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UNIVERSIDADE PAULISTA INSTITUTO DE CIÊNCIA DA SAÚDE CURSO DE NUTRIÇÃO LEONARDO JONATA CERVENCOVE NATÁLIA CARNAVALE YASMIN HARUMI KUBO ESTUDO DE CASO: OBESIDADE SOROCABA-SP 2021 LEONARDO JONATA CERVENCOVE D04BAH4 NATÁLIA CARNAVALE D77ABI1 YASMIN HARUMI KUBO N290889 ESTUDO DE CASO: OBESIDADE SOROCABA-SP 2021 Estudo de caso referente ao estágio obrigatório na área de nutrição clínica, apresentado à Universidade paulista – UNIP. Prof.° Orientadora: Jackeline Rodrigues. Supervisora: Karina da Silva Timpanari. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 4 1.1 Epidemiologia da doença 4 1.2 Conceito 4 1.3 Fisiopatologia 5 1.4 Quadro Clínico 7 1.5 Diagnóstico 8 1.6 Tratamento 8 2. IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE 11 2.1 Sigla do nome, sexo, idade, estado civil, profissão, procedência. 11 3. EVOLUÇÃO DO CASO. 12 3.1 História da moléstia atual/História pregressa da moléstia atual. 12 3.2. Avaliação nutricional. 12 3.2.1 Anamnese alimentar. 13 3.2.2 Antropometria. 19 3.2.3 Bioquímica / Imunologia 26 3.2.4 Farmacologia. 28 3.2.5 Discussão e Diagnostico Nutricional. 29 3.3 Recomendações e Prescrição. 29 3.3.1 Recomendações Dietéticas 30 3.3.2 Prescrição Dietoterápica 31 4. CONDUTA NUTRICIONAL 34 5. EVOLUÇÃO CLÍNICA E DIETOTERAPIA 37 6. CONCLUSSÃO 41 REFERENCIA BIBLÍOGRÁFICA. 42 APÊNDICES. 45 4 1. INTRODUÇÃO 1.1 Epidemiologia da doença Segundo os dados do Ministério da Saúde (2020), ocorreu um grande aumento de 72% na incidência da obesidade no período entre o ano de 2006 e 2019, onde subiu significativamente de 11% para 20,3% da população do Brasil, o número de pessoas com IMC maior que 30, significando que a cada dez brasileiros, 2 estão sendo classificados como obeso (ABESO, 2018). A mudanças nos hábitos alimentares da população brasileira pode ser notado através da evolução da disponibilidade domiciliar de alimentos, baseando-se nas Pesquisas de Orçamento Familiar POFs, realizadas em 2002- 2003, 2008-2009 e 2017-2018, que indicaram que alimentos in natura, os minimamente processados e ingredientes culinários da alimentação base como o arroz e o feijão vêm cada vez mais perdendo espaço para alimentos processados e, sobretudo, para alimentos ultraprocessados. Entre os produtos que apresentaram aumento de suas quantidades per capta média, adquiridas entre os períodos de realização das POFs nacionais, destacam-se os alimentos preparados e misturas industriais (56%), as Bebidas alcoólicas (19%) e as Bebidas não alcoólicas (17%) (IBGE, 2020). De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a obesidade é um dos problemas de saúde mais graves que o mundo vem enfrentando. Estima-se que até 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos em todo o mundo estarão com sobrepeso, o que significa que 700 milhões de pessoas serão obesas, com o IMC (Índice de massa corporal) superior a 30 (ABESO, 2018). 1.2 Conceito A obesidade pode ser entendida como sendo o acúmulo de gordura corporal excessiva, decorrente do desequilíbrio entre a ingestão calórico- energética, na maioria dos casos, é o resultado de um superávit calórico por um relativo e estendido espaço de tempo, onde se ingere mais calorias do que se utiliza, existem condições clínicas adversas, além de erros de metabolismo, que também fazem com que o processamento, utilização e armazenamento dos macros e micronutrientes sejam modificados, de forma que leva o indivíduo a 5 desenvolver um quadro de obesidade de modo secundário, por exemplo, os distúrbios relacionados a glândula tireoide (SILVA, 2017). A Obesidade pode ser entendida como sendo uma condição clínica de causas multifatoriais, que envolvem fatores genéticos e epigenéticos, onde acontece um acúmulo excessivo de gordura corporal, a um nível patológico, ao ponto de colocar a saúde e a vida do indivíduo acometido em risco. Atualmente é classificada a nível de pandemia, pois vem crescendo no Brasil e no mundo. A dimensão do problema da obesidade rompe as fronteiras da biologia do indivíduo que é afetado por essa condição, têm impacto social, econômico, político, científico e tem se tornado uma preocupação mundial (SILVA, 2017). Segundo o alerta da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolismo - SBEM, a obesidade vai muito além do acúmulo excessivo de gordura corporal, pois está relacionada a diversas doenças da fisiologia endócrina e metabólica, proporcionando um estado de suscetibilidade às doenças endócrinas e metabólicas (SBEM, 2021). Entretanto, o ministério da saúde declara que, a obesidade se constitui em um problema de saúde pública grave, pois segundo pesquisas de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas, 55 % da população adulta no Brasil está com o excesso de peso e 20% está classificada como obesa (MINISTERIO DA SAÚDE,2020). 1.3 Fisiopatologia Normalmente uma das primeiras causas da obesidade está relacionada com os hábitos alimentares e o estilo de vida sedentário, ocorre na maioria das vezes um desequilíbrio do balanço energético, onde se ingere mais calorias do que se utiliza, induzindo ao acúmulo excessivo de células adiposas (LIDIANE, H.O, PABLO.A, 2012). O balanço energético do nosso organismo, é controlado pelo sistema nervoso central (SNC), moléculas circulantes na corrente sanguínea são capazes de sinalizar a quantidade de energia armazenada sob a forma de gordura. O impulso por se alimentar é controlado por dois mecanismos principais, a fome fisiológica, decorrente de uma necessidade metabólica, para eliminar a sensação de fome e pelo estímulo de recompensa imediata (SILVA. 2017). 6 O hipotálamo é a estrutura do cérebro que controla o balanço energético, onde há neurônios específicos, que participam deste processo, como é o exemplo do neurônio ag/RP/NPY, que é ativado em situação de balanço energético negativo e perda de peso, através de feedback da concentração plasmática dos hormônios insulina e leptina, esse neurônio atua criando impulsos de hiperfagia. Alguns estudos demonstram que a inibição deste neurônio, também chamada de silenciamento, faz com que o impulso hiperfagico seja controlado (SILVA. 2017). A grelina é um hormônio que atua ativando esse neurônio, sendo uma reguladora de curto prazo desse mecanismo, da sensação de fome e do impulso alimentar, é produzida em células neuroendócrinas do estômago, e quando este órgão está vazio, a produção de grelina é aumentada (SILVA. 2017). Por outro lado, o neurônio POMC/CART, que é considerado um neurônio anoréxico, atua de modo antagônico ao neurônio ag/RP/NPY, sendo ativado pelo hormônio leptina, criando então um mecanismo de resposta de saciedade, a leptina tem sua produção aumentada na presença de conteúdo alimentício no estômago. O neurônio POMC/CART produz a melanocortina, que atua sobre outros neurônios inibindo o desejo de comer (SILVA. 2017). A melanocortina atua sobre receptores neuronais, sendo assim, neurônios com poucos receptores, ou com alguma espécie de defeito nesses receptores, fazem com que não ocorra a inibição do apetite e da vontade de comer, do modo normal como deveria acontecer, o que resulta em hiperfagia, compulsão alimentar, ausência de saciedade (SILVA. 2017). A expressão da leptina é controlada por diversas substâncias, como os glicocorticoides, citocinas pró-inflamatória e insulina, endotoxinas e estados infecciosos podem levar também a elevação da concentração plasmática da leptina (SILVA. 2017). A Redução dos níveis circulantes da leptina é ocasionada por situações de estresse, exercícios físicos intensos e jejum prolongado. O aumento exagerado é comum em pessoas com excesso de peso, ocorrido devidamente a dessensibilizaçãodos respectivos receptores da leptina, ou devido a 7 alguma deficiência relacionada no transporte, precisamente na passagem pela barreira hematoencefálica (SILVA, 2017). Campos (2011) afirma que a deficiência desse respectivo hormônio pode ser um dos causadores do excesso de peso e o desencadeamento de diabetes, o peptídeo semelhante ao glucagon 1 e a colecistoquinina, após a liberação por células do trato gastrointestinal, esses dois hormônios vão ao sistema sensorial ascendente via nervo vago, até atingirem neurônios do trombo encefálico induzindo a processos compensatório de saciedade. Estudos avaliando os fatores genéticos da obesidade avaliando gêmeos e crianças adotadas, estimam que cerca de 25 e 50% do risco para o desenvolvimento da obesidade estão atrelados a genética, cerca de 80% dos filhos de pais obesos também são obesos, contra 10% de filhos de pais não obesos, sabe-se que diversas regiões espalhadas em torno do DNA são responsáveis por influenciarem no quadro de obesidade, mas especificamente no metabolismo dos nutrientes. A exemplo do gene FTO (Fat mass and obesity- associed proteín) (CAMPOS, 2011). 1.4 Quadro Clínico O quadro clínico da obesidade fica evidenciado através do acúmulo excessivo de gordura corporal, subcutânea ou visceral, através dos subtipos mais reconhecidamente como obesidade ginóide e androide, também designado como tipo pera e tipo maçã, muita das vezes é acompanhado de circunferência abdominal elevada, IMC maior do que 30, essa condição apresenta sinais e sintomas clínicos como a dificuldade para caminhar, respirar, o cansaço mais frequente, a presença de dores e inflamações, além de poder conjuntamente apresentar sinais metabólicos e bioquímicos detectáveis através de exames como a alteração nos níveis de triglicérides e de colesterol, hiperglicemia, entre outros (ABESO, 2016). O quadro clínico da obesidade se estende também a esfera psicológica e social, sendo em muitos casos acompanhados de depressão, descontentamento com a imagem corporal, a presença de distúrbios alimentares, compulsão e entre outros (ABESO, 2016). A Obesidade é por si só, um fator que induz ao desenvolvimento de diversas co-morbidades, as principais são doenças cardiovasculares como o 8 acidente vascular encefálico, infarto, insuficiência cardíaca congestiva, hipercolesterolemia, triglicérides alterado, diabetes, a síndrome metabólica, osteoartrite, alguns cânceres como (Intestino, colorretal, renal, esofágico endometrial, mamário, ovariano e prostático), dificuldades respiratórias como hipoventilação crônica (síndrome de Pickwick) e apneia do sono, infertilidade masculina, colelitíase, esteatose, refluxo gastroesofágico, transtornos psicossociais e hipertensão arterial sistêmica (OMS, 2015). 1.5 Diagnóstico O diagnóstico da obesidade no público adulto é dada principalmente através da antropometria, utilizando-se o índice de massa corpórea, que é a relação entre o peso e a altura, sendo necessário obter um valor maior do que 30 kg/m² para ser considerado como obeso, se tratando de pessoas de 19 a 59 anos, não atletas, porém esse valor do IMC deve vir acompanhado de um acúmulo excessivo de gordura, o que pode ser detectado através de bioimpedância, a circunferência abdominal e de outros compartimentos, o método através do IMC não deve ser utilizado para fechamento do diagnóstico de obesidade, principalmente em atletas, pois apresentam em muitos casos, IMC de sobrepeso e de obesidade porém com a ausência do excesso de gordura e alta concentração de musculo (SILVA, 2017). 1.6 Tratamento ● Estilo de vida (alimentação e atividade física) O tratamento da obesidade tem por objetivo não só a redução do peso, mas também corrigir os fatores de risco e propensão ao desenvolvimento de doença cardiovascular e outras doenças crônicas não transmissíveis de cunho metabólico, que dependem da resistência à insulina (SBEM,2021). Nessa fase do tratamento consiste em conduzir o indivíduo a realizar escolhas alimentares mais saudáveis e equilibradas, através de reeducação alimentar. Corrigir os hábitos sedentários através de uma vida fisicamente mais ativa. Pode também ser necessário apoio e acompanhamento psicológico para um melhor resultado. Mesmo nessa fase inicial de tratamento, pode-se observar a importância da abordagem multidisciplinar e multifatorial, tendo em vista que 9 as causas da obesidade são multifatoriais e a esfera de atuação de cada profissional é limitada (SBEM,2021). Segundo Leitner aborda que vários estudos relataram efeitos aditivos na perda de peso quando é combinado com uma dieta restrita à energia. Isso pode ser alcançado por uma dieta de baixo teor de gordura, baixo carboidrato ou pelo estilo mediterrâneo, por exemplo. De qualquer forma, uma dieta com baixo teor de gordura deve ter uma fonte de carboidratos adequada com carboidratos complexos. No entanto, não é o tipo de dieta que determina o sucesso da perda de peso e da redução do fator de risco cardíaco é a adesão sustentada da dieta (LEITNER et al., 2017). Um passo em direção a esse objetivo pode ser o uso de um amplo espectro de diferentes opções de dieta para melhor corresponder às preferências alimentares individuais, estilo de vida e condições médicas do paciente. Dietas de baixa caloria contribuem para a perda de peso (LEITNER et al., 2017). ● Medicamentoso O acompanhamento médico e medicamentoso se faz necessário quando as ações primarias mais básicas de alteração do estilo de vida não foram suficientes para surtir efeito na reversão do quadro, existem casos mais complexos, que exigem uma atuação multidisciplinar, fazendo necessidade de intervenção médica, o tratamento medicamentoso visa reestabelecer o equilíbrio neuroendócrino de regulação do apetite e da saciedade, corrigir desvios do funcionamento metabólicos, como é o exemplo das alterações da tireoide, do funcionamento do pâncreas, entre outras alterações que podem desencadear em quadros de obesidade e/ou dificuldade para reversão ● Cirúrgico O principal tratamento cirúrgico da obesidade são as aplicações de técnicas cirúrgicas de gastroplastia (bariátrica), que se resumem em reduzir o tamanho do estômago, de modo que a pessoa se sinta saciada posteriormente com menos comida. Independentemente do tipo de cirurgia bariátrica realizada, 10 seus efeitos na perda de peso e nas comorbidades associadas são superiores quando comparados com intervenções não cirúrgicas (RUBAN et al., 2019). O Estudo Sueco de Obesidade (SOS), é um dos maiores estudos prospectivos até o momento fornecendo dados observacionais sobre o impacto da cirurgia bariátrica na obesidade e nos desfechos a longo prazo. O estudo relatou maior grau de perda de peso no grupo cirúrgico do que o grupo controle, bem como grandes melhorias nas comorbidades relacionadas à obesidade. De fato, a cirurgia está emergindo como a opção de gestão mais econômica para pacientes com comorbidades relacionadas à obesidade (RUBAN et al., 2019). A indicação cirúrgica de gastroplastia, segundo critérios estabelecidos pela Organização Mundial de saúde (OMS) são pacientes com IMC maior do que 35 Kg/m², associada a complicações do sono como Apneia, HAS, DM(Diabetes Tipo 2), triglicérides alterado, que consistem em um quadro de síndrome metabólica, problemas de articulação, ou pacientes que apresentem IMC >40 Kg/m², que não tenham tido êxito na perda e peso em pelo menos 2 anos de tratamento (RUBAN et al., 2019). A cirurgia de gastroplastia consiste em subtipos e aplicações diferentes, cabendo ao médico avaliar qual melhor alternativa depois de avaliar o paciente, entre as opções têm-se as restritivas, mistas e do tipo disabsortivas. As restritivas são as técnicas cirúrgicas de banda gástrica ajustável, gastroplastia vertical também conhecida como Sleeve. Hátambém cirurgias que envolvem combinações de técnicas cirugicas entre elas a redução associada a disabsortiva, desviando o transito intestinal (RUBAN et al., 2019). Sob a ótica nutricional e médica os pacientes que são submetidos a gastroplastia devem ter acompanhamento continuo, serem bem orientados e ter um suporte adequado para que seja possível evitar desvios e carências nutricionais importantes no pós cirurgico, quanto mais disabsortivo for o tratamento cirúrgico, maior será necessidade de atenção e monitoramento nutricional, pois aumenta-se as chances de desenvolver quadros clínicos de anemia ferropriva e megaloblástica, deficiências de vitaminas e minerais importante (RUBAN et al., 2019). 11 2. IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE 2.1 Sigla do nome, sexo, idade, estado civil, profissão, procedência. Nome: E.L.P Estado civil: Casada Idade: 40 Anos e 1 mês Sexo: Feminino Profissão: Do lar Procedência: Policlínica setor de Psiquiatria. 12 3. EVOLUÇÃO DO CASO. 3.1 História da moléstia atual/História pregressa da moléstia atual. Paciente encaminhada para o serviço de nutrição e dietética da clínica de nutrição da UNIP de Sorocaba pelo serviço de psiquiatria da policlínica municipal de Sorocaba, para auxilio no tratamento da obesidade. Paciente relatou em primeira consulta descontentamento com a imagem corporal e com o ganho de peso excessivo nos últimos 6 meses, tendo a mesma atribuído tal fato a alteração no estilo de vida após se casar e uma acidente doméstico que a limitou em termos de atividade física. Seu peso habitual a 6 meses era de 50kg, segundo relatado pela paciente e o peso atual no momento da primeira consulta de 65, conforme aferido. Seu IMC em primeira consulta é de 32,10 Kg/m2. Não possui antecedentes familiares de obesidade, ou outras comorbidades como diabetes, hipertensão ou qualquer outra doença, segundo relato da paciente. Relata também não ter sido afetada com sobrepeso e obesidade quando criança ou adolescente ou qualquer tipo de distúrbio alimentar. Devido ao casamento, permanecer muitas horas em casa, se exercitar pouco, ter melhorado seu acesso a alimentos, não haver equilíbrio de quantidade e de qualidade em sua alimentação, são fatores que podem ter contribuido para o quadro desenvolvido segundo nossa análise da anamnese alimentar e do estilo de vida da paciente. 3.2. Avaliação nutricional. Durante o processo de avaliação nutricional, foram coletados valores antropométricos (peso, altura, IMC, circunferência de cintura, circunferência de braço, dobras cutâneas tricipital, bicipital, subescapular, supra ilíaca) para estimar o percentual de gordura corporal, também foi empregado recordatório de 24 horas (R24), questionário de frequência alimentar, avaliação bioquímica com os exames que a mesma portava no momento da consulta, a utilização da semiologia como método subjetivo de avaliação nutricional e complementar, foi observado olhos, cabelos, pele, unha, houve emprego de perguntas 13 complementares ao roteiro de avaliação nutricional para uma análise mais aprofundada, no que diz respeito a área social e a semiologia do paciente. 3.2.1 Anamnese alimentar. Tabela 1: anamnese alimentar do paciente Apetite: Bom. Mastigação: Normal. Ingestão Hídrica: 1 litro. Aversões alimentares: não relatou ter Preferencias alimentares: Frutas e carnes. Hábito Urinário: Relatou que é amarelada, devido a baixa ingestão hídrica diária. Hábito intestinal: Irregular, duas vezes na semana. (constipada) Atividade física: Sedentária Fonte: Clinica de nutrição UNIP, 2021. ● Recordatório de 24 horas. Em seu primeiro recoratório alimentar consta: Café da manhã 8:20 Total: 177,7 kcal. Pão francês: 1 unidade Margarina: 3 pontas de faca. Colação 9:30 Total: 39,28 kcal Banana prata: 1 unidade média Almoço 13:00 Total: 638,16 kcal Arroz branco cozido: 1 col. sopa Feijão: 3 conchas grande Peito de frango cozido: ½ unidade pequena Coxa de frango: 1 unidade média Suco de laranja (ades): 1 copo americano 14 Lanche da tarde 16:00 Total: 287,55 Kcal Pão francês: 1 unidade Margarina: 3 pontas de faca Jantar 19:00 Total: 140,9 kcal Banana Prata: 1 unidade média Maçã: 1 unidade Beterraba crua: ½ unidade média Leite de vaca integral: 300 ml De acordo com o primeiro recordatório de 24 horas da paciente, pelo fato de a mesma relatar ser o habitual e relativamente repetitivo na maioria das vezes, pode-se observar que a mesma possui algumas inadequações de quantidade, de qualidade, de harmonia nas combinações e distribuição das porções, ficando muito tempo sem se alimentar. Os valores nutricionais encontrados nesse recordatório, foram obtidos através da utilização do software DietPro e foram respectivamente: Tabela 2: Cálculos do primeiro recordatório 29/09/2021: Nutrientes Atingido Recomendações DRI (2006) / EER Kcal 1545 1761 Carboidrato 185,53 g 242 a 330g Proteína 71,78 g 44 a 66g Lipídios Totais 60,78 g 39,13 a 58,7g Gordura Saturada 25,35 g 13,74 g Fibras 38,83 g 25g Sódio 1034 mg 1500 mg 15 Cálcio 1041 mg 1000mg Ferro 9,01 mg 8,1mg Vitamina A 323,46 mcg 700mcg Vitamina C 47,71 mg 75mg Fonte: DietPro,2021. DRI, 2006. Nesse primeiro R24, paciente mostrou ter realizado uma dieta hipocalórica, sendo hipoglicidica, hiperproteica, hipolipidica, com alto consumo de fibras, atingiu os valores de cálcio, de ferro, porém apresentou déficit de vitamina C e A. Sendo 18,22% de PTN, 34,70% de Lipidios e 47,08% CHO Em seu segundo recordatório de 24 horas consta: Café da manhã 8:00 Café: 1 xícara 200 ml Açúcar: 1 col. sopa Pão Francês :1 unidade Margarina: 1 ponta de faca Almoço 13:00 Arroz branco cozido Bife contra-filé frito: 1 unidade média Salada de Pepino, Alface, Tomate: 1 Prato raso Limão Tahiti: 1 unidade Sal 1 pitada Jantar 21:00 Fatia de pizza (calabresa, bacon, queijo): 1,5 fatia Refrigerante Tubaína: 1 copo americano 16 Os valores nutricionais encontrados nesse segundo recordatório, obtidos através da utilização do programa software DietPro, foram respectivamente: Tabela 3: Cálculos do segundo recordatório 08/10/2021 (sexta-feira): Nutrientes Atingido Recomendações DRi´s (EAR) / EER Kcal 1510 1761 Carboidrato 187 242 a 330g Proteína 76,20 44 a 66g Lipídios totais 57,10 39,13 a 58,7g Gordura Saturada 19,43 13,74g Fibras 7,34 25g Sódio 1,45 1,5g Cálcio 542 1000mg Ferro 11,53 8,1g Vitamina A 43,50 700 mcg Vitamina C 61,40 75mg Fonte: DietPro,2021. Dri´s 2006 O recordatório da segunda consulta mostrou que em termos de caloria a paciente atingiu um valor bem próximo do recomendado, segundo equação EER (Estimated Energy Requirement) para sobrepeso/obesidade, porém com relativo déficit calórico, mostrou ter realizado dieta hipoglicidica, hiperproteica, normolípidica, baixo consumo de fibras, não atingiu suas necessidades de cálcio, vitamina A e vitamina C. Porém a paciente relatou não ter sido habitual, que foi um dia atípico. 17 ● Questionário de frequência alimentar da paciente O questionário de frequência alimentar foi aplicado como método subjetivo e complementar de avaliação nutricional, a seguir está o resultado do questionário aplicado, ele serve de base para apoiar a formulação do plano dietoterápico, é uma ferramenta que permite ir um pouco mais afundo no conhecimento dos hábitos alimentares do paciente. Tabela 4: questionário de frequência alimentar aplicado ao paciente Alimentos Diário Semanal Raramente Nunca Café/Chá x Refrigerante comumx Refrigerante Zero x Bebidas alcoólicas x Doces x Chocolate x Embutidos x Frituras x Pizza x Lanches x Refeições de restaurante x Frutas x Verduras x 18 Legumes x Leite x Carne bovina x Frango x Peixe x Porco x Ovos x Achocolatad o x Bolacha doce x Bolacha recheada x Bolacha Salgada x Fonte: Clinica de Nutrição – UNIP. ● Semiologia A semiologia, é uma ferramenta de avaliação subjetiva do estado nutricional do paciente e de seu estado de saúde, onde utiliza-se a observação de sinais clínicos que são detectáveis, de suposta deficiência ou de superávit nutricional, observa-se a pele se há existência de cravos e espinhas, erupções cutâneas, manchas suspeitas, oleosidade e ressecamento, com relação aos olhos observa-se principalmente sua coloração, se há ou não presença de palidez/amarelamento ou outra anormalidade, com relação ao cabelo é percebido o grau de opacidade e de brilho e perguntado sobre os episódios de 19 queda, com relação às unhas quando possível observar e perguntar sobre sinais de fraqueza e quebra com facilidade (SAMPAIO, 2012) ● Cabelo: Brilhoso, sem sinais de opacidade ou quebradiços ● Olhos: sem sinais de palidez/amarelamento ou qualquer outra anormalidade ● Pele: aparentemente normal, sem sinais de super oleosidade, de ressecamento, sem presença de espinhas, erupção ou mancha. ● Unhas: fortes e sem sinais de fraqueza ou aspecto quebradiço. 3.2.2 Antropometria. Tabela 5: Classificação do Estado Nutricional da paciente ELP, 40 anos. RESULTADO DO IMC Classificação IMC: (kg/m²) = Peso (kg) Altura (m)² IMC = 65,5kg (1,43)² IMC = 32,10 kg/m² Obesidade I Fonte: WHO, 1995,1998. Tabela 6: Tabela de Classificação segundo IMC. Classificação IMC: (kg/m²) Desnutrição grave <16,0 Desnutrição Moderada 16,0 – 16,9 Desnutrição Leve 17,0 – 18,4 Desnutrição <18,5 Normal 18,5 – 24,9 Pré-Obesidade 25,0 – 29,9 20 Obesidade I 30,0 – 34,9 Obesidade II 35,0 – 39,9 Obesidade III > 40,0 Fonte: WHO, 1995,1998. ● Peso ideal (PI). IMC Ideal (20,8 kg/m²) x Estatura (1,43)² = 42,43 kg. Calculo do peso ideal (PI) pelo IMC médio (Desejado). IMC desejado (Homens) 22 kg/m² IMC desejado (Mulheres) 20,8kg/m² Fonte: WHO, 1995. ● Equação: % de adequação de peso. (Peso atual / Peso ideal) x 100 = ( 65,5 / 42,4) x 100 = 154,4% Tabela 7: Classificação do estado nutricional de acordo com a adequação do peso. Adequação de peso % Estado nutricional < 70 Desnutrição Grave 70,1 – 80 Desnutrição Moderada 80,1 – 90 Desnutrição Leve 90,1 – 110 Eutrofia 110,1 – 120 Sobrepeso > 120 Obesidade Fonte: Blackburn e Thornton,1979. 21 ● Classificação da circunferência do braço (CB), da paciente ELP, 40 anos. Resultado Classificação CB Obtida = 34 cm CB Percentil 50 = 29.7 % Adequação = 114,47 De acordo com a tabela de classificação de Blackbun e Thornton,1979. 110,1 a 120 % = Sobrepeso % Adequação = CB Obtida (cm) X 100 CB Percentil 50 = 34 cm X 1000 29.7 % Adequação = 114,47 22 Figura 1: Distribuição de circunferência do braço (CB) segundo Idade para mulheres. Fonte: Frisancho,1990. Tabela 8: Resultado Dobra cutânea tricipital (DCT). Resultado Classificação DCT Obtida = 25.6 (Média das 3 aferições). DCT percentil 50 = 24.5 % Adequação = 100,7 % De acordo com a tabela de classificação de Blackbun e Thornton,1979. 90 a 110¨% = Eutrófica 23 % Adequação = DCT Obtida (cm) X 100 DCT Percentil 50 = 25.6 cm X 100 25.4 % Adequação = 100,7 % Figura 2: Distribuição de percentis de dobra cutânea tricipital (DCT) segundo Idade para mulheres. Fonte: Frisancho,1990. 24 Tabela 9: Circunferência da cintura (CC). Resultado Classificação CC obtida = 94 cm Risco muito elevado para complicações metabólicas. Fonte: Frisancho,1990 Tabela 10: Risco de complicações metabólicas associadas à obesidade segundo os valores de circunferência da cintura (CC). Sexo Risco elevado Risco muito elevado Mulheres Maior ou igual a 80 cm Maior ou igual a 88 cm Homens Maior ou igual a 94 cm Maior ou igual a 102 cm Fonte: GEDIIB- Grupo de Estudos da Doença Inflamatória Intestinal do Brasil, 2019. Tabela 11: Estimativa de gordura corporal para somatória de Dobras Cutâneas 𝛴 4 Dobras = Bicipital + Tricipital + Subescapular + Supra ilíaca. Resultado Classificação DCB = 19,3 DCT = 25,6 DCSE = 20 DCSI = 38 102,9 % Gorduras = 39,7 Classificação = Obesidade elevada 25 Tabela 12: Classificação do nível de obesidade por meio do percentual de gordura de acordo com o gênero. Obesidade Mulheres (%) Homens (%) Leve 25 a 30 15 a 20 Moderada 30 a 35 20 a 25 Elevada 35 a 45 25 a 30 Mórbida > 40 >30 Fonte: Rossi,2017. 26 Figura 3: Percentual estimado da dobra corporal, obtido por meio da soma de quatro dobras cutâneas. Fonte: Durnin & Wormersley. 3.2.3 Bioquímica / Imunologia Paciente trouxe seus exames laboratoriais mais recentes, que foi realizado em 11 de setembro de 2021, a maioria dos resultados do paciente apresentaram-se dentro dos valores normais de referência, dos parâmetros usados, exceto no exame de colesterol total e Prolactina - PRL que apresentou valor acima da referência recomendada. 27 Tabela 13: exames do paciente: Exames Referências Resultados TSH 0,34 a 5,60 UI/mL 1,98 UI/mL Glicemia em jejum 70 a 99 mg/dl 84 mg/dl Colesterol Total < 190 mg/dl 232 mg/dl Colesterol LDL < 130 mg/dl 129 mg/dl Triglicerídeos em Jejum < 150 mg/dl 123 mg/dl Gama glutamil transferase - GGT 7 a 50 UI/mL 55 UI/mL TGP 7 a 56 U/L 23 U/L Uréia 16 a 40 mg/dl 30 U/L PRL 2,83 a 25 3g/dl 131,6 mg/dl Fonte: Próprio Autor, 2021 Em relação ao valor elevado da prolactina – PRL. Pode ser justificado pelo efeito colateral dos medicamentos psicotrópicos que a mesma faz uso, a literatura científica tem muito bem documentado sobre os efeitos do medicamento fluoxetina na alteração dos níveis de prolactina, onde altera a sua secreção, por um inibidor seletivo da recaptação da serotonina – ISRS, assim interferindo na interpretação dos valores de dosagem laboratorial da prolactina em mulheres (LEITE, et al 2007). Em geral os níveis de Gama Glutamil Transferase- GGT, são indicadores da função hepática, quando elevados indicam que pode estar ocorrendo alguma lesão Hepática e/ou processo inflamatório crônico, entretanto o aumento pode ser ocasionado devido ao consumo de álcool e/ou outros quadros como insuficiência cardíaca congestiva. A paciente demonstrou através de exames laboratoriais, valores de colesterol elevado, provavelmente atribuído ao alto consumo de gordura saturada que a mesma realiza, constatado através do cálculo dos valores 28 nutricionais de seu recordatório de 24 horas confrontado com seu questionário de frequência alimentar, que indica consumo frequente de frituras, por imersão em óleo vegetal, reaproveitando o óleo várias vezes. 3.2.4 Farmacologia. ● Cloridrato de fluoxetina Este medicamento é indicado para o tratamento da depressão, associada ou não à ansiedade. Também é indicado para o tratamento da bulimia nervosa, do transtorno obsessivo-compulsivo(TOC) e do transtorno disfórico pré- menstrual (TDPM), incluindo tensão pré-menstrual (TPM), irritabilidade e disforia (mal-estar provocado pela ansiedade). Em pacientes com diabetes, ocorreu hipoglicemia (baixa taxa de açúcar no sangue) durante a terapia com este medicamento e hiperglicemia (alta taxa de açúcar no sangue) após a suspensão do medicamento (BRASIL,2021). ● Cloridrato de clomipramina Antidepressivo tricíclico. Inibidor da recaptação de noradrenalina e preferencialmente de serotonina (inibidores não seletivos da recaptação de monoamina), este medicamento contém açúcar (BRASIL,2021). ● Risperidona Os medicamentos antipsicóticos afetam compostos químicos que permitem a comunicação entre as células nervosas (neurotransmissores). Estes compostos químicos são a dopamina e a serotonina. Não se sabe exatamente como risperidona funciona. Entretanto, parece reajustar o equilíbrio entre a dopamina e a serotonina no organismo. O controle dos sintomas é observado com o decorrer do tratamento. Distúrbios metabólicos e nutricionais: anorexia (falta de apetite), aumento do colesterol sanguíneo, aumento das triglicérides sanguíneas, hiperglicemia (aumento do açúcar no sangue), polidipsia (sede excessiva), diminuição do peso (BRASIL,2021). ● Lorazepan Controle dos distúrbios de ansiedade ou para alívio, a curto prazo, dos sintomas da ansiedade ou da ansiedade associada comsintomas depressivos. A ansiedade ou tensão associadas ao estresse da vida cotidiana não requer, usualmente, tratamento com um ansiolítico (BRASIL,2021). 29 3.2.5 Discussão e Diagnóstico Nutricional. O Diagnóstico com base na antropometria, na relação peso/altura através do IMC, indicou a classificação de obesidade grau I e com base no somatório das dobras cutâneas, obteve-se um indicador de 39,7% de gordura corporal, associado a uma circunferência de cintura elevada, indicando alto risco para o desenvolvimento de complicações metabólicas, para mulheres dessa faixa etária. A mesma também apresenta estilo de vida sedentário, no momento sem condições de se exercitar. Segundo os parâmetros bioquímicos revelado através de seus exames, paciente apresenta colesterol total elevado e alteração nos valores hormonais de prolactina, podendo os valores alterados da prolactina ser em decorrência do efeito colateral do uso de medicamentos psicotrópicos ( Considerando aspectos do questionário de frequência alimentar e o recordatório de 24 horas, pode-se observar que a paciente possui em seu repertório alimentar um consumo de alimentos bem variado, porém apresenta inadequações de quantidade, de harmonia em algumas combinações, na distribuição dos horários das refeições, ficando por vezes muitas horas sem se alimentar. A semiologia não mostrou nenhum aspecto que gerasse preocupação e necessidade de investigação, devido a carência e /ou déficit nutricional. 3.3 Recomendações e Prescrição. A conduta nutricional e a prescrição dietoterápica foi embasada nas diretrizes preconizadas pela ABESO (2016), no tocante ao tratamento dietoterápico da obesidade. A diretriz da ABESO recomenda uma distribuição de macronutrientes equivalentes ou próxima de 60% de CHO, 20% de PTN, 20% de Lipídios. Associada a uma restrição calórica entre 500 e 1000kcal, valores menores do que 25 kcal por KG de peso. A prescrição consistiu em oferecer um cardápio de 1500 kcal, que consistiu em uma oferta de 22,9 kcal por kg de peso corporal, fracionado em 6 refeições, com intervalo entre elas de aproximadamente de 3 horas, com aporte 30 proteico em todas as refeições, elevado aporte de fibras solúveis e insolúveis de modo a melhorar seus níveis de triglicérides e o trânsito intestinal, foi dado atenção aos valores ofertados de gordura saturada, de modo que não ultrapassasse um valor equivalente a 7% do VET, como preconiza a organização mundial de saúde para o tratamento da obesidade e da dislipidemia. Espera-se também que com o aporte de frutas e legumes ofertado no plano alimentar, a mesma possa receber e ter os benefícios da função pré-biótica desses alimentos no sentido de reequilibrar a flora intestinal. A importância do perfil lipídico do plano alimentar foi levado em consideração no sentido de prescrever os alimentos que pudessem oferecer ácidos graxos essenciais e fontes de gordura poli-insaturada, como é o caso do azeite de oliva extravirgem, que possui diversas comprovações mostrando seu benefício na manutenção dos níveis do perfil lipídico, incluso em seu plano alimentar. A prescrição hídrica consistiu em propor o equivalente a 35ml por kg de peso corporal, sendo então o valor equivalente a 35 x 65,5 = 2,27Lts de água. A prescrição, as recomendações e orientações apresentadas à paciente durante a consulta nutricional foram pautadas nos parâmetros e princípios estabelecidos por Pedro Escudero, para uma alimentação saudável e equilibrada, por meio da lei da quantidade, da qualidade, da harmonia e da adequação. 3.3.1 Recomendações dietéticas. Atualmente existe mais de uma diretriz sobre o tratamento dietoterápico da obesidade, da ABESO, da Organização Mundial de Saúde, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, até mesmo do conselho federal de nutricionista (CFN), entre outras, no Brasil e no mundo. Todas as diretrizes têm em comum consenso que, o tratamento dietoterápico da obesidade está pautado em uma prescrição hipocalórica, que nesse caso pode ser considerada como hipocalórica, dietas que oferecem menos do que 25 kcal por Kg de peso corporal, ou que restrinjam sobre o valor energético total do paciente o equivalente a 500 e 1000 kcal, distribuição de 31 macronutrientes que giram em torno de 55 a 60% de CHO, 15 a 20% de PTN, 15 a 20% de LIP. Além de considerar teor de fibras e ingestão de água mínima de 30 ml por kg de peso corporal, gordura saturada a valores menores do que 7% do VET (ABESO, 2016). Outro aspecto que tange sobre a alimentação saudável e adequada, diz respeito à priorização de alimentos in natura em face dos processados e ultraprocessados, o adequado e melhor fracionamento, das refeições de modo a melhorar questões de absorção, de biodisponibilidade e de saciedade. 3.3.2 Prescrição Dietoterápica Foi realizada a prescrição dietoterápica do paciente de acordo com as informações adquiridas durante o atendimento. Para a estimativa do valor calórico total da dieta foi utilizando as seguintes fórmulas: ● Cálculo do Gasto Energético Total, segundo a classificação de IMC de Sobrepeso e Obesidade. Tabela 14: Equação para estimativa do GET – DRIS, 2002. Equação para GET (Kcal/dia) GET: 448 – (7,95 x Idade) + NAF X (11,4 x peso) + (619 x altura) GET: 448 – (7,95 x Idade) + NAF X (11,4 x peso) + (619 x altura) 448 – (7,95 x 40) + 1,0 x (11,4 x 65,5) + (619 x 1,43) 448 – 318 + 1,0 x (746,7 + 885,17) 130+ 1,0 x 1.631,8 1.761,8 kcal 32 ● Restrição calórica. Foi restrito um valor equivalente a 261 kcal sob o valor energético total, estimado através do EER (Estimated Energy Requiriment), sendo assim foi proposto uma dieta de 1500 kcal, que divido pelo peso corporal equivale a 22,9 kcal por kg de peso corporal. As diretrizes do tratamento dietoterápico da ABESO (2016) recomendam que seja restrito valores entre 500 e 1000 kcal sob o valor do energético total para promoção do emagrecimento, porém devido as limitações de conduta existentes na clínica, somente foi autorizado prescrever dieta com no mínimo de 1500 kcal. Sendo assim não foi possível aplicar por completo as recomendações das diretrizes do tratamento da obesidade preconizado pela ABESO. ● Fator de Atividade, O fator de atividade utilizado para o paciente foi de 1,0 (Sedentário), pois devido a paciente estar se recuperando de uma cirurgia do tornozelo teve seu nível de atividade física reduzidodrasticamente, tendo a mesma relata estar apenas deambulando, caminha somente quando há necessidade. A distribuição de macro e micronutrientes do cardápio respectivamente foi distribuído da seguinte forma: Tabela 15: Distribuição de Macro e Micronutriente e porções por grupo – Dieta 1.500 kcal Macronutrientes Micronutrientes Porções PTN: 77,5g Cálcio: 1073mg Cereais: 5 CHO: 245,75g Ferro:13,8mg Óleo: 1 LIP: 37,19g Sódio: 2127mg Fruta:4 Fibra: 26,9g Vitamina A: 672 mcg Legumes:2 Vitamina C: 154mg Lácteos:2 Kcal: 1.447 Leguminosas:2 gordura saturada: 7g Proteína Animal: 2 Açucar:1 Fonte: Dietpro, 2021. 33 Tabela 16: Recomendações segundo a Dri´s para macro e micronutrientes. Macronutrientes Micronutrientes PTN: 44 a 66g Cálcio:1000mg CHO:242 a 330g Ferro: 8,1mg LIP: 39,13 a 58,7g Sódio: 1,5g Vitamina A: 700mcg Fibras:25g Vitamina C: 75 mg Fonte: Dris,2006. 34 4. CONDUTA NUTRICIONAL Em primeira consulta foi aplicado a anamnese alimentar para avaliar seu padrão de comportamento e relação com os alimentos que consome, foram coletadas diversas informações de ordem biopsicossocial para conhecer a história clínica do paciente. Após a avaliação nutricional e física, a paciente foi reagendada para voltar em outro dia pegar seu cardápio Para formular a prescrição dietoterápica foi consultado as diretrizes do tratamento da obesidade da ABESO e com base nas diretrizes da ABESO (2016), sobre o tratamento dietoterápico da obesidade e o sobrepeso, foi estipulado dieta hipocalórica, hipolipídica, Normoproteica, com distribuição respectiva de macronutrientes sendo 20% de PTN, 60% de CHO, 20% de Lipídios sendo 7g de gordura saturada, equivalente calórico 1447 Kcal, sendo portanto, uma restrição de 314 kcal. Ofertando o equivalente a 22 kcal por kg de peso corporal. Foi utilizado a pirâmide alimentar de 1500 Kcal para fazer a distribuição das porções dos grupos de alimentos ficando respectivamente com 5 de cereais, 4 de frutas, 2 de legumes, 2 de lácteos, 2 de proteína animal, 2 de oleaginosas, 1 de açúcar, 2 de óleos e gorduras. Foi estipulado um fracionamento de 6 refeições, com periodicidade média de 3 horas entre uma refeição e outra, com a estratégia de comer a salada antes da refeição principal, como entrada. Foi ofertado um bom aporte de fibras, com isso é inspirado uma maior produção de saciedade, além dos efeitos prebióticos que esse grupo de alimento pode ofertar. Prescrição hídrica foi equivalente a 35 ml por quilo de peso corporal, recomendando só em gestão no intervalo entre as refeições, paciente também foi orientado a reduzir o consumo de fritura e de gordura saturada, foi explicado que essa pode ser uma das causas do seu nível de colesterol alterado, como mostrou os seus exames. Foi orientada a respeitar o horário das refeições, a mastigar lentamente, incluir temperos naturais e especiarias como alho, cebola, açafrão, colorau, entre outros. 35 A tabela a seguir reflete o cardápio prescrito para paciente Tabela 17: cardápio prescrito de 1500 calorias Cardápio de 1500 kcal para paciente E.L.P ● Café da manhã. Horário: 08:00 Leite de vaca Desnatado 200 ml Banana 1 unidade média Farelo de aveia 3 colheres de sopa ● Lancha da manhã Horário: 10:30 Abacaxi 1 fatia media ● Almoço Horário: 13:00 Arroz 6 colheres de sopa Feijão carioca 1 concha média Lombo de porco (assado) 50 gramas Couve manteiga (Crua) 1 folha média Beterraba crua 24 gramas Cenoura 2 colheres de sopa Azeite de oliva 8 ml Limão tahiti 1 unidade ● Lanche da tarde Horário: 15:30 Leite de vaca desnatado 200 ml Cacau 10 gramas Torrada integral 4 unidades ● Jantar Horário: 19:00 Pão integral 1 unidade Alface roxa 1 Folha media Tomate 2 farias pequena Carne moída refogada 1 colher de sopa Pimentão amarelo 1 Colher de sopa Pimentão vermelho 1 colher de sopa 36 Pimentão verde 1 colher de sopa Azeite de oliva 8 ml ● Ceia Horário: 21:30 Água de coco 200 ml Batata doce 1 fatia média Fonte: Próprio Autor, 2021 37 5. EVOLUÇÃO CLÍNICA E DIETOTERAPIA. No dia 29 de setembro de 2021 a paciente E.L.P, compareceu serviço de nutrição e dietética da clínica de Nutrição da Unip de Sorocaba, encaminhada pelo setor de psiquiatria da policlínica municipal de Sorocaba, para acompanhamento nutricional no tratamento da obesidade. Paciente se queixa de descontentamento com a imagem corporal e com o progressivo ganho de peso nos últimos 6 meses, sendo seu peso atual 65kg, seu peso habitual há 6 meses atrás era de 50 kg, tendo ganho 15 Kg, ou 30% no período de 6 meses. A paciente atribuiu esse ganho a mudança no seu estilo de vida após casar-se, justamente a 6 meses atrás. No momento desse primeiro atendimento paciente se encontrava com dificuldades para caminhar, fazendo uso de bengala, devido ao fato de recentemente ter realizado uma intervenção cirúrgica em sua perna, devido a um acidente doméstico, sendo esse também um dos fatores que a conduziu para um quadro de sedentarismo. Paciente não possui histórico familiar de obesidade ou demais comorbidades, tanto por parte de pai quanto por parte de mãe, apenas declarou que a mãe é portadora de diabetes tipo 2. Atualmente faz tratamento psicotrópico contra depressão, desde os 23 anos de idade, tendo completado 17 anos de terapia e uso continuo de medicamentos como Fluoxetina, Clomipramina, Risperidona e Lorazepam, podendo ser atribuído a terapia medicamentosa o efeito colateral da elevação dos níveis séricos de prolactina apresentado em seus exames bioquímicos. Paciente relatou ter hábito intestinal irregular (constipação) e também azia, principalmente em períodos e situação de stress, possui urina amarela escura devido ao fato de ingerir pouca água diariamente, em torno de 1Lt aproximadamente. Tem sono regular, com duração média de 10 horas, sem despertar noturno, ou qualquer outro distúrbio do sono. Seu questionário de frequência alimentar demonstrou em frequente e excessivo consumo de gorduras, trans, saturadas e de frituras, podendo este ser 38 um dos motivos que tem causado seus valores alterados de colesterol, como mostram seus exames bioquímicos. Através do recordatório alimentar de 24 horas, como a paciente afirmou ser relativamente habitual e repetitivo, foi possível detectar inadequações de quantidade, de qualidade, de harmonia e de adequação, ficando longos períodos sem comer, as vezes consome 3 frutas em uma única vez. Paciente relatou está fortemente motivada para implementar mudanças no seu estilo de vida e alcançar a perda de peso e com base nesse primeiro atendimento e na avaliação nutricional e também antropométrica foi proposta, em comum acordo e livre consentimento do paciente, as seguintes metas Meta 1: Aumentar o consumo de água de 1 litro para 2 litros; Meta 2: Diminuir o consumo de margarina para no máximo 3 pontas de facas Meta 3: Fracionar as refeições em um número maior de vezes 5-6 com intervalo médio de 3 horas entre uma refeição e outra. Em seguida foi reagendado uma nova consulta para entrega do plano alimentar no dia 08 de outubro de 2021. Nesse retorno e novo atendimento, a paciente teve um ganho de peso de 500g, passando a pesar 65,5 kg, já nesse momento não fazia mais uso da bengala para caminhar, porém ainda continua sedentária. Continua fazendo uso dos medicamentos psicotrópicos para o tratamento da depressão, sem qualquer tipo de alteração, seguindo os mesmos protocolos de antes. Paciente relata que não sofreu qualquer tipode alteração no apetite, aumentou sua ingesta de água para 2 litros, a coloração de sua urina tem estado mais clara do que anteriormente, tem consumido diariamente frutas verduras e legumes, ainda continua obstipada, porém tem ido ao banheiro com mais frequência do que anteriormente. Relatou ter melhorado o fracionamento de suas refeições, não ficando mais do que 4 horas sem comer, durante o dia. Relatou ter dificuldades em reduzir o consumo de margarina, proposta como meta na primeira consulta. 39 Seu recordatorio de 24 horas, aplicado nessa consulta de retorno, demonstrou piora em todos os sentidos, porém a paciente relata que não foi um dia típico, nesse dia a paciente não fez a colação, nem o lanche da tarde e a ceia, tendo realizado, portanto apenas 3 refeições no dia, tendo consumido pizza recheada com mussarela, bacon e calabresa, além de um copo de refrigerante. Nessa consulta lhe foi entregue o cardápio, uma receita, a lista de substituição, também foi orientada em como realizar as substituições e as equivalências de quantidade, apoiando-se na pirâmide alimentar para explicar a função e os grupos de alimentos. Foi orientada a continuar seguindo as metas anteriormente estabelecidas, como manter a ingestão de água em 2L, ingerir diariamente frutas verduras e legumes, de preferência de cores diferentes, quando possível. Nessa consulta foi estabelecido novas metas, sendo elas: Meta 1: Respeitar os horários das refeições. Meta 2: Comer a salada antes das refeições principais. Em seguida foi agendado uma nova consulta para o dia 19/11, onde foi apresentado o plano de intervenção, de combate ao sobrepeso e a obesidade, destinado a paciente em questão. O plano de ação apresentado nessa consulta para a paciente encontra- se nos apêndices. Nessa consulta em questão realizada no dia 19/11, paciente registrou perca de peso equivalente a 1,2 kg, pesando 64,3kg. Relatou quem está aderindo o hábito de caminhar todos os dias, por volta de 1 hora, na companhia do marido. Manteve sua ingesta de água em valores próximo de 2L, tem consumido frutas verduras e legumes todos os dias, tem fracionado melhor suas refeições e não tem ficado mais do que 4 horas sem comer, tem optado por comer frutas, verduras e legumes de cores diferentes. Mesmo tendo melhorado o seu hábito intestinal, ainda vai ao banheiro com a frequência menor do que deveria. 40 Paciente relatou ter conseguido reduzir o consumo de frituras, tem optado por consumir os alimentos cozidos e grelhados, assim como também tem optado por consumir carnes branca e carnes vermelhas de cortes magros como patinho e coxão mole. Não relatou alteração de apetite, continua fazendo uso dos medicamentos psicotrópicos de acordo com os protocolos de sempre, sem qualquer alteração, continua dormindo bem, não relatou ter sinais e sintomas de azia. Paciente relatou e demonstrou felicidade em estar conseguindo a redução de peso, mesmo sendo em valores abaixo de sua expectativa inicial. No término da consulta a paciente foi informada de que no mês de janeiro entrariam em contato para reagendar outra consulta de retorno. 41 6. CONCLUSÃO Da mesma maneira em que a causa da obesidade se dá por múltiplos fatores, o tratamento muitas vezes se faz necessário se dar de modo multiprofissional para maximização de resultados. Conclui-se também que o conhecimento das diretrizes do tratamento dietoterápico da obesidade é de fundamental importância para embasamento da conduta e da prescrição dietoterápica pelo nutricionista. Percebe-se também a importância de alinhar as expectativas do paciente em cima da realidade do tratamento da obesidade, que na prática acaba por ser um processo relativamente longo e demorado, da mesma forma que se deu o ganho de peso e que o sucesso do processo de reeducação alimentar e nutricional se dá quando o paciente não depende mais dos profissionais de saúde para conseguir ter um estilo de vida saudável e equilibrado, traduzindo em autonomia e protagonismo do próprio paciente no processo, ele próprio como o agente responsável por suas mudanças e resultados. 42 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. 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ISBN: 978-85-232-1874-4. https://doi.org/10.7476/9788523218744. https://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=au:%22Leite,%20Carlos%20Eduardo%22 http://portal.revistas.bvs.br/transf.php?xsl=xsl/titles.xsl&xml=http://catserver.bireme.br/cgi-bin/wxis1660.exe/?IsisScript=../cgi-bin/catrevistas/catrevistas.xis%7Cdatabase_name=TITLES%7Clist_type=title%7Ccat_name=ALL%7Cfrom=1%7Ccount=50&lang=pt&comefrom=home&home=false&task=show_magazines&request_made_adv_search=false&lang=pt&show_adv_search=false&help_file=/help_pt.htm&connector=ET&search_exp=Rev.%20bras.%20anal.%20clin 45 APÊNDICES. APÊNDICE A: Plano de ação 1, cartilha de recomendações para o combate ao sobrepeso e a obesidade. figura 1: capa frontal e posterior da cartilha Fonte: Próprio Autor, 2021 Figura 2: páginas da cartilha Fonte: Próprio Autor, 2021 Figura 3: páginas da cartilha Fonte: Próprio Autor, 2021 46 Figura 4: Páginas do catálogo Fonte: Próprio Autor, 2021 Figura 5: páginas da cartilha Fonte: Próprio Autor, 2021 Figura 6: Páginas da cartilha Fonte: Próprio Autor, 2021 47 Figura 7: Páginas da Cartilha Fonte: Próprio Autor, 2021. APÊNDICE B: Plano de ação 2, atividade interligar os alimentos aos conteúdo de sal, açúcar e gordura. Figura 1:Preparação para apresentação do plano de ação Fonte: Próprio Autor, 2021 48 Figura 2: Disposição dos elementos do plano de ação Fonte: Próprio Autor, 2021 Figura 3: Disposição dos elementos do plano de ação 49 Fonte: Próprio Autor, 2021 Figura 4: Disposição dos elementos do plano de ação Fonte: Próprio Autor, 2021 Figura 5: Aguardando paciente para atendimento 50 Fonte: Próprio Autor, 2021 Figura 6: Simulando apresentação do plano de ação para registro fotográfico Fonte: Próprio Autor, 2021
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