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Direito do Trabalho: noções e normas SST Araujo, Marjorie de Almeida Direito do Trabalho: noções e normas / Marjorie de Almeida Araujo Ano: 2020 nº de p.: 11 Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. 3 Direito do Trabalho: noções e normas APRESENTAÇÃO Nesta unidade, estudaremos os aspectos gerais das normas do Direito do Trabalho. Veremos que esse conjunto foi definido pelo texto Constitucional e no âmbito infraconstitucional estabelecidos, em regra, pelas Leis Trabalhistas (Consolidação das Leis do Trabalho – CLT). Assim, destacaremos as principais diferenças entre as normas protetoras dos direitos individuais a partir do exame do modelo contratual, com a apresentação das principais modificações estabelecidas pela Reforma Trabalhista, os impactos que tais alterações geram para o trabalhador e examinaremos algumas formas de trabalho específicos, como o modelo intermitente e o home office. Por fim, compreenderemos alguns elementos da jornada de trabalho, como intervalo e férias. NORMAS GERAIS DA TUTELA DO TRABALHO As normas gerais de tutela do trabalho estão compreendidas nos arts. 13 a 223 da CLT, documento em que estão descritas as normas pelas quais são regidos os contratos de trabalho e as definições referentes à identificação do profissional, duração do trabalho, questões relacionadas ao salário mínimo, férias anuais e segurança e medicina do trabalho (BRASIL, 1943).Com a Lei nº 13.467, 13 de julho de 2017, conhecida como Lei da Reforma Trabalhista, a CLT foi alterada em muitos de seus artigos, dando um desfecho diferente às relações trabalhistas (BRASIL, 2017a). Divisão do Direito do Trabalho Normas Trabalhistas Direitos coletivos Direitos individuais Fonte: Elaborada pela Autora (2020). 4 Dentre as normas que são definidas como gerais, ou seja, destinadas aos trabalhadores como um todo, destaca-se o firmado na Constituição Federal de 1988, em seu art. 7º, como a garantia da relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos (BRASIL, 1988). Vale destacar que nem toda relação de trabalho pode ser considerada de emprego, pois, para que seja configurada a relação de emprego, na qual o empregado terá direito a todas as verbas trabalhistas e garantias previstas em lei, é necessário que haja o preenchimento de alguns requisitos: pessoalidade – o empregado deve ser uma pessoa física; onerosidade – deve desenvolver a atividade mediante a percepção de salário; habitualidade – os serviços devem ser prestados habitualmente e não de forma eventual; subordinação – deve ficar caracterizada a dependência do empregado em relação ao empregador, quanto às ordens, pagamentos, entre outras obrigações trabalhistas. Para firmar a relação de trabalho, são celebrados contratos, considerados instrumentos jurídicos que estabelecem direitos e deveres recíprocos. No Brasil, a CLT prevê tanto contratos coletivos como individuais, sendo este o último o principal modelo e cujos principais aspectos passaremos a estudar. É importante frisar que, quando nos referimos ao contrato de trabalho, estamos nos referindo às relações com vínculo empregatício, ou seja, às relações de emprego, constantes no art. 442 da CLT (BRASIL, 1943). O contrato de trabalho é sempre bilateral (direitos e obrigações reciprocas), consensual (existe porque ambas as partes acordaram entre si tal relação) e de trato sucessivo (a relação vai sendo confirmada continuamente). Trata-se de um contrato privado, em que devem ser respeitadas algumas questões de ordem pública, explicitadas na figura a seguir. Elementos do contrato de trabalho Contrato de Trabalho Agente capaz Objeto Lícito Possível Determinado Na forma da lei Consciente Fonte: Elaborada pela Autora (2020). 5 Quanto ao prazo, os contratos podem ser definidos com tempo determinado, ou seja, por regras estabelecidas na legislação trabalhista, ocorrendo quando as partes estabelecem previamente o momento em que eles serão findados e também podem ser firmados por tempo indeterminado (regra geral), quando a intenção inicial é que o vínculo seja mantido. REFORMA TRABALHISTA Pouco antes de ser aprovada a reforma trabalhista, foi sancionada a Lei nº 13.429 (BRASIL, 2017b), que alterou a forma de terceirização no país. Carteira de trabalho Fonte: Deduca (2020). Antes da reforma, não se poderia terceirizar os serviços ligados à atividade-fim da empresa, ou seja, a terceirização era apenas para atividades secundárias e não principais. Porém, agora, é possível terceirizar qualquer atividade da empresa, desde que respeitados os preceitos contidos na citação anterior. Outra mudança trazida pela reforma trabalhista refere-se às novas regulamentações para o trabalho intermitente (figura já presente no texto da CLT), configurado como atividade em que se intercalam períodos de serviço e períodos de inatividade. Isso porque existem demandas que, para serem supridas, exigem que a empresa contrate determinado profissional, mas para utilizar seus serviços de forma sazonal. A justificativa, para além da necessidade organizacional, é que o trabalhador poderia conciliar a atividade laboral com outras atividades. Assim, o empregado pode trabalhar para vários empregadores, enquanto o empregador se beneficia do fato de que este empregado somente fará jus às verbas trabalhistas referentes aos períodos trabalhados. 6 A sazonalidade das operações da empresa pode ser de dias, semanas, meses ou anos. O principal requisito para o regime de trabalho intermitente é que a empresa só consiga desenvolver sua atividade em períodos temporais específicos, ficando parte do tempo em pausa. Relações de trabalho Fonte: Deduca (2020). Outra questão inovadora introduzida pela reforma é a figura do trabalho remoto ou teletrabalho. Nessa modalidade, a maior parte da atividade é exercida fora das dependências do empregador (em home office), o que é viabilizado pela característica tecnológica do trabalho prestado e normalmente realizado na residência do trabalhador. Há inúmeros benefícios para ambas as partes. Para o trabalhador, por exemplo, evita a perda de tempo com deslocamentos, benefícios de não ser exposto ao estresse do trânsito em grandes metrópoles, redução com gastos como alimentação, vestimentas, entre outros. Para o empregador, também há redução de gastos com a desativação de setores da organização, estrutura, energia etc. O teletrabalhador, em regra, não pode pleitear o pagamento de horas extras, respeitando-se, é claro, a razoabilidade da quantidade de trabalho imposta. Ressalta-se que, se o empregador tiver como controlar virtualmente as horas efetivamente trabalhadas, poderá ser considerado o adicional de hora extra. Todavia, uma parcela da doutrina e jurisprudência aceita que em determinados casos poderá haver o pagamento dessa verba trabalhista. Trabalho remoto 7 Fonte: Deduca (2018). Essa modalidade de trabalho vem sendo cada vez mais procurada pelos trabalhadores, visto que se ganha muito em qualidade de vida, além da vantagem de poder trabalhar para vários empregadores. JORNADAS Entendemos por jornada de trabalho o período diário em que o trabalhador exerce suas atividades, sendo que o intervalo para repouso e alimentação não integram esse cálculo. A regra geral é que o indivíduo trabalhe oito horas diárias. Contudo, algumas classes trabalhistas e atividades empresariais ocasionam uma flexibilização nesse padrão. Destaca-se que o trabalhador que labora em horário convencionalmente chamado de comercial recebe adicionais que refletem diretamente em suas verbas trabalhistas. Quanto aos intervalos inerentes à jornada de trabalho, citamos os seguintes: • interjornada – refere-se ao intervalo entre uma jornada de trabalho e outra, devendo-se respeitar o período mínimo de 11 horas. O empregado também deve gozar de um descansosemanal mínimo de 24 horas, preferencialmente aos domingos. Fica vedado o trabalho em feriados, salvo quando se tratar de trabalhos em escalas de revezamento ou trabalhos sob regras especiais; 8 • intrajornada – os funcionários que possuem carga horária de trabalho supe- rior a 6 horas devem ter, no mínimo, uma e no máximo duas horas de interva- lo para descanso e alimentação. Terão direito a apenas 15 minutos aqueles que trabalharem mais de quatro e menos de seis horas. É necessário frisar que estes intervalos não são trabalhados, nem remunerados, portanto, se não forem concedidos e o empregado exercer suas atividades laborais nesse período, fará jus ao recebimento de horas extras. Existem outros períodos de intervalo dentro da jornada de trabalho previstos para algumas funções, nas quais se fazem necessárias pausas durante o trabalho. Você sabe quais são? Reflita Com a nova redação da CLT, o intervalo intrajornada poderá ser objeto de negociação com o sindicato ou diretamente com empregados. Todavia, buscando garantir a saúde do trabalhador, ainda que haja essa negociação, deve haver um resguardo mínimo de 30 minutos (BRASIL, 2017a). Chegamos ao tópico mais esperado pelos trabalhadores: as férias. Férias Fonte: Deduca (2020). 9 Antes da reforma, as férias só podiam ser fracionadas em dois períodos e nenhum deles poderia ser inferior a 10 dias (regra que não aplicável a menores de 18 ou maiores de 50 anos). Depois da reforma, qualquer funcionário passou a poder fracioná-las em até três períodos, sendo um deles de no mínimo 14 dias e os outros de no mínimo cinco, com vistas a refletir na redução do estresse do dia a dia, na melhora da qualidade de vida e mesmo impedir o surgimento de algumas doenças, o que, em contrapartida, é bom para o empregador, pois empregado saudável tende a impactar positivamente na empresa. Os dias de férias, independentemente de fracionamento, devem ser exercidos em data que não coincida, nos dois dias anteriores, com feriados ou com repouso semanal remunerado. Além disso, os empregadores podem realizar uma escala de férias em períodos de menor necessidade de mão de obra, organizando uma escala com os funcionários que já possui, sem a necessidade de contratar alguém especificamente para cobrir determinado trabalho, já que se trata de um período mais curto. A cada 12 meses trabalhados (período aquisitivo), o empregado faz jus ao gozo de férias e então, o empregador, passa a ter um prazo de até 12 meses para concedê- las (período concessivo). O tempo de duração, forma de pagamento e demais particularidades a respeito das férias, encontram-se regulamentados na CLT, nos artigos 130 a 145 da CLT (BRASIL, 1943). 10 FECHAMENTO Nessa unidade, compreendemos que os direitos dos trabalhadores têm base na Constituição Federal, no rol dos direitos sociais e, de forma infraconstitucional, tais direitos foram disciplinados pela CLT que, em 2017, passou por um grande processo de reforma para se adequar às novas necessidades especiais. Refletimos sobre as diferentes formas contratuais e, especificamente, examinamos os elementos que compõem o modelo individual. Por fim, estudamos as principais modificações da reforma trabalhista para o padrão tradicional de atividade laboral, vimos as alterações que a norma estabeleceu no modelo intermitente, a legalização do modelo home office e as principais alterações para o gozo das férias pelo trabalhador. 11 Referências BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 01 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis trabalhistas. Brasília, DF: Presidência da República. Disponível em: http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452compilado.htm. Acesso em: 18 set. 2020. ______. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 10 set. 2020. ______. Lei nº 13.467, de 13 de julho 2017. [2017a]. Altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e as Leis n º 6.019, de 3 de janeiro de 1974, 8.036, de 11 de maio de 1990, e 8.212, de 24 de julho de 1991, a fim de adequar a legislação às novas relações de trabalho. Brasília, DF: Presidência da República, 2017. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ ato2015-2018/2017/lei/l13467.htm. Acesso em: 18 set. de 2020. ______. Lei nº 13.429, de 31 de março de 2017. [2017b]. Altera dispositivos da Lei n o 6.019, de 3 de janeiro de 1974, que dispõe sobre o trabalho temporário nas empresas urbanas e dá outras providências; e dispõe sobre as relações de trabalho na empresa de prestação de serviços a terceiros. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ ato2015-2018/2017/lei/l13429.htm. Acesso em: 10 set. 2020.