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Análise no Rn - Lista de Caminhos Mestrado - PPGMAT - IM/UFAL Francisco Alan Lima da Silva francisco.alan@im.ufal.br 25 de abril de 2024 Exerćıcio 1. Seja λ : [a, b] → Rn um caminho fechado diferenciável. Mostre que existe algum t ∈ (a, b) tal que ⟨λ(t), λ′(t)⟩ = 0. Solução. Sabemos que f(x) = |λ2(x) = ⟨λ(x), λ(x)⟩ é diferenciável em [a, b], pois λ o é, e sua derivada é dada por f ′(x) = 2⟨λ(x), λ′(x)⟩.. Além do mais, f(a) = f(b). Portanto, pelo Teorema de Rolle, existe t ∈ (a, b) tal que f ′(t) = 0, o que implica ⟨λ(t), λ′(t)⟩ = 0, como desejávamos demonstrar. Para a próxima questão, definiremos o que significa um reta L ser asśıntota de um caminho f . Definição 1 (Asśıntota de um caminho). Sejam f : [a, b) → R2 um caminho (pode-se ter b = +∞) tal que limt→b |f(t)| = +∞ e L = {(x, y) : αx+ βy = γ}. Ponhamos u = (α, β). Podemos supor |u|2 = α2+β2 = 1. Dizemos que a reta L é asśıntota do caminho quando x → b, quando uma das duas seguintes condições equivalentes for satisfeita: (i) limt→b d(f(t), L) = 0; (ii) limt→b⟨f(t), u⟩ = γ e limt→b 〈 f(t) |f(t)| , u 〉 = 0. Exerćıcio 2. Mostre que uma parábola f : R → R2, f(t) = (t, at2 + bt + c), não possui asśıntota. Por outro lado, determine a asśıntota da hipérbole f : [a,+∞) → R2, f(t) = (t, √ t2 − a). Solução. Para a primeira parte, utilizaremos a condição (ii) da definição de assśıntota, para mostrar que a parébola não tem uma. Suponha que L = {(x, y) : αx + βy = γ < +∞} seja uma asśıntota para a parábola f(t) = (t, at2 + bt+ c). Então deveŕıamos ter que ⟨f(t), (α, β)⟩ → γ, quando t → +∞. 1 Por outro lado, ⟨f(t), (α, β)⟩ = tα + (at2 + bt+ c)β = aβt2 +O(t) → +∞, quando t → +∞, e portanto L não pode ser asśıntota de f , um absurdo. Exerćıcio 3. Sejam A,B ∈ Rn2 , A antissimétrica e B com traço nulo. Mostre que para todo t ∈ R, etA é ortogonal e etB tem determinante 1. Utilizaremos fatos sobre a exponencial nesta solução. A definição eX , para um operador X, pode ser encontrada no Exerćıcio 5.7 do Caṕıtulo 1 do Curso de Análise vol. 2. Solução. Se A é antissimétrica, então AT = −A. Além do mais, A e sua transporta AT comutam. Provaremos agora que (etA)T = etA T . A prova mora no fato que (A + B)T = AT +BT e (An)T = (AT )n. Dáı, ( ∑n k=0 Ak k! )T = ∑n k=0 (AT )k k! , para todo n ∈ N. Como tomar a transposta é uma função cont́ınua (pois é uma função cujas coordenadas são projeções), podemos tomar o limite em n para concluir que a transposta da exponencial de A é a exponencial de AT . Assim, etA(etA)T = etAetA T = et(A−A) = e0 = I. Da definição de ortogonalidade dada no Exerćıcio 2.5 do Curso de Análise vol. 2, con- clúımos que A é ortogonal. Se A tem rank nulo, então det(etA) = 1. Faremos isso provando que det(eA) = erkA. Isto prova o que queremos. Para provar a afirmação, utilizaremos a Decomposição de Schur (para o caso real). Ela diz que podemos obter, para qualquer matriz A, podemos obter uma matriz S, de tal modo que S = QTAQ, com Q ortogonal e S = D + T , onde D é diagonal e T é uma matriz triangular superior. Agora note que o produto de uma matriz triangular superior com uma matriz diagonal, é também triangular superior. Também, o quadrado de uma matriz diagonal é diagonal, e o quadrado de uma matriz triangular superior, é uma matriz triangular superior. Assim, temos que S2 = (D+T )2 = D2 + DT + TD + T 2 = D2 + T1, onde T1 = DT + TD + T 2 é triangular superior. Indutivamente, prova-se que para cada n ∈ N, temos Sn = Dn + Tn, onde Tn é triangular superior. Dáı, segue que eS = eD + ∑∞ k=0 Tk k! . Chamando T̃ := ∑∞ k=0 Tk k! , temos que det(eS) = det(eD+ T̃ ) = det(eD)+det(T̃ ) = det(eD), uma vez que T̃ é triangular superior e portanto tem determinante nulo. Como det(eD) = ∏n j=1 e λj , onde λ1, . . . , λn são os autovalores de D, segue que det(eD) = e ∑ j λj = erkD. Mas rkD = rkS, e segue que det(eS) = erkS = 1. Como S = QTAQ, então rkA = rkS e det eS = det eA, e o resultado segue. (Estenda-se a prova para etA.) Toda matriz antissimétrica é vetor velocidade de um caminho de matrizes ortogonais. De fato, seja A antissimétrica. Tome f : [−1, 1] → Rn2 dada por f(t) = etA. Então f ′(t) = AetA, donde f ′(0) = A. Análogo para as matrizes de rank nulo. 2 Exerćıcio 4. Seja × o produto interno em R3. Dados um vetor v ∈ R3 e um caminho integrável f : [a, b] → R3, mostre que ∫ b a (v × f(t))dt = v × ∫ b a f(t)dt. Solução. Faremos a conta. Se v = (v1, v2, v3) e f = (f1, f2, f3), então v × f(t) = (v2f3(t)− v3f2(t), v3f1(t)− v1f3(t), v1f2(t)− v2f1(t)), e portanto (escrevendo ∫ b a g para denotar ∫ b a g(x)dx), temos que∫ b a (v × f(t))dt = = (∫ b a (v2f3 − v3f2), ∫ b a (v3f1 − v1f3), ∫ b a (v1f2 − v2f1) ) = ( v2 ∫ b a f3 − v3 ∫ b a f2, v3 ∫ b a f1 − v1 ∫ b a f3, v1 ∫ b a f2 − v2 ∫ b a f1 ) = (v1, v2, v3)× (∫ b a f1(t)dt, ∫ b a f2(t)dt, ∫ b a f3(t)dt ) = v × ∫ b a f(t)dt, como desejávamos. Exerćıcio 5. Defina f : [0, 1] → R pondo f(0) = 0 e f(t) = t2 sen(1/t2). Mostre que f é um caminho diferenciável porém não retificável. Solução. O caminho f é cont́ınuo. De fato, para todo t ̸= 0, f é composição de funções cont́ınuas, e portanto cont́ınuo. para mostrar que f é cont́ınuo no 0, observe que lim t→0 f(t) = lim t→0 t2 sen(1/t2) = 0 = f(0), uma vez que para todo t > 0, temos que sen(1/t2) é limitado, e t2 → 0. O caminho f é diferenciável. Basta mostrar a diferenciabilidade para t = 0. Note que lim t→0 f(t+ 0)− f(0) t = lim t→0 t2 sen(1/t2) t = lim t→0 t sen(1/t2) = 0, e segue a prova da afirmação. O caminho f não é retificável. De fato, fazendo 1 t2 = π 2 +2kπ, temos que sen(1/t2) = 1, enquanto que fazendo 1 t2 = 3π 2 + 2kπ, temos que sen(1/t2) = −1. Assim, fazendo t2k =√ 2 (4k+1)π e t2k+1 = √ 2 (4k+3)π , temos uma partição de [0, 1] fazendo Pn = {0 < t2n+1 < t2n < · · · < t1 < t0 < 1} temos |f(t2k)− f(t2k+1)| = | 2 π 1 4k+1 + 2 π 1 4k+3 | = 4 π 4+2 (4k+1)(4k+3) ≥ 4 π 1 4k+3 ≥ 1 π 1 k+1 . Então, a soma segundo a partição Pn é maior ou igual a n∑ k=0 |f(t2k)− f(t2k+1)| ≥ 1 π n∑ k=0 1 k + 1 , que é uma sequência ilimitada, pois são as somas parciais da série harmônica. 3