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RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE - TUTORIA SP 3.4 – FALTA TEMPO...! – DISPEPSIA MÓDULO DE GASTRO 1. CITAR AS CAUSAS DA SÍNDROME DISPEPTICA Os sintomas digestivos altos são denominados dispépticos. A palavra dispepsia se origina do grego e significa alteração (dis) da digestão (pepsis). O termo dispepsia, ao longo do tempo, tem causado muita confusão entre os médicos e, por outro lado, poucos pacientes dirigem-se ao médico dizendo serem portadores desse sintoma. Considera-se a dispepsia um conjunto de sintomas induzidos pela ingestão de alimentos e que são expressos em regiões que correspondem ao epigástrio expandido até, aproximadamente, o umbigo. A dispepsia consiste em um grupo heterogêneo de sintomas persistentes ou recorrentes, localizados na região superior do abdome (epigástrio). → Dispepsia orgânica: os sintomas dispépticos podem estar associados a uma doença digestiva específica (p. ex., úlcera péptica, neoplasia gástrica, parasitoses intestinais, dentre outras), classificada como orgânica. → Dispepsia funcional: contudo, a maioria dos pacientes com queixas dispépticas crônicas que se submetem a investigações laboratoriais, endoscópicas e ultrassonográficas não apresenta qualquer alteração que justifique os sintomas – são, portanto, considerados portadores de dispepsia funcional, um dos distúrbios gastrointestinais funcionais mais frequentes da prática clínica É muito importante que se faça o diagnóstico diferencial entre dispepsia orgânica e funcional para o que deve ser considerado: • tempo de doença • idade do paciente • antecedentes de câncer gástrico na família • presença de sintoma ou sinais de alarme (perdas de sangue, anemia, inexplicável perda de peso, hipertrofias ganglionares, massas palpáveis e outras evidências de doença orgânica). ____________________________________________ EPIDEMIOLOGIA Relata-se que cerca de 20 a 40% da população geral apresenta alguma queixa dispéptica (as cifras mais altas correspondem a estudos que incluíram também o sintoma de pirose); entretanto, somente 30% desses indivíduos procuram assistência médica. A dispepsia constitui a causa de 3 a 5% das consultas ambulatoriais de clínica geral, em um centro de atenção primária, e de 20 a 40% das consultas em gastroenterologia. Os sintomas dispépticos podem surgir em qualquer idade e são mais prevalentes no sexo feminino. A intensidade da dor e/ou do desconforto e a ansiedade (incluindo o medo de doenças mais graves) constituem os principais motivos de procura ao clínico e ao gastroenterologista. ____________________________________________ QUADRO CLÍNICO Os sinais e sintomas apresentados em pacientes portadores de doenças do estômago compõem um espectro variado de diagnósticos diferenciais, desde doenças do próprio trato gastrointestinal até aquelas originadas em diferentes órgãos e sistemas. A dispepsia é a principal expressão clínica do grupo de doenças que acometem o estômago e seus diagnósticos diferenciais. Dois são os tipos de sintomas dispépticos: a dor e os pós-prandiais. • Plenitude pós-prandial - sensação desagradável de prolongada permanência do alimento no estômago após uma refeição; • Saciedade precoce - sensação de que o estômago é preenchido rapidamente, em desproporção ao volume de alimento ingerido, com o desaparecimento do apetite, impedindo o término da refeição; • Empachamento pós pradial - sensação de que o estômago está inchado, empanturrado ou distendido na ausência de uma distensão visível, náuseas, vômitos e eructações. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE - TUTORIA • Queimação epigástrica, sensação de calor na região epigástrica. • Dor epigástrica, sensação subjetiva e desagradável no epigástrio O Consenso de Roma IV não considera pirose um sintoma dispéptico, por não ser um sintoma originário da região gastroduodenal, porém, na prática clínica, é frequente a coexistência de pirose com sintomas dispépticos. A sobreposição dos diagnósticos de doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) e síndrome do intestino irritável é muito comum e, portanto, essas condições, quando presentes, não excluem o diagnóstico de dispepsia funcional. ____________________________________________ DISPESIA ORGÂNICA As causas orgânicas mais importantes de sintomas dispépticos são: • Úlcera péptica • DRGE • Neoplasias do trato gastrointestinal superior (menos comuns); • Doença celíaca são causas (menos comuns). Na história clínica é importante o questionamento dos sinais e sintomas de alarme que, se presentes, sugerem uma causa orgânica para as queixas dispépticas e modificam a conduta, ocasionando uma abordagem mais rápida e invasiva desde o início (endoscopia digestiva). No entanto, existem evidências de que os sinais de alarme apresentam baixa prevalência na população de risco, não são comuns na prática diária e podem ter baixo valor preditivo positivo para doenças orgânicas. A idade é considerada um sinal de alarme independente, pois o câncer gástrico é raro antes dos 45 anos, e sua prevalência aumenta com a idade. A disfagia é mais comum nas doenças esofágicas, mas também pode ocorrer em pacientes com neoplasias gástricas mais proximais (cárdia). O sintoma mais comum do câncer gástrico é a perda de peso, presente em 60 a 70% dos pacientes no momento do diagnóstico, lembrando, porém, de que não existe especificação na literatura sobre a quantidade de peso perdida que deve ser considerada sinal de alarme. Anemia e sangramento digestivo podem ocorrer nas úlceras pépticas e nos casos mais avançados de câncer. Náuseas e vômitos podem estar presentes em cânceres avançados com obstrução pilórica. ------------------------------------------------------------------------ Entre as causas orgânicas dos sintomas dispépticos, as gastrites e as gastropatias são os achados mais encontrados durante a realização da endoscopia digestiva, sendo sua principal causa a infecção por H. pylori. A apresentação clínica da gastrite associada a H. pylori é variável, desde a ausência de sintomas até quadros dispépticos, com queixas de náuseas, vômitos, azia e desconforto leve na região abdominal superior, especialmente na fase aguda. Outros agentes infecciosos podem causar gastrite, tais como: Helicobacter heilmannii, citomegalovírus, herpes vírus, bacilo de Koch, Treponema pallidum, fungos e protozoários em imunossuprimidos. Causas não infecciosas incluem: gastrite actínica, gastrite hipertrófca, doença de Crohn, gastrite linfocítica e autoimune. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE - TUTORIA As gastropatias podem estar relacionadas à utilização de medicamentos, em especial, anti-infamatórios (mesmo os COX2 seletivos), ao refluxo alcalino (secundária ao refluxo de bile para o estômago) e ao consumo de bebidas alcoólicas. ------------------------------------------------------------------------ Com a evolução do processo de lesão da mucosa gástrica, pode ocorrer a formação de úlceras, que normalmente estão associadas a etiologia péptica, infecção por H. pylori e uso de AINEs. A doença ulcerosa péptica inclui as úlceras gástricas e duodenais. A apresentação clínica pode ser aguda, como nos casos de hemorragia, perfuração e sangramento, mas geralmente a queixa mais comum é a de dor epigástrica crônica, que pode ser descrita como queimação, sensação de roer ou vazio ou “dor de fome”. Outras queixas, como náuseas, saciedade precoce, empachamento pós-prandial e eructações, podem fazer parte da apresentação clínica. • A dor na úlcera duodenal classicamente ocorre de 1 a 3 horas após a refeição e pode melhorar com alimentos ou antiácidos. Os pacientes podem se queixar de dor e despertar durante a madrugada (clocking). • Nos pacientescom úlcera gástrica, a dor é agravada pelos alimentos e pode ser acompanhada por náuseas e perda de peso. Entre as complicações das úlceras temos: sangramento, que pode causar melena (fezes pretas como borra de café), hematêmese (vômitos com sangue) e até repercussão hemodinâmica com taquicardia e hipotensão. ------------------------------------------------------------------------ O câncer gástrico é uma causa infrequente de dispepsia, via de regra responsável por apenas 1 a 2% dos casos de dispepsia. Mesmo no Japão (país de maior prevalência da doença), e mesmo considerando a faixa etária de maior incidência, essa doença não ultrapassa 5% dos casos de dispepsia. No entanto, o seu diagnóstico é considerado na abordagem inicial dos quadros dispépticos por pelo menos dois motivos: o primeiro deles refere-se à possibilidade do diagnóstico de um câncer precoce (menos de 15% dos casos de câncer diagnosticados como dispepsia a esclarecer), estágio no qual o tratamento pode apresentar expressiva diferença prognóstica quando comparado aos cânceres gástricos avançados e, em segundo lugar, o medo que essa hipótese diagnóstica costuma representar para o paciente e principalmente para seus familiares. Nos Estados Unidos (país com baixa prevalência de câncer gástrico), um estudo mostrou que, de 341 pacientes com câncer gástrico, somente 5 pacientes (7,7%) não apresentavam sinais de alarme (1,5% do total dos pacientes). São considerados fatores de risco: pacientes idosos com dispepsia de início recente, sinais de alarme (principalmente perda de peso e anorexia) e história familiar para a doença. ------------------------------------------------------------------------ O Quadro mostra as possíveis causas de dispepsia orgânica: 2. ESTUDAR SOBRE A DISPEPSIA FUNCIONAL A DISPEPSIA FUNCIONAL é a presença de sintomas dispépticos crônicos na ausência de doenças que os RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE - TUTORIA justifiquem, como gastrite e úlcera. Também é preciso que a infecção pela Helicobacter pylori tenha sido descartada antes de considerar funcional a dispepsia. A DF é considerada um problema sanitário e socioeconômico de grande relevância, tanto por sua alta prevalência como por seu caráter crônico e ausência de tratamento satisfatório. Além disso, a despeito de sua evolução benigna, a sintomatologia recidivante afeta de forma significativa a qualidade de vida dos pacientes, o que reflete diretamente em suas relações pessoais, sociais e laborais ____________________________________________ PATOGENIA Esse tipo de dispepsia ocorre por desajuste na percepção dos estímulos dolorosos no trato gastrointestinal, quadro conhecido como hipersensibilidade visceral. A produção maior de ácido ou a simples distensão da musculatura gástrica estimulam os receptores de dor, que enviam sinais superdimensionados para o sistema nervoso central. Como resultado, o paciente tem maior percepção de dor ou desconforto abdominal. É muito comum a dispepsia funcional estar associada a outros transtornos funcionais do tubo digestivo, como a síndrome do cólon irritável, por exemplo. Vários fatores podem deflagrar essa síndrome, principalmente os emocionais (ansiedade, estresse, depressão) e infecciosos (gastroenterite), a intoxicação alimentar ou os medicamentos (múltiplos antibióticos ou anti-inflamatórios) que funcionariam como “gatilhos” dessa hipersensibilidade visceral. ------------------------------------------------------------------------ Os critérios dessa doença são descritos pelo consenso internacional Roma IV (2016). Veja a seguir: Critérios diagnósticos da dispepsia funcional segundo o ROMA IV (2016) Um ou mais dos seguintes sintomas, presentes nos últimos 3 meses e iniciados, no mínimo, há 6 meses: • Dor, queimação ou desconforto epigástrico • Plenitude pós-prandial • Saciedade precoce Para uma melhor orientação propedêutica e terapêutica, esse consenso sugere que os pacientes com DF sejam classificados em duas síndromes, de acordo com o sintoma principal: → Síndrome do desconforto pós-prandial: predominam os sintomas de empachamento pós-prandial e/ou saciedade precoce, que tenha ocorrido várias vezes por semana nos últimos três meses. → Síndrome da dor epigástrica: predomina dor ou queimação epigástrica, moderada a intensa, intermitente, ocorrendo, no mínimo, uma vez por semana, nos últimos três meses. ------------------------------------------------------------------------ Síndrome do desconforto pós-prandial: É fundamental a presença de pelo menos um dos critérios a seguir: • Empachamento pós-prandial, que tenha ocorrido várias vezes por semana nos últimos três meses • Saciedade precoce, que tenha ocorrido várias vezes por semana nos últimos três meses. Outros sintomas que, quando presentes, reforçam o diagnóstico são: distensão do abdome superior, náuseas pós-prandial e eructações. Pode coexistir síndrome da dor epigástrica. ------------------------------------------------------------------------ Síndrome da dor epigástrica: É fundamental a presença de todos os critérios a seguir: • Dor ou queimação localizada no epigástrio, pelo menos moderada, e que tenha ocorrido, no mínimo, uma vez por semana, nos últimos três meses. • Dor intermitente, não generalizada ou localizada em outras regiões do abdome ou tórax. • Dor não aliviada pela defecação ou eliminação de fatos. • As características da dor não preenchem critérios para o diagnóstico dos distúrbios RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE - TUTORIA funcionais da vesícula biliar ou esfíncter de Oddi. Outros sintomas que, quando presentes, reforçam o diagnóstico: • A dor pode ter características de queimação, mas sem irradiação retroesternal (excluindo pirose). • A dor é usualmente induzida ou aliviada pela alimentação, podendo, porém, ocorrer em jejum. ____________________________________________ DIAGNÓSTICO O diagnóstico é fundamentalmente clínico e baseia-se nos Critérios Roma IV. Não é necessário realizar uma propedêutica extensa, especialmente em pacientes com sintomas típicos e que não apresentam sinais de alarme (emagrecimento, vômitos recorrentes, disfagia progressiva, presença de sangramento, icterícia). A presença de sinais e sintomas de alarme implica a continuidade da propedêutica. Dessa forma, os exames complementares devem ser realizados de forma individualizada e, em alguns casos, pode ser realizado um teste terapêutico antes de se iniciar a propedêutica. 1. Dispepsia crônica (> 4 semanas) em pessoas que residem em áreas de alta prevalência de H. pylori. Essa bactéria pode ser investigada por método não invasivo, sendo erradicada se o teste for positivo. É o que chamamos de estratégia “teste e trate”. O principal método diagnóstico usado é o teste respiratório da ureia marcada com carbono 13 ou 14. 2. Pacientes com quaisquer sinais de alarme, como emagrecimento, anemia, suspeita de sangramento digestivo, disfagia, impactação alimentar e vômitos cíclicos, devem ser investigados, obrigatoriamente, com endoscopia digestiva alta. 3. Dispepsia crônica em pacientes acima dos 45 anos também exige investigação com endoscopia digestiva alta. Fora esses casos, o exame endoscópico somente é indicado para aqueles que persistirem sintomáticos após o tratamento de erradicação. **As biopsias devem ser feitas rotineiramente durante o procedimento endoscópico, visando, também, a detectar o H. pylori. **Em pacientes jovens e sem sinais de alarme, testes não invasivos para pesquisa do H. pylori (teste respiratório, antígeno fecal ou sorologia), quando disponíveis, podem ser solicitados e, nos casos positivos, recomenda-se realizar o tratamento de erradicaçãodo microrganismo (estratégia testar e tratar). **Os exames parasitológicos de fezes devem ser solicitados de forma seriada (no mínimo três amostras) e é fundamental a realização das técnicas de concentração das larvas (Baermann modificado por Moraes e suas variações) e o exame direto das fezes, especialmente para a pesquisa de giardíase e estrongiloidíase. **A ultrassonografia deve ser feita quando houver suspeita de doença pancreática, hepática ou de via biliar. **Testes para avaliação do tempo de esvaziamento gástrico podem ser realizados por meio da cintilografia, do teste respiratório com ácido octanoico ou da ultrassonografia e estão indicados na hipótese de existir um importante distúrbio do esvaziamento gástrico ou mesmo gastroparesia. **Recomenda-se, ainda, realizar testes para excluir doença celíaca e intolerâncias alimentares (principalmente lactose e frutose) nos casos em que houver suspeita clínica. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE - TUTORIA É também essencial avaliar a presença de cofatores psicológicos, ambientais e dietéticos e o uso de medicamentos que possam ocasionar ou agravar a sintomatologia dispéptica. ____________________________________________ TRATAMENTO Medidas gerais Uma parcela considerável dos pacientes obtém alívio dos seus sintomas com simples mudanças em seu estilo de vida e com a adoção de hábitos salutares em seu cotidiano: alimentação adequada, reduzir gorduras, frituras e condimentados, aumentar fibras e fracionar as refeições, praticar atividade física regularmente e melhorar a qualidade do sono. Embora alguns pacientes relacionem a piora dos seus sintomas com a ingestão de determinados alimentos, nenhuma dieta específica está indicada. Os alimentos que agravam o quadro obviamente devem ser evitados. Os fatores psicológicos devem ser sempre abordados, e é essencial esclarecer ao paciente a possível correlação dos seus sintomas com ansiedade, depressão e estresse. O tratamento psicoterápico tem se mostrado eficaz em um subgrupo de pacientes. Medicamentoso Vários medicamentos são utilizados para o tratamento dos pacientes dispépticos crônicos, destacando-se: antissecretores, procinéticos, antibióticos para erradicação do H. pylori e antidepressivos. Terapia prolongada com IBP (8 a 12 semanas), podendo-se associar procinéticos (domperidona, metaclopramida) se houver predomínio de sintomas de retardo do esvaziamento gástrico, como plenitude ou empachamento. Avaliação da saúde mental (psiquiatra), associar antidepressivos tricíclicos (amitriptilina, nortriptilina) ou inibidores da recaptação de serotonina (escitalopram, sertralina, fluoxetina). 3. ENTENDER A ULCERA PEPTICA. Úlcera é uma solução de continuidade profunda do epitélio gástrico, mucosa gastrointestinal, secundárias ao efeito corrosivo do ácido clorídrico (HCl) e da pepsina, capaz de expor o tecido conjuntivo (submucosa), podendo também alcançar a camada muscular ou até perfurar toda a parede. Lesões mais superficiais são definidas como erosões, não atingem a camada submucosa e, portanto, não deixam cicatrizes. O epitélio gástrico é revestido por uma camada protetora formada por muco, bicarbonato e fosfolipídios, o que “defende” a mucosa do efeito lesivo do ácido clorídrico, da pepsina e de tantas outras substâncias. A formação desse muco depende da integridade das células epiteliais, da vascularização submucosa e da produção adequada das PROSTAGLANDINAS CONSTITUTIVAS, substâncias essenciais para manter a regeneração epitelial e a vascularização submucosa e diminuir o estresse oxidativo sobre a mucosa. As úlceras pépticas podem se desenvolver em qualquer porção do trato digestório exposta à secreção cloridropéptica em concentração e duração suficientes. No entanto, o termo “doença ulcerosa péptica” geralmente é empregado para descrever ulcerações do estômago, duodeno ou ambos. A identificação e o isolamento do Helicobacter pylori (H. pylori) há pouco mais de três décadas representou significativo avanço na compreensão, no diagnóstico e no tratamento da doença ulcerosa péptica. Atualmente, obtém-se a cura na imensa maioria dos pacientes, contudo, novos desafios impõem-se, como descobrir qual a proposta ideal de erradicação do H. pylori. ____________________________________________ EPIDEMIOLOGIA A prevalência de úlcera péptica é variável nas diferentes regiões do mundo. As úlceras duodenais predominam em populações ocidentais, enquanto as úlceras gástricas são mais frequentes na Ásia, em especial, no Japão. Apesar da redução na incidência de doença ulcerosa péptica em países ocidentais ao longo do século passado, estima-se que cerca de 500 mil novos casos e 4 milhões recidivas ocorrem a cada ano nos Estados Unidos. A úlcera duodenal é a forma predominante de doença ulcerosa péptica, cinco vezes mais frequente do que a RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE - TUTORIA úlcera gástrica, em 95% dos casos localiza-se na primeira porção do duodeno e incide na faixa etária de 30 a 55 anos de idade. A localização mais frequente da úlcera péptica do estômago é na região de antro gástrico (80% na pequena curvatura), no epitélio gástrico não secretor de ácido, geralmente próximo à transição para o epitélio secretor localizado no corpo do estômago, em indivíduos entre 50 e 70 anos de idade. De modo geral, as úlceras são mais frequentes no sexo masculino (1,5 a 3 vezes). A H. pylori é a principal etiologia da úlcera péptica, sendo responsável por 60 a 70% das úlceras gástricas e até 95% das úlceras duodenais. Após sua erradicação adequada, a recidiva da úlcera é rara. O declínio na prevalência de úlcera péptica observado no século XX tem sido atribuído à redução das taxas de infecção pelo H. pylori, resultado da melhora dos padrões de higiene e condições sanitárias urbanas. Embora o baixo nível socioeconômico e suas consequências estejam relacionados à infecção pelo H. pylori, a baixa incidência de úlcera gastroduodenal em alguns países com elevada prevalência de infecção pela bactéria, indica a existência de outros fatores associados à úlcera péptica, como características intrínsecas de virulência e toxicidade das cepas do H. pylori. ____________________________________________ ETIOPATOGENIA Para haver úlcera péptica, é necessário que haja o aumento dos fatores lesivos à mucosa (essencialmente o ácido clorídrico) ou a diminuição dos mecanismos de defesa, deixando o epitélio exposto à ação lesiva do próprio ácido. As duas principais etiologias da DUP são a infecção crônica pela Helicobacter pylori e o uso de anti- inflamatórios não esteroides (AINEs), que devem atuar em pelo menos um desses mecanismos para provocar lesão. → Helicobacter pylori pode causar úlcera péptica tanto com hipercloridria (quando coloniza inicialmente o antro, gerando uma hiperplasia de células G e hipergastrinemia) quanto com normo ou hipocloridria (quando se espalha por todo o estômago, causando uma pangastrite atrófica que destrói as glândulas e consome o muco protetor do epitélio, havendo úlcera mesmo com baixa produção de ácido). → Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) são inibidores da via enzimática das ciclo- oxigenases (COX). A COX-1 dá origem às prostaglandinas constitutivas, que participam da síntese do muco protetor do epitélio gástrico, enquanto a COX-2 origina as prostaglandinas inflamatórias. A maioria dos AINEs são não seletivos, inibindo tanto a COX-2 quanto a COX-1, comprometendo com isso a produção do muco protetor gástrico. Podemos citar como exemplos o ibuprofeno, cetoprofeno, naproxeno, diclofenaco, meloxicam, tenoxicam e cetorolaco. O uso dessas drogas é a segunda causa mais comum de úlcera péptica, especialmente em pacientes idososcom idade mais avançada, com múltiplas comorbidades, que fazem uso combinado de antiagregantes e anticoagulantes, que já tenham passado de úlcera péptica ou infecção pelo H. pylori. Nessa população, há discreto predomínio da úlcera gástrica sobre a duodenal. ------------------------------------------------------------------------ Existem ainda outras etiologias especiais de úlcera péptica que, embora sejam bem menos comuns, merecem atenção, pois entram no diagnóstico diferencial em diversas patologias: • Síndrome de Zollinger-Ellison: caracteriza-se por múltiplas úlceras no estômago, no duodeno e às vezes até no esôfago, em razão de um tumor neuroendócrino produtor de gastrina (gastrinoma). A gastrina estimula a hipercloridria pelas células parietais, levando à formação de múltiplas úlceras refratárias ao tratamento com IBP, dor abdominal e, eventualmente, diarreia secretória. A investigação começa pela dosagem da gastrina, que costuma estar > 1.000 pg/mL. Valores inconclusivos indicam a realização do teste da secretina, que, após ser infundida no paciente, eleva bastante os níveis da gastrina, aumentando a suspeita do gastrinoma. A seguir, o tumor deverá ser localizado por um exame de imagem (cintilografia com infusão de octreotide radiomarcado – Octreoscan®) e removido por tratamento cirúrgico. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE - TUTORIA • Úlceras de estresse: ocorrem em pacientes que sofreram lesão aguda do sistema nervoso central (trauma ou AVC hemorrágico), politraumatizados, grandes queimados e paciente com instabilidade hemodinâmica grave. A úlcera forma-se por redução abrupta de fatores de proteção à mucosa gástrica em razão da hipoperfusão e da diminuição das prostaglandinas constitutivas. No caso do trauma ao SNC, há ainda a hipercloridria em razão do grande estímulo vagal (liberação de acetilcolina estimula a produção de ácido clorídrico no estômago). Pacientes com ventilação mecânica prolongada (> 48 horas) e discrasia têm risco aumentado de hemorragia por úlceras de estresse, havendo recomendação para profilaxia com inibidores da bomba de prótons. Há 2 importantes epônimos da úlcera de estresse: • Úlceras de estresse em pacientes com trauma do SNC: Úlceras de Cushing. • Quando ocorrem em grandes queimados: Úlceras de Curling. ____________________________________________ QUADRO CLÍNICO Os sintomas referidos pelos pacientes não permitem diferenciar úlcera duodenal (UD) e úlcera gástrica (UG) e, algumas vezes, são muito discretos, atípicos ou ausentes. Quando presente, a dor é habitualmente pouco intensa, em queimação, localizada no epigástrio, circunscrita e descrita como “dor de fome, queimadura ou desconforto na boca do estômago”. A dor mantém- se por semanas, de forma rítmica. A ritmicidade é relação íntima da dor com a alimentação: a melhora da dor com a ingestão de alimentos é relativamente frequente nos portadores de UD (chamada de dor em três tempos: dói-come-passa), ao passo que, em portadores de UG, a ingestão de alimentos às vezes piora ou desencadeia o sintoma (dor em quatro tempos: dói-come-passa-dói). A úlcera gástrica costuma piorar a dor quando o paciente se alimenta; já a úlcera duodenal piora após o jejum prolongado, especialmente de madrugada, acordando o paciente (sintoma conhecido como clocking). Outra característica da dor da úlcera péptica é a periodicidade: períodos de acalmia (desaparecimento da dor por meses ou mesmo anos) intercalados por outros sintomáticos. O fato de o paciente ser despertado pela dor no meio da noite (clocking) é sugestivo da presença de úlcera, particularmente, duodenal. A pirose ou azia é comum nos pacientes com UD, em virtude da associação da UD com refluxo gastroesofágico. Outros sintomas dispépticos, como eructação, flatulência, sialorreia, náuseas e vômitos, não são próprios da úlcera péptica, mas podem estar associados. O exame físico nada acrescenta, a não ser nos casos de complicações, como hemorragia, estenose ou perfuração. ____________________________________________ DIAGNÓSTICO ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA Atualmente, o padrão-ouro para o diagnóstico das ulcerações pépticas é o exame de endoscopia digestiva alta (EDA). Trata-se de um método seguro, sensível e específico para a detecção de lesões ulcerosas no trato gastrointestinal. Tem a vantagem de documentar a lesão por meio de fotografas ou vídeos, o que possibilita revisões posteriores e por diferentes examinadores em tempos distintos. Além disso, pode-se fazer a pesquisa de Helicobacter pylori e coletar biópsias, confirmando o diagnóstico por meio da histologia. A desvantagem deve-se ao fato de ser invasivo, necessitando de sedação para melhorar a aceitação do paciente. Entretanto, as informações providas pelo exame que, frequentemente, influenciam o manejo clínico do paciente compensam a desvantagem. Habitualmente, ao diagnosticar uma úlcera no trato gastrointestinal, várias características devem ser avaliadas. Descrevem-se minuciosamente as características da úlcera, como localização, forma, margens, base, mucosa adjacente, características das pregas da periferia da lesão, tamanho, número de lesões e ciclo evolutivo da lesão. Endoscopicamente, as RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE - TUTORIA úlceras são vistas como lesões escavadas com base ou fundo esbranquiçado. As bordas das úlceras benignas são regulares e delgadas, e as pregas ao seu redor são proeminentes, mas convergem regularmente para o nicho ulceroso. ____________________________________________ Exame histopatológico Durante o exame endoscópico, a realização de biópsias para obtenção de material para exame histopatológico contribui não só para estabelecer o diagnóstico da úlcera, como também determina a sua natureza e permite a definição da etiologia. A retirada de fragmentos de biópsias nos bordos das úlceras gástricas e de antro e corpo para a pesquisa do H. pylori influencia decisivamente no manejo clínico do paciente. ____________________________________________ Gastrina Nos pacientes que apresentam quadro clínico atípico, por exemplo, múltiplas úlceras gastroduodenais, úlceras refratárias, recorrentes ou localizadas em segunda porção duodenal e não associadas a H. pylori ou AINE, úlceras recorrentes pós-operatórias, associação com diarreia ou cálculo renal e história pessoal ou familiar de tumor de hipófise ou paratireoide, justifica-se a pesquisa de gastrinoma (síndrome de Zollinger Ellison). O teste mais sensível e específico para diagnosticar gastrinoma é a demonstração de gastrina sérica elevada.A concentração sérica de gastrina em jejum acima de 1.000 pg/mL e a hipersecreção gástrica de ácido têm estabelecido o diagnóstico de gastrinoma. ____________________________________________ TRATAMENTO O tratamento da úlcera péptica, seja ela gástrica ou duodenal, tem como objetivos: alívio dos sintomas, cicatrização das lesões e prevenção de recidivas e complicações, não basta cicatrizar a úlcera, mas há necessidade de erradicar a bactéria para evitar a recidiva. DIETA E FUMO: Quanto à alimentação e à dieta, nem o tipo, nem a consistência da dieta afetam a cicatrização da úlcera, mas é conhecido que alguns alimentos aumentam e/ ou estimulam a produção de ácido clorídrico e que outros são irritantes à mucosa gástrica. É importante recomendar aos pacientes que evitem alguns alimentos, assim como que parem de fumar, pois o fumo pode alterar o tempo de cicatrização da úlcera MEDICAÇÃO: As medicações que promovem a cicatrização da úlcera agem por dois mecanismos: fortalecendo os componentes que mantêm a integridade da mucosa gastroduodenal (pró-secretores) e diminuindo a ação cloridropéptica (antissecretores). Os pró-secretores atuam estimulandoos fatores responsáveis pela integridade da mucosa, como muco, bicarbonato, fatores surfactantes, além de favorecer a replicação celular e o fluxo sanguíneo da mucosa. São considerados pró-secretores: antiácidos, sucralfato, sais de bismuto coloidal e prostaglandinas, mas, na prática são pouco utilizados. A base do tratamento clínico são os IBPs, pois geram alívio sintomático e cicatrização da mucosa em mais de 95% das vezes. Como adjuvantes, existem os citoprotetores, como sucralfato (gel viscoso que adere ao fundo da úlcera, estimulando secreção de bicarbonato e prostaglandinas), e o misoprostol (prostaglandina sintética), que deve ser evitado em mulheres, pois estimula a atividade uterina. Outros adjuvantes são os antiácidos (bicarbonato de sódio, hidróxido de alumínio), que fazem alívio sintomático transitório. Os bloqueadores H2 (cimetidina, famotidina, ranitidina) também podem ser usados, mas têm eficácia inferior aos IBPs no alívio sintomático e na cicatrização. 4. DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA H. PYLORI Helicobacter pylori é um bastonete gram-negativo, espiralado (helicoidal), flagelado (4 a 6 flagelos) e microaerofílico, o que significa que precisa de baixíssimas concentrações de oxigênio para sobreviver. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE - TUTORIA O estômago humano reúne as condições ideais de adaptação para esse patógeno, sendo considerado seu único reservatório. O H. pylori não sobrevive fora do epitélio gástrico e só está presente em outros órgãos se houver metaplasia gástrica (surgimento de epitélio gástrico fora do estômago), a exemplo do que ocorre no bulbo duodenal. Algumas características que garantem a boa adaptação dessa bactéria ao estômago são: • Formato espiralado (helicoidal): garante boa hidrodinâmica • Flagelos: movimentos ativos • Urease: neutraliza o ácido • Adesinas: resistência a peristalse • Proteases e fosfolipases: degradam o muco • Superóxido dismutase e catalase: proteção e defesa O grande destaque é para sua capacidade de sintetizar a UREASE, uma enzima que transforma ureia em amônia e bicarbonato, o que permite à bactéria proteger-se da acidez gástrica, pois tanto a amônia (NH3 que se torna NH4+ ao receber um próton) quanto o bicarbonato tamponam o ácido ao redor de si, formando como se fosse uma “nuvem protetora”. Fosfolipases e proteases degradam o muco protetor do estômago e permitem que o germe se aproxime da superfície epitelial, com ajuda de seu formato espiralado e dos flagelos, que garantem boa mobilidade e resistência à peristalse gástrica, assim como as adesinas de superfície, que promovem sua fixação ao epitélio. A transmissibilidade do H. pylori é maior em áreas menos desenvolvidas, especialmente por mecanismo interpessoal, sendo facilitada por grandes aglomerações humanas, saneamento básico e hábitos de higiene precários, assim como baixo acesso à água potável. Por isso, países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento têm grandes prevalências dessa bactéria, podendo superar 90% de sua população. ____________________________________________ DIAGNÓSTICO Os testes para diagnosticar infecção pelo H. pylori são importantes em pacientes com doença ulcerosa péptica. Exames negativos mudam a estratégia diagnóstica para outras causas de úlcera (uso de AINE, gastrinoma), dispensando a terapêutica antibiótica. Porém, é necessário lembrar que podem ocorrer resultados falso-negativos em pacientes que receberam tratamento com inibidores da bomba de prótons, bismuto ou antibióticos, os quais podem suprimir temporariamente o H. pylori. Os métodos para diagnóstico do H. pylori podem ser classificados em invasivos e não invasivos. → Os métodos invasivos são aqueles que necessitam de endoscopia acompanhada de biópsia gástrica. 1. Histopatológico: considerado o padrão-ouro invasivo, pois tem alta acurácia tanto na detecção dessa bactéria quanto em seu controle de cura após o tratamento. A técnica baseia-se na análise do fragmento ao microscópio, normalmente corando o material pelo Giemsa. CONTROLE DE CURA 2. Teste rápido da urease: requer um fragmento de mucosa para ser realizado. Baseia-se na capacidade do H. pylori em produzir urease. O fragmento é colocado em um recipiente contendo ureia e um reator de pH. Se a bactéria estiver presente, ela converterá a ureia em bicarbonato, alterando o pH do meio e gerando mudança na coloração (de amarelo para azul ou violeta), e dizemos que o teste foi positivo. A coleta de material para urease deverá ser realizada no corpo e no antro gástricos. O estudo histológico deve incluir a coleta de cinco fragmentos: dois do antro, dois do corpo e um da incisura angular. → Os métodos não invasivos, que não necessitam de endoscopia, são três, apresentados a seguir: 1. Teste sorológico: pode ser realizado em laboratórios de referência ou por um teste rápido desenvolvido para o consultório. Geralmente, a IgG está aumentada em pessoas contaminadas pelo microrganismo. Como se trata de uma infecção crônica e que não RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE - TUTORIA melhora espontaneamente, o achado de IgG elevada não significa infecção ativa, uma vez que os níveis de anticorpos decrescem vagarosamente após a erradicação da infecção. Portanto, não deve ser utilizado nos casos em que há necessidade de controle imediato de tratamento, embora uma queda acentuada dos níveis de anticorpos observada 6 a 12 meses após o tratamento antimicrobiano signifique sucesso na erradicação. 2. Teste respiratório com ureia marcada: quando positivo, ao contrário do teste sorológico, sempre significa infecção atual. Pode indicar cura do H. pylori oito semanas após a terapia antibiótica, período em que os testes com anticorpos ainda são positivos. Nesse teste, o paciente ingere ureia marcada com carbono 14 (radioativo) ou carbono 13 (não radioativo). Este último, por não ser radiativo, é seguro, podendo ser utilizado em mulheres grávidas, crianças. Se a bactéria H. pylori estiver presente, ele transforma a ureia em amônia e dióxido de carbono marcado. Este pode ser detectado e quantificado no ar expirado 30 minutos mais tarde em um balão de coleta. CONTROLE DE CURA 3. Pesquisa do antígeno fecal: método que identifica, por reação imunoenzimática, antígenos do H. pylori nas fezes dos pacientes. É bastante conveniente para pesquisa da bactéria em população pediátrica. CONTROLE DE CURA Os testes não invasivos também podem ser utilizados para confirmar a negatividade do H. pylori ao teste da urease em pacientes ulcerosos nos quais não foram obtidos fragmentos de biópsia para estudo histológico. ____________________________________________ TRATAMENTO Em pacientes com alguma indicação absoluta ou relativa que tiverem a pesquisa do H. pylori positiva, está indicado o tratamento. Sobre os esquemas de tratamento, existem alguns conceitos fundamentais: • O tratamento deve incluir, no mínimo, dois antibióticos em associação com um IBP. • Antibióticos com efeito anti-Helicobacter pylori incluem: amoxicilina, claritromicina, metronidazol, tetraciclina, doxiciclina, levofloxacino e furozalidona. • Bismuto é uma substância com ação bacteriostática contra H. pylori, usado em alguns esquemas terapêuticos, especialmente em associação com o metronidazol. • A primeira linha de tratamento é feito com um esquema tríplice, composto por: Inibidor da bomba de prótons (IBP) + Amoxicilina 2 g/dia + Claritromicina 1 g/dia Durante 14 dias. 5. COMPREENDER O MECANISCANISMO DE AÇÃO DOS ANTI-ÁCIDOS (INDICAÇÕES, CONTRA-INDICAÇÃO E EFEITOS COLATERAIS). Os IBPs são drogas usadas no tratamento de diversas doenças gastroesofágicas, tendo como principal mecanismo de açãoa supressão da produção do ácido clorídrico. Fazem isso ao bloquear a última etapa da síntese do HCl, que é a liberação dos íons H+ para o lúmen gástrico, feito pela enzima Hidrogênio-Potássio Adenosina Trifosfatase, conhecida como Bomba de Prótons. ------------------------------------------------------------------------ RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE - TUTORIA Mecanismo de ação: Os Inibidores de Bomba de Prótons (IBP´s) agem bloqueando a etapa final de liberação do ácido gástrico devido à formação de uma ligação dissulfeto (ligação irreversível) entre a forma ativa dos IBP´s e um resíduo de cisteína da próton/potássio ATPase, levando a uma supressão prolongada desta bomba. Por causa dessa ligação covalente, os efeitos inibitórios dos IBP’s duram muito mais tempo que a meia-vida plasmática dele cuja variação é em torno de 1 a 2 horas enquanto que o efeito sobre a secreção ácida pode manter-se até 24 horas, até que aconteça a síntese de uma nova bomba; o efeito máximo é alcançado de 3 a 4 dias. Devem ser usados em jejum, 30 a 60 minutos antes da refeição, enquanto as bombas de prótons ainda estão inativadas, formando uma forte ligação covalente com elas, bloqueando-as de forma irreversível. Levará cerca de quatro dias para que uma nova bomba seja produzida, por isso o efeito máximo de bloqueio ácido é alcançado a partir do 4º dia de uso contínuo de IBP. Veja a figura abaixo para memorizar o mecanismo de ação e a farmacodinâmica dessas drogas: ------------------------------------------------------------------------ Modo de usar: Esses medicamentos devem ser administrados de 30 a 60 minutos antes do café da manhã com intuito de inibir o máximo de bombas possíveis e não se pode fazer o uso concomitante com inibidores dos receptores H2 ou análogos da somatostatina, os quais também inibem a secreção de ácido gástrico, consequentemente, impedem com que os IBP´s se transformem na forma ativa deles, ocasionando um decaimento na eficácia. No geral, o tratamento precisa durar o mínimo possível assim como a dose e, ao finalizar o mesmo, é necessário fazer o desmame, reduzindo a dose em 50% a cada semana para evitar a elevação dos níveis de gastrina (hipergastrinenmia) que resulta em hipersecreção rebote de ácido, em decorrência da súbita interrupção dos IBP´s. ------------------------------------------------------------------------ Além do efeito antiácido, que faz do IBP a droga ideal para tratar doença do refluxo, gastrites e úlcera péptica, essas drogas também apresentam outros efeitos pouco comentados. → Possuem efeito bacteriostático contra o Helicobacter pylori, fazendo parte de todos os esquemas terapêuticos de erradicação. → Mais recentemente, descobriu-se que essas drogas também têm efeito anti-inflamatório na mucosa do esôfago, reduzindo a sinalização celular para o recrutamento de eosinófilos, sendo útil para o tratamento de uma doença alérgica chamada esofagite eosinofílica. ------------------------------------------------------------------------ Efeitos adversos: Os eventos adversos mais comuns, na verdade, são aqueles que podem ocorrer já na primeira tomada da droga, como cefaleia, diarreia, dor abdominal e flush facial. Em algumas situações o indivíduo pode apresentar infecção bacteriana e isso é explicada pela ausência de ácido gástrico no estômago, esse estando suprimido pela ação do medicamento que resulta na não degradação desses microorganismos. Os efeitos do uso crônico são pouco comuns, ganhando maior importância na população idosa, podendo acentuar a deficiência de vitamina B12, reduzir absorção de cálcio (facilitando fraturas), diarreia infecciosa por Clostridium difficile ou diarreia microscópica (colite linfocítica). RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE - TUTORIA Atualmente alguns estudos comprovaram que, em pacientes que já têm insuficiência renal crônica incipiente (abordagem conservadora), o uso dos IBPs aumentaria o risco de deflagrar piora da função renal. Vale salientar, que, os efeitos adversos à longo prazo anteriormente mencionados, como o risco de fraturas é irrelevante desde que o paciente tenha uma boa alimentação à base de produtos lácteos (leite, queijo, iogurte) e bons níveis de vitamina D; assim como a má absorção de vitamina B12 associado ao uso de IBP´s, que pode ser contornada com a utilização de suplementos. ------------------------------------------------------------------------ Interação medicamentosa: Em relação à interação medicamentosa, IBPs são metabolizados no fígado e saturam o sistema enzimático do citocromo P450. Isso faria com que drogas que necessitem dessa via metabólica para liberação da substância ativa tivessem seu nível sérico diminuído, como clopidogrel e alguns antirretrovirais. Enquanto isso, drogas que precisam ser inativadas por essa via têm seu nível sérico aumentado, como os cumarínicos (varfarina), fenitoína e digoxina. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE - TUTORIA
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