição em paralelo é responsável pelo aspecto estriado das pirâmides. Cada raio medular ocupa o centro de um lóbulo renal, uma pequena e cilíndrica área de córtex delimitada por artérias interlobulares. O termo lóbulo renal, apesar de descrito, não é muito empregado, uma vez que não se consegue definir uma importância anatomofuncional para ele. Alguns dos túbulos se unem para formar DC. Os DC maiores, ou ductos de Bellini, abrem-se no ápice da pirâmide, na papila renal, região que contém a área crivosa com cerca de 10 a 25 perfurações. A urina, que, a partir de então, drena, cai em um receptáculo chamado cálice menor (RIELLA, 2018). Até a 28ª semana de gestação, existem 14 cálices, de tal maneira que cada um deles se associa apenas a uma papila. Após esse período, dá-se início a um processo de fusão lobar, que pode prolongar-se até após o nascimento e que determina a diminuição do número de cálices e de papilas renais. O grau de fusão calicial é maior que o de fusão papilar, o que define o aparecimento de cálices compostos, ou seja, cálices que recebem mais de uma papila. Aparecem também papilas compostas, que drenam mais de um lobo. Esse processo mostra-semais evidente nos polos superior e inferior do rim, e, na região central, predominam os cálices e as papilas simples. As papilas simples apresentam extremidades convexas, enquanto as compostas, dependendo do número de fusões, dispõem de um formato circular, rígido, achatado ou até mesmo côncavo, predispondo ao surgimento do fenômeno do refluxo intrarrenal, relacionado na etiologia da pielonefrite crônica e da nefropatia do refluxo. Sequelas de pielonefrite são mais observadas nos polos renais, locais de maior ocorrência de papilas compostas. A porção do cálice menor que se projeta para cima, ao redor da papila, é chamada de fórnix e é importante porque os primeiros sinais de infecção ou obstrução ocorrem nesse nível. Os cálices menores unem-se para formar os cálices maiores (dois a quatro). Comumente, apenas três cálices são vistos no urograma excretor. Os cálices maiores, por sua vez, unem-se para formar um funil curvo, chamado pelve renal, que se curva no sentido medial e caudal para tornar-se o ureter em um ponto denominado junção ureteropélvica. 14 O ureter é um tubo muscular que se estende da pelve renal à bexiga urinária. Localiza-se no compartimento retroperitoneal e descende anteriormente ao músculo psoas. Em seu trajeto, apresenta algumas relações importantes com outras estruturas: é cruzado anteriormente pelos vasos gonadais; passa anteriormente à bifurcação da artéria ilíaca comum na entrada da pelve; e situa-se posteriormente ao ducto deferente no homem e posteriormente à artéria uterina na mulher. Essa última relação é especialmente importante nas cirurgias de histerectomia, em que o ureter pode ser inadvertidamente ligado ou clampeado com a artéria uterina. O ureter apresenta três segmentos nos quais a impactação de um cálculo é mais frequente: na junção ureteropiélica; na porção ureteral anterior à bifurcação das artérias ilíacas comuns; e na junção ureterovesical (RIELLA, 2018). Cada rim recebe uma artéria renal principal, que origina-se a da aorta no nível da primeira ou da segunda vértebra lombar. Em geral, a artéria renal direita se origina da aorta em um nível mais inferior em relação à esquerda e passa posteriormente à veia cava inferior. Em 20 a 30% dos casos, é possível haver artérias renais acessórias que, em geral, nutrem os polos inferiores dos rins. De modo geral, a artéria renal divide-se, no hilo, em um ramo anterior, que passa diante da pelve, e em um ramo posterior, que passa por trás. Esses ramos – anterior e posterior – dividem-se, por sua vez, em várias artérias segmentares que nutrirão os vários segmentos do rim. O ramo anterior divide-se em quatro artérias segmentares, que irrigarão o ápice do rim, os segmentos superior e médio da superfície anterior e todo o polo inferior, respectivamente. O ramo posterior nutre o restante do órgão. Essas artérias segmentares são artérias terminais, pois não há anastomoses entre seus ramos. Os ramos anteriores não se comunicam com os posteriores, oferecendo ao cirurgião uma linha de incisão no rim que sangra muito pouco. As artérias segmentares sofrem nova divisão, dando origem às artérias interlobares, as quais correm ao lado das pirâmides medulares e dentro das colunas renais. Na junção corticomedular, os vasos interlobares dividem-se para formar os vasos arqueados, que correm ao longo da base da pirâmide medular e dão origem às artérias interlobulares. Estas dirigem-se perpendicularmente em direção à cápsula do rim, e delas originam-se as arteríolas aferentes, que nutrem um ou mais glomérulos (RIELLA, 2018). As arteríolas aferentes dividem-se dentro de cada glomérulo, formando uma rede capilar. Em seguida, confluem-se e emergem do tufo capilar para formar as 15 arteríolas eferentes, que deixam o glomérulo e dão origem aos capilares peritubulares, no caso dos néfrons corticais, ou às arteríolas retas (vasa recta), quando do dos néfrons justamedulares. As arteríolas retas são vasos paralelos, relativamente sem ramos colaterais, que se estendem até a medula renal, onde originam os plexos capilares. Anatomicamente, a circulação venosa costuma seguir paralelamente o trajeto do sistema arterial. As veias são formadas perto da superfície do rim por confluência dos capilares do córtex. Elas drenam nas veias interlobulares e tornam- se veias arqueadas na junção do córtex com a medula. As vênulas retas na medula também drenam nas veias arqueadas, que, então, formam as veias interlobares. Estas drenam em veias segmentares, as quais, eventualmente, formam as veias renais. A veia renal esquerda recebe a veia adrenal esquerda e a veia gonadal esquerda, e passa inferiormente à artéria mesentérica superior antes de entrar na veia cava inferior. As veias adrenal e gonadal direita entram diretamente na veia cava inferior. A veia renal direita é menor e situa-se dorsalmente ao duodeno (RIELLA, 2018). Em virtude da migração dos rins durante seu desenvolvimento, a vascularização renal também apresenta um processo de transformação no qual as artérias mais inferiores regridem e novas artérias mais superiores surgem, acompanhando o trajeto renal. Quando as artérias inferiores não regridem, os rins podem apresentar artérias acessórias, as quais devem ser identificadas pela angiografia tomográfica antes de um procedimento cirúrgico renal. Frequentemente, potenciais doadores de rim são submetidos a esse procedimento antes do transplante para a identificação precisa da vascularização renal e avalição quanto à presença de artérias renais acessórias, as quais, em grande quantidade, podem dificultar a realização do transplante via laparoscópica. Figura 3 – Estrutura rim. 16 Fonte: Riella, 2018 p.6. O fluxo sanguíneo renal refere-se à quantidade total de sangue que percorre os rins pelas artérias renais. Em adultos, aproximadamente 1.300 ml de sangue circulam pelos dois rins a cada minuto (cerca de 25% do débito cardíaco), apesar de ambos constituírem menos de 0,5% do peso corporal total. Como será visto nos capítulos seguintes, a manutenção da filtração glomerular depende diretamente da manutenção de um alto fluxo sanguíneo pelos rins (RIELLA, 2018). 3.1 Néfron Unidade funcional do rim, o néfron é formado pelos seguintes elementos: o corpúsculo renal, representado pelo glomérulo e pela cápsula de Bowman; o túbulo proximal; a alça de Henle; o túbulo distal (TD); e uma porção do DC. Há aproximadamente 700.000 a 1,2 milhão de néfrons em cada rim. Os néfrons podem ser classificados como superficiais, corticais e justamedulares. Existe uma segunda classificação que os divide segundo o comprimento da alça de Henle, existindo néfrons com alça curta e longa. A maior parte dos néfrons é cortical e dispõe de uma alça de Henle curta, com o ramo delgado curto ou praticamente não existente. Apenas 17 12,5% dos néfrons são justaglomerulares, com os glomérulos na junção corticomedular, e têm longas alças de Henle, as quais apresentam longos ramos delgados (RIELLA, 2018). Figura 4 - Estrutura néfron. Fonte: Riella, 2018 p.15. A alça de Henle forma-se pela porção reta do túbulo proximal (pars recta), o segmento delgado e a porção reta do TD. Em razão das partes específicas do néfron localizadas em vários níveis da medula, é possível, como já indicado, dividir a medula em zonas interna e externa, esta última ainda separada em faixas interna e externa. Essas divisões têm importância quando se relaciona a estrutura renal com a capacidade do rim em concentrar o máximo de urina. Acredita-se que a capacidade máxima de concentração urinária está associada ao comprimento do sistema multiplicador. Como, no mamífero, as alças de Henle atuam como sistema 18 multiplicador, acredita-se em uma relação direta entre a capacidade máxima de concentração urinária e o comprimento da medula renal. 3.2 Glomérulo Essa porçãodo néfron se responsabiliza pela produção de um ultrafiltrado a partir do plasma. Forma-se por uma rede de capilares especializados (tufo glomerular) nutridos pela arteríola aferente e drenados pela arteríola eferente. Essa rede capilar projeta-se dentro de uma câmara que está delimitada por uma cápsula (cápsula de Bowman), que, por sua vez, dispõe de uma abertura comunicando a câmara diretamente com o túbulo contornado proximal. No hilo do glomérulo, passa a arteríola aferente, que se divide em quatro a oito lóbulos, formando o tufo glomerular. Aparentemente, existem anastomoses entre os capilares de um lóbulo, mas não entre lóbulos. Os capilares reúnem-se para formar a arteríola eferente, que deixa o glomérulo pelo mesmo hilo (RIELLA, 2018). O glomérulo apresenta cerca de 200 nm de diâmetro, e os glomérulos justamedulares, um diâmetro 20% maior em relação aos demais. Tem uma área de filtração ao redor de 0,136 mm2. Entram na sua composição as células epiteliais dos folhetos parietal e visceral da cápsula de Bowman e as respectivas membranas basais, uma rede capilar com células endoteliais e uma região central de células mesangiais circundadas por um material denominado matriz mesangial. A parede do capilar glomerular é formada por três camadas: 1.Células endoteliais, que dão origem à porção mais interna e representam uma continuação direta do endotélio da arteríola aferente. Esse prolongamento é também denominado lâmina fenestrada, pela característica peculiar dos citoplasmas das células endoteliais. 2.Uma membrana basal contínua que constitui a camada média. 3.Uma camada mais externa, formada de células epiteliais (podócitos), que constitui o folheto visceral da cápsula de Bowman. A membrana basal do capilar glomerular está formada por uma região central densa, denominada lâmina densa, e por duas camadas mais finas, menos densas, chamadas lâminas raras interna e externa. A espessura total da membrana basal está em torno de 310 nm.18 Em um estudo recente, verificou-se, em rins doados para 19 transplante, uma espessura de 373 nm para membranas basais glomerulares nos rins de homens e de 326 nm nos de mulheres. Não há evidência morfológica de que existam poros na membrana basal (RIELLA, 2018). O principal componente da membrana basal é uma molécula apolar do tipo procolágeno associada a glicoproteínas, sendo a molécula procolágeno composta de cadeias alfa ricas em hidroxiprolina, hidroxilisina e glicina. Um segundo componente seria uma fração não colágena, polar, representada por unidades de polissacarídios ligados à asparagina. O colágeno tipo IV representa o principal constituinte da fração colágena da membrana basal. Sua molécula, de aspecto helicoidal, forma-se pela união de três cadeias alfa, sendo duas delas idênticas entre si. Essa união inicia-se nas porções carboxiterminais dessas cadeias, por meio de pontes dissulfeto, onde não se tem o aspecto helicoidal, e continua em direção às porções aminoterminais em um formato de tripla hélice. Uma vez formado, o colágeno tipo IV é secretado e incorporado à matriz extracelular, envolvendo as células. Já foram identificados tipos diferentes de cadeias alfa formadoras de colágeno tipo IV. A cadeia alfa-1, codificada pelo gene COL4A1, e a cadeia alfa-2, codificada pelo gene COL4A2, ambos situados no cromossomo, aparecem no mesângio, na membrana basal glomerular (subendotelial), na cápsula de Bowman, na membrana basal tubular e nos vasos. As cadeias alfa-3 (codificada pelo gene COL4A3), alfa-4 (COL4A4, no cromossomo 2) e alfa-5 (COL4A5, no cromossomo X) aparecem na membrana basal glomerular (lâmina densa), na cápsula de Bowman e na membrana basal do TD (RIELLA, 2018). Alterações nessas cadeias podem levar ao surgimento de alterações estruturais com consequências mórbidas, como a síndrome de Alport, na qual se detectou a ausência das cadeias alfa-3 e alfa-4 na membrana basal glomerular, por uma mutação do gene da cadeia alfa-5. Essa mutação impede a formação do colágeno tipo IV, uma vez que as cadeias alfa-3 e alfa-4 necessitam da cadeia alfa-5 para formarem a tripla hélice. Como consequência, observam-se graus variados de malformação estrutural da membrana basal, com repercussões na filtração e na seletividade desta ao longo do tempo. Ao contrário dos outros tipos de colágeno, o colágeno tipo IV apresenta nas suas cadeias numerosas sequências Gly-X-Y, em que X e Y representam outros tipos 20 de aminoácidos, aumentando a flexibilidade da molécula. Além disso, o colágeno tipo IV não perde sua porção carboxiterminal após ser secretado pela célula, o que possibilita três tipos diferentes de interações entre as moléculas: porção carboxiterminal de uma molécula com a porção carboxiterminal de outra (head-to- head); porção carboxiterminal de uma com porção lateral da tripla hélice de outra; e, finalmente, porção aminoterminal de uma com porção aminoterminal de outras três moléculas (tail-to-tail). Com isso, tem-se a formação de uma rede poligonal, não fibrilar e flexível que servirá de arcabouço para o depósito de glicoproteínas e para a fixação das células. Colágeno tipo V, laminina, fibronectina e entactina/nidógeno também foram identificados na membrana basal. Dados recentes indicam que a membrana basal do glomérulo apresenta locais fixos de cargas negativas capazes de influenciar a filtração de macromoléculas. Ela seria a principal responsável pela seletividade da filtração glomerular, possibilitando ou não a passagem de moléculas, de acordo com a carga elétrica e com o tamanho destas. Em um experimento, empregando-se o processo de digestão enzimática, retiraram-se os glicosaminoglicanos ricos em heparan sulfato, presentes no lado aniônico da membrana basal, e notou-se um aumento da permeabilidade à ferritina e à albumina sérica em bovinos. 3.3 Túbulo proximal Com cerca de 14 nm de comprimento, inicia-se no polo urinário do glomérulo, forma vários contornos próximos ao glomérulo de origem e, depois, desce, sob a forma de segmento reto, em direção à medula. Em geral, o segmento inicial denomina-se pars convoluta e o mais distal, pars recta, constituindo esta última parte dos raios medulares. As células da pars convoluta são colunares e apresentam um bordo em escova, em virtude das projeções da membrana plasmática, denominadas microvilos. Há numerosas mitocôndrias alongadas, estendendo-se da base ao ápice da célula, com ramificações e anastomoses entre si. Essas células também dispõem de numerosos processos interdigitais laterais de outras células, o que aumenta o espaço intercelular. A microscopia eletrônica revela numerosas mitocôndrias de forma alongada, situadas dentro desses compartimentos formados pelos processos 21 interdigitais entre células adjacentes. Como resultado dessa extensa interdigitação lateral entre células adjacentes, forma-se um complexo compartimento extracelular, denominado espaço intercelular lateral. Esse espaço intercelular está separado do lúmen tubular por uma estrutura especializada, localizada na parte superior do espaço e denominada tight junction ou zonula occludens. O túbulo proximal promove uma reabsorção, quase isosmótica, de dois terços do ultrafiltrado, acoplada a transporte ativo de sódio. Tanto o transporte transcelular quanto o paracelular são importantes no transporte de NaCl no túbulo proximal. Qualquer doença que afete essa região causa um desequilíbrio hidreletrolítico importante. As células do túbulo contornado proximal apresentam um sistema vacúolo-lisossomal muito bem desenvolvido. Assim, são importantes funções da pars convoluta e, em menor grau, da pars recta a reabsorção e a degradação de várias macromoléculas, inclusive a albumina e as proteínas de baixo peso molecular do filtrado glomerular. As proteínas são reabsorvidas, levadas ao lisossomo e degradadas. A reabsorçãodá--se com o transporte ativo de sódio, constituindo um transporte ativo secundário. Trata-se de um processo seletivo determinado pela carga elétrica e pela distribuição dessa carga na molécula, além do tamanho e da configuração moleculares da proteína (RIELLA, 2018). 3.4 Alça de Henle A transição entre o túbulo contornado proximal e o segmento delgado da alça de Henle é abrupta e marca a divisão entre as faixas externa e interna da zona externa da medula. As células do segmento delgado ascendente têm aspecto morfológico distinto do das células do segmento delgado descendente. Estas últimas são mais complexas, irregulares na configuração e apresentam extensas interdigitações entre si. Esse segmento delgado da alça de Henle tem grande importância no mecanismo de concentração da urina, participando do mecanismo de contracorrente e promovendo um interstício medular hipertônico. O segmento ascendente é relativamente impermeável à água, mas bastante permeável ao sódio e ao cloro, enquanto, no segmento descendente, a água passa passivamente para o interstício hipertônico, e sódio e cloro praticamente não passam. Não há evidências de que, nesses segmentos delgados, haja um transporte ativo de 22 sódio e cloro. Estudos recentes indicam que a concentração de urina na medula interna é um processo puramente passivo, embora o debate ainda persista. Verificou- se que a saída de sódio e cloro do segmento ascendente é maior que a entrada de ureia, o que ajuda na formação do gradiente osmótico da medula interna (RIELLA, 2018). 3.5 Túbulo distal Constitui-se por meio do segmento ascendente espesso da alça de Henle (pars recta), da mácula densa e do túbulo contornado distal (pars convoluta). A pars recta atravessa a medula externa e sobe no raio medular do córtex até ficar em contato com o seu próprio glomérulo. Essa porção tubular contígua ao glomérulo forma a mácula densa. As células nesse segmento aumentam de altura, tornando-se cuboides na parte média do segmento. A transição entre o segmento ascendente delgado e o segmento espesso marca a divisão entre zona externa e zona interna da medula. A pars recta apresenta um alto metabolismo, sendo especialmente sensível à isquemia. Nos processos laterais de suas células e próximo à membrana basal, aparecem muitas mitocôndrias alongadas, contendo vários tipos de filamento e inclusões cristalinas. A principal função da pars recta encontra-se no transporte de cloreto de sódio (transporte ativo de sódio, ATPase sódio/potássio, e passivo de cloro) para o interstício, função muito importante para o mecanismo de contracorrente. Além do cotransporte Na-K--2Cl, esse segmento dispõe de canais de potássio apicais e tight junctions seletivas a cátion, pelas quais a reabsorção de cálcio e magnésio procede. A pars recta tem sua atividade influenciada por hormônios, como paratormônio (PTH), vasopressina, calcitonina e glucagon, pela ativação do sistema adenilato ciclase. O PTH estimula a reabsorção de cálcio e magnésio no segmento ascendente, parte cortical (RIELLA, 2018). A pars convoluta estende-se da mácula densa ao início do DC. As células desse segmento são muito semelhantes às da pars recta. A relação entre a estrutura e a função nesse segmento do néfron é um pouco complicada, pela diferente terminologia usada por anatomistas e fisiologistas. Para os 23 fisiologistas dedicados à micropunção, o TD é definido como aquela região do néfron que se inicia após a mácula densa e se estende até a junção com outro TD. Mas, em muitas ocasiões, o segmento cortical do ramo ascendente da alça de Henle se estende além da mácula densa, além de haver evidência anatômica para a presença de uma região de conexão ou transição entre a pars convoluta do TD e o DC. Dessa maneira, o TD pode ser formado por quatro tipos diferentes de epitélio. Em geral, a porção inicial do TD corresponde ao túbulo contornado distal ou pars convoluta do anatomista. Este tem a maior atividade sódio/potássio ATPase, em comparação aos demais segmentos. Apresenta, também, muitas mitocôndrias e está associado à reabsorção de cálcio e magnésio, apresentando, em estudos histoquímicos, uma elevada reatividade imunológica para uma proteína carreadora de cálcio, vitamina – D dependente. A porção mais distal do TD está representada pelo túbulo conector e pela primeira porção do DC, habitualmente referida como túbulo coletor inicial (RIELLA, 2018). O túbulo conector é uma região de transição e parece estar envolvido na secreção de potássio, pelo menos em parte, regulada por mineralocorticoides, e na secreção de íons H+. 3.6 Ducto coletor Deriva-se do broto ureteral. De acordo com a sua localização no rim, costuma- se dividir o DC em três segmentos: segmento coletor cortical e segmentos medulares interno e externo. O segmento coletor cortical está formado, no início, pelo túbulo coletor, continuando, depois, com uma porção arqueada e medular. O segmento medular interno termina na papila. A célula mais abundante no DC é uma célula clara, contendo um núcleo central cercado por um citoplasma claro e um pequeno número de mitocôndrias. Outro tipo de célula encontrado é uma célula escura ou intercalada, de citoplasma escuro com numerosas mitocôndrias. Estudos imunohistoquímicos demonstraram altos níveis de atividade da anidrase carbônica nessas células, sugerindo que elas estejam envolvidas no processo de acidificação da urina. As funções do DC são muitas, embora, às vezes, seja difícil separá-las das funções do túbulo contornado distal. Juntos, DC e túbulo contornado distal formam o 24 néfron distal, no qual ocorrem vários processos fisiológicos: reabsorção de bicarbonato; secreção de hidrogênio; reabsorção e secreção de potássio; secreção de amônia; reabsorção de água etc. Uma evidência experimental documenta nitidamente que todo DC reabsorve água sob a influência de vasopressina Na presença de vasopressina, sendo a água reabsorvida do interior do DC, há uma maior concentração de ureia no interior do DC, cujos segmentos cortical e medular são impermeáveis à ureia. Os segmentos medulares interno e papilar são permeáveis à ureia, facilitando a passagem desta para o interstício medular, fato muito importante no mecanismo de concentração de urina. Além disso, há evidência de que o DC participa da reabsorção de cloreto de sódio, secreção ou reabsorção de potássio, secreção de íons hidrogênio e do processo de acidificação urinária, como já citado (RIELLA, 2018). 4 FISIOLOGIA RENAL O rim desempenha um papel exócrino ao formar a urina, além de exercer funções endócrinas por meio de células secretoras específicas. Sua principal função é manter a homeostase do meio interno, que é realizada pela formação de urina na unidade funcional básica chamada néfron. O néfron consiste em um conjunto de estruturas vasculares e renais responsáveis pela produção de urina (GUYTON; HALL, 2002; NETTER, 2015). Cada rim possui mais de um milhão de néfrons, e os processos de filtragem, reabsorção e parte da excreção ocorrem por meio dessas estruturas. No entanto, nem todos os néfrons funcionam simultaneamente, uma vez que essa atividade varia de acordo com o ritmo da função renal, com néfrons ativos e em repouso. Portanto, o rim possui uma reserva funcional que é utilizada em situações de sobrecarga renal (GUYTON; HALL, 2002). A porção anatômica do néfron consiste em uma rede de túbulos responsável pelo transporte do filtrado. Esses túbulos são envolvidos por capilares sanguíneos que promovem a reabsorção de elementos essenciais para o organismo, como glicose e água. O córtex renal abriga uma porção funcional do rim, enquanto a medula é responsável pela produção da urina. A filtragem tem início na artéria renal, originada na artéria aorta abdominal, que penetra no rim através do hilo e chega ao córtex por 25 meioda arteríola aferente, conectada ao glomérulo renal e sensível ao fluxo sanguíneo, secretando a renina. O glomérulo é uma estrutura protegida na cápsula de Bowman, composta por vários capilares entrelaçados, proporcionando uma grande área superficial em um espaço reduzido. A pressão sanguínea dentro do glomérulo (entre 60 e 80 mm/Hg) é maior do que na circulação do resto do corpo (13 mm/Hg). Essa pressão comprime a entrada do líquido nas estruturas tubulares do néfron. A estrutura do néfron está distribuída entre o córtex e a medula renal e é composta pelos seguintes segmentos: Cápsula de Bowman; Túbulos contorcidos proximal e distal sem córtex; Alça de Henle; Túbulo coletor na medula renal. A cápsula de Bowman participa do primeiro processo de filtragem, pois o conteúdo do glomérulo é aspirado para a cápsula. O filtrado extraído do tecido sanguíneo pelo glomérulo é composto pelos seguintes elementos: [elementos mencionados no texto original]. Água (H2O); Cloro (Cl); Sódio (Na); Potássio (K); Bicarbonato (HCO3); Aminoácidos; Glicose; Creatinina; Ureia. Elementos maiores como glóbulos, plaquetas e proteínas plasmáticas não entram na cápsula e saem pela arteríola eferente, permanecendo na corrente sanguínea sem passar pelos néfrons. A arteríola eferente tem musculatura lisa desenvolvida; porém as contrações, que estimulam o fluxo de líquidos, ocorrem por influência de substâncias vasoativas ou sobre a ação do sistema nervoso autônomo. Todo conteúdo líquido que passa pela cápsula de Bowman e segue pelos túbulos recebe o nome de filtrado glomerular. 26 A primeira parte dos túbulos chama-se túbulo contorcido proximal, que possui a forma de uma serpentina; isso faz com que o filtrado passe devagar e permaneça mais tempo na estrutura, assim é feita a primeira parte da reabsorção. Todos os aminoácidos e a glicose (100%) serão reabsorvidos nessa etapa; além de HCO3 (90%), H2 O, Na, Cl e K (65–70%). O conteúdo reabsorvido sai do túbulo contorcido proximal, passando por capilares sanguíneos, e segue para a arteríola eferente, retornando para a circulação sanguínea. O túbulo contorcido proximal contém células epiteliais com grande quantidade de mitocôndrias para sustentar os vigorosos processos de transporte ativo. Nas bordas, esse segmento apresenta moléculas proteicas transportadoras, que possibilitam o mecanismo de transporte de sódio ligado a nutrientes orgânicos (aminoácidos e glicose). O restante do filtrado que não foi reabsorvido irá para a próxima estrutura, a alça de Henle. Essa alça tem duas porções: a descendente, onde o filtrado desce, e a ascendente, onde o filtrado sobe. Nesse segmento também ocorre o processo de reabsorção (capilares e arteríola eferente). Na porção ascendente, o NaCl (25%) é reabsorvido. Essa porção só é permeável ao cloreto de sódio. A porção descendente, por sua vez, só é permeável à água e faz a sua reabsorção (25%). Assim, pode-se dizer que a alça de Henle vai gerar um equilíbrio químico, pois o excesso de NaCl em uma porção vai estimular a reabsorção de água em outra, por meio da osmose. O que não será absorvido na alça de Henle irá seguir para a próxima estrutura, o túbulo contorcido distal, onde ocorre a reabsorção de NaCl e H2O (5%) (capilares e arteríola eferente). O restante do filtrado que não for reabsorvido será excretado; ou seja, o excesso de água, de cloreto de sódio, de creatinina e de ureia, é encaminhado para o túbulo coletor que é conectado aos cálices renais (menores e maiores), à pelve renal e ao ureter. O túbulo coletor também exerce certa capacidade de reabsorção de eletrólitos e ureia participando dos processos de concentração e diluição da urina. No túbulo coletor, são encontradas as células intercalares que secretam o íon H+ ou HCO3 e conferem ao rim equilíbrio ácido-base; e as células principais, que reabsorvem sódio e secretam potássio sob o controle dos hormônios aldosterona e arginina vasopressina, que é o hormônio antidiurético (origem na neuro-hipófise). 27 A maior importância da fisiologia renal é a manutenção da homeostase do meio interno, atividade realizada pelo rim e que envolve os seguintes passos: Controle e manutenção do conteúdo de água corporal; Manutenção da osmolaridade extracelular; Manutenção da concentração de eletrólitos; Manutenção da concentração de íons hidrogênio (pH); Manutenção da concentração de metabólitos. Essa ação renal permite a manutenção e o controle da pressão arterial, ocasionados por meio de processos de depuração plasmática renal, de absorção e de reabsorção tubular de água, açúcares, vitaminas, sais minerais e, por fim, de formação do produto final a ser excretado: a urina (GUYTON; HALL, 2002; EATON; POOLER, 2016). Fatores reguladores da função renal A funcionalidade renal é um dos fatores responsáveis por equilibrar o conteúdo de água e de sódio no corpo humano, o que influencia diretamente no volume e na pressão arterial média do sangue. Os rins recebem 10% do débito cardíaco em repouso; esse volume pode ser utilizado para manter a circulação (encefálica e coronária) em condições críticas no caso de um choque circulatório. O fluxo sanguíneo renal (FSR) é controlado pelo sistema nervoso autônomo por rotas endócrinas e neurais. Na rota neural, as arteríolas glomerulares são inervadas e ativadas quando a pressão arterial média cai. Essa ativação aumenta a resistência vascular por limitar o fluxo sanguíneo nos rins, causando constrição na arteríola eferente, que reduz o FSR e mantém a taxa de filtração glomerular (TFG) em níveis que asseguram a função renal. O estímulo neural intenso diminui o fluxo sanguíneo nas arteríolas glomerulares e a formação de urina é interrompida. Em casos de hemorragia severa, pode agravar a situação do suprimento sanguíneo das arteríolas, podendo causar infarto e insuficiência renal. Na rota endócrina, o FSR é regulado pela adrenalina e por um peptídeo natriurético atrial (PNA). A liberação da adrenalina na circulação sanguínea estimula as rotas de noradrenalina que apresenta suas principais ações no sistema 28 cardiovascular e está relacionada com o aumento do influxo celular de cálcio, além disso, a noradrenalina mantém a pressão sanguínea em níveis normais. O PNA é liberado pelos átrios cardíacos quando eles apresentam estresse por elevados volumes sanguíneos, resultando no aumento do FSR e da TFG e na excreção de água e de sódio. A regulação hormonal na reabsorção e na secreção de íons envolve a angiotensina II e a aldosterona. Nos túbulos contorcidos proximais, a angiotensina II aumenta a reabsorção de Na+ e Cl–. Em adição, a angiotensina II estimula a liberação de aldosterona pelo córtex suprarrenal, um hormônio que age nas células tubulares da última porção do túbulo contorcido distal, estimulando-as a reabsorverem Na e Cl e a secretarem mais K+. Quanto mais Na e Cl forem reabsorvidos, mais água também é reabsorvida por osmose (TORTORA; DERRICKSON, 2016). Na absorção de água, o hormônio atuante é o antidiurético (ADH), por meio de retroalimentação negativa. Quando a concentração de água no sangue diminui, osmorreceptores que estão no hipotálamo (encéfalo) estimulam a neuro-hipófise a secretar o ADH, que irá agir nas células tubulares presentes dos túbulos contorcidos distais e ao longo dos túbulos coletores. Quando não há secreção do ADH, os túbulos têm pouca permeabilidade, portanto esse hormônio aumenta a permeabilidade das células tubulares à água e, assim, a água se move do líquido tubular para as células e, em seguida, para o sangue. Os rins produzem, aproximadamente, de 400 a 500 mL de urina concentrada por dia, quando a concentração de ADH é máxima (durante uma desidratação grave). No entanto, quando o nível de ADH diminui, os canais de água sãoremovidos das membranas. Os rins produzem um grande volume de urina diluída quando o nível de ADH é baixo (EATON; POOLER, 2016). O nível de cálcio no sangue abaixo do normal estimula as glândulas paratireoides a liberar o paratormônio (PTH), que estimula as células dos túbulos contorcidos distais a reabsorverem mais cálcio no sangue. Além disso, esse hormônio inibe a reabsorção de fosfato nos túbulos contorcidos proximais, promovendo a excreção de fosfato. Algumas teorias sugerem a autorregulação do sistema (GUYTON; HALL, 2002; EATON; POOLER, 2016), que podem ser observadas a seguir. Teoria da miogênica — o aumento da pressão arterial média provoca estímulo na musculatura lisa da arteríola aferente levando à vasoconstricção 29 e à redução na filtração glomerular. Em contrapartida, provoca relaxamento na musculatura da arteríola aferente, levando à vasodilatação e aumentando a filtração glomerular. Teoria do metabolismo — indica que a redução do fluxo sanguíneo provoca o acúmulo de substâncias vasodilatadoras (cininas, prostaglandinas) que, como consequência, provocam o aumento do fluxo sanguíneo. O contrário também funciona, pois, um aumento de fluxo faz com que ocorra uma rápida drenagem de substâncias vasodilatadoras, diminuindo a vasodilatação e reduzindo o fluxo sanguíneo. Teoria da mácula densa — indica que, na porção final da alça de Henle, existe uma porção chamada mácula densa. Ela capta as alterações na concentração de sódio (quanto mais sódio, mais elevada é a TFG) e envia estímulo para a arteríola aferente gerando vasoconstricção. Com isso, diminui o fluxo sanguíneo e a TFG. Quando ocorre a diminuição da concentração de sódio, acontece o inverso, há o aumento da TFG. 5 PATOLOGIAS DO SISTEMA RENAL As doenças renais graves representam um problema significativo de saúde em todo o mundo, sendo uma das principais causas de óbito e incapacidade. Essas doenças podem ser classificadas em duas categorias principais: doença renal crônica e doença renal aguda. A doença renal crônica é caracterizada por uma queixa progressiva e irreversível da função renal ao longo do tempo. Pode ser causado por condições como diabetes, hipertensão arterial, infecções recorrentes, obstruções crônicas e doenças autoimunes. A doença pode levar a complicações graves, como insuficiência renal, necessitando de terapia renal substitutiva, como diálise ou transplante renal. Por outro lado, a doença renal aguda ocorre de forma súbita e apresenta uma redução abrupta na função renal. Pode ser desencadeada por condições como lesões renais, infecções graves, hipoperfusão renal ou uso de certos medicamentos. A doença renal aguda é uma emergência médica que requer cuidados imediatos para evitar complicações graves, como a crise renal aguda. Ambas as formas de doenças renais graves podem causar sintomas como edema, fadiga, alterações na urina, hipertensão arterial e desequilíbrios eletrolíticos. 30 O diagnóstico e tratamento automatizado são fundamentais para o manejo dessas doenças, incluindo o controle de condições subjacentes, medidas de estilo de vida saudável, terapia medicamentosa e intervenção renal específica, conforme necessário. Em resumo, as doenças renais graves são uma preocupação global de saúde, com consequências para os pacientes. Compreender as diferentes categorias, como a doença renal crônica e a doença renal aguda, é essencial para o diagnóstico precoce, o tratamento adequado e a prevenção de complicações graves. A adoção de medidas preventivas e o manejo adequado das condições subjacentes são fundamentais para reduzir a incidência e o impacto dessas doenças na saúde pública (GUYTON, 2011). Insuficiência renal aguda: na qual os rins subitamente param de funcionar de modo total ou quase total, mas que podem, em período futuro, recuperar o funcionamento quase normal, e Insuficiência renal crônica: na qual ocorre perda progressiva da função de número crescente de néfrons que de modo gradual vão diminuindo a função geral dos rins. Dentro dessas duas categorias gerais existem muitas doenças renais específicas capazes de afetar os vasos sanguíneos, os glomérulos, os túbulos, o interstício renal e partes do trato urinário fora dos rins, incluindo ureteres e bexiga (GUYTON, 2011). 5.1 Insuficiência renal aguda A insuficiência renal aguda (IRA) é uma síndrome caracterizada pela rápida e persistente deterioração da função renal, resultando na incapacidade dos rins de excretar produtos nitrogenados e manter a homeostase hidroeletrolítica. Embora seja uma síndrome com alta prevalência e morbimortalidade, ainda não existe consenso quanto ao diagnóstico e classificação de gravidade da insuficiência renal aguda (TITAN, 2013). Um dos principais desafios no diagnóstico da IRA é a falta de marcadores sensíveis e específicos da função renal. A creatinina sérica é o teste mais comumente utilizado para avaliar a função renal, mas possui algumas desvantagens, pois só se 31 eleva acima dos limites normais quando a taxa de filtração glomerular está abaixo de 50% e é influenciada pela massa muscular, idade, sexo e raça. Em pacientes ambulatoriais, existem outras formas mais precisas de medir a taxa de filtração glomerular, como a depuração de creatinina ou ureia endógena, ou até mesmo fórmulas que estimam a taxa de filtração glomerular com base na creatinina sérica, levando em consideração outras variáveis como sexo, idade, raça, peso corporal e albumina sérica. Um exemplo é a equação de Cockcroft-Gault: Clearance estimado de creatinina = (140 – Idade) x peso / 72 x Creatinina Obs: o valor obtido deve ser multiplicado por 0,85 para o cálculo em mulheres. No entanto, para pacientes com insuficiência renal aguda (IRA), especialmente em ambientes de terapia intensiva, existem reservas na aplicação dessas fórmulas. Por exemplo, a creatinina sérica não mantém um valor estável durante a IRA, podendo ser normal mesmo na presença de uma diminuição significativa na taxa de filtração glomerular em pacientes com baixa massa corporal, ou sua dosagem pode ser estabilizada por interferentes. A ureia, outro marcador comumente utilizado, pode não refletir a queda na taxa de filtração glomerular quando aumenta, pois, também ocorre em casos de aumento do catabolismo proteico (como infecção, sangramentos no trato digestivo, uso de corticosteróides ou ingestão nutricional) (TITAN, 2013). Na prática, apesar das restrições mencionadas, uma definição amplamente utilizada para o diagnóstico de IRA é o aumento de 0,5 mg/dL na creatinina sérica para pacientes cujo valor basal seja igual ou inferior a 1,5 mg/dL, e um aumento de 25% nos seus valores para aqueles cuja creatinina sérica basal seja superior a 1,5 mg/dL. A creatinina, apesar de suas limitações no diagnóstico de IRA, é um excelente parâmetro para monitorar a função renal após o diagnóstico, uma vez que variações nos seus níveis refletem variações na taxa de filtração glomerular. De fato, existem estudos que mostram uma positiva entre pequenos aumentos nos níveis de creatinina sérica e um aumento na mortalidade dos pacientes (TITAN, 2013). Fisiopatologia da Insuficiência renal aguda 32 A insuficiência renal aguda pré-renal ocorre como uma resposta regulatória do rim à diminuição do fluxo sanguíneo renal, seja devido a uma hipovolemia absoluta (como sangramentos ou diarreia) ou hipovolemia relativa (como sepse, insuficiência cardíaca ou doença hepática). Essa é a causa mais comum de insuficiência renal aguda. Em resposta às alterações na pressão de perfusão renal, ocorre a autorregulação do fluxo sanguíneo renal e da taxa de filtração glomerular por meio de mudança neuro-humorais que levam à vasodilatação das arteríolas aferentes e à vasoconstrição das arteríolas eferentes (TITAN, 2013). Alterações no fluxo sanguíneorenal que superam a capacidade de autorregulação e/ou o uso de medicamentos que interfiram nesse mecanismo (como anti-inflamatórios não esteroides – AINE’s - e inibidores da enzima conversora de angiotensina - IECA) resultam na redução da taxa de filtração glomerular e, consequentemente, na insuficiência renal aguda pré-renal. Geralmente reversível e sem manifestação histológica, essa condição pode progredir para necrose tubular aguda isquêmica se não for tratada de acordo. A insuficiência renal aguda pode ter origem isquêmica ou nefrotóxica. A principal causa é a necrose tubular aguda, que, juntamente com a crise renal aguda pré-renal, é responsável por aproximadamente 75% dos casos de crise renal aguda. Sua patogênese envolve alterações no endotélio, vasoconstrição, e na estrutura e composição bioquímica das células tubulares, levando a alterações em sua função e à morte celular, tanto por necrose quanto por apoptose. Uma vez estabelecida, ocorre a descamação do epitélio tubular, retenção intraluminal e vazamento trans tubular do filtrado glomerular. Todo esse processo está associado ao recrutamento e ativação de células inflamatórias. A recuperação da função renal requer a depuração das células tubulares inviáveis e dos detritos. A Insuficiência Renal Aguda (IRA) pós-renal, que ocorre após a formação do filtrado glomerular, pode ser classificada como intrarrenal, quando há retenção do fluxo do líquido tubular, ou extra renal. A presença de precipitação intratubular de cristais insolúveis ou proteínas resulta na formação de obstruções dentro dos túbulos, aumentando a pressão intratubular. Isso, por sua vez, contrapõe a pressão hidrostática glomerular, levando a uma redução na pressão de ultrafiltração e na taxa de filtração glomerular. 33 Da mesma forma, a proteção das vias urinárias em qualquer nível extra-renal, como pelve, ureteres, bexiga e uretra, pode levar à IRA pós-renal. É importante lembrar que, no caso de preservação da pelve ou do ureter, a IRA só ocorre quando a preservação é bilateral ou quando ocorre em um rim único funcional. A reversibilidade da IRA pós-renal depende da duração do tratamento e intensidade da paralisia, o que destaca a importância de um rápido. Mesmo que haja perda de função renal, a IRA é denominada não oligúrica, o que é comum na necrose tubular aguda nefrotóxica. A anúria súbita, definida como uma produção de urina inferior a 50 mL em 24 horas, é incomum e sugere a ocorrência de preservação pós-renal total, trombose arterial bilateral, trombose venosa bilateral ou necrose cortical (TITAN, 2013). O quadro clínico da Insuficiência Renal Aguda (IRA) apresenta uma grande variedade de sintomas. Praticamente todos os órgãos e sistemas do organismo podem ser afetados como resultado da uremia, hipervolemia ou distúrbios hidroeletrolíticos. A elevado dos níveis de ureia e outras emoções está associada à disfunção celular em diversos sistemas: Neurológico: a encefalopatia urêmica é uma manifestação comum da IRA. Ela pode variar desde formas sutis, como alterações intelectuais e de memória, até casos mais graves, com sintomas como alterações sensoriais, hiporreflexia, tremores, mioclonias, convulsões, estado de mal epiléptico e coma. Cardiovascular: a uremia pode levar ao desenvolvimento de pericardite, com risco de tamponamento cardíaco e motorização da função cardíaca, o que é conhecido como miocardiopatia urêmica. Além disso, podem ocorrer complicações congestivas e hipertensivas. Hematológico: equimoses e outros tipos de sangramento podem ocorrer devido à redução da adesividade plaquetária. A anemia também é frequente e secundária à deficiência de eritropoietina e à diminuição da vida útil das hemácias. Gastrintestinais: anorexia progressiva, náuseas e vômitos são sintomas comuns da IRA. 34 Respiratório: a pleurite e a pneumonite podem ocorrer, sendo esta última mais rara. Outra manifestação comum é o praticante de Kussmaul, que ocorre devido à presença de acidose. Esses são apenas alguns exemplos dos efeitos sistêmicos que podem ser observados na IRA, evidenciando uma ampla gama de complicações que podem surgir em decorrência da disfunção renal aguda. Com a diminuição da produção de urina, ocorre um desequilíbrio diário positivo de água e sódio, levando ao aumento progressivo de peso, edema e congestão. A hipervolemia é frequentemente acompanhada por hipertensão, podendo atingir níveis extremos e resultar em emergências hipertensivas. Os quadros congestivos podem ser graves, levando ao desenvolvimento de edema agudo de pulmão e insuficiência respiratória aguda. Além disso, é comum que a IRA afete pacientes com doenças cardíacas preexistentes, e a própria uremia agrava o desempenho do coração, tornando as complicações congestivas muito comuns. A hipervolemia também pode ocorrer devido a uma expansão intensa de volume, que é recomendada apenas para o tratamento precoce da sepse (TITAN, 2013). Distúrbios hidroeletrolíticos A Insuficiência Renal Aguda (IRA) apresenta uma série de alterações eletrolíticas, sendo as mais comuns: Hiponatremia, que apresenta risco de alterações sensoriais; Hipercalemia, que apresenta risco de arritmias cardíacas; Acidose metabólica, responsável pelas náuseas, piora da hipercalemia e risco de arritmias; Hiperfosfatemia, hipocalcemia e hiperuricemia, semelhantes ao que é observado em nefropatias crônicas; Menos comumente, a hipercalcemia (um IRA causado por rabdomiólise pode inicialmente apresentar hipocalcemia e, posteriormente, hipercalcemia). 35 5.2 Insuficiência renal crônica O termo "insuficiência renal crônica" foi substituído pelo termo "doença renal crônica" (DRC), que engloba condições em que ocorre uma perda gradual da função renal, bem como condições em que há lesão renal com preservação da função. Diversas doenças sistêmicas e renais primárias resultam em uma agressão lenta ao parênquima renal, que acaba sendo substituída por tecido fibroso, uma lesão irreversível (TITAN, 2013). A DRC é definida como uma lesão renal que persiste por menos de três meses, com anormalidades tardias ou funcionais, independentemente de uma diminuição na FG, manifestada por: Anormalidades histopatológicas renais; Marcadores de lesões renais, como anormalidades urinárias (proteinúria), anormalidades sanguíneas (síndromes tubulares renais) e alterações em exames de imagem (hidronefrose); FG < 60 mL/min/1,73 m² por pelo menos três meses. A RDC se tornou um problema de saúde pública, com um aumento significativo em sua prevalência e incidência. Diversos fatores contribuíram para isso, sendo especialmente importantes o aumento da prevalência de obesidade, diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica, tabagismo e sedentarismo. Medidas de prevenção primária e secundária são urgentes e estão sendo intensamente concentradas. A criação de uma classificação pela National Kidney Foundation foi uma resposta à necessidade de padronizar a terminologia internacional. Se não for tratado, a DRC progride para insuficiência renal terminal, acarretando uma morbimortalidade elevada, principalmente devido ao alto risco cardiovascular, piora da qualidade de vida e altos custos para o sistema de saúde. Por outro lado, pacientes que submetidos a terapia renal substitutiva (TRS) seguem um acompanhamento rigoroso e especializado, de modo que a diálise (ou transplante) seja seguido visando à melhoria da qualidade de vida (TITAN, 2013). Tabela 1 – Classificação da DRC. 36 FASES DESCRIÇÃO DEPURAÇÃO DA CREATININA (mL/min/1,73m2 AÇÃO (INCLUINDO AS PRECEDENTES). Aumento de risco >90 e fatores de risco para DRC. Rastreamento e redução de DRC. 1 Lesão renal com RFG normal ou aumentado. >90 Diagnóstico e tratamento, tratamento de comorbidade, redução na progressão, reduçãode risco cardiovascular. 2 Redução discreta no RFG 6 a 89. Estimativa de progressão. 3 Redução moderada no RFG 30 a 59. Avaliação e tratamento das complicações. 4 Redução grave no RFG 15 a 29. Preparação para Terapia substitutiva renal 5 Falência renal < 15 (ou diálise). Terapia substitutiva Diagnostico por história clínica e/ou presença de hematúria glomerular e/ou proteinúria (microalbuminúrica, proteinúria glomerular ou tubular). Diversas doenças podem causar DRC. Essas doenças podem ser classificadas em: 1. Primarias (glomerulonefrites, doenças císticas renais, doenças tubuloin tersticiais, etc.) ou secundárias (diabetes melito, HAS, lúpus eritematoso sistêmico, hepatite B, C, HIV, etc.). 2. Localização anatômica: patologias glomerulares, tubuloin tersticiais, vasculares, obstrutivas ou tumorais. 3. Adquiridas ou hereditárias. Entre todas as causas, a nefropatia diabética, a nefropatia hipertensiva, as glomerulonefrites crônicas e a doença renal policística são as etiologias mais frequentes. Fisiopatologia da Insuficiência renal crônica A função principal do rim é manter a composição do meio extracelular preservada até que haja uma perda significativa da massa renal. Quando isso ocorre devido a uma doença ou ablação fisiológica, os néfrons remanescentes respondem fisiologicamente com hipertrofia e hiperfluxo compensatórios. A redução da massa renal não apenas leva a um aumento significativo na função dos néfrons 37 remanescentes, mas também afeta os túbulos, responsáveis pelo fino da excreção de água, eletrólitos, ajuste e produtos do catabolismo proteico (TITAN, 2013). O regime de hiperfluxo, inicialmente aprovado, acarreta uma série de alterações patogênicas que podem resultar em glomeruloesclerose, fibrose tubulointersticial e, consequentemente, perda progressiva da função renal. Essa lesão de natureza hemodinâmica ainda é considerada o principal mecanismo patogênico nas nefropatias crônicas em geral. A lesão hemodinâmica não ocorre apenas por lesão mecânica, mas também por uma ativação contínua de uma série de mediadores inflamatórios. A lesão na célula endotelial afetou também as células mesangiais e podocitárias, desencadeada na ativação de vias inflamatórias, aumentada na expressão de citocinas e fatores de crescimento, estresse oxidativo e recrutamento de células inflamatórias. Em última instância, esse processo inflamatório inflamado resulta em glomeruloesclerose e fibrose tubulointersticial. Existem doenças em que a lesão hemodinâmica não é a forma principal de agressão. Em muitas glomerulonefrites, a agressão imunológica predomina através de vários mecanismos: deposição de imunocomplexos, formação in situ desses complexos, ativação do complemento, agressão imunocelular ou mesmo mecanismos humorais não mediados por imunocomplexos. No entanto, uma vez que o insulto é iniciado e ocorre uma lesão significativa do parênquima renal, a lesão hemodinâmica passa a ser importante devido à sobrecarga e hipertensão intraglomerular nos néfrons remanescentes (TITAN, 2013). A proteinúria, que anteriormente era vista apenas como um marcador de nefropatia crônica, desempenha um papel importante na fisiopatologia da doença renal crônica. Vários estudos sugerem que a presença contínua de proteína em quantidade anormal na luz tubular ativa as vias inflamatórias peritubulares, resultando em fibrose tubulointersticial. Nos últimos anos, a proteinúria tem sido reconhecida não apenas como um bom marcador de gravidade da doença, influenciando as decisões terapêuticas, mas também como um parâmetro clínico de resposta ao tratamento. Achados clínicos 38 A doença renal crônica se desenvolve de maneira gradual e seus sinais e sintomas se manifestam de forma lenta e progressiva. O estágio final da doença é conhecido como doença renal crônica terminal, que pode apresentar desde sintomas inespecíficos, como náuseas e vômitos, até emergências clínicas, como edema pulmonar agudo (TITAN, 2013). Normalmente, a falência renal se manifesta clinicamente quando a taxa de filtração glomerular (RFG) cai abaixo de 30 mL/min/1,73 m², ou seja, nos 4 e 5 da doença renal crônica. Nessa fase, as alterações hematológicas, endócrinas, neurológicas, gastrintestinais, dermatológicas e hidroeletrolíticas se tornam mais evidentes. Durante a anamnese e o exame físico, é importante que o médico esteja atento a sintomas e sinais de doenças sistêmicas que podem estar relacionados à perda da função renal, como diabetes mellitus, hipertensão arterial, lúpus eritematoso sistêmico, outras doenças autoimunes, infecções virais, hepatopatias, mieloma múltiplo e outras condições relacionadas anormalidades das proteínas, entre outras. A avaliação dos antecedentes familiares também é extremamente útil, tanto para doenças complexas de natureza genética, como diabetes mellitus, hipertensão arterial, cálculos renais e nefrocalcinose, quanto para doenças genéticas monogênicas, como doença renal policística, doenças císticas da medula renal e síndrome de Alport , doença de Fabry, doença de Dent, cistinose, entre outras. À medida que a doença progride, surgem diversos sinais e sintomas relacionados a edema, congestão, desequilíbrios hidroeletrolíticos, desequilíbrio do equilíbrio ácido-base e toxicidade causados por produtos do catabolismo de proteínas e lipoproteínas, como ureia e amônia. Os sintomas mais comuns incluem fadiga, náuseas (especialmente pela manhã) e vômitos. É bastante frequente que o paciente perceba alterações na memória, padrão de sono e uma sensação de lentidão. Em idosos, esses sintomas podem não ser valorizados, o que pode levar a um diagnóstico ainda mais tardio. A perda de peso pode ser significativa, a diferenciação com outras síndromes de caquexia (TITAN, 2013). 39 6 AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO RENAL 6.1 Exame de urina A avaliação da urina, que engloba a quantidade de urina, suas características físicas, químicas e microscópicas, é conhecida como exame de elementos anormais e sedimento urinário (EAS). Esse exame fornece informações valiosas sobre o estado do organismo. Em um adulto saudável, a quantidade de urina eliminada diariamente varia entre 1 e 2 litros. Essa quantidade pode ser influenciada por diversos fatores, tais como consumo de líquidos, pressão arterial, osmolaridade sanguínea, dieta, temperatura corporal, uso de diuréticos, estado mental e saúde em geral. Diversos fatores podem influenciar o volume de urina eliminada pelo organismo e estão relacionados ao equilíbrio hídrico e hormonal. Por exemplo, uma baixa pressão arterial pode estimular o sistema renina-angiotensina-aldosterona. Nesse caso, a aldosterona atua nos túbulos renais promovendo uma maior reabsorção de água e sais, resultando em uma diminuição no volume de urina excretado. Por outro lado, quando a osmolaridade do sangue diminui, como ocorre após a ingestão de uma abundante de água, a secreção do hormônio antidiurético (HAD) é inibida. Essa inibição leva a um aumento no volume de urina excretado, pois o HAD normalmente age nos túbulos renais aumentando a reabsorção de água. Dessa forma, tanto a pressão arterial baixa quanto a diminuição da osmolaridade sanguínea têm efeitos diretos sobre a quantidade de urina produzida. É importante ressaltar que esses são apenas alguns exemplos dos diversos fatores que podem influenciar o volume urinário, demonstrando a complexidade do sistema regulatório do equilíbrio hídrico no organismo. A água representa aproximadamente 95% do volume total da urina. Os 5% restantes consistem em eletrólitos, solutos derivados do metabolismo celular e substâncias exógenas, como fármacos. A urina normal praticamente não contém proteína. Os solutos típicos encontrados na urina incluem os eletrólitos filtrados e secretados que não são reabsorvidos, a ureia (resultante da degradação
Compartilhar