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Descrição Este tema trata da criança e sua identidade étnica no contexto brasileiro. Abordaremos alguns pontos da legislação no campo da educação, das relações étnico-raciais e das especificidades de crianças negras, indígenas, refugiadas e migrantes. Propósito Compreender as demandas da educação de crianças historicamente invisibilizadas a fim de promover a construção de suas identidades ao longo do processo de aprendizagem e desenvolvimento. Objetivos Módulo 1 Identidade da criança negra Descrever aspectos da identidade da criança negra no contexto educacional brasileiro. Módulo 2 Educação da criança indígena no Brasil Identificar as especificidades na educação da criança indígena no Brasil. Módulo 3 Crianças migrantes e refugiadas Analisar desafios educacionais de crianças migrantes e refugiadas no âmbito brasileiro. Introdução Antes de iniciar a leitura, reconheça o cenário a seguir. Você consegue perceber a pluralidade cultural presente na sala de aula? Temos, por exemplo, crianças negras, indígenas e mulçumanas. A partir desse cenário, o professor tem o desafio de, diante de múltiplos elementos culturais, criar mecanismos que propiciem a coexistência e a harmonia dessas diversas culturas. Parte desses mecanismos se referem aos aspectos comunicacionais que se revelam na atenção dispensada aos alunos, na abertura dada ao diálogo, na escuta sensível, na afetividade e no acolhimento, elementos que devem constar no processo de aprendizagem. A outra parte tem por base o reconhecimento da cultura do outro, das especificidades de cada sujeito e de cada vivência da criança em seus contextos identitários. 1 - Identidade da criança negra Ao final deste módulo, você será capaz de descrever aspectos da identidade da criança negra no contexto educacional brasileiro. Diversidade e o papel da escola Desafios da escola Vamos ouvir o professor Rodrigo Rainha falando sobre os desafios da escola diante das múltiplas vivências e culturas na infância. A partir do vídeo, podemos refletir que, se a diversidade na escola for trabalhada desde cedo, isso ajudará no combate à invisibilidade – e, com isso, ao racismo e ao preconceito. Conflitos de diversidade Precisamos entender que mediar não é impor, e sim criar situações para que uma relação de aprendizado possa ser efetiva. A mediação docente, portanto, é parte desse processo. Além disso, é necessário perceber que, diante da prática e dos problemas cotidianos que abordamos, políticas públicas mostram-se necessárias. Para ilustrar o quanto a presença da diversidade coloca em questão o papel da escola, descreveremos, nos módulos a seguir, algumas situações reais vivenciadas em turmas de educação infantil (crianças de 0 a 5 anos de idade) de algumas instituições de ensino. Vamos conhecer situações de relações étnico-raciais na sala de aula? Vejamos a primeira situação. Certo dia, duas crianças que costumavam brincar juntas se desentendem por conta de brinquedos. Uma era negra e a outra, branca. Na discussão entre as duas, esta rapidamente chama aquela de “macaca”. Após soltar o brinquedo de sua mão, a criança negra começa a chorar. A professora logo intervém, dizendo que não devemos tratar o colega dessa maneira. Por fim, a docente diz à criança negra que a outra não fez por mal, sendo apenas uma brincadeira. E nunca mais se toca nesse assunto. Agora vamos ao segundo caso: Toda vez que a professora da turma pede para seus alunos se desenharem, realizando um autorretrato, as crianças negras, em geral, retratam-se como brancas de olhos claros e cabelos lisos (mesmo contando com o apoio do espelho ou das próprias fotografias). Em sua intervenção, a docente compara as duas imagens (a da criança e a produzida por ela), tentando fazê-la ver a si mesma; no entanto, ela, ainda assim, se recusa a expressar no papel os próprios traços. Diante de tais situações, surgem as seguintes perguntas: Como estamos olhando para estas crianças? Quando silenciamos perante essas ocorrências, que mensagens e ensinamentos transmitimos às crianças negras e às brancas? Cada situação demonstrada anteriormente nos permite adentrar o cotidiano escolar e pensar nas relações entre crianças e adultos, no papel da escola, durante a inclusão das relações étnico-raciais e na figura do docente como alguém capaz de criar condições de mediação entre sujeitos que tendem a resistir ao olhar mediado. Com o tempo, esse movimento permitirá a valorização da identidade negra, buscando, continuamente, vencer as manifestações de discriminação étnico- racial e, até mesmo, os próprios preconceitos. Tendo em vista o caráter invisível da população negra nos processos civilizatórios da história "oficial" do Brasil, o tópico sobre criança negra e identidade vem sendo, há muito tempo, pauta de estudiosos, professores e integrantes de movimentos negros. Ao trabalhar com as crianças, o educador precisa ter em mente que não basta reconhecer especificidades de corpos e culturas que carregam traços dos resquícios do imaginário social e prático da escravidão. Saiba mais Em voga no século XIX, o imaginário social sobre a escravidão pregava a inferioridade do negro. Além de menor capacidade cerebral, características selvagens e coisificação, defendia-se a ideia de uma compleição física própria para o trabalho e o sexo. Vistos como fortes e tendo ancas largas, seus corpos eram considerados apropriados para o abuso de todas as formas. Herdadas, essas compleições ainda resistem no nosso vocabulário: a referência à cabeleira de origem étnica negra é chamada de cabelo "ruim” ou “duro”. Vamos entender – ainda que de forma breve – o significado da identidade negra. Identidade negra No período escravagista, as crianças negras eram vendidas. Separadas de suas famílias, elas eram obrigadas a trabalhar em condições desumanas. Além disso, sofriam as consequências de uma herança – ainda alimentada atualmente pela reprodução de determinados conceitos – acumulada em três séculos de escravidão. Um deles, por exemplo, é a consideração de que os corpos negros são menos importantes. Tais ideias foram baseadas na concepção de raça. Não estamos nos referindo a uma ideia puramente biológica, mas a uma construção social erigida das tensões entre negros e brancos. O termo raça foi ressignificado por movimentos negros que o utilizavam com sentido político de valorização e afirmação do legado africano e afrodiaspórico. O discurso de que “todo mundo é igual” é desonesto com a história brasileira, responsável por – entre outras mazelas – tornar subalterna a população negra. Comentado [A1]: afrodiaspórico Afrodiáspora ou diáspora africana é o nome dado ao fenômeno histórico e sociocultural ocorrido em países do continente africano, referente à imigração forçada da população africana para outras partes do mundo. Tal fenômeno também diz respeito às reconstruções identitárias de outras maneiras de ser, agir e pensar desse povo nas distintas regiões onde passaram a viver. At enção! É urgente a f i rmar a presença das di ferenças que nos compõem enquanto povo para exig ir que direit os sejam garantidos a todos . Negado por séculos , o direit o à educação da população negra foi a s segurado pela l uta de movimentos negros que pres s ionaram o Estado pela sua oferta . Pensaremos na negritude que atravessa o cotidiano escolar, a fim de que possamos ver, sentir e prestar atenção na importância da escola para a formação da autoimagem e da autoconfiança das crianças. Vamos ver o que os estudiosos têm a dizer: No livro Do silêncio do lar ao silêncio escolar: racismo, preconceito e discriminação na educação infantil (2017), a professora Eliane Cavalleiro faz aseguinte afirmação: A IDENTIDADE É UM DOS RESULTADOS MAIS IMPORTANTES DE CONSTITUIÇÃO SOCIAL DO SUJEITO. (CAVALLEIRO, 2017. P. 19) Vamos entender melhor. As identidades das crianças, particularmente a das negras, vão sendo formadas pelos professores e colegas dela por elas serem capazes de observar, desde cedo, diferenças de tratamento no contexto escolar. Isso acontece nas situações em que as crianças negras: • Não recebem carinho nos seus cabelos crespos; • Não veem nas histórias personagens negros em posição privilegiada; • Notam que uma criança branca não as chama para brincar; • Percebem que todos os bonecos do acervo de brinquedos são brancos; • Verificam que os murais da escola não dão espaço para pessoas com as quais elas possam se identificar positivamente. Comentado [A2]: Eliane Cavalleiro Mestra e Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Existem muitas situações que, sutilmente, permeiam a escola e suas práticas, demandando atenção dos professores e da própria instituição devido à responsabilidade que eles têm de potencializar a construção dessa identidade racial. COMO ESSA CONSTRUÇÃO DEVE SER POTENCIALIZADA? A professora Azoilda Loretto da Trindade considera que: A escola deve reafirmar o compromisso e o débito social de garantir-lhes sua infância, seu direito de brincar, de sorrir, de ter orgulho da sua memória e do seu povo. (TRINDADE, 2013, p. 145) Sabe por que devemos ter esse compromisso? Porque é principalmente na infância que as experiências de racismo mais marcam e ferem. É necessário reconhecer que o racismo existe, sendo sua demonstração, muitas vezes, silenciosa e silenciada. Crianças pequenas não sabem verbalizar a vivência de uma situação racista e discriminatória, mas podem carregar pelo resto da vida essa marca em seus corpos. As experiências de racismo na infância acabam fazendo com que as crianças neguem seus traços biológicos e sociais de negritude; por isso, muitas desejam ter a pele mais clara, começam a não gostar da textura de seus cabelos e isolam- se nas brincadeiras. Comportamentos e atitudes do tipo são reflexos de sua percepção atenta a um contexto escolar (e também fora da escola) responsável por, muitas vezes, conferir invisibilidade às situações do cotidiano. Comentado [A3]: Azoilda Loretto da Trindade Doutora em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestre em Educação, com área de concentração em Psicologia da Educação, pela Fundação Getulio Vargas (FGV-RJ), graduada (Licenciatura) em Pedagogia pelo Instituto Isabel e em Psicologia (Licenciatura, Bacharelado e Formação de Psicólogo) pela Universidade Gama Filho (UGF). As crianças são sujeitos capazes de reproduzir a negação do corpo negro e de perceber que a beleza, a inteligência e o carinho estão majoritariamente padronizadas no “ser” branco. At enção! A escola é um dos espaços em que es sa tensão é maior . É fundamenta l que os prof is s iona is da educação r econheçam is so, compreendendo a inda a urgência imposta à inst itui ção que deverá l i dar ser iamente com ta is conf l i tos . O silêncio precisa ser rompido para que as vozes, os gestos e as palavras das crianças negras passem a nos afetar. A educação tem o papel de criar relações respeitosas na diferença sem esconder as tensões raciais que habitam o cotidiano escolar. VAMOS CONHECER UMA SITUAÇÃO DE ROMPIMENTO DA INVISIBILIDADE NEGRA? A professora leva um livro infantil sobre Zumbi dos Palmares para a sala de aula e conta sua história aos alunos. Comentado [A4]: Zumbi dos Palmares Zumbi é considerado um dos grandes líderes de nossa história. Símbolo da luta contra a escravidão, lutou também pela liberdade de culto religioso e pela prática da cultura africana no País. O dia de sua morte, 20 de novembro, é lembrado e comemorado em todo o território nacional como o Dia da Consciência Negra. Fonte: Palmares Fundação Cultural. As ilustrações da obra mostram o povo negro como pessoas fortes, unidas, bonitas e com uma história de vida que preza pelo coletivo e pela própria comunidade. No começo, as crianças estranharam as referências ilustrativas, mas, no decorrer das páginas, já estão curtindo e muito atentas à narrativa. Ao final da história, todos os meninos desejam ser Zumbi dos Palmares, pois o reconhecem como uma figura heroica. No pátio da escola, inventam uma brincadeira envolvendo a narrativa da obra. A essência das situações deste módulo é a mediação: sempre que a atividade feita pelo docente é efetiva, ela rompe com a invisibilidade; quando é errática, este profissional costuma reforçar os comportamentos do senso comum. Recomendação O que a escola pode fazer para potencia l i za r , de modo pos it ivo, a formação da i dentidade negra nas cr ianças ? Não deixe de conhecer outros exemplos nos ví deos indi cados no E xp lore + . Também aproveite para pesquisa r sobre o Projet o Gr iot , responsável pela promoção do ens ino de tradições a f ro-bras i leira s por meio da tradi ção ora l . Políticas públicas A educação escolar deve se responsabilizar pelo desenvolvimento de competências que ajudem a romper com a reprodução do racismo, do preconceito e da discriminação racial. O combate à discriminação de raça e o trabalho pelo fim da desigualdade social e racial não são tarefas exclusivas da escola. Tampouco são originadas nela as diferentes formas de discriminação, mas é justamente o contrário: elas, na verdade, atravessam o cotidiano escolar. Como você já sabe, o governo age para remediar tais problemas (já apresentados nas situações que analisamos anteriormente) por meio de políticas públicas. A seguir, de maneira específica, conheceremos a atuação recente de algumas delas: Lei nº 10.639/2003 A Lei nº 10.639/2003 (que foi reeditada em 2008) foi sancionada após grande mobilização dos movimentos negros. Esta lei prevê a alteração da Lei nº 9.394/96 – conhecida como Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) –, incluindo no currículo oficial das redes de ensino a obrigatoriedade da história e cultura afro-brasileiras. Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais As diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais pretendem resgatar a contribuição histórica dos negros na construção da sociedade brasileira, promovendo a justiça e a democracia como princípios da formação cidadã dos estudantes e das crianças. Suas diretrizes ressaltam que o trabalho de educação das relações etnicorraciais significa “ser sensível ao sofrimento causado por tantas formas de desqualificação: apelidos depreciativos, brincadeiras e piadas de mau gosto sugerindo incapacidade, ridicularizando seus traços físicos, a textura de seus cabelos, fazendo pouco das religiões de raiz africana”. (BRASIL, 2004) Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil Em diálogo com a Lei nº 10.639/03, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil orientam que as propostas pedagógicas das instituições de educação infantil devem assegurar: “O reconhecimento, a valorização, o respeito e a interação das crianças com as histórias e as culturas africanas, afro- brasileiras, bem como o combate ao racismo e à discriminação”. (BRASIL, 2010) É necessário reconhecer que a educação e as instituições escolares ainda reproduzem as tradições de nosso passado escravocrata, influenciando, inclusive, nossos conteúdos, práticas, relações, escolha de temáticas, materiais e palavras. Deve-se estar atento a sutilezas que moldaram a maneira com que são formados os professores. É urgente, portanto, estarmos atentos às crianças e às relaçõesestabelecidas entre elas que, por vezes, reproduzem práticas racistas e discriminatórias. Uma educação antirracista não é um projeto com começo, meio e fim ou uma proposta pedagógica baseada em sequências didáticas, além de outras estratégias. Ela deve constituir o próprio objetivo do ato educativo. Valores civilizatórios afro-brasileiros Assista a este vídeo da professora Camila Machado para aprofundar um pouco mais seus conhecimentos sobre o assunto. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Estudos sobre educação afrocentrada História da população afrodescendente na Educação Movimentos de resistência e as escolas quilombolas Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Sobre o contexto educacional brasileiro e a questão da identidade da criança negra, podemos considerar que ações como a Lei nº 10.639/03 buscavam: Parabéns! A alternativa c está correta. O combate ao racismo e o trabalho pelo fim da desigualdade social e racial não são tarefas exclusivas da escola. Apesar de diferentes formas de discriminação permearem o ambiente escolar, elas não se originam dele. Questão 2 Em relação à formação da identidade racial da criança negra, qual alternativa apresenta uma prática que pode promover a valorização positiva dela? Parabéns! A alternativa b está correta. As identidades das crianças, particularmente das crianças negras, vão sendo formadas por serem capazes de observar, desde cedo, diferenças de tratamento no contexto escolar - pelos professores e por outras crianças –, como o carinho que não recebem nos seus cabelos crespos, por não verem nas histórias personagens negros em posição privilegiada, por notarem que uma criança branca não as chamam para brincar, ao perceberem que todos os bonecos do acervo de brinquedos são brancos ou quando os murais da escola não dão espaço para pessoas com as quais elas possam se identificar positivamente. Existem muitas situações que sutilmente permeiam a escola e suas práticas, demandando atenção dos professores e da própria instituição devido à responsabilidade que eles têm de potencializar a construção dessa identidade racial. Trindade (2013, p. 145) nos diz que a escola deve reafirmar o compromisso e o débito social de garantir- lhes sua infância, seu direito de brincar, de sorrir, de ter orgulho da sua memória e do seu povo. 2 - Educação da criança indígena no Brasil Ao final deste módulo, você será capaz de identificar especificidades na educação da criança indígena no Brasil. Educação da criança indígena na escola formal A criança indígena na escola Existem algumas situações que estão ligadas diretamente ao contexto social em que a criança vive, que podem trazer alguns questionamentos no convívio escolar. Vamos conhecer uma situação de criança indígena na escola formal? Pedro morava em um aldeamento, onde foi educado, perto de um centro urbano. Sua tribo fazia questão de educar as crianças pelas suas tradições, porém estava ciente quanto à importância de também estudar em uma escola formal. Os colegas da escola tinham materiais que ele não tinha. Certo dia, Pedro tentou pedir um emprestado, mas foi negado por todos os colegas, e eles começaram a brigar. A professora interveio, dizendo que devemos ter pena dele; afinal, ele era um índio, e índios não tinham tais objetos. Neste dia, Pedro voltou à sua casa triste, pois descobriu que, naquele mundo, ele não tinha nada. Diante dessa situação, cabem algumas reflexões: Como pensamos essa relação entre o povo ameríndio e o restante da sociedade? De que forma as crianças oriundas, de forma direta e indireta, da cultura indígena são vistas e integradas nas escolas? Pensar a respeito das crianças indígenas nos faz reconhecer que os povos originários do Brasil são muitos e diversos, assim como suas crianças. Elas são parte integrante de culturas distintas, sendo constituídas enquanto sujeitos no seio da relação com seu povo. A história de Pedro nos ajuda a pensar um pouco sobre o entendimento da criança indígena e como ela se sente na escola, porém isso é só o início de nossa reflexão. Antes de iniciarmos nossa leitura, precisamos conferir alguns dados sobre a população indígena no Brasil: Agora que você já percebeu o panorama indígena no país, podemos compreender o cenário da educação brasileira. Papel da escola na educação indígena A educação infantil é a primeira etapa do ciclo básico, sendo dividida, conforme a LDB (Lei nº 9.394/1996), em creche e pré-escola (a creche para atendimento às crianças de 0 a 3 anos e a pré-escola atende de 4 a 5 anos.). Na forma da lei, ela está sob a responsabilidade dos municípios brasileiros e deve ser ofertada como direito da criança e dever do Estado. A LDB ainda afirma que a finalidade da educação infantil é • o desenvolvimento integral da criança em seus aspectos psicológico, • físico, • intelectual e social, • complementando a ação da família e da comunidade. No que se refere à educação infantil da população indígena, temos os seguintes dados do Censo Escolar de 2018 sobre as crianças matriculadas em todo o Brasil: DADOS DO CENSO ESCOLAR DE 2018: CRIANÇAS INDÍGENAS MATRICULADAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL CRECHE PRÉ-ESCOLA TOTAL NORTE 3.024 15.829 18.853 NORDESTE 3.247 7.933 11.180 CENTRO-OESTE 506 4.263 4.769 SUDESTE 1.176 2.145 3.321 SUL 397 2.326 2.723 BRASIL 8.350 32.496 40.846 Tabela: DADOS DO CENSO ESCOLAR DE 2018. Adaptado por INEP, 2019. Embora a educação infantil seja uma etapa opcional para as comunidades indígenas, o censo escolar nos mostra que, em todo o território nacional, há crianças indígenas matriculadas, o que gera o entendimento de que essa oferta deve ter o compromisso pela preservação cultural desses povos e o diálogo permanente com seus anseios, referências e concepções. Devemos sinalizar que o censo escolar é um indício de um problema muito maior: Educação indígena nos centros urbanos Mostra que eles estão regularmente matriculados e integrados à educação formal; no entanto, as bases do ensino tratam e abordam isso como se fosse uma questão eventual. Referenciais socioculturais A educação indígena não é para ser entendida como um fundamento voltado para os grupos ameríndios. É justamente o contrário: a criança indígena precisa ser integrada, tendo os seus referenciais socioculturais respeitados. Para que isso seja possível, é necessário que o coletivo ao qual ela se integra perceba o seu papel de maneira cotidiana. Sobre a população indígena brasileira de 0 a 5 anos, a Resolução CNE/CEB nº 5 de 22 de junho de 2012, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Indígena na Educação Básica, expressa, no artigo 8º, que: A educação infantil é um direito dos povos indígenas que deve ser garantido e realizado com o compromisso de qualidade sociocultural e de respeito aos preceitos da educação diferenciada e específica. (BRASIL, 2012) O mesmo documento ainda ressalta que a educação infantil pode ser uma opção de cada grupo indígena. Ele, portanto, é responsável por avaliar as funções e objetivos desta etapa da educação e decidir a respeito da matrícula da criança, tendo como parâmetros avaliativos as referências culturais da sua comunidade. Vamos entender melhor o problema? Nas aldeias, em geral, existem concepções de ensino totalmente demarcadas pela tradição cultural de seus grupos; sob esse viés, entende-se a educação como um processo contínuo cuja responsabilidade é dividida entre todos os índios adultos da comunidade. Os ensinamentos são transmitidos geralmente pela oralidade e pela prática cotidiana da vida, não separando lugares e momentos determinados para aprender. Nesse contexto,a escola, cuja organização ainda mantém certos aspectos tradicionais, acaba reforçando uma separação das aprendizagens. O modelo ocidental de educação reproduz práticas e conteúdos incapazes de dialogar com os contextos mais próximos do modo de viver dos índios. At enção! Deve-se compreender o papel da Esco la no atendimento às cr ianças indíg enas . Além dis so, é necessá r io pensar a a f in idade entre a educação formal e a rea l i zada nas a ldeia s . O desa f io é perceber que seus su jeitos são marcados de f orma a inda mais cla ra pela mult ip l icidade de ref erência s cultura is , mui tas dela s contras tantes . Portanto, precisamos perceber que cada grupo ou sociedade indígena tem seu modo de considerar a criança e seus processos de aprendizagem e desenvolvimento, pois, além da diversidade étnica, há outras especificidades, como, por exemplo, crianças indígenas na cidade. Sa iba mais Se você quiser conhecer um pouco mais a s pesquisa s rea l izadas no campo da educação indígena no Bras i l , suger imos a leit ura dos mater ia is de Sandra Benites , Guarani Nhandewa, doutoranda em Antropologia Soc ia l pelo M useu Naciona l da Univers idade Federa l do r i o de Janeiro (U FRJ). Desde 2004, traba lha com educação indígena . Leia-os no Exp lore + . Vamos conhecer outra história? Guaraciara, de cinco anos, nasceu em um centro urbano. Embora seja descendente de indígenas, nunca esteve em uma aldeia. Na escola, apesar de não se apresentar como índia, todos os professores e alunos a identificam por conta dos seus traços e cabelos. Os coleguinhas fazem algumas perguntas: Por que ela saiu da floresta? Por que ela usa roupa? Ela é amiga do curupira? Isso a deixa muito brava e quieta. Um dia, Guaraciara cortou os próprios cabelos para não ser mais conhecida como índia. A coordenação pedagógica precisou intervir, fazendo uma oficina com todas as turmas sobre as várias culturas e a importância delas para história do Brasil. Diante dessa situação, começamos a questionar especialmente o espaço que os conhecimentos e os saberes culturais ocupam no cotidiano escolar, questionando quais aparatos legais buscam garantir uma educação que não negligencie crianças indígenas e suas culturas. Sabe-se que, historicamente, a população indígena brasileira sofre consequências da não valorização de suas matrizes, rituais culturais e concepções de mundo. Este povo também foi escravizado no período colonial, o que acarretou muitas mortes e desapropriações de terras indígenas. Ao longo da história, sua população sempre se manteve em luta para garantir a vida digna, a sobrevivência de seu povo e a participação nas decisões políticas do governo. Devemos, enquanto profissionais da educação, buscar referências e possibilidades de trabalho com as culturas indígenas baseadas nesse histórico e em suas manifestações a fim de valorizá-las e reconhecê-las. Apesar das diferenças existentes entre os povos, o reconhecimento da natureza como parte própria de cada indivíduo é um traço cultural e espiritual que os atravessa. Acontece que nenhuma dessas relações é fácil ou automática; afinal, essa construção é um desafio. Como resolver esse desafio? As crianças indígenas vão se constituindo enquanto sujeitos no espaço-tempo pelo qual transitam. A formação de suas identidades perpassa as relações criadas na aldeia, na cidade, na escola ou na alteridade com os sujeitos que também compõem tais ambientes. Acreditamos, desse modo, que a escola para as crianças indígenas precisa constituir um lugar de ressignificação de seus contextos identitários e fortalecimento do que seu grupo étnico considera fundamental enquanto ensinamento e aprendizagem. As marcas e os traços culturais devem ser o centro das propostas pedagógicas, e não um adendo ou tópico a surgir esporadicamente no cotidiano escolar. Se levarmos em consideração que a importância da educação infantil está na criação de condições para a ampliação de repertório linguístico, imagético, de brincadeiras, de musicalidade ou de interações, também é possível aproximar e fundir tais práticas com as existentes nas comunidades indígenas. A escola voltada para esse público deve ser mais um local que o potencializa na sua completude, afirmando a garantia de seus direitos como criança indígena. Trata-se, enfim, de um lugar de criação e invenção com as narrativas tradicionais de seu grupo, a relação com a natureza, as palavras da língua de sua etnia e o brincar, possibilitando o reconhecimento de algo próprio desses sujeitos. Prêmio Territórios Educativos Para entender ainda mais os problemas e começar a amealhar soluções, vejam este vídeo sobre o Prêmio Territórios Educativos do Instituto Tomie Ohtake. Percebemos neste vídeo quão urgente é, para nossa formação de professores, aceitar a enorme contribuição desses povos na educação das crianças em geral; afinal, eles a pensam de outra maneira. Isso manifesta-se tanto na possibilidade de atuar diretamente com as indígenas quanto no compromisso de não negligenciar saberes dos povos originários em práticas realizadas com crianças fora da realidade do índio. Uma vez mais, devemos sinalizar o fundamental papel da mediação. Diante de tais desafios, o professor deve entender como compromisso contínuo atacar as relações e as situações problemáticas que se manifestem. Sa iba mais Precisamos f r i sar a inda que a sensação de inapt idão contr i bui para que a população amer índia apresente números a la rmantes de suic ídios e a lcool ismo. Agora que já observamos o panorama dos povos indígenas e maneiras de atuar nesse contexto, veremos as políticas públicas empregadas para reparar essa situação. O artigo 210, da Constituição Federal de 1988, trata de conteúdos mínimos para o ensino fundamental “de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais”. No segundo parágrafo, ela afirma que “o ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem”. (BRASIL, 1988) Seu objetivo, portanto, é valorizar as referências linguísticas dos grupos indígenas no processo educacional. A Lei nº 11.645/2008, anteriormente (em 2003), tratava da obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira na educação básica; após a inclusão do artigo 26- A, seu ensino passa a abranger também os seus aspectos, “resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil”. (BRASIL, 2008, grifos nossos). Já o artigo 78 versa sobre os fomentos à cultura e a assistência aos índios, traçando alguns objetivos para o desenvolvimento de programas de ensino e pesquisa na oferta da educação escolar bilíngue e intercultural destes povos. Atende-se, assim, à necessidade de que os próprios índios tenham assegurada a recuperação de sua história (que também é a história invisibilizada de formação do nosso país) a fim de fortalecer suas culturas tanto para esta quanto para as próximas gerações. Isso significa manter vivas as heranças e sabedorias dos povos originários. Documentos legais que possuem uma grande importância para a construção de uma sociedade democraticamente plural e de direitos, leis e diretrizes são fundamentais para repensar o desafio da escola frente às diferenças culturais e multiétnicas que a atravessam tanto no âmbito escolar indígena quanto no contexto educacional regular (que, por vezes, não conta com a presença física de crianças indígenas). A formação da nossa sociedade se deve também a esses povos, historicamente invisibilizados e destinados a lugares de subalternidade na construção histórica brasileira. Pensarna escola e na formação docente acerca da educação de crianças indígenas, os grupos a que pertencem, a diversidade étnica do Brasil e os traços comuns e singulares desses povos demonstra o potencial para outras maneiras de construção de práticas e teorias no campo da educação. É urgente reconhecer que as culturais indígenas também são parte integrante de nossas raízes. Diferenciais na educação Indígena Para solidificar nossos conhecimentos, vamos ouvir Gabriela dos Santos Barbosa, professora especialista em Educação Indígena da UERJ. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Estudamos alguns documentos legais que fazem referência à educação infantil para crianças indígenas. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Indígena na Educação Básica apontam que ela: Parabéns! A alternativa c está correta. No que diz respeito especificamente à população indígena brasileira de 0 a 5 anos (faixa etária atendida pela educação infantil), a Resolução CNE/CEB nº 5, de 22 de junho de 2012, que define tais diretrizes (MEC, 2012), expressa, no artigo 8º, que a educação infantil é um direito dos povos indígenas que deve ser garantido e realizado com o compromisso de qualidade sociocultural e de respeito aos preceitos da educação diferenciada e específica. (BRASIL, 2010, grifos nossos) Questão 2 A Lei 9.394/96 é a legislação educacional mais importante do país, pois estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Porém, no que se refere à educação indígena – história e cultura desses povos – podemos afirmar que: I. Está determinada a oferta da educação escolar bilíngue e intercultural dos povos indígenas. II. Determina que o ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do provo brasileiro: indígena, africana e europeia. III. Acrescentado posteriormente, em 2008, o Art. 26-A define como obrigatório o estudo da herança história afro-brasileira e indígena, e como opcionais demais aspectos desses povos. Das afirmativas acima: Parabéns! A alternativa d está correta. A LDB nº 9.394/96 teve o artigo 26-A acrescido à redação dada pela Lei nº 11.645, de 2008. Anteriormente (em 2003), esta lei tratava da obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira na educação básica; após a inclusão deste artigo, seu ensino passa a abranger também os seus aspectos, “resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil” (BRASIL, 2008). Trata-se, sem dúvida, de um avanço muito importante aos movimentos sociais indígenas. 3 Crianças migrantes e refugiadas Ao final deste módulo, você será capaz de analisar desafios educacionais de crianças migrantes e refugiadas no âmbito brasileiro. Educação de crianças migrantes e refugiadas Desafios educacionais A criança em situação de refúgio ou migração pode enfrentar questionamentos muito diferentes da criança local que frequenta aquele ambiente escolar. Vamos entender melhor o contexto da criança migrante e refugiada? Samira, uma refugiada da Síria, chorava o tempo todo. Professoras e funcionários se revezavam para tentar ajudá-la, mas o problema ultrapassava a barreira do idioma. O pai contou que frequentar a escola era algo novo para toda a família, destacando que, em seu país, as famílias preferiam não mandar as crianças para lá. Samira saía de casa com receio de que seus pais não estivessem mais lá quando ela voltasse. Essas são marcas profundas de uma guerra que não se dissipam com o recomeço de uma nova vida. Tendo em vista situações do tipo, podemos fazer algumas reflexões: Qual é a responsabilidade dos educadores diante da integração dessas crianças na escola e na sociedade? Como diminuir a sensação de isolamento delas que é agravado pelas diferenças culturais? Essas situações delineiam um cenário sobre o enfrentamento dos desafios do atendimento educacional de crianças refugiadas. Mesmo que o acesso delas à educação seja garantido por lei, é necessário que o ambiente escolar possa efetivamente promover sua inclusão, seu bem-estar e sua integração ao novo contexto de vida para que ela não seja, mais uma vez, submetida a condições de isolamento e não pertencimento a um lugar. A seguir, falaremos sobre o panorama dos refugiados no Brasil. Panorama dos refugiados no Brasil Segundo a Coordenação-Geral do Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), o Brasil: Refugiado 11.231 - Pessoas reconhecidas como refugiadas de 2011 a 2018. Indivíduos fora de seu país de origem por conta de perseguição relacionada a raça, religião, pertencimento a determinado grupo social, nacionalidade, opinião política ou conflitos armados, não podendo (ou não desejando) contar com a proteção do próprio país. Migrante 161.057 mil - Solicitações em tramitação para o reconhecimento da condição de refugiado. É garantida a pessoas com o processo ainda em tramitação a situação migratória regular enquanto elas aguardam a decisão do Conare. O porte do documento provisório de registro nacional migratório é obrigatório. Saiba mais Um relatório do Conare de 2018 lista os países com mais solicitações de reconhecimento da condição de refugiado no Brasil: Venezuela (61.681), Haiti (7.030), Cuba (2.749), China (1.450), Bangladesh (947), Angola (675), Senegal (462), Síria (409), Índia (370) e outros países (4.284). Os dados presentes no relatório do Conare demonstram um crescimento progressivo de indivíduos refugiados no país. Diferentes motivos levam os indivíduos a deixarem seu país. Desse modo, o Brasil e outros países de destino dos refugiados recebem famílias inteiras; nelas, há crianças que merecem atenção do Estado devido à sua vulnerabilidade social e às condições de risco às quais estão expostas, como o trabalho infantil, a exploração sexual e o abandono. Existe ainda a possibilidade de elas serem separadas de suas famílias antes de chegarem ao país de destino. Como, em geral, elas não possuem documentos de identidade ou registros, encontram-se ainda mais expostas ao tráfico de crianças. Nota-se o papel fundamental da escola na sua inserção social, cultural e linguística, além de ser um espaço de proteção e amparo para que as crianças migrantes e refugiadas tenham seus direitos e sua integridade preservados. Você deve estar se perguntando: Como é o cenário da educação para tais crianças? Educação para crianças refugiadas A análise sobre crianças refugiadas e educação no Brasil apresenta ainda poucos estudos. Mesmo os documentos legais de amparo àquelas nessa condição não tratam especificamente de seu acesso à educação. No entanto, existe o seguinte entendimento: quando a criança tem sua situação regularizada no país, ela passa a gozar dos mesmos direitos que as brasileiras no que diz respeito à educação, à saúde, à proteção, ao amparo, à segurança, ao lazer e à cultura. Ainda assim, pesquisadores do assunto, como Grajzer (2018) e Mattos (2016), alegam que essa lacuna da legislação brasileira nos faz questionar se, de fato, esses direitos estão sendo assegurados e aplicados. De acordo com Mattos (2016), um dos empecilhos para a garantia da matrícula escolar dessas crianças está relacionado à falta de documentação ou registro, às vezes devido à espera da avaliação do CONARE. Assim, algumas instituições acabam não aceitando o protocolo emitido pelo comitê, o que é um equívoco, já que ele pode ser utilizado para o acesso aos serviços públicos. At enção! O acesso à educação para todos em terr itór i o naciona l bras i leiro a inda não é uma rea l idade. Apesar dessa “tota l i dade”, a inda encontramos cr ianças fora das escola s públ ica s por fa lta de vagas , ins t itui ções es cola res perto de suas res idência s e inf raestruturapara a tender à demanda loca l , a lém de outros fa tores que margina l izam a população mais vu lneráve l . Desse modo, as crianças migrantes e refugiadas também sofrem o reflexo das condições da educação pública do nosso país. Elas estão duplamente vulneráveis, pois, além de serem indivíduos em desenvolvimento e merecerem uma atenção específica em diferentes aspectos, estão fora de seu centro cultural, precisando lidar com mudanças e transformações de contextos e eventuais traumas recorrentes de conflitos e situações de seu país de origem. Portanto, é indispensável que as instituições escolares repensem seus projetos políticos-pedagógicos com a comunidade. O Estado, por outro lado, deve oferecer formações específicas para os docentes em atuação com esse público. Isso não se limita a cursos de formação, mas a um exercício de atenção, acolhimento e adaptação a fim de ajudar essas crianças a viverem com tranquilidade na escola. Como mediar esse problema? Cada criança é singular, assim como toda aquela que é refugiada tem uma história de vida. É fundamental que a escola dedique a elas uma escuta sensível para potencializar seu desenvolvimento e sua aprendizagem, o que ultrapassa quaisquer conteúdos curriculares: trata-se, na verdade, da importância das relações que vão se criando e se fortalecendo entre os sujeitos que transitam pela instituição. O desafio é tornar a escola um lugar seguro para cada criança, preservando e valorizando suas marcas culturais, além de proporcionar práticas e reflexões que possam romper com o racismo e a discriminação perante as crianças refugiadas. Ou seja, ela deve ser um ambiente verdadeiramente intercultural que não silencie esses sujeitos, especialmente por conta de possíveis manifestações preconceituosas dos demais alunos e profissionais. Música e brincar na educação infantil Para facilitar esse entendimento na prática, vamos assistir ao vídeo Música e brincar na educação infantil do Instituto Tomie Ohtake. Políticas públicas para Crianças Refugiadas Para analisarmos as ações governamentais na tentativa de mediar tais situações, iremos, mais uma vez, destacar alguns pontos de documentos e orientações legais que nos ajudem a refletir sobre a condição da criança refugiada e migrante em nosso país. Nosso objetivo é analisar aqueles que versam sobre a proteção e a garantia de direitos básicos delas. Os destaques a seguir são documentos nos quais o Brasil, um de seus países signatários, se compromete a responder e criar condições de vida digna para esses sujeitos. Afinal, em todo o mundo, as crianças são aqueles mais vulneráveis à violação de seus direitos humanos. At enção! Cr ianças em s it uação de refúgio e migração pr imeiramente são su jeitos de dir eitos cuja cond ição já es tá previs ta em diversos docum entos internaciona is (como a Convenção sobr e os Dir eitos da Cr iança) e naciona is (Const itui ção Federa l de 1988 e o Estatuto da Cr iança e do Adolescente de 1990). A Convenção Sobre os Direitos da Criança é um tratado aprovado na Assembleia das Nações Unidas (ONU) em 20 de setembro de 1989, sendo ratificada por 196 países. O Brasil é signatário deste documento desde 1990. O artigo 22 afirma que os Estados Partes deverão adotar medidas para assegurar que as crianças recebam proteção, assistência humanitária e possam usufruir dos direitos previstos na convenção. Tal artigo ainda ressalta que, no caso de ela estar desacompanhada, deve-se ajudá-la, localizando sua família a fim de obter informações que a permitam se reunir com seus parentes. Também conhecido como Convenção de Genebra de 1951, este documento apresenta os direitos dos indivíduos refugiados, bem como a concessão de asilo e responsabilidades dos países que fazem parte da convenção na qual o Brasil é nação contratante. O artigo 22 trata da educação pública para este grupo: “Os Estados Contratantes darão aos refugiados o mesmo tratamento que aos nacionais no que concerne ao ensino primário”. (ACNUR, 2019) A Lei nº 9.474 trata-se de uma lei nacional que define mecanismos para a implementação do Estatuto dos Refugiados de 1951. Não aborda em nenhum de seus artigos algo relacionado ao direito à educação. O artigo 2° estabelece que “os efeitos da condição dos refugiados serão extensivos ao cônjuge, aos ascendentes e descendentes, assim como aos demais membros do grupo familiar que do refugiado dependerem economicamente, desde que se encontrem em território nacional”. (BRASIL, 1997) Se observarmos as condições por vezes sub-humanas de vida e de sobrevivência a que estão sujeitas as crianças brasileiras das comunidades periféricas, pobres, negras e indígenas, apesar de todo o aparato legal existente, podemos imaginar a situação dos pequenos migrantes e refugiados que chegam ao Brasil. Afinal, eles ficam expostas às mesmas situações graves e traumáticas, além de estarem em um país que, em geral, possui cultura, língua, organização social e política totalmente diferentes daquele de sua origem. Por isso, essas crianças precisam de um apoio que – conforme já sabemos – nem sempre é dado às de nacionalidade brasileira. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 3 Crises migratórias e a educação Integração da criança refugiada Fluxos migratórios e os desafios educacionais Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Estudamos alguns documentos legais que tratam da condição das pessoas refugiadas. No que diz respeito ao ensino primário, assinale a alternativa cujo documento versa sobre a oferta e o acesso à educação pública pelos refugiados: Parabéns! A alternativa a está correta. A Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados também é conhecida como Convenção de Genebra de 1951. Neste documento, são apresentados os direitos dos indivíduos refugiados, bem como a concessão de asilo e responsabilidades dos países que fazem parte da convenção, na qual o Brasil é nação contratante. O artigo 22 trata da educação pública para os refugiados: “Os Estados Contratantes darão aos refugiados o mesmo tratamento que aos nacionais no que concerne ao ensino primário” (ACNUR, 2019). Questão 2 Tendo em vista os desafios educacionais apresentados, assinale a alternativa que destaca a importância da inclusão escolar das crianças refugiadas e migrantes: Parabéns! A alternativa c está correta. É necessário que o ambiente escolar possa efetivamente promover a inclusão, o bem-estar e a integração da criança refugiada ou migrante ao novo contexto de vida para que ela não seja submetida, mais uma vez, a condições de isolamento e não pertencimento a um lugar. Portanto, é indispensável que as instituições escolares repensem seus projetos políticos-pedagógicos com a comunidade. O Estado, por outro lado, deve oferecer formações específicas para os docentes em atuação com esse público. Isso não se limita a cursos de formação, mas a um exercício de atenção, acolhimento e adaptação a fim de ajudar essas crianças a viverem com tranquilidade na escola. Considerações finais Como vimos neste tema, o professor, dentro da sala de aula, está diante de uma diversidade étnica e cultural. A partir desse desafio, ele precisa dirigir sua atenção em busca de uma mediação, efetivando a aprendizagem e combatendo o preconceito. No podcast a seguir, vamos falar mais sobre Criança e identidade étnica com os professores Guilherme Pereira e Flávia Miguel. Explore + Leia os textos: a. O alcoolismo entre jovens indígenas: estudo de uma comunidade kaingang no paraná, de Paulo Ramon e Rosangela Faustino, do X Congresso Nacional de Psicologia Escolar e Educacional. b. O suicídio do povo indígena, da jornalista Fernanda Martins,no site da CVV (Centro de Valorização da Vida). c. Ecos discursivos da AD em sala de aula: do período da escravidão ao século XXI, de Nara Sgarbi e Alexandra Figueiredo, na Revista Philologus. d. Nhe’ẽ, reko porã rã: nhemboea oexakarẽ. Fundamento da pessoa guarani, nosso bem-estar futuro (educação tradicional): o olhar distorcido da escola, de Sandra Benites e Ara Retes, da UFSC. Assista aos vídeos: a. O racismo é perigoso na educação das crianças, do Canal Preto, na plataforma YouTube. b. Olhar Indígena - Daniel Munduruku fala sobre Educação Indígena, do Canal Daniel Munduruku, na plataforma YouTube. c. BIENVENUE à Marly-Gomont (BEM-VINDO a Marly-Gomont). Filme de Julien Rambaldi. França: Fidélité Films, 2016”. Referências ACNUR. Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados. Consultado na internet em: 2 dez. 2019. ACNUR. Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. Refúgio em números – 4. ed. Consultado na internet em: 2 dez. 2019. BENITES, S. Nhe’ẽ, reko porã rã: nhemboea oexakarẽ. Fundamento da pessoa guarani, nosso bem-estar futuro (educação tradicional): o olhar distorcido da escola. Monografia do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica da Universidade Federal de Santa Catarina. UFSC. Santa Catarina, 2015. BRASIL. Casa Civil. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Consultado na internet em: 2 dez. 2019. BRASIL. Ministério da Educação. MEC. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Indígena na Educação Básica. Brasília, 2012. Consultado na internet em: 2 dez. 2019. BRASIL. Ministério da Educação. MEC. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília, 2010. Consultado na internet em: 2 dez. 2019. BRASIL. Ministério da Educação. MEC. Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro- brasileira e africana. Brasília, 2004. Consultado na internet em: 2 dez. 2019. BRASIL. Casa Civil. Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do adolescente e dá outras providências. Consultado na internet em: 2 dez. 2019. BRASIL. Casa Civil. Lei 9.474, de 22 de julho de 1997. Define mecanismos para a implementação do Estatuto dos Refugiados de 1951, e determina outras providências.Consultado na internet em: 2 dez. 2019. CAVALLEIRO, E. Do silêncio do lar ao silêncio escolar: racismo, preconceito e discriminação na educação infantil. São Paulo: Contexto, 2017. IBGE. O Brasil Indígena. Funai. 2009. Acesso em: 2 dez. 2019. MATTOS, A. L. A criança refugiada no Brasil: Entre a falta de regulamentação e a necessidade de proteção. In: XII Seminário Nacional Demandas Sociais e Políticas Públicas na Sociedade Contemporânea – Edição 2016. Consultado na internet em: 2 dez. 2019. PINTO, R. P. Movimento negro e educação do negro: a ênfase na identidade. In: Cadernos de pesquisa. n° 86. ago. 1993. Consultado na internet em: 21 jan. 2020. TRINDADE, A. L. Africanidades brasileiras e educação [livro eletrônico]: Salto para o Futuro. Rio de Janeiro: ACERP; Brasília: TV Escola, 2013. BRASIL. Fundação Cultural Palmares. Personalidades negras – Zumbi dos Palmares. Brasília: Fundação Cultural Palmares, [s.d.]. BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Educação Básica. Censo Escolar. Resultados e resumos. Brasília: INEP, 2019. Consultado na internet em: 24 jan. 2020. ARTE QUE ACONTECE. MASP anuncia Sandra Benites como nova curadora adjunta de arte brasileira. [S. l.]: Arte que Acontece, 2019. Consultado na internet em: 24 jan. 2020. Descrição Propósito Objetivos Identidade da criança negra Educação da criança indígena no Brasil Crianças migrantes e refugiadas Introdução 1 - Identidade da criança negra Ao final deste módulo, você será capaz de descrever aspectos da identidade da criança negra no contexto educacional brasileiro. Diversidade e o papel da escola Conflitos de diversidade Vamos conhecer situações de relações étnico-raciais na sala de aula? Identidade negra Políticas públicas Valores civilizatórios afro-brasileiros Vem que eu te explico! Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 2 2 - Educação da criança indígena no Brasil Ao final deste módulo, você será capaz de identificar especificidades na educação da criança indígena no Brasil. Educação da criança indígena na escola formal A criança indígena na escola Papel da escola na educação indígena Como resolver esse desafio? Prêmio Territórios Educativos Diferenciais na educação Indígena Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Questão 2 3 Crianças migrantes e refugiadas Ao final deste módulo, você será capaz de analisar desafios educacionais de crianças migrantes e refugiadas no âmbito brasileiro. Educação de crianças migrantes e refugiadas Desafios educacionais Panorama dos refugiados no Brasil Refugiado Migrante Educação para crianças refugiadas Música e brincar na educação infantil Políticas públicas para Crianças Refugiadas Vem que eu te explico! Crises migratórias e a educação Integração da criança refugiada Fluxos migratórios e os desafios educacionais Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Questão 2 Explore + Referências
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