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Tuberculose 1 Tuberculose Quem causa TB? É a bactéria Mycobacterium tuberculosis ou bacilo de Koch. Fisiopatologia: Temos o indivíduo que é bacilífero (ou seja, ele possui bacilos em seu microrganismo e possui capacidade de transmissão desse bacilo por meio do ar). O indivíduo que entra em contato com o bacilo (transmitido pelo bacilífero) pela primeira vez, adquire a primoinfecção. Inicialmente (durante as primeiras 8 semanas da primoinfecção), o paciente não possui resposta adequada para controlar a replicação da bactéria. Sendo assim, como a bactéria é um ser aeróbico e ela está localizada nos pulmões, ela acaba por se proliferar muito e rapidamente, ocasionando em sua disseminação. Entre as 3-8 semanas de infecção, iniciamos a resposta celular contra a bactéria, sendo assim, macrófagos e linfócitos formam uma espécie de cordão ao redor do bacilo, impedindo com que haja a entrada de ar, logo, esse bacilo não consegue se replicar mais, no entanto, ele não morreu, ele apenas está latente dentro do organismo, formando assim, o granuloma caseoso. Infecção latente: 90% dos pacientes (com imunidade competente) apenas adquirem a infecção latente, ou seja, são pacientes que foram infectados pelos bacilos, porém não desenvolveram a doença. Geralmente, esses pacientes não transmitem a doença. TB primária: 10% dos pacientes desenvolvem a doença. A TB primária, se refere aquele paciente que desenvolveu a TB na primoinfecção, ou seja, esses pacientes não conseguiram conter o bacilo por meio da formação do granuloma caseoso. TB pós-primária: 10% dos pacientes desenvolvem a doença. A TB pós-primária se refere aos pacientes que foram infectados pela TB, mas conseguiram fazer o granuloma caseoso. No entanto, em uma queda da imunidade ou reinfecção pela bactéria, esse granuloma se desfez e o bacilo se reativou, iniciando novamente sua replicação, e agora, desenvolvendo a doença anos após a primoinfecção. Tuberculose 2 Tipos: TB pulmonar (80-85%); TB extra-pulmonar. TB pulmonar e laríngea que são tuberculoses transmissíveis. TB pulmonar: 1. TB primária: Mais comum em crianças (pois crianças geralmente não possuem imunidade definida ainda, logo, no primeiro contato, desenvolvem TB) ou pacientes com HIV (imunossuprimidos). QC: pneumonia arrastada (tosse + febre baixa) que não melhora adequadamente com o uso de ATB. Exame de imagem: presença de adenopatia hilar unilateral (aumento dos linfonodos hilar) → bem sugestivo de TB. Transmissão: a criança é paucibacilífera (pouco bacilo), sendo assim, ela não consegue transmitir os bacilos. Logo, provavelmente, que quem infectou a criança tenha sido um adulto. Sendo assim, é sempre importante perguntar se há algum adulto em casa com tosse. Complicação: TB miliar (”sepse”) → os pacientes com maior risco de complicação, são os menores de 2 anos, imunodeprimidos e não vacinados contra BCG. Tuberculose 3 2. Tuberculose pós-primária: Mais comum em adolescentes e adultos jovens. QC: tosse > ou igual a 3 semanas, febre baixa vespertina, sudorese noturna, dor torácica pleurítica e perda ponderal. Ausculta pulmonar: diminuição do MV e estertores. Pode haver o sinal de Abrahams (macicez ou submacicez durante a percussão em região acromial). Exames de imagem: presença de infiltrados pneumônicos (processo inflamatório) + cavitações em lobo superior do pulmão (em casos mais avançados → o bacilo é aeróbico, logo, ele se concentra em regiões do pulmão que possuem mais ar, que são as áreas superiores). Pode haver a presença do complexo de ghon (granuloma). Transmissão: Esses pacientes são bacilíferos → capazes de transmitir o bacilo. Complicações: formação de bola fúngica (o fungo aspergillus se concentra na região de cavitações e se replica, causando sintomas, como hemoptise). Tuberculose 4 Diagnóstico: a. Em pacientes com idade maior ou igual a 10 anos: É necessário ter 2 desses 3 critérios para iniciar o tratamento. Clínica compatível. Exame de imagem compatível. Escarro. O escarro pode ser realizado de 3 formas: 1. Teste rápido (TRM-TB): exame padrão ouro e de escolha para diagnóstico, pois é rápido (2h), precisa de apenas uma amostra e ainda avalia resistência do bacilo em relação à rifampicina → não é um bom exame para acompanhamento. 2. Baciloscopia (BAAR): é o mais utilizado para diagnóstico de TB, por ser mais acessível. Nesse caso, é necessário pelo menos duas amostras (uma do dia da consulta e outro na manhã seguinte) → é o exame preferível para acompanhamento. 3. Cultura: a cultura normalmente é solicitada quando há dúvidas diagnósticas e quando tanto o teste rápido ou a baciloscopia são positivas. Normalmente, ela demora 2-8 semanas para ficar pronta, a sua utilidade, está relacionada ao fato de que, geralmente, precisamos colher a baciloscopia para acompanhamento (depois de 2 meses do TTO) → sendo assim, a cultura já estará quase pronta, logo, caso o paciente não tenha apresentado melhora, a cultura serve para avaliar sensibilidade do bacilos a certos medicamentos, e assim, possível de realizar a troca. 4. Sempre devemos pedir para todos os pacientes o raio-x de tórax. b. Em pacientes com idade < 10 anos: É feito por meio do método de pontuação. Sendo assim, pontuação > ou igual a 40 pontos, devemos tratar. 1. Clínica (15 pontos); 2. RX de tórax (15 pontos); 3. Contato com adulto com TB (10 pontos); 4. Prova tuberculínica (5 pontos); Tuberculose 5 5. Estado nutricional (5 pontos). Na prática → pode ser feito a cultura do lavado gástrico (pois a criança deglute o escarro). TB extrapulmonar: 1. TB pleural: Mais comum no Brasil na população geral (não é o tipo mais comum em pacientes com HIV). QC: tosse arrastada + dor pleurítica + febre baixa → quadro respiratório arrastado. Pode apresentar a tríade (astenia, emagrecimento e anorexia). Características do líquido: líquido do tipo exsudato (líquido claro) + glicose baixa + celularidade com linfócitos e macrófagos (no início pode ter predomínio de polimorfonucleares, mas a medida com que a doença avança ficam apenas os linfócitos e macrófagos) com ausência de eosinófilos e células mesoteliais → se tem isso, devemos pensar em CA. Todas essas características + ADA > 40 → muito sugestivo, pode iniciar o tratamento para TB pleural, mesmo sem baciloscopia. Diagnóstico: padrão ouro é apenas por biópsia pleural (apenas utilizado em dúvidas). Além disso, pode ser feito baciloscopia ou cultura do líquido, porém a sensibilidade/especificidade é muito baixa, e não ajuda. Logo, devemos levar em consideração os critérios de exsudato + glicose baixa + presença de linfócitos e macrófagos e ausência de eosinófilos e células mesoteliais + ADA > 40. 2. TB meningoencefálica: Mais comum em crianças não vacinadas contra BCG ou pacientes imunodeprimidos. QC: clínica arrastada (subaguda). Pode ter lesões de NC. Características do liquor: elevação de proteínas, glicose baixa e presença de linfócitos (linfomononuclear - no início pode ter predomínio de polimorfonucleares, mas a medida com que a doença avança ficam apenas os linfócitos). Diagnóstico: o padrão ouro é biópsia (não se faz) → inicia o tratamento empírico, baseado nesses critérios acima. A cultura pode ser feita, ajuda (mas sempre Tuberculose 6 iniciamos o TTO, não esperamos a cultura). Tratamento: O tratamento é baseado no esquema RIPE. 1. Esquema básico: RIPE durante 6 meses, sendo os dois primeiros meses com o esquema total e os outros 4 meses, apenas utilizando o RI → são duas fases de tratamento, ataque e manutenção. 2. Em crianças com idade < 10 anos: utilizamos apenas o esquema RIP (sem o uso do etambutol, pois ele causa neurite óptica). 3. TB meningoencefálica e osteoarticular: RIPE durante 12 meses, sendo os dois primeiros meses com o esquema total e os outros 10 meses, apenas utilizando o RI. Para evitar sequelas da TB meningoencefálica: atuamos com corticoide (1-3 meses), como prednisona 40mg. Observação: Ao fim dos dois meses(inicia a fase de manutenção), é preciso realizar novamente a baciloscopia de escarro (como forma de acompanhamento), sendo assim, caso esse exame venha negativado, é preciso continuar com o esquema RH (rifampicina e isoniazida). Caso seja positiva, é preciso checar a cultura e o teste de sensibilidade (bactéria resistente ao medicamento), e ainda, questionar ativamente se o paciente está em tratamento correto. Normalmente, quando a baciloscopia do segundo mês vem positiva, é preciso manter as 4 drogas por mais 30 dias, até o resultado da cultura sair, para então avaliar a sensibilidade da bactéria sobre o medicamento. Esse medicamento poderá ser aumentado a dose ou trocado, caso haja resistência. Efeitos adversos: RIPE: Intolerância gástrica. R: gripe, alergia (nefrite intersticial aguda, asma), suor laranja, citopenia/pancitopenia. I: neuropatia periférica (depleta vitamina b6/piridoxina → pode indicar para as gestantes). P: hiperuricemia (pode precipitar gota). E: neurite óptica. Hepatotoxicidade: Tuberculose 7 O RIP causa hepatotoxicidade. O pior para o fígado é a pirazinamida, o intermediário é a isoniazida e o que é menos pior é a rifampicina. No entanto, devemos interromper o esquema RIPE por 30 dias, se o paciente apresenta: icterícia. Aumento de transaminases 3x valor de referência + sintomas (geralmente, gastrointestinais). Aumento de transaminases 5x valor de referência. Se melhorou depois de 30 dias → devemos reintroduzir com o RE → se ficou bem, reintroduz o I (dentro de 3-7 dias), se ficou bem reintroduz o P. Se não melhorou depois de 30 dias → esquema CEL (para evitar do fígado do paciente ir para o CÉL)→ capreomicina, etambutol e levofloxacino. Acompanhamento: Tratamento diretamente observado (TDO) → observar o paciente a tomar o medicamento. Baciloscopia: o ideal é fazer de maneira mensal, mas pode ser feito a cada 2 meses (2, 4 e 6 meses) + radiologia. Controle: Busca ativa de sintomáticos respiratórios: tosse > 3 semanas. Controle dos contactantes: pessoas que convivem com a pessoa com tuberculose → avaliar a clínica + RX de tórax. Caso o paciente tenha clínica e/ou alterações em raio-X → investigar o adoecimento, por meio do teste rápido ou baciloscopia ou sistema de pontuações (em crianças). Caso o paciente não tenha clínica ou alterações em raio-X (raio-X normal) → devemos investigar a infecção latente. Infecção latente: Tuberculose 8 Em pacientes sem sintomas ou sem alterações em Raio-X, devemos atuar com a prova tuberculínica (PPD). <5mm: não infectado (uma PPD negativa, não descarta infecção → deve repetir em 8 semanas). >ou igual a 5mm: infectado → devemos tratar a infecção latente. Observação: BCG não altera a PPD. Grupo de pessoas: PPD > ou igual a 5mm, devemos iniciar o TTO de TB latente PPD > ou igual a 10 mm, devemos iniciar o TTO de TB latente Contatos (nos últimos 2 anos) adultos e crianças de Tb pulmonar e laríngea; PVHIV com LT CD4+ > ou igual a 350; Pessoas em uso de inibidores de TNF alfa ou corticoesteroides (>15mg/dia de prednisona por mais de um mês); pessoas com alterações radiológicas fibróticas sugestivas de sequela de TB; pré-transplante que irão fazer terapia imunossupressora. Pessoas com silicose; Neoplasia de cabeça e pescoço, linfomas e outras neoplasias hematológicas; Neoplasias em terapia imunossupressora; IR em diálise; DM; Baixo peso (<85% do peso ideal); Tabagistas (1 maço ou mais por dia); Calcificação isolada (sem fibrose) no raio-X; profissionais da saúde, pessoas que vivem ou trabalham no sistema prisional ou em instituições de longa permanência. Tratamento da infecção latente: Droga de escolha: isoniazida (270 doses durante 9-12 meses). Droga alternativa: Pode ser dado rifampicina 120 doses em 4-6 meses. Pode ser utilizado <10 ou >50 anos e em pacientes com intolerância à isoniazida. Novidade: isoniazida + rifapentina (12 doses, em 3 meses, 1x/semana). RN contactante de bacilífero: RN que entram em contato com adultos bacilíferos. Não vacinar com BCG ao nascer. Iniciar I ou R por 3 meses + PPD. Ao final do terceiro mês → realizamos a PPD. Tuberculose 9 Se PPD for maior ou igual a 5mm → não devemos vacinar + 3 meses de I OU 1 mês de R (termino com a droga que eu iniciei o tratamento, há 3 meses). Se PPD < 5mm → suspender o medicamento e vacinar contra BCG.
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