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04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 1/47 Introdução aos estudos sintáticos Prof. Nataniel Gomes Descrição Abordagem gramatical e linguística das construções sintáticas da língua portuguesa. Propósito Compreender o conjunto de fenômenos sintáticos é importante para ampliar o conhecimento linguístico e gramatical da língua portuguesa. Preparação Tenha em mãos um dicionário de Linguística para consultar os termos específicos da área. Na internet, você pode acessar o Dicionário de Termos Linguísticos, hospedado no Portal da Língua Portuguesa. Objetivos Módulo 1 A hierarquia gramatical Reconhecer as abordagens gramatical e linguística da sintaxe. 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 2/47 Módulo 2 Frase, oração e período Identificar os conceitos de frase, oração e período. Módulo 3 O sintagma nominal e a noção de sujeito Identificar os conceitos de sintagma e sujeito. Módulo 4 O verbo e a predicação Identificar o verbo e a predicação. 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 3/47 Introdução Por muito tempo, a sintaxe foi vista como a grande inimiga nas aulas de língua portuguesa, mas ela é e deve ser entendida como parte integrante dos estudos da linguagem, com foco nas relações que as palavras mantêm entre si nas estruturas simples e complexas em seus aspectos gramaticais e linguísticos. Neste conteúdo, vamos abordar a sintaxe a partir da relação entre a gramática tradicional e a perspectiva linguística, destacando aspectos de hierarquização e combinação da língua. Vamos tratar de conceitos como frase, oração, período, sintagma, sujeito, verbo e predicado. Você está convidado a conhecer alguns pressupostos teóricos que vão ajudá-lo em futuros estudos sobre a sintaxe da língua portuguesa. Vamos lá? 1 - A hierarquia gramatical Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer as abordagens gramatical e linguística da sintaxe. 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 4/47 Abordagem gramatical e linguística A gramática tradicional A gramática tradicional, também chamada de normativa ou escolar, é aquela à qual temos acesso durante os primeiros anos escolares. Aprendemos desde cedo a identificar os elementos que servem de constituintes das palavras, a classificar os sintagmas e a estabelecer corretamente a relação entre os termos da oração e as relações também entre as próprias orações ou frases. Tudo isso pressupõe determinada “norma” eleita como padrão a ser usada por aqueles que tiveram acesso ao ensino formal. Apesar disso, muitos estudantes se perguntam para que serve tal abordagem. Uma das formas de responder a essa questão está relacionada com a própria origem dos estudos gramaticais. Curiosidade A gramática tradicional, aquela utilizada na escola, surge na Grécia antiga. Os filósofos já tinham interesse em investigar as questões linguísticas com o objetivo de entender a relação entre a linguagem, o pensamento e a vida real. Uma das questões surgidas naquela época era saber se havia equivalência entre “palavras” e “coisas”, se eram equivalentes perfeitas ou representações arbitrárias inventadas para tentar representar o mundo. Para os gregos, existia uma relação entre a linguagem e a lógica, vejamos: A gramática era tratada como uma parte dos estudos da lógica, que busca explicar o raciocínio, ou seja, a linguagem é uma organização do pensamento humano, A lógica buscava descrever o pensamento. Além disso, entendia-se que o mundo existe independentemente da capacidade de expressá-lo por meio da 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 5/47 que se manifesta em todas as línguas naturais. linguagem, já que ele provoca no ser humano impressões nos sentidos, e a linguagem é uma representação do mundo. Afora as questões filosóficas da linguagem, os gregos ainda tinham a preocupação de ditar os padrões de uso da língua. Esse padrão de abordagem passou para os romanos e foram adaptados para o estudo e ensino do latim, enfatizando o uso normativo da língua. Uma das razões para isso era a tentativa de unificar o latim devido à expansão do Império Romano. Mesmo na Idade Média, o latim se manteve como língua de prestígio, sendo adotada como o modelo linguístico da Igreja, servindo como língua de cultura. É a partir do século XVI que as descrições das línguas são elaboradas, mas o modelo que servia de fundamento era baseado nas gramáticas do latim, devido ao seu prestígio como língua-padrão a ser seguida. Re�exão É essa concepção que chegou ao ensino de gramática na escola e permanece até hoje, na maioria dos casos, com o seu caráter normativo, que muitas vezes ignora o uso da língua em situações reais, desconsiderando as mudanças que ocorrem em todas as línguas, como um processo natural, e ao mesmo tempo apresentando variações de uso. Entende-se que tal modelo de ensino valoriza determinada variação ou registro da língua em detrimento de outra, levando em conta critérios que não são linguísticos. Em outras palavras, valoriza-se uma norma utilizada por determinadas classes sociais – a língua culta –, desconsiderando outras. Além de tudo isso, abordagens assim classificam formas amplamente utilizadas pelos falantes como “erradas”, tendo uma visão parcial da linguagem, sem explicar o seu funcionamento. Abordagem gramatical da sintaxe e suas alternativas 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 6/47 Para Faraco e Moura (1996, p. 307), em uma abordagem normativa, a sintaxe é “a parte da gramática que estuda as combinações e relações entre palavras de uma frase”. A sintaxe, numa abordagem da gramática normativa, estudaria as funções e combinações de palavras em frase para que a linguagem funcione como instrumento de comunicação. Essa abordagem é diferente do que se entende nos estudos mais recentes sobre a linguagem, que concebe o enunciado com um sentido completo inserido em um contexto social, histórico e ideológico, que comunica, informa, gera interação etc. Já podemos perceber, então, que a sintaxe pode ser tratada tanto numa abordagem gramatical ou normativa quanto numa abordagem linguística. Por isso, a provocação de Perini lembra ser pertinente a mudança nas abordagens gramaticais para dar conta de novas necessidades: Para quem gosta de certezas e seguranças, tenho más notícias: a gramática não está pronta. Para quem gosta de desafios, tenho boas notícias: a gramática não está pronta. Um mundo de questões e problemas continua sem solução, à espera de novas ideias, novas teorias, novas análises, novas cabeças. (PERINI, 1997, p. 85) A sintaxe a partir de uma abordagem normativa busca fazer uma intervenção no uso da língua, buscando uma unificação e idealização no emprego linguístico. Desse modo, a abordagem apenas gramatical deixa de se preocupar com o uso amplo de recursos que estão disponíveis e as combinações de sintagmas na oração, pois vai fazer uso apenas de uma seleção deles, ou seja, daqueles elementos na língua que são prestigiados socialmente ou utilizados pelos que são considerados “cultos”. 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 7/47 Azeredo (2015) afirma que essa abordagem tradicional da sintaxe da língua foca no aspecto normativo ou prescritivo, ou seja, está preocupada com a classificação e a prescrição de um uso correto. O trabalho com Sintaxe Normativa promove uma intervenção no uso da língua, ela não se ocupa da totalidade dos recursos empregados na disposição e combinaçãodas palavras na frase, mas de uma seleção desses recursos em nome de uma forma ideal ou única considerada correta de emprego da língua. (AZEREDO, 2015, p. 198) Nesse sentido, a visão gramatical ou normativa da sintaxe ainda é predominante no ensino, muitas vezes, desconsiderando o surgimento da Linguística, ciência responsável pelo estudo da linguagem. Embora os livros didáticos tenham adotado conceitos como variação linguística, uso coloquial, entre outros, a sua abordagem ainda mantém o objetivo de domínio das estruturas consideradas padrão por sua manifestação escrita. Isto não quer dizer que a escola deva deixar de lado a língua culta ou padrão, mas que deve também incluir outras abordagens sobre a língua. Abordagens gramatical e linguística da sintaxe 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 8/47 Confira as diferenças entre a abordagem gramatical tradicional e a abordagem linguística da sintaxe, com destaque para suas implicações no estudo da língua. Sintaxe e hierarquização A palavra “sintaxe” tem origem no grego, significa “ordenamento, composição”. Ela se refere aos recursos, os sintagmas, que o falante usa de forma organizada para criar enunciados. Atenção! A sintaxe faz parte das competências linguísticas que servem para combinar sintagmas na ordem aceita por aquela determinada língua. Essa combinação, que está inserida nos atos de linguagem, é composta por sintagmas, frases e períodos. Podemos, além disso, ampliar essa noção para os parágrafos e textos. A palavra “sintaxe” tem origem no grego, significa “ordenamento, composição”. Ela se refere aos recursos, os sintagmas, que o falante usa de forma organizada para criar enunciados. Azeredo (2001) explica que a hierarquia gramatical apresenta diversos níveis, cada um com sua unidade: Sintagma Vocábulo Oração Período 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 9/47 Logo, a análise gramatical identifica cada uma das unidades e das regras que possibilitam as combinações. Por esse motivo, a leitura e a compreensão de um texto são possíveis, afinal os elementos que compõem a língua, sejam verbais ou não verbais, fazem parte de nossa competência linguística. Existe uma ordem que precisa ser seguida, uma ordem na organização das frases – a sintaxe. É importante lembrar que fonologia, morfologia, sintaxe e semântica são partes da gramática, cada uma delas foca seus estudos em determinados elementos da língua. Veja: Fonologia Visa estudar os sons de determinada língua para distinguir os significados. Morfologia Visa estudar a estrutura das palavras. Sintaxe Visa entender a organização das frases. Semântica Visa estudar o significado das palavras e sentenças. Vamos avançar um pouco mais para explicar o que a sintaxe estuda na gramática da língua! A sintaxe busca explicar as funções e relações entre os sintagmas; a regência, a colocação e subordinação entre os termos; a frase e sua Morfema 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 10/47 organização; a estrutura, a ordem e a função dos elementos; além da organização e da relação entre os elementos que compõem as frases e períodos. Assim, a sintaxe apresenta relações abertas, mesmo que afete o significado em determinados casos, já que muitas vezes esses limites estão fora de tais sentidos devido ao uso linguístico. Podemos produzir duas sentenças diferentes com sintagmas em ordens diferentes. Exemplo “João comprou uma roupa bonita”. Podemos produzir a seguinte frase com a ordem invertida de alguns elementos: “João comprou uma bonita roupa”. Nos dois casos, os exemplos se mantiveram compreensíveis. Ao produzir enunciados, seja na fala ou na escrita, selecionamos elementos que pertencem a determinadas classes gramaticais (substantivos, adjetivos, pronomes, verbos etc.), de forma mais adequada possível para comunicar aquilo que queremos. Ao analisar a classe gramatical dos elementos que compõem determinada frase, faz-se a análise morfológica, ou seja, estuda-se a classificação, a estrutura, a formação e a flexão das palavras de forma isolada. Ao dividir a oração em partes para analisar as funções que os sintagmas exercem nela ou entre as outras orações que formam o texto, está se fazendo a chamada análise sintática. Se você ainda tem dúvidas sobre o que são os sintagmas, a seguir vamos explicar! Segundo Castilho (2010), a origem do termo sintagma está relacionada com o vocabulário militar grego. Sintagma, na verdade, designava um esquadrão ou um número fixo de soldados que se distribuíam regularmente e com determinadas funções. Os linguistas se apropriaram desse termo, que parecia talhado para indicar o modo como o substantivo, o verbo, o adjetivo, o advérbio e a preposição costumam agregar 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 11/47 outras classes de palavras. Como todo termo técnico, ele foi assumindo diferentes acepções. Inicialmente, significava qualquer combinação na cadeia falada, como uma realização do eixo sintagmático [...] O estruturalismo especializou o termo, restringindo-o à designação dos grupos de palavras que formam uma unidade gramatical hierarquizada maior que uma palavra, pois resulta de uma associação de palavras, e menor que a sentença, de que é um constituinte. (CASTILHO, 2010, p. 55-56) A partir desse entendimento do que é o sintagma – uma associação de palavras menor do que a sentença –, entendemos que a frase é composta por sintagmas, a partir dos princípios que regem a língua. É um tipo de organização em blocos, em torno de um núcleo. Logo, o sintagma expressa uma relação de dependência e se refere às partes que compõem a sentença. O sintagma apresenta um elemento determinado e outro que é o determinante que estabelecem um elo de subordinação entre eles. Por isso, falamos em hierarquização gramatical. A sintaxe se preocupa em estudar o sintagma, a oração e o período, mas, na hierarquia, ainda temos outros elementos que são estudados pela Linguística Textual: o parágrafo e o texto. Logo, para se fazer uma análise gramatical, é preciso conhecer as unidades linguísticas e as regras de combinação delas. Isso se dá por meio da hierarquia gramatical, que demonstra a existência de uma hierarquia entre as unidades da língua apresentada em ordem por morfemas, vocábulos, sintagmas e períodos, conforme já apontado. Essas unidades são dependentes umas das outras, ou seja, sem um o outro não existiria, e juntos eles formam a língua, seja escrita ou falada. 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 12/47 Aspectos linguísticos ligados à hierarquização e sintaxe Confira os aspectos linguísticos relacionados com a sintaxe, com destaque para a noção de hierarquização. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Na língua portuguesa, a sintaxe tem função fundamental para o processo de comunicação. Nesse sentido, assinale a opção que melhor qualifica o que é sintaxe: A É a parte da linguística que estuda as palavras que formam o processo de comunicação entre os diferentes grupos sociais. B É a parte da gramática que promove a classificação das palavras segundo a função que ela exerce no processo fonológico da linguagem. C É a parte da gramática que estuda as frases e as orações isoladas entre si, sem analisar as relações criadas entre elas na formação do significado da frase. D É um ramo da gramática que se dedica ao estudo da organização das palavras nos períodos, conformando uma relação lógica e compreensível entre elas. 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html#13/47 Parabéns! A alternativa D está correta. A sintaxe, como a própria etimologia já diz (“sintaxe”, em grego, significa “ordem”), explica a hierarquia dos elementos (os sintagmas) que compõem a sentença, de forma lógica. Assim, a frase é formada por sintagmas e não apenas por palavras que, por sua vez, formam os sintagmas. A sintaxe ou a ordem pode influenciar o sentido e aceitabilidade da frase ou do período. Por exemplo, “O cachorro mordeu o carteiro” é diferente de “O carteiro mordeu o cachorro”. Questão 2 Assinale a alternativa que melhor diferencia análise sintática de classe ou análise gramatical. E É o ramo da gramática responsável pelo estudo do significado das palavras em seu contexto sociocultural e político, reconhecendo a variedade de significados. A A análise sintática é a análise dos grupos que classificam as palavras, já a análise gramatical estuda a função que cada palavra tem dentro da oração. B A análise sintática estuda a função que cada palavra tem dentro da oração, já a análise gramatical é a análise dos grupos classificadores das palavras. C A análise sintática procura identificar a função de cada palavra em um processo de síntese morfológica e a análise gramatical a forma adequada de escrita das palavras. D A análise sintática busca identificar a classe dos elementos que formam determinada frase e a análise gramatical estuda as palavras em suas relações de concordância, de subordinação e de ordem. E A análise sintática estuda a classificação, a estrutura, a formação e a flexão das palavras de 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 14/47 Parabéns! A alternativa B está correta. Pode-se dizer que a análise gramatical visa colocar cada palavra dentro de um grupo à qual ela pertence, sem que as palavras tenham ligação entre si. São classes gramaticais: substantivo, artigo, adjetivo, numeral, pronome, verbo, advérbio, preposição, conjunção e interjeição. Já a análise sintática investiga as palavras dentro da oração e suas relações com as outras palavras, incluindo a sua relação lógica, entre as múltiplas combinações possíveis para transmitir um significado completo e compreensível. 2 - Frase, oração e período Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os conceitos de frase, oração e período. As possibilidades de combinações da língua O famoso psicólogo e linguista canadense Steven Pinker dedicou um capítulo inteiro de seu livro O instinto da linguagem para explicar a sintaxe com bastante humor e dados científicos. Esse capítulo foi intitulado “Como a linguagem funciona”. Para começar, Pinker nos lembra um conceito bem básico da linguística, a arbitrariedade do signo linguístico, ou seja, a união entre um significado e um significante é imposta. forma isolada, já a classe gramatical corresponde às funções dos termos da oração. 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 15/47 De forma muito simplificada, não há nenhum tipo de aproximação entre a palavra “livro” e o objeto “livro”, que não seja por imposição, o que tem incríveis utilidades para transmitir um conceito de uma pessoa para outra, por exemplo. Depois, o autor nos lembra de um conceito do linguista norte-americano Noam Chomsky, nos anos 1960, quando ele tentava explicar o Gerativismo para aquela geração, argumentando que a língua faz um uso infinito de recursos finitos. Sendo assim, a gramática da língua combinaria um número finito de elementos aos quais ela tem acesso, selecionando, combinando e trocando esses elementos para criar estruturas maiores (as sentenças), que têm propriedades distintas entre os elementos que as compõem, podendo haver um número praticamente ilimitado de combinações. Vejamos o que Pinker explica sobre essa possibilidade infinita de combinações: A língua funciona da seguinte maneira: o cérebro de cada pessoa contém um léxico de palavras e os conceitos que elas representam (um dicionário mental), e um conjunto de regras que combina as palavras para transmitir relações entre conceitos (uma gramática mental) [...] Estimativas de quantas frases uma pessoa comum é capaz de enunciar são de tirar o fôlego. Se um falante for interrompido num ponto qualquer da 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 16/47 frase, há em média dez palavras diferentes que poderiam ser inseridas naquele ponto para continuar a frase de forma gramatical e com sentido. O autor falava sobre o milagre da linguagem em organizar essas estruturas para transmitir a informação entre os semelhantes. Quando nos deparamos com frases agramaticais, isso indica que existe um código que é fixo na interpretação delas. De acordo com Pinker (2002): em algumas sequências é possível adivinhar o sentido, mas não temos certeza de que o falante, para enunciar a frase, empregou um código igual àquele que empregamos para interpretá-lo. A questão torna-se mais instigante ao nos lembrarmos do exemplo famoso de Chomsky (2015, p. 19): “Incolores ideias verdes dormem furiosamente”. Temos uma frase que mostra que a sintaxe e a semântica podem caminhar separadas. Logo, o exemplo de Chomsky mostra a estrutura correta, mas que não apresenta sentido, já que os elementos se negam entre si, “ideias que dormem”, “dormem furiosamente”, “ideias que têm cores”, “cores incolores” e assim por diante. Por isso, Perini (1997, p. 113) afirma: A sintaxe tem como única função definir quais são as frases bem formadas na língua; assim, tem-se apenas um conjunto de instruções sobre o modo de construir frases em português. A semântica também tem uma função paralela, ou seja, um conjunto de instruções sobre o modo de construir frases que tenham sentido; mas a semântica, além disso, é um dos pontos de contato da língua com o mundo exterior. As regras semânticas, além de atuarem como filtros, excluindo as frases semanticamente malformadas, também atribuem a cada construção um significado, denominado interpretação semântica. 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 17/47 (PERINI, 1997, p. 113, grifo do autor) Quando as pessoas aprendem uma língua, elas não estão aprendendo a ordenar as palavras na frase decorando, mas memorizando que certas categorias lexicais, como os substantivos, verbos, pronomes e outros, vêm depois de outras, ou seja, o esquema geral que todo falante deve seguir para usar a linguagem. Por isso, Pinker diz: Uma frase não é uma cadeia, mas uma árvore. Numa Gramática humana, palavras se agrupam em sintagmas, como brotos num galho. O sintagma recebe um nome – um símbolo mental – e pequenos sintagmas podem ser reunidos em sintagmas maiores. (PINKER, 2002, p. 114) Compreender como esses elementos são organizados na transmissão das informações e no processo de comunicação em sociedade tem a ver, em parte, com os conceitos de frase, oração e período. As combinações da língua Que tal você acompanhar uma discussão acerca do funcionamento da língua a partir das infinitas possibilidades de combinação que a língua apresenta? Confira! A frase É bastante comum encontrar as pessoas utilizando os termos “frase”, “oração” e “período” como se fossem sinônimos, o que pode gerar certa confusão. Vamos explicar cada um deles! De acordo com Cunha e Cintra (1985): 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 18/47 Frase é o enunciado que apresenta sentido completo, ou seja, a unidade mínima de comunicação. Sendo assim, a frase não precisa ter necessariamente um verbo em sua composição, se houver sentido completo. Exemplo Silêncio! E agora? Depressa! Que calor! Nesses quatro exemplos, temos frases, ainda que não haja verbos.Na oralidade, as frases são marcadas pela entonação, que na transposição para a escrita se manifestam por meio dos sinais de pontuação. Sem eles, as palavras estariam soltas sem formar um todo. As frases podem ser divididas assim: Declarativas São aquelas nas quais o emissor da mensagem verifica algo de forma afirmativa ou negativa. Exemplos: Vou me formar no final do ano (afirmativa); Não vou me formar no final do ano (negativa). Interrogativas São aquelas nas quais o emissor da mensagem interroga sobre algo. Exemplos: — Você está com fome? (pergunta direta); Gostaria de saber se você está com fome (pergunta indireta). Exclamativas São aqueles em que o emissor da mensagem manifesta algum tipo de emoção. Exemplo: Que coisa linda! 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 19/47 Vale lembrar que, para Bechara (2001), chama-se enunciado ou período a unidade linguística que faz menção a uma experiência comunicada e que deve ser aceita e compreendida pelo interlocutor. Bechara (2001) classifica cinco tipos ou classes essenciais de enunciados: declarativo ou enunciativo, interrogativo, imperativo-exortativo, vocativo e exclamativo. Para ele, o primeiro (o declarativo ou enunciativo) está ligado à função informativa da linguagem; os três subsequentes (interrogativo, imperativo-exortativo, vocativo) têm relação com a função apelativa (conativa); e o último refere-se à função expressiva. Tipos de frase Confira uma discussão acerca do conceito de frase e uma breve tipologia da frase. Oração e período Imperativas São aquelas em que o emissor da mensagem emite uma ordem, conselho ou pedido. Exemplo: Estude para a prova! Optativas São aquelas em que o emissor da mensagem manifesta o seu desejo sobre algo. Exemplo: Muitas felicidades no seu novo emprego! 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 20/47 Tradicionalmente, a oração se distingue da frase porque é necessário haver um verbo na oração. Para Bechara (2001), no entanto, a oração pode ser formada por uma sequência de vocábulos ou por apenas um. Exemplo “Levante!”, “Fogo!” Para ele, é uma oração de estrutura menor, mas não menos importante, diferente de outros estudiosos renomados. Para os gramáticos Celso Cunha (1979) e Rocha Lima (1997), "Fogo!" é exemplo de uma frase, mas não de uma oração. Para o gramático Rocha Lima (1997), a oração é a frase que se biparte entre o sujeito e o predicado. Em “Quero que você estude para a prova”, há duas orações, mas apenas uma frase. A oração é um tipo de enunciado que se organiza em torno de um verbo ou de uma locução verbal e, diferentemente da frase, ela pode ou não ter sentido completo. Exemplo Finalmente, terminamos! É possível. Estamos saindo em cinco minutos... De acordo com o tipo de relação entre os sintagmas, as orações podem ser classificadas da seguinte forma: Coordenadas São aquelas que existem de forma independente da outra, sem relação sintática entre si, mantendo sentido completo. Por exemplo: Fomos para a faculdade e fizemos prova de sintaxe. Subordinadas São aquelas dependentes entre si e uma fica subordinada à outra. Quando são separadas, ficam com o sentido incompleto. Por exemplo: É provável que Ana tenha passado no concurso. Vejamos: “É provável” é uma oração e “que Ana tenha passado no concurso” é outra oração. Observe que, isoladamente, elas têm o sentido prejudicado, já que uma está subordinada à outra. Conforme foi apontado pelo gramático Rocha Lima, as orações são estruturadas em torno de um sujeito e de um predicado, os chamados termos essenciais da oração, confira: Sujeito Predicado 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 21/47 É o termo da oração sobre o qual se declara alguma coisa. É a declaração que é feita sobre o sujeito. Em seguida, analise as diferenças em uma frase. Exemplo “Os alunos estudaram para a prova de sintaxe.” Sujeito: “Os alunos”. Predicado: “estudaram para a prova de sintaxe.” Existem outros elementos ou termos que servem para completar o sentido de outros, são os chamados termos integrantes da oração. Além disso, há também aqueles termos ou elementos que podem ser retirados da oração sem prejudicar o seu entendimento, são os chamados termos acessórios da oração. O conceito de período E, afinal, o que é período? Período é um termo que encontra várias de�nições nas gramáticas da língua portuguesa. De modo geral, o termo é empregado da mesma forma em gramáticas renomadas de autores como: Celso Cunha (1979) 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 22/47 Celso Luft (1987) Adriano Kury (1993) Rocha Lima (1997) Já Mario Perini (1995) prefere o termo “oração”, seja para o período simples ou para o período composto. O famoso linguista Mattoso Câmara Jr. (1978, p. 191) descreve o período como “conjunto frasal, cuja enunciação termina por uma pausa conclusa, assinalada na escrita por um sinal de ponto”. Para ele, o período pode abarcar uma ou mais orações. A mudança em termos de definição ocorre mesmo com o gramático Evanildo Bechara, que usa período como sinônimo de enunciado: “unidade linguística que faz referência a uma experiência comunicada e que deve ser aceita e depreendida cabalmente pelo nosso interlocutor se dá o nome de enunciado ou período” (BECHARA, 2001, p. 406). De forma bastante simples, podemos afirmar que o período é uma frase organizada em uma ou mais orações, que pode ser: Simples 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 23/47 Período formado apenas por uma oração reunida em torno de um verbo ou de uma locução verbal. Nesse caso, esse período é chamado de oração absoluta. Por exemplo: Estamos contentes com as notas. Faltam apenas alguns minutos. Composto Período formado por mais de uma oração. O número de orações fica sujeita ao número de verbos ou de locuções verbais reunidas ali. Por exemplo: Faça como eu mandei. (Duas orações) Não sei se tenho dinheiro. (Duas orações) Agora, podemos reafirmar que é possível fazer distinção entre frase, oração e período, ainda que gramáticos e linguistas problematizem esses conceitos. Os conceitos de oração e período Confira os conceitos de oração e período, problematizando essas noções a partir dos estudos linguísticos. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Considerando a inscrição “Silêncio” dentro de um hospital, assinale a opção correta a partir dos conceitos sobre frase, oração e período. A A palavra é uma frase que consegue cumprir o papel de comunicar o seu sentido, mas não é uma oração 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 24/47 Parabéns! A alternativa A está correta. Existem algumas definições diferentes entres linguistas e gramáticos de renome no estudo da língua portuguesa. Mas, de modo geral, as definições afirmam que frase é um enunciado de sentido completo e ela pode ser formada por uma ou mais palavras; já oração é uma frase que tem um verbo ou locução verbal; enquanto o período é uma frase formada por uma ou mais orações. Questão 2 Tomando por base a famosa frase de Chomsky “Incolores ideias verdes dormem furiosamente”, podemos afirmar que ou um período. B A palavra é um período de sentido completo que alcança o objetivo de comunicar, mas não é uma frase ou oração. C A palavra é um período que cumpre o seu papel de comunicar o seu significado, mas não é uma frase ou oração. D A palavra é uma oração porque possui sentido completo, mas não é uma frase ou período. E A palavra é uma unidade sem sentidocompleto, pois não é uma frase, oração ou período. A é uma frase agramatical, de modo que existe um código fixo para a sua interpretação. B a sintaxe e a semântica podem não coexistir, de modo que a estrutura está correta, mas não apresenta sentido. C as palavras se sucedem em um encadeamento lógico, de modo a cumprir as regras da sintaxe que atendem ao significado pretendido. 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 25/47 Parabéns! A alternativa B está correta. Quando Chomsky cunhou a frase “Incolores ideias verdes dormem furiosamente”, ele queria mostrar que é perfeitamente possível ter uma estrutura sintática correta, em que os elementos negam uns aos outros na semântica, já que algo verde não pode ser incolor, ideias não podem ser verdes nem incolores, ideias não podem dormir e, por fim, não se pode dormir furiosamente. Para que a gramática seja compreendida, é preciso que a sintaxe e a semântica caminhem juntas. 3 - O sintagma nominal e a noção de sujeito Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os conceitos de sintagma e sujeito. Noções necessárias ao entendimento do sintagma nominal A Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) D as pessoas aprendem uma língua por meio do ordenamento adequado das palavras na frase decorando seu sentido e significado. E é a linguagem que organiza estruturas para transmitir a informação entre os semelhantes, mesmo utilizando-se de códigos fixos. 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 26/47 A terminologia utilizada nas gramáticas escolares é baseada na Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB), que foi estabelecida por gramáticos e veio a público no final da década de 1950. É a partir daquele momento que ela foi adotada nas escolas e ajudou a consolidar a ideia de que determinados conceitos fossem nomeados da mesma forma por todo o país. A NGB divide a gramática em. Fonética, Morfologia e Sintaxe. Ao tratar da sintaxe, ela explica que devem ser abrangidas a sintaxe de concordância (nominal e verbal), a sintaxe de regência (nominal e verbal) e a sintaxe de colocação. Além disso, deve-se classificar os termos sintáticos de acordo com a função que exercem na oração. Para tal, a análise de uma oração leva em conta principalmente a função sintática dos elementos, sem considerar a constituição interna deles. Logo, a NGB leva em conta essas funções sintáticas para investigar a oração e sua estrutura, composta pelos seguintes termos: Itens lexicais e sentença Essenciais Sujeito e predicado. Integrantes Complemento nominal, complemento verbal – objeto direto e indireto – e o agente da passiva. Acessórios Adjunto adnominal, adjunto adverbial, aposto e vocativo. 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 27/47 A gramática utilizada na escola entende que as funções sintáticas são os elementos primitivos da língua, mas, para definir o sujeito, é preciso ter os conceitos de verbos e concordância bem solidificados. Atenção! Os itens lexicais da língua que se estruturam para formar sentenças mais ou menos complexas é feito de forma inata por qualquer falante nativo, mesmo por aqueles que não passaram pelo ensino formal. É o que chamamos de competência linguística. Uma analogia que nos ajuda a entender isso é a da língua como um dicionário mental. Esse dicionário é composto pelos itens lexicais utilizados para formar sentenças na língua. Assim, a competência do falante permite dividir tal dicionário em categorias e agrupar os itens a partir de propriedades comuns e também separá-los. Essa competência linguística nos ajuda a entender que as sentenças são mais do que palavras enfileiradas em uma sequência linear. Conforme Negrão, Scher e Viotti (2004), tudo isso aponta para o entendimento de que há dois tipos de itens lexicais que constituem uma sentença: Aqueles que fazem um tipo particular de exigência e determinam os elementos que podem satisfazê-la. Aqueles que satisfazem as exigências impostas pelos primeiros. Assim, uma sentença como “João consertou a bicicleta.” nos leva intuitivamente a saber que o verbo “consertar” tem que ser acompanhado por dois elementos linguísticos correspondentes ao agente consertador e o objeto consertado. 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 28/47 Isso acontece de forma natural. Basta estar diante de uma sentença em que essas exigências não tenham sido atendidas para se perceber o funcionamento do período. Ao ouvir “João consertou...”, o falante logo perguntará: “o quê?”. A mesma coisa acontecerá se escutar “Consertou a bicicleta.”, surgindo a pergunta: “quem?”. Na superfície, as sentenças da língua são compostas por uma sequência linear de itens lexicais, mas ela não é casual. Essa organização que pega os itens lexicais e vai incluí-los em grupos hierarquicamente mais elevados é a estrutura dos constituintes até formar determinada sentença. Re�exão Por isso uma sentença como “O rapaz comprou um notebook com seu primeiro salário.” é gramatical, mas “Rapaz o notebook comprou com um primeiro seu salário.” não é aceitável. Assim, a partir da abordagem distribucional, que leva em conta as funções exercidas pelos itens lexicais, nota-se que determinado item pode exercer uma função diferente de acordo com a relação dele com outros itens. Confira: 1. O garoto joga futebol. 2. Os garotos jogaram futebol ontem. 3. A vizinha elogiou todos os garotos dedicados. Nessas sentenças, os itens lexicais “garoto” e “garotos” são antecedidos pelos determinantes “o”, “os”. Na sequência, o item vem antecedido pelo quantificador “todos” e seguido por “dedicados”. Note que o constituinte do qual “garoto” é núcleo pode ser antecedido ou seguido de um verbo para satisfazer suas exigências sintáticas e semânticas. Para entender melhor esses conceitos, vamos imaginar que você está em casa assistindo à televisão no sofá. Essa cena poderia ser descrita por alguém que chegasse naquele instante por uma destas formas: 4. Marcelo ama televisão. 5. Marcelo está assistindo televisão. �. Começaram os jogos hoje. 7. Há um quadro na parede. �. O sofá é de couro. 9. A sala é fresca. 10. A televisão distrai o telespectador. 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 29/47 Essas sentenças expressam diversas situações diferentes e cada uma delas é descrita por um verbo. Cada uma dessas situações envolve certo número de participantes, que desempenham determinada função. Assim, “amar” envolve alguém que ama e algo que é amado. Na linguística, chamamos esses núcleos de “predicados”, que é um conceito diferente da gramática escolar. Os predicados impõem exigências a seus complementos, chamados de argumentos na teoria linguística. Tais exigências podem ser semânticas e sintáticas. As exigências semânticas são aquelas que estão relacionadas aos papéis dos participantes na cena. Logo, o papel semântico que um argumento desempenha vai depender do predicador. Vejamos os seguintes exemplos: 11. Colombo descobriu a América. 12. A América foi descoberta por Colombo. Ao observar as funções sintáticas, nota-se: o que era sujeito em uma sentença passou a agente da passiva na outra; o que era objeto direto na primeira passou a sujeito na outra. Na mudança para a voz passiva, as funções sintáticas foram alteradas, mas as funções semânticas mantiveram-se as mesmas: na primeira, o agente antecede o verbo e concorda com ele; na segunda sentença, o elemento aparece posposto ao verbo, e continua desempenhando a função semântica de agente. Já o resultado aparece em uma frase no início e em outra no final. Itens lexicais e o sintagma Entendamais sobre a NGB e sua contribuição para o estudo da sintaxe, com destaque para os itens lexicais e o conceito de sentença. O sujeito Perini (1995, p. 17) diz que [a gramática escolar] “conceitua o sujeito como o termo sobre o qual se faz uma declaração”. Ele, porém, aponta 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 30/47 um problema conceitual em tal afirmação. Imaginemos que o professor peça para o estudante localizar o sujeito nas sentenças abaixo com base nessa definição. Veja: 13. Leonardo trabalha intensamente. 14. Leonardo feriu Fernando. 15. Esse chopp, eu não vou beber. 1�. Em Manaus chove muito. Provavelmente, o estudante identificará o sujeito da sentença “Leonardo feriu Fernando.” como “Leonardo”; de “Esse chopp, eu não vou beber.” seria “eu” e “Em Manaus chove muito” não tem sujeito. Comentário Note um problema com a definição citada anteriormente sobre sujeito e suas variantes, que geralmente é encontrada nos livros escolares. Na frase “Leonardo trabalha intensamente.”, há uma declaração sobre “Leonardo”, já em “Leonardo feriu Fernando.” pode-se refletir se também não há uma informação sobre “Fernando”. Para complicar ainda mais a análise, ao observar o exemplo “Esse chopp, eu não vou beber.” pode-se pensar se a afirmação é sobre “eu” ou sobre “chopp”. E no último exemplo, “Em Manaus chove muito.”, temos uma declaração sobre “Manaus”, mas a frase é classificada como sem sujeito, embora expresse uma declaração explícita sobre “Manaus”. Por isso, Perini (1995) defende que o sujeito é um elemento da oração que concorda com o verbo. Sendo assim, pode-se identificar o sujeito nos três primeiros exemplos e conclui-se que não há sujeito no último exemplo, porque o verbo não concorda com nenhum elemento da sentença. Sendo assim, pode-se identificar o sujeito nos três primeiros exemplos e conclui-se que não há sujeito no último exemplo, porque o verbo não concorda com nenhum elemento da sentença. Vejamos mais dois exemplos: 17. Voltaram para casa hoje cedo os candidatos. 1�. Fugiu de casa o gato de Monique. Ao observar os exemplos para se perceber que o sujeito nos dois exemplos vem somente no final, nota-se que é importante levar em conta a ordem básica da língua portuguesa, que é: 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 31/47 Na perspectiva da linguística gerativa, há o entendimento de que a estrutura sintática é derivada das relações que ocorrem entre os sintagmas, que são aquelas unidades linguísticas que se formam em torno de um núcleo. A que conclusão podemos chegar? Resposta O sujeito é um sintagma nominal que se une a um sintagma verbal para compor as sentenças da língua. Vejamos: 19. O professor escreveu um livro. Temos dois sintagmas nominais: “o professor” e “um livro”, mas apenas o primeiro está ligado à sentença; já o segundo, “um livro”, está contido no sintagma verbal, sendo o objeto direto, conforme as gramáticas escolares. O sujeito é um dos principais elementos constitutivos da sentença, já que mesmo uma sentença pequena pode ser feita tendo sujeito e predicado, na maioria das vezes, constituído por um verbo. Em uma frase como “A moça sorriu.”, temos “a moça” como sujeito e “sorriu” como predicado, formado apenas pela forma verbal. A partir de um olhar semântico, podemos dizer que o sujeito é aquela entidade em que ocorre uma ação que é descrita pelo verbo. Se fizermos uma abordagem gramatical do sujeito, podemos dizer que ele concorda com o verbo e possui o caso nominativo. Por exemplo, em “Ele bebe cerveja.”, “ele” é sujeito do verbo “beber”, já que “ele” é nominativo e precede o verbo “beber” e concorda com ele. Note que estão na terceira pessoa do singular. Atenção! S(ujeito) V(erbo) O(bjeto) 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 32/47 Um sintagma pode ter diversas funções sintáticas diferentes, dependendo de como está distribuído na sentença. Por isso, um sintagma nominal pode ser sujeito, objeto direto, predicativo do sujeito, predicativo do objeto entre outros. A seguir, listamos exemplos de sintagmas nominais (em itálico) exercendo funções sintáticas diferentes. 20. Minha professora faz ginástica ao ar livre. (Sujeito) 21. O torcedor vai ao estádio de futebol todo domingo. (Sujeito) 22. Aquele candidato que encontrei na prova é muito dedicado. (Sujeito) 23. O conserto da bicicleta ficou caro. (Sujeito) 24. Encontrei minha professora na praça. (Objeto direto) 25. Vimos o torcedor no jogo de domingo. (Objeto direto) 2�. O professor ajudou aquele candidato que encontrei na prova. (Objeto direto) 27. Minha mãe pagou o conserto da bicicleta. (Objeto direto). 2�. Ângela é uma profissional muito dedicada. (Predicativo do Sujeito) 29. O Sol é a estrela central do Sistema Solar. (Predicativo do Sujeito) 30. Eu acho Ana muito dedicada. (Predicativo do Objeto) 31. Li uma reportagem muito interessante. (Predicativo do Objeto) 32. Vejo-o bem-vestido. (Predicativo do Objeto) Um sintagma nominal é composto de um núcleo substantivo ou pronome substantivo. Por exemplo: “João estuda bastante.” “Ele estuda bastante”. Tal núcleo pode ser modificado por três tipos de elementos: especificadores (que podem ser artigos, pronomes demonstrativos, pronomes possessivos), quantificadores (que podem ser numerais ou pronomes indefinidos) e qualificadores (que podem ser adjetivos ou outros grupos nominais inseridos por uma preposição). Por exemplo: “[Meu] amigo passou [poucos] meses viajando”. Tem o “meu” como “especificador” e “poucos” como “quantificador”. Esses elementos que especificam ou qualificam o núcleo de um sintagma nominal são denominados “adjuntos adnominais”. Quando eles são representados por um pronome, artigo ou numeral, podem ser denominados “determinantes” (det). 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 33/47 O determinante, quando é complexo, é formado por mais de um elemento: o determinante propriamente dito; o pré-determinante e o pós- determinante. No exemplo a seguir, é possível observar os determinantes do sintagma nominal: “[Esses] [meus] [amigos] filhos.” Aqui, temos um pré-determinante, um determinante-base e um pós- determinante. Para fechar esse item, depois de tudo que foi apresentado, é importante destacar que, na língua portuguesa, o sujeito se manifesta, na maioria das vezes, como agente, como humano e como determinado. Além disso, temos os seguintes casos, que precisam ser destacados: Quando não há um termo que concorde com o verbo. Isso acontece com verbos que indicam fenômenos da natureza, tais como “amanhecer”, “anoitecer”, “chover” etc. Exemplo: “Ventou forte hoje cedo.” Um outro caso de oração sem sujeito ocorre com o verbo haver, no sentido de existir. Exemplo: “Há muito capim na praça.” Quando o verbo “ser” indica tempo, temos uma oração sem sujeito. Por exemplo: “Era noite.” Em algumas construções em que o verbo está na terceira pessoa do singular, acompanhado do pronome “se”, sem um termo com que o verbo concorde, também se tem uma oração sem sujeito. Exemplo: “Vive-se bem na Europa.” Por fim, em construções em que o verbo está na terceira pessoa do plural, sem um antecedente expresso. Por exemplo: “Ligaram para você.” Quando o sujeito ocorre geralmente em um texto, sendo determinado e retomado mais adiante, desaparecendo enquanto item lexical. Por exemplo: “Os rapazes resolveram fazer uma trilha na floresta no final de semana. Eles levaram bastante água para não sentirem sede.” Na primeira oração, tem-se o termo “os rapazes”, já na segunda, o item é substituído por “eles”. Na última, o termo fica elíptico: “para não sentirem sede” (sujeito elíptico do verbo “sentirem” = “os rapazes”). Percebe-seuma posição vazia expressa na sentença. Como você percebeu, o estudo do sujeito vai além da definição básica da gramática escolar. Oração sem sujeito Sujeito elíptico 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 34/47 O sujeito Confira o conceito de sujeito no contexto dos estudos sintáticos, com destaque para as perspectivas gramaticais e linguísticas. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 A Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB), longe de ter consenso entre gramáticos e linguistas, tem sua importância para o ensino da língua portuguesa. Assinale a alternativa que adequadamente apresenta uma informação sobre a NGB. A São as normas estabelecidas no sentido de ratificar a diversidade terminológica existentes no Brasil facilitando a aceitação do diferente. B É o documento norteador do ensino da língua portuguesa no Brasil, ao simplificar e unificar a terminologia da gramática portuguesa. C Seu propósito é reconhecer a diferença entre norma culta e variações linguísticas, visando unificar as duas formas de expressão linguística. D Visa reconhecer a existência de padrões linguísticos diferenciados no território nacional, buscando o seu respeito e reconhecimento na sala de aula. 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 35/47 Parabéns! A alternativa B está correta. A Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) foi instituída em 1959 pela Portaria Ministerial nº 36, de 28 de janeiro daquele ano. Seu objetivo foi de simplificar e de uniformizar a metalinguagem utilizada no ensino, já que havia uma grande diversidade de terminologias naquela época. A NGB foi um produto de uma política linguística voltada para o ensino. Ela teve muito impacto não apenas nas práticas pedagógicas dos professores de Língua Portuguesa, em sala de aula, mas também na reconfiguração das gramáticas de nossa língua. Questão 2 1. Leia o fragmento a seguir: “Uma sentença se constitui de dois tipos de itens lexicais: de um lado, estão aqueles que fazem um tipo particular de exigência e determinam os elementos que podem satisfazê-la; e, de outro, estão os itens lexicais que satisfazem as exigências impostas pelos primeiros” (NEGRÃO; SCHER; VIOTTI, 2004, p. 82). Os tipos lexicais a que os autores se referem são: Parabéns! A alternativa A está correta. Consideremos uma sentença como “O menino fez um castelo de areia.” O falante nativo sabe que o verbo “fazer” precisa ter algumas exigências satisfeitas: uma que indique o que foi feito e outra para indicar o agente. Na sentença em questão, “o menino” e “castelo de E Tem como objetivo simplificar e uniformizar as variações diatópicas (geográficas), utilizadas no espaço educacional face à diversidade existente. A Aqueles que satisfazem ao núcleo da sentença. B Itens aleatórios dispostos na sentença. C Itens lexicais desprovidos de significação. D As categorias semânticas ao lado do núcleo. E Itens lexicais e semânticos independentes. 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 36/47 areia” satisfazem as exigências do verbo “fazer”, que são chamados de argumentos. No caso de argumentos que não cumpram essas exigências, a sentença torna-se agramatical. 4 - O verbo e a predicação Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car o verbo e a predicação. A categoria verbal e a predicação São comuns conceitos populares que definem o verbo como um item lexical que indica ação, mas tal definição não consegue dar conta do verbo. Por isso, afirma-se que: A categoria verbal é também a responsável pelo condicionamento modo-temporal e número-pessoal de um enunciado (processo sobre o qual intervêm as desinências), de modo a situar o conteúdo dito em termos contextuais e pragmáticos (tempo e pessoa). Estes são fatores inerentes à categoria “verbo”. (FERNANDES; SEABRA, 2001, p. 111) 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 37/47 Tendo dito isso, vamos explicar a predicação verbal. Ela se refere à relação entre o verbo e os complementos para formar um predicado. Assim, a predicação verbal é a forma como o sujeito é ligado ao predicado de uma oração ou ao predicativo do sujeito. De acordo com os manuais escolares, podemos entender que a predicação verbal é a forma correta de ligar sujeito aos termos que representam o predicado da oração ou o predicativo do sujeito. No que se refere à predicação, na língua portuguesa, os verbos podem ser classificados como intransitivos, transitivos ou de ligação. É importante entender a transitividade dos verbos. Confira o que falam Fernandes e Seabra: Predicar é tecer um comentário a respeito de uma outra coisa e, para tanto, precisa-se lançar mão de um instrumento que ate a ideia percebida ao seu referente. Os verbos são, pois, o centro declarativo de uma sentença, em redor do qual orbitam os argumentos (sujeito e complementos). (FERNANDES; SEABRA, 2001, p. 111) Os métodos para identificar a predicação e fazer da forma correta passam pelo sujeito. Para isso, busca-se apontar o vínculo estabelecido entre ele, o verbo e o predicado para classificar os verbos quanto à sua predicação. Observe a diferença básica entre os tipos de predicado: Verbal Estabelece relações que servem para indicar uma ação, seguido pelo verbo e seus complementos. Nominal Tem as suas características atribuídas ao sujeito. Vejamos alguns exemplos: 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 38/47 1. Esse celular pertence ao homem que veio aqui hoje. Obs.: “pertencer” é verbo transitivo indireto, ou seja, o predicativo complementa seu sentido, logo temos uma predicação verbal. 2. Marcelo é bom de trabalho. Obs.: a sentença apresenta a estrutura “sujeito + verbo de ligação + predicativo do sujeito” e “bom de trabalho” indica determinada qualidade de Marcelo, logo temos uma predicação nominal. Quando o predicado indica uma ação, ele é constituído por um verbo transitivo ou por um verbo intransitivo, sendo nomeado como predicado verbal. Já quando o predicado indica um estado, atribuindo uma propriedade ao sujeito, composto por um verbo de ligação, ele é nomeado de predicado nominal. A noção de verbo Entenda o conceito de verbo e sua implicação no estudo do sintagma verbal e da predicação. Verbos transitivos, intransitivos e de ligação Quanto à predicação, os verbos podem ser classificados como verbos transitivos, verbos intransitivos e verbos de ligação, fique atento! Verbos transitivos São aqueles que precisam de complementos verbais para que se produza um sentido completo e necessitam estar ligados a um objeto direto e/ou a um objeto indireto, ou seja, eles transitam o sentido para um objeto direto ou indireto. Confira a classificação dos verbos transitivos: Transitivos diretos 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 39/47 Necessitam de um objeto direto como complemento. Eles indicam “o quê” ou “quem”. Transitivos indiretos Levam o sentido para um objeto indireto e por meio do objeto indicam “de quê”, “de quem”, “para quê”, “para quem”, “em quê” ou “em quem”. Transitivos diretos e indiretos Levam o sentido para um objeto direto e um objeto indireto, ou seja, por meio de dois objetos eles indicam “o quê” ou “quem”, “de quê”, “de quem”, “para quê”, “para quem”, “em quê” e “em quem”. Vejamos dois exemplos com verbos transitivos diretos: 3. Eu li... O quê? O livro. Eu li o livro. 4. O carro atropelou... O quê? O ciclista. O carro atropelou o ciclista. Os seguintes verbos são transitivos diretos, conforme o contexto enunciativo: ler,fazer, querer, quebrar, ter, causar, cortar, comer, ouvir, começar, comprar, fazer, ter, querer, causar, comprar, derrubar, atropelar, começar, perder, cortar, destruir, entre outros. Vejamos alguns exemplos com verbos transitivos indiretos: 5. O profissional obedeceu... Ao quê? Às regras. O profissional obedeceu às regras. �. Eu acredito... Em quê? Em você. Eu acredito em você. Os seguintes verbos são transitivos indiretos, conforme o contexto enunciativo: necessitar, saber, precisar, acreditar, necessitar, simpatizar, obedecer, desobedecer, gostar, saber, responder, concordar, lembrar, simpatizar, ingressar, comparecer, suceder entre outros. Vejam alguns exemplos com verbos transitivos diretos e indiretos: 7. Eu emprestei... O quê? Dinheiro Para quem? Ao meu irmão. Eu emprestei dinheiro ao meu irmão. 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 40/47 �. O estudante deu... O quê? Uma maçã. Para quem? Para a professora. O estudante deu uma maçã para a professora. Os seguintes verbos são transitivos diretos e indiretos: agradecer, emprestar, comunicar, oferecer, devolver, influenciar, agradecer, informar, pagar, perdoar, entregar, ensinar, comemorar, contar, dar, aconselhar, devolver, entregar, ensinar entre outros. Verbos intransitivos São aqueles que transmitem o sentido completo, sem a necessidade de um objeto direto e/ou um objeto indireto, como complementos verbais. Vejamos alguns exemplos: 9. Ele morreu. 10. O bebê nasceu. Vejamos alguns verbos intransitivos: morrer, viver, cair, casar, chorar, dormir, proceder, chegar, voltar, nascer entre outros. Verbos de ligação Para explicar o conceito de verbos de ligação, vamos conferir a afirmação das autoras: A categoria verbal é também a responsável pelo condicionamento modo-temporal e número-pessoal de um enunciado (processo sobre o qual intervêm as desinências), de modo a situar o conteúdo dito em termos contextuais e pragmáticos (tempo e pessoa). (FERNANDES; SEABRA, 2001, p. 111) Daí elas comentam sobre o verbo de ligação para desmitificar muitas informações que alguns estudantes ainda trazem. 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 41/47 Estes são fatores inerentes à categoria “verbo”. Os chamados verbos de ligação são, como outros constituintes da sua categoria geral, dotados de todas estas propriedades. Veiculam todos estes sentidos. É, portanto, equivocada a visão que enfoca estes verbos, em termos sintáticos, unicamente como um elo entre o sujeito e o seu referido predicativo, devido a um suposto “esvaziamento” de sua significação lexical. Daí a receberem também a denominação de relacionais ou copulativos. (FERNANDES; SEABRA, 2001, p. 111) De modo geral, os manuais escolares afirmam que os verbos de ligação transmitem um estado, sendo assim indicam determinada característica do sujeito. Vejamos alguns exemplos de sentenças com verbos de ligação: 11. Eu sou estudioso. 12. Ela é inteligente. Veja alguns verbos de ligação mais utilizados: estar, andar, ficar, parecer, permanecer, continuar, ser, entre outros. Retomando a predicação A predicação tem relação com o predicado, que é um termo essencial da oração. Por isso, ao observar a sentença a seguir, identificamos os termos referidos. Veja: 13. Eu agradeci o convite ao gerente. Assim, temos que: “Eu” – sujeito simples. “agradeci” – verbo transitivo direto e indireto “agradeci o convite ao gerente” – predicado verbal. “o convite” – objeto direto, já que complementa o sentido do verbo 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 42/47 “agradecer”, sem a necessidade de preposição. “ao gerente” – objeto indireto, já que complementa o sentido do verbo, mas precisa da preposição. Como nosso objetivo pauta-se pela análise da predicação verbal, optemos por subsidiar-nos no caso do verbo elogiar, visto que ele por si só não possui sentido completo, necessitando, portanto, de algo que o complemente. Dessa forma, os complementos que a ele se atribui são denominados de objeto direto e objeto indireto, quando se tratar, obviamente, de verbos transitivos, ou seja, aqueles que trazem junto de si um verbo nocional – indicando uma ação. Comentário Tendo explicado a predicação e o verbo, precisamos mencionar de forma sucinta o sintagma verbal. Os sintagmas verbais podem ser constituídos de estruturas complexas, ou seja, com mais de um verbo, bem como podem ter uma categoria lexical principal apenas, o núcleo. O núcleo do sintagma verbal é o verbo principal, que é quem realiza a estrutura argumental da sentença. Vejamos alguns exemplos: 14. João tomou um suco de laranja. 15. João havia tomado um suco de laranja. 1�. João pode tomar suco de laranja na loja. 17. João pode continuar tomando suco de laranja na loja. As sentenças anteriores têm o verbo “tomar”. A estrutura argumental do verbo é composta por um agente (sujeito) e um objeto, o que mostra que o verbo “tomar” é o núcleo, por isso a NGB vai chamar tal estrutura de locução verbal. Os verbos que antecedem o verbo “tomar” não possuem nessas sentenças estrutura argumental, por isso recebem a nomenclatura de “verbos auxiliares”. Observe que a desinência temporal aparece no primeiro verbo auxiliar e outros recebem formas nominais. Conceito e classi�cação dos verbos Entenda mais sobre os verbos transitivos, intransitivos e de ligação, com destaque para uma perspectiva gramatical e linguística. 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 43/47 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 O verbo é um elemento central da frase, e muitos tendem a simplificar o seu papel na frase. De modo resumido, o verbo constitui-se Parabéns! A alternativa E está correta. É comum que os manuais escolares passem a noção de que o verbo é aquele item da sentença responsável por expressar uma ação, mas temos visto que eles podem indicar, por exemplo, estado. Assim, autores como Mário Perini propõem que o verbo pode expressar ação ou estado, mas apresenta marcas temporais e A em palavras que oferecem qualificativos nas frases, indicando qualidades e estados. B no núcleo do predicado, de modo a definir ações que são qualificadas pelos adjetivos. C no elemento básico da frase, de modo que não existem frases sem verbo no caso da língua portuguesa. D em indicador de ação além das circunstâncias ligadas ao modo, tempo e lugar que qualificam o substantivo. E no elemento responsável por expressar ação, além do condicionamento modo-temporal e número- pessoal de uma frase. 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 44/47 número-pessoais na frase, concordando com o sujeito, que é um termo essencial da oração. Questão 2 Assinale a alternativa que contém uma frase com um verbo de ligação. Parabéns! A alternativa C está correta. Os verbos de ligação são aqueles que indicam estado e ligam características ao sujeito. Assim, eles não indicam ação. Eles também podem ser chamados de verbos não nocionais ou copulativos. Entre os verbos de ligação podemos citar: ser, estar, parecer, andar, ficar, continuar, permanecer, viver, virar, tornar-se, achar-se, encontrar-se, fazer-se entre outros. Além disso, os verbos de ligação podem indicar um tipo de estado permanente, em trânsito, em mudança, estado aparente ou sua continuidade. Considerações �nais Você aprendeu ao longo deste conteúdo que a sintaxe pode ser abordada desde uma perspectiva gramatical e linguística, transitando entre um tratamento mais tradicional e normativo até um tratamento mais descritivo e linguístico. A Eu assinei a notificação. B Seu amigo te espera lá fora.C Seu pai permanece deprimido. D Ana acreditou na história contada. E Li todo o livro que você me deu. 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 45/47 No estudo da sintaxe, vimos que há um entendimento que aponta para um ordenamento dos termos da oração que corresponde a uma hierarquização gramatical. Também aprendemos que as noções de frase, oração, período, sujeito, predicado e verbo podem ser problematizadas, indo além da abordagem normativa ou prescritiva da gramática escolar. Nesse sentido, ampliamos nossa compreensão para termos como sintagma e predicação. Todas essas perspectivas nos mostram que há importantes desafios no estudo da língua a partir da sintaxe, o que nos deve levar a evitar apenas uma visão simplista e tradicional da língua. Podcast Para encerrar, ouça sobre as diferentes abordagens nos estudos sintáticos, e os conceitos de frase, oração, período, sujeito, verbo e predicado. Explore + Confira as indicações que separamos para você sobre a sintaxe da língua portuguesa! Aspectos da sintaxe em manuscritos modernos, de Elias Andrade. Nesse texto, a sintaxe é explorada do ponto de vista histórico para investigar documentos da língua portuguesa no século XVIII e comparando com o presente, inclusive mostrando as mudanças ocorridas de lá para cá. Não deixe de conferir! O futuro do ensino da gramática portuguesa, de Helena Rebelo. Para muita gente que acha que a sintaxe é igual em todas as gramáticas, esse texto apresenta uma discussão sobre sua abordagem em três livros didáticos. Vale a leitura! Ensino de sintaxe para em videoaulas para exames de larga escala, de João Laurentino e Willinany Silva. Uma pergunta que muita gente faz é sobre o ensino remoto de língua portuguesa. O texto faz uma reflexão 04/03/2024, 14:43 Introdução aos estudos sintáticos https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07177/index.html# 46/47 sobre as aulas a distância e a sintaxe, com foco nas videoaulas, que trabalham com exames de larga escala. Referências AZEREDO, J. C. A. Iniciação à sintaxe do português. 8. ed. Rio de Janeiro: Zahar: 2001. AZEREDO, J. C. A. Sintaxe normativa tradicional. In: OTHERO, G. de Á.; KENEDY, E. Sintaxe, sintaxes. São Paulo: Contexto, 2015. BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2001. CÂMARA JR., J. M. Dicionário de linguística e gramática. Petrópolis: Vozes, 1978. CASTILHO, A. T. Nova gramática do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2010. CHOMSKY, N. Estruturas sintáticas. Petrópolis: Vozes, 2015. CUNHA, C. F. da. Gramática da língua portuguesa. Rio de Janeiro: FENAME, 1979. CUNHA, C.; CINTRA, L. Nova gramática do português contemporâneo. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. FARACO, C. E.; MOURA, F. 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