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AULA 4 GESTÃO DO CONHECIMENTO E APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL TEMA 1 – DECIDIR APRENDER Como já dissemos, a formação do capital humano é diferencial competitivo para as organizações, que se utilizam de iniciativas de inovação, criatividade e autonomia. Para isso, ela precisa qualificar suas pessoas. A organização, entretanto, possui um desafio. Além de oferecer treinamentos conforme seu desenho estratégico, ela ainda precisa provocar em seus profissionais a decisão de aderir a essas ofertas, a decisão de não se acomodar, a decisão de abraçar o novo, a decisão de aprender. Os talentos individuais motivados e qualificados serão a mola propulsora da competitividade da organização. Marques ([S.d.]) fala sobre motivação intrínseca e extrínseca. No final, motivação é o que levará o indivíduo a tomar a decisão de aprender. Segundo Marques ([S.d.]), motivação intrínseca é aquela “que depende exclusivamente do indivíduo e que está diretamente ligada aos seus sentimentos, gostos, prioridades, desejos e outros estímulos relacionados às questões internas”. Já a motivação extrínseca é aquela “utilizada pelas empresas como forma de manter os funcionários engajados. Esse estímulo está relacionado às ações que acontecem de fora para dentro [da organização]” (Marques, [S.d.]). Para estimular a decisão de aprender, a organização deve privilegiar os dois aspectos da motivação. Gomes (2017) compila de vários autores os fatores que a organização deve levar em consideração no momento de planejar seus treinamentos e torná- los atrativos aos colaboradores. 1.1 Levantamento das necessidades A organização, durante o planejamento dos treinamentos, deve identificar suas necessidades. Deve ouvir seus acionistas, seus colaboradores, seus fornecedores, seus clientes e estudar o mercado, de forma a identificar os rumos a tomar. 1.2 Diagnóstico do problema Durante a fase de levantamento das necessidades é natural que sejam apontados problemas a resolver, alguns deles com treinamentos e outros com outros tipos de ação. A organização deve utilizar essas informações em seu benefício. 2 1.3 Identificação do cliente interno A organização precisa identificar os perfis que deseja atingir. Deve cruzar as necessidades das pessoas com suas necessidades. 1.4 Elaboração de um programa de treinamento É preciso converter as necessidades de treinamento em programações efetivas, que atendam ao propósito de suprir a necessidade identificada. 1.5 Objetivos Cada treinamento deve ter seus objetivos claramente definidos, assim como deve ser estabelecido um desempenho final a ser alcançado e seu tempo de execução. 1.6 Definição dos temas (conteúdo) Tão importante quanto os objetivos é o conteúdo a ser oferecido. Deve ser discutido, revisado e aprovado pela organização, visando atingir os melhores resultados. 1.7 Metodologia Forma de execução do treinamento: presencial, on-line, discursivo, interativo, externo, no Brasil, no exterior. 1.8 Tempo e custo Imprescindíveis à elaboração do planejamento, precisam ser consistentemente previstos e mantidos sob controle. 1.9 Convocação dos treinandos Momento de conscientizar aos treinandos sobre a importância do treinamento, sobre a visão que a organização tem a seu respeito, sobre o investimento realizado e momento de motivá-los, incluindo aí, sempre que pertinente, o sistema de recompensas sobre o qual já falamos. 3 1.10 Instrutores Devem ser escolhidos com critério, possuir experiência, conhecimento, didática e soft skills. Com toda essa estrutura de planejamento estabelecida, resta ainda aos gestores da organização construir a ponte entre as intenções da organização e as dos funcionários. Garrido, Mendonça e Silveira (2017) resumem em seu artigo algumas ações orientativas aos gestores para que sejam bem-sucedidos nessa missão: • A organização deve propiciar um ambiente favorável ao processo de aprendizagem, para que o colaborador a receba bem; • Ao inserir o colaborador num processo de aprendizagem bem estruturado, esse processo gerará naturalmente um aumento de sua autoestima, como profissional e como indivíduo; • O enriquecimento cognitivo tende a desenvolver suas potencialidades, tornando-o um profissional melhor e mais produtivo; • O enriquecimento cognitivo, uma vez reconhecido pelo colaborador, será gatilho motivacional; • A organização precisa ser sensível à situação pessoal do colaborador. Se for conhecedora de que o colaborador passa por uma provação pessoal, não deve insistir em inseri-lo em processos de treinamento, pois provavelmente o aproveitamento não será satisfatório; • Se a organização tiver sucesso em oferecer ao colaborador um treinamento que se alinhe às suas aspirações pessoais, conseguirá que ele se inclua numa imensa força motivacional; • O colaborador motivado por um treinamento bem-sucedido tenderá a ser mais engajado na organização, além de sentir- se inclinado a aumentar sua eficiência e eficácia. O artigo afirma que é impossível ignorar a influência da afetividade e da subjetividade humanas na motivação intrínseca e no processo cognitivo. Ou seja, o indivíduo não consegue separar completamente a pessoa do profissional e, à medida que se motiva a pessoa, consequentemente se motiva o profissional. 4 TEMA 2 – APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL Ao abordarmos um tema, sempre devemos nos perguntar sobre sua relevância. Nesse tópico específico, qual é a importância da aprendizagem organizacional? Os colaboradores de uma organização, independentemente de seu nível hierárquico, precisam, numa periodicidade razoável, se reciclar. Conhecimentos direcionados ao aprimoramento pessoal, técnico ou gerencial devem ser acessados para manter a organização e o próprio profissional no patamar competitivo. Ao final, é isso: aprendizagem organizacional é elemento de vantagem competitiva, pois aprimora o capital intelectual da organização. Aprendizagem organizacional é o conhecimento patrocinado ou copatrocinado pela organização e absorvido pelo colaborador para o desenvolvimento de ambos. É claro que uma grande parte da absorção da aprendizagem organizacional ocorre informalmente, aproveitando-se da experiência adquirida na realização das atividades diárias, com seus acertos e erros, e da absorção dos exemplos e da experiência dos colegas e gestores. Mas vamos focar na absorção formal. As organizações que incluem, em suas estratégias, planejamento para incremento da aprendizagem organizacional são definidas como organizações que aprendem. Falamos sobre elas na Aula 2. Manter um processo de aprendizagem organizacional traz vantagens, dentre as quais podemos destacar maior eficiência nas atividades rotineiras, colaboradores mais motivados e mais comprometidos, maior receptividade à inovação, clientes mais satisfeitos. Além de trazer vantagens, faz bem à sobrevivência da organização. John Gardner (citado por Carvalho, 1999) enumera as características básicas que as organizações autorrenováveis (e portanto em constante aprendizado organizacional) possuem. São características de organizações cujos olhos se voltam para o futuro: • Capacidade de experimentação na busca de novas alternativas para enfrentar os desafios do meio onde atuam; • Menor preocupação com o passado convencional, com as regras e procedimentos normais; 5 • Disposição para assumir riscos, inerentes ao princípio de tomada de decisões; • Capacidade para superar os desafios próprios do processo de mudança autorrenovado; • Desenvolver um contínuo aprendizado como filosofia de vida organizacional. Uma vez adotado o processo de aprendizagem organizacional, segundo Guns (1998), ele provavelmente será enquadrado em uma dessas categorias: 2.1 Aprendizagem de tarefas Orienta para o desempenho e a valorização de tarefas específicas. 2.2 Aprendizagem sistêmica Diz respeito aos processos da organização, seu desenvolvimento e suas melhorias.2.3 Aprendizagem cultural Trata dos fundamentos de uma organização, seus valores, convicções e atos, incluindo missão e visão. 2.4 Aprendizagem de liderança Voltada para a gestão e a liderança de pessoas, grupos e unidades de empresas de médio e grande porte. 2.5 Aprendizagem de equipe Orienta para a eficiência na prática da função, mostrando também como se faz para promover o aprendizado e o crescimento da equipe. 2.6 Aprendizagem estratégica Esse tipo de aprendizagem está focado nas estratégias da organização, como se dá o seu desenvolvimento, sua implementação e prováveis melhorias. 6 2.7 Aprendizagem empreendedora Trata do empreendedorismo e a gestão de equipes, como se estas fossem microempresas. Provoca no colaborador a chamada visão de dono. 2.8 Aprendizagem reflexiva Enfatiza o questionamento dos modelos vigentes na organização. É uma aprendizagem que alcança grupos mais restritos no ambiente da organização. 2.9 Aprendizagem transformacional Orienta para as formas de se realizar mudanças dentro da organização que surtam efeitos significativos. Normalmente formatada para uma mistura de treinamento técnico e emocional, trazendo afetividade para os momentos de afetividade e mudança. Além dessa abordagem, encontram-se na literatura outras referências. Uma delas é a aprendizagem com os erros cometidos durante a rotina de trabalho, valorizada por alguns autores. Para implementar a estratégia de aprendizagem organizacional, devem ser levados em conta, além das necessidades corporativas, os desafios externos ao ambiente da organização. A alta direção precisa dar suporte à aprendizagem, sendo parte ativa do processo e, por fim, deve-se pensar num aprendizado de médio e longo prazo, sem ser baseado em ensinamentos da moda, mas sim naqueles alinhados com a estratégia de negócios. Ao final de todo esse esforço, quais são os benefícios que a organização deve esperar colher após incentivar a aprendizagem organizacional? FNQ (Já ouviu falar..., 2021), blog especializado em gestão, compilou os principais: • Ganhos de eficiência; • Produtividade aprimorada e processos otimizados; • Lucro aumentado; • Redução da rotatividade de funcionários, pois conforme aumentam seus níveis de satisfação, aumentam também a lealdade e o comprometimento; • Criação de um mindset de melhoria contínua, propriedade compartilhada para projetos e responsabilidade compartilhada por resultados; 7 • Desenvolvimento de líderes em todos os níveis, o que ajuda no planejamento da sucessão; • Criação de uma cultura de investigação, capacidade adaptativa e compartilhamento de conhecimento; • Capacidade aprimorada para indivíduos e equipes adotarem e se adaptarem à mudança. TEMA 3 – GESTÃO: EXERCÍCIO DA LIDERANÇA CONTEXTUALIZADA Liderança contextualizada é um conceito relativamente recente. Na literatura brasileira, as publicações são ainda limitadas, mas há bastante material a respeito em publicações estrangeiras. Liderança contextualizada é aquela exercida pelo gestor por meio da compreensão de um ambiente em evolução, aplicando as tendências desse ambiente à sua realidade organizacional. O site Business-Leadership-Qualities (Contextual..., [S.d.]), dedicado à metodologia StrengthsFinder® Coach, aponta Apple, Uber e AirBnb como empresa cujas lideranças foram efetivas na leitura de tendências e em aplicá-las, antes mesmo que os consumidores identificassem a necessidade. O contexto, entretanto, não se refere somente ao ambiente externo à organização, mas também ao ambiente interno. O gestor, assim como entende o que ocorre fora dos muros e, como líder contextual, se adapta, mas também deve fazê-lo no ambiente interno. Nesse ambiente, o gestor lida todos os dias com várias situações complexas que demandam tratamentos separados, mas que compõem o contexto. O gestor pode ser a interface na parceria com clientes, fornecedores ou governo; pode precisar dar atenção individual a um liderado; pode ter que liderar um projeto específico; pode precisar conduzir um trabalho de sua equipe; ou pode realizar uma tarefa multifuncional ou corporativa, reunindo várias filiais. O exercício da liderança contextualizada, portanto, demanda a completa compreensão da cultura organizacional, assim como demanda o conhecimento de seus liderados como pessoas (em termos de características pessoais) e como profissionais. Juntar tudo isso no exercício diário da gestão, juntamente com a execução de suas atividades diárias, é praticar liderança contextualizada. Esse exercício é complexo e não pode ser executado à perfeição em todos os seus aspectos. A organização, da mesma forma que precisa investir na aprendizagem organizacional, precisa estar atenta às necessidades de seus 8 gestores. O gestor deve ser apresentado a ferramentas que lhe permitam desenvolver o seu potencial, reforçando suas características fortes e auxiliando-o em seus pontos de melhoria. A literatura indica alguns pontos em comum que demandam atenção do gestor no exercício da liderança contextualizada bem- sucedida: 3.1 Envolvimento com a equipe É preciso participar ativamente do recrutamento, colocar nas posições adequadas, motivar e apoiar sua equipe, sendo participativo e evitando ser omisso. 3.2 Explorar e entender os limites organizacionais Entender e explorar os limites que determinados sistemas de trabalho impõe aos relacionamentos entre lideranças ou mesmo setores dentro de uma organização e tutorear sua equipe a lidar com essas barreiras. 3.3 Aplicar e cascatear as diretrizes organizacionais Liderar a equipe em suas tarefas rotineiras e provocar neles o entendimento do nível estratégico da organização, incentivando-os a conhecer e se envolver em projetos estratégicos, metas organizacionais e visões de futuro divulgadas pela organização. 3.4 Capacitar-se para exercer sua liderança up and down O gestor precisa ser capaz de relacionar-se com seus superiores para ser merecedor de sua confiança, e precisa cultivar o relacionamento com seus subordinados de modo a conquistar sua lealdade. 3.5 Atentar para o microcontexto Embora a liderança contextualizada naturalmente guie o gestor a adotar uma visão mais ampla, uma fatia de sua atenção deve estar voltada para o entendimento da cultura daquela unidade da organização, daqueles setores que a compõem, de sua própria equipe como conjunto e dos indivíduos que a compõem. 9 3.6 Olhar para os indivíduos O gestor jamais deve perder de vista que esse é o princípio de tudo: gerir os indivíduos e lidar com seus comportamentos, pois é uma parte importantíssima na composição do contexto. 3.7 Autoavaliar-se, sendo seu maior crítico e seu maior fã O gestor deve buscar construir uma visão crítica harmônica a respeito de si, avaliando-se sempre quanto à sua performance em lidar com a efetividade de sua liderança, o acerto em suas tomadas de decisões, suas habilidades em comunicar-se com superiores, pares e equipe e sua capacidade de realizar aquilo que é planejado, ou seja, alcançar seus objetivos organizacionais. Figura 1 – Elementos da liderança contextualizada TAREFAS CORPORATIVAS CLIENTES FORNECEDORES AMBIENTE EXTERNO AMBIENTE INTERNO PROJETOS GESTOR GOVERNO TAREFAS MULTIFUNCIONAIS AUTO AVALIAÇÃO CULTURA ORGANIZACIONAL ALTA DIREÇÃO MICRO CONTEXTOS LIDERADOS (INDIVÍDUOS) LIDERADOS (PROFISSIONAIS) ATIVIDADES ROTINEIRAS Para ilustrar nosso texto, buscamos colocar em representação o que pode significar o dia a dia de um gestor que exerça sua liderança de forma contextualizada. Relaciona-se com muitos elementos em interface de mão-dupla (BA), oferecendo e recebendo informações e atividades, com outros em interface simples (A), apenas oferecendo sua expertise para a execução dos processos da DIRETRIZES ORGANIZACIONAIS 10 organização e com outros apenas recebendo os inputs estratégicos orientativos à suagestão (B). Reparemos ainda que todos esses elementos podem relacionar-se não somente com o gestor, mas uns com os outros. TEMA 4 – DESENVOLVIMENTO E GESTÃO POR COMPETÊNCIAS Em nossas aulas, falamos muito sobre cultura organizacional e sua importância para fortalecer os processos gerenciais e produtivos da organização e para reter seus talentos. As pessoas que hoje iniciam suas carreiras tornaram- se um desafio de retenção para as organizações. Têm valores diferentes, exigências diferentes e querem que o progresso profissional ocorra muito mais rápido. Para organizar esse cenário de transição entre o comportamento tradicional e o novo, adotar bons modelos de gestão pode ser a chave do sucesso. Gerir competências é buscar o máximo desenvolvimento dos profissionais, fortalecendo suas habilidades técnicas e comportamentais. Competência pode ser definida como a habilidade para realizar uma tarefa de maneira eficiente e pode ser dividida em duas categorias básicas: competências técnicas e competências comportamentais. As competências técnicas são as hard skills, e as comportamentais são as soft skills. De acordo com Ceitil (2007), ambos os tipos de competências são compostos por cinco componentes essenciais, que veremos a seguir: 4.1 Saber É o conjunto de conhecimentos que permite ao executor realizar os comportamentos associados àquelas competências. 4.2 Saber fazer É o conjunto de habilidades que fazem com que o executor esteja capacitado para aplicar os conhecimentos que possui na solução de problemas no ambiente do trabalho. 4.3 Saber estar Além de desempenhar as tarefas com eficiência e eficácia, o 11 comportamento do executor deve adequar-se às normas e regras da organização em geral e de sua equipe ou gerência em particular. 4.4 Querer fazer O executor deve estar imbuído da vontade de desenvolver e realizar os comportamentos que compõem as competências. 4.5 Poder fazer A organização deve dispor e disponibilizar os meios e recursos necessários que possibilitem ao executor o desempenho dos comportamentos associados às competências. Gestão por competências envolve seleção, treinamento, remuneração, avaliação e monitoramento de desempenho. Elaborada a lista de competências, a organização deve colocar em prática um plano de aprendizado organizacional, oferecendo recursos para o desenvolvimento dos colaboradores, e um plano de comunicação para divulgá-lo adequadamente. Chiavenato (2003) sugere a formatação do seguinte plano, antes de comunicá- lo: • Mapear e descrever as competências; • Mensurar as competências; • Criar ou adotar um sistema para remunerar as competências; • Selecionar com base em competências; • Desenvolver competências; • Avaliar desempenho por competências; • Desenvolver e manter um plano contínuo de desenvolvimento por competências. Abordado o ponto de vista da organização, como o desenvolvimento de competências traz evolução ao profissional, melhorando sua atuação? LeBoerf (citado por Fleury; Fleury, 2001) propõe algumas reflexões: 4.6 Saber agir O profissional desenvolve a habilidade de saber o que faz e por que o faz. Desenvolve também saber julgar, escolher e decidir. 12 4.7 Saber mobilizar recursos Desenvolve a criação de sinergia e mobilização de recursos e competências. 4.8 Saber comunicar Desenvolve a compreensão e a transmissão assertiva de informações e conhecimentos. 4.9 Saber aprender Desenvolve a recepção otimizada do conhecimento e da experiência, e revê modelos mentais. 4.10 Saber engajar-se e comprometer-se Desenvolve a habilidade de empreender, de assumir riscos, de comprometer-se com uma meta. 4.11 Saber assumir responsabilidades Desenvolve a capacidade de responsabilizar-se conscientemente por suas ações, assumindo riscos e consequências e negociando reconhecimento por isso. 4.12 Ter visão estratégica Esforça-se por conhecer e entender o negócio da organização e seu contexto, buscando identificar oportunidades e alternativas. Devemos enfocar ainda a transição das competências aprendidas, do nível individual para o nível organizacional. Conforme Fleury e Fleury (2001), o processo ocorre primeiro no nível do indivíduo, e as competências aprendidas são carregadas de emoções positivas ou negativas de cunho pessoal. As competências são integradas depois no nível do grupo. Cada indivíduo contribui com suas competências, carregadas de emoções positivas ou negativas, e elas são combinadas, constituindo um novo conjunto. As competências integradas no nível do grupo são transformadas e 13 expressas em artefatos organizacionais: políticas, procedimentos, instruções de trabalho e estratégias, que orientarão o funcionamento da organização. TEMA 5 – TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO Treinamento é uma ferramenta de curta ou média duração, utilizada para prover o colaborador de conhecimentos e habilidades para aperfeiçoar a execução de seu trabalho. Desenvolvimento é um conjunto de conhecimentos de longo prazo que são aplicados tanto para aperfeiçoar a execução do trabalho quanto para trazer desenvolvimento pessoal ao indivíduo que os recebe. No tema anterior, falávamos sobre competências. No momento em que a organização percebe a necessidade de uma determinada competência, ou de um conjunto delas, pode trilhar dois caminhos. É possível buscar essa competência no mercado por meio de recrutamento, ou qualificar uma pessoa de seu quadro. Vamos focar no segundo caminho. Para suportar essa decisão da organização, Chiavenato (2014) sugere a modernização dos planos de treinamento e desenvolvimento, comparando as características clássicas com as atuais quando o tema é desenvolver pessoas. 5.1 Comparação das características clássicas com as atuais 5.1.1 Planejado versus casual A organização deve antecipar-se às suas necessidades baseando- se em suas metas estratégicas, planejando suas iniciativas de treinamento e desenvolvimento. Contrapõe-se à qualificação casual, eventual. 5.1.2 Intencional versus randômico A organização deve decidir quem treinar e desenvolver de forma intencional, utilizando-se de critérios claros, não subjetivos. Contrapõe-se a decisões baseadas em critérios randômicos, aleatórios, ou em critério nenhum, ao sabor da liderança. 14 5.1.3 Proativo versus reativo Uma vez que a organização antecipou-se às suas necessidades, ela passa a desenvolver seu grupo de forma proativa, precisando preocupar-se menos em ser reativa às situações que se apresentem. 5.1.4 Longo prazo versus curto prazo A organização deve organizar seu programa de treinamento e desenvolvimento olhando à frente em meses e anos, no longo prazo, e não focando somente em atender às necessidades de curto prazo. 5.1.5 Instabilidade versus estabilidade O programa de treinamento e desenvolvimento não pode ignorar o elemento instabilidade, característico do mercado atual. Precisa incluir o gerenciamento da mudança em seu conteúdo, primando para que o processo, ao final do programa, esteja mudado e não estável. 5.1.6 Consensual versus imposto A montagem do programa de treinamento e desenvolvimento deve contar com a participação do colaborador, para que seu conteúdo seja enxergue como relevante de forma consensual. Deve ser evitada a atitude de simplesmente impor ao colaborador que realize determinado treinamento. 5.1.7 Provisório versus permanente A organização deve enxergar que o conteúdo de seu programa de treinamento e desenvolvimento precisa ser constantemente revisto, considerando as mudanças do mercado e de sua própria estratégia. Não é possível estabelecer um programa permanente. Tomada a decisão de prover treinamento e desenvolvimento aos colaboradores, que etapas devem ser seguidas para implementação? Há diversas interpretações na literatura, mas a Gupy (2021), empresa que atua no ramo de RH e publica um blog bastante robusto, traz uma interessante compilação: 15 5.2 Etapaspara implementação do treinamento e desenvolvimento 5.2.1 Diagnóstico É a etapa na qual se entendem as necessidades da organização, identificando-se as que são pontuais e de curto prazo para treinamentos e as de longo prazo para desenvolvimento. Algumas ferramentas ajudam a formar um diagnóstico consistente, como o mapeamento de competências, a pesquisa de clima organizacional, o balanced scorecard e a avaliação de desempenho. 5.2.2 Planejamento É a etapa em que se associam os cargos, funções e pessoas com suas respectivas necessidades de treinamento e desenvolvimento (t&d). Dessa forma, é possível obter o montante necessário de t&d nas perspectivas curta e longa. Aí deve-se compor um plano de ação, respondendo a um checklist com perguntas como: quais são as necessidades de t&d, quais são os objetivos do programa, quais são os gaps a serem resolvidos, quais os tipos de t&d a serem aplicados, quem receberá t&d, onde ocorrerão, quando ocorrerão, qual será o custo de cada treinamento e do plano como um todo, quem será o responsável por coordenar sua execução? 5.2.3 Execução É a etapa da realização. A organização deve comunicar aos colaboradores o que está ocorrendo, divulgando o plano de treinamento e desenvolvimento e seus objetivos. Deve passar à etapa da realização, aplicando os métodos escolhidos; levantar dados para avaliar o desempenho, como notas e mudanças nos resultados da empresa; e consolidar o andamento da execução em documentação apropriada, com atualização periódica. 5.2.4 Avaliação É o momento de avaliar o programa de treinamento e desenvolvimento em si e seu impacto nos colaboradores e na organização. Os custos devem ser contabilizados, a satisfação dos participantes com o programa deve ser mensurada, e o desempenho das pessoas e da organização deve ser analisado. 16 Além da melhora de desempenho, que outros benefícios a organização pode esperar colher implementando um programa de treinamento e desenvolvimento? O mais evidente talvez seja reduzir a lacuna entre as competências possuídas e as desejadas. Essa redução trará melhores condições para o atingimento de resultados, maior excelência na realização das tarefas e funções, melhor performance na resolução de problemas e crises, melhores produtos e serviços e maior predisposição à inovação. Um outro benefício é a melhora dos indicadores de recursos humanos (RH): redução do turnover, maior assiduidade, melhoria do clima organizacional e maior engajamento podem ser esperados. A cultura organizacional também sai fortalecida do processo, pois, ao trazer o colaborador para participar do esforço de progresso da organização e recompensá-lo por isso, naturalmente ocorre a consolidação das crenças, valores e normas de comportamento. Por fim, os talentos que a organização possui e seu capital intelectual ganham qualidade e, consequentemente, valor, pois melhores competências técnicas e comportamentais trazem maiores benefícios. 17 REFERÊNCIAS CARVALHO, A. V. de. Aprendizagem organizacional em tempos de mudança. São Paulo: Pioneira. 1999. CEITIL, M. Gestão e desenvolvimento de competências. 2. ed. Lisboa: Edições Sílabo, 2007. CHIAVENATO, I. Gerenciando pessoas. 4. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2003. _____. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. 4. ed. Barueri, SP: Manole, 2014. CONTEXTUAL leadership Business-Leadership-Quality, [S.d.] Disponível em: <https://www.business-leadership-qualities.com/ contextual-leadership.html>. Acesso em 22 mar. 2022 FLEURY, M. T. L.; FLEURY, A. Construindo o conceito de competência. Revista de Administração Contemporânea, v. 5, n. esp., p. 183-196, 2001. GARRIDO, G.; MENDONÇA, A. V.; SILVEIRA, M. A. Aprendizagem organizacional e motivação humana: uma relação sistemicamente representada Revista de Administração da Universidade Federal de Santa Maria, 24 set. 2017. Disponível em: <https:// www.redalyc.org/journal/2734/273458852005/html/>. Acesso em: 22 mar. 2022. GOMES, A. P. T. A importância da motivação e do treinamento nas organizações Revista Educação, Psicologia e Interfaces, v. 1, n. 1, 2017. Disponível em: <https:// educacaoepsicologia.emnuvens.com.br/edupsi/article/view/15 >. Acesso em: 22 mar. 2022. GUNS, B. A organização que aprende rápido: seja competitivo utilizando o aprendizado organizacional. São Paulo: Futura, 1998. GUPY, M. D. Treinamento e desenvolvimento de pessoas: o que é e como criar uma estratégia de sucesso. Gupy, 3 nov. 2021). Disponível em: <https://www.gupy.io/blog/treinamento-e- desenvolvimento>. Acesso em 22 mar. 2022 18 JÁ OUVIU FALAR em aprendizado organizacional? Saiba como aplicar! FNQ, 19 jul. 2021. Disponível em: <https://blog.fnq.org.br/ aprendizado-organizacional- saiba-como-aplicar/>. Acesso em: 22 mar. 2022. MARQUES, J. R. Qual a diferença entre motivação intrínseca e extrínseca? JRM, [S.d.] Disponível em: <http:// www.jrmcoaching.com.br/blog/qual-a-diferenca- entre-motivacao- intrinseca-e-extrinseca/>. Acesso em: 22 mar. 2022. 19