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PRODUÇÃO GRÁFICA Luciana Braun Reis Competências desejáveis no cenário atual Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever a importância de habilidades de comunicação. Identificar situações que exigem habilidades de negociação. Reconhecer a importância do trabalho em equipe. Introdução Sendo uma área de convergência entre a criação e a realidade da co- municação das marcas e organizações, a produção gráfica sofre grande impacto do processo relacional construído tanto dentro da empresa quanto com os clientes e fornecedores. Esse processo abrange aspectos como a comunicação, a negociação e a interação intra e interequipes. Considerando as competências e habilidades solicitadas em alguns anún- cios de oportunidades na área da produção gráfica e as vivências de profissionais, é possível observar que uma comunicação transparente e mediada no cotidiano e um clima criativo e engajador são potencializa- dores da colaboração e das sinergias positivas. Neste capítulo, você vai estudar as habilidades relevantes ao profis- sional de produção gráfica para otimizar e facilitar o seu trabalho e o das equipes envolvidas. Você também vai identificar pontos importantes em negociações e, por fim, vai reconhecer a importância do trabalho em equipe, bem como o nível de dependência existente entre equipes nas negociações e cooperações. A importância de habilidades de comunicação A produção gráfi ca atende às organizações, e estas, a seus consumidores. Logo, tão importante quanto o alinhamento entre os planejamentos da empresa — nos níveis estratégico, tático e operacional —, o alinhamento entre as equipes deve sempre ser buscado e incentivado. O bom relacionamento entre as equipes envolvidas na produção gráfi ca é fundamental para o alcance do sucesso nos projetos gráfi cos. Assim, a comunicação é uma habilidade a ser desenvolvida e, nesse caso, consiste em uma ferramenta de trabalho. Existe uma diferença entre “comunicar” e “informar”. Segundo Wolton (2010, p. 12): “Não há informação sem um projeto de comunicação. [...] A informação é a mensagem. A comunicação é a relação, que é muito mais complexa”. Dessa forma, podemos compreender que a competência técnica é necessária e gera informação coerente para a realização do trabalho. Entre- tanto, ela não é suficiente para o sucesso e a qualidade do processo para se alcançar o objetivo comum, que é a entrega da comunicação da organização. A comunicação é a base das habilidades apontadas como requisitos em alguns anúncios de vagas de emprego da área, como “gerenciar pessoas” e “manter o ambiente de trabalho estável”. A qualidade das relações é fundamental para que uma área como a produção gráfica tenha sucesso, já que ela envolve o relacionamento com fornecedo- res, mercado publicitário, clientes e equipes de trabalho internas e externas à empresa. Todos estão conectados pela produção gráfica. Nesse sentido, podemos apontar algumas características intrapessoais — aquelas que dizem respeito ao seu comportamento e às suas atitudes — que são consideradas essenciais ao profissional da produção gráfica, para que ele tenha um bom relacionamento com esses grupos. Tais características são descritas abaixo, como sugestões de conduta. Seja comunicativo: tenha um fl uxo de comunicação aberto entre e com as equipes de trabalho. Desenvolva a escuta atenta, construa opções de cami- nhos possíveis ao trabalho. Suponha que a criação deseje fazer uma proposta inovadora de ação, que envolve uma série de peças e providências. Então, construa um processo de colaboração, participe do brainstorm, esteja disponível para conversar e seja uma referência de soluções. Lembre-se: seu espaço de trabalho não é uma trincheira para se esconder — é um lugar de encontro para colaboração. Seja mediador: ser mediador não é ser atravessador. Ser mediador é chegar à mediação, ao bom entendimento da comunicação, ao melhor acordo. Filtre as palavras que não agregam ao relacionamento e as traduza da melhor forma, para receber uma devolução adequada, construtiva e desejada. Isso quer dizer o seguinte: não seja um “leva e traz”. Saiba quem delibera, quem tem a Competências desejáveis no cenário atual2 informação correta e se certifi que dela. Por exemplo: não aceite “ouvi dizer” como verdade e passe adiante. Verifi que com a fonte correta se a informação procede, é real e vai acontecer e em quais circunstâncias. Por exemplo, se o fornecedor avisa que o último prazo é às 10h — caso contrário, não poderá atender ao prazo inicial —, qual é o prazo alternativo? Ele atende à proposta? Se sim, leve às equipes essa alternativa ou uma estratégia a ser traçada: trocar de fornecedor ou fazer hora extra para a fi nalização das artes? Aceitar que o fornecedor altere o orçamento ou contratar um turno de trabalho adicional? É uma decisão em conjunto, que deve ser traçada por mediação, buscando o melhor acordo possível para a situação. Conforme Lewicki, Saunders e Barry (2014), trata-se da BATNA (do inglês, best alternative to a negotiated agreement, ou, em português, melhor alternativa para um acordo negociado). Seja leve: não faça ameaças, não encare colegas e fornecedores como ad- versários. Não fi que do lado de um ou de outro por interesses pessoais ou comerciais. Seja justo, equânime em situações semelhantes. Assim, haverá previsibilidade de sua ação em relação à situação. Fomente um ambiente previsível, tranquilo, amigável e proativo. Seja inspiração: procure por novos recursos e tecnologias disponíveis no mercado para subsidiar as equipes contíguas à sua. Isso pode dar vazão à uma ideia que era impossível de realizar antes, mas que, com a evolução e os investimentos dos fornecedores na qualifi cação de suas empresas, agora se torna viável. Isso também trará um recurso importante para a marca e a orga- nização se posicionarem de forma inovadora no mercado e junto aos públicos. Seja realista: verifi que qual é o verdadeiro status do trabalho, sem aumentar ou diminuir benefícios e riscos. Análises e diagnósticos mudam nos contextos complexos em que a organização está envolvida. Por exemplo: a previsão de lançamento do produto X é em 30 dias, mas a concorrência vai antecipar e lançar um produto similar em 15 dias. Nesse caso, a leitura correta da viabili- dade da entrega da produção gráfi ca é vital à manutenção dos relacionamentos comerciais entre empresas e entre colegas de trabalho, visto que o ideal nem sempre é o que é possível entregar. Por exemplo, antecipar eventos requer uma consulta a uma cadeia de fornecedores e às agendas dos convidados. Além disso, a produção de impressão tem seu prazo estipulado a partir da entrega das artes-fi nais ao fornecedor; assim, não é correto ser infl exível com os prazos de fornecedores, se nem os prazos das equipes internas estão sendo cumpridos. Nesse sentido, analisar e dar o diagnóstico correto em relação aos riscos e 3Competências desejáveis no cenário atual benefícios da realidade instalada é uma habilidade útil no relacionamento com os grupos ligados à área da produção gráfi ca. Seja confi ante: todo conhecimento técnico não é sufi ciente se você não de- monstrar confi ança naquilo que você está propondo. Então, se tiver dúvida, antes de propor, pergunte, peça instrução e busque por mais informação. Essa bagagem será fundamental para você passar adiante a informação, principal- mente porque impacta, ao fi nal, o orçamento e a imagem das organizações. Seja referência para o mercado: atenda a pedidos de reunião e de visitas de fornecedores. Eleja, de preferência, um dia da semana para prospecção de fornecedores e visita de cortesia. Participe de eventos, feiras, seminá- rios, congressos, workshops, como forma de saber notícias sobre aquilo que está acontecendo no setor de comunicação. Assim, você se posiciona como referência em produção gráfi ca e, ainda, aumenta o networking — sempre útil para novosdesafi os e para viabilizar projetos que exigem fornecedores especializados. Tenha autocuidado: pratique o autocuidado. Assim, você terá condições de ser uma pessoa leve e saudável. Não negligencia sua saúde, seus relacionamentos e seu tempo para se autodesenvolver. Ao cuidar de si, você também cuidará de suas interações com colegas, equipes e fornecedores. Tenha atenção: o trabalho de produção gráfi ca requer atenção e organização extremas, inclusive na solicitação e leitura de orçamentos. Qualquer detalhe não mencionado pode alterar o escopo e o valor da proposta, bem como a satisfação das equipes envolvidas e do cliente. Por exemplo: suponha que foi orçado inicialmente um encarte na página de abertura do segundo capítulo do relatório da empresa. Mas, o orçamento retornou do fornecedor apenas com a descrição “encarte de folheto no relatório”. Os tempos de manipulação para encartar algo em qualquer página e para encartar em uma página específi ca são completamente diferentes. Logo, se não observado pelo produtor gráfi co, haverá um erro no processo e uma insatisfação ao fi nal, independentemente de quem errou. Pratique a comunicação não violenta: isso é útil não só para o trabalho de produção gráfi ca, mas para a vida. Respeite os outros e a si próprio. Tenha empatia com os outros. Compreenda o lugar de fala das pessoas, a sua história, os seus objetivos e as perspectivas das narrativas. Tenha atenção ao vocabulário Competências desejáveis no cenário atual4 e compreenda os jargões e suscetibilidades do grupo com o qual interage. Trabalhe para disseminar informação construtiva e para minimizar os pontos fracos das equipes. Coloque-se à disposição para explicações, como mentor da área de produção gráfi ca. Elogie as habilidades e o talento alheio. Afi nal, todos gostam de reconhecimento. Negociação Todo diálogo, de certa forma, é uma negociação; conversamos para evoluir pontos de vistas, ter novas referências ou, ainda, reafi rmar alguma posição. Estamos constantemente aprendendo, construindo e evoluindo, transformando nós mesmos e o meio com o qual interagimos. Logo, temos responsabilidade sobre a qualidade de interação que produzimos e podemos alterar as dinâmicas do trabalho e sociais, negociando, de forma construtiva, possibilidades criativas e inovadoras. Segundo Lewicki, Saunders, Barry (2014, p. 7), “[...] negociamos porque pensamos que podemos melhorar um resultado ou um desfecho, em comparação com uma situação em que não negociaríamos, aceitando o que o outro lado oferece.” Nessa perspectiva, o diálogo e a convivência amistosa com os outros são elementos-chave para o sucesso. O trabalho de produção gráfica é um trabalho intra e interequipes, envol- vendo fornecedores, clientes, criadores, executivos de contas (atendimento), mídias e todos os profissionais com os quais se tem contato. Assim, há uma intra ou interdependência, pois as equipes continuarão em contato e unidas para os próximos projetos — exceto os fornecedores, com os quais você tem arbitragem para continuar ou não trabalhando. Logo, há uma dependência e um impacto do trabalho de um sobre o trabalho do outro. Por exemplo, um briefing mal construído impacta negativamente no trabalho da criação e, por fim, no trabalho da produção gráfica, gerando a insatisfação de refazer o trabalho e a reincidência na pauta do cliente. Isso pode levar a um impacto negativo para fora da empresa, irradiando em fornecedores e outras empresas. As equipes de produção gráfica, criação e outras envolvidas no projeto gráfico têm o mesmo objetivo, o que podemos chamar de objetivo comum — nesse caso, a resolução da comunicação do cliente, ou seja, a entrega do material produzido (folheto, revista, banner, tratamento de imagem, foto- grafia, embalagem, evento, etc.). Assim, não necessariamente um indivíduo precisa perder para outro ganhar; as partes envolvidas buscam a resolução do conflito e definem a BATNA, principalmente quando as variáveis preço, prazo, qualidade e reputação estão em discussão. 5Competências desejáveis no cenário atual Há duas formas básicas de negociação — a soma zero e a soma não zero (Figura 1) —, e cada uma delas tem consequências. Figura 1. Diferença entre abordagens de negociação: soma zero e soma diferente de zero. Fonte: Adaptada de Lewicki, Saunders, Barry (2014). Soma zero Soma diferente de zero A Figura 2 demonstra os dois tipos de negociação, que consistem em pers- pectivas que você poderá escolher. Em ambientes colaborativos e criativos, tão comuns na economia criativa, ambiente em que se posiciona a grande área da comunicação, a opção de soma diferente de zero parece ser a mais adequada. Contudo, o negociador necessita ser flexível, julgando a melhor opção segundo o contexto em que se dá a negociação. A soma zero pressupõe que somente exista um ganhador ou um vencedor, que fica satisfeito com a negociação. Geralmente se dá em situações em que um lado tem maior poder e não há necessidade de continuidade de relaciona- mento. Nesse ambiente competitivo, o que ganha reposiciona todos os outros; ainda, nessa corrida pela resolução do conflito, o pódio é um lugar isolado. O resultado é a busca de valor; quanto maior é a vantagem sobre o outro, melhor é considerada a negociação. Nas competições esportivas, como uma corrida, vários atletas disputam, mas somente um deles chega em primeiro lugar, devido à diferença crescente de qualidade e poder. Ainda, o ganhador reposiciona todos os outros do seg- mento; por exemplo, o tenista que ganha uma copa passa a ser o número 1 e, assim, reposiciona o ranking. No mundo dos negócios corporativos, podemos citar como exemplo a compra de insumo de um pequeno fornecedor por um Competências desejáveis no cenário atual6 grande lojista. Mesmo que o fornecedor fique satisfeito em fechar a venda, a redução progressiva do preço e da margem de contribuição, a médio/longo prazo, compromete o nível de investimento que ele faria em qualificação e na atualização da qualidade de seus produtos ou serviços. Quando o mercado exigir mais qualidade, esse fornecedor provavelmente não estará apto a com- petir e, possivelmente, será substituído por outro fornecedor. Em resumo, uma parte sai drasticamente mais satisfeita do que a outra, podendo configurar um ganhador e um perdedor. Há situações em que a soma zero é justificada. Por exemplo, quando não há tempo para negociação, em situações de crise, quando é preciso estancar o conflito rapidamente, ou as equipes não terão contato posterior. Em contrapartida, a soma diferente de zero pressupõe que as equipes e pessoas continuarão em contato, ou, pelo menos, há interesse nesse sentido. O objetivo é a mediação e a resolução do conflito, ou a melhor alternativa para resolvê-lo na negociação. Podemos afirmar que há a perspectiva da curva de aprendizagem com o conflito e de construção de estratégia para chegar ao objetivo comum. É usual, ao final das negociações em que se pressupõe soma diferente de zero, que os integrantes se sintam a caminho do sucesso, ou mesmo engajados em realizá-lo, com cronograma e etapas em vista. Podemos ilustrar a soma diferente de zero com uma reunião em que há uma diversidade de opiniões e pleitos em questão: a criação quer fazer um relatório em que há obtenção de várias imagens em locações diferentes pelo país. Não há verba suficiente, e a logística de viagens e equipes é complexa. Chamam a produção gráfica para intervir e mediar o conflito entre realizar a ideia ou abandoná-la. A preocupação da produção gráfica mais premente é o uso adequado da verba, a qualidade e o prazo de realização. Em vez de derrubar a ideia, justificando-se em tais premissas básicas, abre-se espaço para brainstorm, verificando o que é negociável, a fim de cumprir o objetivo comum de entregar o melhor projeto para o cliente e a marca. Conforme Lewicki, Saunders e Barry (2014, p. 16): “Na soma não zero, chamada de situação integrativa ou situação de ganhosmútuos, muitas par- tes têm a chance de alcançar seus objetivos e metas juntos”. Nesse sentido, 7Competências desejáveis no cenário atual surgem algumas opções na negociação, como diminuir o número de locações (benefício: menos tempo de execução e necessidade de verba), verificar se é possível a aquisição de algumas fotografias em banco de imagem (benefício: menos tempo de execução e necessidade de verba), ou mesmo verificar se há comprometimento total das rubricas orçamentárias provisionadas no orçamento inicial do ano (benefício: mais verba disponível). Veja que há, de imediato, três alternativas que surgiram por meio do diálogo, que possibilitou construir caminhos e obter a visão de soluções para o conflito. Se a direção de arte tiver de abrir mão de alguma imagem, terá a noção de que é vitoriosa, pois conseguiu realizar a ideia. O cliente se sente satisfeito, pois foi feito bom uso do recurso disponível no prazo adequado, sem abrir mão da qualidade habitual e sem necessidade de suplementação orçamentária. A produção gráfica se sente atendida, pois houve a tolerância e a concessão das partes para a realização do objetivo comum. Enfim, em uma negociação de soma diferente de zero, todos se sentem total ou parcialmente atendidos, na medida do possível. Não há a prerrogativa de tirar a maior vantagem sobre o outro com quem se negocia, mas, sim, a construção de um ecossistema saudável, pronto para novos desafios e novas cooperações. Assim, constrói-se o processo de produção gráfica e a valorização da sua atividade. O que foi dito no começo da negociação é importante? Lewicki, Saunders e Barry abordam uma questão interessante sobre a comunicação oral durante um processo de negociação. De acordo com os autores: Uma parcela relativamente pequena do que é comunicado em uma negociação pode ter efeitos significativos nos resultados desejados. Os pesquisadores descobriram que as “fatias finas” do processo de negocia- ção — os padrões de comunicação vistos nos primeiros cinco minutos — têm um efeito expressivo nos acordos que as partes fecharão. O tom da conversa durante os primeiros cinco minutos é importante: quanto maior a ênfase na expressão oral de um negociador, com variações no tom e no volume, piores os resultados que ele obterá e melhores os resultados da outra parte. Em outras palavras, o controle “da palavra” — sem excessos ou manifestações emocionais — é importante já no começo da negociação (LEWICKI; SAUNDERS; BARRY, 2014, p. 16). Competências desejáveis no cenário atual8 O conflito como aprendizagem O confl ito surge e, em alguns grupos, surge também a noção de que ele é algo ruim, que deve ser evitado. Isso porque, entre outras concepções, sempre há alguém que perde ou sai em grave desvantagem de um confl ito. Todavia, já abordamos na seção anterior que há uma opção. O conflito é uma forma de questionamento, de indicar que algo pode ser mais bem explorado e que o cenário está em mudança e precisa ser atualizado. Outros pontos de vista são favoráveis à correta leitura de cenário. Em uma sociedade ou grupo que vive fechado em si, na unanimidade de pensamento, há forte indício de obsolescência, e a inovação (ou adaptação) se torna cara e traumática. A diversidade de opiniões agrega e nos dá um recorte mais próximo da sociedade em geral. Uma dica: desconfie da eterna concordância, pois ela sugere que você não está vendo algo e, quando enxergar, poderá ser tarde para a ação. Pode haver o princípio de desarmonia, mas o desconforto pode ser saudável, principalmente quando o usamos para a aprendizagem e o desenvolvimento do ecossistema. A identificação e percepção do conflito ou problema em questão é a primeira etapa de sua resolução. Assim, pode-se administrá-lo, trazendo benefícios e evitando os efeitos nocivos, como irritação e ansiedade do grupo. Esse entendimento vai ao encontro da perspectiva abordada por Lewicki, Saunders, Barry (2014, p. 22): [...] o conflito não é destrutivo ou produtivo: ele tem as duas características. O objetivo não é eliminar o conflito, mas aprender a administrá-lo e controlar os elementos destrutivos ao mesmo tempo em que se tira proveito dos produ- tivos. A negociação é uma estratégia importante para a gestão de conflitos com fins construtivos. Os autores chamam atenção para a temporalidade de ação em relação ao conflito. Ignorá-lo pode aprofundar as percepções de cada ator envolvido, fazendo aguçar pontos de vistas particulares e antagônicos como verdades absolutas intransponíveis pelo diálogo. Criam-se cenários de ação que refor- çam tal perspectiva, gerando desconfortos adicionais, como “eu contra eles”, ressaltando as diferenças e minimizando as semelhanças ou pontos em comum. Ainda, aumenta-se a ideia de ter sempre algo a perder no conflito, gerando medos típicos de ambientes que não representam um ecossistema saudável e produtivo de trabalho. Então, ao diagnosticar o conflito, não se deve ignorá-lo. 9Competências desejáveis no cenário atual O agir em situações de conflito tem outros fatores positivos, dentre eles, o desenvolvimento — como fortalecer a ideia do que é possível a funcioná- rios, gestores e outros atores e confirmar a solidez de seus relacionamentos. Geralmente, na resolução ou negociação dos conflitos, as relações pessoais e profissionais se fortalecem. Ainda, o reconhecimento do conflito e sua mediação serve como forma de autoconhecimento, no entendimento do que motiva, enraivece ou desafia a equipe, sugerindo melhorias a serem trabalha- das. Enfim, um conflito, uma situação-problema, pode representar inovação e colaboração entre equipes. Acesse os links a seguir para saber mais sobre as formas de lidar com conflitos. Como ajudar sua equipe a se sentir mais confortável com os conflitos https://qrgo.page.link/swbKk Excesso de harmonia em equipe pode aniquilar a criatividade https://qrgo.page.link/zgF36 A importância do trabalho em equipe Equipe e grupo são dimensões diferentes; por isso, é importante esclarecê-las, a fi m de mapear em qual contexto os profi ssionais se encontram, tendo como objetivo criar um ambiente efi ciente. Segundo Mosser e Begun (2015), grupo é algo genérico, em que pessoas, por aproximação ou semelhança, trabalham coletivamente, mas não necessariamente confi guram equipes de trabalho. As equipes, quando funcionais, têm características específi cas. Mosser e Begun (2015) descrevem o seguinte sobre as equipes de trabalho: são subconjuntos de grupos de trabalho; seus membros coordenam o trabalho e cooperam entre si; Competências desejáveis no cenário atual10 seus membros compartilham uma meta e a responsabilidade de alcançá-la; apresentam um quadro de pessoal definido; têm como característica a interdependência de seus membros; nelas, não existem subgrupos independentes; têm autoridade de ação para alcançar seu objetivo; devem prestar contas à organização. Mosser e Begun (2015) ainda detalham cada um desses aspectos. Segundo os autores, a equipe trabalha unida para alcançar os objetivos em comum e não deixa sobrepor os objetivos individuais enquanto os colegas trabalham juntos. A responsabilidade é conjunta, ou seja, o crédito é de todos, assim como o fracasso. Cada um coopera para alavancar os melhores esforços, isto é: não é somente fazer a sua parte, mas fazê-lo da melhor forma, para o outro poder dar sequência ao processo, aprimorando os benefícios de estar integrado. Ainda conforme os autores, a equipe é limitada, com atribuições definidas. Sabe-se quais são suas prioridades, e as posições da equipe são definidas e reconhecidas pelos públicos. Há autonomia e autoridade para atingir os objetivos comuns, sem necessidade de buscar rotineiramente autorização de pessoas fora da equipe. Segundo Mosser e Begun (2015), em uma equipe, cada integrante trabalha de forma interdependente e interativa e tem responsabilidades na prestação de contas à organização. A interdependência transmite a ideiade indivisibilidade. Ou seja, não deve haver subgrupos de interesses, ou objetivos distintos. De forma bastante coloquial, não é saudável a uma equipe ter “panelinhas”, pois estas promovem interesses de subgrupos que se impõem sobre os da equipe, promovendo, até mesmo, competições internas. Por fim, ainda de acordo com Mosser e Begun (2015), a equipe tem, independentemente de sua autoridade e responsabilidade, o dever de prestar contas do impacto do seu trabalho à organização. Com essas premissas, clarificam-se os conceitos diferenciados de grupo e equipe. Ao se buscar atingir o status de equipe de trabalho, sendo tais di- nâmicas instaladas, os benefícios são superiores, como a maior agilidade nos processos e o desenvolvimento dos indivíduos da equipe, pois o conjunto está em constante curva de aprendizado. As equipes servem também como memória e repositório de informações para si e para a organização, visto que fatores como rotatividade de pessoas e acréscimos e decréscimos funcionais podem gerar lapsos. Uma equipe funcional pode facilitar a inovação e a regeneração da empresa e evitar que os colaboradores se escondam atrás da equipe como blindagem frente ao aumento das demandas de trabalho. 11Competências desejáveis no cenário atual O papel do líder nas equipes O que torna excelente um local de trabalho? De acordo com Burchell e Robin (2012, p. 1), “Não é o que você faz. É como faz. Se você é um líder, precisa se comunicar, tomar decisões e interagir com pessoas, assim como os líderes de todas as outras empresas. [...] Você precisa se conscientizar de que o modo como trabalha faz toda a diferença para os colaboradores”. Sendo um elo forte no processo de comunicação, a produção gráfi ca necessita realizar conexões com outras equipes. Quanto mais sólidos forem os elos que ligam um colega a outro, uma equipe à outra, equipes internas e externas (fornecedores), mais rápido, leve e não burocrática será o trabalho de produção gráfi ca. Assim, é necessário estabelecer uma comunicação clara, serena e realista desde o início do processo. Como líder, converse com a sua equipe e com as outras equipes e use o pronome “nós”; evite “eles”, pois todos fazem parte, de uma forma ou de outra, do trabalho em questão. Eleja prioridades. Saiba distin- guir o que é urgente, importante, trivial e sem importância para a realização dos objetivos traçados. Assim, você fará melhor uso dos recursos disponíveis, em relação ao tempo, à experiência da equipe e ao acesso a conexões com outras empresas. Essa avaliação não é fixa; objetivos são estabelecidos, demandas são criadas, prazos mudam a perspectiva da urgência — ou seja, o contexto influencia a identificação da demanda, conforme mostra a Figura 2. Figura 2. Status das atividades da equipe de produção gráfica. Status da prioridade Urgente Importante Trivial Sem importância Atividade Enviar solicitação de orçamento de imagem Sem o envio da solicitação de orçamento, não é possível passar para a próxima etapa da negociação. Geralmente, as atividades urgentes são as primeiras tarefas do dia, pois, quanto antes você realizá-las, mais rápido terá o retorno. Esse planejamento organiza as demandas de produção gráfica do ano. Trata-se de uma atividade estruturante da área, que exige preparação e informações prévias. Fazem parte da rotina previsível, com agenda prévia. Trata-se do dia a dia operacional. Deve ser considerado somente em caso de ociosidade da equipe. Elaboração do planejamento de produção gráfica Reuniões semanais de equipe Projeto adjacente ao objetivo principal Justificativa Competências desejáveis no cenário atual12 Diagnosticando prioridades, você tem foco de ação e pode otimizar o seu trabalho e o trabalho das equipes. Segundo Schulte (2019, documento on-line): Se você está apagando incêndios, pressionado pela falta de tempo e dentro de um túnel, não consegue tempo para alcançar metas de longo prazo. Você não lida com nenhuma das causas originais que levaram à necessidade de apagar incêndios [...] A tendência é fazer o que é fácil de riscar da lista de tarefas. Só temos recursos para isso. O túnel e o excesso de tarefas se reforçam mutuamente [...] Focar nas tarefas do curto prazo nos leva a não fazer planos estratégicos, o que nos leva a ficar atarefados. Um bom recurso didático é analisar as agendas semanais e verificar as prioridades previstas e atendidas. Se você está dedicando mais esforço para atividades sem importância e continua sobrecarregado, seu dia a dia não está gerando eficiência para o ecossistema da equipe. Fica a reflexão para reorganização. Acompanhe o trabalho antes de chegar à produção gráfica e estabeleça pontos de atenção. Oriente quais são as informações necessárias, como regis- tro de imagens de bancos de imagens, formatos, especificações da criação/ cliente. Dessa forma, você se torna responsável pelo sucesso e pela facilidade em seu desempenho. Pelo contrário, uma produção gráfica que deseja receber um pacote fechado, com frases como “falem comigo somente quando estiver com tudo pronto”, receberá um pacote que pode não ser um grato presente, construindo fragilidades no relacionamento na equipe e entre equipes. Crie processos simples, mas que garantam aos outros que você está em ação. Informe às equipes que essa ou aquela ação/processo é de sua responsabilidade. Isso não quer dizer que você tenha autonomia, pois precisará agir no contexto do ecossistema do trabalho. Sobretudo, aprenda com os desafios, com as curvas de aprendizagem de trabalhos passados, e os atualize com as possibilidades oferecidas pelas novas tecnologias disponíveis no mercado. Isso quer dizer que, se algo não ficou 100% como o cliente e as equipes almejavam, não quer dizer que não possa ser revisitado, sob outro olhar, uma nova estratégia ou uma tecnologia antes não disponível. Com essas observações, tenha orgulho do seu trabalho e manifeste o mesmo em relação ao das equipes envolvidas em todos os níveis. Um trabalho dado a um profissional iniciante pode parecer simples para alguém sênior, mas essa é a exata complexidade com que o iniciante está apto a lidar. Então, engrandeça o sucesso da entrega. Assim, você terá alguém mais motivado e pronto para novos e maiores desafios. Imagine a insatisfação da direção da empresa do cliente se o cartão de visita tiver a marcação de cores incorreta? 13Competências desejáveis no cenário atual Então, lembre: se você achar que uma entrega realizada é pequena, você está, na verdade, sem a perspectiva correta. Expanda a ideia de crescimento profissional e desenvolvimento pessoal para si e para os outros. Relate a importância de cada ação solicitada, de cada tarefa, objetivando que ela seja bem executada, tanto tecnicamente quanto com a gentileza profis- sional que você deseja receber. Não dê réplicas a desentendimentos, nem leve adiante fatos imprecisos. Utilize os possíveis erros como forma de evolução e desenvolvimento. Por fim, valorize o esforço individual dos colegas e parceiros de negócio e, mais ainda, enalteça o impacto da excelência na equipe. Equipes precisam de união e convergência de esforços para o objetivo comum. São organismos vivos que precisam aprender a conviver, sobreviver e crescer profissional e pessoalmente. A autoaprendizagem e o autodesen- volvimento são recursos constantes, principalmente na atualidade, quando a evolução do conhecimento e do mercado são constantes. Faça encontros e reuniões e converse sobre como melhorar seus processos e o impacto disso nas equipes adjacentes; além disso, estimule a reciprocidade. Nesse sentido, Burchell e Robin (2012, p. 111) afirmam que “[...] nas me- lhores empresas, os esforços coletivos não são apenas apoiados, eles são celebrados. Reunir-se para refletir sobre os esforços da equipe é uma maneira de incentivar o orgulho coletivo”. Finalizando, seja inspiração de solução, e não de negatividade. Esforce-se para que as suas ações gerem tranquilidade, e não sustosou preocupações aos outros. Cultive o convívio e os relaciona- mentos profissionais em equipe, valorizando o ritmo conjunto da equipe, a colaboração, o empreendedorismo e a gentileza institucional. Este capítulo trouxe o debate sobre as competências desejáveis no cenário atual de produção gráfica. Dessa forma, você pôde refletir sobre essas com- petências, aprendendo a implementar boas práticas e promover a qualificação do trabalho da produção gráfica, de forma a gerar eficiência na comunicação das organizações. Competências desejáveis no cenário atual14 BURCHELL, M.; ROBIN, J. A melhor empresa para trabalhar: como construí-la, como mantê-la e por que isso é importante. Porto Alegre: Bookman, 2012. LEWICKI, R. J.; SAUNDERS D. M.; BARRY, B. Fundamentos de negociação. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. MOSSER, G.; BEGUN, J. W. Compreendendo o trabalho em equipe na saúde. Porto Alegre: AMGH, 2015. SCHULTE, B. Como evitar o burnout devido ao excesso de tarefas. Harvard Business Review Brasil, 2019. Disponível em: https://hbrbr.uol.com.br/evitar-burnout/. Acesso em: 30 ago. 2019. WOLTON, D. Informar não é comunicar. Porto Alegre: Editora Sulina, 2010. Leituras recomendadas DAVEY, L. Como ajudar sua equipe a se sentir mais confortável com os conflitos. Harvard Business Review Brasil, 2019. Disponível em: https://hbrbr.uol.com.br/como-ajudar-sua- -equipe-a-se-sentir-mais-confortavel-com-os-conflitos/. Acesso em: 30 ago. 2019. LOVRIC, D.; CHAMORRO-PREMUZIC, T. Excesso de harmonia em equipe pode aniquilar a criatividade. Harvard Business Review Brasil, 2018. Disponível em: https://hbrbr.uol.com. br/harmonia-equipe-criatividade/. Acesso em: 30 ago. 2019. 15Competências desejáveis no cenário atual
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