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1 CONSTRUINDO SABERES INTEGRADO A REALIDADE DOS ALUNOS DA EJA Ivani Francisca dos Santos1 Resumo: O presente artigo tem o intuito de trazer reflexões acerca dos conteúdos ministrados na Educação de Jovens e Adultos, sua significância, bem como as dificuldades de aprendizagem que se fazem presentes no referido segmento, não sendo uma característica específica, mas que está atrelada intrinsecamente ligada ao processo de ensino e aprendizagem. Para tanto, fez-se necessário pesquisas, discussões, observações e aplicação de questionário, para que tais conclusões tivessem credibilidade e veracidade, diante do que estava proposto para análise e estudo. Palavras-chave: processo; aprendizagem; difiuldade de aprendizagem; Abstract: This article is intended to bring reflections about the content taught in adult and youth education, its significance, as well as the learning disabilities that are present in that thread, not a specific feature, but is tied intrinsically linked to the teaching and learning process. To this end, necessary research, discussions, observations and questionnaires, so that such conclusions information credibility and veracity, given what was proposed for analysis and study. Keywords: process; learning; learning difficulty. 1 INTRODUÇÃO Quando se fala em Educação de Jovens e Adultos (EJA) a memória aspectos legais que nos fazem pensar sobre os direitos dados a tais sujeitos, sabendo que tal segmento faz parte de um sistema, sendo importantíssimo garanti-lo. A Constituição Federal de 1988, que em seu artigo 208, assegura a educação de jovens e adultos como um direito de to O dever do Estado com a educação será efetivado mediante garantia de: I – ensino fundamental, obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria. Art. 1º Os incisos I e VII do Art. 208 da Constituição Federal passam a vigorar com as seguintes alterações: Art. 208, I – educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante garantia de: I – ensino fundamental, obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria. VII – atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. A EJA é tratada como representação de uma dívida social a ser reparada, assumindo a tarefa de estender a todos o acesso e domínio da escrita e da leitura como bens sociais, seja na escola seja fora dela. 1 Mestranda em Física pela Universidade Federal do Espírito Santo - CEUNES. 2 Enquanto modalidade de educação básica, a EJA, conforme expressa na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), não se consubstancia apenas no âmbito da alfabetização. Mas vai além, com função, abrangência e importância muito maior. Nesse sentido o Parecer CNE/CEB nº 11/2000 redefine as funções do ensino supletivo constantes do Parecer CFE nº 699/72 e atribui à EJA três funções básicas: A Função reparadora: A função reparadora constitui-se na restauração do direito a uma escola de qualidade, o que significa ter acesso a um bem real, social e simbolicamente importante, contribuindo para a conquista da cidadania e a inserção no mundo do trabalho, através da aquisição das competências exigidas para isso. A função reparadora significa a entrada no circuito dos direitos civis pela restauração de um direito negado: o direito a uma escola de qualidade e o reconhecimento de igualdade de todo e qualquer ser humano. Significa não só a entrada no circuito dos direitos civis pela restauração de um direito negado – o direito a uma escola de qualidade, mas também o reconhecimento daquela igualdade ontológica de todo e qualquer ser humano. Função equalizadora: A função equalizadora aplica-se àqueles que antes foram desfavorecidos quanto ao acesso e permanência na escola, devendo receber, proporcionalmente, maiores oportunidades que os outros, para ter restabelecida sua trajetória escolar de modo a readquirir a oportunidade de um ponto igualitário no jogo conflitual da sociedade. Por último, a qualificação, mais do que função, é o próprio sentido da EJA. Tem como base o caráter incompleto do ser humano que busca atualização em quadros escolares e não escolares. Jovens empregados, subempregados ou não, podem encontrar nos espaços e tempos da EJA, nas funções reparadora, equalizadora ou qualificadora, um lugar de melhor capacitação para o mundo de trabalho, construindo conhecimentos, habilidades, competências e valores (BRASIL, 2000, p.30-39). A função equalizadora dará cobertura a trabalhadores e a tantos outros segmentos da sociedade possibilitando–lhes a reentrada no sistema educacional. Há que se reconhecer no seio da sociedade a existência da diversidade e garantir nas políticas públicas a efetivação de oportunidades diferentes para eliminar as desigualdades, equalizar o acesso aos bens sociais e o exercício da cidadania, fazendo cumprir com o princípio constitucional de que a educação é direito de todos. Função Permanente ou qualificadora: A educação de jovens e adultos deve ser vista como uma promessa de qualificação de vida para todos, propiciando a atualização de conhecimentos por toda a vida. Mas do que função, ela é o próprio sentido da EJA, que tem como base o caráter incompleto do ser humano, cujo potencial de desenvolvimento e de adequação pode atualizar-se em quadros escolares ou não-escolares. Para poder cumprir com suas funções a EJA precisa ser pensada de modo a contemplar, como afirma o parecer Conselho Nacional de Educação/CEB nº 11/2000, no projeto pedagógico “um modelo pedagógico próprio”, que assegure na prática pedagógica, na relação professor aluno e no processo de ensino aprendizagem a inclusão de estratégias de valorização da experiência de vida 3 (social, cultural e profissional), “a fim de criar situações pedagógicas e satisfazer necessidades de aprendizagem de jovens e adultos”. É impossível falar de processo de ensino e aprendizagem, sem mencionar um aspecto extremamente presente no dia a dia escolar, a “dificuldade de aprendizagem”. A dificuldade de aprendizagem hoje, faz-se presente em todos os segmentos educacionais, com níveis diferenciados, bem como as formas de pensa-la e combatê-la. Na EJA não é diferente, entretanto, a dificuldade de aprendizagem associa-se ao tempo destinado a estudo, e a significância empregada pelo educando a determinado conteúdo. Há no âmbito escolar um questionamento latente a essa temática, pois ainda não foi possível elucidar o por que da facilidade em determinados conteúdos, e tamanha dificuldade em outros. O desafio da escola está em minimizar e/ou disseminar tais dificuldades, entretanto, a tarefa não é tão simples e fácil, exige esforço, dedicação, investigação e estudo, tanto do docente quanto do discente. Vale salientar que a referida abordagem, tem como perspectiva propor reflexão no que tange ao que e ministrado, bem como sua significância social, priorizando e valorizando a realidade do aluno, bem como pautar e pontuar as dificuldades de aprendizagem e suas possíveis causas. Quando se fala em aspecto formativo, vale salientar que se refere a uma avaliação voltada para a formação progressiva do sujeito. Segundo Perrenoud (1999. pág. 33): É formativa toda avaliação que auxilia o aluno a aprender e a se desenvolver, ou seja, que colabora para a regulação das aprendizagens e do desenvolvimento no sentido de um projeto educativo. A avaliação formativa tem características informativa e reguladora, ou seja, fornece informações aos dois atores do processode ensino-aprendizagem. Nesse sentido, a Resolução CNE/CEB nº 1, de 5 de julho de 2000 afirma que é preciso assegurar: I - quanto à equidade, a distribuição específica dos componentes curriculares a fim de propiciar um patamar igualitário de formação e 4 restabelecer a igualdade de direitos e de oportunidades face ao direito à educação; II - quanto à diferença, a identificação e o reconhecimento da alteridade própria e inseparável dos jovens e dos adultos em seu processo formativo, da valorização do mérito de cada qual e do desenvolvimento de seus conhecimentos e valores; III - quanto à proporcionalidade, a disposição e alocação adequadas dos componentes curriculares face às necessidades próprias da Educação de Jovens e Adultos com espaços e tempos nos quais as práticas pedagógicas assegurem aos seus estudantes identidade formativa comum aos demais participantes da escolarização básica; É necessário considerar o Ensino de Jovens e Adultos como parte importante do sistema educacional, entendendo que os educandos por vezes foram vítimas de algo ou alguma coisa que lhes impediram de estarem estudando no período de infância e adolescência. Jovens e Adultos são inteiramente capazes, portadores de competências e habilidades, obviamente, respeitando o tempo, espaço e condições de cada aluno. Ressaltando que tal importância não pode passar pelo viés do “favor”, pelo contrário, a significância e relevância sócio-educacional perpassam pelo âmbito da legalidade, ofertando acima de tudo, um direito incutido no ato de ser cidadão. 5 2 REFERENCIAL TEÓRICO Historicamente no Brasil, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) como uma modalidade de ensino sempre foi vista como uma prática fragmentada, como um suplemento de programas. Nas últimas décadas, um marco legal importante foi a Constituição Federal de 1988 que aborda dois aspectos importantíssimos para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) primeiramente, a questão da garantia da gratuidade dessa modalidade de ensino no nível fundamental (art. 208, inciso I) e, em seguida, o destaque para o enfrentamento do analfabetismo como um dos objetivos de um Plano Nacional de Educação (art. 214, inciso I). Com a Lei 9394/96, houve avanços significativos para a Educação de Jovens e Adultos (EJA). A construção de uma modalidade de qualidade que deve ter em pauta a realidade dos sujeitos que a frequentam, é o que está previsto no art. 4º, apresentado abaixo: O dever do Estado com a educação escolar pública será efetivado mediante garantia de I- ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; [...] VI- oferta de ensino regular, adequado às condições do educando; VII- oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que foram trabalhadores as condições de acesso permanência na escola; [...] Segundo Oliveira (1999, p. 59), a educação de pessoas jovens e adultas, não nos remete apenas a uma questão de especificidade etária, mas, primordialmente, a uma questão de especificidade cultural. De acordo com Oliveira, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) é repleta de conjunto de indivíduos heterogêneos, com especificidades próprias, na diversidade de grupos geracionais e culturais distintos presentes na sociedade atual. Neste mesmo pensamento, Gadotti (2002, p. 62) afirma, Os perfis dos alunos da EJA da rede pública são na maioria trabalhadores proletariados, desempregados, donas de casa, jovens, idosos, portadores de deficiências especiais. São alunos com suas diferenças culturais, etnias, religião, crenças. 6 De acordo com Arroyo (2006, p. 33) é preciso considerar a Educação de Jovens e Adultos (EJA) como um público específico a partir das especificidades dos indivíduos que a procuram e que o autor denomina de “tempos de vida-juventude e vida adulta”. De acordo com Abarche (2001, p. 22), visualizar a educação de jovens e adultos levando em conta a especificidade e a diversidade cultural dos sujeitos que a elas recorrem torna-se, pois, o caminho renovado e transformador nessa área educacional. É sabido por todos que é direito de todos gozar de uma educação de qualidade, seja em idade/série correto ou não. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96) estabeleceu no capítulo II, seção V, artigo 37 que “A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou oportunidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria”. Quando se fala em educação de qualidade, é preciso trazer a memória tudo que se remete ao termo qualidade, e entender que o mesmo não pode ser dissociado do termo “qualitativo”, valorização e formação profissionais. Em seu livro “Para onde vai a educação?”, Jean Piaget (1976, p.58) faz o seguinte questionamento: Questiono o aspecto quantitativo do acesso à educação, não que seja contrário a este fator, mas que não houve um acompanhamento da revalorização da profissão do magistério, portanto não houve um preparo para que o fator quantitativo caminha-se junto ao qualitativo. O Estado tem o dever de proporcionar a educação, e normalmente sua maneira de demonstrar que está cumprindo seu dever é mostrar quantidade, e que também não garante a qualidade. O fator econômico do Estado por outro lado exige mão-de-obra para o mercado, que também exige qualidade, no entanto na educação, o Estado continua não investindo na qualidade da formação do professor. Felizmente o cenário mudou, e tal mudança surgiu mediante a legitimização dada a Educação de Jovens e Adultos, por meio de resoluções, pareceres e diretrizes curriculares, organizado a espinha dorsal desse segmento, ou seja, seu organograma de funcionamento e direcionamento. Quando isso aconteceu, cada sujeito assumiu seu papel no processo e hoje é perceptível o empenho por parte de todos que compõem o âmbito escolar, em oferecer um ambiente propício à aprendizagem. Quando se fala em aprendizagem, é preciso enfocar inúmeras 7 situações, como por exemplo, por que o aluno aprende com tanta facilidade determinado conteúdo, e outros ele simplesmente se recusa a aprender, ou não consegui assimilar? Nesse sentido, tem-se o intuito de discorrer a partir da pergunta acima, sobre tal dificuldade e como o docente auxiliará o educando no processo de ensino aprendizagem, no que tange a minimizar dificuldades, bem como resolver desafios e conflitos resultantes da realidade da modalidade EJA. A dificuldade de aprendizagem não é uma problemática apenas da EJA, tal situação é percebida em todos os segmentos educacionais, sendo foco de tensas discussões e reflexões. Dificuldade de aprendizagem é uma designação geral que se refere a um grupo heterogêneo de desordens manifestadas por dificuldades significativas na aquisição e na utilização da compreensão auditiva, da fala, da leitura, da escrita, e do raciocínio matemático. Tais desordens, consideradas intrínsecas ao indivíduo e presumindo-se que sejam devidas a uma disfunção do sistema nervoso central, podem ocorrer durante toda a vida. Para Kincheloe (1997, p.244): Define dificuldade de aprendizagem como: “um atraso, desordem ou imaturidade num ou mais processos: da linguagem falada, da leitura, da ortografia, da caligrafia ou da aritmética; resultantes de uma disfunção cerebral ou distúrbios de comportamentos, e não dependentes de uma deficiência mental, de uma privação cultural ou de um conjunto de fatores pedagógicos. Fonseca ainda afirma que (1999, p.44) A dificuldade de aprendizagem como: "desordens psico-neurológicas” da aprendizagem para incluir os déficits na aprendizagem em qualquer idade e que são essencialmente causadas por desvios no sistema nervoso central e que não são devidas ou provocadas por deficiênciamental, privação sensorial ou por fatores psicogenéticos. Os conceitos de dificuldade acima citados, não englobam qualquer perturbação global da inteligência ou da personalidade, ou de eventualmente, qualquer anomalia sensorial (auditiva, visual ou tactilo-quinestésica) ou motora. Há um potencial de aprendizagem íntegro ou intacto. Os alunos com dificuldade de aprendizagem são alunos intactos, portanto, não são deficientes mentais ou emocionais nem deficientes visuais, auditivos ou motores 8 nem devem ser confundidos com alunos desfavorecidos ou privados culturalmente. Independentemente de terem uma inteligência adequada, uma visão, uma audição e uma motricidade adequada, bem como uma estabilidade emocional adequada, tais alunos não aprendem normalmente. Este aspecto é preponderante e fundamental para compreender e se definir este grupo de alunos. O prefixo (dislexia, disgrafia, disortografia e discalculia) envolve a noção de dificuldade a que pode estar ligada, ou não, uma disfunção cerebral. Ao contrário o conceito de incapacidade, inclui problemas de gravidade variável, exprimindo uma desorganização funcional de atividade anteriormente bem integrada e utilizada. As incapacidades de aprendizagem englobam distúrbios provocados por lesões em zonas secundárias do cérebro, responsáveis pelas funções simbólicas e práticas superiores, resultando em incapacidade de distinguir (analisar e sintetizar), diferenciar aferências, ordená-las e conservá-las e /ou controlar, regular e reprecisar interferência, em “feedback” com aferências. A National Advisory Comimttee on Handicapped Children (NACHC) contribuíram para formulação e compreensão do termo. As concepções são expressas a seguir: São uma condição crônica de suposta origem neurológica que interfere seletivamente no desenvolvimento, integração e/ou não verbais. As dificuldades de aprendizagem específicas existem como uma condição incapacitante e variam em suas manifestações e no grau de severidade. Ao longo da vida, a condição pode afetar a autoestima, a educação, a vocação, a socialização, e/ou as atividades da vida diária.” (ACLD, 1986, p.15) As crianças com dificuldades de aprendizagem especiais (específicas – linguagem, leitura, escrita e matemática) possuem uma desordem em um ou mais dos processos psicológicos básicos envolvidos na compreensão ou uso da linguagem falada ou escrita. Estas dificuldades podem manifestar-se por desordens na recepção da linguagem, no pensamento, na fala, na leitura, na escrita, na soletração ou na aritmética. Tais dificuldades incluem condições que têm sido referidas como deficiências perceptivas, lesão cerebral, disfunção cerebral mínima, dislexia, afasia de desenvolvimento, etc. Elas não incluem problemas de aprendizagem resultantes principalmente de deficiência visual, auditiva ou motora, de deficiência mental, de perturbação emocional ou de desvantagem ambiental. (NACH, 1968, p.34). Ao pensar sobre tal problemática vem à tona o papel do docente nesse processo, sendo que o mesmo é responsável por zelar pela aprendizagem do aluno. 9 A LDB em seu Art. 13 afirma que entre os deveres dos docentes estão: Participar Proposta pedagógica da escola, - Elaborar um PLANO DE TRABALHO DOCENTE (PTD), Zelar Aprendizagem dos alunos, - Elaborar estratégias para os alunos de menor rendimento. Ministrar aulas nos dias letivos estabelecidos pela escola, Participar do Planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional. Articular-se com as famílias dos alunos e a comunidade. Nesse sentido, Codo & Gazzotti (1999, p. 50) afirmam que: “…o papel do professor acaba estabelecendo um jogo de sedução, onde ele vai conquistar a atenção e despertar o interesse do aluno para o conhecimento que ele está querendo abordar.” Segundo Freire (1996) um dos primeiros passos para um educador seduzir seus alunos é procurar conhecê-los. Quem são esses alunos? A quais culturais pertencem? Quais são os seus interesses? Para conquistar a curiosidade e a atenção, temos que conhecer. Outro passo importante é legitimar as suas falas e seus saberes, valorizando todos os seus conhecimentos e as culturas às quais pertencem. Sendo assim cabe ao docente antes de quaisquer situações, ser investigador, ou seja, buscar conhecer seus discentes, e posteriormente, proporcionar, oportunizar, dinamizar, e, sobretudo elaborar estratégias, ou seja, o professor é responsável por dar credibilidade àquilo que ele está ministrando, sendo ele mesmo responsável por dar veracidade e utilidade ao que está sendo exposto. Ao se tratar do assunto conteúdos, vale lembrar que o efeito significativo da ação, está no quanto a mesma é útil, nesse sentido é importante trazer para o âmbito educacional questionamentos e reflexões inerentes a realidade do discente. Nesse sentido a LDB nº 9.394/96 alude ao princípio da realidade no ensino (BRASIL, 1996) ao referir-se no parágrafo 2º do artigo 1º que: “a educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social” e o reforça ao indicar no artigo 3º como princípios do ensino: a “valorização da experiência extra-escolar” (inciso X) e a “vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais” (inciso XI). Menezes e Santos (2007. p. 26) afirmam que: Trate os conteúdos de ensino de modo contextualizado, aproveitando sempre as relações entre conteúdos e contexto para dar significado ao 10 aprendido, estimular o protagonismo do aluno e estimulá-lo a ter autonomia intelectual (MENEZES E SANTOS, 2007). Quando paramos para pensar no termo realidade, nos remetemos a olhar criticamente para o referido termo e refletir sobre o mesmo no sentido de entender o que venha ser “realidade”. Fontes (2007, p. 62) diz que: a) a realidade é fruto da observação sensorial e existe independente da consciência das pessoas; b) a realidade é uma construção e prende-se ao conceito de objetividade. É real tudo aquilo que possa ser objeto de consenso, provado ou refutado. Cada ciência nos dá uma visão particular da realidade; c) a verdadeira realidade está nas próprias pessoas e não nas coisas; está em nossas percepções. Deste modo, não é possível falar em realidade, e sim em realidades particulares, onde os sujeitos desenvolvem valores, pensamentos, significações, crenças, entre outros. Para Demo (2001. p.38) “a melhor forma de estabelecermos um diálogo com a realidade e sua cultura é a pesquisa seja ela considerada em sua vertente experimental, fenomenológica, interpretativa ou etnográfica”. Por este instrumento se pode reconhecer, descrever e interpretar as representações e significados científicos, culturais e sociais dos quais as pessoas se apropriaram em diferentes momentos e contextos de suas vidas (EZPELETA e ROCKELL, 1986, p.72). Em suma, é preciso estar perceptível a todos, de que o aluno precisa ser valorizado e respeitado, dando-lhe crédito, no sentido de proporcionar ao mesmo um crescimento e amadurecimento, entendendo que a significância de algo ou alguma coisa está na diferença que o mesmo faz em sua vida. Sendo assim, é possível compreender que cabe ao docente estar atento a tudo que o cerca, e principalmente olhar criticamente para todos os lados, e não só para frente. 11 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Falar dos mais diversos sujeitos que estão inseridos no cerne da instituição escolar não é tarefa fácil, definir perfil, se é que se pode assim dizer, exige acima de tudo, sensibilidade diante das situações, pois cada aluno busca algo diferente dentro do âmbito em que está inserido, por tal motivo, é de suma importância considerar as metas e objetivos traçados por cada sujeito, respeita as diversidades de opiniões e vivências. Por muito tempo a Educação de Jovens e Adultos, não foi vista com bons olhos, sempre havia uma desconfiança, e era inevitável ouvir sussurros pelos corredores,onde professores se recusam a trabalhar nesse seguimento, muitos viam como perda de tempo e até como meio fácil de ganhar dinheiro, ou seja, quem aceitava o desafio era taxado como alguém que não fazia nada. A educação de jovens e adultos deve estar alicerçada no aspecto formativo, considerando as situações, os perfis dos estudantes, as faixas etárias e se pautará pelos princípios de equidade, diferença e proporcionalidade na apropriação e contextualização das diretrizes curriculares nacionais e na proposição de um modelo pedagógico próprio. Para tanto, a valorização da modalidade EJA é o aporte necessário para que de fato, o referido segmento exerça sua função formativa, respeitando todos que fazem o processo acontecer. Considerar cada sujeito como único é fundamental, de modo que todas as ações sejam pensadas na perspectiva da evolução do ser humano, de modo que o exercício da empatia esteja intrinsecamente ligada a prática pedagógica. 12 4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ARROYO, M. G. Educação de jovens - adultos: um caminho de direitos e de responsabilidade pública. Belo Horizonte: Autêntica, pg.33. 2006. 2. ARBACHE, Ana Paula. 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