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URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS, ENDÓCRINOS, METABÓLICOS SISTÊMICOS, ONCO-HEMATOLÓGICOS, ACIDENTES CAUSADOS POR ANIMAIS PEÇONHENTOS Elaboração Erothildes Silva Rohrer Martins Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ...................................................................................................................................................................................... 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA ................................................................................................. 5 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................................................. 7 UNIDADE I URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS ............................................................................................................................ 9 CAPÍTULO 1 ALTERAÇÕES OFTALMOLÓGICAS ENCONTRADAS NAS EMERGÊNCIAS ................................................................................. 9 UNIDADE II URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS ................................................................................................. 38 CAPÍTULO 1 PROBLEMAS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS ....................................................................................................................................... 38 UNIDADE III URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ONCO-HEMATOLÓGICOS ............................................................................................................ 101 CAPÍTULO 1 ALTERAÇÕES MAIS COMUNS ENCONTRADAS EM PACIENTES ONCOLÓGICOS ................................................................. 101 UNIDADE IV ANIMAIS PEÇONHENTOS ............................................................................................................................................................................................. 120 CAPÍTULO 1 ACIDENTES CAUSADOS POR ANIMAIS PEÇONHENTOS ............................................................................................................... 120 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................................................................... 142 4 APRESENTAÇÃO Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico- tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 6 ORGANIzAÇãO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESqUISA Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/ conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 INTRODUÇÃO Nessa disciplina, vamos conversar sobre cuidados intensivos durante as urgências que recebemos no dia a dia nas clínicas. Dessa maneira a apóstila foi preparada em quatro unidades. Na primeira vamos falar sobre as alterações oftalmológicas, o que causa, sinais clínicos e muitas imagens para exemplificar melhor. Na segunda unidade englobaremos os problemas endócrinos e metabólicos, sendo que muitas vezes esses problemas podem ser secundários a outros problemas, mas não menos importantes. Temos exemplos com casos clínicos para ajudar o aluno a entender como ele irá encontrar o problema. E, para encerrar nosso módulo, conversaremos sobre as emergências causadas por acidentes com animais peçonhentos, os sinais clínicos apresentados, bem como o tratamento é recomendadoinstituído. Objetivos » Mostrar principais problemas oftalmológicos, bem como sintomas e tratamento. » Apresentar os problemas endócrinos e metabólicos mais comuns encontrados em nossas emergências. » Apontar as situações mais comuns encontradas nos pacientes oncológico, visto que hoje nossos pacientes pets, estão vivendo mais e com isso essas doenças acabam aparecendo. » Orientar como proceder nas demanda dos pacientes oncológico. » Conhecer os sinais clínicos apresentados em pacientes que se envolveram em acidentes com animais peçonhentos. 9 UNIDADE I URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS CAPÍTULO 1 Alterações Oftalmológicas Encontradas nas Emergências Examinado os olhos conseguimos diversas informações sobre o estado do nosso paciente como: mucosa para avaliação clínica, observar se está alerta, vigor e hidratação do paciente. As emergências relacionadas à oftamologia na maioria das vezes estão relacionadas a traumas, acidentes, brigas, corpo estranho mas pode, também estar relacionadas a doenças degenerativas. É importante conhecer a anatomia básica do olho para quando visualizar o paciente na emergência saber o que é normal ou o que foi a causa do trauma. A seguir vamos relembrar um pouco do básico. As estrutura superficiais do olho são: » pálpebra superior; » esclera; » comissura palpebral medial; » ângulo medial do olho; » margem da terceira pálpebra; » pálpebra inferior; » ìris » pupila vista através da córnea ; » ângulo lateral do olho; » comissura palpebral lateral; 10 UNIDADE I | URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS Figura 1. Estrutura superficial dos olhos. Fonte: Stanley et al., 2007. Figura 2. Desenho esquemático das estruturas superficiais do olho. Fonte: adaptado de Stanley et al., 2007. Ainda sobreas estruturas do olho, pressão manual na palpebra mostra a 3ª pálpebra e empurra o bulbo ocular para o interior da órbita (cuidado quando houver suspeita de corpo estranho). Nessa imagem conseguimos observar: » Posição do ponto lacrimal » Carúncula lacrimal » Posição do ponto lacrimal » Conjuntiva palpebral » Luz refletida na córnea » Margem da terceira pálpebra 11 URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS | UNIDADE I » conjuntiva da terceira pálpebra. » fórnix do saco conjuntival. Figura 3. Imagem mostrando a conjuntiva da terceira pálpebra Fonte: Stanley et al., 2007. Figura 4: Desenho esquemático das estruturas superficiais do olho com a compressão Fonte: Stanley et al., 2007. 12 UNIDADE I | URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS Já as estruturas internas do olho são: Figura 5. Desenho esquemático mostrando a parte interna do olho esclerótica coróide retina mácula lútea fóvea nervo óptico ponto cego corpo ciliar córnea pupila íris ligamentos Fonte: https://www.todoestudo.com.br/biologia/olhos. Queimaduras As queimaduras estão relacionadas a substâncias que causam dano severo quando a mucosa ocular é exposta a essas produtos. Elas podem ser agentes ácidos ou alcalinos como podemos ver abaixo: Agentes Ácidos » ácido sulfúrico; » ácido sulfuroso; » ácido acético; » ácido clorídrico; » solentes; » alguns detergentes. Os agentes ácidos tendem a induzir a coagulação das proteínas do epitélio e do estroma da córnea, dessa maneira a coagulação acaba formando uma barreira fazendo com que a 13 URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS | UNIDADE I queimadura seja mais superficial quando comparada com a profundidade alcançada pelos agentes alcalinos. Como não ocorre a formação dessa barreira de proteção provovada pela coagulação os agentes alcalinos têm um alcance mais profundo provocando uma ruptura e morte célular. A seguir estão listados os agentes alcalinos. Agentes Alcalinos » soda cáustica; » amônia; » cal; » cimento; » gesso; » pó de airbag. Algumas substâncias de uso rotineiro como por exemplo os shampoos podem causar queimaduras químicquímicas. As queimaduras podem ser tanto formadas por substâncias do tipo alcalina como aquelas formadas pelas substâncias ácidas. É preciso um socorro rápido. Nessas urgências provocadas por agentes ácidos é observada necrose de coagulação e, quando a causa são agentes alcalinos e a extensão é grande pode ter perda visual. Nas queimaduras alcalinas os danos visuais costumam ser mais graves causando lise estromal progressiva, como uma úlcera tipo melting, esse tipo de úlcera pode perfurar a esclera ou a córnea de maneira muito rápida, porque o pH alcalino, por ser elevado, acaba destruindo o epitélio e o estroma. Como esse tipo de lesão é muito sério identificar o quanto antes é muito importante. Figura 6. Queimadura química causada por shampoo, lesão de quase 50% da córnea (corada com fluoresceína) com grande perda estromal na região ventroaxial. Fonte: Cortesia do Dr. John Sapiensa, DACVO, Rabelo, 2012. 14 UNIDADE I | URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS Figura 7. Queimadura química da córnea e conjuntiva por exposição a cimento úmido. Fonte: Cortesia do Dr. John Sapiensa, DACVO, Rabelo, 2012. Na figura anterior podemos observar extensas áreas de perda estromal, liquefação corneana, edema generalizado assim como quemose grave e úlceras conjuntivais, expondo a cartilagem da terceira pálpebra. Quando o paciente chega na emergência com lesão ocular pode-se observar uma blefarite em vários graus além de: » quemose; » hiperemia; » hemorragia ou descamação conjuntival; » úlceras corneanas de profundidades variadas; » defeitos epiteliais da córnea (ceratite focal superficial puntiforme até completa descamação do epitélio corneano); » melting. O tratamento de emergência deve ser iniciado imediatamente assim que existir a suspeita, como descrito a seguir: » Lavar abundantemente o olho lesionado (30 minutos pelo menos) com Soro Fisilógicológico ou ringer lactato. Se o paciente ainda estiver em casa, 15 URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS | UNIDADE I orientar o responsável para fazer a lavagem imediatamente com água de torneira e depois levar na clínica para dar continuidade ao tratamento. » Anestesia tópica aplicada antes da irrigação com Ringer irá ajudar durante a lavagem mas em casa o tutor pode fazer a irrigação direto com a água da torneira mesmo. Quanto antes remover a substância melhor para a recuperação. » Na sequência, sedação profunda no animal facilitando o tratamento vai ajudar para a colocação do espéculo palpebral. » Após 5 a 10 min de irrigação, o pH ocular deve ser verificado (no fórnice inferior), utilizando papel de tornassol. » O pH deve chegar a 7,0. Caso isso não aconteça é necessário que a irrigação permaneça até a superfície ocular chegar em 7,0. Se após 30 minutos o pH ainda não se neutralizar, fazer uma procura minuciosa para ver se ainda existe alguma substância nas pálpebras de forma a está impedir a estabilização. Caso seja encontrado, remover delicadamente com um algodão úmido de forma a retirar as partículas ainda existentes. » Depois da neutralidade ajustada, o pH deve ser acompanhado periodicamente para manter a certeza de que o equilíbrio permaneça. Muitas complicações podem acontecer após a queimadura químicquímica, como uveites graves e glaucoma. Após a remoção completa da substância e estabilização do pH, o tratamento medicamentoso deve ser iniciado. Se não tiver perfuração de córnea podem ser utilizado: » opioides; » cicloplégicos; » antibióticos; » agentes colagenolíticos; » lubrificantes oculares; » medicações sistêmicas (analgésicos e anti-inflamatórios). 16 UNIDADE I | URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS No uso dos anti-inflamatórios não esteroidais tópicos é preciso ter cuidado com o aumento da pressão intraocular quando se tem uveite moderada grave. O prognóstico depende muito da extensão da lesão e do quão rápido foi iniciado o tratamento emergencial. Cuidado, solução ácida não pode ser utilizada para neutralizar uma úlcera causada por substância alcalina e vice versa. As queimaduras que são causadas por esses agentes costumam provocar lesões no globo ocular e consequentemente perda da visão quando comparamos com as lesões causadas por agentes ácidos (POWELL, 2002). Independente de qual seja a substância que levou ao processo de queimadura, efetuar a irrigação abundante é o primeiro passo que deve ser instituído imediatamente assim que tenha a suspeita de queimadura, mesmo não sabendo com que substância o animal teve contato. Quando o animal estiver com blefarospasmo repentino e sem causa conhecida, tiver uma grande opaciedade da córnea ou uveite, esses são sinais clínicos que se deve pensar em queimadura independente do agente. Como já foi relatado anteriormente, a irrigação deve ser iniciada rápidamente. Ela tem o objetivo de diluir, bem como remover o produto que está causando a lesão além de levar à normalização do pH da superfície ocular. O produto utilizado para essa lavagem é o soro fisilógicológico estéril, mas caso esse não esteja disponível, pode-se utilizar o ringer. Para ajudar nessa limpeza pode ser utilizada uma haste flexivel na terceira pálpebra ou no fórnix conjuntival, para não ficar nada que venha a contínuar causando danos. Se tiver a certeza que a substância é alcalina, pode ser utilizada uma solução de ácido bórico ou acético (0,5%), a cada 15 minutos, por um período de 2 horas. A seguir o passo a passo do tratamento emergencial: » irrigação contínua (soro fisilógicológico ou ringer), por 30 minutos ou até o pH da superfície ocular se encontrar dentro dos valores normais; » o valor de pH da superfície ocular pode ser medido com fitas de urianálise (GILGER; LEDBETTER, 2013); » após lavagem, tratar o olho espacíficamentede acordo com o problema encontrado, em caso de úlceração da córnea, uveíte ou glaucoma; 17 URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS | UNIDADE I » em úlceração profunda ou perfuração da córnea, pode ser necessária uma intervenção cirúrgica de emergência, com transplante de membrana amniótica ou enxerto conjuntival. » fármacos utilizados: › ação anti-colagenase; › antibióticos tópicos; › midriáticos,; › tetraciclina sistêmisistêmica; › anti-inflamatórios não esteroides sistêmicos. É importante lembrar que o prognóstico para a visão desse paciente é reservado. E as complicações a longo prazo precisam ser observadas e acompanhadas, são elas: » cicatrizes na córnea; » uveíte; » glaucoma; » queratoconjuntivite seca; » aderência da pálpebra ao globo ocular; » entrópio; » uveites graves podem levar a catarata. Corpo estranho Alguns tipos de corpos estranhos oculares podem ser observados facilmente, como os vistos nas figuras 8 a 11, mas alguns corpos estranhos corneanos são vistos após um exame oftalmlógicológico. Dependendo da composição do corpo estranho são mais ou menos tolerados como podemos ver na tabela a seguir. Os corpos estranhos que são mal tolerados provocam uma resposta inflamatória grande e muitas vezes esses corpos estranhos têm a presença de ferrugem ou algum produto químico que potencializa a inflamação no epitélio corneano e estroma. Já aqueles bem tolerados, 18 UNIDADE I | URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS se forem pequenoe e estiverem sob o cicatrizado sem provocar danos nem causar qualquer resposta inflamatória não precisam ser removidos. Tabela 1. Corpos estranhos mal tolerados e menos tolerados. Mal tolerados Bem tolerados » Materiais orgânicos › Lascas de madeira › Compostos vegetais » pedras » Corpos estanho metálicos » Vidro » Areia » Plástico » alumínio » chumbo » aço » materiais cerâmicos Fonte: autora Figura 8. Corpo estranho composto por lasca de madeira em um cão. Fonte: https://elearning.up.pt/ppayo/SEMIO%2013-14/AULAS%20TEORICAS/OFTALMOLOGIA/Aula_Teorica__Pedro_Malho__ICBAS_2012.pdf. https://elearning.up.pt/ppayo/SEMIO%2013-14/AULAS%20TEORICAS/OFTALMOLOGIA/Aula_Teorica__Pedro_Malho__ICBAS_2012.pdf 19 URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS | UNIDADE I Figura 9. Corpo estranho de lasca de madeira no olho esquerdo de um gato Fonte: https://elearning.up.pt/ppayo/SEMIO%2013-14/AULAS%20TEORICAS/OFTALMOLOGIA/Aula_Teorica__Pedro_Malho__ICBAS_2012.pdf. Figura 10. Corpo estranho metálico aderido ao epitélio corneano. Fonte: Rabelo, 2012. https://elearning.up.pt/ppayo/SEMIO%2013-14/AULAS%20TEORICAS/OFTALMOLOGIA/Aula_Teorica__Pedro_Malho__ICBAS_2012.pdf 20 UNIDADE I | URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS Figura 11. Corpo estranho retrobulbar de penetração conjuntival (ponto de entrada está perto do canto lateral). Fonte: Rabelo, 2012. Na figura anterior podemos observar que há corrimento hemorrágico e quemose generalizada. O corpo estranho desse paciente foi removido após ultrassonografia e ressonância magnética em uma cirurgia exploratória. Os sinais clínicos vão depender do tipo, tamanho e local em que o corpo estranho está inserido, mas em geral provocam: » hiperemia conjuntival; » quemose; » edema palpebral (em casos agudos). É recomendada sedação ou mesmo anestesia geral do paciente principalmente se o corpo estranho for grande. Dessa maneira, o manejo será melhor, e a avaliação oftalmológica mais segura para o paciente reduzindo a chance de autotraumatismo. As pálpebras devem ser abertas com muito cuidado para a inspeção de todo o olho e avaliação da face posterior da terceira pálpebra onde é comum encontrar corpos estranhos pequenos que, apesar do tamanho, costumam causar muita dor e desconforto no paciente, além de blefaroespasmos e lacrimejamento. A região interna das pálpebras superiores e inferiores também devem ser examinadas à procura de corpos estranhos. 21 URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS | UNIDADE I Figura 12. Corpo estranho localizado atrás da terceira pálpebra. Detalhe no material encontrado (composto vegetal). Este foi removido sob anestesia tópica. Fonte: Rabelo, 2012. Figura 13. Corpo estranho vegetal linear intraestromal superficial. Este foi removido com anestesia tópica. Seta amarela mostra o local pelo qual o corpo estranho está sendo extruído. Fonte: Rabelo, 2012. O ultrassom é um exame que vem sendo bastante útil quando se tem a suspeita de corpo estranho localizado na região orbital ou retrobulbar. Mas a tomografia computadorizada ou a ressonância magnética são exames complementares altamente confiáveis, porém, nem sempre são facilmente acessíveis, principalmente devido aos custos. A conduta do tratamento depende de sua localidade, sendo que, para aqueles localizados na superfície ocular apenas a irrigação com soro fisiológico costuma ser o suficiente. 22 UNIDADE I | URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS Já aqueles que estão localizados na córnea ou conjuntiva precisam ser removidos com mais cuidado. Apenas uma anestesia tópica é o suficiente, mas, dependendo do caso, uma sedação ou anestesia geral se faz necessária. » Quando ele está na córnea, a irrigação do corpo estranho costuma ser suficiente. Sempre avaliar se o cristalino está intacto. » Quando já se tem conjuntiva envolvida, avaliar a migração do corpo estranho. » Se a localização for retrobulbar será observada celulite e a formação de abcesso. (sempre avaliar a fossa pterigopalatina). Figura 14. Corpo estranho na córnea. Fonte: https://elearning.up.pt/ppayo/SEMIO%2013-14/AULAS%20TEORICAS/OFTALMOLOGIA/Aula_Teorica__Pedro_Malho__ICBAS_2012.pdf. Figura 15. Corpo estranho na esclera. Fonte: https://elearning.up.pt/ppayo/SEMIO%2013-14/AULAS%20TEORICAS/OFTALMOLOGIA/Aula_Teorica__Pedro_Malho__ICBAS_2012.pdf. https://elearning.up.pt/ppayo/SEMIO%2013-14/AULAS%20TEORICAS/OFTALMOLOGIA/Aula_Teorica__Pedro_Malho__ICBAS_2012.pdf https://elearning.up.pt/ppayo/SEMIO%2013-14/AULAS%20TEORICAS/OFTALMOLOGIA/Aula_Teorica__Pedro_Malho__ICBAS_2012.pdf 23 URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS | UNIDADE I Figura 16. Corpo estranho que foi removido. Fonte: https://elearning.up.pt/ppayo/SEMIO%2013-14/AULAS%20TEORICAS/OFTALMOLOGIA/Aula_Teorica__Pedro_Malho__ICBAS_2012.pdf. Figura 17. Corpo estranho intraocular, localizado na câmara anterior (projétil de plástico amarelo). Por causa da uveíte secundária e glaucoma, este olho foi enucleado. Seta amarela mostra a localização do corpo estranho. Fonte: Rabelo, 2012. Além da remoção do corpo estranho, é preciso fazer o uso de antibioticoterapia tópico com colírio ou pomada. O tempo vai variar de acordo com a gravidade da lesão, mas, nas lesões graves, o uso a longo prazo será necessário. Powell (2002) relata que uma aplicação de atropina a 1% em dose única pode ser preciso se a pupila estiver miótica, dessa forma irá controlar os sinais de uveite secundária. Já em casos em que a uveite estiver instalada de forma grave ou mesmo com perfuração do globo ocular, o uso de anti-inflamatórios sistêmicos (AINES ou corticosteroides) será indicado, segundo Seruca, (2016), associado a antibioticoterapia sistêmica também. https://elearning.up.pt/ppayo/SEMIO%2013-14/AULAS%20TEORICAS/OFTALMOLOGIA/Aula_Teorica__Pedro_Malho__ICBAS_2012.pdf 24 UNIDADE I | URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS No tratamento realizado de maneira adequada, normalemente a cicatrização cosyuma ser rápida (Maggs, 2008). Lacerações oculares e traumas Lacerações oculares são achados muito comuns vistos em muitas situações associadas a traumas oculares, seja ele contuso ou perfurante. A córnea costuma ser a área mais afetada por ser o maior tecido exposto devido a fissura palpebral, mas podem ocorrer lacerações conjuntivais ou com a terceira pálpebra. O histórico de taumatismo na área pericular pode significar a possibilidade de um trauma ocularassociado, são exemplos: » mordidas; » arranhões de gato; » penetração de um corpo estranho com alta velocidade. Apesar de ser uma urgência, o paciente precisa ser avaliado com uma boa análise clínica do olho pois pode ser que tenha mais lesões além da laceração palpebral. Segundo Maggs (2008), o ponto lacrimal deve ser identificado e deve ser sondado e, por meio de irrigações, deve-se avaliar a integridade da via lacrimal. Além disso, é possível haver ou mesmo outras lesões associadas que devem ser tratadas. Figura 18. Laceração da pálpebra inferior e úlcera estromal média em canídeo. Fonte: Afonso, 2017. https://elearning.up.pt/ppayo/SEMIO%2013-14/AULAS%20TEORICAS/OFTALMOLOGIA/Aula_Teorica__Pedro_Malho__ICBAS_2012.pdf 25 URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS | UNIDADE I Figura 19. Laceração causada por trauma. Fonte: https://elearning.up.pt/ppayo/SEMIO%2013-14/AULAS%20TEORICAS/OFTALMOLOGIA/Aula_Teorica__Pedro_Malho__ICBAS_2012.pdf. Figura 20. Reconstrução cirúrgica após a laceração da pálpebra. Fonte: https://elearning.up.pt/ppayo/SEMIO%2013-14/AULAS%20TEORICAS/OFTALMOLOGIA/Aula_Teorica__Pedro_Malho__ICBAS_2012.pdf. https://elearning.up.pt/ppayo/SEMIO%2013-14/AULAS%20TEORICAS/OFTALMOLOGIA/Aula_Teorica__Pedro_Malho__ICBAS_2012.pdf https://elearning.up.pt/ppayo/SEMIO%2013-14/AULAS%20TEORICAS/OFTALMOLOGIA/Aula_Teorica__Pedro_Malho__ICBAS_2012.pdf 26 UNIDADE I | URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS Figura 21. Após a reconstrução cirúrgica da laceração da pálpebra. Fonte: https://elearning.up.pt/ppayo/SEMIO%2013-14/AULAS%20TEORICAS/OFTALMOLOGIA/Aula_Teorica__Pedro_Malho__ICBAS_2012.pdf. Figura 22. Animal após traumatismo por mordedura, com protrusão completa do globo ocular e laceração importante das estruturas oculares. Fonte: Rabelo, 2012. https://elearning.up.pt/ppayo/SEMIO%2013-14/AULAS%20TEORICAS/OFTALMOLOGIA/Aula_Teorica__Pedro_Malho__ICBAS_2012.pdf 27 URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS | UNIDADE I Figura 23. Detalhe da laceração. Fonte: Rabelo, 2012. Figura 24. Dreno com sistema a vácuo no pós-operatório. Fonte: Rabelo, 2012. No exame ocular, a utilização de fluoresceína ajuda na visualização da lesão mostrando o delinear das bordas conjuntivais laceradas, além disso observamos: » quemose; » hemorragia conjuntival; » exposição da episclera e esclera (comuns em lacerações conjuntivais); 28 UNIDADE I | URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS » lacerações corneoesclerais podem ser parciais ou completa: › completas podem ter hemorragia subconjuntival parcial ou difusa; › quemose grave; › câmara anterior rasa (em algumas situações). O exame ocular pode ser adiado até estabilização do paciente de forma que se consiga a sedação ou anestesia geral para uma boa avaliação diagnóstica e/ou cirúrgica. Dessa maneira minimiza-se a chance de piora do caso, principalmente dos pacientes de difícil contenção. O prognóstico costuma ser favorável se o tratamento for iniciado rapidamente e de forma adequada sem a presença de infecção. Se o tratamento demorar para ser realizado esteticamente não ficará bom devido à rigidez das margens lesionadas. É recomendado sempre que a cicatrização seja realizada por primeira intensão evitando dessa maneira deformidades nas pálpebras. Para Miller (MAGGS; MILLER; OFRI, 2008), existem quatro fatores que devem ser considerados na escolha da terapêutica: 1. O tempo que passou desde a agressão (isso influenciará na extensão da infecção bacteriana). 2. Como está a viabilidade da borda palpebral e principalmente o canal lacrimal ou do canalículo. 3. O tamanho da lesão e se é possível fazer a reconstrução cirúrgica. 4. Avaliar se a laceração atravessa a borda palpebral e, se for o caso, deve ser avaliada a integridade do globo ocular. As lacerações de córnea podem ser parciais ou completas, sendo que essa última pode ter ou não prolapso de íris podendo ter envolvimento do cristalino e ainda perda de conteúdo intraocular (GELATT; GELATT, 2011). Esse tipo de lesão é muito encontrado na clínica de pequenos animais e de animais jovens são os mais envolvidos. Maggs (2008) relata que pode ser observados outros arranhões de gatos, porém o trauma por objetos metálicos é muito comum também. 29 URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS | UNIDADE I A dor é muito presente e, por esse motivo, o estresse na contenção é muito comum dificultando a avaliação clínica. A coloração com fluoresceína é utilizada para avaliar a integridade do epitélio córneo-conjuntival entre outras, bem como avaliar o fluxo de humor aquoso. Quando se tem o extravasamento de humor aquoso por uma perfuração da córnea consideramos sinal de Seidel como POSITIVO. Segundo Heinrich (2011), a gravidade da laceração pode ser avaliada por meio da biomicroscopia da córnea. O prognóstico irá depender de diversos fatores como: » o que causou a laceração e se teve envolvimento de material orgânico no momento do trauma; » espécie animal; » idade; » profundidade, posição e dimensão da laceração; » comprometimento de outras estruturas oculares. Todos esses fatores podem interferir no pós cirúrgico. Em cães, a uveíte anterior costuma ser bem mais excessiva do que em gatos. Em situações de prolapso da íris, quando o tratamento for realizado após 24 horas, o prognóstico é desfavorável. Gelatt & Gelatt (2011) relatam que em situações em que se tem lacerações centrais o envolvimento de outras estruturas oculares, como o prolapso da íris, laceração da cápsula anterior do cristalino, perda de cristalino ou de humor vítreo, hemorragia intraocular e laceração da esclera, são fatores de prognóstico negativo e possível perda de visão. Sendo assim o tratamento deve ser iniciado o mais cedo possível. Gelatt & Gelatt (2011) e Ledbetter & Gilger (2013) recomendam: » antibioterapia tópica; › gentamicina › cloranfenicol » antibioterapia sistêmica; › amoxicilina › cefalexina 30 UNIDADE I | URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS » correção cirúrgica dependendo da gravidade › fio de nylon ou poliglatina 8-0 a 10-0 com agulha microespatulada (DELGADO, 2015), esse tipo de fio provoca menos reação córnea no início, mas precisa ser removido de 4 a 6 semanas com recurso a sedação ou anestesia geral (LEDBETTER; GILGER, 2013). Figura 25. Laceração completa da córnea, extensa, entre 11 e 18 horas, com prolapso da íris em canídeo fêmea, da raça Boston terrier, 4 meses de idade. A lesão foi provocada por mordedura de cão. Fonte: Afonso, 2017. Figura 26. Aspecto do pós-operatório na reparação de lacerações corneanas múltiplas, não lineares e oblíquas. Fonte: Dr. John Sapienza, DACVO, Rabelo, 2012. 31 URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS | UNIDADE I O tratamento para esse tipo de problema deve ser imediato. Nos pacientes que têm mais de 24 horas do acontecido o risco de translocação bactériana aumenta muito. A seguir estão descritos os tipos de lacerações e os procedimentos necessários. » Feridas na conjuntiva bulbar: › quando forem menor que 2 cm não precisam ser suturadas; › caso contrário realizar a sutura padrão interrompido ou simples contínuo; › usar fio absorvível 8-0. » Dilaceração da conjuntiva palpebral com exposição de cartilagem: › a sutura precisa ser realizada;. › realizar a sutura padrão interrompido ou simples contínuo; › usar fio absorvível 8-0. » Dilaceração corneanas ou corneoesclerais › é preciso relizar a cirurgia ou então tratamento médico imediato e agressivo; › as suturas devem ser realizadas com fio absorvível 8-0 ou 9-0. » Dilacerações corneanas completas: › depende da área lacerada, se teve perda tecidual ou lógicmorfológica da lesão, presença ou viabilidade do prolapso uveal. 32 UNIDADE I | URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS Figura 27. Laceração corneana completa em região periférica medial da córnea, com edema corneano perilesional e pronunciado prolapso de íris.Fonte: Dr. John Sapienza, DACVO, Rabelo, 2012. Glaucoma Essa é uma neuropatia óptica onde se tem morte das células ganglionares da retina e axônios levando a diminuição da lesão ou mesmo cegueira definitiva. Clinicamente observamos um aumento da pressão intraocular (PIO), mas pode ter situações em que a PIO pode está normal ou até diminuída. É mais comum de ser encontrada em cães podendo chegar até 0,5 a 1% do que em gatos. Quando em gatos, costuma ser secundária a outras patologias oculares. Não tem predisposição sexual. Algumas raças são mais predispostas como: Cocker Spaniel Americano, Basset Hound e Shar Pei podendo chegar até 5%. A sua classificação varia de acordo com a sua etiologia, estágio da doença e ângulo írido–corneano. E pode ser classificada como primária ou secundária. Sinais clínicos são: FASE INICIAL » os olhos apresentam midríase discreta; » congestão dos vasos episclerais; 33 URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS | UNIDADE I » aumento da PIO; » déficit visual considerável; » cegueira. FASE CRÔNICCRÔNICA OU SUB AGUDA » é visto edema e vascularização corneanas; » luxação do cristalino; » pupila fixa em midríase; » escavação do disco óptico; » buftalmia. É importante que o intensivista veterinário se preocupe ou mesmo suspeite de glaucoma em qualquer paciente com midriase mesmo que discreta, olho vermelho, dor ocular. Esse sinais já são indicativos para uma avaliação oftálmica. Figura 28. Hiperemia conjuntival e midríase em cão com glaucoma agudo. Fonte: Rabelo, 2012. 34 UNIDADE I | URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS Figura 29. Buftalmia, vasos episclerais ingurgitados, fratura da membrana de Descemet,midríase e luxação da lente em cão com glaucoma crônico. Fonte: Rabelo, 2012. Na tabela a seguir os sinais clínicos do glaucoma de acordo com sua classificação entre moderado e subclínico ou crônico e/ou avançado Tabela 2. Sinais clínicos do glaucoma AGUDO MODERADO OU SUBAGUDO AVANÇADO OU CRÔNICO » Dor » Dor » Dor de baixa intensidade ou ausente » Edema corneano » Edema corneano » Vascularição e pigmentação corenana » Déficit visual » Cegueira » Cegueira » Reflexo pupilar deminuído Midriase » Reflexo pupilar ausente (midriase) » Reflexo pupilar ausente (midriase) » HIperemia conjuntival e vasos episclerais ingurgitados » vasos episclerais ingurgitados » vasos com aspectos variaveis » PIO aumentada » PIO aumentada » PIO aumentada » Blefarospasmos » Subluxação a luxação da lente » Luxação da lente e catarata » Fratura de membrana » Fratura de membrana » Descemet » Descemet » Buftalmia » Buftalmia » Escavação do disco óptico » Atrofia ds ìris e da retina Fonte: Rabelo, 2012. 35 URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS | UNIDADE I Para o diagnóstico e procedimento clínico do paciente é preciso: » tonometria, onde é feita a aferição da PIO que é importantíssima para o diagnóstico. O normal é: › cães = 18 ± 5 mmHg › gatos= 16 ± 4 mmHg » gonioscopia é avaliado o ângulo iridocorneano e o ângulo de filtragem (aberto ou estreito e fechado). » oftalmoscopia direta e indireta é feito o exame do disco óptico e da retina. Além dos exames básicos acima relacionados podemos usar ainda tomografia e ultrassonografia mas não são exames realizados rotineiramente. O tratamento vai depender da fase e da gravidade bem como do tipo de glaucoma. Para o intensivismo, a importância é no tratamento agudo ou emergencial e depois o oftamologista dara continuidade da sua manutenção a médio e longo prazos. Caso seja preciso cirurgia de emergência constuma ser feito gonioimplante e a ciclofotocoagulação a laser. Os gonioimplantes são dispositivos que tentam criar uma alternativa diferente para drenar o humor aquoso, dessa forma diminuindo a PIO (GELATT; GELATT, 2001). A ciclofotocoagulação a laser é uma técnica na qual é utilizado um aparelho a laser que faz disparos a laser com o intuito de diminuir a PIO (LAGE, 2020). Tabela 3.Tratamento emergencial do Glaucoma. Agudo ou emergencial Manutenção ou médio Prazo Crônico ou longo prazo » Manitol IV » Inibidores da anidrase carbônica » Inibidores da anidrase carbônica » Acetazolamida VO » Prostaglandinas » Prostaglandinas » Pilocarpina » Cirurgia » Cirurgia » Dorzolamida » Prostagladina » Corticosteroides Fonte: Rabelo, 2012. Cegueira súbita – SARDS SARDS (Sudden Acquired Retinal Degeneration Syndrome) é a degenerecência aguda da retina, ela é uma doença aguda que causa perda de visão irreversível, por esse motivo 36 UNIDADE I | URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS também é conhecida como cegueira súbita. A perda de visão costuma ser aguda, mas pode começar a diminuir em poucos dias. No SARDS acontece deslocamento de retina por uma hipertensão sistêmica; dessa maneira acontece atrofia e ou degeneração de retina provoca também neurite ótico. Essa patologia é comumente encontrada em cães de meia idade de raças puras ou mestiças. Os sinais encontrados nessa patologia, além da cegueira, súbita pode ser: » Reflexo fotopupilar anormal; › lento ou ausente. » Fundoscopia (nao costuma ser observadas alterações significativas). » Arteríolas na altura da cabeça do nervo óptico podem apresentar um grau de atenuação (alguns casos na fase inicial). » Alguns paciente podem ter clínica semelhante ao pacientes com síndrome de Cushing: › letargia; › ganho de peso; › poliúria; › polidipsia. No exame de hemograma e e bioquímicas o quadro apresentado se assemelha a cães com alterações hormonais. Dessa maneira os exames complementares serão importantes para o dignóstico. Para isso é importante observar: » histórico do paciente; » o exame ocular; » completa ausência de atividade retiniana à eletrorretinografia (ERG), se tiver presença de atividade outras possibilidades de cegueira devem ser pesquisadas; » exames de imagem; 37 URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS OFTALMOLÓGICOS | UNIDADE I › ultrassonografia ocular (presença de neurite óptica retrobulbar),; › ressonância magnética ou tomografia computadorizada (TC); › acompanhados de coleta e análise do líquido cefalorraquidiano (avaliação das vias visuais e do cérebro). A causa ainda não é conhecida e também não existe tratamento espacífico para SARDS, as suspeitas mais aceitas são que a toxicidade causada pelas doenças autoimunes contribua para esse quadro. Dessa maneira, o Prognóstico acaba sendo muito grave pois não existe tratamento. Pesquisas vêm sendo desenvolvidas, mas ainda sem resultados satisfatórios, elas são apenas experimentais. Figura 30. Neurite ótica. Fonte: : https://elearning.up.pt/ppayo/SEMIO%2013-14/AULAS%20TEORICAS/OFTALMOLOGIA/Aula_Teorica__Pedro_Malho__ICBAS_2012.pdf. Figura 31. Ocorre em cegueira súbita, degeneração de retina. Fonte: https://elearning.up.pt/ppayo/SEMIO%2013-14/AULAS%20TEORICAS/OFTALMOLOGIA/Aula_Teorica__Pedro_Malho__ICBAS_2012.pdf. https://elearning.up.pt/ppayo/SEMIO%2013-14/AULAS%20TEORICAS/OFTALMOLOGIA/Aula_Teorica__Pedro_Malho__ICBAS_2012.pdf https://elearning.up.pt/ppayo/SEMIO%2013-14/AULAS%20TEORICAS/OFTALMOLOGIA/Aula_Teorica__Pedro_Malho__ICBAS_2012.pdf 38 UNIDADE II URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS CAPÍTULO 1 Problemas Endócrinos e Metabólicos Pâncreas Uma patologia com a qual frequentemente nos deparamos é a pancreatite, seja ela de causa primária ou mesmo secundária a outro problema, mas independente de sua origem ela deve ser estabilizada e tratada e um dos sintomas sempre presentes é a dor. Nos pacientes com pancreatite aguda, a inflamação no pâncreas aconteceu há pouco tempo, Elliot (2006) explica que essa inflamação acontece em decorrência a auto-digestão do órgão causada pelas enzimas proteolíticas ativadas. O problema é que, na maioria dos casos, as bactérias, em muitas situações até devido à baixa imunidade dos pacientes, acabam se deslocando causando grave peritonite,obstrução biliar secundária e necrose ventral do duodeno entre outros. Ela pode ser do tipo edematosa que é mais leve ou hemorrágica sendo bem mais forte podendo ter ou não ter o envolvimento de outros órgãos além do pâncreas. Já na pancreatite crônica o pâncreas já teve perda de sua função e fibrose pancreática tendo perda considerável nas funções do pâncreas tanto de ordem exócrina como endócrina, diferente do que acontece com a pancreatite aguda em que o quadro do paciente constuma ser reversível. Mas saber se é agudo ou crônico não é uma tarefa simples visto que é preciso uma avaliação lógichistológica do tecido pancreático (ETTINGER; FELDMAN, 2010). A pancretite é uma enfermidade que tem mortalidade alta sendo muito importante na clínica de pequnos animais principalmente quando ela está associada a outras patologias. Sendo assim, o início precoce do tratamento é muito importante para a recuperação do animal. 39 URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS | UNIDADE II As causas da pancreatite ainda não foram bem definidas, mas dietas ricas em lipídeos, obesidade a hiperlipidemia, endocrinopatias e fármacos como fenobarbital, furosemida, diuréticos, bropmeto de potássio, tetraciclinas, entres outros podem desencadear a patologia. Quando a suspeita está associada com outra patologia, pode estar ligado a: » nutrição deficiente; » estresse; » hiperlipemia ou hiperlipoproteinemia; » fármacos; » trauma; » pós-esplenectomia; » manipulação pancreática; » hipercalcemia; » refluxo duodenal; » hiperamilasemia. Os sinais clínicos e sintomas que costumam acometer esses pacientes são: » apátia; » anoréticos; » vômitos; » diarreia; » desconforto; » dor abdominal “Posição de oração”; » insuficiência respiratória; » paralisia dos membros pélvicos; » alterações mentais; 40 UNIDADE II | URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS » secundárias a infarto cerebral; » tromboembolismo aórtico infartos de medula; » desordens da coagulação; » arritmias cardíacas; » choque. Para o diagnóstico é preciso a combinação de informações clínicas, exames de imagem e clínico patlógicológico. abaixo está relacionado os exames para ajudar no fechamento do diagnóstico: » exame ultrassonográfico do abdome “exame padrão ouro” para suspeita de pancreatite, além de poder serem visualizados massas, cistos, abcessos, edema e fluido intra-abdominal livre; » imagem avançada (RM e TC), nem sempre está disponível, mas é muito útil quando a pancreatite é secundária a outras lesões; » hemograma; › leucócitose com desvio para a esquerda; › em algumas situações nenhuma alteração e encontrada. » amilase e lipase costumam estar elevados em 75% a 85% (não se aplica a gatos); » testes imunes; › o radioimunoensaio (determinar as concentrações séricas da imunorreatividade da tripsina em cães e gatos); › imunorreatividade da lipase pancreática em felinos (100% de sensitividade e especificidade. » mensuração do peptídeo ativador de tripsinogênio (PAT) sanguíneo pode ser utilizada como fator prognóstico, mas precisa estar associado com outras ferramentas e não como meio único, no início essa mensuração não é tão boa. » o lavado peritoneal diagnóstico (LPD); 41 URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS | UNIDADE II › é um teste efetivo simples de realizar pois pacientes com lesões pancreáticas têm concentrações altas de amilase no fluido peritoneal; › resultado do lavado junto com os sinais clínicos costumam ser um indicador para encaminhar paciente para a laparotomia exploratória. O tratamento do paciente com pancreatite grave precisa de uma monitorização rigorosa principalmente por muitas vezes ter o envolvimento de outros sistemas. Dessa maneira precisamos: » Equilíbrio hídrico › suporte intenso para manter o equilíbrio hidroeletrolítico. » Equilíbrio eletrolítico › eletrólitos (K, Na, Cl, Ca ionizado e HCO3−), pelo menos a cada 24 horas no estágio inicial da doença; › é comum precisar suplementação de potássio intravenoso no fluido (2- 4mEq/kg/dia); › cálcio só deve ser suplementado se tiver inferior a 50% do normal (menos de 2 mmoles/dl), ou então se clinicamente estiver manifestando sinais de tetania. » Manutenção dos níveis plasmáticos de albumina › a albumina manter acima de 2,0–2,5 g/dl; › ou proteína total acima de 4,5 g/dl; › se for preciso suplementar com plasma (preferência albumina humana, canina, felina ou bovina), em pancreatites graves existe um consumo alto de inibidores da protease plasmática e a redução desses inibidores seguindo de CID aguda, choque levando o paciente a óbito; › monitorar hematócrito (Ht) e proteína a cada 8 ou 12 horas no máximo; › fornecer o plasma heparinizado (2 unidades/ml), 30 minutos antes de administrar papa de hemácias ou sangue total de forma a manter o Ht acima de 25%. 42 UNIDADE II | URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS » Coloides Sintéticos › amido de baixo peso molecular em cristaloide balanceado; › Bolus de até 15ml/Kg, para resgate da pressão vascular ou › infusão contínua (1 a 2 ml/kg/h); › melhorar o fluxo sanguíneo na microcirculação; › auxilia na prevenção de edemas endoteliais, intersticial e intracelular. Os poros intracelulares aumentam de tamanho quando o paciente está em choque dessa maneira aumenta a possibilidade de perda de eletrólitos, fluido intracelular, albumina e proteínas pequenas como proteína C, antitrombina 3. Dessa maneira aumenta a possibilidade de trombose microvascular. » Glicose › monitorada a cada 8 horas e mantida controlada, caso não esteja normal precisa ser controlada e aferida em menos tempo. » suporte nutricional › iniciar em até 12 horas após a internação. » terapia com oxigênio hiperbárico › ainda está no início mas já vem sendo observada melhora clínica em pacientes após a utilização desse tratamento. » manejo cirúrgico › comum em pancreatites graves; › avaliação cuidadosa da cavidade; › lavagem com solução fisiológica morna; › procurar áreas de necrose, edema e congestão, abcessos e observar se tem acúmulo de liquido ao redor dos órgãos, a seguir na tabela está o passo a passo da cirurgia exploratória. 43 URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS | UNIDADE II Tabela 4. Etapas-chave para a cirurgia exploratória na pancreatite grave Observar: Exploração de todo o abdômen » alterações presentes; » coleta de tecido para exame histopatológico; » material para cultura; A biópsia é realizada pelo método de ligadura, em que se prende uma amostra pequena de tecido com fio poliproleno 4-0, depois com lâmina de bisturi 11, retira a parte que está presa no fio e armazena em formalina tamponada a 10%. Tecido necrosado e supurados ou abcessos precisa ser retirado » desbridamento e remoção de tecido necrosado e supurados na avaliação física dos órgãos; » retirada de abcessos peripancreáticos; » colocação de dreno de sucção no lado esquerdo após remoção de grandes abcessos ou tecidos necrosados; » a extirpação do pâncreas só é indicada quando totalmente necrosado. Avaliação do duodeno » observar obstrução do duodeno e bile (se tiver corrigir); » gastrojejunostomia ou colecistojejunostomia se preciso fo.r Irrigar todo o abdome » irrigação de todo o abdome até o fluido ficar claro; » secar bem depois de lavar. Implantação de tubo de jejunostomia » colocação de tubo de jejunostomia 3.5 a 8 French; » iniciar a infusão com solução eletrolítica e glicose; » cateter gastrojejunal (como outra alternativa). Tubo de gastrostomia » colocação de tubo de gastrostomia para descompressão; » sonda nasogástrica pode ser usada, mas deve-se verificar se está com a ponta no antro já implantada para descompressão, caso contrário fazer a correção. Cateteres de drenagem, lavagem e analgesia » colocação de cateteres de drenagem, lavagem e analgesia de acordo com anecessidade; » se tiver peritonite supurativa, o abdome deve ser deixado aberto e contido; » colocação de dreno de sucção nos 2 lados do pâncreas; » paciente mantido na UTI para cuidados de suporte; » fechamento entre 3 a 5 dias. Fonte: da autora adaptado de Rabelo, 2012. É importante considerar que o diagnóstico rápido e preciso reduz as chances de tratamento invasivo como a cirurgia. Dessa forma uma boa avaliação clínica, associada com exames laboratoriais, principalmente o lavado peritoneal diagnóstico e suporte clínico para o tratamento da inflamação do pâncreas, pode ser útil para não precisar de uma intervenção cirúrgica. 44 UNIDADE II | URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS Hipoglicemia A hipoglicemia acontece quando o doente apresenta a concentração sérica de glicose abaixo de 60mg/dl. Ela pode acontecer pelo consumo acelerado ou pela remoção da glicose que está circulando. E os mecanismos que podem desenvolver isso são: » excesso de insulina; » falta de hormônio hiperglicemiante; » comprometimento da gliconeogenese hepática; » exagero no uso da glicose; » diminuição no consumo da glicose. Quando o paciente baixa os níveis da glicose alguns sintomas podem ser observados como: » fome; » inquietação; » fraqueza; » tremores; » taquicardia; » apatia; » contrações da musculaturavisíveis; » ataxia; » incoordenação motora; » déficit de visão; » colapso; » convulsão; A gravidade do quadro manifestado depende de quanto tempo o animal ficou nesse quadro e quanto os níveis de glicose foram baixados. Para avaliar podemos usar a tríade 45 URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS | UNIDADE II de Whipple, que foi criada pelo cirurgião Allen O. Whipple. Nela, ele determina que o paciente precisa ter baixa nos níveis séricos de glicose, os sintomas acima listados e depois de ser tratado com glicose obtemos uma melhora clínica nos sintomas do paciente. Dessa maneira diferenciamos por exemplo aqueles pacientes que podem ter os sintomas semelhantes com a hipoglicemia, mas quando medida sua glicose se encontra dentro do normal. Para que possamos fazer o diagnóstico é preciso medir a glicose com o paciente no leito.Podemos fazer isso por meio de aparelhos portateis, porém se o resultado estiver muito baixo é recomendada a confirmação desse exame em laboratório. Podemos pesquisar também atraves de exames de imagem: Radiografia » Podemos ver o tamanho do fígado: › Reduzido: • acontece no desvio portossistêmico; • cirrose. › Aumentado: • quadros de hepatite grave. » Presença de neoplasias. » Metastase de torax. Ultrassonografia » Pode ser usado para ajudar como guia em procedimentos de biópsia. » Presença de massas extrapancreáticas ou pancreáticas. » Atrofia de adrenal. 46 UNIDADE II | URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS Figura 32. Exame Ultrassonográfico com evidência de alteração de tamanho sugerindo cirrose hepática em um cão Fonte: Yamamoto et al., 2014. Figura 33. Exame Ultrassonográfico com evidência de alteração de tamanho, ecogenicidade e bordos irregulares, compatível com cirrose hepática em cão. Fonte: Yamamoto et al., 2014. Cintigrafia e portografia mesentérica » Auxiliam no diagnóstico de desvio portossistêmico (porém precisa de cirurgia) Tomografia computadorizada ou ressonância » Ótimo para detecção precoce de neoplasias Achados histopatológicos ou patlógicológicos costumam estar associados a causa primária dos pacientes hipoglicêmicos. 47 URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS | UNIDADE II Tabela 5. Diagnóstico Diferencial. O que acontece Possíveis causas Observações Por aumento na utilização da glicose Insulinoma » Convulsões hipoglicêmicas associadas a testes laboratoriais normais exceto hiperinsulinemia Overdose de insulina ou medicamentos hipoglicêmicos » Histórico de diabtes mellitus » insulinoterapia Neoplasia extrapancreática » massa palpada no exame físico » imagens: leiomioma, adenocarcinoma hepático, linfoma e hemangiossarcoma Sepse » Pacientes grave » Hipotensos associando diminuição da ingestão a aumento do consumo e redução da função hepática Policitemia grave » Elevação absoluta de hematócrito, hemoglobina e hematimetria Prenhez Idiopática dos cães de caça Drogas » Sulfonilureias » Etanol » Salicilato ou betabloqueadores Por diminuição na produção da glicose Idiopatia neonatal ou juvenil » Primipalmente em cães de raça miniatura Má nutrição, má absorção ou jejum prolongado Doenças hepáticas Desvio portossistêmico » Animais com sinais de encefalopatia hepática Cirrose, fibrose, displasia microvasculas ou hepatite grave » Sinais gastrintestinais » Ictericia » Ascite Neoplasia hepática Deficiencia de enzimas da gliconeogenese hepática Doença do armazenamento de glicogênio » Afecção rara » Deve ser considerada sempre que as demais forem excluídas Hipoadrenocorticismo » Comum em fêmeas jovens » Cães em tratamento com mitotano » Sinais gastrointestinais » Desidratação » Azotemia hipopituitarismo 48 UNIDADE II | URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS Erro ou artefato Transporte inadequado » Temperatura » Tubo inadequado Erro laboratorial Demora no armazenamento » Concentração no sangue reduz cerca de 7mg/dl/h se não separar as células brancas das vermelhas em 30 minutos » Tubos de flureto de sódio é um inibidor da glicolise e minimizam esse consumo em 48 horas. Fonte: adaptada de Rabelo, 2012. A abordagem primária do paciente com hipoglicemia, se for crise higlicêmica leve pode-se aplicar gliose direto na gengiva ou glicose de millho (mel Karo@) e depois oferecer alimentação ou 2ml/kg de glicose a 50% por via oral, mas isso só deve ser realizado em pacientes conscientes e sem vômito. Se a crise for grave, deve ser realizado 0,5 a 1ml/kg/IV de glicose 50% em bolus lento (2 a 3 min) diluído em solução cristaloide 1:1. Ideal que seja administrado em acesso central, para evitar flebites. Se o paciente tiver menos de 16 semanas deve receber glicose diluída a 10%. Um cuidado redobrado para crises rebote nas crises hipoglicêmicas causadas por insulinomas. Na abordagem secundária precisamos ficar atentos às crises hipoglicêmicas graves e às crises refratárias que muitas vezes estão junto com as convulsões que não são controladas. Nesse caso das crises hipoglicêmicas graves devemos: » Fazer fluidoterpia com critaloides (escolher o melhor de acordo com o quadro); » adicionar glicose no frasco; » depois que o paciente estiver se alimentando verificar se a glicemia se sustenta, caso contrário fica com a glicose na fluidoterapia até a alimentação começar a se manter; » monitorar a glicose de hora em hora ou no máximo a cada 2 horas (ela deve se manter entre 60 e 150mg/dl. (insulinoma entre 50 e 100mg/dl); » overdose de insulina ou insulinoma pode-se usar: 49 URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS | UNIDADE II › Dexametasona (0,5 a 1,0mg/kg/IV. SID ou BID); › Glucagon (5 – 10ng/kg/min, infusão contínua) ou; › Análogos da somatostatina (20 a 40 mcg/SC a cada 12 horas) – Sandostatin@ ou octreotide@. Rises refratárias associadas a convulsões incontroláveis » anestesiar o paciente para controlar as crises; » se as convulsões estiverem relacionadas com insulinoma: › Glucagon (5 – 10ng/kg/min, infusao contínua) ou; › Análogos da somatostatina (20 a 40 mcg/SC a cada 12 horas) – Sandostatin@ ou octreotide@ ou Diazóxido (5 mg/kg/PO ou BID) e se não controlar aumentar a dose até 30mg/kg. É sempre importante descobrir qual a causa primária da hipoglicemia para a correta e rápida correção, e lembrar de fazer uma avaliação lógicneurológica. Após a estabilização dessa glicemia podem ocorrem lesões cerebrais secundárias ao problema inicial que levou à hipoglicemia, sendo assim pode haver a necessidade de tratamento do edema cerebrale das convulsões. Hiperglicemia O aumento da glicemia pode acontecer de forma fisiológica ou patológica, pra que ela se mantenha é necessário fatores célulares, hormonais e neurais, mas o grande problema acontece de forma patológica normalmente em resposta a algum fator que interfira e/ou altere o metabolismo da glicose, como: » Deficiência de insulina (tanto relativa como absoluta). » Redução do consumo periférico da glicose. » Aumento da glicogenólise ou gliconeogênese. » Excesso de hormônios hiperglicemiantes: › Cortisol (fisilógicológico como sintético); › ACTH; 50 UNIDADE II | URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS › GH; › Glucagon; › Adrenalina; Quando a hiperglicemia acontece de forma transitória ou leve não são observados sinais clínicos visíveis, porém quando ela permanece se tornando moderada ou grave pode causar: » poliúria; » polidipsia; » polifagia; » perda de peso; » obesidade; » hepatomegalia; » dificuldade na cicatrização; » opaciedade de córnea; » apatia; » depressão. Se a hiperglicemia acontecer sem a presença de sinais clínicos a causa provavel é fisiológica causada por estresse ou pós-prandial. Nos exames laboratorias além de aferir a glicemia com o lactímetro ou mandar para o laboratório podemos observar outras coisas como: » Hemograma › leucograma de estresse ou inflamatório; › leucócitose; › neutrofilia; › linfopenia; › eosinopenia – monócitose. 51 URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS | UNIDADE II Essas alterações podem estar relacionadas com pacientes com estresse, pancreatite ou infecção. » Nas bioquímicquímicas podemos encontrar › lipemia (acontece nos períodos pós bradial); › pode estar relacionada a colesterolemia, tanto no hiperadrenocorticismo como na diabetes mellitus; › aumento de enzimas hepáticas. » Exames de imagem (ultrassom, ressonância, tomografia) › casos de neoplasias é possível ver certinho a localização dela no órgão e muitas vezes fazer esse diagnóstico no início do problema. Na tabela a seguir está a lista de dignósticos diferenciais que precisam ser pesquisados para saber a causa primária. Tabela 6. Diagnóstico diferencial da hiperglicemia Causas O que observamos Pós-prandial » Hiperglicemia leve » Pode vir acompanhada de lipemia Estresse » Comum em gatos (até 300mg/dl) com glicosúria Fármacos » Glicocorticoides » Progestágeno » Adrenalina » Morfina » Diuréticos tiazídicos » Asparaginase » Agonistas beta-adrenérgicos » Fluidos com dextrose » Soluções parenterais Diestro cadelas » Avaliar o ciclo estral por citologia vaginal Diabettes melittus » Sinais como: » PU » PD » PF » PP 52 UNIDADE II | URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS Pancreatite » Dor abdominal » Alterações gastrointestinais Neoplasias de pâncreas exócrino » Massas pancreáticas Insuficiência Renal » Azotemia renal » Síndrome uremica Hiperadrenocorticismo » PU » PD » PF » Aumento abdominal » Alopecia endócrina Acromegalia » Gatos com diabetes não controlada e ganho de peso Feocromocitoma » Taquipneia » Taquicardia » Sinais neuromusculares » hipertensão Glucagonoma » PU » PD » PP » Letargia » Eritema necrolítico migratório Trauma » Histórico de trauma » Muito cuidado com os casos de trauma em cranio Sepse » Prognóstico ruim » Ficar atento aos níveis de alarme Fonte: adaptada de Rabelo, 2012. Para ver a causa da hiperglicemia devemos pesquisar o motivo para reverter as causas, por exemplo: se o motivo da hiperglicemia for devido a fármacos, com a retirada desses fármacos a tendencia é equilibrar e a taxa da glicose diminuir; se for causada por estresse, resolvendo o motivo está levando ao estresse tende a controlar e assim sucessivamente. Crises Cetoacidóticas A cetocidose diabética é uma complicação metabólica na qual acontece a formação de forma desequilibrada de corpos cetônicos no fígado, tem como característica hiperglicemia, hipercetonemia, ácidose metabólica causando desequilíbrio hidroeletrolitico grave. A crise cetoacidótica é uma emergência metabólica muito comum encontrada em pacientes diabéticos podendo ser fatal. 53 URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS | UNIDADE II Em alguns pacientes, durante o exame físico pode ser observado o hálito cetônico e uma respiração rápida e profunda, causando a hiperventilação compensatória. as alteraçãoes hidroeletroliticas também podem ser vistas no eletrocardiograma. Além disso, podemos observar no paciente: » anorexia; » fraqueza; » depressão; » vômitos; » desidratação; » hipotermia; » choque hipovolêmico; » coma. Segundo, (1998) para a manutenção da glicemia é preciso um equilíbrio da insulina e a quantidade deste hormônio na circulação. A deficiência da insulina a longo prazo demanda o metabolismo de hepático de lipídeos, de modo que ácidos graxos não esterificados sejam transformados em acetil coenzima Ao invés de serem incorporados aos triglicérides e no fígado vai acabar virando ácido acético, em sequência produção e acúmulo de cetonas e ácido lático no sangue levando a várias consequências como: » perda de eletrólitos e água na urina; » desidratação profunda; » hipovolemia; » acidose metabólica; » choque; » cetonúria; » diurese osmótica em resposta a glicosúria; » náusea; » anorexia; » êmese. 54 UNIDADE II | URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS Além das alterações observadas durante o exame físico podemos acompanhar no exame laboratorial: » Hemograma › mostrando desidratação; › anemia arregenerativa; › trombócitose; › neutrofilia em torno de 20 × 103; › neutrófilos maduros; › desvio à esquerda (bastonetes); › neutrófilos tóxicos; › corpúsculos de Heinz (aumento plasmático de corpos cetônicos). » Hiperglicemia (maior 300 mg/dl), › casos graves (acima de 500 mg/dl). » Exames bioquímicos: › aumento das enzimas; › hepáticas; › bilirrubina total; › amilase; › lipase; › colesterol; › triglicerídios; › proteínas; › azotemia (início pré-renal evoluindo para disfunção renal primária). 55 URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS | UNIDADE II » Potássio pode variar, porém a hipocalcemia (2,5 mEq/l) é mais comum e precisa ser tratada o quanto antes; » Hipocloremia. » Hipomagnesemia. » Hipofosfatemia. » Hiponatremia. » Urinalise. » Glicosúria (4+): › cetonúria; › piúria; › densidade específica da urina maior ou igual a 1.030 (que pode mascarar a disfunção renal). » Gasometria; › acidose metabólica (aumento do ânion gap, valor = 15 a 25 mEq/l); › hiperosmolaridade sanguínea (maior que 300 mOsm/l); • exame de imagem › nesses exames (radiografia, ultrassom, ecocardiograma) iriam identificar problemas existentes; • insuficiência cardíaca; • insuficiência renal; • pancreatite; • asma; • neoplasia; • colângio-hepatite; • possíveis focos de infecção (piometria, abcesso prostático, pielonefrite, pneumonia) 56 UNIDADE II | URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS Tabela 7. Diagnóstico diferencial. Diagnóstico diferencial O que observar Coma hiperosmolar não cetótico » Ausência de corpos cetônicos Coma hipoglicêmico » hipoglicemia Acidose lática » elevação do lactato » ausência de hipercetonemia Síndrome urêmica » azotemia renal » ausência de glicosuria e cetonuria Fonte: adaptada de Rabelo, 2012. O tratamento deve ser iniciado com o acesso venoso central para reposição hipertônica sendo interessante para facilitar no manejo na internação visto que será necessária coleta de muitas amostras. O manejo primário começa: » Fluidoterapia, irá controlar a desidratação e diminuir a glicemia em decorrência do aumento da filtração glomerular. › prova de carga (anteriormente era recomendado a cada 15 minutos, hoje a recomendação mudou para 40a 60 minutos) » Sódio › reavaliar a cada 6 a 8 horas; › fazer ajuste se necessário: • ringer (sódio 140 a 155 mEq/L) • NaCl a 0,45% (sódio acima de 155 mEq/L). REPOSIÇãO RÁPIDA DA HIPEROSMOLARIDADE PODE CAUSAR EDEMA CEREBRAL » Potássio (iniciar reposição (20 mEq/l, não exceder 0,5 mEq/kg/h) › fazer a reposição baseada nos níveis séricos (ver tabela abaixo) › na hipocalcemia refratária ao tratamento, é preciso repor magnésio (cloreto de magnésio 0,75 a 1,0 mEq/kg/dia) 57 URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS | UNIDADE II » Fósforo › hipofosfatemia (inferior a 1,5 mmol/l); › repor na dose de 0,01 a 0,03 mmol/kg/h de fosfato de sódio ou de potássio, diluído em 1,3 ml de fosfato de sódio em 500 ml de cristaloide. Tabela 8. Suplementação de potássio. Deve ser feita basedo nos níveis séricos Concentração sérica (mEq/l) Suplementação no fluido (mEq/l) Velocidade máxima de administração do fluido (ml/kg/h) < 2,0 80 7 2,1 – 2,5 60 9 2,65 – 3,5 40 12 3,6 – 5,0 20 26 Fonte: Rabelo, 2012.. » Insulina regular › administra via infusão contínua por ter menos risco hipoglicêmico; › suspender a administração por 1–2 horas em caso de hipocalémia ou desidratação grave e após a correção volêmica voltar a insulinoterapia; › Via intramuscular • dose inicial de 0,2 UI/kg/IM) • depois manter (0,1 UI/kg/IM) aferir a glicemia depois de 1 hora. › subcutânea •após os valores estarem abaixo de 250 mg/dl; •aplicar a cada 4 a 6 horas (0,1 a 0,4UI/kg); •manter glicose entre 200 e 300 mg/dl). » Glicose › Iniciar reposição no fluido (glicose a 50%), sendo que no final vai ficar 2,5 a 5%; › a glicemia controlada em 250 precisa ser ministrada glicose junto com NaCl a 0,9% para que a insulina não cause hipoglicemia de uma vez (ver tabela a seguir); 58 UNIDADE II | URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS › pacientes na ventilação mecânica, é preciso tomar cuidado na hora da leitura da glicemia, pode ser feita leitura de glicemia baixa por alta pressão parcial de oxigênio arterial. Tabela 9. Velocidade da insulina e tipo de fluido com base na glicemia. Glicemia (mg/dl) Velocidade da insulina (ml/h) Fluidoterapia >250 10 NaCl a 0,9% 200 - 250 7 NaCl a 0,9% + 2,5% glicose 150 – 200 5 NaCl a 0,9% + 2,5% glicose 100 – 150 5 NaCl a 0,9% + 5,0% glicose <100 Parar infusão NaCl a 0,9% + 5,0% glicose Fonte: Rabelo, 2012. » Fosfato › abaixo de 1,5 mg/dl (0,01 a 0,06 mmol/kg/h) precisa ser suplementado › cuidado com hipocalcemia, mineralização e insuficiência renal, precisam ser monitorados. » Bicarbonato de sódio (SÓ USAR SE TIVER GASOMETRIA SERIADA) › pH venoso for inferior a 7,0 ou o H2CO3 inferior a 8 mEq/l. › para repor, iniciar com ¼ da dose nas 2 a 4 primeiras horas. Figura 34. Fórmula para repor bicarbonato. Fonte: Rabelo, 2012. É importante lembrar que, junto com o tratamento da crise, deve-se controlar qualquer doença que possa vir a somar a esse quadro. Caso não será favorável ao paciente, dessa maneira, recomenda-se usar antibioticoterapia de amplo espectro. Alguns sintomas e sinais precisam ser tratados e acompanhados como: 59 URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS | UNIDADE II » controle do vômito; » monitorar glicemia a cada 1-2 horas; » alta apenas depois que o paciente estiver hidratado; » sem nenhuma cetose ou pelo menos com pouca cetose; » comendo bem (a alimentação precisa ser calculada e fornecida de acordo com o peso do paciente), a alimentação pode ser ração seca ou pastosa desde que realizada na quantidade adequada; » iniciar a aplicação da insulina de ação intermediária em cães (NPH ou lenta 0,25 U/kg/SC/BID sempre após a alimentação); › gatos: pode ser de ação longa (Glargina® ou Determir®, sendo 1U/gato/ SC/SID mantendo quantidades de alimento diário disponível). » casos de vômito, falta de apetite é necessário o monitoramento da glicose e se preciso for administrar apenas metade da dose de insulina; » 5 a 7 dias depois da alta médica fazer a curva glicêmica no domicílio do paciente com o glicosimetro portátil; › fazer a cada 2 horas entre a aplicação da insulina; › fazer ajuste de dose caso precise. » muito importante o responsável estar ciente sobre a rotina dos horários; › aplicação da insulina apenas após a alimentação; › aplicar na região dorsal e orientar fazer cada dia de um lado; › as seringas que costumam vir junto com os frascos de insulinas são melhores por serem mais precisas, facilitando a aplicação de pequenas quantidades; › antes aplicar homogenizar delicadamente e não agitar; › sempre guardar refrigerada. » após aberta usar em no máximo 2 meses (orientar para colocar a data no frasco quando abrir, assim diminui a possibilidade de utilizar após o prazo). 60 UNIDADE II | URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS TAbela 10. Caso clínico cetoacidose, apresentação do paciente, sintomas e sinais clínicos. DADOS PACIENTE: SINTOMAS / SINAIS CLÍNICOS » cão » poodle » Fêmea » 14 anos » opistótono » vocalização » taquipneia » anorexia » êmese » prostração » FR: 60 mpm » Mucosa: hipocoradas » TPC de 3 segundos » Grave desidratação Fonte: elaborada pela autora. Tabela 11. Caso clínico cetoacidose, exames e histórico Exames: » urinálise: Glicosúria; » glicemia superior a 500 mg/dl » lactato 10,8 mg/dl Histórico: » Tratamento para diabetes mellitus com insulina intermediária (NPH) desde os dois últimos anos Fonte: elaborada pela autora. Tabela 12. Caso clínico cetoacidose, tratamento emergencial. Tratamento » fluidoterapia com NaCl a 0,9% (2 horas) para corrigir a hidratação » acesso diferente do da fluido. Aplicação da insulina (2,2UI/kg), diluído na dose de insulina regular em 250ml de NaCl a 0,9%, fazer a reposição em 10ml/h » acompanhar a glicemia de hora em hora » quando baixar para 250 mg/dL, acrescentar 2,5% glicose ao NaCl a 0,9%, e diminuir para 7ml/h e assim fazendo a redução até a glicemia chagar em 100 mg/dl e ser retirada da infusão contínua. Fonte: elaborada pela autora. 61 URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS | UNIDADE II Tabela 13. Caso clínico cetoacidose, apresentação do paciente Dados do paciente e Histórico » cão » Yorkshire terrier » macho » 11 anos » peso:4,9 Kg » poliúria (PU) » polidipsia (PD), » hiporexia » vómitos Fonte: elaborada pela autora. Figura 14: CASO CLÍNICO cetoacidose, anamnese Anamnese » animal bebia quatro vezes mais água » urinava mais do que o habitual » não apresentando desconforto ou aumento exagerado da frequência de micção ou alterações na cor da urina » perda de apetite » vomitava tudo o que comia e/ou bebia » perda de peso (anteriormente pesava 7 Kg) » alimentação de boa qualidade » água a vontade Fonte: elaborada pela autora. Figura 15. Caso clínico cetoacidose, Exame Físico. Exame físico » visíveis os processos espinhosos das vértebras torácicas e as cristas ilíacas » mucosa palida e seca » TPC 2 segundos » FR: 30 rpm » FC: 120 bpm » temperatura: 38,1ºC Fonte. Elaborada pela autora. 62 UNIDADE II | URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS Tabela 16. caso clínico cetoacidose, exames complementares. Parametros Resultado Valor de Referência Leucócitos 17,7 5 – 17 (x 109 /l) Linfócitos 1,6 0,8 – 5,1 (x 109 /l) Monócitos 1 0,0 – 1,8 (x 109 /l) Granulócitos 15,1 4,0 – 12,6 (x 109 /l) Eritrócitos 4,63 5,5 – 8,5 (x 1012 /l) Hematócrito 34,2% 39 – 56% HCM 24,1 20 – 25 CHCM 24,1 300 – 380 (g/l) VGM 78,4 62 – 72 Hemoglobina 112 110 – 190 (g/l) Plaquetas 560 117 – 460 (x 109 /l) Fonte: elaborada pela autora. Tabela 17. Caso clínico 02: cetoacidose, exames complementares Parametro Paciente Valor de referência Albumina 2,7 2,6-4,6 g/dl Proteínas totais 5,9 5,2-8,2 g/gl Glicose 424 70-110mg/dl FA 802 0-212 U/l ALT 53 0-88 U/l Ureia 26,3 6-26 mg/dl Creatinina0,8 0,4-1,6 mg/dl Sódio 113 138-160 mmol/l Potássio 2,6 3,5-5,8 mmol/l Calcio 8,1 7,9-12 mg/dl Fosfato 2,7 2,5-6,8 mg/dl Observação: A amostra estava lipêmica Fonte: elaborada pela autora. 63 URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS | UNIDADE II Tabela 18: Caso clínico cetoacidose, tratamento Tratamento » fluidoterapia EV (Lactato de Ringer + 40 mEq/L de potássio a 39 mL/h), » cefazolina – 20 mg/Kg IV TID (antibioterapia profilática) » maropitant (1 mg/Kg SC SID) » insulina humana regular de ação rápida (IM) a cada hora (dose inicial de 0.2 UI/Kg, seguindo 0.1 UI/Kg/IM nas horas seguintes), » mensuração da glicemia de hora em hora, previamente à administração da insulina Após 13 horas: » desidratação corrigida » glicose 177mg/dl » presença de corpos cetônicos na urina » realizada nova avaliação dos eletrólitos; foi então detectada a correção dos valores de potássio (3.5 mmol/L, LR 3.5-5.8) » alterada a fluidoterapia para NaCl a 0.9% à taxa de manutenção (14 ml/h) » insulina (0.1 UI/Kg) a cada seis horas, SC mensurando glicemia antes. No 3ª dia: » não teve mais náuseas » recuperou o apetite (suspendido maropitant). » no dia seguinte, análogo de insulina com ação intermédia (Lenta – 0.25 UI/Kg SC BID), medindo a glicemia no sangue antes de a cada administração. Nos três dias seguintes » apetite normal » os níveis de glicose foram mantidos entre 144 e 241 mg/dl. Fonte: elaborada pela autora Coma Mixedematoso No organismo dos mamíferos a glândula tireoide é uma das principais que tem como função armazenar iodo para produzir, secretar e armazenar os hormônios triiodotironina (T3) e tiroxina o (T4) que são muito importantes para o organismo dos mamíferos. Segundo, (2002) 90% dos hormônios metabolicamente ativos são secretados pela glândula tireoide. O hipotireoidismo é mais comum em cães jovens entre quatro e oito anos, de médio e grande porte e pode ser primário, secundário ou terciário. » O primário, acontece quando a falha na produção ou secreção acontece na própria glândula tireoide. » no secundário a deficiência da produção hormonal ocorre na glândula pituitária. 64 UNIDADE II | URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS » e no terciário, se dá quando ocorre hipofunção for hipotalâmica. Na maioria das situações o hipotireoidismo costuma ser primário, ou seja, está relacionado a problemas na própria glândula tireoide. Em animais que têm o hipotireoidismo, pode acontecer uma emergência chamada de coma mixedematoso, uma complicação emergencial rara e perigosa, podendo ser fatal. Ela acontece devido à falta do hormônio T3. Essa emergência tem o nome de mixedema porque visualmente apresenta uma característica edematosa na pele devido ao acúmulo de mucopolissacarídeos, ácido hialurônico e água causando a pele espessa, principalmente na região da face, como pode ser visto nas figuras abaixo. Essa emergência é muito observada no cães da raça Doberman com idade entre 2 e 5 anos. Não foi observado predileção por sexo. Figura 35. Pacientes com coma mixedematoso apresentando a “face trágica”. Fonte: Dra. Sabrina dos Santos Costa Poggiani, Rabelo, 2012. Figura 36. Pacientes atendidos em coma mixedematoso com a “face trágica”. Fonte: Dra. Sabrina dos Santos Costa Poggiani, Rabelo, 2012. 65 URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS | UNIDADE II Os sinais clínicos costumam ser bem diversificados, podendo ser simples alterações cutâneas (alopecia endócrina, hiperqueratose, hiperpigmentação e infecções secundárias) ou até mesmo paraplegia dos membros, porém, em algumas situações pode causar o mixedema de face e de pele e evoluir em umas situações para: edema pulmonar, efusão pleural ou abdominal. Nessa síndrome ocorre uma diminuição do no metabolismo celular oxidativo, na calorigênese e na taxa metabólica basal e clinicamente podemos ainda observar: » fraqueza profunda; » hipotermia sem tremores; » edema de pele, face e papo; » hipotensão; » hipoventilação; » bradicardia; » nível de consciência diminuído; » estupor; » coma. Nos exames laboratoriais pode ser observada: » anemia arregenerativa associada a lipemia e hipercolesterolemia (sinais clássicos); » hipoxemia; » hipercarbia; » hipercapnia; » hiponatremia; » hipoglicemia; » hiperlipidemia; » hipercolesterolemia; 66 UNIDADE II | URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS » T4 total e livre costuma estar baixo; » TSH (hormônio estimulador da tireoide) estar alto. Figura 37. Hiperqueratose e hiperpigmentação em Akita com hipotireoidismos. Fonte: Roesler, 2012. 67 URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS | UNIDADE II Figura 38. Cauda de rato em cão com hipotireoidismos Fonte: Roesler, 2012. Figura 39. Assimetria facial devido a paralisia do nervo facial. Fonte: Roesler, 2012 – Felipe Romão 68 UNIDADE II | URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS Figura 40. Alopecia simétrica bilateral com rarefação dos pelos nas regiões das axilas e lateral do flanco e pescoço de um pinscher com hipotireoidismo. Fonte: Karine, 2014. No exames complementares de imagem podemos observar em raio-x: TORAX » edema pulmonar (padrão pulmonar alveolar ou intersticial peri-hilar); » efusão pleural (liquido no espaço pleural); » perda de definição dos bordos cardiacos e diafragmaticos. ABDOMEN » ausência de definição viceral quando existe efusão (porém melhor visto em ultrassom); » ecocardiograma com discreta disfunção ventricular sistólica esquerda (em pacientes com cardiomiopatia dilatada essa disfunção é mais intensa). O diagnóstico diferencial precisamos pesquisar: » Cardiomiopatia dilatada: como relatado nos exames de imagem em situações de cardiopatas são muito mais graves em pacientes com síndrome de coma mixedematoso, e não costuma estar associado a lesões na pele muito encontradas em pacientes com hipotireoidismo. 69 URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS | UNIDADE II » Hipoadrenocorticismo: os sintomas são semelhantes a pacientes comdoença gastrointestinal ou renal. Os exames de laboratório observamos relação sódio e postassio menor que 27. » Cetoacidose diabética: presença de hiperglicemia com glicosuria presente, acidose metabólica e aumento de anion gap, cetonuria. » Encefalopatia hepática: os níveis séricos de ureia costumam estar reduzidos, hiperamonemia (elevado nível da substância amônia na corrente sanguínea), sais biliares aumentados e crustais de urato de amonia também. Quando o paciente chega em crise na clínica temos abordagem primária e secundária como relatado abaixo: ABORDAGEM PRIMÁRIA » caso seja preciso suporte de oxigênio; » se a hipóxia for refratária e a hipercapnia for explícita, encaminhar para suporte ventilatório; » fluidoterapia endovenosa (fazer provas de carga sempre baseado em metas); » definir velocidade de 44 ml/kg/dia com soluções isotônicas que contenham sódio; » em casos de hipoglicemia suplementar a solução com glicose a 50% (concentração final de 2,5% a 5%); » utilizar glicocorticoides nos casos de suspeita de falência adrenal aguda: › dexametasona (0,5 a 1,0 mg/kg/IV); › hidrocortisona (0,5 mg/kg IV) a cada 6 horas por 4 dias, no 5o ao 8o dia a cada 8 horas e no 8o dia até a alta a cada 12 horas. ABORDAGEM SECUNDÁRIA » levotiroxina sódica injetável na dose de 0,022 mg/kg/IV/BID até a melhora do quadro e depois a dose será ajustada individualmente; » antibióticos de amplo espectro nos casos de infecções; 70 UNIDADE II | URGÊNCIAS E CUIDADOS INTENSIVOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS » evitar aquecimento ativo com fluidos ou colchões térmicos, pois eles podem piorar a hipotensão; » aquecimento sempre central, e só depois que a estabilização hemodinâmica estiver completa preocupar-se com o aquecimento periférico. A taxa de mortalidade é muito alta nos casos de mixedema comatoso mas o
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