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Aula 03 Rosalina Guedes Donato Santos Citogenética no Diagnóstico Laboratorial Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Diretora Editorial ANDRÉA CÉSAR PEDROSA Projeto Gráfico MANUELA CÉSAR ARRUDA Autor EDUARDO NASCIMENTO DE ARRUDA Desenvolvedor CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS Olá. Meu nome é Rosalina Guedes Donato Santos. Sou formada em Biomedicina, com uma experiência técnico-profissional na área de imunologia, hematologia, toxicologia, análises clínicas de mais de 12 anos. Passei por empresas com a Faculdade de Ciências e Tecnologia, UNIFACS, UNIRB, Laboratórios como o Hospital Roberto Santos, Laboratório José Silveira e Universidade Federal da Bahia. Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! Autor Rosalina Guedes Donato Santos INTRODUÇÃO: para o início do desen- volvimento de uma nova competência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser prio- rizadas para você; EXPLICANDO ME- LHOR: algo precisa ser melhor explica- do ou detalhado; VOCÊ SABIA? curio- sidades e indaga- ções lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências biblio- gráficas e links para aprofundamento do seu conhecimento; REFLITA: se houver a necessidade de cha- mar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido sobre; ACESSE: se for preciso acessar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últimas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de autoaprendiza- gem for aplicada; TESTANDO: quando o desenvolvimento de uma compe- tência for conclu- ído e questões forem explicadas; Iconográficos Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo pro- jeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: SUMÁRIO Princípios da citogenética clínica 10 Alterações cromossômicas numéricas 10 Alterações dos cromossomos sexuais 15 Interpretação de padrões de herança 19 Heredograma 19 Traços autossômicos 21 Aconselhamento Genético 24 Exame genético 26 Genética de populações 29 Frequência genotípica e alélica 29 Frequências mendelianas 31 Fatores interferentes no equilíbrio 31 Técnicas de diagnóstico 34 Eletroforese 36 Reação de cadeia em polimerase (PCR) 39 Citogenética no Diagnóstico Laboratorial 7 UNIDADE 03 Citogenética no Diagnóstico Laboratorial8 Nas últimas décadas cresceram os interesses a cerca da biologia molecular por partes profissionais da saúde, principalmente pela possibilidade de um diagnóstico mais assertivo nas doenças genéticas. O avanço nas técnicas moleculares, sobretudo na possibilidade de avaliar o DNA advindos de materiais biológicos como tecidos, aminiocentese, biópsia de vilosidades coriônica aumentaram a chance de prever e diagnosticar as doenças genéticas. Além disso, ferramentas diagnósticas como a reação de cadeia em polimerase (PCR) despontaram como uma ajuda no diagnóstico laboratorial, porque essa técnica utiliza quantidade amostras mínimas, além de ser altamente sensível, específica e possui alta reprodutibilidade. Essas características foram fundamentais para os diagnósticos genéticos quanto aos aspectos éticos e legais, uma vez que o diagnóstico se tornou quase que irrefutável dada a precisão das técnicas moleculares. Dessa maneira os laboratórios conseguiram uma garantia na qualidade dos serviços possibilitando que o número de erros laboratoriais tendesse a zero e os laudos emitidos eram de fácil compreensão para os indivíduos envolvidos no processo. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! INTRODUÇÃO Citogenética no Diagnóstico Laboratorial 9 Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 3. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Descrever os distúrbios dos cromossomos. 2. Descrever os cromossomos Sexuais e suas anomalias. 3. Aplicar conceitos fundamentais da Genética Humana na resolução de problemas relacionados com: diagnóstico, padrões de herança, riscos de recorrência. 4. Analisar a influência da expressão gênica em doenças genéticas e técnicas de diagnóstico. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! OBJETIVOS Citogenética no Diagnóstico Laboratorial10 Princípios da citogenética clínica INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender como ocorrem as alterações cromossômicas de ordem numérica e quais são as doenças relacionadas com os cromossomos sexuais. Além disso, entender como fazer e interpretar os heredogramas e quando podem ser utilizados na prática. E por fim, como as análises podem ser feitas para a identificação correta do DNA. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Alterações cromossômicas numéricas Cromossomos são filamentos espiralados de cromatina, que estão presentes no suco nuclear das células. O significado de cromossomo é (Kroma=cor, soma=corpo), logo podem ser corados por meio de corantes citológicos como carmim acético, orceína acética e reativo de Schiff, sendo observado na microscopia. As alterações podem ocorrer pelo aumento ou pela diminuição do número de cromossomos. Essas alterações são responsáveis por quase 42% dos casos de abortos espontâneos na frequência de 01 caso para cada 160 indivíduos. Elas podem ser classificadas quanto alterações dos cromossomos autossômicos 13, 18 e 21 e sexuais (monossomia do X); e os estruturais que podem afetar tanto os cromossomos autossômicos quanto os sexuais. As alterações numéricas podem ser em decorrência do acréscimo ou da perda de um ou mais cromossomos, e são classificadas em euploidias e aneuploidias. Euploidias são alterações que estão relacionadas com todo o genoma, e envolvem todo o genoma, originando células cujo número de cromossomos é um múltiplo exato do número haploide característico da espécie, ou seja, todos os cromossomos são duplicados, por exemplo quando triplicados (triploidia) e assim sucessivamente. E aneuploidia ocorre quando o número de cromossomos não é múltiplo exato do número haploide da espécie, a exemplo, a síndrome de Down. Citogenética no Diagnóstico Laboratorial 11 A triploidia e a tetraploidia são incompatíveis com a vida. Os possíveis cariótipos triploides são 69, XXX; 69 XXY; 69 XYY. Quando de origem paterna, há uma placenta anormal, o que é classificado como mola hidatiforme parcial e, quando de origem materna, há abortamento espontâneo e precoce na gestação. Os possíveis cariótipos da tetraploidia são 92,XXXX; 92 XXYY. A ausência de constituições de cromossomos sexuais X X X Y ou X YYY sugere que a tetraploidia resulta do insucesso de uma clivagem inicial na divisão do zigoto (endomitose). A aneuploidia é a anomalia cromossômica mais prevalente em humanos, sendo a principal causa de abortamentos espontâneos e defeitos congênitos ao nascimento. A idade materna ainda é o fator de risco de maior importância para esse tipo de alteração. São exemplos de aneuploidia, trissomia 21, 18 e as trissomias são aneuploidias em que a constituição cromossômica tem um cromossomo a mais, ou seja, um terceiro em relação ao seu par normal. São exemplos de cariótipos 47, XX, +21 – Cariótipo feminino com trissomia do cromossomo 21 (si ́ndrome de Down). 47, XY, + 18 – Cariótipo masculino com trissomia do cromossomo 18 (síndromede Edwards). O indivíduo que apresenta síndrome de Down pode apresentar atraso no desenvolvimento, além disso, podem apresentar cardiopatia congênita em 40% dos casos, hipotonia, diminuição do tônus muscular e da força, o que causa moleza e flacidez em 100% dos casos, problemas auditivos são encontrados em cerca de 50 a 70% dos casos, e na visão de 15 a 50% dos casos, alterações na coluna cervical de 01 a 10%, distúrbios na tireoide são encontrados em 15% , problemas neurológicos de 05 a 10%, além de obesidade e envelhecimento precoce. Os três tipos de alterações citogenéticas que podem resultar em síndrome de Down são: Trissomia 21 (47,+ 21): aproximadamente 94%. Um cromossomo 21 extra está presente em todas as ce ́lulas do indivíduo, translocação robertsoniana envolvendo o cromossomo 21: 3 a 4% e mosaicismo de trissomia 21 (47,+ 21/46): 2 a 3%. Duas populações de células, uma normal, com 46 cromossomos, e outra com 47,+21. Erros na meiose resultam na não disjunção , geralmente são de origem materna e somente em 5% dos casos ocorre erro na espermatogênese. Por isso, o risco da Síndrome de Down aumenta com a idade materna avançada. Citogenética no Diagnóstico Laboratorial12 Os exames do pré-natal que podem auxiliar no diagnóstico da Síndrome de Down são a aminiocentese, que pode ser realizado a partir da décima semana de gravidez, a coleta do líquido amniótico permite a análise citogenética do feto, auxiliando assim o diagnóstico da Síndrome de Down. Outro exame que pode ser feito é o vilo corial, entre a oitava e a décima semana de gestação. O resultado é dado entre 10 e 28 dias e é mais rápido do que a da aminiocentese. A síndrome de Edwards é prevalente especialmente América do Norte, Europa e Austrália, ocorre numa frequência de 1 para 3.600 a 8.500 nascidos vivos. A proporção entre pessoas do sexo masculino e feminino são de individuo do sexo masculino para dois do feminino. As características fenotípicas mais frequentes na síndrome, de acordo com a topologia, são: achados neurológicos; anormalidades de crescimento, crânio e face, tórax e abdômen, extremidades, órgãos genitais, pele e fâneros, a saber cabelos pelos e unhas, além de malformações de órgãos internos. A confirmação do diagnóstico é feito a partir do estudo do cariótipo, com a detecção de trissomias completa ou parcial do cromossomo 18. Os achados pré-natais incluem restrição de crescimento intrauterino associada a polidrâmnio. Cerca de cinquenta por cento das crianças afetadas falecem na primeira semana de vida, e apenas 5 a 10% sobrevivem no primeiro ano de vida. Como ferramenta diagnóstica pode- se usar a técnica de hibridização in situ e a de hibridização genômica comparada para auxiliar no diagnóstico da trissomia do cromossomo 18. Essas técnicas podem ser utilizadas em recém-nascidos ou no pré- natal. Nesse caso ainda pode ser feito o aconselhamento genético, caso o casal ainda pretenda ter filhos. As tetrassomias e pentassomias são incompatíveis com a vida e apresentam o cariótipo de 48 XXYY e 49 XXXXY, alterações nos cromossomos sexuais. A trissomias do cromossomo 13 conhecida anteriormente como a síndrome de Patau, possui três etiologias, a saber (47 +13) onde um cromossomo 21 extra está presente em todas as células, translocação Robertsoniana na qual envolve um cromossomo de braço longo do cromossomo 13 e o mosaicismo que ocorre pela presença de duas populações de células, sendo uma normal com 46 cromossomos e a outra com 47, +21. Os indivíduos geralmente Citogenética no Diagnóstico Laboratorial 13 apresentam holoprosencefalia, ou seja separação dos hemisférios do cérebro, ausência do nervo e/ou do bulbo olfatório, graves defeitos de visão, surdez, fenda labial e palatina. Além disso, podem ser observados onfalocele, hérnia umbilical, anomalias genitourinárias, hemangiomas, polidactilia e malformações cardíacas. A suspeita diagnóstica pode ser feita no pós-natal ou no pré-natal. No pré-natal são observadas anormalidades na ultrassonografia como restrição de crescimento uterino ou pode-se realizar o cariotipagem, análise de hibridação in situ fluorescente [FISH] e/ou análise cromossômica por microarranjo) das amostras obtidas por amostragem das vilosidades coriônicas ou amniocentese. No pós-natal, a confirmação é feita por testes citogenéticos de uma amostra de sangue. Além disso, os cromossomos ainda podem apresentar alterações estruturais. São elas deleção, duplicação, inversão, translocação, isocro- mossomos e fusão. A deleção é definida pela perda de um segmento em um dos braços do cromossomo, gerando uma monossomia parcial do segmento deletado. A deleção pode ser terminal ou intersticial, a terminal é caracterizada por um ponto de quebra, até a porção terminal do braço afetado. Ver figura 01. A deleção intersticial ocorre quando duas quebras acontecem em um mesmo braço, o segmento intermediário pode ser perdido, com posterior união dos pontos de quebra, formando assim um cromossomo menor que seu homólogo, devido à perda de uma porção intersticial. Ver figura 01. A deleção ainda pode ocorrer deleção por meio de um crossing‐over desigual entre cromossomos homólogos desalinhados, o qual também gera um segmento duplicado. Figura 1: Deleção do cromossomo terminal e intersticial Fonte: http://bit.ly/2NdAoiC Citogenética no Diagnóstico Laboratorial14 A duplicação ocorre quando um segmento cromossômico esta ́ presente duas vezes no mesmo cromossomo, gerando uma trissomia parcial do segmento duplicado. Assim, como as deleções, as duplicações podem não ser visíveis ao microscópio por bandeamento convencional, sendo necessária a aplicação de técnicas de maior resolução, como a citogenética molecular. Podem ser de dois tipos: direta ou invertida. A direta ocorre quando o segmento duplicado apresenta a sequência de DNA no mesmo sentido da sequência inicial e a invertida quando o segmento duplicado está no sentido oposto ao original do cromossomo. Figura 2: Cromossomo duplicado Fonte: https://bit.ly/2kcV2nH O isocromossomo resulta da perda de um dos braços (monossomia parcial) e duplicação do outro (trissomia parcial). Portanto, tais quebras, no centrômero ou perto dele, formam primeiro um cromossomo telocêntrico com um centrômero instável, o qual, durante a interfase, afasta as cromátides-irmãs, dando origem, na próxima metáfase, a um cromossomo com dois braços iguais. A inversão é caracterizada por duas quebras no mesmo cromossomo, seguidas de rotação de 180° do segmento cromossômico entre os pontos de quebra, com posterior ligação do segmento invertido. https://bit.ly/2kcV2nH Citogenética no Diagnóstico Laboratorial 15 Podemos ser de dois tipos: a paracêntrica e a pericêntrica. A inversão paracêntrica tem suas quebras no mesmo braço do cromossomo, não incluindo o centrômero no segmento invertido, enquanto a inversão pericêntrica tem uma quebra em cada braço, de forma que o fragmento invertido inclua o centrômero. Este rearranjo afeta a morfologia do cromossomo. A translocação recíproca é a troca de segmentos cromossômicos entre dois cromossomos, sendo o tipo de aberração cromossômica estrutural mais frequentemente encontrado. A translocação Robertso- niana está associada aos cromossomos acrocêntricos 13, 14, 15, 21 e 22 e ocorre a partir da perda dos braços curtos de dois destes cromossomos, seguida de fusão dos centrômeros, unindo os braços longos dos cromossomos acrocêntricos envolvidos. Translocações de braço inteiro são translocações recíprocas nas quais os pontos de quebra estão nos centrômeros. Neste tipo de translocação, ocorre a troca de braços inteiros entre cromossomos. A translocação com origem definida e destino aleatório um evento citogenético muito raro em que o mesmo segmento doado por um cromossomo é recebido por diferentes cromos- somos, em diferentes clones de células. Isso ocorreprincipalmente em células neoplásicas. Alterações dos cromossomos sexuais As alterações dos cromossomos sexuais a aneuploidia, deleções parciais ou duplicações dos cromossomos sexuais ou mosaicismo. O cromossomo X é um cromossomo submetacêntrico de tamanho médio e apresenta cerca de 1.500 genes. Entre esses genes, há vários relacionados à função gonadal e hormonal, como o gene do receptor androgênico. Há também genes que determinam características independentes do sexo, como o gene da distrofina (gene DMD) e o gene do fator VIII da coagulação (gene F). Além desses, ainda há outros genes relacionados ao desenvolvimento mental, entre eles o gene FMR1. O cromossomo Y é um acrocêntrico que, diferente dos demais cromossomos acrocêntricos humanos, não apresenta regiões organizadoras de nucléolo em seu braço curto. No braço curto do cromossomo Y, na banda Yp11.31, está localizado o gene SRY Citogenética no Diagnóstico Laboratorial16 (sexdetermining region Y), principal gene responsável pela determinação gonadal e formação testicular. Além disso, no cromossomo Y há também vários genes relacionados à espermatogênese. O fator da azoospermia, denominado fator AZF, foi identificado como parte de três regiões distintas de Yq11, denominadas AZFa, AZFb, e AZFc, cujas deleções resultam em azoospermia. As anomalias dos cromossomos sexuais são frequentes e podem causar síndromes, as quais estão ligadas às variações de anomalias congênitas e do desenvolvimento. Essas anomalias na sua grande maioria não são identificadas no pré-natal uma vez que no pré-natal, são feitos exames para a avaliação da saúde da mulher a exemplo de hemograma, glicemia de jejum, ultrassonografia, entre outros e testes como HIV e citomegalovírus (CMV), sem pesquisa de doenças genéticas. No entanto, esses testes são feitos quando a mulher está em idade materna avançada, onde o risco de doenças genéticas é bem maior. A grande maioria das anomalias do cromossomo X são benignas quando comparadas às anomalias autossômicas análogas. Por exemplo, mulheres com três cromossomos são quase sempre normais fisicamente e mentalmente, além de ser férteis. Segundo a Hipótese de Lyon, isso acontece porque um dos cromossomos X da mulher é inativada ainda na vida uterina, por volta do décimo sexto dia de gestação. IMPORTANTE: As doenças genéticas relacionadas com as alterações dos cromossomos sexuais são a síndrome de Turner, síndrome de Klinefelder e síndrome do X frágil. A síndrome de Turner uma das formas mais comuns de hipogonadismo hiper-gonadotrófico nos homens. Ela é decorrente da presença de um cromossomo X extra ou, mais raramente, de dois ou três cromossomos X extras. A síndrome não é reconhecida na infância, apesar de poder haver desvios de comportamento e dificuldades de aprendizagem. Os meninos entram na puberdade na idade normal, porém apresentam níveis mais baixos de testosterona. Os testículos, que em geral são pequenos durante a infância, se mantém pequenos Citogenética no Diagnóstico Laboratorial 17 nos adultos, e as características sexuais secundarias permanecem pouco desenvolvidas. Outras anomalias presentes são pescoço alado e tórax largo, mamilos invertidos e hipertelorismo mamário. As meninas afetadas apresentam baixa estatura quando comparada à altura dos familiares. Outras características que podem aparecer são implantação baixa de cabelos na nuca, ptose, inúmeros nevos pigmentados, quarto metacarpo e metatarso curtos, coxins dos dedos proeminentes com estrias nos dermatóglifos da ponta dos dedos e hipoplasia ungueal e cúbito valgo. Além dessas alterações, o indivíduo pode apresentar anomalias cardíacas as quais incluem coarctação da aorta e válvula aórtica bicúspide. Com a idade, o indivíduo apresenta hipertensão arterial, mesmo sem coarctação, além de alterações renais e hemangiomas. E em alguns casos, pode ocorrer telangiectasia no trato GI, o que resulta em sangramento ou perda proteica. E o paciente pode apresentar perda auditiva; estrabismo e hipermetropia (hipermetropia). O diagnóstico mais frequente é realizado na vida adulta em decorrência da infertilidade, apesar de os sinais clínicos serem altamente variáveis. O único sinal obrigatório na síndrome é a presença de testículos pequenos, associados a azoospermia e, menos frequentemente, a oligospermia acentuada e níveis aumentados de FSH. Além disso, para melhorar a acurácia do diagnóstica são realizados testes citogenéticos por cariotipagem, análises de Hibridização in situ e/ ou análise cromossômica por microarranjo. Cariótipo 47, X X Y, sendo que um dos cromossomos X permanece inativo durante a interfase e aparece como corpúsculo de Barr. Nesses casos, dados citogenéticos e moleculares sobre a origem parental e o estágio meiótico do erro de não disjunção responsável pela síndrome indicam que o cromossomo X extra pode ser, com igual frequência, de origem paterna ou materna. Ainda, pode ser realizado o exame histológico do tecido testicular mostra que os testículos pré-puberais demonstram túbulos seminíferos com espermatogônias, havendo posteriormente uma perda progressiva de epitélio germinativo e a formação de túbulos seminíferos hialinizados atrofiados com ausência de elementos germinativos. Citogenética no Diagnóstico Laboratorial18 Tabela 1: Incidência das doenças genéticas Sexo Doença Cariótipo Incidência Homens Síndrome de Klinefelter 47, XXY 48, XXXXY Outros 1: 1.000 homens 1: 25.000 homens 1: 10.000 homens Síndrome do duplo Y 47, XYY 1: 1.000 homens Outras alterações de X ou Y - 1: 1.500 homens Mulheres Síndrome de Turner 45, X 46, X, i(Xq) Outros 1: 10.000 mulheres 1: 50.000 mulheres 1: 15.000 mulheres Trissomia X 47, XXX 1: 1.000 mulheres Outras anormalidades do X - 1: 3.000 mulheres A síndrome 47, XYY corresponde à presença de dois cromossomos Y e um X, resultando em fenótipo masculino, ocorre em cerca de 1/1.000 meninos nascidos vivos. Indivíduos com essa alteração apresentam alta estatura, anormalidades de comportamento com diminuição de tolerância à frustração e do autocontrole e também hiperatividade. Comportamento agressivo, no entanto, e ́ pouco comum. Os pacientes podem apresentar hipogonadismo e tendência a desenvolver acne facial. A síndrome do X frágil é uma anormalidade no gene FMR1 no cromossomo X. A anormalidade é uma expansão tripla repetida instável; as pessoas normais têm < 60 repetições CGG e pessoas com a síndrome do X frágil tem > 200. O indivíduo com essa anomalia apresenta face mais alongada, testa larga, orelhas grandes e salientes, palatino mais alongado, pele sensível, articulações mais flexíveis, testículos grandes pós-puberdade (macroorquidismo), redução do tônus muscular e pés chatos. Na análise comportamental apresentam ansiedade social, evitam contato visual, atraso para aprender a engatinhar, andar e dar volta, atraso em aprender falar e escrever, dificuldade na fala, memória, apresentam impaciência e irritabilidade e são mais vulneráveis a transtornos de humor e de ansiedade. O diagnóstico, padrão-ouro, é a realização do exame do DNA para análise do número de repetições de tripletes CGG no Xq27.3. Atualmente já é possível a realização do diagnóstico pré-natal através das vilosidades coriônicas (entre 9ae 11a semanas de gestação) ou pelas células fetais contidas no líquido amniótico (15a semana de gestação). Citogenética no Diagnóstico Laboratorial 19 Interpretação de padrões de herança Heredograma INTRODUÇÃO: Uma técnica importante usada pelos geneticistas para estudar a herança humana é a análise dos heredogramas. Um heredograma é uma representação pictórica, ou seja, de símbolos acerca da história familiar, basicamente uma árvore genealógica que esboça a herança de uma ou mais características. Quando uma característica ou doença específica é observada em uma pessoa, o geneticista estuda a família delaem um heredograma. Os símbolos mais usados no heredograma são quadrados que representam homens e círculos que representam mulheres. Uma linha horizontal desenhada entre homem e mulher indicam casamento e as crianças são conectadas aos seus pais por linhas verticais. Figura 3: Símbolos mais usados no heredograma Fonte: http://bit.ly/37W8Vd0 A análise de heredograma requer um pouco de investigação, com base na identificação dos padrões associados aos diferentes modos de herança. Por exemplo, os traços autossômicos dominantes devem Citogenética no Diagnóstico Laboratorial20 aparecer com a mesma frequência em ambos os sexos e não devem pular geração, desde que o traço seja totalmente penetrante e não influenciado pelo sexo. Normalmente, os traços autossômicos recessivos surgem com a mesma frequência em ambos os sexos (exceto se a penetrância, ou seja, à expressividade do gene em um conjunto de indivíduos, em termos percentuais for diferente em homens e mulheres) e aparecem apenas quando uma pessoa herda dois alelos para o traço, um de cada genitor. Se o traço não é comum, a maioria dos pais dos descendentes afetados é heterozigota e não afetada e, assim, temos a impressão de que o traço pula gerações (ver figura 06). Frequentemente, um alelo recessivo pode ser passado para várias gerações sem que o traço apareça em um heredograma. Independentemente de ambos os pais serem heterozigotos, espera-se que aproximadamente 25% dos descendentes expressem o traço, mas essa razão pode não ser evidente, exceto se a família for grande. No caso raro de ambos os pais serem afetados por um traço autossômico recessivo, todos os descendentes serão afetados. Cada geração num heredograma é representado por um número romano (ex.: I), em cada geração cada membro é representado por um número arábico (ex.: 1), os símbolos cheios representam os indivíduos afetados pela doença genética e os símbolos vazios representam os membros não afetados e as crianças nascidas são listadas da esquerda para a direita na ordem do nascimento. Figura 4: Análise de heredograma para investigação de doença genética Fonte: A autora Citogenética no Diagnóstico Laboratorial 21 Quando um traço recessivo é raro, as pessoas fora da família são, em geral, homozigotas para o alelo normal. Assim, quando uma pessoa afetada se casa com uma pessoa de fora da família (aa × AA), em geral, nenhuma das crianças apresentará o traço, embora todas sejam portadoras (ou seja, heterozigotas). É mais provável que um traço recessivo apareça em um heredograma quando duas pessoas da mesma família se casem, porque existe uma chance maior de ambos os pais carrearem o mesmo alelo recessivo. O casamento de parentes próximos é chamado de consanguinidade. Um exemplo de traço autossômico é a síndrome de Waardenburg, a qual é caracterizada pelo deslocamento lateral dos cantos internos dos olhos, hiperplasia da porção medial dos supercílios (sinofris), base nasal proeminente e alargada, alterações na pigmentação da íris e da pele, surdez congênita, mecha branca frontal. Traços autossômicos Os traços autossômicos recessivos surgem com a mesma frequência em homens e mulheres. É comum que as crianças afetadas sejam filhos de pais não afetados que são portadores do gene para o traço, e esse traço tende a pular gerações. Os traços recessivos aparecem mais frequentemente nos descendentes de acasalamentos consanguíneos. Em contrapartida, os traços autossômicos dominantes surgem em ambos os sexos com a mesma frequência, e ambos são capazes de transmitir esses traços para seus descendentes. Cada pessoa com um traço dominante necessariamente herdou o alelo de pelo menos um genitor; dessa forma, os traços autossômicos dominantes não pulam gerações. As exceções para essa regra surgem quando as pessoas adquirem o traço como o resultado de uma nova mutação ou quando o traço tem penetrância reduzida. Um exemplo clássico é a hipercolesterolemia familiar. SAIBA MAIS: Para entender o mecanismo da hipercolesterolemia familiar leia o artigo: Hipercolesterolemia Familiar: a Importância do Diagnóstico e Tratamento Precoces, disponível em: https:// bit.ly/2mfiyBg https://bit.ly/2mfiyBg https://bit.ly/2mfiyBg Citogenética no Diagnóstico Laboratorial22 Os traços recessivos ligados ao X têm um padrão diferente de herança. Primeiro, eles surgem mais frequentemente nos homens que nas mulheres, porque eles precisam herdar apenas uma única cópia do alelo (XY) para apresentar o traço, enquanto as mulheres precisam herdar duas (XX), uma de cada genitor, para serem afetadas. Segundo, como um homem herda seu cromossomo X da mãe, é comum os homens afetados nascerem de mulheres não afetadas portadoras do alelo para o traço. Como o traço é transmitido da mulher não afetada para o homem afetado e, então, para a mulher não afetada, ele tende a pular gerações. Quando uma mulher é heterozigota, aproximadamente 50% de seus filhos serão afetados e 50% de suas filhas serão portadoras não afetadas. Uma terceira característica importante dos traços recessivos ligados ao X é que eles não são transmitidos do pai para o filho, porque um filho herda o seu cromossomo Y do pai, não o X. Um exemplo clássico do traço ligado ao X é a hemofilia A. A hemofilia é uma doenc ̧a hemorrágica resultante da deficiência de fator VIII (hemofilia A) um fator importante da coagulação sanguínea. As pessoas com hemofilia A sangram em excesso e até pequenos cortes e contusões são potencialmente fatais. Ocorre sangramento espontâneo nas articulações como cotovelos, joelhos e tornozelos, produzindo dor, edema e erosão dos ossos. Os traços dominantes ligados ao X aparecem em homens e mulheres, embora sejam mais frequentes nas mulheres. Cada pessoa com um traço dominante ligado ao X tem obrigatoriamente um genitor afetado (exceto se a pessoa tiver uma nova mutação ou se o traço for de penetrância reduzida). Os traços dominantes ligados ao X não pulam gerações; os homens afetados transmitem o traço para todas as suas filhas e para nenhum de seus filhos. Por outro lado, as mulheres afetadas (se forem heterozigotas) transmitem o traço para cerca de 1/2 de seus filhos e 1/2 de suas filhas. Como ocorre com os traços recessivos ligados ao X, um homem herda um traço dominante ligado ao X apenas de sua mãe; o traço não é transmitido do pai para o filho. Esse fato é que diferencia a herança dominante ligada ao X da herança autossômica dominante, na qual um homem pode herdar o traço de seu pai. Uma mulher, por outro lado, herda um cromossomo X de sua mãe e de seu pai, então as mulheres podem receber um traço dominante ligado ao X de qualquer um de seus genitores. Citogenética no Diagnóstico Laboratorial 23 Um exemplo de traço dominante ligado ao X nos seres humanos é a hipofosfatemia, também conhecida como raquitismo familiar resistente a vitamina D. As pessoas com esse traço têm características que lembram superficialmente o raquitismo: deformidades ósseas, coluna vertebral e articulações rígidas, joelho varo e leve deficiência de crescimento. Esse distúrbio, entretanto, é resistente ao tratamento com a vitamina D, que normalmente cura o raquitismo. A hipofosfatemia ligada ao X resulta do transporte defeituoso do fosfato, em especial nas células dos rins. Pessoas com esse distúrbio excretam muito fosfato na urina, resultando em níveis baixos no sangue e depósito reduzido de minerais nos ossos. O distúrbio é tratado com altas doses de calcitriol (uma forma hormonal ativa da vitamina D) e fosfato. Como ocorre com os traços dominantes ligados ao X, os homens com hipofosfatemia são, com frequência, afetados de forma mais grave que as mulheres. Os traços ligados ao Y exibem um padrão específico, de fácil identificação, de herança. Apenas os homens são afetados e o traço é transmitido de pai para filho. Se um homem for afetado, todos os seusdescendentes masculinos também serão afetados. Tabela 2: Características no heredograma dos traços autossômicos recessivos, autossômicos dominantes, recessivos ligados ao X, dominantes ligados ao Y e ligados ao Y Traço autossômico recessivo Traço autossômico dominante Traço recessivo ligado ao X Traço dominante ligado ao X Traço ligado ao Y C ar ac te rí st ic as Surge em ambos os sexos com a mesma frequência. Surge em ambos os sexos com a mesma frequência. Os homens são mais afetados que as mulheres. Homens e mulheres são afetados, mas, em geral, as mulheres são mais afetadas. Apenas os homens são afetados. Tende a pular gerações. Não pula gerações. Os homens afetados têm mães não afetadas, ou seja, o traço pula gerações. Não pula gerações. Os homens têm necessariamente a mãe afetada; as filhas afetadas devem ter a mãe ou o pai afetado. Transmitido do pai para todos os filhos. Os indivíduos afetados em geral têm pais não afetados. Ambos os sexos transmitem o traço para seus descendentes. Aproximadamente metade dos filhos de uma portadora (heterozigota) é afetada. Os homens afetados transmitirão o traço para todas as suas filhas. Não pula gerações. Citogenética no Diagnóstico Laboratorial24 C ar ac te rí st ic as Quando os pais são heterozigotos, aproximadamente 25% dos filhos serão afetados. Os descendentes afetados têm necessariamente um genitor afetado, exceto se eles tiverem uma nova mutação. Nunca é transmitido do pai para o filho. As mães afetadas (se forem heterozigotas) transmitem o traço para metade de seus filhos e metade de suas filhas. Aparece com maior frequência em crianças de casamentos consanguíneos. Quando um dos genitores (heterozigoto) é afetado e o outro não, aproximadamente metade dos descendentes será afetada. Todas as filhas de homens afetados são portadoras. Os pais que não são afetados não transmitem o traço. Fonte: Genética: um enfoque conceitual / Benjamin A. Pierce; tradução Beatriz Araújo do Rosário. 5. ed. [Reimpr.] Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. Entender essas doenças e sobre a hereditariedade são importantes, sobretudo para o aconselhamento genético. Aconselhamento Genético O aconselhamento genético é um campo que fornece informações a pacientes e outras pessoas que se preocupam com questões relacionadas à hereditariedade. É um processo educacional que ajuda pacientes e membros da família a lidar com muitos aspectos de uma condição genética, incluindo diagnóstico, informações sobre sintomas e tratamento e informações sobre o modo de herança. O aconselhamento genético também ajuda essas pessoas a lidar com o estresse psicológico e físico que está associado ao distúrbio. Os motivos mais comuns para a busca do aconselhamento genético são doença genética na família, um casal que já tenha tido um filho com algum distúrbio genético, defeito congênito, anomalia cromossômica, déficit intelectual ou doença genética de uma parente próximo. Além desses fatores, podemos citar a gravidez após os 35 anos de idade, parentesco entre marido e esposa, mulheres expostas na gravidez a substâncias lícitas como álcool e medicamentos ou a substâncias ilícitas como drogas de abuso, interpretação de um resultado feito no pré-natal ou os pais já são portadores de alguma doença. Citogenética no Diagnóstico Laboratorial 25 Em geral, o aconselhamento genético inicia com o diagnóstico da condição. Com base no exame físico, testes bioquímicos, exame de DNA, análise cromossômica, história familiar e outras informações, o médico determina a causa. Um diagnóstico exato é crítico, porque o tratamento e a probabilidade de transmitir a condição podem variar, dependendo do diagnóstico. Quando a natureza da condição é conhecida, um conselheiro genético faz uma reunião com o paciente e membros da família e explica o diagnóstico. Um heredograma da família pode ser construído e a probabilidade de transmitir a condição para gerações futuras pode ser calculada para diferentes membros da família. O conselheiro auxilia a família a interpretar os riscos genéticos e explica as várias opções de reprodução disponíveis, incluindo diagnóstico pré-natal, inseminação artificial e fertilização in vitro. Muitas vezes, os membros da família têm dúvidas sobre o exame genético que pode estar disponível para determinar se eles carreiam uma mutação. O conselheiro os ajuda a decidir se o exame genético é adequado e quais testes buscar. Após receber os resultados dos testes, o conselheiro ajuda a interpretá-los. A decisão de uma família sobre futuras gestações depende da magnitude do risco genético, da gravidade e dos efeitos da condição, da importância de ter filhos e das questões religiosas e culturais. Tradicionalmente, os conselheiros genéticos são treinados para aplicar o aconselhamento não direcionado, o que significa que eles fornecem as informações e facilitam a discussão, mas não emitem suas opiniões e valores para a discussão. O objetivo do aconselhamento não direcionado é que a família alcance sua própria decisão com base nas melhores informações disponíveis. Devido ao número crescente de testes genéticos e a complexidade da avaliação do risco genético, existe atualmente um movimento no sentido contrário do aconselhamento não direcionado. O objetivo ainda é fornecer informações à família sobre todas as opções e alcançar a melhor decisão, mas pode ser necessário que o conselheiro, em alguns casos, recomende algumas opções, como um médico recomenda os tratamentos mais adequados para seu paciente. O profissional responsável por fazer o aconselhamento genético são aqueles habilitados nessa área. Citogenética no Diagnóstico Laboratorial26 Exame genético O principal objetivo é identificar o potencial para uma condição genética em um estágio inicial. Em alguns casos, o exame genético permite que as pessoas façam escolhas informadas sobre a reprodução. Em outros casos, ele permite a intervenção precoce que pode diminuir ou até evitar o desenvolvimento da condição. Para quem sabe que corre risco de desenvolver uma condição genética, esse exame pode ajudar a aliviar a ansiedade associada à incerteza da sua situação. O exame genético inclui exames pré e pós-natal. Os testes genéticos pré-natal são realizados antes do nascimento e atualmente incluem procedimentos para diagnóstico de várias doenças e distúrbios genéticos. As abordagens diagnósticas para o aconselhamento genético são a ultrassonografia que permite avaliar o tamanho do feto, as condições genéticas como defeitos do tubo neural (defeitos no desenvolvimento da medula espinal e crânio) e anomalias no esqueleto. A ultrassonografia é um procedimento padrão feito durante a gestação para estimar a idade do feto, determinar seu sexo e verificar se há distúrbios de desenvolvimento ou outros problemas, aminiocentese, amostragem das vilosidades coriônicas, testes de triagem no sangue materno para a avaliação, por exemplo da alfa-fetoproteína a qual é normalmente produzida pelo feto durante o desenvolvimento e está presente no sangue fetal, no líquido amniótico e no sangue da mãe durante a gravidez. O nível da α-fetoproteína é muito maior que o normal quando o feto tem um defeito do tubo neural ou um entre vários outros distúrbios. Algumas anomalias cromossômicas produzem níveis de α-fetoproteína abaixo do normal. Medir a quantidade de α-fetoproteína no sangue da mãe fornece uma indicação dessas condições. Além desses fatores, a avaliação dos níveis de gonadotrofina coriônica humana (hCG, um hormônio da gravidez) e uma substância chamada de proteína plasmática A, associada à gravidez (PAPP-A). Quando o feto tem alguns defeitos cromossômicos, o nível de PAPP-A tende a ser menor e o nível de hCG, maior. O risco de uma anomalia cromossômica é calculado com base nos níveis de hCG e PAPP-Ano sangue da mãe, junto com os resultados da ultrassonografia. Esses testes usando o sangue materno são interessantes e de primeira escolha por não serem invasivos. Em casos de mães portadoras de alguma doença genética, ainda pode ser feito o diagnóstico genético pré-implante (PGD), essa técnica Citogenética no Diagnóstico Laboratorial 27 permite que as pessoas portadoras de um defeito genético evitem ter uma criança com a doença. O procedimento começa com a produção de vários embriões de uma célula por meio da fertilização in vitro. Os embriões se dividem várias vezes até alcançarem o estágio de 8 ou 16 células. Neste momento, uma célula é removida de cada embrião e é feito o teste para detectar anomalia genética. A remoção de uma única célula nesse estágio inicial não é prejudicial ao embrião. Após determinar quais embriões não têm o distúrbio, um embrião saudável é selecionado e implantado no útero da mulher. O diagnóstico genético pré-implante requer a capacidade de realizar um teste genético em uma única célula. Esse exame é possível graças ao uso da reação em cadeia da polimerase, pela qual pequenas quantidades de DNA podem ser amplificadas (replicadas) rapidamente. Após a amplificação do DNA da célula, a sequência de DNA é examinada. O diagnóstico genético pré-implante resultou no nascimento de milhares de crianças saudáveis. Seu uso levanta várias questões éticas, porque ele pode ser usado para selecionar ou descartar traços genéticos que não têm relação com questões clínicas. Por exemplo, ele pode ser usado para selecionar uma criança com genes para uma cor de olhos ou genes para estatura maior. Além da investigação de doenças genéticas nos fetos e recém- nascidos, atualmente é possível fazer exame em adultos saudáveis para pesquisar genes que podem predispô-los a uma condição genética. Esse tipo de exame é conhecido como exame genético pré-sintomático. Por exemplo, ele está disponível para membros de famílias que têm uma forma autossômica dominante do câncer de mama. Nesse caso, a identificação precoce do alelo responsável pela doença permite a observação e a detecção precoce dos tumores, a exemplo da pesquisa do BRCA. O exame pré-sintomático também está disponível para algumas doenças genéticas para as quais não existe tratamento, como a doença de Huntington, uma doença autossômica dominante que resulta em lenta deterioração física e mental em pessoas de meia-idade. Outra forma de exame genético nos adultos é a triagem de heterozigoto. Nesse tipo de triagem, os membros de população são testados para identificar os portadores heterozigotos dos alelos responsáveis por doença recessiva, ou seja, pessoas que são saudáveis, mas podem ter filhos com uma doença específica. Citogenética no Diagnóstico Laboratorial28 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que os estudos em genética permitiram entender as doenças genéticas, bem as desordens surgidas a partir de casamentos consanguíneos. Foi visto que para entender o risco entre esse casamento ou de quando os pais são portadores ou tem a doença é necessário a realização de um heredograma para avaliar o risco em que cada filho está exposto ao desenvolvimento da doença. Os traços autossômicos pulam gerações e tem a mesma frequência em homens e mulheres, os traços autossômicos dominantes também aparecem com a mesma frequência entre os sexos, porém, não pulam gerações, os traços recessivos ligados ao X aparecem com maior frequência nos homens do que nas mulheres, assim Quando uma mulher é portadora heterozigota de um traço recessivo ligado ao X e um homem não é afetado, aproximadamente metade de seus filhos terá o traço e metade de suas filhas será portadora não afetada. Os traços dominantes ligados ao X aparecem em homens e mulheres, embora sejam mais frequentes nas mulheres, não pulam gerações. Os homens afetados transmitem um traço dominante ligado ao X para todas as suas filhas e nenhum dos seus filhos e as mulheres heterozigotas transmitem o traço para metade de seus filhos e metade de suas filhas. Os traços ligados ao Y surgem apenas nos homens e são transmitidos do pai para todos os seus filhos. Assim, o exame genético inclui diagnóstico pré-natal, triagem para alelos responsáveis por doenças nos recém-nascidos, detecção de pessoas heterozigotas para alelos recessivos e exame pré-sintomático para a existência de um alelo responsável por doença em pessoas de risco, esses dados são usados também para o aconselhamento genético principalmente em indivíduos que tem a doença, são portadores ou tem casos na família. Contudo, o desafio maior ainda é na interpretação dos testes genéticos, uma vez que outros fatores estão associados como múltiplas mutações, penetrância incompleta e influência dos fatores ambientais. Citogenética no Diagnóstico Laboratorial 29 Genética de populações População: Um conjunto de indivíduos da mesma espécie, que ocupa o mesmo local apresentando continuidade no tempo e cujos indivíduos possuem capacidade de se acasalarem ao acaso, portanto, de trocar alelos entre si. A variabilidade está presente na vida humana seja por meio da variedade da cor dos olhos, cor do cabelo, pigmentação da pele, altura, peso, características faciais, tipos sanguíneos e susceptibilidade a doenças e distúrbios. Parte dessa variação ocorre a nível molecular devido, em parte, à redundância do código genético, que permite que diferentes códons especifiquem o mesmo aminoácido. Assim, dois membros de uma população podem produzir a mesma proteína mesmo se suas sequências de DNA forem diferentes. Sequências de DNA entre os genes e íntrons em genes não codificam proteínas; parte da variação nestas sequências também tem pouco efeito no fenótipo. Para entender a variação genética dois conceitos precisam ser entendidos, a saber frequência genotípica e alélica. Frequência genotípica e alélica A frequência genotípica é uma proporção ou uma porcentagem, em geral expressa como uma fração decimal. Por exemplo, se 30% dos alelos em um determinado locus em uma população são A, diríamos que a frequência do alelo A na população é 0,30. Para calcular uma frequência genotípica, simplesmente somamos o número de indivíduos com o genótipo e dividimos pelo número total de indivíduos na amostra (N), conforme a fórmula abaixo: Citogenética no Diagnóstico Laboratorial30 As frequências alélicas podem ser calculadas a partir do (1) número ou das (2) frequências dos genótipos. Para calcular a frequência alélica a partir dos números de genótipos, contamos o número de cópias de um determinado alelo encontrado em uma amostra e dividimos pelo número total de todos os alelos na amostra: (25.2) Para um locus com apenas dois alelos (A e a), as frequências dos alelos são representadas pelos símbolos p e q e podem ser calculados como se segue: Para um locus com apenas dois alelos (A e a), as frequências dos alelos são representadas pelos símbolos p e q e podem ser calculados como se segue: Em que nAA, nAa e naa representam os números de AA, Aa e aa individuais e N representa o número total de indivíduos na amostra. Para obter o número de cópias do alelo no numerador da equação, adicionamos duas vezes o número de homozigotos (porque cada um tem duas cópias do alelo para o qual a frequência está sendo calculada) para o número de heterozigotos (porque cada um tem uma única cópia do alelo). Dividimos por 2N porque cada indivíduo diploide tem dois alelos em um locus. A soma das frequências alélicas é sempre igual a 1 (p + q = 1), então, após p ser obtida, q pode ser determinada pela subtração q = 1 – p. Por outro lado, as frequências alélicas podem ser calculadas a partir das frequências genotípicas. Este cálculoé útil se as frequências genotípicas já estiverem calculadas e os números de genótipos diferentes não estiverem disponíveis. Citogenética no Diagnóstico Laboratorial 31 Frequências mendelianas DEFINIÇÃO: Para estudar as frequências mendelianas postulou-se o teorema Hardy-Weinberg. Teorema de Hardy-Weinberg: “Numa população mendeliana as frequências alélicas e genotípicas permanecerão constante ao longo das gerações se fatores como mutação, seleção, migração, desvio meiótico e deriva genética não tiverem atuando sobre essa população”. Assim, esta lei nos diz que a reprodução sozinha não produz evolução. São necessários outros processos, como a seleção natural, mutação, migração ou acaso para que as populações evoluam. Para determinar se os genótipos de uma população estão no equilíbrio de Hardy-Weinberg, as proporções genotípicas esperadas dentro da lei de Hardy-Weinberg devem ser comparadas com as frequências genotípicas observadas. Para tal, primeiro calculamos as frequências alélicas, então encontramos as frequências genotípicas esperadas ao usar o quadrado das frequências alélicas e, finalmente, comparamos as frequências genotípicas observadas e esperadas ao usar o teste qui-quadrado. Fatores interferentes no equilíbrio Alguns fatores podem interferir nesse equilíbrio, por exemplo mutações, migrações, deriva genética e seleção natural. A mutação é importante porque ajuda na variabilidade genética, a migração ou fluxo genético é a entrada de genes de outras populações, assim ela tem um efeito duplo: (1) evita que populações se tornem geneticamente diferentes uma da outra e (2) aumenta a variação genética dentro das populações. A deriva genética é um mecanismo de evolução no qual as frequências dos alelos de uma população se alteram ao longo das gerações, devido ao acaso (erro de amostragem) e a seleção natural ocorre quando os indivíduos com traços adaptados produzem um número maior de descendentes do que os produzidos por outros na população. Citogenética no Diagnóstico Laboratorial32 Assim, os quatro processos modificam as frequências alélicas de uma população. Em alguns casos, estas mudanças continuam até um alelo ser eliminado e o outro se tornar fixo na população. A deriva genética e a seleção direcional resultarão na fixação, desde que estas forças sejam as únicas que atuem em uma população. Com as outras forças evolutivas, as frequências alélicas mudam até alcançar um ponto de equilíbrio e não há mudança adicional na frequência alélica. Mutação, migração e algumas formas de seleção natural podem levar aos equilíbrios estáveis. Diferentes forças evolutivas afetam a variação genética dentro das populações e a divergência genética entre as populações. As forças evolutivas que mantêm ou reduzem a variação genética incluem alguns tipos de seleção natural, como a sobredominância, na qual ambos alelos são favorecidos. A mutação e a migração também aumentam a variação genética dentro das populações porque elas introduzem novos alelos na população. As forças evolutivas que reduzem a variação incluem a deriva genética, que reduz a variação pela fixação dos alelos e algumas formas de seleção natural como a seleção direcional. As várias forças evolutivas também afetam a quantidade da divergência genética entre as populações. A seleção natural aumenta a divergência entre as populações se diferentes alelos forem favorecidos em diferentes populações, mas ela também reduz a divergência entre as populações ao favorecer o mesmo alelo nas diferentes populações. A mutação quase sempre aumenta a divergência entre as populações porque diferentes mutações surgem em cada população. A deriva genética também aumenta a divergência entre as populações porque mudanças nas frequências alélicas devido à deriva são aleatórias e é provável que mudem nas diferentes direções em populações separadas. A migração, por outro lado, reduz a divergência entre as populações porque ela torna a composição genética semelhante entre as populações. A migração e a deriva genética atuam em direções opostas: a migração aumenta a variação genética dentro das populações e reduz a divergência entre as populações, enquanto a deriva genética aumenta a variação genética dentro das populações e aumenta a divergência entre as populações. A mutação aumenta a variação dentro de populações e divergência entre populações. A seleção natural pode aumentar ou reduzir a variação Citogenética no Diagnóstico Laboratorial 33 entre as populações e pode aumentar ou reduzir a divergência entre as populações. Um ponto importante a ter em mente é que as populações reais são simultaneamente afetadas por muitas forças evolutivas. Examinamos os efeitos da mutação, migração, deriva genética e seleção natural no isolamento de modo que a influência de cada processo estaria clara. Entretanto, no mundo real, as populações são afetadas por várias forças evolutivas ao mesmo tempo e a evolução resulta da ação complexa de numerosos processos. SAIBA MAIS: Para entender os cálculos para a utilização desse teorema acesse o artigo: Genética de Populações, disponível em: https://bit.ly/2khGzqJ A genética de populações examina a composição genética de uma população e como esta pode mudar com o tempo. A composição genética da população é descrita por suas frequências genotípicas e alélicas. A lei de Hardy-Weinberg aponta os efeitos da reprodução e das leis de Mendel sobre as frequências alélicas e genotípicas de uma população. Os pontos que podem causar alterações nesse equilíbrio são mutação, migração e seleção natural. O acasalamento não aleatório afeta as frequências dos genótipos, mas não as frequências dos alelos, a endogamia, um tipo de acasalamento preferencial, aumenta a frequência dos homozigotos enquanto reduz a frequência de heterozigotos, porém é prejudicial porque aumenta o surgimento de traços recessivos letais e prejudiciais. A mutação, migração, deriva genética e seleção natural podem mudar as frequências alélicas. A mutação recorrente leva a um equilíbrio, com as frequências alélicas sendo determinadas pelas taxas relativas de mutação direta e reversa. A mudança pela mutação em uma única geração em geral é muito pequena porque as taxas de mutação são baixas, a migração aumenta a quantidade de variação genética dentro das populações e reduz o número de diferenças entre as populações, a deriva genética aumenta quando uma população composta por um pequeno número de indivíduos é estabelecida por poucos fundadores, https://bit.ly/2khGzqJ Citogenética no Diagnóstico Laboratorial34 ou sofre uma grande redução de tamanho, ela muda as frequências alélicas, reduz a variação genética dentro das populações e provoca divergência genética entre as populações, os efeitos da seleção natural sobre a frequência alélica podem ser determinados ao aplicar o modelo de seleção geral. A seleção direcional leva à fixação de um alelo, a taxa de mudança na frequência alélica devido à seleção depende da intensidade da seleção, das relações de dominância e das frequências iniciais dos alelos. Assim, a mutação e a seleção natural podem produzir um equilíbrio, no qual o número de alelos introduzidos pela mutação é balanceado pela eliminação dos alelos pela seleção natural. Técnicas de diagnóstico A primeira etapa na análise molecular de um segmento de DNA ou gene é isolá-lo do resto do DNA e fazer muitas cópias de modo que possam ser feitas mais análises. O isolamento e a ampliação do DNA exigem que ele seja combinado com outras moléculas de DNA. Para tanto o primeiro passo é o corte e união dos fragmentos de DNA. Para que esse corte seja executado são usadas enzimas de restrição, também chamadas de endonucleases de restrição, as quais reconhecem e fazem cortes de fita dupla no DNA após o reconhecimento de sequências de nucleotídeos específicas. As enzimas de restriçãoreconhecem e atuam sobre sequências específicas de DNA, catalisando a destruição de uma ligação fosfodiéster entre dois nucleotídeos consecutivos ligados a determinadas bases. Após o corte produzem extremidades coesivas, ou seja, extremidades complementares a cada uma e podem parear espontaneamente para ligar os fragmentos. Assim, os fragmentos de DNA podem ser “colados”: dois fragmentos quaisquer rompidos pela mesma enzima terão extremidades complementares e vão parear. Ainda após o corte podem formar extremidades cegas, ou seja, não possuem a capacidade de estabelecer entre si pontes de hidrogénio por complementariedade de bases. Citogenética no Diagnóstico Laboratorial 35 Figura 5: Enzimas de restrição e o seu ponto de corte Fonte: A autora Após o corte precisa-se responder três questionamentos: A enzima de restrição cortou o DNA? O DNA foi cortado em quantos fragmentos? Quais são os tamanhos dos fragmentos produzidos? Para responder a esses pontos é feita a eletroforese em gel. Citogenética no Diagnóstico Laboratorial36 Eletroforese A eletroforese é uma técnica que visa separar as moléculas com base no seu tamanho e carga elétrica. Existem vários tipos diferentes de eletroforese, a eletroforese em gel é usada para separar as moléculas de DNA. Um gel poroso preparado a partir de agarose (um polissacarídio isolado das algas) é colocado em uma solução tampão e transferido para um molde de plástico. À medida que ele esfria, a agarose solidifica, fazendo com que o gel fique similar a uma gelatina dura. São feitos pequenos poços em uma extremidade do gel para manter as soluções dos fragmentos de DNA e uma corrente elétrica passa pelo gel. Como o grupo fosfato de cada molécula de DNA tem carga elétrica negativa, os fragmentos de DNA migram para a extremidade positiva do gel. Nesta migração, o gel poroso funciona como uma peneira, separando os fragmentos de DNA por tamanho. Os pequenos fragmentos de DNA migram mais rapidamente do que os maiores, e com o passar do tempo, os fragmentos se separam com base no seu tamanho. Os fragmentos de DNA de tamanho conhecido (padrões de tamanhos) são colocados em outro poço. Ao comparar a distância de migração de fragmentos desconhecidos com a distância viajada pelos padrões de tamanho, um analista clínico e/ou pesquisador pode determinar o tamanho aproximado dos fragmentos desconhecidos. Os fragmentos de DNA ainda são muitos pequenos para serem visualizados, então é necessário resolver a questão de visualizar o DNA. É possível visualizar de várias formas. O procedimento mais simples é corar o gel com um corante específico para os ácidos nucleicos, como o brometo de etídio, que penetra firmemente (intercala) entre as bases de DNA e fluoresce quando exposto à luz UV, produzindo bandas brilhantes no gel. Por outro lado, os fragmentos de DNA podem ser visualizados ao adicionar um marcador ao DNA antes de colocá-los no gel. Por exemplo, marcadores químicos podem ser detectados ao adicionar anticorpos ou outras substâncias que carreiam um corante e se fixarão ao DNA em questão, que pode ser visualizado diretamente. Citogenética no Diagnóstico Laboratorial 37 Figura 6: Eletroforese em gel de DNA Fonte: a autora No entanto, após a separação das bandas no gel de eletroforese surgem inúmeras bandas de DNA, porém nem todas as bandas são carreadoras específicas de um gene. Assim, como é possível localizar os fragmentos desejados nessa mistura de DNA? Podem ser utilizadas algumas técnicas, a exemplo o Southern blotting. O Southern blotting é uma técnica usada para transferir os fragmentos de fita única, desnaturados, de um gel para um meio sólido permanente. Após os fragmentos de DNA de fita única serem transferidos, a membrana é colocada em uma solução de hibridização de uma sonda marcada. A sonda se ligará a qualquer fragmento de DNA na membrana que tenha as sequências complementares. Uma sonda se liga apenas Citogenética no Diagnóstico Laboratorial38 a uma parte do fragmento de DNA e então este fragmento pode ter sequências não encontradas na sonda, após a membrana é lavada para remover qualquer sonda não ligada, e um método bioquímico revela a presença de sonda ligada. Figura 7: Southen blotting Fonte: a autora Citogenética no Diagnóstico Laboratorial 39 Reação de cadeia em polimerase (PCR) Outra técnica que pode ser usada é a reação de cadeia em polimerase (PCR). Como cada gene é raro, ele deve ser isolado e amplificado antes que possa ser estudado. A base da PCR é a replicação catalisada por uma DNA polimerase. A replicação neste caso tem duas exigências essenciais: (1) um molde de DNA a partir do qual uma nova fita de DNA pode ser copiada e (2) um par de iniciadores ou primers com um grupo 3′-OH ao qual podem ser adicionados novos nucleotídeos. Como uma molécula de DNA tem duas fitas de nucleotídeos, cada uma pode servir como molde e a quantidade de DNA dobra em cada evento de replicação. Os primers usados na PCR para replicar os moldes são fragmentos curtos de DNA, em geral de 17 a 25 nucleotídeos, que são complementares a sequências conhecidas no molde. Para a realização dessa técnica, a primeira etapa é uma solução que inclui o DNA-alvo, a DNA polimerase, todos os quatro trifosfatos de desoxirribonucleosídio (dNTPs, os substratos para a DNA polimerase), primers e íons magnésio e outros sais necessários para a reação. Uma típica reação em cadeia da polimerase inclui três etapas. Na etapa 1, uma solução inicial de DNA é aquecida entre 90° e 100°C para romper as pontes de hidrogênio entre as fitas e produz os moldes de fita única necessários. A mistura reacional é mantida nesta temperatura por apenas um minuto ou dois. Na etapa 2, a solução de DNA é resfriada rapidamente entre 30° e 65°C e mantida a esta temperatura por um minuto ou menos. Durante este curto intervalo, as fitas de DNA não têm chance de se reunir, mas os primers serão capazes de se fixar às fitas molde. Na etapa 3, a solução é aquecida por um minuto ou menos a 72°C, a temperatura na qual a DNA polimerase consegue sintetizar novas fitas de DNA. No final do ciclo, duas moléculas de DNA de fita dupla novas são produzidas para cada molécula original do DNA-alvo. O ciclo inteiro é repetido. Com cada ciclo, a quantidade de DNA-alvo dobra, então a quantidade de DNA-alvo aumenta geometricamente. Uma molécula de DNA aumenta em mais de 1.000 moléculas em 10 ciclos de PCR, para mais de 1 milhão de moléculas em 20 ciclos e em mais de 1 bilhão de moléculas em 30 ciclos. Cada ciclo é completado dentro de alguns minutos, então pode ser obtida uma grande amplificação de DNA dentro de algumas horas. Citogenética no Diagnóstico Laboratorial40 Figura 8: Como ocorre a reação de cadeia em polimerase Fonte: https://bit.ly/2kMla98 No entanto, existem limitações na técnica de PCR, por exemplo, requer o conhecimento prévio de pelo menos parte da sequência do DNA-alvo para permitir a construção dos primers. Segundo a capacidade da PCR em amplificar quantidades muito pequenas de DNA torna a contaminação um problema grave. Quantidades mínimas de DNA da pele dos funcionários do laboratório ou pequenas partículas no ar podem entrar no tubo de reação e ser amplificadas com o DNA-alvo. São necessários cuidados na execução da técnica, além de protocolos bem estabelecidos e salas separadas de extração de DNA e de análise, além do uso de controles para contornar este problema. Uma terceira limitação da PCR é a acurácia. Diferente das outras DNA polimerases, a Taq polimerase sob as condições da PCR, ela incorpora um nucleotídeo incorreto a cada 20.000 pares de bases. Foram isoladas novas DNA polimerases estáveis sob calor com a capacidade de revisar, dando mais precisão aos resultados da PCR. A aplicação básica de PCR é uma ferramenta de Biologia Molecular. Outra aplicação comum da PCR é identificara variação genética em populações naturais. A PCR também permite o isolamento do DNA de fontes ancestrais, como DNA de neandertais. É comum usar esta ferramenta para amplificar pequenas quantidades de DNA de cenas de crime e identificar a fonte de uma amostra de DNA por meio de detecção da variação microssatélite. https://bit.ly/2kMla98 Citogenética no Diagnóstico Laboratorial 41 O uso de sequências de DNA para identificar pessoas é chamado de fingerprinting do DNA ou perfil de DNA. Como alguns pares do genoma são muito variáveis, a sequência de DNA de cada pessoa é única e, como uma impressão digital tradicional, fornece uma característica distinta que permite a identificação. Atualmente, a maior parte do fingerprinting do DNA utilizam microssatélites ou repetições curtas em tandem (STRs), que são sequências de DNA muito curtas repetidas em tandem. Estas sequências repetidas são encontradas em muitos loci pelo genoma humano. As pessoas apresentam variação no número de cópias de sequências repetidas que elas têm em cada locus. As STRs são detectadas com PCR, usando primers que flanqueiam as repetições microssatélites de modo que um fragmento de DNA com as sequências repetidas é amplificado. O comprimento do segmento amplificado depende do número de repetições; o DNA de uma pessoa com mais repetições vai produzir um segmento amplificado maior que o DNA de uma pessoa com poucas repetições. Os primers usados na reação de PCR são marcados com um marcador fluorescente de modo que os fragmentos de DNA resultantes possam ser detectados com um laser. Primers de diferentes loci de STR são marcados com diferentes primers coloridos, então podem ser diferenciados produtos de diferentes tamanhos de diferentes loci. Após a PCR, os fragmentos são separados em um gel ou por máquina de eletroforese capilar. Na eletroforese capilar, a presença de cada fragmento é detectada à medida que ele migra pelo laser e um computador então calcula o tamanho de cada fragmento com base na sua taxa de migração. Os fragmentos são representados como picos em um gráfico; a distância no eixo horizontal representa o tamanho do fragmento, enquanto a altura do pico representa a quantidade de DNA. Os homozigotos para um alelo STR têm um único pico alto, os heterozigotos têm dois picos mais baixos. Quando são examinados vários loci microssatélites diferentes, a probabilidade de que duas pessoas tenham o mesmo conjunto de padrões se torna muito menor, exceto que sejam gêmeos idênticos. Citogenética no Diagnóstico Laboratorial42 RESUMINDO: As endonucleases de restrição são enzimas que fazem cortes de fita dupla no DNA em sequências de base específicas. Os fragmentos de DNA podem ser separados com o uso de eletroforese em gel e visualizados ao corar o gel com um corante específico para os ácidos nucleicos ou marcar os fragmentos com marcadores radioativos ou químicos. A reação em cadeia da polimerase é um método para amplificar enzimaticamente o DNA sem clonagem. Uma solução contendo DNA é aquecida, as duas fitas de DNA se separam e são rapidamente resfriadas, permitindo que os primers se prendam ao DNA molde. A solução é aquecida novamente e a DNA polimerase sintetiza novas fitas a partir dos primers. Cada vez que o ciclo é repetido, a quantidade de DNA dobra, a hibridização in situ pode ser usada para determinar a localização cromossômica de um gene e a distribuição do mRNA produzido por um gene. As repetições curtas em tandem (STRs) e os microssatélites são usados para identificar as pessoas por meio de suas sequências de DNA (fingerprinting do DNA). Citogenética no Diagnóstico Laboratorial 43 BIBLIOGRAFIA ARRUDA, Jalsi Tacon et al. Proteína P53 e o câncer: controvérsias e esperanças. Estudos Goiânia, Goiânia, v. 35, n. 1, p. 123-141, 01 fev. 2008. SILVA, Bárbara V. et al. Proteínas quinases: características estruturais e inibidores químicos. Quim. Nova, Rio de Janeiro, v. 32, n. 1, p. 453-462, 05 fev. 2009. FARRELL, S.O.; CAMPBELL, M.K. Bioquímica. 5a ed. São Paulo, Thomson, 2007. CHAMPE, P.C.; HARVEY, R.A.; FERRIER, D.R. Bioquímica Ilustrada. 4a ed. Rio Grande do Sul, Artmed, 2009. SNUSTAD, D.P. Fundamentos de Genética. 4a ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2008. GRIFFITHS, A.J.F. Introdução a Genética. 9 ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2009. Turnpenny, Peter & Ellard, Sian (2009) Emery - Genética Médica. 13a Edição. 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Princípios da citogenética clínica Alterações cromossômicas numéricas Alterações dos cromossomos sexuais Interpretação de padrões de herança Heredograma Traços autossômicos Aconselhamento Genético Exame genético Genética de populações Frequência genotípica e alélica Frequências mendelianas Fatores interferentes no equilíbrio Técnicas de diagnóstico Eletroforese Reação de cadeia em polimerase (PCR)
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