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Joelma Marçal Gestão do trabalho pedagógico Joelm a M arçal Código Logístico 59874 ISBN 978-65-5821-031-3 9 7 8 6 5 5 8 2 1 0 3 1 3 Gestão do trabalho pedagógico Joelma Marçal IESDE BRASIL 2021 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2021 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: pixome/Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ M262g Marçal, Joelma Gestão do trabalho pedagógico / Joelma Marçal. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2021. 86 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-65-5821-031-3 1. Professores - Formação. 2. Inovações educacionais. 3. Prática de ensino. I. Título. 21-71059 CDD: 370.21 CDU:37.026 Joelma Marçal Doutoranda em Educação pelo Instituto Superior de Educação e Ciência (ISEC)/Faculdade Lusófona de Portugal. Mestre em Educação, História e Política pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Graduada em Pedagogia pela UFSC. Pesquisadora/ Consultora do MEC. Coordenadora pedagógica da educação básica em escolas públicas e privadas. Docente no ensino superior na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) e em outras faculdades, ministrando as disciplinas de Princípios da Orientação Educacional; Princípios da Supervisão Educacional; Didática Geral I e II; Metodologia da Pesquisa; Liderança e Trabalho em Equipe e Empreendedorismo. Coordenadora do curso de pós-graduação de Gestão de Projetos na rede privada SUMÁRIO 1 Desafios educacionais na atualidade 9 1.1 Novos papéis do pedagogo 10 1.2 Mercado de trabalho 14 1.3 Ensino híbrido 19 2 O cotidiano escolar como laboratório 32 2.1 Mapeando o território 33 2.2 Alinhando as parcerias 35 2.3 Construindo o Projeto Político-Pedagógico 39 3 A práxis do trabalho pedagógico 47 3.1 Expertise pedagógica 48 3.2 Inovação das práticas pedagógicas 50 3.3 Instrumentos pedagógicos essenciais 53 4 Uma gestão pedagógica inovadora é possível? 60 4.1 Autonomia x heteronomia 60 4.2 Uma questão de gestão 63 4.3 Por uma gestão pedagógica do trabalho escolar 67 5 O papel do pedagogo na escola: o inédito viável 72 5.1 O pedagogo necessário 73 5.2 O pedagogo possível 76 5.3 O pedagogo pesquisador pensante 78 Gabarito 82 Esta obra tem por objetivo oportunizar o debate acerca das questões que norteiam o trabalho do pedagogo. A ideia foi reunir contribuições importantes para enriquecer as discussões sobre o trabalho desse profissional e sua importância para o desenvolvimento de um processo educativo de qualidade nas escolas. Deste modo, no primeiro capítulo apresentamos pontos importantes sobre a formação recebida nos cursos superiores de Pedagogia, atrelados à prática pedagógica desenvolvida durante a construção da carreira do pedagogo. Nessa parte, é de fundamental relevância destacar o contexto histórico em que a formação acadêmica ocorreu, tendo como base o pedagogo no centro dos processos educativos, independentemente das circunstâncias enfrentadas. A discussão sobre território e os desafios que nele se apresentam está contida no segundo capítulo, no qual também encontramos os entraves e as possibilidades oferecidas pelo cenário no qual a escola está inserida e os relacionamos ao trabalho pedagógico desenvolvido. Outro ponto tratado no referido capítulo é o estabelecimento de parcerias nesse território, aspecto intrinsecamente ligado ao sentimento de pertença e ao protagonismo educacional. Finalmente, chegamos à discussão sobre o projeto político-pedagógico, levantando questões como a participação efetiva de todos os representantes da comunidade escolar: alunos, professores, famílias e lideranças locais governamentais e não governamentais em todas as etapas do projeto. O terceiro capítulo trata do conceito de expertise, mais especificamente sobre a expertise pedagógica, e de que modo ela pode vir a contribuir para a carreira do pedagogo e para o trabalho realizado por esse profissional, tornando sua prática transformadora e elevando-a à práxis pedagógica. Discute-se também sua formação contínua, seu saber-fazer pedagógico e sua contribuição como fomentador, gestor e articulador do pensar pedagógico, com o objetivo de construir uma prática capaz de oportunizar mudanças profícuas no cenário educacional vigente. APRESENTAÇÃOVídeo 8 Gestão do trabalho pedagógico Debatendo elementos que fazem parte de uma proposta democrática de gestão, o quarto capítulo apresenta a discussão sobre a gestão pedagógica e os desafios para torná-la inovadora, significativa e eficaz, trazendo exemplos e contrapondo-os dentro do cenário no qual o pedagogo está inserido, relacionando-os ao trabalho pedagógico desenvolvido. Para debater sobre o papel do pedagogo, o último capítulo traz os elementos constituintes da caminhada desse profissional que influenciam na construção de sua identidade, na condução de sua carreira e no alinhamento da sua prática pedagógica. Para encerrar a obra, ressaltamos a questão da pesquisa e da formação para a construção do pensar pedagógico. O pedagogo-pesquisador, pensante e atuante no cenário educativo, capaz de promover a mediação, a articulação e a formação de saberes e fazeres, por meio do prisma da coletividade, na prevenção e na análise qualitativa dos resultados, é o profissional possível e necessário no âmbito escolar. Diante do cenário educacional vivenciado durante a pandemia da Covid-19, com aulas remotas e híbridas, o pedagogo vai construindo e se constituindo profissional essencial para a educação. Assim, ter a compreensão do seu papel educacional e do lugar essencial que ocupa no cenário educativo, torna o pedagogo uma figura central e imprescindível para a elaboração de estratégias pedagógicas de excelência, na busca por uma educação significativa e de qualidade. Esperamos que tenham boas reflexões pedagógicas! Desafios educacionais na atualidade 9 1 Desafios educacionais na atualidade Neste capítulo, discutiremos pontos importantes, relacionando-os com a formação recebida no curso superior e com a prática desen- volvida durante a construção da carreira. Em um primeiro momento, ressaltaremos a importância de discutirmos essa temática com base em seu contexto histórico, a fim de reaver os elementos construídos em diferentes épocas e, assim, estabelecer uma relação que possibili- te a composição do cenário educacional atual. Outro tema que abordaremos ao longo deste capítulo é o merca- do de trabalho; veremos, inclusive, suas características para receber o pedagogo. Intrinsecamente ligado ao modo de organização capi- talista, o campo de atuação desse profissional, também construído historicamente, apresenta lacunas que refletem os desafios vividos na formação do pedagogo. Por fim, abordaremos o ensino híbrido, contando com questões sobre a participação efetiva do pedagogo em situações de crise, a velocidade das inovações pedagógicas e o impacto de se repensar os rumos da educação tendo como base o pedagogo no centro dos processos educativos, independentemente das circunstâncias enfrentadas. É muito importante considerarmos a trajetória da pedagogia e todas as influências que essa carreira recebe, desde a formação acadêmica até o dia a dia profissional. Só assim seremos capazes de impingir caráter científico aos debates sobre as temáticas da educação. 10 Gestão do trabalho pedagógico 1.1 Novos papéis do pedagogo Vídeo A identidade do pedagogo é objeto de estudo, discussão e, ao que parece, é um processo ainda em construção. Para elaborar um con- ceito que descreva qualitativamente sua essência, alguns elementos precisam ser debatidos e levados em consideração;por exemplo: iden- tidade; contexto histórico, social e político; formação; legislações vigen- tes; entre outros pontos que, ao serem discutidos, contribuem para conhecer a profissão desse profissional da educação, bem como sua origem, seus entraves e suas possibilidades. O termo pedagogo era utilizado para nomear o indivíduo escravi- zado responsável por conduzir as crianças da elite da Grécia antiga ao templo do saber. Ali, desenvolviam o que podemos denominar hoje escolaridade. De acordo com a etimologia, a palavre pedagogia vem do grego paidós e agogé que significam, respectivamente, criança e condu- ção. O sujeito que guia, direciona, encaminha para o conhecimento é o pedagogo. Com base nessa análise, podemos perceber que a ciência da pe- dagogia se inicia com uma função operacional, porém já intimamen- te ligada ao ato de construir saberes. Mesmo ocorrendo mudanças significativas ao longo do tempo, no que concerne à sua construção identitária, essa característica permanece durante toda a trajetória his- tórico-cultural do pedagogo, permanecendo evidente em todas as fa- ses: em seu envolvimento intrínseco com o cognitivo, com os processos educativos e com o ensinar e o aprender. É importante entender que durante um longo período o conheci- mento foi diretamente relacionado ao poder, no sentido de se apre- sentar inacessível para todos os sujeitos e de estar restrito a circular apenas entre os detentores dos interesses da minoria dominante em diferentes épocas: clero, igreja, monarquias, organizações políticas, en- tre outros. O objetivo era manter na ignorância a grande maioria da população para concentrar o controle econômico, político e social. Com o passar das décadas, a sociedade foi sofrendo transformações e, com elas, outras fontes de conhecimento foram apresentadas. Novas for- mas de acesso e manipulação das descobertas também surgiram. De acordo com Libâneo (2001, p.122), Desafios educacionais na atualidade 11 a sociedade atual é eminentemente pedagógica, ao ponto de ser chamada de sociedade do conhecimento. Vejamos alguns exemplos. Está se acentuando o poder pedagógico dos meios de comunicação: TV, imprensa, escrita, rádio, revistas, quadrinhos. A mídia se especializa em fazer cabeças, não apenas no campo econômico, político; especialmente no campo moral. Na formação acadêmica, encontraremos muitos currículos de cur- sos de Pedagogia que sofreram e sofrem alterações de acordo com as instituições de ensino e legislações (municipais; estaduais e federais). Assim, dependendo da formação recebida, o pedagogo termina seu curso superior preparado para: docência, gestão e/ou pesquisa. Em resumo, a Pedagogia, mediante conhecimentos científicos, filosóficos e técnico-profissionais, investiga a realidade educa- cional em transformação, para explicitar objetivos e processos de intervenção metodológica e organizativa referentes à trans- missão/assimilação de saberes e modos de ação. Ela visa ao en- tendimento, global e intencionalmente dirigido, dos problemas educativos e, para isso, recorre aos aportes teóricos providos pelas demais ciências da educação. (LIBÂNEO, 2001, p. 160) Em seus primórdios, a formação profissional preconizava instruir o sujeito para a docência, auxiliando-o no processo de preparação para que pudesse atuar ministrando as disciplinas dos anos iniciais, as quais, diferentemente dos anos finais da educação básica, não exigem aprofundamento de conteúdo, podendo ser trabalhadas pelo profes- sor pedagogo generalista. É importante ressaltar que, assim como o papel do pedagogo veio sendo discutido e sofrendo profundas alterações, o mesmo ocorreu com a própria ciência da pedagogia, tanto no que diz respeito a ser reconhecida como área científica quanto a se constituir como referên- cia teórica do processo educativo humano. Desse modo, para construir um conceito pedagógico que defina a atuação do pedagogo, é essencial compreender a pedagogia em seu cerne histórico, acadêmico e social. O curso de Pedagogia não prepara apenas para o exercício da do- cência; é uma formação que contribui para a construção de um sujeito empoderado também nas demais áreas em que se alicerçam os pila- res que balizam a educação. Libâneo afirma que a caracterização de pedagogo-especialista: No filme O nome da rosa, Umberto Eco nos revela conflitos medievais como abusos de poder, ostentação, injustiças e demagogia. Esse mundo era dominado pela Igreja Católica, que mantinha todo o conhecimento produzido até então e não permitia a homens comuns o acesso aos dogmas religiosos nos quais a Igreja estava embasada. Ela, por assim dizer, mantinha a sete chaves tudo o que considerava pagão e herege e que pudesse ser prejudicial à ordem e ao poder já estabelecido. Direção: Jean-Jacques Annaud. Itália, Alemanha, França: Cristaldfilm; France 3 Cinéma, 1986. Filme 12 Gestão do trabalho pedagógico é necessária para distingui-lo do profissional docente. Importa formalizar uma distinção entre trabalho pedagógico (atuação profissional em um amplo leque de práticas educativas) e traba- lho docente (forma peculiar que o trabalho pedagógico assume na escola). Caberia, também, entender que todo trabalho docen- te é trabalho pedagógico, mas que nem todo trabalho pedagógi- co é trabalho docente. (LIBÂNEO, 2001, p. 100) Após a conclusão do curso, ainda que o pedagogo não exerça a do- cência, aqui já mencionada como sendo a área mais conhecida de sua formação, ele terá nessa área toda sua base formativa. Na verdade, ao aglutinar também a pesquisa e a gestão à essa formação, um nível de abrangência especialmente amplo é adquirido, podendo ser verifica- do, sobretudo, nos diferentes espaços de atuação da profissão. Para o desenvolvimento das competências e habilidades de modo mais pro- fundo e específico, o pedagogo pode buscar aperfeiçoamento e espe- cializar-se tanto em processos de gestão e acompanhamento quanto na produção do conhecimento por meio da pesquisa científica. Podemos afirmar que todo pedagogo é também um pesquisador, sempre em busca de construção de conhecimento, descobertas, hipó- teses, análises de dados, bem como de debates e discussões em tor- no do desenvolvimento de ideias. A gestão dos processos educativos é inerente à prática desse profissional, uma vez que ele é corresponsável pelo diálogo constante entre as diferentes instâncias que compõem a comunidade escolar, ou seja, professores, alunos e pais. Nessa concepção, segundo Libâneo (2002, p. 30), o pedagogo: é o profissional que atua em várias instâncias da prática educati- va, indireta ou diretamente vinculadas à organização e aos pro- cessos de aquisição de saberes e modos de ação, com base em objetivos de formação humana definidos em uma determinada perspectiva. Dentre essas instâncias, o pedagogo pode atuar nos sistemas macro, intermediário ou micro de ensino (gestores, supervisores, administradores, planejadores de políticas edu- cacionais, pesquisadores ou outros); nas escolas (professores, gestores, coordenadores pedagógicos, pesquisadores, formado- res etc.); nas instâncias educativas não escolares (formadores, consultores, técnicos, orientadores que ocupam de atividades pedagógicas em empresas, órgãos públicos, movimentos sociais, meios de comunicação; na produção de vídeos, filmes, brinque- dos, nas editoras, na formação profissional etc.) Desafios educacionais na atualidade 13 Da mesma forma, o pedagogo professor é o gestor do processo educativo que medeia em sala de aula e o pesquisador que se apri- mora constantemente, estudando diariamente para planejar as aulas e construir projetos contextualizados. Com vistas a construir, desenvolver, fomentar e praticar uma edu- cação que promova qualidade de vida a todos em condições de equi- dade, a educação transformadora é elencada como uma possibilidade concreta de formação do pedagogo para atuar nos papéis descritos anteriormente. Receber um preparo profissional acadêmico alicerçado emideias libertadoras parece ser a maneira mais eficaz de se construir/ desenvolver a ciência da pedagogia que oportuniza receber no merca- do de trabalho um indivíduo apto a mediar as situações pedagógicas atuais. Segundo Freire (1996, p. 123), o diálogo é uma espécie de postura necessária, na medida em que os seres humanos se transformam cada vez mais em seres criticamente comunicativos. O diálogo é o momento em que os humanos se encontram para refletir sobre sua realidade tal como a fazem e refazem [...] através do diálogo, refletindo juntos sobre o que sabemos, podemos e, a seguir, atuar criticamente para transformar a realidade.[...] O diálogo sela o relacionamen- to entre sujeitos cognitivos, assim podemos atuar criticamente para transformar a realidade [...] Eu acrescentaria que o diálo- go valida ou invalida as relações sociais das pessoas envolvidas nessa comunicação [...] O diálogo libertador é uma comunicação democrática, que invalida a dominação [...] ao afirmar a liberda- de dos participantes de refazer a cultura. É possível percebermos diálogo como base para relacionar essas três áreas na formação do pedagogo. O processo dialógico é, sem dú- vida, o principal meio de intervenção na prática do pedagogo, indepen- dentemente do cargo que irá exercer, tanto nas instituições escolares formais quanto nas não formais ou informais. Para dar conta de uma formação que abarque os processos de mediação por meio de ações dialógicas, é necessário um currículo que oportunize valorizar o con- texto, o ambiente e a história de cada um dos sujeitos envolvidos no processo de ensinar e de aprender. Libâneo (2001, p. 134) traz uma primorosa contribuição ao afirmar que: a formação dos profissionais da educação deve contemplar a preparação daqueles profissionais da área educacional deman- dados pela sociedade brasileira, em sua configuração atual, para 14 Gestão do trabalho pedagógico atuarem na organização e na gestão de todos os segmentos do sistema nacional de ensino. Com igual insistência, é também ne- cessária a formação de estudiosos que se dediquem à constru- ção do conhecimento científico na área, uma vez que a educação também é considerada como um campo teórico-investigativo e que a produção desse conhecimento é requisito fundante de toda formação técnica e docente. Assim, a formação do profis- sional da educação é vista sob uma tríplice perspectiva. Diante de todas as discussões sobre o papel do pedagogo, as dú- vidas e incógnitas sobre a identidade, o perfil e as características que devem ser predominantes nesse profissional da educação ainda são muitas. Quais competências e habilidades precisam ser desenvolvidas? Como construir um currículo que garanta a formação necessária para atuar na sociedade atual? É importante se apoiar no pensamento de que, portanto, o que se percebe é que tanto a identidade do pedago- go quanto o seu trabalho está em constante construção e aos poucos vão tecendo seu perfil, seus conhecimentos, suas identi- dades; uma vez que seu trabalho está ligado a várias áreas, cultu- ral, educacional, social, humana. (PIMENTA, 2004, p. 88) Mais do que construir um conceito unificado entre a pedagogia e o pedagogo, é preciso, também, que esse profissional possa se inserir no mercado de trabalho com segurança e qualidade, preenchendo, com propriedade científica, as lacunas ainda existentes nos processos edu- cativos da sociedade. 1.2 Mercado de trabalho Vídeo Por quantas funções um pedagogo é formado? Como esse profissio- nal constrói suas características? Como elas influenciam a composição dos cargos ofertados no mercado de trabalho? Com base nas questões levantadas no parágrafo anterior, acredita- mos que, assim como existem lacunas no processo de construção da identidade e do perfil do pedagogo, há também um campo de incerte- zas no que se refere ao mercado de trabalho, não só pela questão das lacunas da formação, mas sobretudo pela desvalorização econômica, política e social da carreira. Desafios educacionais na atualidade 15 O legado histórico-cultural acerca da identidade, formação e atua- ção do pedagogo é permeado por grandes acontecimentos, cons- tantes adaptações, mudanças, alterações, avanços e retrocessos, tendendo à constantemente atender às novas demandas políti- cas, sociais, econômicas e culturais que envolvem o processo edu- cativo e os indivíduos nele inseridos. Sendo assim, a identidade do profissional pedagogo foi – e é até os dias de hoje – amplamente discutida, a fim de desvendar e situar seu real papel, tanto no bojo social quanto no educacional, enquanto propiciador da formação integral do indivíduo. (BARBOSA et al., 2008) O mundo do trabalho é gerido pelo modus operandi do capitalis- mo e, de acordo com as transformações ocorridas na sociedade, vai sofrendo alterações à medida que também influencia esse mercado. Desse modo, a inserção do pedagogo no mundo do trabalho está dire- tamente ligada às políticas públicas e ao cenário educacional nos âmbi- tos nacional e internacional. Sendo uma profissão pouco valorizada socialmente, o pedagogo enfrenta um desafio a mais na hora de exercer seu ofício, haja vista a redução de oportunidades e a ausência de vagas diversificadas. O cargo de professor ainda é o que apresenta maior possibilidade de se conseguir um posto de trabalho. Ao mesmo tempo em que cada vez mais a sociedade exige um perfil de profissional polivalente (característica que pode muito bem ser en- contrada na formação do egresso da Pedagogia), a maioria dos cargos exigem também especializações que nem sempre estão disponíveis para todos. Diante das incertezas anteriormente discutidas, quando se direcio- na o olhar para os espaços escolares, podemos encontrar o pedagogo ocupando diferentes cargos, desempenhando funções nem sempre condizentes com a sua formação. A realidade trabalhista, ainda que em tempos distintos, nem sempre oferece oportunidades coerentes, que valorizem esse profissional e possibilitem seu crescimento. Assim, é possível encontrar pedagogos exercendo funções opera- cionais e burocráticas na secretaria da escola ou até mesmo substituin- do a figura do bibliotecário, na falta desse profissional no quadro de colaboradores. É comum, também, desempenhar mais de uma função, como, atuar na direção da escola e responder pela coordenação peda- gógica ao mesmo tempo. 16 Gestão do trabalho pedagógico Em todas as situações mencionadas (e outras tantas que é possível aqui apresentar), o pedagogo acaba por não exercer seu verdadeiro papel, encontrando-se muitas vezes perdido e até mesmo descrente de sua profissão. O objetivo de sua formação é, de modo geral, promover circunstâncias pedagógicas ideais para a construção coletiva dos sabe- res, de acordo com o contexto em que está inserido. Essa condição não encontra terreno fértil nas atuais oportunidades empregatícias da grande maioria dos recém-formados nos cursos de Pedagogia. Nem mesmo a tão sonhada estabilidade vinda de um con- curso público parece dar conta de motivar a escolha desse curso no momento em que os jovens saem do ensino médio e decidem suas profissões. Tudo isso é resultado de um cenário educacional caótico e dependente das políticas públicas do país. É necessário, porém, analisar as condições de trabalho pelo viés da modernização/globalização do mercado de trabalho no que se refere às novas áreas que trazem consigo oportunidades inéditas para o pe- dagogo, apresentando cargos e funções antes não pensadas para esse profissional. O pedagogo acabou encontrando um campo de atuação em es- paços alternativos, como hospitais, empresas, editoras, organizações não governamentais e outros lugares que não se caracterizam neces- sariamente como escolares. Por uma questão de sobrevivência, esse profissional ampliou seu cenário de atuação e, consequentemente, seu processo formativo, que acabou por sofrer significativas alterações. É quase unânime entre os estudiosos, hoje, o entendimento de queas práticas educativas estendem-se às mais variadas instân- cias da vida social, não se restringindo, portanto, à escola e muito menos à docência, embora estas devam ser a referência da for- mação do pedagogo escolar. Sendo assim, o campo de atuação do profissional formado em pedagogia é tão vasto quanto são as práticas educativas na sociedade. Em todo lugar onde hou- ver uma prática educativa com caráter de intencionalidade, há aí uma pedagogia. (LIBÂNEO, 2002, p. 51) O papel do pedagogo é o da mediação com base em uma ação dia- lógica; portanto, suas competências e habilidades correspondem mui- to bem às circunstâncias em que essa postura é necessária. Assim, se o campo de atuação é propício para a ação educativa/formativa, o pe- Paulo Freire acreditava que, se os alunos forem orientados por meio de um diálogo político-pe- dagógico, há uma possi- bilidade de aproximação crítica do conhecimento e sua recreação. Em Pedagogia da Autonomia, o autor discorre sobre como os professores devem ensinar os alunos a serem Seres Mais, criando uma ação transformadora. Para isso, explica sobre a ética crítica, a competência científica e a amorosida- de autêntica, com base no engajamento político. Depois de ler o livro, você saberá sobre como deve ser a formação de um educador e como uma boa relação com o edu- cando é importante. FREIRE, P. São Paulo: Paz e Terra, 1996. Livro Desafios educacionais na atualidade 17 dagogo terá oportunidade de trabalho, ainda que sua formação tenha como base o exercício da docência. Contribuir para a interpretação dos fenômenos econômicos, políti- cos e sociais que regem a sociedade, investigando, compreendendo e refletindo teoricamente para a construção de uma discussão coletiva acerca das melhorias necessárias no âmbito educacional, parece ser o que assegura a necessidade da presença do pedagogo em todo o espa- ço que promova a ação educativa. Educação de qualidade é aquela em que a escola promove para todos o domínio de conhecimentos e o desenvolvimento de capa- cidades cognitivas e afetivas necessários ao atendimento de ne- cessidades individuais e sociais dos alunos, à inserção no mundo do trabalho, à constituição da cidadania (inclusive como poder de participação), tendo em vista a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. A articulação da escola com o mundo do trabalho se torna a possibilidade de realização da cidadania, por meio da internalização de conhecimentos, habilidades técnicas, novas formas de solidariedade social, vinculação entre trabalho pedagógico e lutas sociais pela democratização da sociedade. (LIBÂNEO, 2007, p.117, grifos do original) É importante deixar registrado também que as constantes trans- formações ocorridas na sociedade criaram possibilidades distintas no campo profissional para que o pedagogo ampliasse sua atuação. Sob o viés das mudanças substanciais vivenciadas ao longo da história, o pedagogo vem se tornando uma peça fundamental para se pensar em processos educativos contextualizados, vetores de ligação entre as áreas do conhecimento e agente mediador do desenvolvimento dos sa- beres atribuídos como essenciais para atender ao mundo atual, quais sejam: empatia, corresponsabilidade, resolução de conflitos, proativi- dade, senso de liderança e capacidade analítica. Ramal (2002, p.34, gri- fos do original) ilustra muito bem isso ao dizer que: vivemos numa era em que o conhecimento assume novas con- figurações. Ele se modifica permanentemente, sendo atualizado dia a dia pelas descobertas das ciências e por essa inteligência coletiva que produz saberes em conjunto, na grande rede do ci- berespaço. A memória da humanidade já não está confinada nas bibliotecas, mas sim em contínua reconstrução. Nesse contexto, a capacidade de gerenciar a informação se torna, muitas vezes, a competência mais valiosa. Nesse cenário, a tarefa do pedago- go também se modifica e sua profissão se torna estratégica. Ao 18 Gestão do trabalho pedagógico contrário de outras áreas que perdem seu espaço ou são limi- tadas pela especialização, para o pedagogo abre-se um raio de atuação cada vez maior. O que precisa ficar claro é que, mesmo diante dos cenários alter- nativos até aqui apresentados, é necessário tomar muito cuidado para não confundir ou sobrepor uma situação à outra no sentido de com- preender o papel do pedagogo na sociedade. Independentemente do espaço físico ocupado por ele, esse profissional da educação deve ter clareza dos princípios de sua profissão, bem como do embasamento de sua formação acadêmica. Exercer uma função em um museu ou em uma agência que promova turismo pedagógico não justifica uma atuação profissional rasa, pobre em teoria ou desassociada do traba- lho consistente de pesquisa. Atuar em um ambiente hospitalar, gerenciar projetos, construir pro- gramas socioeducativos ou exercer uma função no departamento de recursos humanos de uma empresa demandará do pedagogo adequa- ções de seus conhecimentos técnicos, mas a postura de pesquisador do saber jamais perderá espaço, mesmo diante de funções ou cargos alternativos exercidos. Para acompanhar o ritmo frenético do mundo globalizado, todo tra- balhador precisa estar em contato diário com as inovações surgidas em sua área de formação e/ou atuação. Com o pedagogo não é diferente; na verdade existe, inclusive, uma carga a mais de responsabilidade, pois sendo um profissional diretamente ligado à área educacional, a busca por informações, descobertas, debates e discussões no ambien- te educativo se torna um hábito a ser incutido na rotina do pedagogo como estratégia intrínseca de formação. Dessa forma, cargos e funções vão se apresentando, ampliando-se e fortalecendo-se como novos campos de exercício da pedagogia, ciência que preconiza o trabalho com o conhecimento, desde sua criação, pas- sando pelo fomento e aplicação em ambientes escolares e não escolares. Levando em consideração todo esse movimento, percebemos que as variações do mercado de trabalho tanto influenciam quanto sofrem influência na/da formação do pedagogo, construindo uma espécie de simbiose – processo que resulta em algumas consequências positi- vas para ambos os envolvidos. Com relação ao processo formativo, é importante: Desafios educacionais na atualidade 19 formar o pedagogo na perspectiva já discutida, que envolve a compreensão da realidade educacional referenciada pelos do- mínios de conhecimento constitutivos da área (antropologia, fi- losofia, história, psicologia, sociologia, entre outros), a projeção de ações para intervir na realidade educacional, sua implemen- tação, avaliação e redimensionamento, o que fará emergir outro saber, nem só teórico, nem só prático, mas, essencialmente, teó- rico-prático. (CRUZ; AROSA, 2014, p. 111) Por último, mas não menos importante, devemos frisar a questão da dificuldade em se construir um perfil identitário tanto para o curso quanto para o profissional formado. É exatamente aqui o ponto nevrál- gico a ser ressaltado: as oscilações vivenciadas pelo mercado de traba- lho contribuem sobremaneira para o desafio de compor o conceito de pedagogo e unificar seus preceitos. 1.3 Ensino híbrido Vídeo No ano de 2020, o mundo foi tomado por um assombroso processo pandêmico, no qual a população ficou sob a ameaça de um vírus identi- ficado como Sars-CoV-2, popularmente chamado coronavírus, causador da doença Covid-19. Muito pouco se sabe, até o momento da produção deste livro, sobre o vírus, mas em uma quantidade alarmante de casos, o resultado da doença foi letal, o que influenciou totalmente o compor- tamento das pessoas e alterou a forma de viver em inúmeros aspectos. Impossibilitados de circular nas ruas e em espaços compartilhados, de conviver socialmente com muitas pessoas, a sociedade se viu, de um dia para o outro, isolada dentro de casa. Comércios, empresas e esco- las sofreram um impacto imediato, porque tiveram de se adaptar para atender ao público, reinventando-se pelasnotícias diárias da ameaça invisível de um vírus transmitido pelo ar ou pelo contato entre as pes- soas e, a princípio, sem previsão de vacina. Mais uma vez o cenário educacional precisou ser ajustado mediante as transformações da sociedade e a grandiosa questão de saúde que assolava o mundo. Se o panorama da educação precisou ser revisto e recriado, mais uma vez o pedagogo precisou acompanhar os movimen- tos realizados por esse novo contexto enfrentado. Primeiramente, o atendimento dos alunos ocorreu de maneira remota, com as aulas no formato on-line. No decorrer dos ajustes 20 Gestão do trabalho pedagógico necessários, o ensino híbrido se tornou muito mais conhecido e um verdadeiro aliado para que as escolas passassem a atender seus alu- nos em meio à pandemia. Entretanto, essa modalidade de ensino não se trata de uma inovação desse contexto, mas sim uma categoria até então pouco explorada. O conceito de ensino híbrido trata basicamente da estratégia de combinar aulas presenciais com aulas remotas, assim como se apre- senta no site Porvir: Ensino híbrido é a metodologia que combina aprendizado on- line com o offline, em modelos que mesclam (por isso o termo blended, do inglês “misturar”) momentos em que o aluno estuda sozinho, de maneira virtual, com outros em que a aprendizagem ocorre de forma presencial, valorizando a interação entre pares e entre aluno e professor. (OLIVEIRA, 2013, grifos nossos) Esse modelo de aprendizagem está intrinsecamente ligado aos avanços que a tecnologia experimentou no campo da educação ao longo dos anos. A inserção das ferramentas tecnológicas no ambien- te educacional oportunizou a prática de um ensino mais interativo e globalizado. Com as tecnologias de informação e comunicação (TICs), utilizadas para se pensar o processo de ensino e de aprendizagem, as oportunida- des de se diversificar as práticas pedagógicas e de se alcançar um maior número de alunos foram se tornando ainda mais reais; novos horizontes se abriram, encurtando, assim, as distâncias e alargando as fronteiras en- tre pedagogos e o universo da educação. Para a UNESCO (2020), as tecnologias de informação e comunicação (TIC) exercem um papel cada vez mais importante na forma de nos comunicarmos, aprendermos e vivermos. O desafio é equipar essas tecnologias efetivamente, de forma a atender aos interesses dos aprendizes e da grande comunidade de ensino e aprendizagem. A utilização da tecnologia em sala de aula não se restringe ao uso de equipamentos e/ou recursos audiovisuais para a execução de uma ati- vidade específica. A inclusão do conceito das TICs possibilita alternati- vas significativas para tornar o processo educativo ainda mais atraente, substancial e, sobretudo, atualizado com o mesmo ritmo acelerado em que circulam informações e inovações em todas as áreas da sociedade. Desafios educacionais na atualidade 21 Para tanto, é necessário que o pensamento pedagógico tenha base nessas ferramentas e que os processos de aprendizagem sejam plane- jados e estejam inseridos na perspectiva da interação promovida pelas TICs. Portanto, mais do que um simples recurso, a tecnologia aplicada à educação objetiva permite que o aluno trabalhe interdisciplinarmente, percebendo as nuances globais e locais, comparando padrões e esta- belecendo relação entre passado, presente e futuro. O que pretendemos aqui é ampliar o debate sobre a inserção dos recursos em sala de aula para além do que se convencionou a chamar ferramentas tecnológicas, entendendo como recurso todo e qualquer artefato utilizado para contribuir no processo educativo desenvolvido. Dessa forma, não queremos afirmar que a utilização dos recursos au- diovisuais deva ser restrita ou extinta, pelo contrário, é necessário alar- gar a visão que temos dessas ferramentas. É importante colocar que em hipótese alguma sou contra a utili- zação das TIC em sala de aula, mas sim de uma utilização sem possibilidade de replicabilidade e sem base científica de sua efi- ciência e eficácia no desenvolvimento da educação. O que não podemos aceitar é a máxima do mínimo aceitável, ou seja, acei- tar que por nossas escolas passarem tantos anos de privação passem a aceitar “qualquer” solução como sendo uma saída, afi- nal, sabe-se que anos de privação nos fazem crer que a servidão passa a ser percebida como uma liberdade de escolha. (BRUZZI, 2016, p. 481) Vejamos, a seguir, cada recurso surgido ao longo da história da educação. Horn book (1650) No século XVI, os monges ingleses co- meçaram a fazer cartilhas para ajudar seus alunos a aprender a ler. Estas eram, normal- mente, uma pá de madeira com um alfabeto e um verso colado na superfície. Os livros de cifras derivam seu nome do pedaço de chi- Ph ro od ~c om m on sw ik i/W ik im ed ia C om m on s 22 Gestão do trabalho pedagógico fre transparente que protege o verso. A imagem mostra uma réplica moderna de uma cartilha. Ferule (1850) Chamada, também, palmatória, essa é uma ferramenta usada como apontador/indicador em salas de aula. Logo depois, já no final da década de 1870, surgiu o que hoje conhecemos como projetor de slides. Magic lantern (1870) Precursora de um projetor de slides, a lanterna mágica projetava imagens impressas em placas de vidro e mostrava-as em salas escuras para os alunos. No final da Primeira Guerra Mundial, o sistema de escolas públicas de Chicago tinha cerca de 8.000 slides de lanterna. School Slate (1890) Em 1890, a escola e a lousa de ardósia foram criadas. Eram usadas pelos alunos para resolverem problemas em seus lu- gares, com a capacidade de apagar facil- mente seus trabalhos. Além desses, houve a produção de tantos outros artefatos que, ao se tor- narem hábito nos ambientes educativos e na prática dos professores, foram reco- nhecidos como ferramentas tecnológicas de suas épocas. O próprio lápis (1900) é considerado uma tecnologia avançada em relação à sua época de surgimento. Assim, para falarmos em artefatos tecnológicos relacionados à área educacional, precisamos levar em consideração o contexto histórico das inovações inseridas para incrementar o processo escolar dos sujei- tos, verificando, dessa forma, que esse assunto está longe de ser uma novidade trazida pela circunstância do isolamento, por conta dos pro- tocolos de saúde e segurança incorporados na rotina da população. Com o surgimento dessas ferramentas, foi possível repensar o modo de ensinar e de aprender. A tecnologia em sala de aula permite A-Girard/Shutterstock sravants/Shutterstock Desafios educacionais na atualidade 23 que outras modalidades de ensino possam ser desenvolvidas, uma vez que foram aprimoradas ao longo de sua utilização, até que se chegasse nas TICs, conceituando e contextualizando a era da internet, dos recur- sos midiáticos e da velocidade das informações. Assim sendo, o que nos falta é criar condições de formações de base e continuada, para que nossos professores consigam traba- lhar com as TIC mediando os processos de ensino e aprendiza- gem, buscando separar conteúdo de forma para que possamos atingir e despertar a maioria de nossos alunos, por meio de um processo individual dentro do coletivo, unidade na diversidade de uma sala de aula. Algo possível apenas por meio da tecnologia e com professores bem formados. (BRUZZI, 2016, p. 482) O ensino híbrido no Brasil sempre enfrentou limitações significati- vas, tanto em termos de legislação quanto no processo de formação dos professores. Por lei, apenas o ensino superior e algumas modali- dade do ensino médio possuem licença para operar a distância; além disso, o preparo dos profissionais da educação ainda dá pequenos pas- sos no que se refere ao uso de plataformas digitais. Em meio a esse cenário de incertezas e tímidos avanços, a pandemia obrigou o mundo a se adaptar. Com as instituições de ensino não foi diferente. As escolas precisa- ram ajustar suas práticas para atender aos alunos de maneira totalmen- te remota em um primeiromomento, o que gerou entre os pedagogos uma série de dúvidas e insegurança quanto ao uso das ferramentas tecnológicas, que são essenciais para desenvolver essa modalidade de ensino. Como se não bastasse tudo isso, um importantíssimo detalhe foi acrescido: os ajustes para essa nova realidade precisaram ser feitos da noite para o dia e durante o andamento do ano letivo. Em um segundo momento, com a flexibilização das regras de isolamen- to social, o ensino presencial foi voltando, respeitando o distanciamento entre os indivíduos e os protocolos de segurança, como o uso constante de máscaras faciais e higienização das mãos com álcool em gel. Assim chegamos à experiência do ensino híbrido, no qual os alunos se dividiam entre acompanhar as aulas presencialmente e dentro de suas casas. O ensino híbrido passou a ser uma realidade na prática pe- dagógica desenvolvida em praticamente todas as escolas, e os profis- sionais envolvidos precisaram se reinventar para atender à essa nova demanda. 24 Gestão do trabalho pedagógico O pedagogo se viu diante de uma crise nunca imaginada no meio educacional e foi em busca das inovações tecnológicas, aproximando- -se ainda mais da era digital, dos recursos audiovisuais, da autonomia dos alunos, da dinamicidade do planejamento das aulas e das possi- bilidades infinitas que todas as ferramentas disponíveis no mercado podem proporcionar. Essa é a realidade atual da educação no mundo. A modalidade remota do ensino híbrido não diz respeito apenas às metodologias utilizadas para garantir uma educação de qualidade aos sujeitos. Para sustentar uma prática pedagógica híbrida significativa, é preciso debater sobre o currículo que se deseja desenvolver, o de- senho de planejamento com o qual se trabalhará, as competências e habilidades que dialogam com essas práticas e a própria formação pe- dagógica para fundamentar todo esse processo. Quais são as perguntas necessárias para se obter uma reflexão acer- ca dos entraves vividos diante do ensino híbrido? Como traçar uma linha de pensamento congruente com o contexto de inserção? Que elemen- tos pedagógicos eleger como prioritários para estabelecermos um canal de comunicação com a BNCC atualizada e o currículo da/na pandemia? De quais e quantos objetivos estamos falando no planejamento dessas aulas? O fato de o aluno estar fisicamente distante o torna finalmente autônomo e protagonista de seu processo educativo? Mais do que obter as respostas, é importante que profissionais des- sa área se esforcem diariamente para aprender a fazer boas perguntas, pois por meio delas chegamos ao debate, criando, assim, poder de ar- gumentação e desenvolvendo o hábito da curiosidade, do aprendizado curioso que é capaz de nos impulsionar para o criativo, audacioso e infi- nito mundo do saber. Como gestor, cabe ao pedagogo articular todas essas interfaces, mediando os conflitos, apresentando alternativas para as limitações impostas e motivando a busca por saídas qualitativas para o cenário que se apresenta desde então. Certamente, não houve nenhum tipo de preparação prévia em sua formação para lidar com as circunstâncias que passamos a enfrentar desde o início da pandemia; a investigação por estratégias viáveis de crescimento seguiu no mesmo ritmo alvoro- çado com que os desafios se apresentaram. Sabemos que, para as gerações de alunos atendidas atualmente, a adaptação à aprendizagem on-line está longe de ser um desafio no Desafios educacionais na atualidade 25 que concerne às ferramentas tecnológicas. Faz parte da rotina dos alunos o uso de tablets e smartphones em situações cotidianas. O desafio está justamente do outro lado, nos professores avessos à tec- nologia, tímidos e resistentes às inovações que o período pandêmico exigiu. De acordo com Morán (2015), é necessário que o professor se atualize, aprofunde seu conhecimento e compreenda esse “novo mundo”, a fim de estabelecer uma relação de empatia com os alunos, trazendo-os para ainda mais perto do processo de ensino e aprendi- zagem atual, dinâmico e cheio de sentido. O que a tecnologia traz hoje é integração de todos os espaços e tempos. O ensinar e aprender acontece numa interligação sim- biótica, profunda, constante entre o que chamamos mundo físico e mundo digital. Não são dois mundos ou espaços, mas um espa- ço estendido, uma sala de aula ampliada, que se mescla, hibridi- za constantemente. Por isso a educação formal é cada vez mais blended, misturada, híbrida, porque não acontece só no espaço físico da sala de aula, mas nos múltiplos espaços do cotidiano, que incluem os digitais. O professor precisa seguir comunican- do-se face a face com os alunos, mas também digitalmente, com as tecnologias móveis, equilibrando a interação com todos e com cada um. Essa mescla entre sala de aula e ambientes virtuais é fundamental para abrir a escola para o mundo e para trazer o mundo para dentro da escola. Uma outra mescla ou blended é a de prever processos de comunicação mais planejados, organiza- dos e formais com outros mais abertos, como os que acontecem nas redes sociais, onde há uma linguagem mais familiar, uma espontaneidade maior, uma fluência de imagens, ideias e vídeos constante. (MORÁN, 2015, p. 16, grifos do original) O que podemos trazer aqui é, mais uma vez, a capacidade resiliente do pedagogo em aproveitar a crise enfrentada para aprimorar conhe- cimentos, ideias e inovações, criando oportunidades para redescobrir autores, metodologias, modalidades e fomentar, entre os seus pares, o movimento de busca incessante pelo novo, pelo inédito viável. Além de ressignificar a prática a fim de torná-la práxis pedagógica, aperfeiçoan- do cada vez mais o seu jeito de ler o mundo. Temos, ainda, ligadas ao ensino híbrido, as metodologias ativas de aprendizagem e suas estratégias de abordagem que não podemos dei- xar de mencionar. Estas são amplamente utilizadas nessa modalidade de ensino. Por meio das metodologias ativas, é possível atingir expec- 26 Gestão do trabalho pedagógico tativas reais de aprendizagem, à medida que ela possibilita o protago- nismo do aluno, colocando-o no centro do próprio processo educativo. Essas e outras reflexões no campo educacional estão sendo possí- veis e propícias, uma vez que é justamente em meio aos momentos e às situações de crise que se torna possível avançar na busca por outros caminhos, dando oportunidade para a criação e ressignificação de teo- rias e da prática de estudos aprofundados na área da educação. A história do conhecimento científico carrega esta característica: en- xergar nas adversidades a chance de aprimorar o pensamento, elabo- rando planos estratégicos com o intuito de contribuir para o alcance de níveis cada vez mais complexos no processo de ensino da humanidade. Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que- fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino contínuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anun- ciar a novidade. (FREIRE, 1996, p. 32) Durante períodos como o de pandemia, o pedagogo deve encon- trar espaço para cada vez mais pesquisar, discutir e testar diferentes propostas pedagógicas, assessorando desse modo os professores no planejamento e na execução das aulas híbridas. É um período mais que oportuno para investigar, aprender, desenvolver e trocar experiências. Dessa forma, o pedagogo exercerá seu papel, fazendo a diferen- ça como profissional da educação engajado, politizado e ciente de sua responsabilidade enquanto articulador da discussão teórica/prática do ato de ensinar e aprender. Paulo Freire chama a atenção para a impor- tância da tarefa do pedagogo: Devemos forjar em nós próprios, da dignidade e da importância da nossa tarefa. [...] Obviamente, reconhecer a importância de nossa tarefa não significa pensar que elaé a mais importante entre todas. Significa reconhecer que ela é fundamental. Algo mais: indispensável à vida social. (FREIRE, 2000, p. 48) O mundo vem mudando em um ritmo próprio, e os horizontes da educação são influenciados por todas as alterações vivenciadas pela sociedade. Para os profissionais da área, a corrida para se adaptar a esses novos rumos é constante. É um exercício de autoconhecimen- Desafios educacionais na atualidade 27 to, entendimento dos cenários vigentes e de resiliência diante dos desafios surgidos. A prática do trabalho com projetos, o modelo de sala de aula in- vertida e até mesmo a gamificação são estratégias eficazes praticadas no ensino híbrido; muito além disso, são exemplos de oportunidades nas quais o aluno consegue desenvolver autonomia e dinamismo, e o professor se aprofunda como mediador de todo esse processo. Ao propor o ensino por meio de projetos, é possível integrar o ensino presencial com o remoto, oferecendo atividades que podem ser realiza- das e compartilhadas virtualmente. A construção de um projeto faz com que o aluno passe por todas as fases de um planejamento, inclusive a gestão de crises, na qual desenvolve, entre outras, as habilidades de me- dição de conflitos, trabalho em equipe, cooperação e criatividade. Para a prática da sala de aula invertida, por exemplo, o pedagogo precisa planejar de maneira que o aluno fique responsável por iniciar o trabalho, pesquisando os principais elementos sobre o assunto a ser estudado em conjunto com o professor. Após se familiarizar com o conteúdo, o aluno irá aprofundá-lo, construindo saberes com o co- nhecimento prévio adquirido nas leituras iniciais. Essa metodologia traz para o centro do processo o seu interesse, mantendo seu foco nos estudos sem que seja forçado ou obrigado a participar. A sala de aula invertida, ou flipped classroom, é uma estratégia que visa mudar os paradigmas do ensino presencial, alterando sua lógica de organização tradicional. O principal objetivo dessa abordagem, em linhas gerais, é que o aluno tenha prévio aces- so ao material do curso – impresso ou on-line − e possa discutir o conteúdo com o professor e os demais colegas. Nessa pers- pectiva, a sala de aula se transforma em um espaço dinâmico e interativo, permitindo a realização de atividades em grupo, es- timulando debates e discussões e enriquecendo o aprendizado do estudante a partir de diversos pontos de vista. Assim, para a melhor fixação das informações e conceitos apresentados na disciplina, é necessário que o aluno reserve um tempo para es- tudar o conteúdo antes da aula. ( ARANHA FILHO, 2015, p. 14, grifos do original) Outra proposta muito utilizada em tempos de pandemia e que oti- miza o trabalho do professor, por trazer significado para o aprendizado por meio do ponto de vista do aluno, ocorre pelo processo de gami- ficação das atividades realizadas com os grupos. Essa estratégia con- 28 Gestão do trabalho pedagógico siste em aproveitar os recursos (principalmente os digitais) utilizados nos jogos para enriquecer as atividades, proporcionando a interação, a corresponsabilidade, fomentando o sentimento de pertença e incenti- vando a superação dos desafios encontrados nos diferentes níveis que compõem os jogos. Aqui algumas das habilidades, como comunicação, argumentação e cultura digital, são amplamente desenvolvidas por meio de tarefas e exercícios que incitam a curiosidade e a vontade de fazer parte das aulas. Saber aprender (e rapidamente), trabalhar em grupo, colaborar, compartilhar, ter iniciativa, inovação, criatividade, senso crítico, saber resolver problemas, tomar decisões (rápidas e baseadas em informações geralmente incompletas), lidar com a tecnologia, ser capaz de filtrar a informação etc. são habilidades que, em geral, não são ensinadas nas escolas. Pelo contrário: as escolas de hoje pa- recem planejadas para matar a criatividade. (MATTAR, 2010, p. 14) Essas e outras modalidades, dentro das metodologias ativas, trou- xeram alento na ocasião da reinvenção experimentada a contra gos- to pelas escolas devido à pandemia. Porém, é muito importante frisar que, independentemente do contexto atual, são estratégias, propostas e métodos que dão suporte pedagógico ao trabalho educativo desen- volvido pelo pedagogo e devem, sim, estar incorporadas à sua prática, ainda que o ensino híbrido venha a ser substituído pelo presencial na sua integralidade com o fim da pandemia. São recursos, ideias e movimentos surgidos para atender a uma de- manda específica, mas que se ajustam a todas as realidades do campo educacional, não sendo necessário deixar em segundo plano ou até mesmo no esquecimento tais intenções. É preciso experimentar uma certa falta de estabilidade para mover esforços, na tentativa de vencer as limitações impostas pelo contexto. Nos dias atuais, o pedagogo precisa fazer esse movimento de olhar para o currículo, os programas, o planejamento e enxergar ali inten- ções pedagógicas democráticas eficazes. Antes de qualquer tentativa de discussão de técnicas, materiais, métodos para uma aula dinâmica assim, é preciso, indispensável mesmo, que o professor se ache “repousado” no saber de que a pedra fundamental é a curiosidade do ser humano. É ela que me faz perguntar, conhecer, atuar, mais perguntar, reconhecer. (FREIRE, 2007, p. 86) Desafios educacionais na atualidade 29 Como preparar o pedagogo para situações como a pandemia, na qual ele precisou tomar decisões e chamar para si a responsabilida- de da gestão do trabalho pedagógico, norteando, assim, as ações dos demais profissionais da área educacional? As competências ne- cessárias para o enfrentamento das situações de instabilidade pre- cisam estar incutidas em sua base formativa, para que ele possa contribuir com a construção de uma escola que privilegie o aprendi- zado significativo de fato. Se o pedagogo deve acompanhar criticamente as transformações ocorridas na sociedade e dar visibilidade aos debates, tendo como pano de fundo tais mudanças, não há como negar a importância de rever, de modo reflexivo, seu processo formativo, desde a sua base até a sua inserção no mercado de trabalho. A compreensão do engendramento das políticas educacionais, bem como a clareza de sua posição privilegiada no fórum de discus- são dos rumos que a educação irá ou não tomar, faz do pedagogo o próprio exemplo de sujeito híbrido, ou seja, ele está nos bastidores, na base de disseminação das teorias pedagógicas, mas também se configura como ator fixo no palco do cenário educacional, estrelan- do as ações educativas em suas práticas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante de todas as mudanças até aqui discutidas, o pedagogo está, ao mesmo tempo, desafiando e sendo desafiado em sua carreira profissio- nal. Sua base formativa, sua posição no mercado de trabalho e o cenário educacional atual necessitam de novos olhares, novos rumos e novos po- sicionamentos desse profissional que é tão essencial para a sociedade, assim como a sua própria área de conhecimento e atuação. É urgente organizar espaços de formação continuada, fóruns de dis- cussão, mesas redondas e demais organizações formais de debates para que as temáticas relativas à educação ganhem cada vez mais destaque e consistência para que possa ter relevância na prática, isto é, para que seja possível influenciar positivamente os novos rumos educacionais a serem perseguidos. 30 Gestão do trabalho pedagógico Repensar as bases epistemológicas do ensino, interligando os movi- mentos contemporâneos da sociedade líquida, com as tentativas constan- tes de se alcançar um nível societário mais justo e fraterno, parece ser o alvo do pedagogo. Para isso, ele precisa lançar mão de táticas pedagógicas agregadoras, dotadas de criticidade, pautadas no diálogo e subsidiadas pelo pensamento pedagógico assumidamente político. ATIVIDADES 1. Considerando a identidade do curso superior de Pedagogia e da necessidade de se construir a identidade do profissionalformado nessa área, explique as causas dessa necessidade e os desafios enfrentados para se alcançar a esse objetivo. 2. Para o pedagogo, o mercado de trabalho acabou sendo ampliado com relação a cargos e atribuições, diferenciados muitas vezes dos objetivos iniciais de sua formação acadêmica. Quais são as consequências dessa ampliação para a carreira desse profissional? 3. Discorra sobre o papel do pedagogo diante das transformações ocorridas na prática pedagógica devido à pandemia que assolou o mundo no ano de 2020. REFERÊNCIAS ARANHA FILHO, F. J. Sala de aula invertida. Ensino Inovativo, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 14- 17, nov. 2015. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/ei/article/ view/57632. Acesso em: 2 fev. 2021. BARBOSA. R. P. et al. Reflexões acerca da identidade do pedagogo: universo repleto de encanto e angústias. Educere. 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No primeiro momento, discutiremos sobre o conceito de ter- ritório, sobretudo, traremos ao debate os diferentes significados desse termo e abordaremos como esse conceito pode direcionar as discussões com base em seu contexto histórico, resgatando os elementos identitários constituintes do fator conceitual. O segundo ponto tratado será o estabelecimento de parcerias nesse território. Intrinsecamente ligado ao sentimento de perten- ça e ao protagonismo educacional, o espaço ocupado pela escola e pelo pedagogo estão carregados de significado e sentido, com- pondo, desse modo, o currículo oculto, isto é, aquele que não está formalizado como componente curricular, porém está permeando as experiências cotidianas dos sujeitos, constituindo-se como sa- beres necessários à sobrevivência no território. Finalmente, chegamos à discussão sobre o projeto político-pedagógico. Nessa parte, levantaremos questões como a participação efetiva de todos os representantes da comunidade escolar: alunos, professores, famílias e lideranças locais, governa- mentais e não governamentais, em todas as etapas do projeto. A ar- ticulação entre as representatividades e a mediação da construção desse documento é de responsabilidade do pedagogo. O cotidiano escolar como laboratório 33 2.1 Mapeando o território Vídeo Inicialmente é necessário fazermos um exercício de memória: como foi que aprendemos, na disciplina de Geografia, o significado de terri- tório? Se puxarmos pelas nossas lembranças, certamente teremos algo que nos remeta a uma área delimitada por fronteiras, indicando uma relação de propriedade. Outro conceito muito disseminado é o de que a palavra território se refere a uma grande extensão de terra e/ou uma área delimitada de um município, estado e país. Porém, para o presente estudo, iremos além desses conceitos. Utili- zaremos o pensamento de Milton Santos (2003 apud ANJOS, 2011, p. 55), que nos diz que: o território é o chão e mais a população, isto é uma identidade, o fato e o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O ter- ritório é a base do trabalho, da residência, das trocas materiais e espirituais e da vida, sobre as quais ele influi. Quando se fala em território deve-se, pois, de logo, entender que está falando em território usado, utilizado por uma população. Para o campo das discussões pedagógicas, é muito importante que tenhamos claro o conceito de território do qual iremos tratar, bem como que saibamos a profundidade desse debate uma vez que, tanto para a escola como para o próprio pedagogo, ter ciência de seu lugar de inserção é fundamental para o planejamento do trabalho, a organização dos objeti- vos e a execução das ações pedagógicas que se quer desenvolver. Entender o lugar de fala dos sujeitos envolvidos no processo edu- cativo faz toda a diferença na busca pela excelência na qualidade do processo educativo a ser construído e aprimorado, dia a dia. Quando trazemos o conceito de território como sendo um espaço de ação política, sumariamente estamos também afirmando que esse espaço precisa ser conhecido e reconhecido pelo pedagogo, assim como nos diz Santos e Silveira (2001, p. 21): o uso do território pode ser definido pela implantação de infraestru- turas, para as quais estamos utilizando a denominação sistemas de engenharia, mas também pelo dinamismo da economia e da socieda- de. São os movimentos da população, a distribuição da agricultura, da indústria e dos serviços, o arcabouço normativo, incluídas a legislação civil, fiscal e financeira que, juntamente com o alcance e a extensão da cidadania, configuram as funções do novo espaço geográfico. O filme Nenhum a menos retrata a história de uma jovem de 13 anos que assume uma sala de aula enquanto o professor titular sefasta para resolver um problema pessoal. A menina então não mede esforços para manter tudo sob controle até a volta do professor. Para tanto, ela se obriga a conhecer o território onde a escola está inserida, passando a fazer parte do contexto dos alunos, vivenciando suas histórias de vida. Bom material de estudo para entendermos a importância de nos sentirmos pertencentes ao contexto vivenciado pela escola. Direção: Zhang Yimou. China: Cult, 1999. Filme 34 Gestão do trabalho pedagógico Mas qual seria a relevância do território para o processo de ensino e de aprendizagem? É preciso ressaltar que essa questão está direta- mente ligada ao sentimento de pertencimento a um grupo, nicho, lu- gar, espaço, sentimento esse essencial para a construção de identidade e para o empoderamento de ser reconhecido individualmente, dentro do processo coletivo de construção do conhecimento. Assim, para além do entendimento do conceito, está o diferencial no uso que se faz dessa compreensão de território, seus entraves e suas possibilidades na qualidade de instrumento de militância social, política, pedagógica. A educação ocorre não somente nos limites da escola, mas em todos os cantos da comunidade. O bairro passa, portanto, a ser visto como um grande laboratório de experiências educativas. E a escola, por sua vez, passa a ser o elemento mobilizador, a partir do qual se cria uma rede cidadã pronta a trocar conhecimentos e valo- res; a ensinar e, ao mesmo tempo, aprender. (ROLNIK, 2014, p. 68) Seguindo a linha de pensamento da socióloga Iara Rolnik (2014), é possível reunir os elementos necessários para alicerçar a dinâmica do debate acerca do território como espaço educativo: o território é produto da dinâmica social onde se tensionam su- jeitos sociais. Ele é construído com base nos percursos diários trabalho-casa, casa-escola, das relações que se estabelecem no uso dos espaços ao longo da vida, dos dias, do cotidiano das pessoas. (...) no chão da escola, do bairro ou da cidade, território, às vezes, pode ser confundido com espaço ou entorno. (ROLNIK, 2014, p. 37) Para visualizar a relação entre território e educação, precisamos enxergar esse espaço ocupado pela escola, pelos alunos, pelas famílias, pelos professores, pela comunidade e pelo pedagogo como um lugar de significância pedagógica, no sentido de buscar co- nhecer as realidades, as trocas e o dia a dia vivenciado ali, as experiências construídas, a socialização entre os grupos e a aproximação dessa gama de interações com o currículo da escola. Concordamos com a afirmação de Goulart (2012, apud ESCOLA..., 2017, p. 98) de que: o território é assunto, é conteúdo do currículo, é o lugar onde se dão ações educativas e também é um agente, como se fosse sujeito também. E não di- zemos que ele é pedagógico, e sim educativo, porque estamos considerando a educação formal, a não formal e a informal. Então, como transformar o território em elemento constituinte do itinerário educativo junto aos professores e alunos? Quais as estratégias para mapearmos as possibilidades de engendra- mento dos saberes aprendidos na escola e os que são vivenciados na comunidade? Você sabia que o Ministério da Educação e Cultura (MEC) lançou, em 2010, um documen- to intitulado: Territórios educativos para a educa- ção integral: a reinvenção pedagógica dos espaços da escola e da cidade, no qual apresenta es- tratégias para o diálogo consistente entre escola e território? Acesse o documento na íntegra por meio do endereço a seguir. Disponível em: http://portal.mec. gov.br/index.php?option= com_docman&view =download&alias=8219- territorios-educativos-final- versao-preliminar-pdf&Itemid =30192. Acesso em: 26 mar. 2021. Leitura http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=8219-territorios-educativos-final-versao-preliminar-pdf&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=8219-territorios-educativos-final-versao-preliminar-pdf&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=8219-territorios-educativos-final-versao-preliminar-pdf&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=8219-territorios-educativos-final-versao-preliminar-pdf&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=8219-territorios-educativos-final-versao-preliminar-pdf&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=8219-territorios-educativos-final-versao-preliminar-pdf&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=8219-territorios-educativos-final-versao-preliminar-pdf&Itemid=30192 O cotidiano escolar como laboratório 35 Sabemos que um dos princípios básicos da construção de conheci- mento é a socialização entre os seres e deles com o ambiente. As trocas, as interações e as percepções construídas são elementos estruturantes do processo educativo. Assim sendo, é imprescindível dizer que, uma vez “chão” de aprendizado, a escola necessariamente está ligada ao contexto, ao território o qual habita e, portanto, deve ser habitada por ele. Sem muros, uma escola se abre para a comunidade. Em simbiose com os demais equipamentos da região, com a rede de proteção à infância, com coletivos artísticos e organizações sociais, os habitan- tes desse local se articulam para garantir que a rua seja um espaço de aprendizado para todas as idades. A ideia de que só “os espe- cialistas” detêm o conhecimento cai por terra e as pessoas que ali vivem adicionam suas experiências e saberes na construção de um projeto de desenvolvimento local que começa, mas não termina, no campo da educação. Para além do “Se essa rua fosse minha”, uma proposta: E se esse bairro fosse de todos? (NOGUEIRA, 2015) Dada a importância do território que Nogueira (2015) nos traz, defen- demos a ideia de que, para ser mapeado, ele precisa ser desbravado, co- nhecido e reconhecido como agente do processo educativo. O movimento inicial é o da apresentação. Consiste em montar um diagnóstico do local, colhendo informações e registrando as formas, as cores, as construções, as áreas livres e os demais elementos (móveis e imóveis) que fazem parte dele. É muito útil elaborar perguntas para essa fase da pesquisa. Após esse “retrato”, chegamos à fase de planejar. Nesse período, a participação dos professores é vital para o êxito da empreitada. É pre- ciso elencar os objetivos das parcerias e os recursos necessários para o planejamento sair do papel e ganhar vida por meio dos atores sociais que habitam o território em questão. A fase seguinte é a da rede de parcerias. Como podem ser verifica- das e como se estabelece a relação delas com a escola, são alguns dos pontos que veremos a seguir. 2.2 Alinhando as parcerias Vídeo A curiosidade move o ser humano na busca pelo aprendizado e todo seu desenvolvimento é considerado como processo educativo. Partindo desse entendimento, onde há processo educativo há a necessidade da figura mediadora do pedagogo. Dessa forma, a busca por desbravar e 36 Gestão do trabalho pedagógico entender, na sua essência, o território onde se alicerça a construção dos saberes e se elabora o planejamento das habilidades e competências que se deseja desenvolver junto aos alunos é uma tarefa do pedagogo. É necessário termos em mente que o desenvolvimento pleno car- regado de êxito só será possível se todos os atores envolvidos no pro- cesso educativo trabalharem no coletivo. E, para isso, é vital termos clareza do papel fundamental do conhecimento do território e de sua identificação com ele, a fim de construir sua trajetória entrelaçada com seu lugar tanto de fala quanto de escuta e demais significâncias. As parcerias, uma vez estabelecidas e alinhadas ao trabalho pedagó- gico que se quer desenvolver, constituem-se como ferramentas pedagó- gicas das quais o pedagogo lança mão no momento em quese permite relacionar com o entorno da escola, seus espaços e seus habitantes. Para construir essa relação, alguns passos que a antecedem são im- prescindíveis e já foram discutidos no item anterior. Trataremos agora da constituição da rede de relacionamentos propriamente dita entre a escola e o território, que, inserida neste, ela espelha a cultura local dentro das salas de aula e também influencia sua comunidade. A integração entre território e espa- ço escolar pode se dar de diversas formas e se transforma em processo educativo a partir do momento que propicia oportuni- dades de aprendizado para crianças e jovens. (ESCOLA..., 2017) Diante do exposto, é próprio dizer que o aluno não é um ser isolado do que acontece em seu entorno, pelo contrário, ele se constitui cidadão enquanto afeta e é afetado pelo ambiente em que vive. Gill (2014, p. 88) afirma que: a educação é um processo de crianças aprendendo a viver. E claro que elas precisam aprender a ler e escrever, ciências e literatura, mas elas também precisam aprender a ser cidadãs, a aprender como seu bairro se formou e qual a história da sua cidade. É por meio da gestão participativa que a relação escola-comunidade começa a ser construída. Voltar o olhar gestor para o território é pro- mover o alargamento da visão sistêmica gestora para todos os pro- cessos recorrentes, dentro e fora do ambiente escolar, e possibilitar a participação efetiva de todos os envolvidos, uma vez que se coloca o bem comum acima das individualidades, sem deixar de perceber, res- peitar e considerar os interesses singulares dos sujeitos. O cotidiano escolar como laboratório 37 Na Figura 1, podemos acompanhar o esquema que evidencia a im- portância de aprendermos no e com o território: Figura 1 Aprender no e com o território. Aprender no território para: Outros jeitos de aprender Ampliação do currículo Construção de sentido Direito à cidade Bl oo m ic on /S hu tte rs to ck Conhecer e reconhecer Transformação social Vivência em cidadania Fonte: Adaptada de POR QUE..., 2015. Na Figura 2, também é possível perceber algumas estratégias que possibilitam o mapeamento do território: Figura 2 Dicas para mapear oportunidades educativas no entorno escolar. Faça o diagnóstico do território. Tenha articulação com o entorno. Planeje as atividades e as brincadeiras. Fonte: Adaptada de Dib, 2018. 38 Gestão do trabalho pedagógico Buscar aliados, parceiros e pares dentro do território legitima o trabalho da escola porque aproxima o conhecimento acadêmico produzido das mazelas, dos dilemas e dos desafios da comunidade em questão. Torna possível, por exemplo, inserir no planejamento do professor alguns dos projetos que a comunidade desenvolve. É totalmente viável (e pedagógico) desenvolver atividades ao ar livre, utilizando espaços públicos e/ou de lazer existentes no entorno escolar. Procurar se comunicar com os órgãos governamentais que tam- bém estão inseridos na comunidade é a porta de entrada para uma relação que permite, tal como, fazer uma parceria para um projeto de saúde com o posto do SUS. Outra ideia muito interessante é se aproximar de uma casa de repouso que recebe idosos e desenvolver junto a eles um trabalho educativo que pode ser intitulado projeto de vida, visando discu- tir valores, hábitos e atitudes ideais para se alcançar longevida- de, segurança, realizações pessoais e coletivas para se viver mais e melhor. Os elementos citados são apenas iniciativas que podem caber dentro de uma aula específica ou serem transformados em proje- tos com um nível de alcance capaz de atingir a esfera das políticas públicas, trazendo resultados significativos para a escola e conse- quentemente para a comunidade. A intenção é instrumentalizar os alunos para que se tornem agentes sociais transformadores capa- zes de fazer a diferença na própria trajetória e na história do terri- tório do qual são fruto e com o qual se identificam. Dentro desse contexto, o pedagogo é peça chave para propor- cionar “a troca de olhares” entre a escola e a comunidade, permi- tindo que os portões do ambiente escolar estejam abertos e que o espaço se apresente convidativo. Para isso, é necessário exercer o diálogo constante com as re- presentatividades e lideranças locais, colocando a escola à serviço dos anseios da comunidade e apresentando também os objetivos do trabalho pedagógico, solicitando o apoio e a participação de to- dos no dia a dia da escola, a fim de debaterem sobre os desafios e os avanços alcançados no processo educativo ali construído. No texto de Territó- rios Educativos: como aprender na cidade?, escrito por Pedro Ribei- ro Nogueira e publicado no Portal Aprendiz, traz uma interessantíssi- ma entrevista com a socióloga Helena Singer, diretora da Associação Cidade Escola Aprendiz e organizadora da Coleção Territórios Educativos – Experiên- cias em Diálogo com o Bairro-Escola. Disponível em: https:// portal.aprendiz.uol.com. br/2015/04/06/territorios- educativos-como-aprender- na-cidade/#:~:text=Para%20 Helena%20Singer%2C%20 diretora%20da,o%20 territ%C3%B3rio%20criado%20 pelas%20pessoas. Acesso em: 26 mar. 2021. Leitura Após a leitura deste capítulo, imagine que você está tra- balhando em uma escola, localizada no bairro onde mora. Elabore a construção de uma rede de parcerias utilizando não só os exemplos contidos no texto, mas procure fazer o exer- cício de refletir sobre quais são, hoje, os desafios enfrentados em sua comunidade e como a escola poderia trabalhar em parceria com os sujeitos envolvidos nesse processo. Desafio https://portal.aprendiz.uol.com.br/2015/04/06/territorios-educativos-como-aprender-na-cidade/#:~:tex https://portal.aprendiz.uol.com.br/2015/04/06/territorios-educativos-como-aprender-na-cidade/#:~:tex https://portal.aprendiz.uol.com.br/2015/04/06/territorios-educativos-como-aprender-na-cidade/#:~:tex https://portal.aprendiz.uol.com.br/2015/04/06/territorios-educativos-como-aprender-na-cidade/#:~:tex https://portal.aprendiz.uol.com.br/2015/04/06/territorios-educativos-como-aprender-na-cidade/#:~:tex https://portal.aprendiz.uol.com.br/2015/04/06/territorios-educativos-como-aprender-na-cidade/#:~:tex https://portal.aprendiz.uol.com.br/2015/04/06/territorios-educativos-como-aprender-na-cidade/#:~:tex https://portal.aprendiz.uol.com.br/2015/04/06/territorios-educativos-como-aprender-na-cidade/#:~:tex https://portal.aprendiz.uol.com.br/2015/04/06/territorios-educativos-como-aprender-na-cidade/#:~:tex O cotidiano escolar como laboratório 39 Tornar significativa a existência da escola naquele espaço e legitimá-la como lugar de diálogo, debate, palco de decisões cole- tivas em prol do bem comum e espaço de respeito à diversidade abraçada pelo território fazem com que o pedagogo se torne figura central desse movimento: de estabelecer e fundamentar a parceria entre escola e comunidade com a finalidade de tornar o território em espaço educativo por excelência. O projeto político-pedagógico (PPP) é o documento que sela essa parceria, dando voz e vez para que o desenho do cenário edu- cacional propositivo se torne realidade e tenha alcance global, par- tindo das ações locais. 2.3 Construindo o Projeto Político-Pedagógico Vídeo O documento que alicerça a prática pedagógica de um ambiente escolar é o projeto político-pedagógico. É ele o responsável por le- gitimar a proposta educativa da escola, seus valores e sua missão. Muito além de conter informações operacionais, como a quantida- de de material e a relação dos funcionários, o PPP reúne aquilo que mais interessa no planejamento pedagógico da escola: o trabalho que se quer desenvolver no cotidiano escolar. Para Vasconcellos (2004, p. 169): é o plano global da instituição. Pode ser entendido como a sistematização, nunca definitiva, de um processo de plane- jamento participativo, que se aperfeiçoa e se concretiza na caminhada, que define claramente o tipo de ação educativa que se quer realizar.
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