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Síndrome dolorosa miofascial (SDM) ● condição dolorosa do músculo, fáscias e junções ligamentares, caracterizada pela presença de pontos-gatilho (PG) (pontos de irritabilidade no músculo esquelético) ○ PG: se localizam em bandas tensas musculares e podem estar associados a fenômenos autonômicos, sensitivos e motores + causam dor espontânea em repouso + dor referida quando estimulados ● causas mais comuns: lesão aguda do músculo ou esforço repetitivo Fisiopatologia dos pontos-gatilho ● centro do músculo, onde o nervo motor se divide em muitos ramos → cada ramo se incorpora na superfície da fibra muscular através de uma placa terminal ● cada PG → feixe neurovascular que contém terminações nervosas motoras e fibras aferentes nociceptivas sensitivas dos grupos III e IV ● presença do PG miofascial: patognomônico da SDM ● PG: ponto bem localizado e hiper irritável localizado em uma banda tensa palpável no músculo esquelético ○ compressão: dor local e dor referida + pode agravar a dor já existente ○ grau de irritabilidade (sensibilidade ao estímulo mecânico) está diretamente relacionado com o ● músculo afetado: capacidade de alongamento diminuída + fraqueza muscular em função da dor (normalmente não há atrofia) ○ pode ocorrer: vasoconstrição, piloereção e alteração sudomotora ○ espasmo muscular→ isquemia local→ prejudica a remoção de catabólitos→ perpertua os sintomas ● PG ativo: dor espontânea ou deflagrada pelo movimento associado à dor referida ● PG latente: não ocorre dor espontânea ou dor não é deflagrada nas atividades diárias porém a compressão provoca dor ou desconforto ● unidade básica do PG muscular = locus ativo (onde atividade elétrica espontânea pode ser detectada) + locus sensitivo (área situada nas imediações do locus ativo) ● manutenção das condições patológicas causadoras + falta de tratamento → pode perpetuar os fenômenos eletrofisiológicos + pontos latentes podem ser tornar ativos → dá a impressão de que a dor “muda de lugar” ou “anda” + pode surgir pontos em estruturas adjacentes, principalmente na área de dor referida (pontos satélites) ● compressão abrupta do PG→ contração involuntária rápida da fibra muscular da banda tensa (local twitch response, LTR) ○ LTR→ confirmação de que se estimula o local exato do PG→ infrequente na prática clínica ● trama e estresse anormal→ cálcio intracelular liberado em excesso pelo retículo sarcoplasmático de certas musculares→ encurtamento incontrolável da fibra → contratura local (banda tensa) → ativação dos miofilamentos sem controle neurogênico e atividade elétrica→ aumento do gasto energético ○ encurtamento→ diminuição dos nutrientes e oxigênio para a região ○ círculo vicioso Fatores que provocam a ativação do pontos-gatilho ● trauma: lesão direta/sobrecarga do músculo pelo esforço repetitivo→microtraumas→ causas mais comuns ● ansiedade: ansiosos tendem a manter grupamentos musculares em estado persistente de contração ● isquemia muscular: PG pode surgir quando um músculo se torna isquêmico devido à obstrução arterial ● associada à doença visceral: dor proveniente de doença visceral geralmente é referida na pele e nos músculos→ PG nos músculos onde a dor visceral é referida se tornam ativos ● compressão radicular: compressão de uma raiz nervosa espinhal → frequente encontrar associação de dor miofascial pela presença de PG na musculatura paravertebral ● variação do clima: PG podem ser tornar ativos nas grandes variações de temperatura e umidade ambientes Mecanismos centrais do ponto-gatilho muscular ● pele, músculos ou ossos inervados por nervos provenientes de um segmentos espinhal específico → dermátomo, miótomo e esclerótomo, respectivamente ● persistência de estímulo nociceptivo proveniente do PG ativo → sensibilização progressiva do sistema nociceptivo em vários segmentos espinais e regiões supraespinhal, com expansão dos campos receptivos correspondentes e redução do limiar de dor ● sensibilização propaga-se para o corno anterior da medula → afeta o sistema motor e o sistema simpático no segmento correspondente ● aferência nociceptiva → inibição do sistema homônimo ao músculo lesado → diminuição da aferência ao fuso → necessário + esforço do SNC para ativar a unidade motora→ sensação de diminuição de força ● dor persistente→ geralmente inibe o movimento→ atitude inconsciente de proteção do local afetado ● estímulo nociceptivo periférico constante → alterações neuroplásticas → aumento da hiperexcitabilidade no corno posterior da medula espinhal→ novos PG musculares (satélites) podem surgir na zona de dor referida no PG ● dor musculoesquelética geralmente é acompanhada de hiperalgesia e dor referida Diagnóstico Manifestações clínicas ● início insidioso ou resultar de trauma agudo ● dor pobremente localizada + percebida como profunda, dolorida e em queimação ○ geralmente: restrita a um quadrante do corpo + caracterizada pela presença de de PG miofasciais ○ intensidade diretamente relacionada ao grau de atividade dos PG ● exercício físico geralmente exarcerba os sintomas + diminuição da amplitude de movimento do músculo afetado ● posição de dormir + posicionamento durante o exercício físico→ importante na anamnese pois podem agravar os PG pelo encurtamento dos músculos afetados ● exame sensitivo da região→ alodinia + hiperalgesia + parestesia ○ manobras de pinçamento, rolamento do tecido subcutâneo, testes de sensibilidade da pele → identificar a sensibilização dermatomérica que acompanha SDM ● PG ativos→ lacrimejamento, piloereção, trafoedema, extremidades frias, afeta propriocepção (→ desequilíbrio) ● comum: alteração do sono e humor ● alterações motoras: fraqueza, diminuição de amplitude de movimento e da coordenação + espasmo em outros músculos ● exame físico para identificação dos pontos musculares ○ (1) solicitar ao paciente para apontar a região da dor ○ (2) palpação do músculo com a ponta dos dedos, deslizando-os a fim de encontrar a banda tensa muscular ○ (3) no meio da banda tensa exerce-se pressão com o dedo, em posição perpendicular às fibras musculares, até que o paciente refira a dor que sente normalmente ○ comum: sinal do pulo→movimento de retirada do membro ou região afetada ○ compressão do ponto ou palpação da banda tensa pode provocar LTR → visualizada→ confirmação do local certo para tratamento ● 3 critérios diagnósticos mínimos ○ (1) presença de banda tensa palpável no musculoesquelético ○ (2) presença de ponto hipersensível dentro da banda tensa muscular ○ (3) reprodução da queixa de dor referida com a estimulação do ponto doloroso ● 6 critérios diagnósticos de confirmação ○ (4) presença de LTR com palpação da banda tensa ○ (5) presença do sinal do pulo (paciente tem reação de retirada ao exame dos pontos) ○ (6) paciente reconhece que a sua queixa dolorosa é a mesma reproduzida no exame da palpação do PG ○ (7) dor referida segue padrões de localização previsíveis ○ (8) fraqueza e tensão do músculo ○ (9) dor à contração ou alongamento do músculo afetado ○ (10) exames laboratoriais podem ser úteis na exclusão de doenças sistêmicas que cursam com a dor miofascial (esp. hepatites, hipotireoidismo e doenças reumatológicas) Principais pontos gatilho e sua áreas de dor referida Diagnóstico diferencial ● (1) dor miofascial regional está associada à presença de PG? ● (2) dor miofascial é a causa primária ou existem patologias estruturais coexistentes? ● (3) existe algum distúrbio nutricional, metabólico, psicológico, visceral ou inflamatório coexistente que contribua para a dor miofascial? ● (4) existe dor generalizada que não segue os padrões da SDM? ● quadros dolorosos de difícil tratamento, principalmente aqueles em que as alterações patológicas mostradas em exames de imagem não justificam a intensidade da dor→ considerar sempre o diagnóstico de SDM Tratamento ● objetivos: desativação do PG, reabilitação muscular para aumento da amplitude de movimento e força muscular, e correção dos fatores perpetuantes e etiológicos ● identificaçãode comorbidades Agulhamento seco e infiltração do PG ● boa resposta clínica ● estimulação mecânica do PG: fator mais importante para o alívio da dor miofascial ● contraindicação do agulhamento e injeção: infecção no local da punção, paciente portador de coagulopatias ou fizer uso de anticoagulantes e apresentar alergia à substância a ser administrada ● complicações: síncope vasovagal, infecção, pneumotórax, hematomas, dolorimento e quebra da agulha Toxina botulínica (TB) ● eficaz no tratamento de patologias que cursam com o aumento do tônus muscular ● perifericamente: impede a liberação de acetilcolina (induz contração muscular) pelo axônio pré-sináptico ● efeito máximo: cursa com paralisia do química do músculo após 2-6 semanas e se reduz gradualmente ● central: reduz o processo de inflamação neurogênica através da liberação de substância P → redução do wind-up ou memória da dor→ controle da sensibilização neuronal envolvida no processo de manutenção e cronificação da dor Terapias não invasivas ● fisioterapia ● massagem, shiatsu, acupressão→ aplicação de compressão mecânica do PG Relaxantes musculares orais de ação central (espasmolíticos) ● não constituem uma classe farmacológica específica ● utilizados para tratamento da espasticidade Tizanidina ● agonista dos receptores alfa-2-adrenérgicos: reduz a espasticidade em doses que provocam menos hipotensão que a clonidina ● inibição pré e pró-sináptica na medula espinhal ● efeito analgésico por inibirem a transmissão nociceptiva no corno dorsal pela supressão da excitação polissináptica dos interneurônios medulares→ previne liberação de aminoácidos excitatórios ● metabolizado no fígado ● excretado: 60% pelos rins e 20% nas fezes ● duração de ação: 3-6 horas ● meia-vida de eliminação: em 2 horas ● geralmente: titula-se a dose durante 4 semanas, iniciando com 2-4 mg à noite, podendo chegar a 8 mg 3x/dia ● efeito adverso comum: sonolência ○ outros: sonolência diurna, hipotensão, xerostomia, sensação de fraqueza, palpitação, náusea e tonteira ○ pode ocorrer elevação das enzimas hepáticas Ciclobenzaprina ● eficaz para tratamento de lombalgia e dor cervical ● provavelmente o relaxante muscular mais utilizado para o tratamento da dor muscular não relacionado à espasticidade ● empregada nos distúrbios do sono na fibromialgia ● atua no tronco cerebral ● inibe o reflexo monossináptico medular via sistema serotoninérgico descendente por meio dos receptores 5HT2 medulares ● metabolizada no fígado e excretada no rim ● meia-vida: 18h ● pode acumular por 4 dias quando administrada a cada 8h ● uso: 5-10 mg de 8h/8h ○ insuficiência hepática/renal; administrada 1x/dia ● efeitos colaterais mais comuns: sonolência, xerostomia, fadiga, cefaleia ○ infrequentes: diarreia, tonteira, dor abdominal, visão turva e confusão mental ● contraindicado: uso associado aos inibidores da monoaminoxidase (pode acarretar hipotermia e morte) Orfenadrina ● derivada da difenidramina (anti-histaminérgica) ● ação relaxante muscular com atividade supraespinhal ● capaz de prevenir a neurotoxicidade mediada pela ativação dos receptores ionotrópicos de glutamato ● metabolismo hepático ● inibe a própria eliminação quando administrada em múltiplas doses ● eliminação: renal (70%) + fecal ● meia-vida: 14h ● duração de ação: 4-6h ● dose oral diária: 5-100 mg, devendo ser dividida em 2-3 tomadas ● efeitos adversos: xerostomia, náusea, constipação, taquicardia, retenção urinária, visão turva ● contraindicação: paciente com glaucoma, hipertrofia prostática, síndrome pilórica e deve ser usada com cautela no idoso ● efeitos colaterais: sonolência, tonteira, agitação, euforia e alucinações Carisoprodol ● ação relaxante muscular pela depressão da atividade interneuronal e nos tratos descendentes da formação reticular ● diminuição do reflexo possináptico ou ação sedativa, que relaxa indiretamente o músculo pela redução da ansiedade ● metabolizada no fígado→ precaução no uso em pacientes com histórico de abuso ou dependência química ● dose: 350 mg de 6h/6h ● duração de ação: 4-6h ● excreção: renal ● meia-vida de eliminação: 48h ou + no uso crônico→ letargia e hipotensão arterial ● efeitos adversos: ataxia, agitação, insônia, taquicardia, hipotensão postural, náusea, eosinofilia e eritema multiforme Tiocolchicosídeo ● ação analgésica, relaxante muscular, anti-inflamatória e anestésica local ● atua nos centros superiores e no corno posterior da medula espinhal, interagindo com o receptor GABA A e com receptores glicina estriquinina sensível ● uso deve ser evitado em pacientes epiléticos ou com lesão cerebral aguda ● pico plasmático: em 30min-1h (rápida absorção) ● meia-vida: 2-6h ● dose oral: 4 mg em uma única tomada (máx 16mg/dia) ● em criança: 4-12 mg/dia ● excitação, ansiedade, insônia e diarreia podem ocorrer Reposição vitamínica e orientação nutricional ● deficiências de tiamina (B1), piridoxina (B6), cobalamina (B12), ácido fólico e ácido ascórbico (vit. C): perpertuação da dor miofascial ● acompanhamento nutricional é necessário Patch de lidocaína ● patch de lidocaína a 5% ● bloqueio de canais de sódio expressados na membrana neuronal→ inibe a transmissão do estímulo doloroso SDM nas diversas condições dolorosas ● fibromialgia: pode iniciar e perpetuar a condição álgica nos pacientes com fibromialgia ○ 70% dos pacientes com fibromialgia apresentam PG ● síndrome dolorosa complexa regional ● dor pós-mastectomia ● cistite intersticial ● ombro doloroso Diagnóstico por imagem do distúrbio miofascial ● padrão ouro do diagnóstico da SMF: EF com palpação de PG associados a bandas musculares tensas USG ● guia do agulhamento USG elastográfica ● usa pulsos acústicos de curta duração para produzir deslocamento do som no tecido examinado (ondas de cisalhamento; velocidade mais rápida em tecidos endurecidos ● índice de heterogeneidade proporcional de rigidez entre o PG e a musculatura adjacente
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