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W BA 05 01 _V 2. 0 ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS 2 Liliane de Almeida Barbosa São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2022 ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS 1ª edição 3 2022 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Head de Platos Soluções Educacionais S.A Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Ana Carolina Gulelmo Staut Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Coordenador Giani Vendramel de Oliveira Revisor Talita da Silva Campos Editorial Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Barbosa, Liliane de Almeida Alfabetização de jovens e adultos: fundamentos metodológicos / Liliane de Almeida Barbosa. – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2022. 32 p. ISBN 978-65-5356-326-1 1. Educação. 2. Concepções. 3. Currículo. I. Título. CDD 374.012 _____________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB: 010289/O B238a © 2022 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. 4 SUMÁRIO Apresentação da disciplina __________________________________ 05 Alfabetização de Jovens e Adultos: Definições e Histórico ___ 07 Alfabetizar letrando na EJA __________________________________ 19 Educação para o exercício da cidadania ______________________ 32 Currículo e práticas pedagógicas na EJA ______________________ 45 ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS 5 Apresentação da disciplina A educação de jovens e adultos reforça a ideia da constante possibilidade de formação do homem, assim, convidamos você, caro estudante, a ingressar nessa caminhada pela disciplina Alfabetização de Jovens e Adultos: fundamentos metodológicos. Pelo percurso formativo da disciplina, será possível perceber que a EJA se faz no resgate da pessoa do educando, por meio da valorização de suas culturas e tradições, na ampliação do universo de utilização da língua portuguesa e no uso do conhecimento como instrumento de articulação social. Tomando esses aspectos, o professor-educador assume uma postura flexível diante da diversidade do público, selecionando, recortando e criando um espaço facilitador e que condiz com a realidade dos seus educandos. Levando em conta as demandas da EJA, selecionamos temas que oferecem reflexões a respeito do cotidiano dessa modalidade e das metodologias utilizadas, além da apresentação da sua construção histórica, explicitando avanços e desafios. Conceituaremos alfabetização e letramento, refletindo acerca da complementaridade entre esses processos para propiciar a formação integral aos adultos. Ainda, apresentaremos o método Paulo Freire, sua concepção de educação emancipadora e aspectos que mantêm seu pensamento atual. Faremos uma reflexão a respeito do papel do professor, na qual demonstraremos que é possível integrar a formação do cidadão à construção do conhecimento científico. 6 Teremos a oportunidade de analisar a escola como um espaço para se aprender a discutir e participar democraticamente, e desenvolver a responsabilidade pessoal pelo bem-estar comum, bem como compreenderemos as especificidades do currículo da EJA. Também conhecermos um pouco mais da Base Nacional Comum Curricular e das Competências Gerais para a Educação Básica. Em uma proposta de nos aproximarmos da realidade concreta, refletiremos acerca dos fundamentos do currículo, dos princípios da andragogia, dos tipos de avaliação e da necessidade de desenvolver uma avaliação dialógica. Contamos com você para aproveitar todas as oportunidades de aprendizagem para aprofundarmos nossas discussões sobre a EJA. Um ótimo estudo! 7 Alfabetização de Jovens e Adultos: Definições e Histórico Autoria: Liliane de Almeida Barbosa Leitura crítica: Talita da Silva Campos Objetivos • Definir a modalidade educação de jovens e adultos (EJA). • Identificar e relacionar algumas características e especificidades dos educandos da EJA. • Examinar os processos históricos que deram origem às políticas públicas voltadas à educação de jovens e adultos no Brasil. 8 1. Alfabetização de Jovens e Adultos: definições e histórico A educação de jovens e adultos (EJA) pode ser definida por vários termos, segundo Gadotti (2001), como educação de adultos, educação popular, educação não formal e educação comunitária. Nesse sentido, a educação de adultos está relacionada à presença do Estado como órgão gestor. Já os termos educação comunitária, popular e não formal são utilizados quando a gestão é realizada por organizações não governamentais, como igrejas e partidos políticos, entre outras. Vale ressaltar que há dois modelos de ensino utilizados na EJA. Um deles aponta para uma educação supletiva, que pressupõe uma substituição ao ensino regular e adaptação do seu currículo. Esta adaptação não permite considerar as características dos educandos público-alvo da EJA. O outro modelo concebe a educação como modalidade, o que exige a criação e implementação de um programa de educação específico. Assim, a EJA implementada como modalidade de educação é alicerçada na ideia de que os jovens e adultos têm experiências em seu cotidiano diferentes e mais amplas do que as das crianças que frequentam a escola em idade regular. Apesar dos adultos já possuírem muitos conhecimentos, o que falta na maioria das vezes é o aprendizado acerca da decodificação e sistematização da linguagem escrita. O educador e autor que marcou esta forma de conceber a educação de adultos foi Paulo Freire, que preconizou a importância da leitura de mundo e de considerar a realidade dos educandos, para uma educação que conduza à participação do homem como cidadão e o conduza à emancipação. Freire (1989, p. 9) dispõe que: […] A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente, a compreensão do 9 texto a ser alcançada pela sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e contexto […] Freire (1987) alerta sobre os prejuízos de uma educação “bancária”, na qual o educando é visto como um cofre vazio, em que o professor “deposita”, faz comunicados, para que os estudantes memorizem, guardem, arquivem. Para o autor, nesta concepção de educação os sujeitos também são “arquivados”, pois não há criatividade, não há transformação, tampouco saber. Freire (1987, p. 38), afirma que “só existe saber na invenção, na reinvenção, na busca inquieta, impaciente, permanente, que os homens fazem no mundo, com o mundo e com os outros.” Na tabela a seguir estão apresentadas as diferenças entre as concepções de educação bancária e crítica segundo o autor. Quadro 1 – Características das concepções educacionais segundo Paulo Freire BANCÁRIA CRÍTICA Dominação Libertação Contradição educador-educandos Superação da contradição Negação da dialogicidade Afirmação da dialogicidade Antidialógica Dialógica Ignora o homem como ser histórico Parte da historicidade do homem Enfatiza a permanência Reforça a mudança Imobilismo Dinâmica Reacionária Revolucionária Fonte:adaptada de Freire (1987). Desse modo, é imprescindível que a relação pedagógica nas salas de aula de educação de adultos parta da realidade dos educandos, dialogue com seu cotidiano e pressuponha uma relação de troca entre educador e educando, uma vez que ambos estão construindo o processo de alfabetização. 10 No que diz respeito à realidade educacional da EJA, a modalidade de educação como dispõe Paulo Freire é presente nos programas de alfabetização de adultos, fundamentada nos anos iniciais do ensino fundamental. Já para os anos finais do ensino fundamental e médio, é marcante a educação com finalidade supletiva. 1.1 Características dos estudantes da EJA Partir da realidade dos jovens e adultos para estruturar a prática pedagógica é condição básica para o sucesso da ação do educador; logo, cabe a nós refletirmos acerca das características do público que frequenta tal modalidade de ensino. É possível perceber três públicos na EJA: o primeiro, formado por trabalhadores que iniciam a escolaridade já na vida adulta; o segundo, por aqueles adolescentes e jovens adultos que já frequentaram a escola na infância, mas a abandonaram por motivos de trabalho ou movimento migratório; e o terceiro, por alunos são provenientes do ensino regular que apresentaram grandes defasagens entre a idade e a série cursada. As trajetórias de vida dos estudantes, suas origens e motivos pelos quais não concluíram a escolaridade não são sinônimos de uma formação que ficou paralisada; pelo contrário, ao retornarem à escola trazem sua formação identitária, social, mental, ética, cultural e política (ARROYO, 2006). Cabe ao educador um olhar atento voltado para o desenvolvimento do protagonismo social desses sujeitos, que passaram por diferentes espaços formadores, sejam os de escassez, de carência e violência, sejam os de formação profissional, de valores e de solidariedade. Arroyo (2006) pondera que a educação de jovens e adultos deve transitar entre a negatividade e positividade presentes na vida destes educandos. 11 1.2 Breve histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil As primeiras políticas públicas de educação de adultos no Brasil foram implementadas em 1947, quando foi estruturado o Serviço de Educação de Adultos do Ministério da Educação e se iniciou a Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CAA). O cenário no Brasil estava propício, pois vivíamos a redemocratização pós-ditadura Vargas, e no mundo, após o desfecho da Segunda Guerra Mundial, diversos países da América Latina, além de Ásia e África, realizavam campanhas massivas incentivadas pela recém-criada Organização das Nações Unidas (UNESCO, 2008). Em 1952 foi criada a Campanha Nacional de Educação Rural, e em 1958 a Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo. Essas campanhas sofreram duras críticas por não obterem resultados, uma vez que tinham caráter superficial, já que adotavam o mesmo modelo da educação oferecido às crianças. Além disso, os materiais não consideravam as especificidades do público adulto nem as diferenças regionais, além de terem um curto período, o que não possibilitava a aprendizagem. Nos anos de 1960, a proposta de Paulo Freire apresentou melhoramento da qualidade e influenciou diversas experiências de educação de adultos, como Movimento de Educação de Base (MEB), Movimento de Cultura Popular de Recife, e Centros Populares de Cultura da União Nacional dos Estudantes, entre outros. Esse modelo pedagógico propunha uma nova relação entre educando e educador, partindo da realidade cotidiana dos discentes e relacionando a problemática da educação à problemática social. Em 1964, a proposta pedagógica de Paulo Freire foi adotada pelo Ministério da Educação na organização do Programa Nacional de 12 Alfabetização. Todavia, o programa foi extinto e Paulo Freire foi exilado neste mesmo ano, devido ao início da ditadura militar. O Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) entrou em cena no ano de 1971. Tratou-se de um programa criado pelo Governo Federal implantado em todo o país, cuja orientação pedagógica e materiais didáticos adotaram a linha de controle social marcada pelos governos militares, além de ser desprovido de criticidade e de práticas problematizadoras da realidade. A partir do MOBRAL foi desenvolvido o Programa de Educação Integrada (PEI), que condensou o curso primário e possibilitou estudo aos adultos alfabetizados ou que apresentavam conhecimentos rudimentares da leitura e da escrita. A UNESCO (2008, p. 28) considerou que: O ensino supletivo, por sua vez, foi implantado com recursos escassos e sem uma adequada formação de professores; abriu um canal de democratização de oportunidades educacionais para os jovens e adultos excluídos do ensino regular, mas ficou estigmatizado como educação de baixa qualidade e caminho facilitado de acesso a credenciais escolares. Diante dos resultados insuficientes e da falta de credibilidade pelos políticos e pelos educadores, o MOBRAL foi extinto em 1985. Em seu lugar foi criada a Fundação Educar, que descentralizou a execução dos programas para estados, municípios, entidades civis e empresas conveniadas. Em 1990, um novo programa foi criado pelo MEC: o Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania, cujo objetivo era mobilizar a sociedade em favor da alfabetização de crianças, jovens e adultos. Neste período, a gestão da educação de adultos foi descentralizada para os municípios, em parcerias com programas Alfabetização Solidária e Movimento de Alfabetização (MOVAS). A Constituição de 1988 garantiu a oferta gratuita do ensino fundamental para os jovens e adultos e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 13 Nacional (LDBEN), de 1996, reconhece a EJA como modalidade da educação, além de diminuir a idade mínima para realização de provas supletivas de 18 anos para 15 anos em relação ao ensino fundamental, e de 21 anos para 18 anos em relação ao ensino médio. Ainda assim, não há política de obrigatoriedade para a educação de adultos, bem como programas eficazes para a erradicação do analfabetismo. Essa postura mostra que esta modalidade foi deixada em segundo plano na década de 1990, uma vez que a prioridade residia nas políticas de universalização do acesso ao ensino fundamental para crianças e adolescentes. A história demonstra avanços e retrocessos nas políticas para a educação de adultos, aumentando os desafios e dificultando ainda mais a eficácia e manutenção dos programas que, de fato, apresentavam propostas que seriam capazes de transformar esta realidade. No período entre 1997 e 2002, o Governo Federal voltou a investir na EJA ao estabelecer o Programa de Alfabetização Solidária (Alfasol), que direcionou recursos e incluiu a pauta na agenda de políticas públicas nacionais. Em 2002 o programa transformou-se em organização não governamental, mantendo a execução de programas voltados para a alfabetização de adultos, e atuando em parceria com entidades, empresas e instituições de ensino superior, entre outras. No ano de 2003, o Governo Federal instituiu o Programa Brasil Alfabetizado, e em 2007 incluiu a Educação de Jovens e adultos no Fundo de Financiamento da Educação Básica (Fundeb), o que significou maior investimento e aproveitamento dos recursos públicos destinados à EJA. Considerada mais um ganho para a modalidade EJA, foi criada a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad), em 2004, responsável pelos programas, ações e políticas de Educação 14 Especial, Educação de Jovens e Adultos, Educação do Campo, Educação Escolar Indígena, Educação Escolar Quilombola, Educação para as relações Étnico-Raciais e Educação em Direitos Humanos. Com a criação desta secretaria no MEC, outras ações específicas para apoio à educação de adultos foram implantadas: o Programa Nacional do Livro Didático para a Alfabetização de Jovens e Adultos (PNLA), que visa oferecer livros didáticos adequados ao público alfabetizando,e o Programa Nacional do Livro Didático para a Educação de Jovens e Adultos (PNLD EJA), que oferece livros didáticos adequados ao público maior de 15 anos em continuidade aos estudos. 1.3 A Educação de Jovens e Adultos no Plano Nacional de Educação A primeira década dos anos 2000, na qual ocorreu a aprovação do Plano Nacional de Educação, em 2001, definiu objetivos e metas para as diferentes etapas e modalidades da educação, demonstrando grande mobilização a partir do estabelecimento da década da alfabetização, bem como o desafio para a erradicação do analfabetismo no país. No entanto, a trajetória para a consecução de tais metas não foi suficiente, e após quatro anos de tramitação no Congresso Nacional foi sancionado o novo Plano Nacional de Educação em 2014, que estabeleceu 10 diretrizes para melhorar a educação até o ano de 2024: I. Erradicação do analfabetismo. II. Universalização do atendimento escolar. III. Superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da justiça social, da equidade e da não discriminação. IV. Melhoria da qualidade da educação. 15 V. Formação para o trabalho e para a cidadania, com ênfase nos valores morais e éticos em que se fundamenta a sociedade. VI. Promoção do princípio da gestão democrática da educação pública. VII. Promoção humanística, científica, cultural e tecnológica do país. VIII. Estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto, que assegure atendimento às necessidades de expansão, com padrão de qualidade e equidade. IX. Valorização dos profissionais da educação. X. Promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental. Já avançamos muito em relação à universalização do acesso à educação aos estudantes que se encontram na idade certa, com a obrigatoriedade da oferta da educação básica dos 4 aos 17 anos, mas ainda temos o desafio de garantir a equidade e a qualidade. E pensar em equidade é possibilitar condições para todos, inclusive os jovens e adultos que não concluíram sua escolaridade. Para atingir todas as diretrizes e objetivos foram definidas 20 metas e estratégias para a consecução, das quais duas estão relacionadas à EJA: Meta 9: elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais para 93,5% até 2015 e, até o final da vigência deste PNE, erradicar o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional. Embora tenham sido registrados significativos avanços nos índices de escolarização da população brasileira, as taxas de analfabetismo entre 16 jovens e adultos ainda são elevadas, uma vez que ainda é maior o número dos que saem da escola na condição de analfabetos funcionais. Entre as principais estratégias estabelecidas para o alcance dessa meta, destacamos: “assegurar a oferta gratuita da educação de jovens e adultos a todos os que não tiveram acesso à educação básica na idade apropriada”. Segundo a Estratégia 9.1, deve-se “realizar diagnóstico dos jovens e adultos com ensinos fundamental e médio incompletos, para identificar a demanda ativa por vagas na educação de jovens e adultos” (BRASIL, 2014, p. 34). Dessa forma: As ações planejadas devem ter como objetivo a superação do analfabetismo entre jovens com 15 anos ou mais, adultos e idosos, concebendo a educação como direito, e a oferta pública da alfabetização como porta de entrada para a educação e a escolarização das pessoas ao longo de toda a vida. A articulação entre as ações de alfabetização e a continuidade na educação de jovens e adultos deve ser promovida com ações conjuntas do poder público e da sociedade civil organizada. (BRASIL, 2014, p. 35) Além de garantir a oferta, a permanência e a qualidade da educação para os jovens e adultos, é preciso refletir a respeito da especificidade do público, contribuindo para que a modalidade articule suas práticas com a realidade dos educandos e considere sua formação profissional. Para isso foi instituída a Meta 10: oferecer, no mínimo, 25% das matrículas de educação de jovens e adultos, nos ensinos fundamental e médio, na forma integrada à educação profissional. Depreende-se que para atender esta meta, é necessário superar um problema da educação brasileira, dirimir uma dívida histórica que temos com muitas pessoas que não tiveram acesso à educação na idade certa, bem como impedir que esta exclusão continue sendo reproduzida. 17 Assim, podemos concluir que a educação de jovens e adultos é uma modalidade de ensino que atende estudantes acima de 15 anos que não tiveram acesso ou não concluíram o ensino fundamental na idade apropriada. Ela visa alfabetizar os que não tiveram acesso à escola, e melhorar a escolarização dos tiveram acesso, mas não concluíram o ensino fundamental, preferencialmente. Ao longo dos anos, muitas foram as iniciativas para a garantia da educação de adultos, no esforço de erradicar o analfabetismo: criação de programas, inclusão da modalidade no FUNDEB, preconização de metas específicas no Plano Nacional de Educação. No entanto, percebemos o avanço e retrocesso na elaboração e execução das políticas públicas para a EJA, conforme contextos políticos, históricos e econômicos. Vale ressaltar o papel do educador, que sempre será fator preponderante nesse cenário conturbado de fragmentações e descontinuidades, na formação cidadã e solidária destes sujeitos. Referências ARROYO, Miguel González. Educação de jovens-adultos: um campo de direitos e de responsabilidade pública. In: SOARES, Leôncio; GIOVANETTI, Maria Amélia; GOMES, Nilma Lino (org.). Diálogos na educação de jovens e adultos. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. BRASIL. Ministério da Educação. Planejando a próxima década: Conhecendo as 20 Metas do Plano Nacional de Educação. Brasília: MEC/SASE, 2014. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 23. ed. São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1987. GADOTTI, Moacir. Educação de Jovens e Adultos: correntes e tendências. In: GADOTTI, Moacir; ROMÃO, José E. (org.). Educação de Jovens e Adultos: teoria, prática e proposta. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2001. p. 29-40. (Coleção Escola Cidadã, v. 5). 18 PAULA, C. R.; OLIVEIRA, M. C. Educação de Jovens e Adultos: a educação ao longo da vida. Curitiba: Ibepex, 2011. UNESCO. Alfabetização de jovens e adultos no Brasil. Brasília: Unesco, 2008. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000162640_ por?9=null&queryId=abc5b513-a8de-4809-b2e5-bb22fd466ebd. Acesso em: 14 set. 2022. 19 Alfabetizar letrando na EJA Autoria: Liliane de Almeida Barbosa Leitura crítica: Talita da Silva Campos Objetivos • Reconhecer a relação entre alfabetização e letramento na EJA. • Descrever a proposta de ensino de Paulo Freire e a adequação para o contexto atual. • Identificar as especificidades do ensino da Língua Portuguesa na EJA. 20 1. Alfabetização e letramento Compreender a relação entre alfabetização e letramento é fundamental para que a prática pedagógica para o ensino da leitura e da escrita, principalmente, na Educação de Jovens e Adultos, seja efetiva e leve à construção significativa da escrita convencional. Quando pensamos em alfabetização, logo vem à mente a escola; no entanto, o mundo está repleto de práticas sociais mediadas pela leitura e escrita. Podemos dizer que a função de uma boa prática de alfabetização é abrir os olhos dos estudantes para o mundo letrado, ou seja, mais que ensinar a codificar e decodificar, deve ensinar os diversos usos e funções da língua. Neste ponto é importante considerar que por um tempo os conceitos de alfabetização e letramento eram apresentados como contrários, uma vez que era atribuída à alfabetização o papel de ensinar as letras e sons, enquanto o letramento relacionava-se com o mundo exterior à escola. Com os estudos da psicogênese da língua escrita,realizados por Emília Ferreiro e Ana Teberosky, a perspectiva do processo de aquisição da escrita foi desvendado, pois tais pesquisas provaram que ao aprender a ler e escrever o indivíduo realiza uma construção por meio de elaboração de hipóteses que vão avançando até chegar à escrita convencional, processo semelhante ao que o homem desenvolveu ao longo da história para inventar a escrita. Podemos inferir, então, que ao aprender a escrever o sujeito está reinventando a escrita. Todo este processo de aquisição da escrita e formulação de hipóteses só será possível mediante as situações de comunicação às quais o estudante vivencia em seu cotidiano, nas suas práticas sociais. Neste ponto, cabe apresentar os dois conceitos e a definição de suas extensões e limites nas práticas pedagógicas correntes e naquilo que consideramos ideal e urgente para a alfabetização de adultos. A 21 alfabetização é a aprendizagem da escrita e da leitura. Quanto a isso, Cagliari (2009, p. 5–6) ressalta: A compreensão da natureza da escrita, de suas funções e usos é indispensável ao processo de alfabetização. Mas o que se vê comumente, nas salas de aula e nos livros didáticos, é um total desconhecimento do assunto […] Não tratando adequadamente a escrita e a fala na alfabetização, a escola encontrará dificuldades sérias para lidar com a leitura. Afinal, a leitura, na sua função mais básica, nada mais é do que a realização do objetivo de quem escreve. Definir alfabetização como ensino do código linguístico não será suficiente para garantir ao estudante a habilidade da leitura, bem como a participação em um ambiente de cultura escrita, mediado pelas diferentes situações comunicativas em sua prática social. Não faz muito tempo, a educação e as ciências linguísticas incorporaram aos seus vocabulários o vocábulo “letramento”, que segundo Soares (2004) é a versão do português para a palavra da língua inglesa literacy. […] literacy é o estado ou condição que assume aquele que aprende a ler e a escrever. Implícita nesse conceito está a ideia de que a escrita traz consequências sociais, culturais, políticas, econômicas, cognitivas, linguísticas, quer para o grupo social em que seja introduzida, quer para o indivíduo que aprenda a usá-la. (SOARES, 2004, p. 17) Assim, há que se considerar que os dois processos mencionados guardam uma relação de interdependência. Segundo Soares (2004), para que se atinja uma real aprendizagem da leitura e da escrita é preciso considerar a necessidade de oportunizar aos estudantes situações em que se envolvam no universo da cultura, da leitura, para que ele perceba a língua como prática social, no entanto, ao mesmo tempo, é preciso garantir momentos de estudos sistemáticos da língua. É importante considerar que os educandos que ainda não construíram a base alfabética da escrita também podem participar de práticas sociais 22 discursivas, em momentos em que o professor lê em voz alta, ou em que o professor é o seu escriba, conduzindo uma produção textual coletiva, situações em que a turma analisa as características de determinado gênero textual. Em outras situações, o educando participa de atividades em que precisa analisar e refletir sobre o sistema de escrita, de maneira que os processos de alfabetização e letramento ocorram simultaneamente. Ao processo de ensinar a ler e escrever no contexto dos usos da leitura e da escrita de textos chamamos de alfabetizar letrando. 1.1 A EJA e a proposta de ensino de Paulo Freire A experiência e contribuição de Paulo Freire é um dos maiores marcos para EJA. Seu modelo de educação tem como princípio a emancipação do homem, pela consciência crítica e política de sua condição de sujeito no mundo. Assim, Freire propõe que o educador aproxime-se da realidade vivenciada pelos educandos. As aulas devem ser planejadas a partir de tal realidade, e as primeiras palavras a serem decodificadas deverão ser dotadas de sentido para o grupo. A alfabetização mecânica é rejeitada por Paulo Freire, por ter sua base fundamentada na memorização fonética. Em sua visão, a alfabetização é uma tomada de consciência que leva o sujeito da ingenuidade à criticidade, além de preconizar que o educando sempre deve ser um sujeito-ativo, protagonista. Freire (2006, p. 113) enfatiza que o homem não depende da alfabetização para ter uma relação de sujeito no mundo. “Basta ser homem para ser capaz de captar os dados da realidade” e ainda: “Ninguém sabe tudo ou ignora tudo. Todos sabem ou ignoram alguma coisa”. Freire fundamenta-se na alfabetização cuja base está no diálogo. Logo, a relação entre educador e educando seria nutrida por esperança, fé, amor, confiança e humildade. Relação horizontal, para que seja possível a verdadeira comunicação. 23 Em suas experiências de alfabetização de adultos em Recife, nos anos 1960, Freire buscava descaracterizar o processo de educação no modelo vertical, ou o antidiálogo, como ele denominou. Nesse sentido, criou uma proposta de aprendizagem que oportunizava a educação dialógica, substituindo o nome escola por Círculo de Cultura, no qual o professor deixou de ser o detentor do saber e passou a ser o coordenador de debates, e os estudantes deixaram a condição passiva e passaram a ser chamados de participantes de grupo. O modelo cartilhesco perdeu lugar para o levantamento das “palavras geradoras”. Uma média de 15 a 18 palavras eram selecionadas a partir da cultura da turma a ser alfabetizada, seguindo os critérios de riqueza linguística. O planejamento se dá por meio de cinco passos: Figura 1 – Passos para o planejamento de palavras geradoras Fonte: adaptada de Freire (2006). 24 Após o esgotamento do debate e análise em torno da palavra geradora é que o educador apresentaria a palavra para ser visualizada, estabelecendo o vínculo semântico entre a palavra e o objeto ao qual se refere. Após esse passo, estas palavras eram decompostas em sílabas e as famílias fonéticas destas sílabas eram apresentadas. A partir disso, o grupo poderia criar palavras novas com essas sílabas. A apropriação se daria pela conscientização crítica, e não pela memorização. Em sua teoria, Paulo Freire demonstra que sempre aprendemos com o outro, em conjunto, nesta relação dialógica. Em suas palavras, “ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo” (FREIRE, 1987, p. 79). Esse panorama da proposta de educação de Paulo Freire apresenta o quanto sua prática é atual, uma vez que a ideia é alfabetizar letrando na EJA. Além disso, ao observarmos as concepções presentes na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), podemos perceber o quanto é necessário desenvolver práticas que considerem o protagonismo do estudante, em uma perspectiva de educação integral, para a formação intelectual, social, política e humana, bem como para o desenvolvimento das competências, inclusive, as socioemocionais, destacando mais uma vez a atualidade freireana. 1.2 Especificidades do ensino da Língua Portuguesa na EJA A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) orienta que o ensino da língua deve considerar as diferentes instâncias sociais, uma vez que os processos interlocutivos se dão no interior das múltiplas e complexas instituições de uma dada formação social. A língua é viva e vem marcada pelos usos e espaços sociais destes usos, não sendo um produto acabado – ou seja, ela está sempre em construção. A organização do componente língua nos eixos de integração correspondentes às práticas de linguagem – oralidade, leitura/escuta, produção (escrita e multissemiótica) e análise linguística/semiótica – indicam que é preciso 25 propiciar aos estudantes experiências que os levem a ampliar os letramentos e multiletramentos. Considerando as demandas da educação de adultos, o trabalho com os textos deve estar relacionado às esferas de comunicação das quais participam, refletindo-se a respeito do desenvolvimento das competênciasespecíficas preconizadas pela BNCC: 1. Compreender a língua como fenômeno cultural, histórico, social, variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso, e como meio de construção de identidades de seus usuários e da comunidade a que pertencem. 2. Apropriar-se da linguagem escrita, reconhecendo-a como forma de interação nos diferentes campos de atuação da vida social. 3. Ler, escutar e produzir textos orais, escritos e multissemióticos que circulam em diferentes campos de atuação e mídias, com compreensão, autonomia, fluência e criticidade, de modo a se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos, e continuar aprendendo. 4. Compreender o fenômeno da variação linguística, demonstrando atitude respeitosa diante de variedades linguísticas e rejeitando preconceitos linguísticos. 5. Empregar, nas interações sociais, a variedade e o estilo de linguagem adequados à situação comunicativa, ao(s) interlocutor(es) e ao gênero do discurso/gênero textual. 6. Analisar informações, argumentos e opiniões manifestados em interações sociais e nos meios de comunicação, posicionando- se ética e criticamente em relação a conteúdos discriminatórios 7. Reconhecer o texto como lugar de manifestação e negociação de sentidos, valores e ideologias. 26 8. Selecionar textos e livros para leitura integral, de acordo com objetivos, interesses e projetos pessoais (estudo, formação pessoal, entretenimento, pesquisa, trabalho etc.). 9. Envolver-se em práticas de leitura literária que possibilitem o desenvolvimento do senso estético para fruição, valorizando a literatura e outras manifestações artístico-culturais como formas de acesso às dimensões lúdicas, de imaginário e encantamento, reconhecendo o potencial transformador e humanizador da experiência com a literatura. 10. Mobilizar práticas da cultura digital, diferentes linguagens, mídias e ferramentas digitais para expandir as formas de produzir sentidos (nos processos de compreensão e produção), aprender e refletir sobre o mundo, e realizar diferentes projetos autorais. Ao analisarmos as competências específicas de Língua Portuguesa, é possível depreender que estas estruturam-se para garantir ao sujeito o direito a uma formação humana integral no contexto das experimentações básicas de linguagens, além do aprimoramento constante de saberes apreendidos durante a vida. Para tanto, essas competências têm como objetivo assegurar que os estudantes compreendam a língua como um fenômeno vivo e sua função social, respeitando a variação linguística, e entendam o papel do texto e da situação comunicativa, em um processo crítico e argumentativo, que considera o multiletramento, desenvolvendo neles um comportamento leitor que lhes garanta condições de fruir, apreciar e encantarem-se com a literatura e outras manifestações artístico-culturais. No que diz respeito à linguagem oral, há que se considerar a grande variedade linguística entre os educandos. Diversos sotaques, expressões de diferentes regiões do país e até modismos vindos de novelas de TV. O educador precisa considerar toda essa riqueza do repertório linguístico, acolher e valorizar essas diferenças, no entanto, deve abordar as 27 diversas situações e interações comunicativas para o desenvolvimento das falas apropriadas a cada contexto comunicativo. Ainda na questão da linguagem oral, é necessário criar oportunidades de escuta e fala. Em relação à linguagem escrita, deve-se garantir que os educandos conheçam diferentes gêneros textuais, articulados às suas funções sociais. Vale ressaltar que atividades envolvendo leitura e produção textual são essenciais e precisam estar distribuídas ao longo da semana, aumentando gradativamente o nível de complexidade. 1.3 Modalidades organizativas do planejamento pedagógico Para desenvolver a prática de alfabetizar letrando na EJA, organizando o trabalho pedagógico de maneira a contemplar as diferentes práticas de linguagem, o educador precisa lançar mão de diferentes modalidades organizativas na gestão do tempo em sala de aula. As modalidades organizativas devem prezar por dois critérios fundamentais que as distinguem umas das outras: a frequência à sala de aula e a duração do trabalho implicado na modalidade. Ainda é possível reconhecer a potencialidade de cada modalidade organizativa para trabalhos com competências, habilidades e/ou objetos de conhecimentos específicos. O esforço para ajustar o tempo didático ao objeto de ensino e aprendizagem de um modo que permita superar a fragmentação do conhecimento abrange todos os componentes curriculares. Segundo Lerner (2002), as modalidades organizativas podem ser atividades permanentes, sequências didáticas, projetos e situações independentes. Atividades permanentes: intervenções pedagógicas organizadas para a repetição de procedimentos de maneira sistemática e previsível. Adequada ao desenvolvimento de valores, atitudes e habilidades, uma vez que haverá constância. 28 Sequências didáticas: atividades organizadas para trabalhar determinado objeto de conhecimento, de modo a possibilitar ao sujeito uma apropriação efetiva dos aspectos dos conhecimentos implicados, de maneira progressiva. Projetos: propostas de intervenção em que o professor e os estudantes se comprometem com um objetivo comum (resolver determinado problema) e com um produto final, ao término do período estabelecido. As ações têm relação entre si e fazem sentido em função do produto que se deseja alcançar. Situações independentes que se classificam em dois subgrupos: • Situações ocasionais: atividades elaboradas para tematizar aspectos específicos, tratando o objeto de conhecimento de maneira intensa. • Situações de sistematização: consideradas “independentes” por não ajudarem a alcançar objetivos colocados em relação à ação imediata. Embora não estejam relacionadas com propósitos imediatos, guardam uma relação direta com os objetivos didáticos e com os objetos em estudo. Vale ressaltar a necessidade de desenvolver propostas pedagógicas que considerem o texto como unidade didática, os gêneros e suas esferas de comunicação. Para tanto o educador poderá utilizar jogos, propagandas, debates sobre textos informativos e notícias, trabalhar com os nomes dos estudantes da turma, com listas, uso de poemas e músicas, calendário, cronogramas, agendas, convites, documentos, rótulos, exposições orais e outros textos. No que diz respeito à organização da rotina semanal, o educador deverá garantir situações que perpassem pelas diferentes práticas de linguagem, contemplando propostas que envolvam o conhecimento dos gêneros textuais, suas características, funções, estilos discursivos e esferas de circulação, possibilitando o 29 conhecimento da linguagem que se escreve, bem como situações de ensino da escrita alfabética. Leal e Morais (2010) organizaram uma classificação, partindo da análise de livros didáticos, observações de aulas e de jogos de alfabetização, em dez tipos de atividades para o ensino da escrita alfabética. Embora afirmem que não abrangem a todas, estabeleceram uma taxonomia com fins didáticos, que pode auxiliar o educador na elaboração de suas rotinas. Para conhecer cada uma delas, observe o quadro: Quadro 1 – Situações de ensino da escrita alfabética Atividades Descrição 1. Atividades que buscam familiarização com as letras Situações em que os estudantes precisam reconhecer e traçar as letras do alfabeto, os diferentes tipos de letras, conhecer a ordem alfabética e saber nomear cada letra. 2. Atividades que objetivam a construção de palavras estáveis O trabalho com listas de palavras significativas para os educandos, como escrita do próprio nome com letras móveis, produção e exploração de listas de chamada. 3. Atividades de reflexão fonológica Propostas que possibilitem a comparação de palavras quanto ao tamanho, semelhanças sonoras de letras e/ou sílabas. Trabalho com leitura/declamação de textos comrimas e aliterações. 4. Atividades de composição e decomposição de palavras escritas Propostas como composição de palavras com as letras de outra, dominós, peças que juntas formam palavras, quebra- cabeça com pedaços de palavras. 5. Atividades de comparação entre palavras escritas Escrita de palavras que iniciam, terminam ou tenham pedaços similares, busca de diferenças entre palavras apresentadas em pares, como pata-pasta. 6. Atividades de escrita de palavras com o preenchimento de lacunas Situações em que preenchem lacunas com inserções de letras, sílabas ou preencham lacunas em poemas ou músicas com palavras 30 7. Atividades de permuta, inserção ou retirada de letras e sílabas para formação de novas palavras Atividades em que ao acrescentar ou retirar uma letra e/ou uma sílaba, uma palavra se transforma em outra 8. Atividades de ordenação de letras e sílabas Ordenar letras ou sílabas para formar uma palavra, corrigir palavras em uma ou duas letras estão fora do lugar 9. Atividades de leitura de palavras Encontrar uma palavra ditada em uma lista, ao cantar uma música encontrar uma palavra ditada pelo professor durante pausas 10. Atividades de escrita de palavras Escrita de listas de palavras, escrita de agendas e em jogos de grupos Fonte: adaptada de Leal e Morais (2010). Com base nestas propostas, vale ressaltar mais uma vez que ao selecionar os textos e as atividades para a construção do sistema de escrita alfabético, o educador deve considerar as vivências e cotidiano de sua turma, por exemplo: ao solicitar uma lista de profissões, comece pelas exercidas por eles, apresente ou faça leitura em voz alta de textos literários adequados ao público adulto, como cordéis, quadrinhas, causos, contos de diferentes regionalidades. Ao elaborar a rotina, sempre garanta que durante a semana a turma tenha oportunidades de vivenciar as diferentes práticas de linguagem, o que significa propiciar momentos como: o professor lê para o grupo ou cada aluno lê autonomamente ou com ajuda; situações em que o professor é o escriba em uma produção textual coletiva, na qual os estudantes ditam, e outras situações nas quais eles precisem escrever, completando listas e lacunas em músicas, por exemplo. Além disso, vale ressaltar o papel da oralidade, que deve ser estimulada por meio de debate, diálogo a respeito de notícias, questionamentos, entrevistas 31 e escuta atenta. O educador que viabiliza o trabalho que garante a alfabetização e letramento simultaneamente contribui para a formação integral do estudante, proporcionando aprendizagem e garantindo a permanência e sucesso de sua turma. Referências BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília: MEC/CONSED/UNDIME, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov. br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 12 maio 2022. CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e linguística. São Paulo: Scipione, 2009. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1987. FREIRE, Paulo. Educação como prática de liberdade. 29. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006. LEAL, Telma Ferraz; MORAIS, Artur Gomes. O ensino dos princípios do sistema alfabético e de suas convenções. In: LEAL, Telma Ferraz; ALBUQUERQUE, Eliana Borges Correia de; MORAIS, Artur Gomes (org.) Alfabetizar letrando na EJA: Fundamentos teóricos e propostas didáticas. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010. LERNER, Delia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto Alegre: Artmed, 2002. SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. 32 Educação para o exercício da cidadania Autoria: Liliane de Almeida Barbosa Leitura crítica: Talita da Silva Campos Objetivos • Examinar o papel do educador da EJA e sua responsabilidade com a formação cidadã dos educandos. • Articular a EJA a uma proposta de formação do cidadão. • Identificar as estratégias que levem a uma ampliação da cidadania do educando. 33 1. O papel do professor-educador da EJA na formação cidadã Inicialmente, vamos definir como nos tornamos educadores? Ninguém é educador. Alguém torna-se educador (ou deseducador) no decorrer da existência, no incessante processo de estruturação/ desestruturação/reestruturação dos equilíbrios pessoais e coletivos provisórios, na teia das relações sociais, no fluxo permanente das interações entre teoria e “práxis” (ROMÃO, 2007, p. 63) Os professores, na verdade, tornam-se educadores. À medida em que o professor tem uma visão de mundo e transmite conhecimentos e valores em determinadas situações sociais, ele contribui para a formação de diversas pessoas. Assim, quando formamos alguém, dimensionamos o mundo para a pessoa, e posicionamo-nos em relação aos acontecimentos, aos governos, às questões econômicas, às crises e outras tantas situações de nossas vivências. Como educadores da EJA, muito mais forte se dá este papel, pois os educandos já participam do meio social com mais efetividade que as crianças, e por isso precisam de conhecimentos que justifiquem, esclareçam ou contraponham suas percepções. O educador da EJA tem um compromisso com a construção do cidadão, no sentido de projeção e de melhora da qualidade de vida. Nesse sentido, as figuras de professor e educador estão integradas, e as dimensões políticas e pedagógicas andam juntas. Sem os conhecimentos teóricos e didáticos não haverá uma direção na orientação do processo de ensino e aprendizagem; no entanto, sem uma preocupação com uma formação no sentido de ter posicionamento diante dos acontecimentos sociais não haverá coerência entre o que o estudante aprende na aula e sua vida cotidiana. 34 A ideia é aproximar-se da cultura dos educandos, respeitando sua linguagem, mesmo que esta seja ainda distante da norma padrão, resgatando a cultura por meio da linguagem própria de uma comunidade, elevando a participação social do educando, o que o levará à apropriação da norma padrão. Assim, integrar as dimensões políticas e pedagógicas significa recuperar a função do saber escolar, ou seja, é necessário construir com o educando um conhecimento no qual durante o processo de ensino o professor vai demonstrar a linguagem formal e sua função cidadã, conforme suas práticas sociais, sem classificar as manifestações linguísticas apenas como o certo e o errado, sendo coerente com o seu projeto de vida. Para tanto, o educador deve sempre pensar em três questões ao planejar suas aulas: Para quem estou ensinando? Por que planejei minha aula dessa forma? Para que projeto de sociedade estou trabalhando? (ROMÃO, 2007). Vale lembrar que o trabalho do professor não pode ser solitário, mas precisa estar articulado a um coletivo, em sua escola, ou rede, para que haja troca de experiências e estudo compartilhado, muitas vezes orientado por uma coordenação pedagógica, para que a construção de conhecimento ocorra. Piconez (2006, p. 104-105) propõe alguns princípios de como deve ser a educação escolar de adultos: • O processo de ensino e aprendizagem é dinâmico, interativo e cooperativo. Todo estudante é capaz de construir conhecimentos. • Os conteúdos e as informações a serem aprendidas ou as técnicas de ensino não são mais importantes do que os educandos. • O aprendizado ocorre quando há um clima apropriado de relação interpessoal entre os estudantes, entre os estudantes e o professor e entre os dois e o conhecimento a ser aprendido. Essa relação pode conduzir ao respeito à autonomia intelectual das pessoas que têm responsabilidade nos resultados. 35 • O aprendizado com resultado torna-se eficaz quando os procedimentos estão articulados aos objetivos do projeto político- pedagógico da escola e respeitam as dimensões cognitivas, afetivas e socioculturais dos educandos. • A avaliação do processo deve ser permanente, porque auxilia os estudantes na autoavaliação dos resultados de suas experiências articuladas aos novos conhecimentos,contribuindo para a tomada de decisão e planejamento conjunto das aprendizagens. A prioridade do ensino não está somente nos educandos, de modo que também não está somente no objeto de conhecimento, visto que as duas esferas são igualmente importantes. É de extrema importância selecionar objetos de conhecimentos conforme a demanda do grupo, e respeitar o ritmo de cada um. O relacionamento entre professor e educando é a base da comunicação. Os conflitos, quando aparecem, devem ser resolvidos de modo a se buscar um elo de colaboração e cooperação, já que a responsabilidade pela qualidade do ensino deve ser uma preocupação tanto dos docentes quanto dos discentes. As dimensões cognitivas, afetivas e socioculturais dos estudantes estão sempre presentes. E estas características são trazidas para a sala de aula. Não moldamos ninguém, contribuímos para sua formação, mas o próprio estudante deve conduzir sua formação no seu ritmo, e partir de sua referência cultural, social e econômica. Estes são princípios norteadores do trabalho do educador da EJA. A busca de uma aproximação dessa postura já garante uma educação voltada para a necessidade do educando e o foco na sua formação enquanto cidadão. A prática docente deve ser constantemente avaliada pelo próprio docente, de modo a impulsionar seu aprimoramento contínuo. 36 2. A Educação de Jovens e Adultos e a formação do cidadão A educação tem um papel importante na formação do cidadão. Conforme afirma Soares (2008), as sociedades modernas são grafocêntricas, ou seja, há uma grande demanda pela comunicação escrita, criando uma atmosfera de maior credibilidade em relação à comunicação oral. Nesse sentido, a alfabetização torna-se fundamental. Mas é preciso refletir acerca da seguinte questão: basta que a pessoa seja alfabetizada para exercer seu papel de cidadão? Podemos dizer que a alfabetização é um fator de inclusão social, mas não é o único instrumento dela. Barcelos (2007, p. 43) afirma que “considerar a alfabetização como a panacéia para todas as injustiças sociais é tão equivocado quanto negar seu papel e importância como um passo importante e fundamental no caminho em direção à inclusão.” Quando nos referimos à educação de adultos ainda precisamos nos questionar se é possível ser cidadão antes de ter conhecimento da leitura e escrita. A esse respeito, Soares (2008) explica que antes de frequentar a sala de aula, o adulto já trabalha, tem uma relação com o mundo, se articula e desenvolve seu papel social. Mesmo que ainda haja a falta de leitura e isso restrinja alguns acessos, não o impede de ser cidadão. Essa reflexão é importante para ressaltar o papel da educação na (re)construçao do cidadão. A ênfase excessiva posta na alfabetização como fator determinante do exercício da cidadania e, correspondentemente, no analfabetismo ou no precário acesso à leitura e à escrita como causas da exclusão da cidadania oculta as causas mais profundas dessa exclusão, que são as condições materiais de existência a que são submetidos os “excluídos”, as estruturas privatizantes do poder, os mecanismos de alienação e de opressão, tudo isso resultando na distribuição diferenciada de direitos sociais, civis e políticos às diversas classes e categorias sociais. (SOARES, 2008, p. 56) 37 A autora traz à tona que se por um lado a educação, e em específico a alfabetização, não pode ser colocada como solução para todos os problemas sociais, por outro, ela tem uma importância fundamental. Na EJA, a educação permite que o potencial do indivíduo se eleve, o que faz com ele se veja um cidadão mais participativo e menos dependente, reacendendo a crença em suas potencialidades (BARCELOS, 2007). O educador, em um primeiro momento, tem o papel de reconstruir quem é este cidadão, oportunizando situações em que o estudante relate sua vida e perceba a importância da sua atuação social. Aos poucos é possível problematizar e ampliar a visão de mundo dos educandos. É neste sentido que os materiais didáticos e as intervenções pedagógicas precisam garantir a aproximação do estudante à compreensão de mundo. As aulas devem sempre ter referência na realidade dos educandos, mas é preciso compreender que ser cidadão é se articular no âmbito local e global. Assim, é preciso dosar entre questões sociais mais próximas e mais distantes, demonstrando as ligações entre as realidades. Além disso, é necessário demonstrar as interligações sociais, as interdependências das comunidades e a implicação de seu trabalho e de sua atividade na construção da sociedade. Partir de assuntos locais e ampliá-los para o global. Outro aspecto que remete a ser cidadão é o sentimento de pertencimento; assim, o educador deve auxiliar os estudantes a conhecerem a sociedade em que vivem, a compreenderem sua participação e exercerem-na em uma posição política. Essa é uma tarefa desafiadora, pois culturalmente não fomos habituados a nos posicionar diante dos fatos sociais e nos sentirmos como sujeitos ativos. O papel do educador vai além da ação técnica; ele tem responsabilidade na construção de uma sociedade mais justa e na luta contra as discriminações e exclusões sociais. 38 Freire (2005) diz que somos educadores-educandos, que no processo educativo temos que nos rever e nos reformular enquanto cidadãos, e que o trabalho pela (re)construção da cidadania do educando nos torna melhores cidadãos, pois nos preocupamos mais com os rumos da nossa sociedade e nos posicionamos mais ativamente diante dos acontecimentos. 3. A Base Nacional Comum Curricular e as estratégias para a ampliação da cidadania dos educandos A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento que normatiza e define o conjunto de aprendizagens essenciais que todos os estudantes devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, de modo a que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento. Estas aprendizagens essenciais deverão ser desenvolvidas ao longo da educação básica, com vistas à garantia de dez competências gerais, que são consideradas do ponto de vista pedagógico os direitos de aprendizagem e desenvolvimento. Segundo a BNCC (2018, p. 10): […] competência é definida como a “mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho. 39 Quadro 1 – Competências gerais da educação básica 1 • Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. 2 • Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas. 3 • Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural. 4 • Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. 5 • Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismoe autoria na vida pessoal e coletiva. 6 • Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. 7 • Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. 40 8 • Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. 9 • Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. 10 • Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. Fonte: adaptado de Brasil (2018). Estas competências deverão ser desenvolvidas em todas as etapas e modalidades da educação básica, o que também compreende o trabalho na educação de jovens e adultos – assim, é preciso desenvolver os objetos de conhecimento de todos os componentes curriculares à luz de tais competências. Ressaltamos que a BNCC tem como fundamento pedagógico a formação integral dos educandos, ou seja, uma educação comprometida com o desenvolvimento humano global, nas dimensões cognitiva, afetiva, social e emocional, para uma visão plural, singular e integral do sujeito, promovendo seu acolhimento, reconhecimento e desenvolvimento pleno, nas suas singularidades e diversidades. Considerando o desafio de promover uma educação que garanta todas estas aprendizagens, o professor precisa lançar mão de estratégias que oportunizem um trabalho integrado, interdisciplinar e que rompa as barreiras entre componentes curriculares. Vamos observar as competências 8, 9 e 10, também conhecidas como competências socioemocionais, porque trazem objetivos de autoconhecimento, de cidadania e responsabilidade social. 41 Estas competências podem estar alinhadas a todos os componentes curriculares, mas vamos ressaltar componentes de História, Geografia e Ciências, que oportunizam o trabalho com questões ligadas às temáticas da cidadania. Veja alguns objetos de conhecimento contemplados nestes componentes: • corpo humano e suas necessidades; • meio ambiente e os impactos das atividades humanas; • o sujeito e seu lugar no mundo, convivências e interações em comunidade; • o mundo do trabalho, o trabalho e a sustentabilidade na comunidade; • condições de vida nos lugares de vivências, território e diversidade cultural; • povos e culturas, diferenças étnico-raciais e étnico-culturais e desigualdades sociais; • participação social, gestão pública da qualidade de vida. O educador pode oferecer propostas que levem à reflexão a respeito da identidade de cada educando, seu meio e a sociedade brasileira, questões ligadas à saúde, qualidade de vida, aos cuidados nas diversas fases da vida, valores, além de oportunizar conhecimentos e habilidades que ajudem os educandos a compreender criticamente a realidade em que vivem. Para o desenvolvimento destas práticas é importante que o educador se utilize de vários recursos didáticos, como pesquisas em diversas fontes, entrevistas com membros da comunidade e personalidades pertinentes ao conteúdo trabalhado, mapeamento do bairro e/ou cidade dos equipamentos públicos (praças, entretenimento, unidades de saúde 42 e outros), vídeos, registros familiares, documentos pessoais e tantos outros recursos que tornem as propostas significativas e concretas. Os projetos didáticos são espaços privilegiados para organização de um trabalho interdisciplinar, uma vez que professor e educandos se comprometem com propósito de resolver um determinado problema e com a apresentação de um produto ao término do período. As ações executadas ao longo do tempo têm relação entre si e fazem sentido em função do produto que se deseja alcançar (produção de um livro, organização de uma feira literária, campanha de conscientização sobre o meio ambiente, entre outros) e têm princípios básicos: a intencionalidade, a busca de respostas autênticas e originais para o problema levantado pelo grupo, a seleção de conteúdos em função da necessidade de resolução do problema para a execução do produto. É fundamental que os estudantes participem de todas as etapas do trabalho, desde o planejamento e organização do cronograma de ação, até a execução e avaliação contínua e final do projeto. Trazer as festas e tradições locais para a sala de aula em momentos oportunos até mesmo realizá-las na escola, como é o caso das festas juninas, pois esses eventos podem aproximar comunidade e instituição, o que facilita o intercâmbio entre a realidade concreta e os conhecimentos formais. Em relação à formação cidadã, o exercício dos direitos e deveres pode ser iniciado quando os estudantes conhecem o funcionamento do ambiente escolar, as regras, o que é esperado deles e o que eles podem esperar da escola e do professor. Outra estratégia muito importante é criar assembleias para que os educandos possam participar de decisões da escola, formando comissões, e podem se responsabilizar por diversos setores da instituição. Visitar os órgãos de administração e serviços públicos, comunitários e mesmo os privados é outra proposta interessante. No caso da EJA esta 43 ação é muito relevante, pois muitas comunidades não conhecem os órgãos públicos, não sabem os serviços que são oferecidos e encontram dificuldade para ter acesso a eles. Em relação às temáticas ligadas à identidade do educando, são importantes porque ele precisa se reconhecer e sentir-se pertencente à sociedade, reconstruir o local de nascimento e as escolhas que culminaram em sua construção de vida. Podem ser tratados os documentos pessoais e a finalidade de cada um, e às vezes será necessário até apresentar os caminhos para emiti-los. A temática do exercício da cidadania é ampla e pode ser tratada de muitas formas. O resgate da cidadania é um dos pilares da educação de adultos, no entanto, estes cidadãos dependem também de outras políticas públicas para o exercício pleno da cidadania. Neste sentido, a EJA não deve ser uma política isolada. Sempre que possível ela pode estar interligada a organizações da sociedade civil, a outras instituições de ensino, a movimentos artísticos e a empresas. Estas parcerias auxiliam os educandos a aprimorarem suas habilidades profissionais, a se aproximarem da diversidade da cultura brasileira e a se descobrirem como pessoas e cidadãos. O reflexo destas ações é uma atuação mais efetiva do educando no meio social, por meio de escolhas que estejam mais próximas de suas habilidades e aspirações. Referências BARCELOS, Valdo. Formação de professores para a educação de jovens e adultos. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2007. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília: MEC/CONSED/UNDIME, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov. br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 12 maio 2022. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 44. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005. 44 FREIRE, Paulo. Educação como prática de liberdade. 29. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006. PICONEZ, Stela C. Bertholo. Educação escolar de jovens e adultos.5. ed. Campinas: Papirus, 2006. ROMÃO, José Eustáquio. Compromissos do educador de jovens e adultos. In: GADOTTI, Moacir; ROMÃO, José E. Educação de Jovens e Adultos: Teoria, prática e proposta. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2007. SOARES, Magda. Alfabetização e letramento. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2008. 45 Currículo e práticas pedagógicas na EJA Autoria: Liliane de Almeida Barbosa Leitura crítica: Talita da Silva Campos Objetivos • Reconhecer os fundamentos para uma proposta curricular da educação de jovens e adultos. • Articular a concepção de currículo às práticas pedagógicas que consideram os educandos no centro do processo. • Identificar estratégias e proposta curricular adequadas à formação integral e protagonismo do estudante. • Comparar e discutir as diversas funções da avaliação. 46 1. Fundamentos do currículo da Educação de Jovens e Adultos A EJA é uma modalidade de educação, e por isso deve ter modo pedagógico próprio. Para tanto, é preciso construir uma proposta curricular que considere três condições fundamentais: a condição de não criança, a condição de excluído da escola e a condição de membro de um determinado grupo social. Quando nos referimos à condição de não criança, significa que embora os estudantes da EJA tenham dificuldades pedagógicas semelhantes às das crianças, precisam ser tratados como adultos, seja nas formas de abordagem, seja nos materiais didáticos e literários utilizados. A infantilização é um fator de abandono escolar pelo adulto. Além disso, é preciso ter consciência do papel da Andragogia, a ciência que estuda a aprendizagem do adulto, e seus princípios: • Os adultos precisam saber por que necessitam aprender algo. • Os adultos têm a responsabilidade por suas próprias decisões e por sua vida. • Os adultos entram na atividade educacional com maior volume e variedade de experiências do que as crianças. • Os adultos têm prontidão para aprender as coisas que precisam saber para enfrentar melhor as situações da vida real. • Os adultos são centrados na vida em sua orientação à aprendizagem. • Os adultos respondem melhor aos motivadores internos do que aos externos. 47 Com base nestes princípios é possível coordenar métodos e estratégias mais adequadas, bem como estabelecer critérios claros para a organização curricular (KNOWLES; HOLTON III; SWANSON, 2011). No que diz respeito à condição de excluído da escola, os estudantes da EJA, por não conseguirem concluir seus estudos em período regular, geralmente passam a ser vistos como excluídos do processo educacional. Destaca-se a importância de promover uma educação inclusiva, que possibilite a inserção destes educandos. É necessário, ainda, que os educadores compreendam as especificidades dos estudantes e utilizem uma linguagem compreensível. Se o currículo, os métodos e propostas não estiverem adequados a tais especificidades, poderão gerar fatores de exclusão. No que concerne à condição de membro de um determinado grupo social, ressalta-se que a escola deve considerar as condições sociais e a origem desses sujeitos, bem como não negligenciar a heterogeneidade e as identidades dos estudantes e seus objetivos. Figura 1 – Turma de adultos Fonte: Shutterstock.com. 48 Ao atentar-se a essas três condições fundamentais a escola cumpre seu papel educacional, uma vez que seu compromisso é contribuir efetivamente para as transformações significativas na vida de todos os que a buscam, de forma acolhedora, compreendendo o sujeito na sua totalidade. Dessa forma, construir um currículo que vislumbre o estudante como um todo, desde sua demanda pelo conhecimento até sua condição sócio-histórico-cultural, é tarefa da escola. Compreende-se a importância de fazer uma educação na qual os educandos sejam os principais atores e autores desse processo, e que seus interesses estejam no centro desta ação. O ato educativo é um ato fundamentalmente político, e como tal precisa ser democrático, livre e consciente, capaz de contribuir para que os estudantes se auto desvelem, transformando-se e sendo transformados positivamente mediante as relações estabelecidas nos grupos sociais. Educação e currículo necessitam ser pensados, refletidos e, sobretudo, pautados na construção de uma aprendizagem prazerosa, significativa, que abarque valores indispensáveis para o desenvolvimento dos sujeitos nos seus aspectos cognitivos, social, político, cultural e afetivo. 2. Currículo e sujeitos do processo educacional O currículo é uma construção cultural, um instrumento que demonstra o que queremos que os estudantes aprendam e que cidadão queremos formar. Há variadas definições para o termo currículo, as quais estão associadas a diferentes concepções: • Currículo como conjunto de objetivos, visto como meio de atingir metas e objetivos educacionais específicos, muitas vezes enfatizando a prescrição de objetivos instrucionais. 49 • Currículo como curso de estudo ou conteúdo, entendido como um processo de seleção; preocupa-se em prescrever conteúdo. • Currículo como plano, combina conteúdos com métodos instrucionais, em um projeto de implementação sistemática de atividades educacionais. • Currículo como documento, associado a um programa de curso escrito oficial publicado, feito para declarar objetivos, conteúdo, método e avaliação; pretende fornecer aos professores um modelo a seguir no processo curricular. Percebe-se que considerar a ideia de currículo conforme as definições apresentadas até este momento implica uma proposta de ensino prescritiva e que não abrange todos os envolvidos no processo educacional. Nesse sentido, pode ser útil pensá-lo de forma mais integral, holística, como experiências escolares que se desdobram em torno do conhecimento, em meio a relações sociais que contribuem para a construção das identidades dos estudantes. O currículo passa a ser um conjunto de esforços pedagógicos desenvolvidos com intenções educativas, um pacto na construção de significados nos processos de ensino e aprendizagem. Sob esta ótica, o currículo representa o pacto entre a instituição escolar e a sociedade acerca de um projeto pedagógico, um contrato social, plural, no qual ideias, valores, educandos e suas identidades são desenvolvidos como pessoas, cidadãos e profissionais, em um mundo em permanente mudança, em que serão contemplados atitudes, conteúdos e processos. Assim, o currículo torna-se organizador do processo educacional, incorporando intencionalidades fundamentais do projeto educativo da sociedade e atividades planejadas para atingir objetivos, mas também considerando as experiências dos educandos e os encontros vivenciais de aprendizagem em que estes se envolvem dentro e fora da sala de aula. 50 O currículo orienta os educadores para elaborarem seus planos de ensino em torno de um conjunto de ações e estratégias para desenvolver habilidades propostas para a formação qualificada dos estudantes, mediante a organização de um ambiente educativo, de métodos, objetos de conhecimento e avaliação previamente selecionados. Para tanto, é necessário ressaltar que os estudantes são sujeitos intelectualmente ativos (pensam, comparam, refletem, categorizam, analisam, excluem, ordenam…) que procuram compreender o mundo que os rodeia, e que aprendem, basicamente, por meio de suas ações sobre os objetos do mundo, que se convertem em objetos do seu conhecimento (WEISZ, 2000). Com base nessa visão de educando, o professor precisa desenvolver o planejamento de suas aulas, considerando que as boas situações de aprendizagem precisam ter as seguintes características: 1. Os estudantes precisam pôr em jogo tudo o que sabem e pensam a respeito do objeto do conhecimento em questão. 2. Os estudantes têm problemas a resolver e decisões a tomar. 3. O objeto de estudo mantém suas características e função social real. 4. A organização da tarefa garante a máxima circulação de informação possível entre os estudantes – prevê o intercâmbioe a interação entre eles. As atividades planejadas de modo que sejam desafiadoras, difíceis, mas possíveis de resolver, os agrupamentos de estudantes planejados criteriosamente, bem como as intervenções realizadas durante a realização da tarefa proposta, configuram situação de aprendizagem de fato (WEISZ, 2000). 51 3. A avaliação da aprendizagem A avaliação é um elemento muito importante no processo de ensino e aprendizagem, logo é uma das tarefas necessárias e permanentes do trabalho do professor – no entanto, nem sempre compreendida e bem executada. A avaliação pode representar variados significados. Na escola, pode ser sinônimo de prova escrita, avaliação de desempenho do estudante, avaliação docente ou institucional. Pode ser realizada por uma instituição externa à escola, por exemplo, uma avaliação realizada pelo MEC, ou pode ser uma demanda da própria escola. A respeito do seu significado, os dicionários Michaelis Online e Aurélio Online dispõem que avaliação é o ato ou efeito de avaliar-se, apreciar, estimar a qualidade de algo ou competência de alguém, além de compreender, apreciar, conhecer ou determinar um valor. Refletir acerca da definição de avaliação remete à ideia de que necessitamos de instrumentos de medida para avaliar uma habilidade, um conhecimento. Tais instrumentos para avaliar o processo de ensino e aprendizagem podem ser variados: observação, prova escrita e resolução de situações problemas, entre outros. Na EJA, quando avaliam as habilidades desenvolvidas pelos educandos, os educadores precisam considerar nos instrumentos de avaliação o elo entre os conhecimentos formais e o cotidiano dos estudantes. Quanto mais os instrumentos refletirem uma função do aprendizado em suas vidas, melhor será o resultado. Entretanto, o instrumento não é bastante; é preciso também um referencial, um parâmetro que indique o valor do desempenho, que podemos chamar de critérios avaliativos. Avaliar é um processo que 52 compreende a aplicação de uma medida e, de acordo com essa medida, o julgamento de valor. Para Romão (2008, p. 71): Quando falamos em “avaliação de aprendizagem”, geralmente estamos nos referindo a todo o conjunto de procedimentos, que vão da formulação das questões – qualquer que seja o método adotado e os instrumentos escolhidos – à análise dos resultados alcançados pelos avaliados. Contudo, usamos a mesma expressão, de forma mais técnica, para nos referirmos à fase do processo de verificação que diz respeito à comparação entre os desempenhos constatados e a escala de desempenhos desejados. De fato, medida e avaliação são dois momentos de um mesmo processo mais global, que também denominamos “avaliação”. À primeira vista, podemos dizer que a avaliação é um processo objetivo, no entanto, é relevante pensar: quem escolhe as situações-problema que serão apresentadas aos educandos? Quem corrige o instrumento e determina os critérios? Qual o melhor instrumento relativo ao grupo de estudantes com o qual estamos trabalhando? Assim, a avaliação necessariamente tem um caráter objetivo, porque necessitamos de alguns parâmetros, e ao mesmo tempo, subjetivo, pois é impossível desvincular as figuras dos educandos e dos educadores que estão implicados em um processo de aprendizagem. Luckesi (2013, p. 254) considera a avaliação da aprendizagem escolar um ato amoroso, por ser “aquele que acolhe a situação, na sua verdade (como ela é). Assim, manifesta-se o ato amoroso consigo mesmo e com os outros.” E, ainda, que “a avaliação, por si, é um ato acolhedor, integrativo, inclusivo.” Para que a avaliação assuma esta condição de ato amoroso, ela deve aparecer em vários momentos do curso, de acordo com a finalidade e 53 o momento do processo de ensino e aprendizagem, e pode ser de três tipos: diagnóstica, formativa e somativa. Avaliação diagnóstica: traz informações a respeito do quanto os estudantes dominam determinados conhecimentos, habilidades e competências. É possível mapear os pontos fortes e de dificuldades da turma e de cada educando, em específico. Geralmente ocorre no início de um ano, do período letivo ou ao iniciar uma nova situação de aprendizagem. Pode ser realizada por meio de atividades que permitam ao estudante colocar em jogo tudo o que sabe do assunto ou tema. Como exemplos, temos a sondagem de conhecimentos, quizz no início da aula e outros jogos. Avaliação formativa: tem a função de identificar a evolução de aprendizado dos estudantes. É realizada várias vezes ao longo de todo ano letivo, analisando se os estudantes estão atingindo os objetivos de aprendizagem. Ocorre em diferentes momentos ao longo do ano, em variadas situações planejadas intencionalmente para que seja possível compreender o processo de aprendizagem para realizar intervenções. Pode ser desenvolvida por meio de simulados, trabalho em grupo, autoavaliação e outras ferramentas. Avaliação somativa: tem como finalidade avaliar quais foram as habilidades desenvolvidas pelo estudante ao final de um processo educacional. Ocorre ao final de um ciclo de aprendizagem, como final de um bimestre, semestre, ano. Pode ser elaborada por meio de avaliações objetivas e dissertativas, externas ou internas. No trabalho com a EJA, a função diagnóstica tem uma ênfase maior. Nesta fase os educandos já podem conduzir seus processos de aprendizagem, e quanto mais feedback ofertados a eles, melhor será seu aproveitamento e mais fácil será localizar suas habilidades e dificuldades. Os adultos já conhecem suas habilidades e aspirações, e 54 com o diálogo eles podem constantemente se autoavaliar e demonstrar suas trajetórias ao longo das aulas. De acordo com Luckesi (2013), planejar, executar e avaliar são facetas de um mesmo ato de construção de resultados bem-sucedidos. A conquista de resultados desejados depende da clareza de objetivos e do investimento na sua busca. A avaliação, ao ser utilizada apenas como elemento de verificação de ensino – ou seja, apenas para lançar notas e classificar estudantes, por exemplo –, deixa de fornecer informações úteis para melhorar a qualidade do processo, além de não contribuir para que se possa identificar a qualidade de desempenho do estudante e corrigir suas deficiências. Ausenta-se do processo de aprendizagem, pois não oferece instrumentos para que o estudante se situe diante do problema e seja capaz de resolvê-lo. Os instrumentos avaliativos devem ser usados de acordo com o propósito do professor. É essencial que o educador perceba qual o melhor instrumento avaliativo para aplicar, visando ao objeto de conhecimento e às competências naquele processo. Esses instrumentos devem permitir ao professor colher informações acerca da capacidade de aprendizado dos estudantes, medida, em especial, pela competência para resolver problemas e instrumentalizar o conhecimento para a tomada de decisões. É importante ressaltar que não existem instrumentos específicos de avaliação capazes de detectar a totalidade do desenvolvimento e aprendizagem dos estudantes. É diante da limitação que cada instrumento de avaliação comporta que se faz necessário pensar em instrumentos diversos e adequados com suas finalidades, para que deem conta, juntos, da complexidade do processo de aprender. Nesse sentido promoverá os caminhos da reflexão, mostrando as oportunidades que podem ser oferecidas e as que deixaram de acontecer. 55 Portanto, a avaliação escolar é um compromisso social que deve proporcionar aos estudantes o acesso aos conhecimentos sistematizados e aos bens culturais, mas dependendo da maneira como é utilizada, pode se aproximar ou se afastar desses objetivos. A avaliação acrescenta na sua prática a preocupação com o desenvolvimento pessoal na medida em que as aspirações e necessidades dos estudantes passam a ser consideradas. Assim, torna-se contratual, partilhada, dialógica e democrática, incorporando as parcerias. A compreensão das relações de ensino e aprendizagem, bem
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