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saraiva Trabalho Infantil 2012 doc

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Curso On Line Renato Saraiva - TÓPICOS JURÍDICOS CONTEMPORÂNEOS
Débora Tito (deboratf@hotmail.com)
TRABALHO INFANTIL
1) Histórico do Tratamento de Crianças e Adolescentes no Brasil
Doutrina do Direito do menor (Código de 1927): o Código Civil tratava das
crianças inseridas em uma família padrão e o Código do Menor atribuía ao Estado a tutela
dos demais (“expostos”, “abandonados”, “vadios”, “mendigos”, “libertinos”, etc).
Quando a criança era rica, ou estava sob o poder familiar, o Estado não se
preocupava, pois a família dava conta dessas crianças/adolescentes. Só quando estava
com problema familiar (situação irregular) é que se tinha a preocupação da legislação.
Evitar usar a expressão menor, pois traz uma carga pejorativa. Tem que usar a
expressão criança ou adolescente, as quais não são adulto em miniatura, mas seres
humanos em desenvolvimento, merecem atenção especial do Estado.
Doutrina da Situação Irregular (Código de menores de 1979): substituiu as
diferenças terminológicas, reunido-as sob a mesma condição de “situação irregular” =
crianças privadas das condições essenciais de sobrevivência.
Doutrina da Proteção Integral – CR/88 e legislação infraconstitucional posterior.
O Brasil finalmente aplicou o preceituado desde 1959 na Declaração sobre os Direitos da
Criança. A CR/88 e o ECA (Lei n. 8.069/90) dispõem sobre a proteção integral e regulam
o direito à profissionalização e à proteção do Trabalho (Não se fala em direito ao
trabalho).
2) Trabalho Infantil – Caracterização e efeitos da contratação
Normas incidentes da CR/88.
Art. 7º, inciso XXXIII.
Art. 227: é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade (Princípio da Prioridade Absoluta), o direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de
colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão (Princípio da Proteção Integral).
O direito é à profissionalização. Fala-se em direito ao não trabalho.
Há que superar o mito de que o trabalho infantil é útil para complementar a renda
familiar. Normalmente, pelos estudos realizados, o filho que trabalha para ajudar no
sustento da casa possui pais que não trabalham, que são acomodados, e esse trabalho
do filho hoje traz prejuízos futuros, pois o seu rendimento escolar diminui, ele entra no
subemprego e, posteriormente, por falta de qualificação, no desemprego.
Não deve aceitar a justificativa "é melhor o menino trabalhar do que utilizar o tempo
livre para se drogar ou roubar". O tempo livre deve ser usado para ele estudar, frequentar
regularmente uma escola.
O trabalho não tira a criança da situação de vulnerabilidade. Pelo contrário,
estudos mostram que vários adultos em situação de pobreza começaram a trabalho
precocemente e, assim, não conseguiram quebrar o ciclo de pobreza com a
profissionalização.
O trabalho infantil hoje está na informalidade. É raro o auditor do trabalho ou o
membro do MPT chegar numa empresa e constatar a existência de trabalho infantil.
2.1) Idade mínima para trabalho: Evolução Constitucional.
EC n. 20, de 15.2.1998, alterou o inciso XXXIII do art. 7º.
A OIT orienta 15 anos. Deve-se considerar revogados as normas que traduzam
permissão abaixo de 16 anos.
3) Teoria Trabalhista das Nulidades
1
"Nulidade é a consequência jurídica prevista para ato praticado em
desconformidade com a lei que o rege, que consiste na supressão dos efeitos jurídicos
que ele se destinava a produzir”.
No Direito Civil o ato eivado de nulidade deve ser suprimido do mundo
sociojurídico, retornando as partes ao status quo ante. Nas hipóteses de nulidade
absoluta a regra é a retroação da decretação da nulidade, com efeito ex tunc.
No Direito do Trabalho vigora a regra geral da irretroação da nulidade decretada,
dando-se efeito ex nunc à decretação judicial da nulidade percebida. Inviabiliza-se,
apenas, novas repercussões jurídicas, respeitando-se as situações já vivenciadas.
Não há, após dispender a força humana de trabalho, retornar a situação anterior,
pois ela já foi utilizada. Assim, qualquer nulidade só pode ser reconhecida ex nunc.
A aplicação dessa teoria das nulidades vai depender dos valores/bens jurídicos
que estão em jogo.
3.1) Fatores trabalhistas peculiares
Inviabilidade de reposição da situação: trabalho já prestado e seu já valor
transferido.
A completa apropriação do trabalho pelo tomador de serviços só poderá ser
equilibrada com o reconhecimento de direitos trabalhistas ao prestador.
Prevalência do valor-trabalho conferido pela ordem jurídica.
3.2) Aplicação Plena da Teoria Trabalhista da Nulidades
Hipóteses de trabalho proibido, irregular:
Capacidade das partes (Crianças e Adolescentes).
Ex: a professora cita um caso em que a adolescente ia para escola à noite,
com sono, pois trabalhou o dia todo arrumando casa de família (família esta
que a contratou com salário inferior ao de uma doméstica sob o argumento
de 'traz ela do interior pra cá que a gente ajuda') e ainda era abusada pelo
homem da família. Nesse caso, tem que pagar todas as verbas rescisórias.
quanto a isso a doutrina é unânime. A controvérsia que existe é se deve ou
não emitir e anotar a CTPS por se tratar de criança/adolescente; uns
entendem que deve converter toda a verba rescisória em indenizatória e
outros pensam que a CTPS deve sim ser anotada.
Defeito de forma (ex: atleta profissional empregado sem instrumento escrito, estrangeiro
em situação irregular).
Ex: Súmula 386 do TST.
3.3) Aplicação Restrita da Teoria das Nulidades
Ex: empregado público que não prestou concurso (dois bens jurídicos relevantes
em contraponto: o valor-trabalho x moralidade)
Posições doutrinárias e jurisprudenciais:
1ª) Negativa efeitos trabalhistas – o interesse público envolvido suplantaria o
laboral. Nenhuma verba trabalhista devida ou pagamento apenas da contraprestação e
dos depósitos do FGTS (Súmula 363 do TST);
2ª) Plena e irrestrita aplicação da Teoria Trabalhista das Nulidades, inclusive
das parcelas de dispensa injusta; a norma constitucional vedatória dirigir-se-ia ao
administrador público, não ao obreiro.
Posição de Godinho: Aplicação da Teoria Trabalhista das Nulidades quanto ao
período trabalhado, negando o direito das verbas rescisória inerentes à dispensa injusta
(ou seja, não pagamento do aviso prévio, multa de 40% do FGTS e seguro desemprego).
3.4) Inaplicabilidade da Teoria especial trabalhista
Objeto ilícito (bem social atingido mais relevante do que o valor trabalho). Negativa de
quaisquer repercussões justrabalhistas à prestação laborativa concretizada
2
Flexibilização
Ex: Jogo do Bicho: a OJ 199 SDI-I confirma a nulidade. Várias decisões
reconhecem-na, mas defendem o pagamento das verbas rescisórias,
aplicando plenamente a teoria especial
Exceções: apesar do objeto ilícito, pode-se reconhecer a relação de trabalho se ficar
comprovado o desconhecimento pelo trabalhador do fim ilícito ou se houver nítida
dissociação entre o labor prestado e o núcleo da atividade ilícita.
4) Piores formas de trabalho infantil (Convenção n. 182 da OIT e Decreto n.
6.481/2008)
A prostituição, ou se prostituir, não é crime, mas trabalho, sendo, inclusive, forma
legítima de ocupação, conforme Código de Ocupação do MTE. Porém, é considerada
uma das piores forma de trabalho, por ser prejudicial à saúde; logo a criança/adolescente
não pode realizá-lo.
A criança/adolescente não se prostitui, mas sim é explorada sexual e
comercialmente.
Trabalho doméstico infantil, pelo mencionado decreto, também é considerado pior
forma de trabalho, pois há sobrecarga muscular e má postura. Além disso, ocorre muita
exploração da criança/adolescente pelos patrões.
Uma das facetas do trabalho doméstico infantil é a invisibilidade, ainda mais
porque o lar é inviolável. É muito difícil fiscalizar tal prática.
4.1) Penalidades do trabalho infantil no Brasil
Não há, no arcabouço jurídicobrasileiro, previsão de penalidade para aquele que
explora o trabalho da criança/adolescente, embora projetos de lei, no sentido de tipificar
como crime a utilização da mão de obra infantil, estejam em tramitação no Congresso
Nacional.
O Código Penal, em seu art. 149, tipifica como crime reduzir alguém à condição
análoga à de escravo (trabalho forçado), cominando pena de reclusão de 2 a 8 anos para
os infratores.
Nos arts. 203 e 207 do CP menciona os crimes contra a organização do trabalho
(frustrar, mediante fraude ou violência, direito assegurado pela legislação do trabalho;
aliciar trabalhadores com o fim de levá-los de um local para outro do território nacional)
Poderá a inobservância das regras de proteção ao trabalho do menor implicar o
ilícito penal previsto no artigo 132 do CP, bastando que se comprove o perigo iminente ou
crime de maus-tratos, tipificado no art. 136 do CP.
4.2) Normas Celetistas
Art. 17, § 1º e art. 439, da CLT
4.3) Outras questões em debate
Exploração Sexual e Comercial de crianças e adolescentes. A Justiça do
Trabalho é competente para apreciar e julgar ações que envolvam tal tema. O objetivo é
preservar a saúde sexual de crianças e adolescentes.
Carta de Brasília, segundo a qual a exploração sexual comercial de crianças e
adolescentes é relação de trabalho ilícita e degradante que ofende não somente a direitos
individuais do lesado, mas também e, fundamentalmente, aos interesses difusos de toda
a sociedade brasileira. Constitui, ainda, grave violação da dignidade da pessoa humana e
do patrimônio ético-moral da sociedade. Ver também a Lei n. 11.577/2007.
Atletas mirins – Lei Pelé (Lei n. 9.615/1998). Muitas crianças e adolescentes,
iludidos com a possibilidade de serem grandes atletas de futebol, são levados para outros
clubes e muitos deles são explorados, havendo até casos de exploração sexual de
treinador. O MPT está firmando TAC´s com os grandes clubes de futebol, através dos
quais há um compromisso de não alojamento de atletas mirins menores de 16 anos. Para
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os alojados, é obrigatória a matrícula e frequência escolar, a convivência familiar e local
digno de alojamento
Artistas mirins: é possível a permissão de trabalho de crianças quando o trabalho
for artístico. Essa autorização é obtida na justiça estadual (Vara da criança e adolescente)
com parecer favorável do MP estadual. O MPT está tentando atrair essa competência
para ele.
5) Proteção do Trabalho Adolescente
Como, em regra, não é possível o trabalho de criança (vimos uma exceção acima:
artistas mirins), fala-se em erradicação.
No caso de adolescente, o trabalho deve ser protegido, pois não se trata
propriamente de trabalho, mas sim de profissionalização
Uma política pública ideal de emprego do adolescente brasileiro deveria ser
composta de três parâmetros:
a) fazer parte de uma política do emprego em geral, em que se privilegie o trabalho
do adulto pai de família com salário digno;
b) ser integrante de outras políticas que visem a saúde, a educação, o lazer, a
escola e o convívio familiar;
c) “lugar de criança é na escola”: antes de 16 anos – políticas públicas que levem à
eliminação do trabalho infantil – dar à criança o direito de ser criança e a seus pais
condições econômicas de não “empurrá-las” para o trabalho.
O direito a profissionalização como forma de romper o ciclo perverso, excludente e
hereditário da pobreza:
5.1) Direito à profissionalização
Art. 205 da CR/88: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família,
será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação
para o trabalho.
Art. 227 da CR/88: é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar ao
adolescente, com absoluta prioridade,... o direito à profissionalização...
Art. 69 do ECA: O adolescente tem direito à profissionalização e à proteção ao
trabalho , observados os seguintes aspectos, entre outros: a) respeito à condição
peculiar de pessoa em desenvolvimento; b) capacitação profissional adequada ao
mercado de trabalho.
6) Aprendizagem (Arts. 428 e seguintes da CLT e Decreto n. 5.598/05)
6.1) Conceito
Trata-se de contrato de trabalho especial, ajustado por escrito e por prazo
determinado (contrato formal), em que o empregador se compromete a assegurar ao
maior de 14 e menor de 24 anos, inscrito em programa de aprendizagem, formação
técnico-profissional metódica, compatível com o seu desenvolvimento físico, moral e
psicológico, e o aprendiz, a executar, com zelo e diligência, as tarefas necessárias a essa
formação.
6.2) Inovações da Lei 11.180/2005
Extensão da faixa etária: atualmente de 14 a 24 anos incompletos. Figuras do
adolescente aprendiz e do Adulto aprendiz.
Grande avanço para inclusão de aprendizagem em atividades insalubres, perigosas,
penosas e noturnas.
Aumento das funções que demandam aprendizagem.
Prioridade à inserção do adolescente aprendiz.
Inovações da Lei n. 11.788/2008: alterou os §§ 1º, 3º e 7º do art. 428 da CLT. Tirou
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as pessoas com deficiência dos marcos etários.
6.3) Características
contrato especial, escrito e por prazo determinado (até dois anos);
anotação na CTPS;
matrícula e frequência do aprendiz à escola;
inscrição em programa de aprendizagem desenvolvido sob a orientação de entidade
qualificada em formação técnico-profissional metódica. Tais entidades são basicamente o
Sistema S (SESC, SENAI, etc) e algumas ONG´s;
salário mínimo hora: não onera a empresa;
FGTS: 2%. Os custos com o aprendiz é realmente menor, se comparado ao empregado
comum;
atividades teóricas e práticas, metodicamente organizadas em tarefas de complexidade
progressiva desenvolvidas no ambiente de trabalho;
Contratação do aprendiz pela empresa = com vínculo de emprego; pela Entidade sem fins
lucrativos = sem vínculo com a empresa tomadora dos serviços. Órgão da Administração
(arts. 15 e 16 do Decreto n. 5598/2005);
Duração do trabalho: máximo de 6 horas, vedada a prorrogação e a compensação de
jornada. Se o aprendiz já terminou o ensino fundamental, pode chegar a 8 horas,
computadas as horas da aprendizagem teórica;
Férias: o empregador deve fazer coincidir as férias do aprendiz (sempre de uma vez só)
com as escolares do ensino regular, ainda que não seja o ensino fundamental.
6.4) Aspectos complementares da Aprendizagem
Obrigatoriedade de contratação por parte do empregador, que deverá empregar e
matricular. Funda-se no Princípio da Função Social da Propriedade.
Exceções: microempresas, EPP´s ou entidade sem fins lucrativos, que tenha por
objetivo a educação profissional.
Os estabelecimentos de qualquer natureza são obrigados a empregar e matricular
nos cursos dos Serviços Nacionais de Aprendizagem número de aprendizes equivalente a
no mínimo 5% e no máximo 15%, dos trabalhadores existentes em cada estabelecimento,
cujas funções demandem formação profissional (frações de unidade = 1 aprendiz ).
Versatilidade do Instituto – Utilização como instrumento de Justiça Social.
Aprendizes portadores de deficiência não se limitam à faixa etária geral
7) Estágio (Lei n. 11.788/2008)
7.1) Conceito
Estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de
trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam
frequentando o ensino regular em instituições de educação superior, de educação
profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino
fundamental (polêmica), na modalidade profissional da educação de jovens e adultos.
7.2) Poderá ser obrigatório ou não:
Estágio obrigatório é aquele definido como tal no projeto do curso, cuja carga
horária é requisito para aprovação e obtenção de diploma.
Estágio não obrigatório é aquele desenvolvido como atividade opcional,
acrescida à carga horária regular e obrigatória. Tem que ser remunerado.
7.3) Não cria vínculo empregatício de qualquer natureza, desde que observados
os seguintes requisitos:
I – matrícula e frequência regular do educando em curso de educação superior,de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e nos anos finais do
ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos e
atestados pela instituição de ensino;
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II – celebração de termo de compromisso entre o educando, a parte concedente
do estágio e a instituição de ensino;
III – compatibilidade entre as atividades desenvolvidas no estágio e aquelas
previstas no termo de compromisso.
O descumprimento de quaisquer dos incisos deste artigo ou de qualquer
obrigação contida no termo de compromisso caracteriza vínculo de emprego do
educando com a parte concedente do estágio para todos os fins da legislação trabalhista
e previdenciária.
7.4) Outras questões
Jornada:4 horas diárias e 20 horas semanais, no caso de estudantes de educação
especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional de
educação de jovens e adultos; 6 horas diárias e 30 horas semanais, no caso de
estudantes do ensino superior, da educação profissional de nível médio e do ensino
médio regular.
Ressalva: o estágio relativo a cursos que alternam teoria e prática, nos períodos
em que não estão programadas aulas presenciais, poderá ter jornada de até 40 horas
semanais, desde que isso esteja previsto no projeto pedagógico do curso e da instituição
de ensino.
O estagiário poderá receber bolsa ou outra forma de contraprestação que venha a
ser acordada, sendo compulsória a sua concessão, bem como a do auxílio-transporte, na
hipótese de estágio não obrigatório.
A eventual concessão de benefícios relacionados a transporte, alimentação e
saúde, entre outros, não caracteriza vínculo empregatício.
Aplica-se ao estagiário a legislação relacionada à saúde e segurança no trabalho,
sendo sua implementação de responsabilidade da parte concedente do estágio.
O número máximo de estagiários em relação ao quadro de pessoal das entidades
concedentes de estágio deverá atender às seguintes proporções:
I – de 1 (um) a 5 (cinco) empregados: 1 (um) estagiário;
II – de 6 (seis) a 10 (dez) empregados: até 2 (dois) estagiários;
III – de 11 (onze) a 25 (vinte e cinco) empregados: até 5 (cinco) estagiários;
IV – acima de 25 (vinte e cinco) empregados: até 20% (vinte por cento) de
estagiários.
7.5) Polêmica: Estágio de ensino médio e fundamental
A nova lei pôs fim a antigos questionamentos, tais quais: limite máximo de
estagiários, jornada de trabalho, dentre outros aspectos. Silenciou com relação à faixa
etária e reavivou algumas polêmicas, como a supra citada.
Análise da teleologia da inclusão: Abandono do conceito anterior de
profissionalização restrita exclusivamente ao aprendizado de uma dada profissão, visando
a qualificação ampla para o mundo do trabalho. Avanço legislativo, desde que respeitado
o desiderato da abertura, para proporcionar experiência à maioria dos jovens.
Os requisitos deverão estar calcado na nova Lei de Diretrizes Básicas da
Educação (Lei n. 9.394/1996) e na Lei n. 11.788/2008.
Os desvirtuamento caracterizará relação de emprego, assim como nas demais
modalidades.
Criação dos agentes de integração.
7.6) Quadro Esquemático
Estágio x Aprendizagem
8) Tratamento do Trabalho Infanto-Juvenil de 0 a 18 anos
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TRABALHO ESCRAVO
1) Introdução
O trabalho escravo contemporâneo pode estar em qualquer lugar. Não é "privilégio"
das regiões agrícolas; pode ocorrer em qualquer estado da Federação.
Trata-se de grave afronta/vilipêndio a dignidade humana do trabalhador.
A superexploração da mão de obra e a indiferença do patrão ou do intermediador
de mão de obra (gato) com o trabalhador coisifica, animaliza o homem.
Está associado à condição econômica; o trabalho escravo é barato.
Há um progresso no combate ao trabalho escravo; a repressão feita tanto pelo
MPT e quanto pelos auditores fiscais tem surtido efeito, mas as estatísticas oscilam.
2) Denominação: trabalho em condições análoga a de escravo; trabalho escravo
contemporâneo/moderno.
Trabalho degradante não é o mais correto; o certo é falar em condições
degradantes de trabalho, que culmina no trabalho análogo a de escravo.
3) Conceituação
Para a concepção clássica (minoritária), para ter trabalho escravo, deve-se ter
algum cerceio à liberdade, seja ela física, moral ou psicológica do trabalhador.
Com a alteração do art. 149 do CP, é majoritária a concepção de que, quando se
combate o trabalho escravo, não está somente tutelando a liberdade do trabalhador, mas
sim a sua dignidade humana.
4) Tratados e Convenções Internacionais
Convenção das Nações Unidas sobre Escravatura de 1926 (art. 1º).
Convenção Suplementar sobre a Abolição da Escravatura, do Tráfego de Escravos
e das Instituições e Práticas Análogas à Escravatura - ONU, 1956: conceitua servidão por
dívida.
Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948 (artigos IV e V).
Convenção Americana sobre Direitos Humanos de 1969 (art. 6º).
Convenção n. 29 da OIT (art. 2º): é parâmetro mínimo. A legislação brasileira está
além dessa convenção, pois considera trabalho escravo não só quando o aliciador coage
o trabalhador, mas também quando o ilude.
Convenção n. 105 da OIT
Protocolo de Palermo: define tráfico de pessoas. Esse protocolo é muito usado
quando há tráfico sexual, tráfico de pessoas para remoção de órgãos e exploração
trabalhista.
5) Legislação Pátria
Constituição de 1988 : art. 1º (dignidade da pessoa humana e valorização social do
trabalho), 5º (proibição de tratamento desumano ou degradante e função social da
propriedade) e 170 (valorização social do trabalho e assegurar a todos a existência digna,
conforme os ditames da justiça social).
Código Penal: art. 149, alterado pela Lei n. 10.803/03. "Reduzir alguém a condição
análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva,
quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo sua
locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto".
A competência para oferecer denúncia é do MPF e para apreciar/julgar é da Justiça
Federal, por ser crime contra a organização do trabalho, apesar de estar no capítulo de
crimes contra a liberdade pessoal (RE 398041/PA).
O caput dispõe do trabalho escravo típico e o §1º do trabalho escravo por
equiparação.
6) O que são as condições análogas à de escravo?
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Na prática, o MPT e os auditores fiscais do trabalho têm dificuldade pois os
empregadores que exploram a mão de obra alegam que não sabia que a sua prática
configurava hipótese de trabalho escravo. O conceito é realmente amplo; a criatividade
humana é tamanha que não há como estabelecer um rol fechado de condutas
configuradores de trabalho escravo.
A CONAETE (Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo),
criada pelo MPT para monitorar o trabalho escravo, lançou as orientações n. 03 e 04 para
definir jornada de trabalho exaustiva e condições degradantes de trabalho:
Orientação 03: “Jornada de trabalho exaustiva é a que, por circunstâncias de
intensidade, frequência, desgaste ou outras, cause prejuízos à saúde física ou mental do
trabalhador, agredindo sua dignidade, e decorra de situação de sujeição que, por
qualquer razão, torne irrelevante a sua vontade”.
Orientação 04: “Condições degradantes de trabalho são as que configuram
desprezo à dignidade da pessoa humana, pelo descumprimento dos direitos
fundamentais do trabalhador, em especial os referentes a higiene, saúde, segurança,
moradia, repouso, alimentação ou outros relacionados a direitos da personalidade,
decorrentes de situação de sujeição que, por qualquer razão, torne irrelevante a
vontade do trabalhador”.
A análise deve ser feita caso a caso para verificar ocorrência ou não do trabalho
escravo. Por isso, não há como fechar o rol de situações que configurem jornada de
trabalho exaustiva ou condições degradantes de trabalho.
7) Caso dos bolivianos
Os bolivianos arregimentam outros bolivianos para virem para o Brasil, em especial
para a região Sudeste, para trabalharem em fábrica de costura. Para tanto, cobram pela
passagem e normalmente entram pela cidadede Corumbá ou Foz do Iguaçu.
A consequência é: jornada de trabalho superior a 15 horas; o pagamento é feito por
peça costurada; direitos trabalhistas inexistentes; em alguns casos, houve retenção de
documentos e ameaças; as vítimas moram e recebem alimentação na própria oficina de
costura; enfim, as condições são subumanas
O estatuto do estrangeiro proíbe o trabalho dessa forma.
Há um pacto entre o MTE e a polícia federal para que, descoberta essa situação,
os bolivianos não sejam deportados, mas sim anistiados, permanecendo no Brasil. Há
uma luta para que tal hipótese vire lei.
Já foi constatado que a empresa Marisa recebe roupas baratas, porque há, na
cadeia de produção, trabalho escravo (ou trabalhadores laborando em condições
degradantes). Houve, inclusive, a assinatura de TAC com o MPT em São Paulo.
Ver http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=1714.
E as lojas Pernambucanas, da mesma forma, encontra-se em processo de firmar
TAC com o MPT.
O trabalho escravo urbano é muito forte, especialmente nas grandes capitais.
8) Principais Causas
O trabalho escravo tem como causas a ganância, a miséria e a impunidade.
O Brasil foi o último país do continente a abolir oficialmente a escravidão.
Causas pretéritas:
Estrutura social hierarquizada;
Desvalorização do trabalho manual;
Exploração predatória do território: o trabalho escravo nunca está só; nos locais em que
ocorre, há também grilagem, ocupação irregular da terra, etc;
Poder quase absoluto dos proprietários de terras.
Causas presentes:
Expansão da fronteira agrícola (gado e madeira);
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http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=1714
A globalização econômica provocou a 'precarização' do trabalho;
Crescimento das desigualdades regionais.
9) Atuação Articulada
Desde 1995, com o caso José Pereira, o governo brasileiro reconheceu a
existência de trabalho escravo e assumiu o compromisso de erradicá-lo até 2015.
Em 1998, para trabalhar no combate do trabalho escravo, foi criado o Grupo
Especial Interinstitucional de fiscalização móvel (GEIFM), com a presença do MPT, Polícia
Federal e do MTE (auditores fiscais do trabalho).
Infelizmente, só a repressão não resolve. É preciso ter políticas públicas voltadas
para reduzir a miséria. Precisa-se pensar em prevenções e em ações de inclusão do
trabalho vulnerável (vítima do trabalho escravo).
Para isso, o CONAETE criou o projeto "Resgatando a Cidadania", cujo objetivo é
dar qualificação ao trabalhador vítima do trabalho escravo e reinseri-lo no mercado de
trabalho. Previne a reincidência (que ele volte a ser vítima no futuro).
O STF já se manifestou no sentido de que o MPT tem legitimidade para propor
ACP cobrando atitudes do poder público, para erradicar o trabalho escravo, e a Justiça do
Trabalho é competente para forçar esse cumprimento.
CONATRAE (Comissão Nacional de Trabalho Escravo) é formada por todas as
entidades da área (Ministérios da Agricultura e MTE, Pastoral da Terra, MPT, MPF,
Associação dos Trabalhadores, dentre outros) e tem como objetivo monitorar o Plano
Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo.
10) Repressão
Intervenção extrajudicial
Investigação, inquérito civil;
Termo de ajuste de conduta: deve constar todas as obrigações que o empregador deve
cumprir no futuro;
Dano moral individual/coletivo;
Multa;
Cadastro de empregadores (Portaria MTE n. 540/2004 - Lista suja): se se verifica que a
empresa possui mão de obra escrava, ela é incluída no cadastro e só sai quando acabar
com tal prática. Essa inclusão inviabiliza, por exemplo, a obtenção de empréstimos em
bancos (ex: BNDES). Não é uma lista irresponsável como muitos querem intitular.
Intervenção judicial
Ações civis públicas;
dano moral coletivo;
outras ações judiciais: ex: ajuizamento de cautelar para garantir verba rescisória.
11) Alterações Legais
Seguro desemprego (Lei n. 7998).
Expropriação de terras (PEC n. 438/2001): a proposta é no sentido de o
empregador, que tiver trabalhadores em condições degradantes, perder a sua terra,
semelhante ao que ocorre com o cultivo de plantas psicotrópicas.
Projeto de Lei n. 5.016/2005 (estabelece penalidades para quem emprega mão de
obra escrava).
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