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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA – UVA CURSO: DIREITO DISCIPLINA: DIREITO PENAL ALUNA: TOUTY MARIAM AMINATA DO NASCIMENTO DIENE MATRÍCULA: 12100200800 CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO RIO DE JANEIRO 2023 Diretamente, os crimes contra a organização do trabalho são os que violam a estrutura e o funcionamento apropriados às relações de trabalho, lesando as partes envolvidas. 1 – Atentado contra a liberdade de trabalho (art. 197, CP) Art. 197 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça: I - a exercer ou não exercer arte, ofício, profissão ou indústria, ou a trabalhar ou não trabalhar durante certo período ou em determinados dias: Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência; II - a abrir ou fechar o seu estabelecimento de trabalho, ou a participar de parede ou paralisação de atividade econômica: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. À luz da doutrina, a violação da liberdade do trabalho se caracteriza dentro do gênero de constrangimento ilegal, já que para acontecer, o agente do crime pretende constranger a vítima a praticar os comportamentos previstos no art. 197. Além disso, para se configurar o crime previsto no artigo acima, faz-se obrigatório o emprego de violência, e uma relação de causalidade entre o emprego da violência ou grave ameaça e a submissão da vítima ao querer do coagente (BITENCOURT, 2012). Trata- se de um crime comum quanto ao sujeito ativo, e crime próprio quanto ao passivo; caracteriza-se como doloso, comissivo, de forma livre, material e instantâneo ou permanente, monossubjetivo, plurissubsistente, e transeunte, como regra (GRECO, 2021). 2 – Atentado contra a liberdade de contrato de trabalho e boicotagem violenta (art. 198, CP) Art. 198 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a celebrar contrato de trabalho, ou a não fornecer a outrem ou não adquirir de outrem matéria-prima ou produto industrial ou agrícola: Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. O constrangimento neste, divide-se em duas finalidades: a primeira, tratando- se do atentado contra a liberdade de contrato de trabalho trata-se do fato do agente obrigar a vítima a celebrar o contrato de trabalho tanto individual quanto o coletivo; a segunda aborda o entendimento do fornecimento à luz da ilação legal – sentido de entregar, abastecer, suprir – e exige desse tipo penal que seja praticada com violência ou grave ameaça. Vale destacar na primeira finalidade, que a lei penal não prevê a conduta de impedir a celebração de contrato de trabalho mediante violência ou grave ameaça. Classifica-se então como crime comum ao sujeito ativo e próprio ao sujeito passivo, doloso, comissivo, de forma livre, material, instantâneo ou permanente, monossubjetivo, plurissubsistente e transeunte ou não transeunte (GRECO, 2021). PENAL. RECURSOS EM SENTIDO ESTRITO. ARTIGOS 198 E 202, AMBOS DO CÓDIGO PENAL. INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA DA JUSTIÇA FEDERAL. ART. 109, INC. VI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. SÚMULA Nº 115 DO EXTINTO TRIBUNAL FEDERAL DE RECURSOS. INEXISTÊNCIA DE OFENSA À ORGANIZAÇÃO GERAL DO TRABALHO OU A DIREITOS DOS TRABALHADORES CONSIDERADOS COLETIVAMENTE. COMPETENCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. RECURSO NÃO PROVIDOS. 1. O art. 109, inc. VI, da Constituição Federal, rege a matéria aqui debatida. 2. O critério de fixação de competência, nesses casos, é norteado pela Súmula nº 115, do extinto Tribunal Federal de Recursos, a qual determina que compete à Justiça Federal o julgamento dos crimes contra a organização do trabalho, somente quando o interesse em questão afetar órgãos coletivos do trabalho ou a organização geral do trabalho. Precedentes. 3. No caso, os crimes imputados aos denunciados não atingem a organização geral do trabalho ou direitos dos trabalhadores considerados coletivamente. 4. O constrangimento dos representantes da EMBRAPORT e a invasão e ocupação de seu terminal, denotam tão somente lesão individual à empresa e a seus trabalhadores, não se justificando o deslocamento da competência federal, uma vez que não se vislumbra ofensa ao sistema de órgãos e institutos preordenados a preservar os direitos da coletividade de trabalhadores envolvidos com a atividade portuária santista. 5. Logo, não merece reparos a conclusão do juízo a quo. 6. Recursos não providos. (TRF 3ª R.; RSE 0004371-13.2017.4.03.6104; Quinta Turma; Rel. Des. Fed. Paulo Fontes; Julg. 03/09/2018; DEJF 13/09/2018) 3 - Atentado contra a liberdade de associação (art. 199, CP) Art. 199 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a participar ou deixar de participar de determinado sindicato ou associação profissional: Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. O constrangimento nesse tipo penal, é praticado, assim como nos outros já vistos, mediante violência ou grave ameaça. É abordado neste, o sentido de obrigar a vítima a se filiar/participar do sindicato ou associação profissional, ou quando este é se seu desejo, deixar de se filiar. O sujeito ativo é qualquer pessoa, enquanto o ativo pode ser apenas aqueles que podem se filiar ou se associar. Não há previsão para modalidade de natureza culposa, ou seja, o elemento subjetivo é o dolo. É crime comissivo, de forma livre, material, instantâneo ou permanente, monosubjetivo, plurissubsistente e não transeunte em regra; a tentativa é admissível (GRECO, 2021). 4 – Paralisação de trabalho, seguida de violência ou perturbação da ordem (art. 200, CP) Art. 200 - Participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho, praticando violência contra pessoa ou contra coisa: Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. Parágrafo único - Para que se considere coletivo o abandono de trabalho é indispensável o concurso de, pelo menos, três empregados. Na visão doutrinária, a greve e suspensão de trabalho não são trabalho, porém este só configurará crime se forem executados com violência a pessoa ou a coisa. Deve estar bem esclarecido que greve é abandono coletivo do trabalho, e esta, sem violência, é direito constitucional (art. 9º, CF88); diferentemente da suspensão do trabalho que é promovida pelos empregadores. Neste caso, o sujeito ativo é o empregado que tem uma participação violenta ou o empregador que tenha decretado suspenso o trabalho; o sujeito passivo, para Greco, é a coletividade. Configura crime doloso, comissivo, de forma livre, material, instantâneo, monossubjetivo, plurissubsistente e não transeunte em regra (GRECO, 2021). 5 - Paralisação de trabalho de interesse coletivo (art. 201, CP) Art. 201 - Participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho, provocando a interrupção de obra pública ou serviço de interesse coletivo: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. Na condição de crime próprio somente pode ser realizado pelos empregados em forma de greve e pelos empregadores no lockout – os envolvidos na obra pública ou serviço de interesse coletivo – sujeito ativo; tem-se como sujeito passivo a coletividade. No momento que ocorrer a suspenção ou abandono coletivo do trabalho, há a consumação do crime. Se faz necessário dolo não havendo espaço para modalidade culposa. Classifica-se então como: comissivo, de forma livre, material, instantâneo, plurissubjetivo, plurissubsistente e transeunte (GRECO, 2021). 6 - Invasão de estabelecimento industrial, comercial ou agrícola. Sabotagem (art. 202, CP) Art. 202 - Invadir ou ocupar estabelecimento industrial, comercial ou agrícola, com o intuito de impedir ou embaraçar o curso normal do trabalho, ou com o mesmo fim danificar o estabelecimento ou as coisas nele existentes ou delas dispor: Pena - reclusão, de um a três anos,e multa. São apontados três elementos do delito de invasão de estabelecimento industrial, comercial e agrícola: conduta por invadir ou ocupar; estabelecimento industrial, comercial ou agrícola; especial fim de agir, consubstanciado na finalidade de impedir ou embaraçar curso normal do trabalho. Na sabotagem, o intuito do autor da ação é avariar o estabelecimento ou as coisas existentes nele. Quanto ao sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, logo é comum; ao passivo poderá ser o proprietário do estabelecimento ou a coletividade conjuntamente, logo próprio. Classifica-se como doloso, formal, permanente, de forma livre, comissivo, monossubjetivo, plurissubsistente e não transeunte na hipótese de sabotagem. Além disso, admite-se a tentativa (GRECO, 2021). 7 – Frustração de direito assegurado por lei trabalhista (art. 203, CP) Art. 203 - Frustrar, mediante fraude ou violência, direito assegurado pela legislação do trabalho: Pena - detenção de um ano a dois anos, e multa, além da pena correspondente à violência. (Redação dada pela Lei nº 9.777, de 1998) § 1º Na mesma pena incorre quem: (Incluído pela Lei nº 9.777, de 1998) I - obriga ou coage alguém a usar mercadorias de determinado estabelecimento, para impossibilitar o desligamento do serviço em virtude de dívida; (Incluído pela Lei nº 9.777, de 1998) II - impede alguém de se desligar de serviços de qualquer natureza, mediante coação ou por meio da retenção de seus documentos pessoais ou contratuais. (Incluído pela Lei nº 9.777, de 1998) § 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de dezoito anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental. (Incluído pela Lei nº 9.777, de 1998) Mediante violência ou fraude, consiste em frustrar direito assegurado pela legislação do trabalho, a ameaça não é meio para sua prática. Necessário haver dolo; não cabe modalidade culposa. Crime comum quanto ao sujeito ativo – pode ser qualquer pessoa com uma relação de emprego estabelecida com a vítima – e próprio quanto ao sujeito passivo – pessoa cujo direito foi frustrado; a doutrina também admite o Estado como sujeito passivo. Caracteriza-se como material, de forma livre, instantâneo ou permanente dependendo do caso concreto, comissivo, monossubjetivo, plurissubsistente em regra e transeunte ou não também dependendo do caso concreto. A ação penal é de natureza pública incondicionada (GRECO, 2021). 8 - Frustração de lei sobre a nacionalização do trabalho (art. 204, CP) Art. 204 - Frustrar, mediante fraude ou violência, obrigação legal relativa à nacionalização do trabalho: Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. De acordo com a doutrina, o sujeito ativo deste crime é o empregador – comum – e o passivo é o Estado – próprio. Mais uma vez deve a violência ou a fraude agir como meio de frustração, sem a possibilidade de ameaça. Admite-se tentativa; ameaça não tipifica esse crime; não há exigência do injusto. Características: crime doloso, material, comissivo, instantâneo, de forma livre, monossubjetivo, plurissubsistente em regra e transeunte ou não transeunte dependendo do caso concreto (GRECO, 2021). CRIME CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO, CONJUGADO COM ESTELIONATO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. NULIDADE DO PROCESSO, INCLUSIVE A DENUNCIA, POR FALTA DE LEGITIMIDADE DE SEU FIRMATARIO. APLICAÇÃO DOS ARTS. 125, VI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 171 E 204, DO CÓDIGO PENAL E 564, II, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. RECURSO, PARCIALMENTE, PROVIDO.(STF - RHC: 48037 SP , Relator: THOMPSON FLORES, Data de Julgamento: 15/06/1970, SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJ 21-08- 1970 PP-*****) 9 - Exercício de atividade com infração de decisão administrativa (art. 205, CP) Art. 205 - Exercer atividade, de que está impedido por decisão administrativa: Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa. Pressupõe-se habitualidade ao “exercer”, ou seja, o agente estava proibido da prática por decisão administrativa, porém vem sendo realizado reiteradamente. Já o termo “atividade” traz consigo a ligação a qualquer profissão lícita reconhecida pelo Ministério do Trabalho. Indispensável adicionar que a decisão, obrigatoriamente, tem que ser administrativa, caso contrário irá configurar decisão judicial, logo, o a tipificação será outra. A doutrina classifica este crime quanto próprio tanto quanto ao sujeito ativo quanto o passivo – unicamente quem está vetado de exercer uma atividade pode violá-la (sujeito ativo) e o Estado (sujeito passivo) – doloso, comissivo, habitual, de forma livre, de mão própria, de mera conduta, monossubjetivo, plurissubsistente e transeunte em regra (GRECO, 2021). 10 - Aliciamento para o fim de emigração (art. 206, CP) Art. 206 - Recrutar trabalhadores, mediante fraude, com o fim de levá-los para território estrangeiro. (Redação dada pela Lei nº 8.683, de 1993) Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos e multa. (Redação dada pela Lei nº 8.683, de 1993) Extrai-se deste o entendimento da obrigatoriedade do agente, por meio de fraude – aliciação, convencimento, sedução – leve, finalissimamente, o trabalhador para território estrangeiro – lê-se para fora do território nacional. Existem controvérsias doutrinárias a respeito do número mínimo de trabalhadores necessários à configuração típica. Ainda, caracteriza-se em crime comum quanto aos sujeitos ativo e passivo – qualquer pessoa (ativo) e o Estado (passivo), doloso, comissivo, de forma livre, formal, monossubjetivo, plurissubsistente e transeunte em regra. Ação penal de iniciativa pública incondicionada (GRECO, 2021). 11 - Aliciamento de trabalhadores de um local para outro do território nacional (art. 207, CP) Art. 207 - Aliciar trabalhadores, com o fim de levá-los de uma para outra localidade do território nacional: Pena - detenção de um a três anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.777, de 1998) § 1º Incorre na mesma pena quem recrutar trabalhadores fora da localidade de execução do trabalho, dentro do território nacional, mediante fraude ou cobrança de qualquer quantia do trabalhador, ou, ainda, não assegurar condições do seu retorno ao local de origem. (Incluído pela Lei nº 9.777, de 1998) § 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de dezoito anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental. (Incluído pela Lei nº 9.777, de 1998) “O art. 207 prevê hipótese assemelhada à do artigo antecedente. Punido o aliciamento de trabalhadores, com o fim de levá-los de uma parte para outra localidade do território nacional, a lei tem em vista a regularidade, a normalidade do trabalho no país, evitando que regiões mais favorecidas corram o risco do chômage, enquanto outras, que não oferecem as mesmas vantagens, se despovoem e lutem com a falta de braços. Tal fato rompe a harmonia e o equilíbrio necessários à ordem econômica e social. Como na espécie anterior, não se veda a transferência pura e simples de alguém de um lugar para outro do solo nacional, o que é inerente à liberdade de trabalho; pune-se o aliciamento; veda-se a ação dos aliciadores, promotora do êxodo de uma localidade para outra” (NORONHA, 2003, p. 36). Independentemente da veracidade das promessas feitas, o frugal ato de incutir, já configura no delito abordado. É classificado como crime comum quanto a ambos os sujeitos, doloso, comissivo, de forma livre, formal, monossubjetivo, plurissubsistente e transeunte em regra. Há a possibilidade de aumento de pena se a vítima for menor de 18 anos, idosa, gestante, indígena e/ou portadora de deficiência física ou mental; a ação penal é de iniciativa pública incondicionada; e é possível a confecção de suspensão condicional ao processo (GRECO, 2021). Referências: BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal, Vol. 3: parte especial dos crimescontra o patrimônio até dos crimes contra o sentimento religioso e o respeito aos mortos. São Paulo: Saraiva, 2012. GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal, Vol. 2 artigos 121 a 212 do Código Penal. São Paulo: Atlas, 2021. NORONHA, Edgard Magalhães. Direito penal. São Paulo, Saraiva, 2003.