Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Equações diferenciais lineares de ordem superior APRESENTAÇÃO Grande parte dos problemas físicos encontrados nas Engenharias tem comportamento descrito por equações diferenciais, como as equações de movimento, as equações de malha em circuitos RLC, os problemas de escoamento de fluidos, de transferência de calor, etc. Muitas vezes, esses problemas envolvem equações com várias derivadas da mesma função. Para que você possa acompanhar adequadamente esta Unidade, é necessário dominar as equações diferenciais de primeira ordem, os operadores diferenciais e integrais e as funções. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar as equações diferenciais lineares de ordem superior homogêneas e não homogêneas, a dependência linear e a independência linear de funções, bem como identificar a solução dessas equações e suas aplicações na Engenharia. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Resolver equações diferenciais lineares homogêneas. • Reconhecer o método de resolução de uma equação linear não homogênea. • Identificar as equações diferenciais em problemas aplicados. • DESAFIO As equações diferenciais são utilizadas para descrever muitos fenômenos físicos e são largamente aplicadas nas áreas de Engenharia e Física. Os circuitos elétricos, por exemplo, geralmente são formados por resistências, indutores e capacitores, e seu comportamento é descrito por meio de equação diferencial de segunda ordem. Para este Desafio, você terá que resolver um problema envolvendo um circuito LC. Acompanhe: Diante das informações, encontre a equação de corrente nesse circuito. INFOGRÁFICO Equações diferenciais não homogêneas são resolvidas em dois passos. No primeiro passo, encontra-se a solução para a equação homogênea associada como uma equação homogênea qualquer de ordem n, e, no segundo passo, deve-se encontrar a solução particular. A seguir, no Infográfico, veja um exemplo de como solucionar uma equação diferencial linear de ordem n não homogênea. CONTEÚDO DO LIVRO Equações diferenciais de ordem superior estão presentes em inúmeros problemas de Física, como em circuitos elétricos, equação de movimento, escoamento de fluidos, etc. Leia o capítulo Equações diferenciais lineares de ordem superior, da obra Cálculo II, para entender o que são essas equações e como resolvê-las. Boa leitura. CÁLCULO II Everton Coelho de Medeiros Equações diferenciais de ordem superior Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Resolver equações diferenciais lineares de ordem superior. � Diferenciar o método de resolução de equações lineares homogênea e não homogênea. � Identificar as equações diferenciais em problemas aplicados. Introdução Equações diferenciais de ordem superior são muito empregadas para modelar diversos problemas físicos, com muitas aplicações práticas em engenharia, física, medicina, biologia e outras diversas áreas. Ao solucionar uma equação diferencial de ordem superior, é possível, por exemplo, encontrar equações para o projeto de sistemas de máquinas, circuitos elétricos, pontes, etc. Neste capítulo, abordaremos como são classificadas e os métodos de resolução de equações lineares homogêneas e não homogêneas. Ao final, você aprenderá a resolver equações diferenciais de ordem superior por meio da exposição de problemas aplicados. Equações diferenciais lineares de ordem superior Uma equação diferencial de ordem superior tem a forma: As funções Cn, Cn-1, …, C1, C0 e F(x) são contínuas em um intervalo I e, também, reais. A esse tipo de equação é dado o nome de problema de valor inicial (ZILL; CULLEN, 2001). Para resolver essa equação, são necessárias n iterações que resultaram em um número n de constantes. Logo, para obter uma única solução, faz-se necessário conhecer alguns valores específicos: aos quais se dá o nome de condições iniciais. Um exemplo de equação diferencial de ordem dois é mostrado a seguir: com condições iniciais: y(x0) = y0, y(x0) = 0 em um intervalo I, em que a equação é contínua. Teorema da existência de única solução Sendo Cn(x), Cn-1 (x), ..., C1(x), C0(x) e F(x) contínuos no intervalo I, dado que Cn(x) ≠ 0 em qualquer valor de x no intervalo, existirá somente uma única solução y(x) que satisfaça as condições iniciais no intervalo I. Verificar que g(a) = 3e2a + e–2a – 3a é uma solução para: com: Equações diferenciais de ordem superior2 Solução: A princípio, numa equação diferencial, seus coeficientes e F(a) =12a são contínuos, e C2 = 1 ≠ 0 em qualquer intervalo que contenha a = 0. Tendo essas informações, pode-se confirmar a existência de única solução, como diz o teorema. Substituindo os valores de a para as condições iniciais: Derivando-se g: A função g(a) = 3e2a – 2e–2a – 3a é a única solução para a equação diferencial de ordem dois, pois atende às condições do teorema e iniciais. Dependência e independência linear Dado um conjunto de funções num intervalo I, existindo constantes k1, k2, ..., kn não nulas: Afirma-se que as funções são linearmente dependentes e, caso contrário, as são linearmente independentes (BOYCE; DIPRIMA, 2010). Existindo duas funções linearmente dependentes: Reescrevendo a equação, isolando-se f1(x): Assim, para todo valor de x, funções linearmente dependentes são múltiplas umas das outras. Ao contrário, são linearmente independentes. 3Equações diferenciais de ordem superior Prove que as funções f1(x) = sen(2x) e f2(x) = sen(x) ∙ cos(x) são linearmente dependentes. Primeiramente, deve-se utilizar a relação trigonométrica para sen(2x) = 2sen(x) ∙ cos(x). Assim: Critério para independência linear de funções Chama-se Wronskiano o valor do determinante das funções de uma equação diferencial, supondo-se que cada função seja diferenciável n – 1 vezes. Caso o determinante seja igual a zero em algum ponto do intervalo I, as funções são linearmente independentes no intervalo. O Wronskiano das funções é denotado por: Equações diferenciais de ordem superior4 Calcular o Wronskiano das funções a seguir e verificar se são linearmente dependentes ou independentes. Como W ≠ 0, as funções são linearmente independentes. Equações diferenciais homogêneas e não homogêneas Uma equação diferencial de ordem n na forma demonstrada a seguir é clas- sificada como homogênea. Já, caso tenha a seguinte forma, é classificada como não homogênea (ZILL; CULLEN, 2001). Equações diferenciais homogêneas Equações de ordem superior tendem a ter soluções exponenciais y = k1 ⋅ e–ax, como as de primeira ordem. Toma-se como exemplo a equação de segunda ordem a seguir: 5Equações diferenciais de ordem superior A solução desse problema tem a forma y = epx, logo y' = pepx, y'' = p2epx. Então, a equação se torna: Uma função exponencial nunca se anula, independentemente do valor de x. Portanto, é necessário que os coeficientes se anulem. Com isso, tem-se uma nova equação chamada equação auxiliar (ZILL; CULLEN, 2001). Resolvendo a equação auxiliar, encontra-se o valor de p. Como, nesse caso, a equação diferencial é de ordem dois, a equação auxiliar é uma equação de segundo grau, para as quais existem três situações para suas raízes: duas raízes reais e distintas, duas raízes reais e iguais, raízes complexas conjugadas. Raízes reais distintas A equação auxiliar tem duas raízes p1 e p2: As duas funções encontradas são linearmente independentes, visto que uma não pode ser escrita como múltipla da outra. Assim, ambas formam um conjunto de fundamental solução. Para equações homogêneas, existe o teorema do princípio da superposição: para uma equação diferencial homogênea de ordem n, a superposição, a soma, das soluções é também uma solução dela. Sendo assim, pode-se escrever a função y como: onde p1 e p2 são raízes da equação auxiliar, e k1 e k2 são constantes da função y. Equações diferenciais de ordem superior6 Raízes reais iguaisQuando p1 = p2, encontra-se, a princípio, apenas uma solução exponencial y1 = e (p1x) para a equação. Porém, é possível chegar a uma nova solução a partir da primeira, por meio da redução de ordem. Ou seja, a equação de ordem dois é reescrita como uma equação de ordem um, ao fazer y′ = w, podendo ser novamente resolvida por método integrativo. Pela resolução, encontra-se que: Raízes complexas conjugadas Sendo p1 e p2 complexas conjugadas, pode-se escrever: onde k1 e k2 são constantes da função y. Essa solução, formalmente, não tem distinção em relação ao caso de duas raízes reais. Entretanto, utiliza-se a fórmula de Euler para que não se trabalhe com funções exponenciais complexas. cos sen Pode-se escrever a solução da equação diferencial como: cos sen 7Equações diferenciais de ordem superior Resolva o problema de valor inicial f'' – 4f' + 13f = 0, sujeito a f(0) = –1 e f'(0) = 2. A equação diferencial linear de ordem dois tem como equação auxiliar: Resolvendo a equação auxiliar, encontra-se duas raízes complexas: m1 = 2 + i3 e m2 = 2 – i3. Sendo assim, pode-se escrever f como: cos sen Para a condição f(0) = –1, tem-se: cos sen Logo, k1 = –1. Derivando a função solução, tem-se: sen cos cos sen Para f'(0) = 2, encontra-se , portanto: cos sen Para equações de ordem n, deve-se encontrar a equação auxiliar, que é polinomial de grau n: Para o caso de todas as raízes serem reais e distintas, a solução geral tem a forma: Devido ao maior grau do polinômio, existem as mais diversas combinações de raízes. Equações diferenciais de ordem superior8 Encontre a solução geral para y(4) – y = 0, satisfazendo as condições iniciais: A função y tem forma eax, com equação auxiliar: As raízes da equação são: Dadas as raízes, a solução geral é: sen Aplicando as condições iniciais, encontra-se o sistema: Resolvendo o sistemas, tem-se: Logo, a solução geral será: sen 9Equações diferenciais de ordem superior Equações diferenciais não homogêneas Para resolver equações lineares não homogêneas, é necessário seguir dois passos: � encontrar a função complementar, que é a solução da equação diferencial homogênea associada; � encontrar qualquer solução particular para a equação não homogênea. Como visto anteriormente, uma equação não homogênea de segunda ordem tem a forma: O método utilizado é o dos coeficientes a serem determinados utilizando-se o teorema da superposição. Esse método se limita a equações não homogêneas de coeficientes constantes, e a função pode ser: polinomial, exponencial, seno, cosseno ou soma e produto dessas (ZILL; CULLEN, 2001). Encontrar a solução particular da equação y'' + 2y' – 3y = x2 – 3x – 10. Resolvendo a parte homogênea associada, encontra-se a solução complementar: Agora, deve-se chegar à solução particular, supondo que ela tenha a mesma forma da função f(x). Derivando a solução particular duas vezes, conforme a equação homogênea associada: Equações diferenciais de ordem superior10 Assim: Agrupando por coeficientes do polinômio, chega-se em: Com isso, encontra-se a equação particular: A solução geral é a superposição da equação complementar e particular: Determine a solução particular para: y'' + 3y' – 4y = 2 ∙ sen2x. A solução particular tem a forma: A ∙ cos 2x + B ∙ sen 2x. Derivando e substituindo a solução particular na equação diferencial: –A ∙ cos x – B ∙ sen x + 3 ∙ (–A ∙ sen x + B ∙ cos x) – 4 ∙ (A ∙ sen x + B ∙ cos x) = 2 ∙ sen x e reagrupando os termos: Logo: 11Equações diferenciais de ordem superior Determine a solução particular para: A solução particular tem forma: Derivando e substituindo a solução particular na equação diferencial: e reagrupando os termos: Logo: No momento da resolução para encontrar a solução particular, não se escolhe a função de forma aleatória. A função da solução particular, normalmente, tem forma parecida com a função f(x). Veja, no Quadro 1, a relação entre f(x) e yp. Quadro 1. Relação f(x) e yp. f(x) Forma de yp 1 (constante) A ax + b Ax + b Equações diferenciais de ordem superior12 f(x) Forma de yp ax2 + b + c Ax2 + b + c Ax3 + bx2 + cx + d Ax3 + Bx2 + Cx + D sen (ax) A ∙ cos(ax) + B ∙ sen(ax) cos (ax) A ∙ cos(ax) + B ∙ sen(ax) eax A ∙ eaxt (ax – b) ∙ ecx (Ax – B) ∙ ecx x2 ∙ eax (Ax2 + Bx + C) ∙ eax eax ∙ sen(bx) A ∙ eax ∙ cos(bx) + B ∙ eax ∙ sen(bx) ax2 ∙ sen(bx) (Ax2 + Bx + C) ∙ cos(bx) + (Dx2 + Ex + F) ∙ sen(bx) Problemas aplicados Muitos sistemas físicos são modelados por meio de equações diferenciais lineares, como a equação de movimento em sistema massa-mola ou a corrente elétrica em um circuito RLC série, mostrado na Figura 1. Figura 1. Circuito RLC série. 13Equações diferenciais de ordem superior Aplicando-se a lei de Kirchhoff, a soma das tensões deve ser igual a zero em uma malha. Como corrente é a variação temporal da carga elétrica, reescreve-se a equação como: Para o circuito da Figura 1, encontrar a carga q(t) no capacitor, sendo q(0) = q0 e i(0) = 0, e(t) = 0. Escrevendo a equação diferencial: , e reescrevendo-a: encontra-se uma equação diferencial linear homogênea de ordem dois. Portanto, deve-se encontrar e resolver a equação auxiliar: que tem como raízes: t1 = –20 + 60i e t2 = –20 – 60i. A equação diferencial do circuito tem como solução geral: Equações diferenciais de ordem superior14 Aplicando-se as condições iniciais: a equação para a carga no circuito é: No link a seguir, você poderá entender melhor a lei de Kirchhoff para tensão, aprenderá o que é uma malha ou um nó e a convenção de sinais para o cálculo das malhas. https://qrgo.page.link/u2Hwd BOYCE, W. E.; DIPRIMA, R. C. Equações diferenciais elementares e problemas de valores de contorno. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2010. 607 p. ZILL, D. G.; CULLEN, M. R. Equações diferenciais, volume 1. 3. ed. São Paulo: Pearson; Makron Books, 2001. 473 p. Leitura recomendada STEWART, J. Cálculo, volume 2. 8. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2017. 672 p. 15Equações diferenciais de ordem superior DICA DO PROFESSOR Equações diferenciais nem sempre serão homogêneas; pelo contrário, na maioria das vezes, serão equações não homogêneas com as mais diversas funções g(x). Para solucionar equações não homogêneas, existem alguns métodos. Um dos mais simples é o método dos coeficientes a determinar; para tanto, é preciso encontrar a solução complementar, que nada mais é que a solução da equação homogênea associada, e a solução particular da função g(x). A solução particular pode ser obtida por meio de um conjunto preestabelecido de funções. Na Dica do Professor a seguir, veja como encontrar essa solução. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Sendo y = c1ex + c2e−x solução geral para y’’ − y = 0, no intervalo (∞, −∞), encontre a solução, tendo os valores iniciais y(0) = 0, y’(0) = 1. A) B) C) D) E) 2) Determine se as funções f1(x) = x, f2(x) = x2 e f3(x) = 4x − 3x2 são linearmente dependentes ou não dependentes. A) Linearmente dependentes com coeficientes c1 = −4, c2 = 3, c3 = 1. B) Linearmente independentes. C) Linearmente dependentes com Wronkiano diferente de zero. D) Linearmente independentes com Wronkiano igual a zero. E) Linearmente independentes com Wronkiano diferente de zero. 3) Resolva a equação diferencial 2y’’ − 5y’ − 3y = 0. A) y = k1ex − k2e2x B) y = k1e−0,5x − k2e2x C) y = k1e−0,5x + k2e3x D) y = k1e0.5x + k2e3x E) y = −k1ex − k2e2x 4) Encontre a solução particular para y’' − 5y’ + 4y = 8ex. A) B) C) D) E) 5) Considere um circuito LC com e(t) = 0. Determine a carga q(t) no capacitor, se q(0) = q0 e i(0) = 0, sabendo que a equação de malha é A) B) C) D) E) NA PRÁTICA Muitos problemas de Engenharia são descritos, matematicamente, como equações diferenciais de ordem dois ou superiores, podendo ser homogêneas ou não. A solução de circuitos RLC é feita por meio da solução da equação diferencial de segunda ordem que se originapela Lei de Kirchhoff das malhas. Na Prática, veja como é determinada a corrente estacionária em um circuito RLC série. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Equações diferenciais lineares de ordem n — Parte I No vídeo a seguir, o professor Claudio Possani, da UNIVESP, trata de equações diferenciais de ordem superior trazendo soluções para problemas homogêneos e não homogêneos. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Equações diferenciais lineares de ordem n — Parte II O vídeo a seguir é a continuação das explicações do professor Claudio Possani sobre equações diferenciais de ordem superior. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Lei de Kirchhoff No link a seguir, saiba mais sobre a Lei de Kirchhoff para tensão, compreendendo o que é uma malha ou nó e a convenção de sinais para o cálculo das malhas. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Lista de exercícios Para aprender equações diferenciais lineares de ordem superior, é importante que você treine fazendo diversos exercícios. Para tanto, baixe a lista de exercícios a seguir e resolva as questões. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
Compartilhar