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MEDIDAS E AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA PROFESSORES Dr. Braulio Henrique Magnani Branco Me. Adriano Ruy Matsuo Me. Bruno Follmer Quando identificar o ícone QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos online. O download do aplicativo está disponível nas plataformas: Acesse o seu livro também disponível na versão digital. Google Play App Store https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/820 2 MEDIDAS E AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jd. Aclimação Cep 87050-900 - Maringá - Paraná - Brasil www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; BRANCO, Braulio Henrique Magnani; MATSUO, Adriano Ruy; FOLLMER, Bruno. Medidas e Avaliação em Educação Física. Braulio Henrique Magnani Branco; Adriano Ruy Matsuo; Bruno Follmer. Maringá - PR.: Unicesumar, 2019. Reimpresso em 2024. 204 p. “Graduação em Educação Física - EaD”. 1. Medidas. 2. Avaliação. 3. Educação Física. 4. EaD. I. Título. ISBN: 978-85-459-1924-7 CDD - 22ª Ed. 613.7 Impresso por: CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha Catalográfica Elaborada pelo Bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon, Diretoria de Graduação Kátia Coelho, Diretoria de Cursos Híbridos Fabricio R. Lazilha, Diretoria de Pós-Graduação Bruno do Val Jorge, Diretoria de Permanência Leonardo Spaine, Diretoria de Design Educacional Débora Leite, Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima, Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira, Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas, Gerência de Contratos e Operações Jislaine Cristina da Silva, Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia, Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey, Supervisora de Projetos Especiais Yasminn Talyta Tavares Zagonel Supervisora de Produção de Conteúdo Daniele C. Correia Coordenador(a) de Conteúdo Mara Cecilia Lopes , Projeto Gráfico José Jhonny Coelho, Editoração Victor Augusto Thomazini, Designer Educacional Kaio Vinicius Cardoso Gomes, Revisão Textual Lorena Martins Pedroso Almeida, Ariane Andrade Fabreti, Ilustração Bruno Pardinho, Marta Sayuri Kakitani, Rodrigo Barbosa da Silva, Fotos Shutterstock. Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e profissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educadores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Wilson Matos da Silva Reitor da Unicesumar boas-vindas Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Comunidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram a informação e a produção do conhecimento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Willian V. K. de Matos Silva Pró-Reitor da Unicesumar EaD Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica.boas-vindas Débora do Nascimento Leite Diretoria de Design Educacional Janes Fidélis Tomelin Pró-Reitor de Ensino de EAD Kátia Solange Coelho Diretoria de Graduação e Pós-graduação Leonardo Spaine Diretoria de Permanência autores Dr. Braulio Henrique Magnani Branco Licenciado em Educação Física pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), em 2005, mestre em Ciências da Saúde pela UEM, em 2011, e doutor em Educação Física pela Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE-USP), em 2016. Atualmente, é professor adjunto I e coordenador da especialização em Fisiologia do Exercício, ambos pelo Centro Universitário de Ma- ringá (Unicesumar). É docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Promoção da Saúde pela mesma instituição. Tem experiência na área de Educação Física, atuando principalmente nos seguintes temas: Promoção da Saúde, Obesidade, Fisiologia do Exercício e Esportes de Combate. http://lattes.cnpq.br/9666687242230391 Me. Adriano Ruy Matsuo Bacharel em Educação Física (2011) pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Especialista em Fisiologia Humana: Funcionamento do Organismo Humano no Contexto Interdisciplinar (2013) pela UEM. Mestre em Educação Física pelo Programa de Pós-Graduação Associado em Educação Física - UEM/UEL (Capes 4), na área de Desempenho Humano e Atividade Física; linha de pesquisa em Ativi- dade Física e Saúde (2018). Integrante do Núcleo de Estudos Multiprofissional da Obesidade (NEMO) coordenado pelo Prof. Dr. Nelson Nardo Júnior, desenvolvendo atividades no projeto de tratamento da obesidade, o Programa Multiprofissional de Tratamento da Obesidade (PMTO). http://lattes.cnpq.br/2456149959756244 Me. Bruno Follmer Doutorando em Cinesiologia na University of Victoria, em Victoria, British Columbia, Canadá, e membro do Rehabilitation Neuroscience Laboratory. Mestre em Biodinâmica do Desempenho Humano pela UFSC, 2016. Pós-graduado em Fisiologia do Exercício pela UFRGS, 2009. Graduado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS, 2006. http://lattes.cnpq.br/3603219866728412 apresentação do material MEDIDAS E AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA Braulio Henrique Magnani Branco; Adriano Ruy Matsuo; Bruno Follmer Olá, caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) ao estudo sobre Medidas e Avaliação do Curso de Educação Física! Este material didático foi elaborado com o objetivo de promover a construção de um conhecimento sobre a importância do processo de medir, avaliar e analisar no contexto da Educação Física. Ao longo das cin- co unidades deste material, faremos uma apresentação acerca dos principais conceitos que envolvem a bioestatística e a apresentação dos métodos e testes de avaliação. Na Unidade 1, trataremos desde o estabelecimento da diferença entre medir e avaliar, passando por uma apresentação dos principais conceitos que envol- vem a estatística até a descrição dos principais termos da estatística descritiva. A Unidade 2 buscará contextualizar a avaliação antropométrica no âmbito da Educação Física e identificar os principais conceitos e técnicas que permeiam esse processo de avaliação. Além disso, serão apresentados os métodos direto, indireto e duplamente indireto da avaliação da composição corporal. Na Unidade 3, apresentaremos e conceituaremos as capacidades físicas de flexibilidade e força muscular (dentro das suas diferentes manifestações), bem como discutiremos os principais testes de avaliação dessas capacidades. A Unidade 4 buscará conceituar o metabolismo aeróbio e as variáveis de potência e capacidade aeróbia. Serão apresentados, também, os testes físicos que men- suram a capacidade aeróbia em ambiente laboratorial e, ainda, serão descritos os testes práticos de campo que avaliam essa capacidade. Para finalizar, na Unidade 5, você entrará em contato com a conceituação de metabolismo anaeróbio, alático e lático, conhecerá algumas das avaliações laboratoriais existentes para mensuração de aptidão anaeróbia, bem como os testes de campo disponíveis para essa avaliação. Esperamos que este material lhe traga mais do que conhecimento acadêmico; que o estimule a se tornar um profissional de excelência, afinal, o conhecimento é vasto e este é somente o início de sua jornada. Preparado(a)? Então, vamos rumo ao conhecimento! sumário UNIDADE I INTRODUÇÃO ÀS MEDIDAS E À AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA 14 Medidas e Avaliação em Educação Física 18 Introdução à Bioestatística 22 Estatística Descritiva Aplicada à Educação Física 41 Referências 42 Gabarito UNIDADE II AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA 48 Introdução à Avaliação Antropométrica 57 Avaliação da Composição Corporal 60 Modelos Teóricos de Análise e Métodos da Avaliação da Composição Corporal 64 Técnicas da Avaliação da Composição Corporal 90 Referências 94 Gabarito UNIDADE III FORÇA MUSCULAR E FLEXIBILIDADE 100 Força Muscular 110 Potência Muscular 116 Flexibilidade 129 Referências 131 Gabarito UNIDADE IV AVALIAÇÃO AERÓBIA 136 Avaliação Aeróbia 140 Testes Laboratoriais 148 Testes de Campo 164 Referências 166 Gabarito UNIDADE V AVALIAÇÃO ANAERÓBIA 172 Avaliação Anaeróbia 178 Testes Laboratoriais 186 Testes de Campo 199 Referências 202 Gabarito 203 CONCLUSÃO GERAL Professor Dr. Braulio Henrique Magnani Branco Professor Me. Adriano Ruy Matsuo Professor Me. Bruno Follmer Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Medidas e avaliação em Educação Física • Introdução à bioestatística • Estatística descritiva aplicada à Educação Física Objetivos de Aprendizagem • Estabelecer as diferenças entre medir e avaliar. • Apresentar os principais conceitos que envolvem a bioestatística. • Descrever os principais termos da estatística descritiva. INTRODUÇÃO ÀS MEDIDAS E À AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA unidade I INTRODUÇÃO N a Unidade 1 do livro de Medidas e Avaliação do Curso de Educação Física, são discutidos os principais pontos que pro- porcionarão ao aluno(a) a correta escolha dos testes com base na autenticidade científica e no processo de delineamento da avaliação por meio de testes. Nesse sentido, para a correta compreensão do processo de coleta e interpretação dos dados, é imprescindível planejar corretamente a obtenção das medidas e, igualmente, coletar, interpretar e aplicar os resultados, visando o desenvolvimento pleno do(a) aluno(a) (ao falarmos de escola) e, até mesmo, do atleta de alto rendimento (ao discutirmos o treinamento físico-esportivo). Aditivamente, devemos ter em mente que os testes devem seguir ri- gorosos procedimentos técnicos para a obtenção das variáveis que serão coletadas. Tais procedimentos darão confiabilidade aos dados e proporcio- narão parâmetros para a classificação da aptidão física relacionada à saú- de e ao desempenho físico-esportivo. Ressalta-se que a estatística básica, melhor dizendo, o entendimento da estatística descritiva, que é apresen- tada no tópico 2 da Unidade 1, subsidiará o entendimento dos resultados de artigos científicos, dado que são empreendidas explanações quanto aos aspectos cruciais dos dados de abordagem quantitativa (média, mediana, moda, desvio padrão, variância, percentis etc.), assim como auxiliará na interpretação de tabelas e gráficos. Dessa forma, indicamos aos alunos que explorem ao máximo a primei- ra unidade do livro de Medidas e Avaliação para o gerenciamento adequado do processo de medir e avaliar no cenário da Educação Física. Por último, desejamos a todos uma excelente leitura do conteúdo, especialmente sele- cionado para condução ótima de diferentes avaliações de campo (aquelas conduzidas em ambiente externo, com maior validade externa) e laborato- rial (maior validade interna). No entanto, pedimos que não se preocupem com os conceitos de validade externa e interna, dado que os discutiremos exemplificando cada situação nas próximas unidades do presente livro. 14 MEDIDAS E AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA Medidas e Avaliaçãoem Educação Física Para a correta escolha dos testes para mensuração da aptidão física relacionada à saúde (força, resis- tência muscular localizada, flexibilidade, resistên- cia aeróbia e composição corporal) e desempenho físico-esportivo (adiciona-se: agilidade, acelera- ção, velocidade, velocidade de reação, potência aeróbia e potência muscular) é substancial ade- quar testes que sejam direcionados à necessidade do aluno na escola ou na academia, bem como para atletas de diferentes modalidades esportivas (LIMA; KISS, 2003). Nesse sentido, deve-se priorizar testes que apre- sentem a possibilidade de medir (mensurar) ade- quadamente aquilo que será proposto, bem como demostrem a possibilidade de avaliar, ou seja, clas- sificar o objeto/condição/teste medido. Portanto, medir é diferente de avaliar, o medir é o “ato” de medir algo, por exemplo: a circunferência da cin- tura de uma criança e a realização de determinado teste físico por um atleta; por outro lado, avaliar é dar um julgamento sobre a medida que foi realizada, isto é, classificar a medida consumada em faixas de corte, percentis, classificações; como exemplo: mui- to abaixo da média, abaixo da média, na média, aci- ma da média, muito acima da média, dentre outros (MORROW JUNIOR. et al., 2014). EDUCAÇÃO FÍSICA 15 Assim, para o correto delineamento do processo de avaliação por meio de testes, é aconselhado seguir as quatro fases destacadas a seguir, em consonância com De Lima e Kiss (2003): A seguir, são detalhados os 3 pontos concatenados ao processo de autenticidade científica: 1) O erro da medida pode ser subdividido em: A) Erro sistemático instrumental: erro decor- rente da calibração do equipamento (por exemplo, o professor de Educação Física está realizando avaliações da composição corpo- ral de seus alunos por meio do adipômetro e, nessa condição hipotética, ele esqueceu de conferir a calibração do equipamento). B) Erro sistemático teórico: erro decorrente da utilização de fórmulas, condições e/ou lite- ratura inapropriada para a condição. Segui- remos o exemplo do tópico A, referente ao professor de Educação Física que está reali- zando avaliações da composição corporal. O erro sistemático teórico, na situação descrita, seria a utilização, após a avaliação da compo- sição corporal, de fórmulas de outras faixas etárias ou etnias ou outra subclassificação que não fosse validada para as pessoas que o professor está avaliando. C) Erro sistemático ambiental: erro relativo ao estado de equipamento, quadra, pista, local, temperatura, umidade, horário, dentre outros. Utilizando o exemplo já descrito, um erro sis- temático ambiental seria efetivar a avaliação da composição corporal dentro de um local quente, que promovesse a transpiração do avaliado e, em virtude disso, prejudicasse o correto pinçamento das dobras cutâneas. D) Erro sistemático observacional: falhas do ava- liador na leitura ou manuseamento do equi- pamento. Como exemplo para essa condição, podemos citar a leitura incorreta dos valores obtidos no pinçamento das dobras cutâneas realizado na avaliação da composição corpo- ral feita pelo professor de Educação Física. Fase de delineamento ou planejamento da avaliação: escolha das variáveis que serão medidas e subsequentemente avaliadas, com a escolha dos testes mais apropriados para serem empregados. Fase de obtenção das medidas: aplicação dos testes propriamente dita e obtenção dos resultados, sem a classificação das variáveis coletadas. Fase de interpretação das medidas ou ob- tenção das informações: interpretação dos resultados baseada em estudos prévios e análise estatística. Fase de aplicação das informações obtidas: na última etapa, as informações adquiridas darão subsídio à prescrição (orientação) e à condução das aulas e/ou treinamentos. 1 2 3 4 Não basta seguir as quatro fases aqui delineadas, pois outros parâmetros devem ser utilizados concomitan- temente, a fim de garantir a autenticidade científica. Destacam-se: 1. Erro da medida. 2. Fidedignidade. 3. Validade. 16 MEDIDAS E AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA 2) Fidedignidade, reprodutibilidade ou confiança A fidedignidade se refere ao nível de congruência ou consistência dos resultados no decurso da realização do teste na mesma condição, em condições diferen- tes, assim como por avaliadores diferentes. Nessa si- tuação, o erro deve ser muito pequeno, pois quanto maior for a dispersão dos dados analisados, menor será a fidedignidade do teste e vice-versa (LIMA; KISS, 2003; MORROW JUNIOR et al., 2014). Por conseguinte, a literatura traz várias classificações para a reprodutibilidade (BAUMGARTNER, 1995). Entretanto, apresentaremos, nesse momento, duas classificações de fidedignidade: a) Fidedignidade intra-avaliador: que se refere à consistência da medida efetuada pelo mesmo avaliador várias vezes em situações diferentes. b) Fidedignidade interavaliador: verifica-se a consistência da mesma medida ou teste de- sempenhado por avaliadores diferentes. 3) Validade Por sua vez, a validade se refere à apropriação de de- terminado teste com o intuito de verificar se o refe- rido teste é, de fato, adequado para fornecer as boas medidas da variável que ele se propõe a medir (DE LIMA; KISS, 2003). Critérios de seleção dos testes quanto aos aspectos práticos De acordo com Lima e Kiss (2003), alguns critérios devem ser seguidos para a seleção de testes físicos, isto é, viabilidade, economia e padronização. Nesse aspecto, a viabilidade especifica os recursos dispo- níveis para a condução dos testes. As seguintes per- guntas devem ser levadas em conta: • Quais equipamentos temos à nossa disposição? • Quais são as instalações para a realização do(s) teste(s)? • Qual a equipe técnica treinada para a execu- ção do(s) teste(s)? • Quanto tempo temos para o cumprimento do(s) teste(s)? • Avaliaremos quantas pessoas? Na situação em que forem definidas as questões an- teriores, será possível delinear o(s) melhor(res) tes- te(s) para o(s) avaliado(s) em questão. Por outro lado, a economia identifica a relação custo-benefício do teste. Para tanto, deverão ser re- gistrados os custos dos equipamentos, manutenção, eventuais deslocamentos, tempo para a avaliação e eventuais riscos à saúde. Ademais, a padronização detalha o passo a passo da execução de determi- nado teste. Logo, a padronização deve ser seguida EDUCAÇÃO FÍSICA 17 rigorosamente em cada teste praticado. Em virtude disso, podemos citar: a execução dos movimentos, critérios para a contagem das repetições, distâncias a serem percorridas, forma de cronometragem do tempo, número de repetições, intervalos e duração do teste (LIMA; KISS, 2003; HEYWARD, 2013). Adicionalmente, Lima e Kiss (2003) relatam que os testes físicos devem ser motivantes; devem apre- sentar facilidade de entendimento e proporcionar capacidades de aprendizagem. Portanto, a motiva- ção está associada à reprodutibilidade dos resulta- dos obtidos em diferentes avaliações, pois o avaliado deve fazer o teste em desempenho máximo; contu- do, se o teste for desmotivante, o avaliado pode não apresentar o desempenho máximo em uma reavalia- ção devido ao desinteresse, e não em virtude do de- sempenho físico ter diminuído. Com vistas à facili- dade de entendimento, os mesmos autores indicam que os melhores testes devem ser simples, lógicos e de fácil compreensão. Por fim, a utilização dos testes deve: a) propor- cionar a capacidade de discriminar os avaliados em diferentes categorias; b) ser específica ao grupo de pessoas avaliadas; c) direcionar a prescrição do trei- namento físico-esportivo e, igualmente, as aulas de Educação Física escolar. Para identificar a fidedignidade relativa, deve ser utilizado o coeficiente de correlação in- traclasse (CCI). O CCI identifica o nível de concordância da mesma unidade de medi- da aplicada no mesmo avaliado por meio do mesmo instrumento de medida ou diferen- tes instrumentos pelo mesmoavaliador ou avaliadores diferentes (MIOT, 2016). O CCI compreende valores de 0 até 1 e apresenta a seguinte classificação: 0,0 (ausência); > 0,0 até 0,19 (pobre); 0,20 até 0,39 (fraca); 0,30 até 0,59 (moderada); 0,60 até 0,79 (substancial), e ≥ 0,80 (quase completa) (MIOT, 2016). Seguin- do o exemplo do profissional de Educação Física que realizou a avaliação descrita an- teriormente: o pinçamento das dobras cutâ- neas deve ser efetivado três vezes de forma rotacional nos diferentes pontos anatômicos preestabelecidos. Em virtude disso, evidên- cias recentes indicam que a mediana (que será explicada na seção a seguir) deve ser utilizada como parâmetro de medida. Mas, voltando ao ponto do CCI, quanto maiores forem os valores de cada ponto anatômico medido, maior será a concordância entre eles. Então, valores próximos a 1 indicarão elevado nível de concordância, na condição exemplificada. Fonte: adaptado de Miot (2016). SAIBA MAIS Faz parte do universo da Educação Física o processo de avaliar e analisar as práticas relacionadas à atividade física. Uma das ferramentas utilizadas para analisar os resultados é a estatística. Sendo assim, como a estatística pode auxiliar nas intervenções do professor/profissional de Educação Física? REFLITA 18 MEDIDAS E AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA As grandes áreas da estatística são duas: a estatística descritiva e a estatística inferencial. A primeira pode ser entendida como o conjunto de técnicas utilizadas para organizar, resumir, classificar, descrever e esta- belecer o diálogo dos dados, com tabelas, gráficos ou outros tipos de recursos visuais. A segunda, por sua vez, compreende as técnicas que permitem tirar conclusões sobre determinada observação (DORIA FILHO, 1999; MOTTA, 2006). Neste primeiro momento, o foco do nosso estu- do será a estatística descritiva e alguns dos princi- pais conceitos que a permeiam, como a distribuição de frequências, as medidas de tendência central e as medidas de dispersão. Introdução à Bioestatística EDUCAÇÃO FÍSICA 19 CONCEITOS BÁSICOS Possivelmente, você já tenha lido em algum artigo de revista ou jornal, ou ainda, ouvido em algum programa de rádio ou televisão uma notícia do tipo: “o estudo que investigou o estado nutricional (bai- xo peso, peso normal, sobrepeso e obesidade) por meio do Índice Massa Corporal (IMC) de alunos do ensino médio de escolas públicas brasileiras contou com a participação de 3.000 estudantes”. A partir desse trecho fictício, qual foi a população e a amos- tra desse estudo? Além disso, qual foi a variável in- vestigada? Você tem um palpite? POPULAÇÃO Usualmente, a população é entendida como o gru- po maior de onde se extrai a amostra (THOMAS; NELSON; SILVERMAN, 2012). De modo específi- co, população é qualquer conjunto de informações que tenham entre si uma característica comum que delimite, inequivocamente, quais elementos perten- cem a ela (DORIA FILHO, 1999). Com base nessas definições, podemos concluir que, em nosso exem- plo, os “alunos do ensino médio de escolas públicas brasileiras” correspondem à população do estudo. Esses alunos formam o conjunto de informações com uma característica em comum, que é cursar o ensino médio em escolas públicas no Brasil. AMOSTRA Definido o termo população, podemos definir a amos- tra como o grupo de participantes, tratamentos ou si- tuações selecionados a partir de um grupo maior e es- pecífico (THOMAS; NELSON; SILVERMAN, 2012). Quando uma amostra é formada, ela deve ser repre- sentativa e parecida com a população da qual foi ex- traída (DORIA FILHO, 1999). Dessa forma, a amostra constitui uma redução da população a uma dimensão menor, sem a perda de suas características. Habitual- mente, o tamanho da amostra é expresso pela letra “n”. Retomando nosso exemplo, concluímos que os “3.000 estudantes” correspondem à amostra do estu- do, ou seja, aquele estudo com alunos do ensino médio de escolas públicas tinha um n = 3.000. Provavelmente, você tenha a seguinte dúvida: “mas como apenas 3.000 alunos podem representar todos os estudantes do en- sino médio do Brasil? ”. Existem técnicas e fórmulas es- tatísticas para calcular o tamanho “ideal” de amostras (denominado de cálculo amostral), que consideram vários fatores para que elas sejam representativas da população. Um desses fatores é a aleatorização. Esta, conhecida também como random (do inglês), significa que a escolha da amostra é feita ao acaso, ou seja, li- vre da intencionalidade do pesquisador (WARD et al., 2012). Esse processo de seleção permite que cada um dos componentes da população estudada tenha a mes- ma chance de ser incluído na amostra do estudo; além disso, pode garantir à amostra uma representatividade mais confiável. Como o objetivo desta unidade é rea- lizar a introdução à bioestatística e, devido à extensão das técnicas e fórmulas para o cálculo amostral, não nos aprofundaremos nesses assuntos neste momento. Agora você já sabe qual foi a população e a amostra daquela notícia. Mas a variável investigada, você sabe qual foi? População Amostra 20 MEDIDAS E AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA TIPOS DE VARIÁVEIS Podemos interpretar a variável como toda carac- terística ou condição que pode ser mensurada ou observada (MOTTA, 2006). Em sua essência, as pesquisas que envolvem a bioestatística podem ser consideradas estudos de relações de variáveis. Es- tas, normalmente, estudam as diferenças ou asso- ciações entre as variáveis investigadas nos indiví- duos. Sendo assim, a resposta para nossa questão anterior é IMC. Pois o estudo utilizou o IMC como ferramenta para diagnosticar o estado nutricional daqueles alunos. O valor resultante da medida de uma variável recebe o nome de dado. Os dados são expressos em números para que os métodos estatísticos possam ser aplicados. Por exemplo, para determinar o IMC dos alunos daquela notícia, foram necessárias as me- didas das variáveis peso e estatura. O conjunto des- sas medidas formaram os dados de peso e estatura daquela pesquisa. VARIÁVEL DEPENDENTE X VARIÁVEL INDEPENDENTE As variáveis podem ser classificadas de muitas ma- neiras, no entanto, normalmente, são identificadas como variável dependente e variável independente. Esse tipo de distinção é empregado na estatística in- ferencial, pois envolve a análise das relações entre variáveis. Basicamente, a variável dependente cor- responde ao desfecho de interesse, e a independen- te equivale à exposição ou ao fator de estudo. Por exemplo, suponhamos que, naquele estudo, além de investigar o estado nutricional, tivesse sido avaliada a associação entre o grau do IMC (baixo peso, peso normal, sobrepeso e obesidade) e o rendimento es- colar dos alunos. O IMC seria a variável indepen- dente (exposição/fator de estudo), e o rendimento escolar seria a dependente (desfecho). Independen- temente dessas duas classificações, as variáveis po- dem ser categorizadas de acordo com o seu nível de medida ou escala. TIPOS BÁSICOS DE ESCALAS As variáveis podem ser agrupadas em quatro ti- pos básicos: nominal, ordinal, intervalar e de razão (MOTTA, 2006). Uma variável em escala nominal envolve fre- quências e não medidas propriamente ditas. Esse tipo de variável é identificado apenas por nomes, isto é, é distribuída em categorias nominais, sem nenhuma relação hierárquica. Quando a variável possui apenas duas categorias, é chamada de dicotômica ou binária; por exemplo, o sexo: masculino e feminino. Quando a variável apresenta três ou mais categorias, é chama- da de politômica ou polinomial; por exemplo, as po- sições dos jogadores de basquete: armador, ala e pivô. EDUCAÇÃO FÍSICA 21 Por outro lado, uma variável em escala ordinal é aquela que se distribui em categorias, obedecendo uma relação de ordem dada por algum sistema de graduação. Um exemplo é o IMC, com suas catego- rias: baixo peso, peso normal, sobrepeso e obesidade. A variável em escala intervalar tem, em sua es- sência, os números,e assume valores em uma esca- la supostamente ilimitada que apresenta intervalos iguais entre os vários pontos. Nesse nível de medi- da, o zero não representa a ausência da variável. Um exemplo de variável intervalar é a escala da tempe- ratura em graus centígrados, em que há unidades positivas e negativas, e o zero não significa ausência de temperatura. Uma variável de escala de razão possui as mes- mas características da variável intervalar, no entan- to, o ponto zero representa um ponto verdadeiro, ou seja, ausência. Sendo assim, não são observados valores negativos nesse nível de medida. Podemos citar como variáveis de razão a idade, o peso, o tem- po de determinada prova ou jogo, entre outros, em que não há a possibilidade de obtermos nem o valor negativo, nem o valor zero. Apesar dessa diferencia- ção entre as variáveis intervalar e de razão, do ponto de vista estatístico, elas recebem o mesmo modo de tratamento e análise. A importância de distinguir as variáveis entre os tipos de escalas se justifica na escolha do procedi- mento estatístico que será utilizado na descrição dos dados. Normalmente, as variáveis nominal e ordi- nal são apresentadas em forma de valores absolutos e relativos (porcentagem) e gráficos; e as variáveis intervalar e de razão são apresentadas em forma de medidas de tendência central e dispersão (DORIA FILHO, 1999). VARIÁVEIS QUALITATIVAS X VARIÁVEIS QUANTITATIVAS Outra forma comum de classificar as variáveis é categorizá-las em qualitativas e quantitativas. De maneira simplificada, as variáveis qualitativas ou ca- tegóricas envolvem as escalas nominal e ordinal; en- quanto que as variáveis quantitativas ou numéricas envolvem as escalas intervalar e de razão. As variáveis quantitativas se subdividem, ainda, em quantitativas contínuas, que expressam uma me- dida como um valor real, por exemplo, o peso de uma bola de futebol (0,45 kg ou 450 g), o compri- mento de uma quadra de vôlei (18 m ou 1.800 cm) etc., e variáveis quantitativas discretas, em que os va- lores são expressos apenas por números inteiros, por exemplo, o número de dedos em uma mão, o núme- ro de jogadores em campo, entre outros. A figura a seguir apresenta o diagrama dos diversos tipos de variáveis. Variável Nominal Ordinal Discreta Contínua Categórica (qualitativa) Numérica (quantitativa) Figura 1 - Diagrama dos diversos tipos de variáveis Fonte: os autores. Feitas essas considerações iniciais, podemos tratar de alguns conceitos que permeiam o foco do nosso estudo, a estatística descritiva. 22 MEDIDAS E AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA Estatística Descritiva Aplicada à Educação Física EDUCAÇÃO FÍSICA 23 Vamos supor que estamos realizando uma pesquisa com idosos praticantes de exercício físico, e o ob- jetivo desse estudo é traçar o perfil desses idosos. Dentre as variáveis de investigação que escolhemos, estão inclusas: a modalidade de exercício (caminha- da, musculação, ginástica e natação) e a frequência semanal de treino (número de dias). Após coletar os dados dessas variáveis, quais seriam os primeiros passos para iniciarmos a análise deles? Primeiramente, é necessário organizar, resumir, classificar, descrever e comunicar os resultados ob- tidos (VIEIRA, 2008). Para isso, são utilizados ta- belas, gráficos e estatísticas que permitem resumir e facilitar o entendimento dos dados. TABELAS DE DISTRIBUIÇÃO DE FREQUÊNCIAS Um dos recursos da estatística descritiva é a tabela de distribuição de frequências (VIEIRA, 2008). Ela permite identificar as características dos dados ana- lisados. Tabelas como essa podem ser divididas em duas formas: de frequências simples e de frequências em intervalos de classe. Tabelas de frequências simples As tabelas de frequências simples apresentam o nú- mero de ocorrências (frequências) de um determi- nado dado isolado. Sendo assim, cada valor incluído na tabela representa um único dado, formando uma distribuição de frequências simples. A partir do nos- so estudo com idosos, elaboramos a tabela a seguir para a variável “modalidade de exercício”. Tabela 1 - Distribuição de frequências das modalidades de exercícios praticadas por idosos Modalidade f fr F Fr Caminhada 12 48% 12 48% Musculação 4 16% 16 64% Ginástica 3 12% 19 76% Natação 6 24% 25 100% Total 25 1 – – f : frequência absoluta, fr : frequência relativa (%), F : frequência acumulada, Fr : frequência relativa acumulada (%). Fonte: os autores. Na tabela, podem ser identificados os seguintes ele- mentos: frequência absoluta ( f ), frequência relativa ( fr ), frequência acumulada ( F ) e frequência relativa acumulada ( Fr ). A frequência absoluta ( f ) corresponde ao nú- mero de observações de cada nível ou categoria da variável. A soma das frequências absolutas equivale ao tamanho da amostra. A frequência relativa ( fr ) é a razão entre a frequência absoluta e o tamanho da amostra. Ela pode ser apresentada como proporção (valor de- cimal entre 0 e 1) ou como percentual (valor entre 0% e 100%). A frequência acumulada ( F ) é o total acumulado das frequências absolutas até o nível que se observa. A frequência relativa acumulada ( Fr ) correspon- de à frequência acumulada dividida pela amostra. Com base nos dados apresentados, podemos concluir que a maior parte dos idosos são pratican- tes da caminhada (48%), e a modalidade menos pra- ticada entre eles é a ginástica (12%). 24 MEDIDAS E AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA Tabelas de frequências em intervalos Nas tabelas de frequências em intervalos de classe, os dados estão agrupados nesses intervalos, e o nú- mero de ocorrências (frequência) representa o valor de determinado grupo. Aproveitando o nosso estu- do com idosos, elaboramos outra tabela, a Tabela 2, para a variável “frequência semanal de treino”. Tabela 2 - Frequência semanal de treino de uma amostra aleatória de 25 idosos Idoso Frequência semanal de treinos (dias) Idoso 1 7 Idoso 2 5 Idoso 3 3 Idoso 4 2 Idoso 5 5 Idoso 6 3 Idoso 7 2 Idoso 8 4 Idoso 9 7 Idoso 10 3 Idoso 11 2 Idoso 12 1 Idoso 13 7 Idoso 14 3 Idoso 15 4 Idoso 16 3 Idoso 17 3 Idoso 18 3 Idoso 19 7 Idoso 20 5 Idoso 21 7 Idoso 22 4 Idoso 23 2 Idoso 24 3 Idoso 25 1 Fonte: os autores. Apesar de a Tabela 2 conter todos os 25 valores, esse excesso de detalhes dificulta a percepção das propriedades dos dados. Agrupando os valores da variável em intervalos de classe (Tabela 3), obtém- -se uma tabela mais simples, mas com pormenores ocultados. Tabela 3 - Distribuição de frequências em intervalos de classe da fre- quência semanal de treino de uma amostra aleatória de 25 idosos Frequência Semanal de Treinos (Dias) f % 1 – 4 17 68 5 – 7 8 32 Total 25 100 Fonte: os autores. Observe que, na Tabela 2, levamos algum tempo para visualizar que três determinações têm quatro dias como frequência. Não obstante, podemos afir- mar com clareza que, dos 25 idosos, três praticam exercícios físicos em quatro dias da semana. Já na Tabela 3, facilmente identificamos que apenas oito idosos (32%) praticam exercícios físicos entre cinco e sete dias da semana. No entanto, como a variá- vel está agrupada, não conseguimos visualizar que, desses oito, nenhum pratica exercícios em seis dias da semana. Para todo o conjunto de dados submetido ao processo de resumo da informação dentro dos fun- damentos da estatística, são necessárias estatísticas descritivas que representem tanto a convergência como a oscilação dos dados. Essas estatísticas são conhecidas como medidas de tendência central (in- dicam o ponto de concentração) e medidas de dis- persão (indicam a variação). EDUCAÇÃO FÍSICA 25 MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL Os dados, em sua maioria, apresentam a tendência de se agrupar em torno de um ponto central. Por exemplo, imagine uma prova rústica de 10 km com a participação de 3.000 atletas, profissionais e ama- dores. Ao realizarmos a medida da estatura de todos os atletas adultos do sexo masculino (n = 1.000),foi constatado que a maioria tinha estatura próxima à 1,80 m, e que poucos atletas apresentaram estatu- ra igual ou inferior a 1,75 m ou igual ou superior a 1,85 m. Desse modo, observou-se que os dados apresentaram uma tendência de se agrupar em tor- no da medida 1,80 m. As medidas de tendência central, ou medidas de posição, dão uma ideia de onde se localiza o ponto central de determinado conjunto de dados (DORIA FILHO, 1999). Elas funcionam como um resumo, pois são capazes de mostrar o comportamento geral das observações estudadas. Em complemento, pode- mos dizer que são como um valor de referência, em torno do qual os outros valores se distribuem. Desta forma, podemos conceituar tendência central como o escore único que melhor representa todos os esco- res (THOMAS; NELSON; SILVERMAN, 2012). Há várias maneiras de expressar essa tendência central e, em geral, ela é expressa pela média, pela mediana e pela moda. Média Provavelmente, você já conhece a média, conhecida também como média aritmética. Ela se destaca dentre os termos estatísticos, pois é a medida descritiva de dados quantitativos mais utilizada. A média é defini- da como a soma dos valores observados dividida pelo número de observações, conforme a fórmula a seguir: μ = ∑ x n μ = média Σ x = soma dos valores observados n = número de observações Para exemplificar o cálculo da média, vamos supor que, em uma escola, foi decido avaliar o peso dos alunos de uma turma de 11 estudantes, do 9º ano do ensino fundamental. Os dados encontrados estão dispostos na Tabela 4. Tabela 4 - Peso corporal de alunos do ensino fundamental Aluno Peso corporal (kg) A 48 B 50 C 51 D 53 E 55 F 57 G 56 H 55 I 55 J 47 K 46 Fonte: os autores. Substituindo todas essas informações (valores dos pesos e quantidade de alunos) na fórmula da média, temos que: μ = + + + + + + + + + + = ( ) ,48 50 51 53 55 57 56 55 55 47 46 11 52 09 Sendo assim, foi determinado que a média de peso dessa turma era de 52,09 kg. 26 MEDIDAS E AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA Uma consideração importante a ser feita diz res- peito à sensibilidade da média a valores extremos. Conforme o tamanho da amostra aumenta, maior é a chance de aparecer um valor extremo e deslocar a média em sua direção (DORIA FILHO, 1999). Mediana Como visto, às vezes, a média pode não ser o valor mais representativo ou característico. Utilizando o exemplo anterior, supõe-se que, no lugar do peso 57, estivesse o número 120. A média passaria a ser 57,73 kg, valor maior do que todos os outros, com exceção de um (120). Podemos dizer, então, que esse valor não é representativo dessa turma de alu- nos do 9° ano, pois não retrata de forma coerente grande parte dos dados. Nesse caso, outra medida de tendência central seria mais útil. A mediana é definida como o valor do meio, quan- do todos os valores são ordenados, ou seja, colocados em uma ordem (MOTTA, 2006). Ela não sofre influên- cia de valores extremos, uma vez que é uma medida vinculada à posição que ocupa no conjunto ordenado. Por exemplo, ao organizarmos os pesos desses 11 alu- nos em ordem crescente: 46, 47, 48, 50, 51, 53, 55, 55, 55, 56, 120; a mediana é 53. Nessa sequência ímpar de dados, é mais fácil identificar o número central, mas e quando temos uma sequência par? Nesse caso, o valor da mediana pode ser definido como a média de dois valores centrais. Vamos supor que nossa série de dados fosse 46, 47, 48, 50, 51, 53, 55, 55, 55, 56; a mediana seria (51 + 53)/2 = 52, ou seja, 52. Moda Os dados são apresentados com maior frequência pela média ou mediana. No entanto, a tendencial central também pode ser enunciada pela moda. Esta pode ser definida como o valor que ocorre com maior frequência (DORIA FILHO, 1999). Assim como a mediana, ela não sofre influência de valores extremos. Para o exemplo anterior, a moda é 55, pois esse escore se repete três vezes. Algumas séries de dados podem ter mais de uma moda, e são, portanto, uma distribuição plurimo- dal. Outras séries de dados podem apresentar uma distribuição amodal, isto é, sem moda (nenhum valor repetido). Desse modo, podemos concluir que as medi- das de tendência central, como a média, a media- na e a moda, são medidas representativas e des- crevem todo um conjunto de dados. Porém para a descrição adequada de um conjunto, é impor- tante, além da apresentação da tendência central, apresentar uma medida do grau de dispersão dos valores analisados. MEDIDAS DE DISPERSÃO Numa série de dados, cada valor apresenta algum grau de variação em relação à tendência central. Esses graus de variação representam a dispersão. Em estatística, dispersão significa o modo como os dados se posicionam ao redor do ponto central (DORIA FILHO, 1999). Apresentada uma série de dados, é possível observar que os valores se distri- buem ao redor do ponto central para mais (valo- res acima) e para menos (valores abaixo). Quanto mais próximos os valores estiverem desse ponto, mais homogêneo será o conjunto. Frequentemen- te, a dispersão dos dados é chamada de variabi- lidade (DORIA FILHO, 1999). A seguir, serão apresentadas algumas das medidas de dispersão, a variabilidade. EDUCAÇÃO FÍSICA 27 Amplitude A amplitude total corresponde à diferença entre o valor mais alto e o mais baixo observado. Ela é a me- dida mais simples da variabilidade, pois não informa como os dados se distribuem na série e, conforme a amostra cresce, ela pode crescer também, devido a maior chance de aparecer um valor extremo. A am- plitude pode ser relatada, em especial, quando se usa a mediana e não a média (THOMAS;NELSON; SIL- VERMAN, 2012). Exemplificando esse conceito, observemos a se- guinte série de dados: 26, 26, 27, 28, 29, 29, 29, 30, 31, 32. Hipoteticamente, esses valores representam, em segundos, o tempo de atletas amadores do sexo masculino em uma prova de 200 m rasos de atle- tismo. A partir dessa série, temos que a amplitude é 6 (32 - 26 = 6), com os valores mínimo e máximo iguais a 26 e 32, respectivamente. VARIÂNCIA Uma das medidas de dispersão que mostra o quão distantes os valores estão da média é a variância. Quanto maior ela for, mais distantes da média esta- rão os valores; quanto menor a variância, mais pró- ximos da média eles estarão. Existem duas fórmulas para calcular a variância. A escolha por uma ou outra depende da natureza do conjunto de dados, que pode ser uma população ou de uma amostra. Para calcular a variância de uma população, uti- liza-se a seguinte fórmula: σ µ2 2 � �� ( )x N σ ² = variância da população x = valor observado μ = média N = número de observações (população) Para o cálculo da variância de uma amostra, utiliza- -se a seguinte fórmula: s x n 2 2 1 = − − ∑ ( ) ( ) μ s² = variância da amostra x = valor observado μ = média n = número de observações (amostra) Para facilitar a visualização do cálculo das variân- cias, vejamos um exemplo. Imagine que, em um campeonato amador de natação, foi avaliada a es- tatura de dez mulheres participantes. A média en- contrada foi de 154,1 cm. As dez estaturas medidas estão apresentadas na Tabela 5. Tabela 5 - Estatura de mulheres atletas de natação Atleta Estatura (cm) A 150 B 150 C 151 D 152 E 153 F 154 G 155 H 155 I 160 J 161 Fonte: os autores. 28 MEDIDAS E AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA Primeiro, suponhamos que essas dez atletas repre- sentam toda a população, e não somente uma parte. Para calcular a variância dessa população, primeiro, é necessário saber quanto cada resultado se afasta da média. Como esses resultados se distribuem tanto para mais quanto para menos, são encontrados va- lores positivos e negativos. A Tabela 6 mostra a dife- rença entre cada estatura e a média do grupo. Tabela 6 - Diferença entre a estatura e a média do grupo de atletas Atleta Estatura (cm) Estatura – média (X – μ) A 150 150 – 154,1 = – 4,1 B 150 150 – 154,1 = – 4,1 C 151 151 – 154,1 = – 3,1 D 152 152 – 154,1 = – 2,1 E 153 153– 154,1 = – 1,1 F 154 154 – 154,1 = – 0,1 G 155 155 – 154,1 = 0,9 H 155 155 – 154,1 = 0,9 I 160 160 – 154,1 = 5,9 J 161 161 – 154,1 = 6,9 Fonte: os autores. Em seguida, cada diferença é elevada ao quadrado, conforme a Tabela 7; então, todos os quadrados são somados. Tabela 7 – Diferença entre a estatura e a média do grupo de atletas ele- vada ao quadrado Atleta Estatura (cm) Estatura – média (X – μ) Estatura – média (X – μ)² A 150 150 – 154,1 = – 4,1 (– 4,1)2 = 16,81 B 150 150 – 154,1 = – 4,1 (– 4,1)2 = 16,81 C 151 151 – 154,1 = – 3,1 (– 3,1)2 = 9,61 D 152 152 – 154,1 = – 2,1 (– 2,1)2 = 4,41 E 153 153 – 154,1 = – 1,1 (– 1,1)2 = 1,21 F 154 154 – 154,1 = – 0,1 (– 0,1)2 = 0,01 G 155 155 – 154,1 = 0,9 (0,9)2 = 0,81 H 155 155 – 154,1 = 0,9 (0,9)2 = 0,81 I 160 160 – 154,1 = 5,9 (5,9)2 = 34,81 J 161 161 – 154,1 = 6,9 (6,9)2 = 47,61 Fonte: os autores. Após a soma dos quadrados das diferenças (coluna à extrema direita da Tabela 6), é preciso dividir o valor pela população (N ). Variância da população σ ∝2 2 132 9 10 13 30 ( ) , , x N Se esse grupo, entretanto, fosse apenas uma amostra das atletas desse campeonato, seria necessário utili- zar a fórmula para o cálculo da variância da amostra. EDUCAÇÃO FÍSICA 29 Variância da amostra s x n 2 2 1 132 9 10 1 132 9 9 14 77� � � � � �� ( ) ( ) , ( ) , , μ Um aspecto inconveniente da variância é que, devi- do ao seu método de cálculo, o resultado é expresso em unidades ao quadrado. Assim, para os dados das atletas de natação, tem-se uma média de 154,1 cm e uma variância de 14,77 cm2, por exemplo. Devido a difícil interpretação dessa unidade ao quadrado, uma alternativa para a análise da variabilidade dos dados é o desvio padrão. Desvio padrão Basicamente, o desvio padrão, ou standard deviation (em inglês), corresponde à raiz quadrada da variân- cia. Assim como a variância, ele também correspon- de à estimativa da dispersão dos valores de uma série de dados em relação à sua média. O desvio padrão é representado por S, dp, DP, ou sd. Podemos calcular o desvio padrão da média pela seguinte fórmula: s x n = − − ∑ ( )² ( ) μ 1 s = desvio padrão x = valor observado μ = média n = número de observações (amostra) Sendo assim, em nosso exemplo com as atletas de natação, qual seria o desvio padrão da média de es- tatura delas? Para determinar o desvio padrão, temos que: Desvio padrão s x n � � � � �� ( )² ( ) , , μ 1 132 9 9 3 84 Normalmente, na escrita acadêmica, os valores de média e desvio padrão dos estudos são apresentados da seguinte maneira: média ± desvio padrão. Desta forma, o resultado da investigação sobre a estatura dessas atletas seria 154,1 ± 3,84. Interpretando esta expressão, temos que a média da estatura é igual a 154,1 cm, podendo ser encontrados valores entre 150,3 cm (154,1 – 3,84 = 150,3) e 157,9 cm (154,1 + 3,84 = 157,9). Assim, o desvio padrão indica os limites dentro dos quais se espera encontrar certas proporções das observações. A regra empírica para o desvio padrão pode ser usada para melhor caracterizar e descrever os resultados. Regra empírica: A regra empírica é uma regra estatística para uma distribuição normal determinada pela média e pelo desvio padrão. De acordo com essa regra: • Aproximadamente 68% das obser- vações estão entre a média ± 1dp. • Aproximadamente 95% das obser- vações estão entre a média ± 2dp. • Aproximadamente todas as observa- ções estão entre a média ± 3dp. 30 MEDIDAS E AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA Utilizando a regra empírica, a distribuição das esta- turas das atletas indica que, aproximadamente, 68% estão entre 150,1 cm e 157,9 cm; aproximadamente 95% estão entre 146,4 cm (154,1 – 7,68 = 146,4) e 161,8 cm (154,1 + 7,68 = 161,8) e, aproximadamen- te, todas as estaturas estão entre 142,6 cm (154,1 – 11,52 = 142,6) e 165,6 cm (154,1 + 11,52 = 165,6). Coeficiente de variação Um conceito em estatística descritiva que se rela- ciona com o desvio padrão é o coeficiente de varia- ção. Esse coeficiente expressa o desvio padrão como porcentagem do valor da média (DORIA FILHO, 1999). O cálculo do coeficiente de variação é feito por meio da seguinte fórmula: cv s x= μ 100 cv = coeficiente de variação s = desvio-padrão μ = média Quanto menor for o valor do coeficiente de varia- ção, mais homogêneos serão os dados, ou seja, me- nor será a dispersão em torno da média. Assim sen- do, um coeficiente de variação igual a 100% indica que o desvio padrão é igual à média, ou seja, existe alta dispersão entre os valores. O coeficiente de variação pode ser utilizado para a comparação da dispersão, em termos relativos, de dois ou mais conjuntos de dados que apresentam unidades de medida diferentes (grandezas diferen- tes), com a finalidade de verificar qual deles é mais homogêneo. Vejamos um exemplo. Retomando o nosso exemplo do campeonato ama- dor de natação, vamos supor que, além da estatura (em centímetros), foi coletado também o tempo (em se- gundos) da prova de 50 m livres dessas atletas. Com a coleta dos dados, foram obtidos os seguintes valores: Estatura: μ = 154,1 e s = 3,84. Tempo de prova: μ = 28,7 e s = 1,9. Observando esses valores, qual conjunto de da- dos apresenta menor dispersão relativa em torno da média? Qual seria o seu palpite? Primeiramente, é im- portante observar que os dados analisados possuem unidades de medida diferentes (centímetros e segun- dos). Dessa forma, o desvio padrão não é suficiente para comparar os dois conjuntos. Para fazer essa com- paração, é preciso calcular o coeficiente de variação. Assim, substituindo os respectivos valores na fórmula do coeficiente de variação, teremos: Estatura: cv s x x= = = μ 100 3 64 154 1 100 2 36, , , % Tempo de prova: cv s x x= = = μ 100 1 9 28 7 100 6 62, , , % Como interpretamos esses resultados? Como o coeficiente de variação da estatura foi menor que o coeficiente de variação do tempo de prova, pode-se afirmar que os dados relativos à estatura são mais homogêneos que os dados do tempo de prova. EDUCAÇÃO FÍSICA 31 Percentis Os percentis, ou centis, são valores que demarcam pro- porções dentro de uma série de dados. Eles dividem as séries de dados (valores), ordenados de forma crescen- te, em 100 partes (DORIA FILHO, 1999). O percentil 50, ou P50 , equivale à mediana da série de dados. Dessa forma, se determinado valor se encontra no percentil 89, por exemplo, quer dizer que ele está aci- ma de 89% das observações e abaixo de 11% restantes. Quartis Também há a possibilidade de dividir o conjunto de dados em partes menores. A divisão das séries or- denadas de dados em quatro partes iguais é a mais comum e recebe o nome de quartil. A divisão em quatro partes resulta em três quartis: Q1, Q2 e Q3. O primeiro quartil (Q1) equivale ao percentil 25 (P25) e corresponde ao valor da série em que um quarto dos dados (25%) está abaixo dele, e as outras partes restantes (75%), acima. O segundo quartil (Q2) coincide com a mediana (P50). O terceiro quartil (Q3) equivale ao percentil 75(P75) e corresponde ao valor da série em que três quartos dos dados (75%) estão abaixo dele, e um quarto está acima (25%). Amplitude interquartil A amplitude interquartil, ou intervalo interquartílico, corresponde à distância entre P25 e P75 (DORIA FILHO, 1999). Ela compreende os 50% dos dados centrais da série. A amplitude interquartil é determinada pelo cál- culo da diferença entre os valores do terceiro quartil (Q3 ou P75) e do primeiro quartil (Q1 ou P25). A vantagem de seu uso em relação ao da amplitude total decorre do fato de que não sofre influência dos valores extremos. DISTRIBUIÇÃO NORMAL E DADOS ASSI- MÉTRICOS Normalmente, o padrão teórico esperado para da- dos quantitativos é denominado curva normal. Do ponto de vista gráfico, na curva normal, os dados se distribuem de forma simétrica em torno da mé- dia, da qual a maior partedos valores está próxima e uma pequena parte dos valores está distante, levan- do a um traçado em forma de sino. Esse padrão de dispersão dos dados é também chamado de curva de dispersão normal, ou Curva de Gauss (Figura 2). Média Mediana Moda Figura 2 - Representação gráfica da curva de dispersão normal Fonte: os autores. Quando a distribuição de frequências, em dados quantitativos, foge ao padrão esperado (curva nor- mal), dizemos que há assimetria no conjunto. Isso é algo que acontece corriqueiramente e envolve a pre- sença de observações discrepantes. Na presença de assimetria, não é recomendado o uso da média e do desvio padrão para descrever os dados, uma vez que essas medidas pressupõem simetria. Assim, o uso da mediana e da moda é mais indicado para os dados as- simétricos (Figura 3). Uma maneira simples de veri- ficar se os dados são assimétricos é observar o desvio padrão. Caso ele seja maior que a metade da média, pode-se assumir que os dados são assimétricos. 32 MEDIDAS E AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA Média Mediana A Moda Média Mediana B Moda Figura 3 - Representação gráfica da distribuição de dados assimétricos Fonte: os autores. Para verificarmos a aplicação dos gráficos, utili- zaremos o seguinte exemplo: Numa determinada pesquisa, com 60 atletas de handebol, foram avaliadas a frequência cardíaca de repouso e a função exercida no time (armador, pivô, ala e goleiro). Os dados dessa pesquisa são apresen- tados no Quadro 1. Quadro 1 - Frequência cardíaca (bpm) de repouso de 60 atletas do han- debol (bpm = batimentos por minuto) 59 bpm 62 bpm 55 bpm 59 bpm 62 bpm 55 bpm 60 bpm 63 bpm 56 bpm 60 bpm 58 bpm 56 bpm 61 bpm 64 bpm 57 bpm 61 bpm 59 bpm 57 bpm 62 bpm 60 bpm 58 bpm 58 bpm 60 bpm 58 bpm 59 bpm 61 bpm 59 bpm 59 bpm 61 bpm 59 bpm 55 bpm 58 bpm 61 bpm 62 bpm 55 bpm 60 bpm 56 bpm 59 bpm 62 bpm 60 bpm 56 bpm 61 bpm 57 bpm 60 bpm 59 bpm 61 bpm 57 bpm 62 bpm 58 bpm 61 bpm 60 bpm 56 bpm 58 bpm 59 bpm 59 bpm 58 bpm 60 bpm 68 bpm 59 bpm 60 bpm Fonte: os autores. Na Figura 3, o gráfico A representa uma distribui- ção assimétrica positiva. Nessa assimetria, a média assume um valor maior que a mediana. O gráfico B representa uma distribuição assimétrica negativa. Nesse tipo de distribuição, a média assume um valor menor que a mediana. Por estarem diretamente vinculados ao processo de inferência estatística na execução de testes esta- tísticos, esses conceitos não serão aprofundados nes- te momento. No entanto, por haver a relação de tais conceitos com a estatística descritiva, optou-se por introduzi-los nesta unidade. GRÁFICOS Os gráficos fazem parte dos instrumentos utiliza- dos pela estatística para a apresentação de dados. A principal finalidade deles é transmitir o padrão, ou a tendência geral da informação, de maneira prática e de fácil entendimento. Adiante, serão apresentados alguns dos gráficos mais utilizados para variáveis ca- tegóricas e quantitativas. EDUCAÇÃO FÍSICA 33 Histograma de frequências No histograma, as frequências são apresentadas no eixo vertical (eixo y), e os intervalos de classe são representados pela base dos retângulos (justapostos) no eixo horizontal (eixo x). As larguras dos retângu- los equivalem às amplitudes dos intervalos de classe, e a altura proporcional equivale à frequência (abso- luta ou relativa) de cada intervalo. A Figura 4 apresenta as frequências e os interva- los de classe da variável frequência cardíaca de re- pouso dos 60 atletas de handebol. 35 30 25 20 15 10 5 0 55 60 65 68 Fr eq uê nc ia Frequência cardíaca de repouso Figura 4 - Histograma das frequências cardíacas de repouso dos 60 atletas de handebol Fonte: os autores. Gráfico box plot O gráfico box plot é capaz de apresentar diversas infor- mações sobre o comportamento dos dados, de manei- ra compacta. A mediana da série é representada pela linha horizontal central do box (caixa), e os quartis (Q1 e Q3), pelas linhas inferior e superior da box. Des- sa maneira, o gráfico fornece as estimativas da tendên- cia central e variabilidade geral dos dados, respectiva- mente. A posição da mediana (central ou deslocada para um dos quartis) indica a ausência ou presença da assimetria de dados. Já as linhas que saem da caixa ligam os valores centrais e os extremos da série. A Figura 5 apresenta os dados das frequências car- díacas de repouso dos 60 atletas de handebol. A aná- lise dos dados revelou que: mediana = 59, Q1 = 58, Q3 = 61. 70 67,5 65 62,5 60 57,5 55 Figura 5 - Gráfico box plot das frequências cardíacas de repouso de 60 atletas. Fonte: os autores. Gráfico de barras Os gráficos de barra ou coluna permitem a compa- ração dos dados por meio de retângulos dispostos verticalmente. Esses retângulos possuem a mesma base, e as alturas equivalem aos respectivos dados. A Figura 6 apresenta a distribuição das frequên- cias da função exercida no time (armador, pivô, ala e goleiro) dos 60 atletas. 25 20 15 10 50 0 Fr eq uê nc ia Função exercida no time Armador Pivô Ala Goleiro Figura 6 - Gráfico de barras da função exercida no time de handebol de 60 atletas Fonte: os autores. 34 MEDIDAS E AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA Gráfico de setores O gráfico de setores, conhecido popularmente como gráfico de pizza, é um exemplo de recurso visual para a apresentação de variáveis categóricas. Em geral, é bastante utilizado, no entanto, não é muito explorado no meio acadêmico. A Figura 7 apresenta, também, a distribuição das frequências da função exercida no time (armador, pivô, ala e goleiro) dos 60 atletas. Função exercida no time Armador Pivô Ala Goleiro Figura 7 - Gráfico de setores da função exercida no time de handebol por 60 atletas Fonte: os autores. Gráfico stem-and-leaf (tronco e folhas) Um gráfico stem-and-leaf fornece diversas informa- ções a respeito da série de dados. Ele apresenta a am- plitude dos dados, a localização da maior densidade dos dados e a presença ou ausência de simetria. Nes- se tipo de gráfico, é possível ver informações omiti- das pelos intervalos de classe. A parte denominada stem (tronco) consiste de um ou mais dos dígitos iniciais do dado; a parte cha- mada de leaf (folha) é composta de um ou mais dos dígitos restantes. O stem forma uma coluna ordena- da com o menor valor no topo e o maior na base. As linhas contêm as leafs, ordenadas e listadas, à direita do respectivo stem. A Figura 8 apresenta os dados das frequências cardíacas de repouso dos 60 atletas de handebol. Frequência Tronco (stem) Folha (leaf ) 4 5 5 5 5 5 5 5 6 6 6 6 6 4 5 7 7 7 7 8 5 8 8 8 8 8 8 8 8 12 5 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 10 6 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 9 6 1 1 1 1 1 1 1 1 1 5 6 2 2 2 2 2 1 6 3 1 6 4 1 6 8 Figura 8 - Gráfico stem-and-leaf com os dados da frequência cardíaca de repouso dos 60 atletas Fonte: os autores. 35 considerações finais N a Unidade 1, vimos a diferença entre medir e avaliar, que são conside- rados pontos-chave no decurso do processo de coleta de dados para o direcionamento de propostas de treinamento para saúde, qualidade de vida e desempenho competitivo. Observamos que medir está relacionado ao ato de adquirir a medida propriamente dita, ao passo que avaliar está associado ao julgamento da medida coletada, isto é, a atribuição de valor acerca da medida; por exemplo, classificar a medida em pontos de corte. Suplementarmente, identificamos a relevância das quatro fases da avaliação, que é subdividida em: delineamento ou planejamento da avaliação; obtenção das medi- das; interpretação das medidas ou obtenção das informações; aplicação das informa- ções obtidas. Em decorrência dessas fases, torna-se exequível a consumação plena do processamento das informações coletadas para subsequente análise dos dados e direcionamento de propostas de programas de intervenção. Do mesmo modo, constatamos os diferentes tipos de erro que podem com- prometer a qualidade dos dados coletados, como erro instrumental; erro teórico; erro ambientale erro observacional. Se houver descuido na coleta das informações por causa dos diferentes erros relatados, os dados não serão fidedignos e tampouco reprodutíveis. Por esse motivo, discutimos a relevância da correta padronização para a obtenção das medidas. Outrossim, notabilizamos a estatística descritiva com as medidas de tendência central: média, mediana e moda, tal como as medidas de dispersão, isto é, amplitude, variância, desvio padrão e percentis (intervalo interquartil e quartis). Enfim, foram argumentados pontos sobre a organização dos dados em tabelas e diferentes tipos de gráficos. Por consequência, o entendimento da estatística descri- tiva subsidiará as demais unidades do livro e, igualmente, as disciplinas que deman- dam análises quantitativas. 36 atividades de estudo 1. Ao longo da primeira unidade do livro de Medidas e Avaliação, foi verificado que o processo de delineamento da avaliação física deve seguir rigorosos procedi- mentos técnicos. À vista disso, o correto processo de delineamento da avaliação física envolve: a) Coleta e análise dos dados obtidos. b) Coleta, planejamento e avaliação dos dados obtidos. c) Delineamento da avaliação, obtenção das medidas, interpretação e aplicação das informações obtidas. d) Erro instrumental, teórico, ambiental e observacional. e) Medida e avaliação os dados com base em artigos científicos. 2. As medidas de tendência central, ou medidas de posição, fornecem uma ideia de onde se localiza o ponto central de determinado conjunto de dados. Podemos dizer que são como valor de referência, em torno do qual os outros valores se distribuem, sendo assim, correspondem ao escore único que melhor representa todos os escores. Considerando as informações acerca das medidas de tendên- cia central, analise as afirmativas a seguir: I - Uma vez que é uma medida vinculada à posição que ocupa no conjunto or- denado, a mediana não sofre influência de valores extremos. II - A média é definida como a soma dos valores observados dividida pelo núme- ro de observações. III - A mediana é definida como o valor do meio, quando todos os valores são ordenados. IV - Às vezes, a média pode não ser o valor mais representativo ou característico. V - A moda pode ser definida como o valor que ocorre com maior frequência. Assinale a alternativa que apresenta as afirmativas corretas. a) I, II, III, IV e V. b) II, III, IV e V apenas. c) II, III e IV apenas. d) II, IV e V apenas. e) III, IV e V apenas. 37 atividades de estudo 3. Assinale verdadeiro (V) ou falso (F) com base nas medidas de tendência central e dispersão apresentadas na Unidade 1: ( ) O desvio padrão é uma medida de tendência central que mostra o quanto os dados se dispersam em relação à média. ( ) Nos quartis, o primeiro quartil (Q1) equivale ao percentil 25 (P25), e corres- ponde ao valor da série no qual um quarto dos dados (25%) está abaixo dele e as outras partes restantes (75%), acima. O segundo quartil (Q2) coincide com a mediana (P50). Já o terceiro quartil (Q3) equivale ao percentil 75 (P75) e corresponde ao valor da série no qual três quartos dos dados (75%) estão abaixo dele e um quarto está acima (25%). ( ) Média, moda e amplitude são medidas de tendência central. Assinale a alternativa correta: a) F; V; F. b) F; F; F. c) V; F; V. d) V; V; F. e) V; V; V. 4. Um profissional de saúde precisa verificar eventuais relações entre o índice de massa corporal e o consumo máximo de oxigênio. Qual teste estatístico o profis- sional de saúde deve utilizar? 5. Na estatística, uma tendência central (ou, normalmente, uma medida de ten- dência central) é um valor central ou valor típico para uma distribuição de pro- babilidade. Esse tipo de medida é observado apenas no centro da distribuição. Portanto, descreva detalhadamente quais são as medidas de tendência central encontradas na estatística. 38 LEITURA COMPLEMENTAR A Educação Física tem ampliado os horizontes de atuação nas últimas décadas, com maior expressão a partir de 1998, após a regulamentação governamental publicada no diário ofi- cial. Em virtude disso, nos dias atuais, os profissionais de Educação Física com especializa- ção em estatística, análise quantitativa e análise de desempenho, também conhecida como análise técnico-tática, ainda são incipientes no mercado de trabalho. Portanto, consideran- do os aspectos elencados, é evidente ressaltar a relevância do referido profissional na in- terpretação de dados quantitativos com enfoque na prevenção e tratamento das doenças crônicas não-transmissíveis, análise dos dados advindos do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), assim como na análise técnico-tática de diferentes modalidades esportivas. Por exemplo, estudos prévios buscaram quantificar a estrutura temporal de modalidades esportivas de combate, a fim de identificar os períodos de esforço, pausa e intensidade dos confrontos (ANDREATO et al., 2013; BRANCO, 2016). Nesse sentido, foram feitas filmagens dos combates e registrados os dados numéricos com o propósito de identificar as ações de alta, média e baixa intensidade, além dos tempos de pausa. Consequentemente, com base nas respostas das análises dos atletas, hoje é possível prescrever o treinamento físico e téc- nico-tático utilizando o princípio da especificidade (o qual norteia o treinamento esportivo). Do mesmo modo, Santos e Benedetti (2012) buscaram caracterizar e verificar a inserção do profissional de Educação Física no NASF. Notou-se que a Educação Física está inserida em 49,2% das equipes do NASF. Adicionalmente, a proporção de profissionais de Educação Física nos programas de saúde da família foi de 1 para 100.000 pessoas. O estudo publica- do pelos autores apontou a necessidade de investimentos políticos e acadêmicos para a fixação do NASF e aproximação do profissional de Educação Física na rede de assistência pública em saúde. Finalmente, pode-se inferir que o estudo da bioestatística aplicada à Educação Física e esporte é substancial para o direcionamento adequado de ações com enfoque na melhoria da saúde, qualidade de vida e desempenho físico-esportivo. Fonte: Branco (2016), Andreato (2013) e Santos (2012). 39 material complementar Esporte e Exercício – Avaliação e Prescrição Maria Augusta Peduti Dal’Molin Kiss Editora: Roca Sinopse: o processo de avaliação é discutido dentro do contexto do treinamento esportivo, sugerindo critérios de seleção dos testes, o uso de escores padroni- zados e escalonados na avaliação e elementos para a detecção de talentos es- portivos. Além disso, traz considerações a respeito da prescrição de treinamento para sedentários e grupos especiais, bem como a avaliação para portadores de deficiência inseridos no esporte. Indicação para Ler Medida e Avaliação do Desempenho Humano James R. Morrow Jr., Allen W. Jackson, James G. Disch e Dale P. Mood Editora: Artmed Sinopse: faz referência à avaliação da aptidão física e da atividade física em jovens e adultos no contexto das habilidades esportivas, motoras e psicológicas. Além disso, discute o uso da tecnologia e da estatística, e o desenvolvimento de testes em medidas e avaliação. Indicação para Ler 40 material complementar Conheça um pouco mais sobre o assunto nesse artigo que aborda o uso da estatística na Educação Física por meio da análise das publicações nacionais entre os anos 2009 e 2011. Web: http://www.scielo.br/pdf/rbefe/ v29n1/1807-5509-rbefe-29-01-00139.pdf. Indicação para Acessar O homem que mudou o jogo Ano: 2011 Sinopse: Billy Beane (Brad Pitt), executivo do time de beisebol Oakland Athletics, foi o responsável por tornar o time com a terceira menor folha de pagamento da Major League Baseball no recordista de vitórias consecutivas em uma temporada. O filme retrata a estratégia adotada por Beane para formar um time competitivo para a temporada de 2002, apesar do orçamento limitado: o uso da estatística para montar e escalar a equipe. Indicaçãopara Assistir http://www.scielo.br/pdf/rbefe/v29n1/1807-5509-rbefe-29-01-00139.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbefe/v29n1/1807-5509-rbefe-29-01-00139.pdf 41 referências ANDREATO, L. V. et al. Physiological and technical-tactical analysis in Brazilian jiu-jitsu competition. Asian Journal of Sports Medicine, v. 4, p. 137-143, 2013. BAUMGARTNER, T. A. Norm-referenced Measurement: reability. In: SAFRIT, M. J.; WOOD, T. M. Introduction to Measurement in Physical Education and Exercise Sciences. Saint Louis: Mosby, 1995. BRANCO, B. H. M. Efeitos do treinamento intervalado de alta intensidade sobre as respostas fisiológicas e o desempenho de atletas de judô. 2016. Tese (Doutorado em Estudos Biodinâmicos da Educação Física e Esporte) - Escola de Educação Física e Esporte, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016. LIMA, J. R. P.; KISS, M. A. P. D. Critérios de Seleção de Testes. In: KISS, M. A. P. D. Esporte e Exercício. São Paulo: Roca, 2003. DORIA FILHO, U. Introdução à bioestatística: para simples mortais. São Paulo: Negócio, 1999. SANTOS, S. F. D.; BENEDETTI, T. R. B. Cenário de implantação do Núcleo de Apoio à Saúde da Família e a inserção do profissional de Educação Física. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, v. 17, n. 3, p. 188-194, 2012. HEYWARD, V. H. Avaliação Física e Prescrição de Exercício: Técnicas Avançadas. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. MIOT, H. A. Análise de concordância em estudos clínicos e experimentais. Jornal Vascular Brasileiro, v. 15, n. 2, p. 89-92, 2016. MORROW JUNIOR., J. R.; JACKSON, A. W.; DISCH, J. G.; MOOD, D. P. Medida e Avaliação do Desempenho Humano. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. MOTTA, V. T. Bioestatística. 2. ed. Caxias do Sul: Educs, 2006. THOMAS, J. R.; NELSON, J. K.; SILVERMAN, S. J. Métodos de pesquisa em ativi- dade física. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. VIEIRA, S. Introdução à bioestatística. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. WARD, H.; TOLEDANO, M. B.; SHADDICK, G. et al. Oxford Handbook of Epide- miology for Clinicians. Oxford: Oxford University Press, 2012. 42 gabarito 1. C. 2. A. 3. A. 4. Teste de correlação. 5. Medidas de tendência central: média, moda e mediana. Média = se refere à somatória dos valores obtidos em um conjunto de dados dividido pelo mesmo número de ocorrência observado nesse conjunto; moda = número que mais se repete em um conjunto de dados, sendo que os valores podem ser amodais (não há moda), bimodais (se repetem duas vezes) e multimodais (se repetem vá- rias vezes); mediana = valor que divide um conjunto de dados em partes iguais. gabarito UNIDADE II Professor Dr. Braulio Henrique Magnani Branco Professor Me. Adriano Ruy Matsuo Professor Me. Bruno Follmer Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Introdução à avaliação antropométrica • Avaliação da composição corporal • Modelos teóricos de análise e métodos da avaliação da composição corporal • Técnicas da avaliação da composição corporal Objetivos de Aprendizagem • Contextualizar a avaliação antropométrica no âmbito da Educação Física. • Identificar os principais conceitos e técnicas que permeiam o processo da avaliação antropométrica. • Apresentar os métodos direto, indireto e duplamente indireto da avaliação da composição corporal. • Apresentar as diferentes técnicas utilizadas para avaliar a composição corporal de adultos, jovens e crianças. AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA unidade II INTRODUÇÃO P rezado(a) aluno(a), a antropometria pode ser entendida como o estudo das características mensuráveis da forma humana. Ela mede e avalia as características da forma e da composição cor- poral dos seres humanos. Primeiramente, veremos as principais medidas e os principais índices antropométricos e a relação de alguns desses com aspectos da saúde. Em seguida, serão abordadas as três sub- divisões dos métodos da avaliação da composição corporal da metodolo- gia direta, na qual são coletadas informações sobre os diferentes tecidos: massa magra e massa gorda, bem como suas subclassificações. Por sua vez, são observadas, na literatura, vários métodos indiretos para a aná- lise da composição corporal; podemos citar como exemplo: a pesagem hidrostática, a pletismografia, a Absorciometria de raio X de dupla ener- gia (DEXA), a ultrassonografia, a tomografia computadorizada, a resso- nância magnética e a hidrometria. Algumas das técnicas descritas apre- sentam alto custo para avaliar os componentes da composição corporal e, por isso, são pouco utilizadas na prática do profissional de Educação Física. Dessa forma, a utilização das medidas indiretas é majoritariamen- te limitada aos centros de diagnóstico e programas de pós-graduação em diferentes áreas do conhecimento. No entanto, serão discutidos os princípios das relevantes medidas indiretas na avaliação da composição corporal humana. As medidas indiretas são consideradas como padrão- -ouro de medida, uma vez que manifestam elevada reprodutibilidade na análise dos compartimentos do corpo humano. Finalmente, serão discu- tidas as medidas duplamente indiretas, que incluem as dobras cutâneas e a bioimpedância elétrica. Estas são técnicas que envolvem equipamentos relativamente acessíveis, porém, com forte grau de confiabilidade. Outras medidas poderão ser vistas durante as diferentes disciplinas de Educação Física. No entanto, acredita-se que as principais são descritas nesta uni- dade. Desejamos a todos bons estudos! 48 Introdução à Avaliação Antropométrica Dentre as atribuições que cabem ao(a) gra- duado(a) em Educação Física, seja na li- cenciatura ou no bacharelado, a avaliação antropométrica constitui uma importante ferramenta de análise na sua prática pro- fissional, bem como de avaliação da saúde do seu aluno na escola, na academia, ou em qualquer outro lugar dentro do campo de atuação na área. EDUCAÇÃO FÍSICA 49 A antropometria é o ramo das ciências biológi- cas direcionado ao estudo das características men- suráveis da morfologia (estudo das formas) humana (PITANGA, 2004). Ela avalia todas as caracterís- ticas da forma e da composição corporal dos seres humanos que podem ser medidas. Algumas delas que, normalmente, avaliamos na Educação Física, são: massa corporal (peso corporal), estatura, com- primentos, diâmetros e perímetros dos segmentos, densidade corporal, dobras cutâneas, entre outras (GAGLIARDI; MANSOLDO; KISS, 2003). Com base nas diferentes medidas proporcio- nadas pela antropometria, é possível verificar as dimensões do corpo, como o peso corporal, a esta- tura e as medidas dos segmentos corporais; ainda é possível estimar os componentes da massa cor- poral (por exemplo: massa magra e massa gorda) utilizando equações matemáticas (GAGLIARDI; MANSOLDO; KISS, 2003) que fornecem essas in- formações. Neste primeiro momento, nosso foco será dire- cionado aos métodos de avaliação das dimensões do corpo. Portanto, a seguir, serão apresentados as principais medidas e os protocolos utilizados no campo da Educação Física. MEDIDA DA MASSA CORPORAL A massa corporal é medida utilizando uma balança adequada. Antes da avaliação, é importante verificar se a balança está corretamente calibrada (Figura 1A). Para essa medida, o(a) avaliado(a) deverá ser posicio- nado(a) em pé (com os pés próximos entre si o máxi- mo possível), sem calçados e com o mínimo de rou- pas possível, sobre a balança. O(a) avaliado(a) deve estar imóvel, com os braços relaxados ao longo do corpo, de costas para a escala de medidas (Figura 1B). A B Figura 1 - Medida da massa corporal. A: calibração da balança (mecânica). B: simulação da medida na balança (mecânica) Fonte: os autores. MEDIDA DA ESTATURA A medida da estatura é feita por meio de um esta- diômetro. Para essa medida, o(a) avaliado(a) deverá ser posicionado em pé (com os pés próximos entre si o máximo possível), com os braços relaxados e estendidos ao longo do tronco, e a cabeça ereta, de acordo com o planode Frankfurt (Figura 2B). O(a) avaliador(a) deverá orientar o(a) avaliado(a) a reali- zar a inspiração e a mantê-la até que a medida seja feita. O esquadro deverá ser encostado na cabeça do(a) avaliado(a), realizando uma pressão suficiente para pressionar os cabelos (este deverá ser solto na realização da medida) (Figura 2A). É orientado que essa medida seja feita duas vezes. 50 A B Figura 2 – Medida da estatura. A: simulação da medida. B: plano de Frankfurt Fonte: os autores. ÍNDICE DE MASSA CORPORAL Com as informações da massa corporal e da esta- tura, é possível avaliar o estado nutricional dos in- divíduos pelo índice de massa corporal, ou IMC. O estado nutricional diz respeito à condição resultante do balanço entre a ingesta e a perda de nutrientes. Assim, devido à estreita relação entre o IMC e a gor- dura corporal (KEYS et al., 1972), é possível deter- minar se uma pessoa apresenta peso normal, sobre- peso, obesidade ou, ainda, baixo peso (OMS, 2018). O IMC é enunciado pela divisão do peso cor- poral (em quilogramas) pela estatura (em metros) elevada ao quadrado, conforme a fórmula a seguir: IMC = ( ) Peso Corporal em quilos Estatura em metros 2 Tradicionalmente, os valores do IMC são classifica- dos de acordo com as orientações da Organização Mundial da Saúde (Figura 3). Figura 3 - Classificação do estado nutricional de acordo com o IMC para ho- mens e mulheres adultos, segundo a Organização Mundial de Saúde (2018) Muito além de classificar o estado nutricional, o IMC serve, também, de referência para avaliar o ris- co de morbidade e mortalidade. Observe a Figura 4. 4 3 1 Baixo peso Baixo normal Categoria de referência Sobrepeso RI SC O D E M O RT E Obeso 0,5 15 20 25 30 35 40 45 50 Figura 4 - Risco de morte por diversas doenças de acordo com o IMC Fonte: adaptado de Joshy et al. (2014). Visualizando essa figura, é possível verificar que tanto o baixo peso quanto o sobrepeso e a obesi- dade elevam exponencialmente o risco de morte EDUCAÇÃO FÍSICA 51 por diferenças doenças em adultos, independente- mente do sexo (JOSHY et al., 2014). É importante salientar que essas classificações são aplicadas so- mente à população adulta. Crianças e adolescentes são classificados seguindo outros critérios, pois o IMC pode sofrer influência de idade, sexo e desen- volvimento maturacional (COLE et al., 2005). Até o presente momento, não existe um consenso global a respeito dos pontos de corte para o diagnóstico do sobrepeso e da obesidade pelo IMC para essa popu- lação. Dentre as propostas de classificação existen- tes, sugerimos a proposta de Cole e Lobstein (2012), do International Obesity Task Force, pois essa foi de- senvolvida a partir de uma amostra que contemplou crianças e adolescentes brasileiros. Mesmo como método muito utilizado em clíni- cas e pesquisas e, até mesmo, em escolas e academias, o IMC apresenta uma limitação muito marcante que precisa ser considerada. Apesar de ter boa correlação com a gordura corporal, o IMC é incapaz de quantifi- car as variações dos componentes corporais. Ou seja, é incapaz de diferenciar a quantidade de gordura e a quantidade de massa magra, por exemplo. Portanto, esse método costuma apresentar falsos-positivos, es- pecialmente para o público engajado em programas de exercícios físicos e controle alimentar (Figura 5). A Figura 5 expõe claramente a diferença entre indivíduos com o mesmo peso corporal, estatura e IMC, porém, com composição corporal completa- mente diferente. Figura 5 - Comparação do IMC entre sujeitos de diferentes proporções corporais 52 CIRCUNFERÊNCIA OU PERIMETRIA A avaliação das circunferências, ou perimetria, é muito utilizada devido à sua praticidade e quanti- dade de informações que podem ser obtidas. Entre essas informações, podemos elencar as assimetrias, as alterações nos diâmetros corporais e, até mesmo, o percentual de gordura. A medida da circunferência pode ser defini- da como o perímetro máximo de um segmento corporal, quando feita de um ângulo reto em relação ao seu eixo (ROCHA; GUEDES JUNIOR, 2013). Essa medida é tomada por meio de fita métrica an- tropométrica. Duas dicas importantes para a medi- da das circunferências são: identificar os locais an- tropométricos para medição e aplicar tensão à fita, de modo que ela não comprima a pele ou o tecido subcutâneo (ROCHA; GUEDES JUNIOR, 2013). Existem diversos pontos anatômicos que podem ser utilizados. A seguir, serão apresentados alguns desses pontos, e ressaltamos que, para a condução das medidas antropométricas, o(a) avaliado(a) deve estar com roupas leves, preferencialmente esporti- vas. Para as mulheres, indica-se a utilização de top e shorts de lycra curto. Para os homens, a sunga, ou um apenas um shorts. O primeiro ponto (Figura 6), mostra o local da circunferência do pescoço. Para o seu perímetro, é tomada a medida do seu ponto médio. A medida do perímetro do pescoço tem sido utilizada como indicador de resistência à insulina em adolescentes, com as seguintes faixas de corte: para meninos pré- -púberes > 30,3 cm, e púberes > 34,8 cm; e meninas pré-púberes > 32,0 cm, e púberes > 34,1 cm (SILVA et al., 2014). Complementarmente, em relação aos riscos associados ao excesso de peso e obesidade, a literatura traz pontos de corte para homens e mulhe- res. Para homens, o ponto de corte é de ≥ 37 cm para o sobrepeso e ≥ 39,5 cm para a obesidade, ao passo que, para as mulheres, o valor é de ≥ 34 cm para o sobrepeso e ≥ 36,5 cm para a obesidade, respectiva- mente (BEN-NOUN; SOHAR; LAOR, 2001). A Figura 7 apresenta o ponto anatômico para a medida da circunferência do braço. Esta medida pode ser feita de duas maneiras: com o braço relaxado e com o braço contraído. A primeira é feita na área de maior circunferência do braço, com ele estendido e relaxado, próximo ao tronco (Figura 7A). A outra maneira é fei- ta na maior área de circunferência, com o braço posi- cionado em 90 graus e o antebraço fletido. Ao coman- do do(a) avaliador(a), o(a) avaliado(a) deverá realizar a contração máxima do bíceps (Figura 7B). Figura 6 - Circunferência do pescoço Fonte: os autores. A B Figura 7 - Circunferência do braço. A: medida do braço relaxado. B: medida do braço contraído Fonte: os autores. EDUCAÇÃO FÍSICA 53 A medida da circunferência do antebraço é apre- sentada na Figura 8. Com o cotovelo estendido, essa medida é realizada no ponto de maior circunferên- cia do antebraço. A Figura 9 apresenta o ponto anatômico para a medida da circunferência da coxa. Apresentamos duas maneiras de realizar essa medida: na circunfe- rência da coxa proximal e coxa medial. A primeira é realizada no plano horizontal, sendo a medida con- sumada abaixo da dobra glútea, com o peso corporal distribuído equitativamente em ambos os lados (Figu- ra 9A). A outra maneira é feita no plano horizontal, na metade da distância da língua inguinal e da borda superior da patela, com o peso corporal distribuído equitativamente em ambos os lados (Figura 9B). A Figura 10 apresenta o ponto anatômico para a medida da perna medial (comumente chamada de panturrilha). A medida desse perímetro é rea- lizada no plano horizontal, no ponto de maior cir- cunferência da panturrilha, com o peso corporal do(a) avaliado(a) distribuído equitativamente em ambos os lados. A Figura 11 apresenta a mensuração do perí- metro do tornozelo. A medida é realizada no plano horizontal, acima dos pontos sphyrions tibiale e fibu- lare, com o peso corporal do(a) avaliado(a) distribu- ído equitativamente em ambos os lados. Figura 8 - Circunferência do antebraço Fonte: os autores. Figura 10 - Circunferência da perna medial Fonte: os autores. Figura 11 - Circunferência do tornozelo Fonte: os autores. Figura 9 - Circunferência da coxa. A: medida da coxa proximal. B: medida da coxa medial Fonte: os autores. A B 54 A medida da circunferência da cintura, nor- malmente, é realizada na parte maisestreita do tronco (Figura 12). Outra forma de realizar essa medida é utilizar o ponto médio entre a última costela e a crista ilíaca. Como essa medida é pre- ditora da obesidade central, estudos epidemio- lógicos têm demonstrado sua correlação com complicações à saúde, como doenças cardíacas, diabetes e até morte. A Federação Internacional de Diabetes (2007) propôs alguns pontos de corte que definem o risco à saúde devido à elevada cir- cunferência da cintura. Por exemplo, para a po- pulação adulta sul-americana (o que inclui nós, brasileiros), homens com cintura maior que 90 cm e mulheres com cintura maior que 80 cm estão expostos a maiores riscos à saúde, principalmente por doenças cardiovasculares. A Figura 13 apresenta a circunferência do ab- dome. A mensuração da circunferência do abdome é realizada no mesmo nível da cicatriz umbilical, usualmente descrita sobre a protuberância anterior máxima do abdome. A medida da circunferência do quadril é reali- zada na maior extensão dos glúteos (protuberância glútea), com o(a) avaliado(a) permanecendo com os pés unidos (Figura 14). Em relação à medida dos segmentos corporais, existe também a medida do diâmetro ósseo. Nela, são mensurados pontos anatômicos ósseos por meio de um instrumento denominado paquímetro. Ela tem por finalidade estabelecer a relação desses diâmetros com o crescimento, o desenvolvimento e o estado nutricional (composição corporal) de uma pessoa. Entretanto, devido aos outros tópicos que necessitam de maior atenção nesta unidade, suge- rimos que consulte os livros de avaliação física para maiores detalhes a respeito desse assunto. Figura 12 - Circunferência da cintura Fonte: os autores. Figura 13 - Circunferência do abdome Fonte: os autores. Figura 14 - Circunferência do quadril Fonte: os autores. EDUCAÇÃO FÍSICA 55 A forma como a gordura se distribui no corpo pode ser classificada de duas maneiras: distribuição an- droide e ginoide (Figura 15). A distribuição androi- de é mais comum em homens e se caracteriza pelo acúmulo de gordura na porção superior do corpo (tronco e braços), deixando magra a parte inferior. Nesse tipo de distribuição, a gordura não se loca- liza somente entre a pele e os músculos, mas tam- bém dentro da cavidade abdominal. Devido a isso, está associada ao risco cardiovascular e problemas digestivos. Essa classificação também é conhecida como distribuição em forma de maçã. A distribui- ção ginoide, em contrapartida, é mais comum em mulheres e se caracteriza pelo acúmulo de gordu- ra na porção inferior do corpo. Nela, a maior parte da gordura se localiza nas coxas e culotes, deixando a parte superior do corpo magra. A forma ginoide também é conhecida como distribuição em forma de pêra. Outra forma mais complexa de classificar o tipo corporal é por meio da técnica somatotipológica, proposta por Willian Sheldon e modificada por He- ath e Carter (1967). O somatotipo é um indicador de forma, estrutura e composição corporal. É um óti- mo recurso para analisar as modificações na forma e na estrutura corporal em decorrência do treinamen- to ou pela própria exigência física da atividade rea- lizada. Assim, os indivíduos podem ser classificados em três diferentes tipos corporais (somatotipia), os quais são: endomorfo, mesomorfo e ectomorfo. DISTRIBUIÇÃO DA GORDURA CORPORAL E SOMATOTIPO Figura 15 – Formas androide e ginoide de distribuição da gordura corporal Fonte: Guedes (2013). 56 Segundo Nieman (2001), as descrições para cada somatotipo são: De modo geral, a endomorfia se refere à adiposi- dade corporal; a mesomorfia, ao desenvolvimento muscular, e a ectomorfia, à linearidade específica. É possível determinar o somatotipo por meio de cálculos matemáticos que utilizam algumas medi- das antropométricas. No entanto, devido à exten- são desse cálculo, sugerimos que consulte os livros de avaliação física para maiores detalhes a respeito desse assunto. Dando continuidade ao nosso estudo da antro- pometria, o próximo ponto de estudo será a avalia- ção da composição corporal. ENDOMORFO Apresentam maior proporção de gordura corporal; maior facilidade para desenvolver a massa muscular; maior facilidade para depositar gordura corporal; maior di�culdade para emagrecer e, usualmente, denota ossos largos, quadris e coxas maiores que os demais (meso- morfo e ectomorfo), bem como manifestam o rosto mais arredondado. MESOMORFO Apresentam corpo atlético com facilidade para ganhar massa muscular; por vezes, a cintura dos mesomorfos é baixa, e os ombros são largos; maçã do rosto destacada e mandíbula quadrada. ECTOMORFO São magros, de estatura �na e linear; rosto propende a ser triangular; di�cilmente ganham peso corporal; têm di�culdade para ganhar massa muscular quando comparados aos demais. ENDOMORFO Apresentam maior proporção de gordura corporal; maior facilidade para desenvolver a massa muscular; maior facilidade para depositar gordura corporal; maior di�culdade para emagrecer e, usualmente, denota ossos largos, quadris e coxas maiores que os demais (meso- morfo e ectomorfo), bem como manifestam o rosto mais arredondado. MESOMORFO Apresentam corpo atlético com facilidade para ganhar massa muscular; por vezes, a cintura dos mesomorfos é baixa, e os ombros são largos; maçã do rosto destacada e mandíbula quadrada. ECTOMORFO São magros, de estatura �na e linear; rosto propende a ser triangular; di�cilmente ganham peso corporal; têm di�culdade para ganhar massa muscular quando comparados aos demais. ENDOMORFO Apresentam maior proporção de gordura corporal; maior facilidade para desenvolver a massa muscular; maior facilidade para depositar gordura corporal; maior di�culdade para emagrecer e, usualmente, denota ossos largos, quadris e coxas maiores que os demais (meso- morfo e ectomorfo), bem como manifestam o rosto mais arredondado. MESOMORFO Apresentam corpo atlético com facilidade para ganhar massa muscular; por vezes, a cintura dos mesomorfos é baixa, e os ombros são largos; maçã do rosto destacada e mandíbula quadrada. ECTOMORFO São magros, de estatura �na e linear; rosto propende a ser triangular; di�cilmente ganham peso corporal; têm di�culdade para ganhar massa muscular quando comparados aos demais. EDUCAÇÃO FÍSICA 57 Sabemos que a prática regular de atividade física pro- porciona um leque de benefícios à saúde das pessoas, que vão desde a simples sensação de bem-estar até o tratamento de doenças. Um desses benefícios popu- larmente vinculados à atividade física é o controle do peso corporal. Assim, é comum vermos pessoas que buscam praticar exercícios físicos tanto para ganhar quanto para perder peso. Quando as pessoas se exer- citam com o propósito de ganhar peso, o seu foco está em aumentar quantidade de massa muscular; já quando a finalidade é perder peso, o foco está em re- duzir a quantidade de gordura corporal. No entanto, a medida do peso corporal pode ser considerada um bom parâmetro para avaliar esse ganho ou perda? A resposta é sim! Porque é a medida do peso corporal que dirá dizer se houve ganho ou perda. Entretanto, utilizá-la de maneira isolada pode indu- zir a interpretações equivocadas dos resultados, uma vez que o peso corporal retrata apenas a soma das quantidades dos diferentes tecidos (músculo, gordu- ra, órgãos, entre outros) do corpo humano. Sendo assim, para saber se o ganho de peso foi resultado do aumento da massa muscular; ou a se perda de peso foi devido à redução da gordura corporal, faz-se ne- cessário quantificar esses tecidos. Medir e quantificar a massa corporal total (peso corporal) a partir dos diferentes tecidos do corpo humano são os objetivos do estudo da composição Avaliação da Composição Corporal corporal (GUEDES; GUEDES, 2003). O corpo hu- mano é dinâmico, seus componentes estruturais so- frem alterações ao longo de toda a vida, em virtude de fatores como o crescimento e o desenvolvimento, o estado nutricional, o nível de atividadefísica, as doenças, entre outros. Dessa forma, acompanhar as mudanças desses componentes pode aumentar nosso entendimento sobre aspectos do crescimento e envelhecimento, do metabolismo energético e de várias doenças que alteram a composição corporal. Relata-se que a curiosidade de mensurar a quantidade dos diversos componentes do corpo humano teve início no século XIX (HEYWARD; STOLARCZYK, 2000), e aumentou no final do sé- culo XX, devido à associação do excesso de gordura corporal com diversas doenças (MONTEIRO; FER- NANDES FILHO, 2002). Monitorar mudanças na quantidade de gordura corporal e massa muscular, por exemplo, pode levar ao desenvolvimento de es- tratégias de intervenção nutricional e de exercícios físicos mais eficientes para combater problemas como o excesso de peso, a desnutrição, a debilidade causada pelo envelhecimento, além de certas doen- ças e lesões (HEYWARD; STOLARCZYK, 2000). Nesse sentindo, uma peculiaridade da avaliação da composição corporal é que, por meio da análise dos componentes do corpo, ela permite estimar o peso corporal saudável de determinada pessoa. 58 Por exemplo, a estimativa do peso corporal saudável é um ponto fundamental no tratamento de pessoas que sofrem com excesso de peso (so- brepeso e obesidade), pois possibilita o estabeleci- mento de metas e a formulação de recomendações nutricionais e programas de exercícios físicos. Além da finalidade terapêutica, a estimativa do peso corporal ideal também é importante para atletas, pois alguns esportes, como as lutas, o le- vantamento de peso e o fisiculturismo, utilizam o peso corporal como parâmetro de categorização dos competidores. Dentre as aplicações da avaliação da composição corporal que podem ser utilizadas pelos profissio- nais da saúde e do condicionamento físico, Heyward e Stolarczyk (2000) apontam as seguintes: CONCEITOS RELACIONADOS À AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CORPORAL No estudo da composição corporal, existem ter- mos que retratam aquilo que está sendo medido, e compreendê-los é de fundamental importância para evitar interpretações equivocadas. Por exemplo, fre- quentemente, o termo “massa magra” é utilizado para descrever a porção da massa corporal total que não contém gordura. Entretanto, será que isso é cor- reto? Vejamos a Figura 16. MASSA CORPORAL TOTAL RESÍDUO MINERAL PROTEÍNA ÁGUA MASSA MAGRA GORDURA GORDURA MASSA LIVRE DE GORDURA LIPÍDIOS ESSENCIAIS LIPÍDIOS NÃO-ESSENCIAIS Figura 16 - Modelo de fracionamento da composição corporal Fonte: adaptado de Rocha e Guedes Junior (2013). Podemos observar que a massa magra não é total- mente livre de gordura. Além da porção residual, mineral, proteica e líquida, ela também conside- ra os lipídios essenciais (gordura essencial) em sua constituição. Sendo assim, a porção da massa corporal total que não contém gordura é melhor descrita pelo termo “massa isenta de gordura” (ROCHA; GUEDES JUNIOR, 2013). Dentre os principais termos utilizados no estudo da composição corporal, podemos destacar: Estimar o peso corporal ideal de indivíduos não-atletas e atletas. Identificar os riscos à saúde relacionados aos níveis elevados ou baixos de gordura corporal. Monitorar as alterações na composição cor- poral associadas a determinadas doenças. Acompanhar as mudanças na composição corporal relacionadas ao crescimento, ao desenvolvimento, à maturação e à idade. Elaborar e avaliar intervenções nutricionais e programas de exercícios físicos. EDUCAÇÃO FÍSICA 59 Também conhecidos como “gordura essencial”, são compostos de fosfolipídios, constituintes da membrana celular e participantes do funcionamento �siológico normal. Correspondem a, aproximadamente, 10% dos lipídios corporais totais. Lipídios Essenciais É o “percentual de gordura corporal”, ou seja, é a massa gorda expressa como porcentagem da massa corporal total (peso corporal). Gordura Corporal Relativa É a massa corporal total expressa em relação ao volume corporal total. Densidade Corporal Total Consiste na gordura subcutânea e visceral da região abdominal. Gordura Abdominal É gordura visceral da cavidade abdominal. Gordura Intra-abdominal É o tecido adiposo acumulado sob a pele. Gordura Subcutânea É tecido adiposo acumulado entre e em volta dos órgãos das cavidades torácicas (pulmões, coração) e abdominal (fígado, rins etc). Gordura Visceral É entendida como todos os tecidos e líquidos corporais (músculos, ossos, tecidos conjuntivos e órgãos internos). Massa Livre de Gordura Corresponde à massa livre de gordura somada à gordura essencial (de 2% a 3% nos homens, e entre 5% e 8% nas mulheres). Massa Corporal Magra Chamados de “gordura não essencial”, são formados pelos triglicérides encontrados principal- mente no tecido adiposo (constituem cerca de 90% dos lipídios corporais totais). Lipídios Não-Essenciais Corresponde à soma das gorduras essenciais e não-essencial (todos os lipídios que podem ser removidos do tecido adiposo e outros tecidos). Massa Gorda 5% 8% 90% 10% 60 Modelos Teóricos de Análise e Métodos da Avaliação da Composição Corporal Ao longo do desenvolvimento do estudo da composição corporal, foi criada uma série de modelos teóricos com o propósito de ex- plicar quais são os componentes que cons- tituem a massa corporal dos seres humanos (Figura 17). Cada modelo possui suas carac- terísticas conceituais e respectivas técnicas de fracionamento da massa corporal total. Esses modelos teóricos são utilizados para obter medidas referenciais para o desen- volvimento de métodos e equações de aná- lise da composição corporal (HEYWARD; STOLARCZYK, 2000). De acordo com Wang e colaboradores (1992), os modelos de composição corporal estão organizados em cinco níveis distintos: atômico, molecular, celular, órgão-tecidual e corpo inteiro. A soma dos componentes que integram cada nível é igual a massa cor- poral total (peso corporal). EDUCAÇÃO FÍSICA 61 Figura 17 - Cinco níveis da composição corporal Fonte: adaptado de Wang et al. (1992). Podemos observar que, no nível atômico, a massa cor- poral total é formada, em 96%, por quatro elementos: oxigênio, carbono, hidrogênio e nitrogênio. A maior parte desses elementos pode ser medida in vivo e, a partir desses, tanto a massa magra como a massa gorda podem ser estimadas. O nível molecular é formado por seis componentes: água, lipídios, proteínas, carboidra- tos, minerais ósseos e outras moléculas. O nível celular é composto por três componentes: os sólidos extra- celulares, os líquidos extracelulares e as células. Estas podem ser divididas em dois componentes, gordura e massa celular. O nível órgão-tecidual engloba o tecido adiposo, o músculo esquelético, as vísceras e os ossos. Por fim, o nível de corpo inteiro pode ser divido em regiões, como os apêndices (braços e pernas), o tronco e a cabeça. O tronco e os membros, normalmente, são descritos por meio das medidas antropométricas (cir- cunferências, pregas cutâneas e outras). A maior parte dos modelos de análise da com- posição corporal declara que o corpo é constituído de dois componentes distintos (LUKASKI, 1987; WANG et al., 2000). No modelo clássico de dois componentes, a massa corporal total é fracionada em massa gorda e de massa livre de gordura, sendo que a gorda consiste em todos os lipídios que podem ser extraídos, e a livre de gordura inclui água, pro- teínas e componentes minerais (HEYWARD; STO- LARCZYK, 2000). Baseada em medidas observadas a partir da dissecação de cadáveres, a aplicação desse modelo requer os seguintes pressupostos (BROZEK et al., 1963; SIRI, 1961): 1. A densidade da gordura equivale a 0,091 g/cm3. 2. A densidade da massa livre de gordura equi- vale a 1,10 g/cm3. 3. Para todos os indivíduos, as densidades de gordura e dos componentes da massa livre de gordura são as mesmas. 4. As densidades dos tecidos que compõem a massa livre de gordura são constantes em um indivíduo. 5. Oindivíduo a ser avaliado diferirá do corpo referencial somente na quantidade de gordura. A massa livre do corpo referencial é estabele- cida como composta por 73,8% de água, 19,4% de proteínas e 6,8% de minerais. Nitrogênio e outros elementos Sólidos extracelulares Outros tecidos Osso Órgãos viscerais Músculo esquelético Tecido adiposo Líquidos extracelulares Células Minerais, carboidratos e outras moléculas Hidrogênio Proteína Lipídio Água Carbono Oxigênio Nível atômico Nível molecular Nível celular Nível de tecidos e órgãos Nível de corpo inteiro 62 Esse modelo de dois componentes serve como fundamento teórico para técnicas de avaliação da composição corporal, como a medida da densida- de corporal (pesagem hidrostática e pletismogra- fia) e a antropometria (pregas cutâneas e circun- ferências). Os modelos que incluem três ou mais compo- nentes são chamados de modelos multicomponen- tes. Estes possuem maiores aplicabilidade e precisão. Um exemplo que segue o modelo é a Absorciometria de raio X de dupla energia, ou DEXA; que fraciona a massa corporal total em massas gorda, magra e mi- neral óssea. Os modelos multicomponentes podem ser usados para: A. Conseguir medidas de referência acuradas (precisas). B. Elaborar equações de estimativa da composi- ção corporal. C. Testar a validade e a aplicabilidade dos méto- dos e das equações de estimativa. Alguns fatores podem influenciar a composição corporal, dentre eles a idade, o condicionamento físico e o estado de hidratação do(a) avaliado(a). Por exemplo, normalmente, a massa livre de gor- dura das crianças é menos densa se comparada a dos adultos; ou, ainda, a densidade óssea tende a diminuir conforme o avanço da idade. Em relação ao condicionamento físico, atletas tendem a apre- sentar músculos e ossos mais densos. Já o estado de hidratação pode alterar os resultados da com- posição corporal. MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA COMPOSI- ÇÃO CORPORAL De acordo com os estudiosos da composição cor- poral, existem três métodos de avaliação da com- posição corporal: o método direto, os indiretos e os duplamente indiretos (MARTIN; DRINKWATER, 1991). O método direto possui elevada precisão, pois se trata de uma análise in vitro, por meio da dissecação física ou físico-química de cadáveres. Assim, nesse mé- todo, há a separação dos componentes estruturais do corpo humano, com o propósito de pesá-los e estabe- lecer relações entre eles e a massa corporal total. No entanto, sua utilidade é bem limitada, devido aos pro- blemas éticos e aos próprios procedimentos técnicos que impõem dificuldades ao uso (MONTEIRO; FER- NANDES FILHO, 2002). Apesar de apresentar limita- ções, esse método é muito importante, porque fornece embasamento teórico e apresenta alta correlação com os métodos indiretos (PITANGA, 2004). Os métodos indiretos também oferecem estimati- vas muito precisas e possuem a vantagem de permitir uma análise in vivo. Esses métodos fazem uso de prin- cípios químicos e/ou físicos para estimar as quantida- des de massa de gordura e massa livre de gordura. Os equipamentos para avaliar indiretamente a composi- ção corporal são frequentemente utilizados na prática clínica, mas, principalmente, nos estudos científicos. Entretanto, em razão do elevado custo desses equipa- mentos, da necessidade de profissionais capacitados e das dificuldades em envolver os(as) avaliados(as) nos protocolos de medida, a aplicação prática desses mé- todos é limitada (LUKASKI, 1987). Os métodos duplamente indiretos são validados a partir dos métodos indiretos (SANT'ANNA; PRIORE; FRANCESCHINI, 2009). São métodos menos rigorosos, contudo, devido ao baixo custo e a maior facilidade operacional dos equipamentos, são os mais utilizados na prática clínica, no campo da pesquisa, sendo os principais métodos utilizados na Educação Física (ROCHA; GUEDES JUNIOR, 2013). EDUCAÇÃO FÍSICA 63 64 Técnicas da Avaliação da Composição Corporal EDUCAÇÃO FÍSICA 65 Cada método de avaliação da composição corporal tem suas vantagens e desvantagens; por consequên- cia, cada um possui seu valor (grau de importância). O valor é dado quando percebemos que o método escolhido será o meio ideal para suprir a necessida- de do(a) avaliado(a) e/ou do(a) avaliador(a) (MON- TEIRO; FERNANDES FILHO, 2002). Desse modo, o método ideal para a avaliação da composição corpo- ral é aquele que atinge os objetivos propostos, dentro das possibilidades, em um determinado momento. Com base nos métodos, a avaliação da composi- ção corporal pode ser realizada por meio de técnicas com procedimentos de determinação direta, indireta ou duplamente indireta. TÉCNICAS DE MEDIDA DIRETA As técnicas de medida direta são aquelas que envol- vem o processo de dissecação de cadáveres. Desde os primeiros estudos da análise da composição cor- poral até o presente momento, a dissecação é consi- derada a única maneira direta de medir os princi- pais componentes do corpo humano (MONTEIRO; FERNANDES FILHO, 2002). A pesquisa mais aprofundada sobre a análise direta da composição corporal foi o Estudo da Análise de Ca- dáver de Bruxelas (Cadaver Analysis Study - CAS). Esta pesquisa ocorreu entre os anos de 1979 e 1983, e avaliou mais de 30 cadáveres. No CAS, as medidas das pregas cutâneas foram diretamente comparadas com as medi- das da pele e do tecido adiposo subcutâneo. Além disso, a pele, o tecido adiposo, o músculo esquelético, os ossos e as vísceras foram dissecados e pesados no ar e embai- xo da água, a fim de determinar a densidade dos órgão e tecidos (CLARYS, 1987; MARTIN; DRINKWATER, 1991). Dessa forma, o CAS possibilitou a validação de muitos métodos in vivo e forneceu dados para o desen- volvimento de novos modelos antropométricos utiliza- dos na avaliação da composição corporal. TÉCNICAS DE MEDIDAS INDIRETAS As técnicas de medida indireta da avaliação são vali- dadas pelo método direto, e fornecem estimativas da composição corporal. Elas são precisas, porém, pos- suem uma aplicação prática limitada e um custo finan- ceiro elevado (MONTEIRO; FERNANDES FILHO, 2002). Em nosso estudo, serão apresentadas, de ma- neira breve, as seguintes técnicas de avaliação indireta da composição corporal: pesagem hidrostática, pletis- mografia, Absorciometria de raio X de dupla energia (DEXA), ultrassonografia, tomografia computadoriza- da, ressonância magnética e hidrometria. Existem ou- tras técnicas indiretas, no entanto, por serem as mais utilizadas, só serão apresentadas as já citadas. PESAGEM HIDROSTÁTICA A pesagem hidrostática, ou hidrodensitometria, é con- siderada o padrão-ouro (gold standard), ou seja, a téc- nica referência da avaliação da composição corporal. Sendo assim, é muito utilizada para validar as técnicas duplamente indiretas. Ela considera que o corpo é for- mado por dois componentes distintos, a massa gorda e a massa livre de gordura. Portanto, é baseada no mo- delo de dois compartimentos. Esta é uma técnica de pesagem submersa em água (Figura 18), baseada no princípio proposto pelo matemático grego Arquime- des. De acordo com esse princípio, o volume de um corpo mergulhado em água é igual à água que ele des- loca. Assim, na pesagem hidrostática, o volume corpo- ral pode ser calculado por meio do deslocamento da água. Determinar esse volume é importante para que a densidade corporal possa ser calculada. 66 Figura 18 - Pesagem hidrostática Fonte: os autores. Variáveis como o gás gastrointestinal, o volume residual de ar nos pulmões e a densidade da água são controladas, pois interferem diretamente nos valores da densidade corporal. Uma vez calculada a densidade corporal, é possível estimar o percentual de gordura corporal por meio dos modelos matemá- ticos propostos por Siri (1956) e Brozek (1963). Tais modelos foram baseados nos primeiros estudos de cadáveres, como o CAS (citado anteriormente). A pesagem hidrostática apresenta excelente pre- cisão para a medida da densidade corporal,no en- tanto, o exame é demorado (são realizadas entre oito e 12 pesagens, com duração entre 30 a 60 minutos), requer que o(a) avaliado(a) siga um protocolo de ava- liação e que seja minimamente adaptado(a) ao meio líquido (MONTEIRO; FERNANDES FILHO, 2002). PLETISMOGRAFIA Assim como a pesagem hidrostática, a pletismo- grafia é uma técnica de densitometria utilizada para determinar o volume de um corpo. No entanto, ela estima o volume corporal por meio do deslocamento de ar ao invés da água. Baseada na lei de Boyle, essa técnica utiliza a relação inversa entre pressão e volume para determinar o volume corpo- ral. Determinado esse, é possível avaliar a compo- sição corporal por meio do cálculo da densidade corporal, e em seguida, do percentual de gordura, assim como na pesagem hidrostática. Portanto, essa também é uma técnica baseada no modelo de dois compartimentos. O aparelho de pletismografia, ou Bod Pod®, é um tipo de câmara feita de fibra de vidro, acopla- da a um computador (Figura 19). O computador determina as variações no volume de ar e de pres- são no interior da câmara vazia e ocupada, fazendo ajustes para variáveis pulmonares necessárias à es- timativa do volume corporal (MONTEIRO; FER- NANDES FILHO, 2002). Comparada à pesagem hidrostática, essa técni- ca de determinação da composição corporal pos- sui menor duração (entre três e cinco minutos) e depende menos da cooperação do(a) avaliado(a) (HOWLEY; FRANKS, 2000). Vários estudos têm demonstrado a validade dos resultados de com- posição corporal apresentados pela pletismogra- fia em comparação à pesagem hidrostática, de- terminando, assim, a validade desse método para diferentes populações (SANT’ANNA; PRIORE; FRANCESCHINI, 2009). EDUCAÇÃO FÍSICA 67 Câmara 1 Computador Eletrônica Janela Câmara de referência Sistema diafragma Câmara 2 Figura 19 - Pletismografia Fonte: os autores. ABSORCIOMETRIA DE RAIO X DE DUPLA ENERGIA (DEXA) Citada anteriormente, a Dexa (do inglês Dual-energy X-ray absorptiometry) é uma técnica de diagnóstico que mede as atenuações de dois raios X que trans- passam o corpo. O aparelho utilizado se assemelha a um escâner, em que os raios X são emitidos por uma fonte que passa por baixo do indivíduo, sendo que o(a) avaliado(a) deve permanecer em decúbito dorsal (barriga para cima) sobre a plataforma (Figu- ra 20); após passarem por todo o corpo do indivíduo ou parte dele, os raios X atenuados são medidos por um detector de energia. Dessa forma, a Dexa é capaz de medir os tecidos ao invés de estimá-los (MON- TEIRO; FERNANDES FILHO, 2002). A 68 B Figura 20 - Absorciometria de raio X de dupla energia (DEXA). A: equi- pamento e simulação da avaliação. B: imagem e dados gerados pela ava- liação da composição corporal. Fonte: Shutterstock e Kids Kunst ([2019], online)1. Esta é uma técnica baseada no modelo de três compo- nentes corporais, que permite medir a massa de gor- dura, a massa livre e a óssea. A Dexa é uma tecnologia bastante confiável (GOING et al., 1933; WELLENS et al., 1994) e vem sendo reconhecida como a próxima técnica de referência na análise da composição cor- poral (ROUBENOFF et al., 1993). Sua avaliação é re- lativamente rápida, com duração de 20 a 35 minutos e requer pouca cooperação do(a) avaliado(a). Entre- tanto, apresenta alguns fatores limitantes que devem ser levados em consideração, como o alto custo do equipamento e a exposição à radiação, apesar de baixa (MONTEIRO; FERNANDES FILHO, 2002). ULTRASSONOGRAFIA A ultrassonografia é uma técnica de diagnóstico por imagem muito empregada na medicina, que utiliza o eco gerado por ondas de som de alta frequência para visualizar as estruturas internas do organismo (Figura 21). Essa técnica permite verificar as espes- suras do músculo e da gordura em várias partes do corpo (MONTEIRO; FERNANDES FILHO, 2002). A B Figura 21 - Ultrassonografia. A: equipamento de ultrassom. B: equipa- mento e simulação da avaliação A ultrassonografia é considerada uma técnica segu- ra, contudo, algumas limitações, como custo e difi- culdade técnica, podem restringir o seu uso (MON- TEIRO; FERNANDES FILHO, 2002). EDUCAÇÃO FÍSICA 69 TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA A tomografia computadorizada é uma técnica de diagnóstico que produz imagens com grande clareza de qualquer parte do interior do corpo humano (Fi- gura 22). Ela constrói uma imagem tridimensional em corte transversal do corpo humano (Figura 22B) por meio das pequenas diferenças em atenuação do raios X para as diferentes densidades dos tecidos (MONTEIRO; FERNANDES FILHO, 2002). Dessa maneira, a tomografia computadorizada permite o estudo de secções (cortes) transversais do corpo humano, ao contrário do que é dado pelo Dexa, por exemplo, que consiste na representação de todas as estruturas do corpo sobrepostas. As imagens produzidas pela tomografia computado- rizada podem fornecer dados sobre a quantidade e distribuição do tecido adiposo (RÖSSNER et al., 1990) e do tecido magro, como o músculo esque- lético (GOODPASTER; THAETE; KELLEY, 2000). Alguns fatores que limitam o uso dessa técnica são: a exposição à radiação (principalmente em mulheres grávidas e crianças), o alto custo do equipamento e a necessidade de técnicos especializados para o seu manuseio (LUKASKI, 1987). A B Figura 22 - Tomografia computadorizada. A: equipamento e simulação da avaliação. B: imagens geradas pela avaliação da composição corporal da região abdominal RESSONÂNCIA MAGNÉTICA A ressonância magnética é uma técnica de diagnós- tico que utiliza forte campo magnético (radiação ele- tromagnética) para gerar imagens internas do corpo (Figura 23A). Ela não envolve raios X, o que a distin- gue, por exemplo, da tomografia computadorizada. De modo simplificado, essa técnica opera por meio dos pulsos de frequência de rádio, que excitam o núcleo dos hidrogênios contidos na água corporal e nas molécu- las lipídicas do corpo. A energia da frequência de rádio captada pelos núcleos, quando liberada, é registrada pelo equipamento, o que o permite construir imagens (MONTEIRO; FERNANDES FILHO, 2002). Essa técnica produz uma imagem tridimensional em corte transversal do corpo humano (Figura 23B), assim como a tomografia computadorizada. Constitui excelente ferramenta de avaliação da massa muscular e da forma como a gordura corporal se distribui. A exa- tidão de suas medidas a classifica como padrão-ouro (referência) para a validação de outros métodos que também medem a gordura corporal e o músculo es- quelético (ROSS et al., 2000). Contudo devido ao cus- to elevado e à dificuldade técnica (LUKASKI, 1987), é mais utilizada em hospitais, para diagnóstico médico. 70 A B Figura 23 - Ressonância magnética. A: equipamento e simulação da avaliação. B: imagens geradas pela avaliação da composição corporal da região abdominal HIDROMETRIA A hidrometria é uma técnica invasiva, devido à necessidade de aplicar uma substância no(a) ava- liado(a). Ela permite a estimativa da água corporal total, por meio da ingestão de uma substância con- tendo, normalmente, os isótopos de trítio (3H2O) ou de deutério (2H2O); essa substância será distri- buída igualmente por toda a água contida no corpo (MONTEIRO; FERNANDES FILHO, 2002). Essa técnica parte do pressuposto de que a água é o maior componente do nosso corpo (entre 60% e 50% da massa corporal), e que a massa livre de gordura possui, em média, 73,2% de água. Além disso, como o tecido adiposo quase não tem água, sugere-se que a maior parte dela é encontrada na massa livre de gordura. Dessa forma, a medida da água corporal total permite o cálculo da massa gorda total. Portanto, essa técnica de diluição de isótopos segue o modelo de dois componentes da composição corporal. Normalmente, essa técnica de diluição de isó- topos utiliza uma substância marcadora, cujos concentração e volume são conhecidos, e que é administrada via oral ou parenteral (injeções) (LUKASKI, 1987). O isótopoadministrado leva entre duas e quatro horas para se equilibrar na água corporal do(a) avaliado(a). Após esse pe- ríodo, uma amostra de sangue, urina ou saliva é coletada, e a concentração do isótopo (substância marcadora) na amostra é analisada em um apare- lho específico. A hidrometria deve ser utilizada com cautela em idosos, adolescentes e crianças, devido à variação no conteúdo de água desses indivíduos, o que pode conduzir a resultados imprecisos. Dentre as limita- ções dessa técnica, são consideradas a necessidade de técnicos especializados, a dificuldade da análise e o custo elevado (LUKASKI, 1987; MONTEIRO; FERNANDES FILHO, 2002). TÉCNICAS DE MEDIDAS DUPLAMENTE INDIRETAS As técnicas de medida duplamente indireta da ava- liação são validadas pelos métodos indiretos e for- necem estimativas da composição corporal. Elas possuem alta correlação com as técnicas indiretas de avaliação, têm ampla aplicação prática e, geralmen- te, custo acessível (ROCHA; GUEDES JUNIOR, EDUCAÇÃO FÍSICA 71 2013). Essas são as técnicas normalmente emprega- das nos processos de avaliação física, nas diversas áreas da Educação Física. Em nosso estudo, serão apresentadas, de maneira breve, as seguintes técni- cas de avaliação duplamente indireta da composi- ção corporal: medida das dobras cutâneas, medidas antropométricas, bioimpedância elétrica e interac- tância por infravermelho. Em ordem, discutiremos a aplicabilidade dos métodos duplamente indiretos elencados na presente seção. Medidas das dobras cutâneas A medida da espessura das dobras cutâneas é a técnica comumente empregada para estimar a adiposidade corporal, por se tratar de uma me- dida simples, confiável (caso seja seguida a pa- dronização correta), de baixo custo operacional e de fácil interpretação dos resultados. Além disso, pode ser empregada em diferentes grupos, tanto para o desempenho físico-esportivo quanto para a qualidade de vida e saúde (GASSI et al., 2016). O instrumento utilizado para verificar o va- lor (espessura) das dobras cutâneas é o compas- so de dobras cutâneas, conhecido também como adipômetro ou plicômetro. O adipômetro mede a espessura da gordura subcutânea de certos pon- tos anatômicos; a partir dessas medidas, é possí- vel estimar o percentual de gordura corporal, bem como os pesos da massa magra e da gordura cor- poral em quilograma, por meio de diversas equa- ções (descritas adiante). Existem diferentes mo- delos de compassos (Figura 24), porém, os mais confiáveis são o modelo Harpenden e o Lange, por apresentarem constância nas molas de pinçamen- to, bem como elevada reprodutibilidade em dife- rentes medidas (GUEDES, 2003). Figura 24 - Diferentes modelos de adipômetros. A: modelo Harpenden (científico). B: modelo Lange. C: modelo Clínico. D: marcadores demo- gráficos. Fonte: os autores. A B C D 72 Para a correta obtenção das medidas na avaliação das dobras cutâneas, é necessário seguir algumas normas. De acordo com Guedes (2013): 1 As medidas deverão ser realizadas sempre no hemicorpo direito do avaliado(a). 2 Os pontos anatômicos deverão ser previamente identi�cados e marcados com lápis dermográ�co (Figura 9D). 3 O tecido subcutâneo deverá ser de�nido mediante o pinçamento do polegar e dedo indicador da mão esquerda. 4 A dobra deve ser destacada corretamente. 5 A dobra precisará ser elevada a, pelo menos, 1 cm do ponto em que será feita a medida. 6 A dobra precisará �car elevada enquanto se realiza a medida propriamente dita. 7 A pressão das hastes do adipômetro deverá ser solta lentamente. 8 A medida deverá ser feita entre dois e três segundos. 9 O processo necessita de três medidas de cada dobra em forma de rodízio. 10 Será utilizada a mediana como parâmetro (vide Unidade 1). 11 Os três valores não poderão oscilar mais que 5%, caso haja diferença maior, a medida deverá ser repetida. 12 A consecução das medidas não poderá ser realizada após o exercício físico, pois há o deslocamento de �uídos corporais para a pele e, consequentemente, será mais elevada a espessura das dobras cutâneas. EDUCAÇÃO FÍSICA 73 É oportuno reforçar que a medida da espessura das dobras cutâneas se configura como uma técni- ca extensamente utilizada, principalmente entre os professores de Educação Física. Contudo ela não é validada para o público obeso. Medidas de dobras maiores que 40 milímetros podem apresentar vieses (erros) de medida (GUEDES, 2013). Sendo assim, para essa população, são recomendados outros pa- râmetros de mensuração, como o IMC, a circunfe- rência da cintura e a bioimpedância elétrica. No decurso das avaliações, é indispensável a ob- servação de alguns pontos para a obtenção das me- didas com elevada a reprodutibilidade (intra e inte- ravaliadores): Tipo de adipômetro que será utilizado. Experiência do(a) avaliador(a). Característica morfológica do(a) avaliado(a). De�nição da equação/fórmula para a predição das variáveis relacionadas à composição corporal. A seguir, serão apresentados os pontos anatômicos para a mensuração das dobras cutâneas, de acordo com Costa (2001) e Gassi et al. (2016). Ressalta-se que, para a condução das medidas antropométricas, o(a) avaliado(a) deve estar com roupas leves, prefe- rencialmente esportivas. Para as mulheres, indica-se a utilização de top e shorts de lycra curto. Para os homens, a sunga, ou apenas shorts. O primeiro ponto (Figura 25) mostra o local da dobra cutânea tricipital. Para ela, toma-se, como re- ferência anatômica, o ponto médio entre o acrômio e o olécrano do braço do(a) avaliado(a). O ponto anatômico da dobra cutânea subes- capular é apresentado na Figura 26. Para essa do- bra, toma-se, como referência anatômica, o ângulo inferior da escápula, sendo a medida realizada 2 cm abaixo desse ângulo. A Figura 27 apresenta o ponto anatômico para a mensuração da dobra cutânea bicipital. Para a do- bra cutânea subescapular, toma-se, como referência anatômica, o ponto médio entre o acrômio e o olé- crano, mantendo a palma da mão do(a) avaliado(a) voltada para frente. Figura 25 - Dobra tricipital Fonte: os autores. Figura 26 - Dobra subescapular Fonte: os autores. Figura 27 - Dobra bicipital Fonte: os autores. 74 O ponto anatômico para a mensuração da dobra cutânea peitoral é apresentado na Figura 28. Para a dobra cutânea peitoral em mulheres (Figura 28A), é utilizado o terço proximal entre a linha axilar an- terior e o mamilo, ou 3 cm abaixo da linha axilar anterior. Em homens (Figura 28B), usa-se o ponto médio entre a linha axilar anterior e o mamilo. A Figura 29 apresenta o ponto anatômico para a mensuração da dobra cutânea axilar média. Nes- ta, se utiliza o ponto de coincidência entre as linhas imaginárias do processo xifoide e a linha sagital mé- dia do corpo. A B Figura 28 - Dobra peitoral. A: medida da dobra em mulheres. B: medida da dobra em homens Fonte: os autores. Figura 29 - Dobra axilar média Fonte: os autores. O ponto anatômico para a tomada da dobra cutânea su- prailíaca é apresentado na Figura 30. Para a dobra cutâ- nea suprailíaca, usa-se, como ponto de medida, 2 cm acima da crista ilíaca, na linha da dobra axilar anterior. A Figura 31 apresenta o ponto anatômico para a mensuração da dobra cutânea abdominal. Nesta, se usa, como ponto de medida, 2 cm à direita da cicatriz umbilical. A Figura 32A mostra o ponto anatômico da do- bra coxa. Para a dobra cutânea da coxa, utiliza-se o ponto médio entre a distância da prega inguinal e a borda superior da patela. Outra dobra que também tem sido usada é a coxa proximal (Figura 32B), que se refere ao terço superior da distância entre a prega inguinal e a borda superior da patela. Figura 31 - Dobra abdominal Fonte: os autores. Figura 30 - Dobra suprailíaca Fonte: os autores. A B Figura 32 - Dobra coxa. A: medida da dobra medial. B: medida da dobra proximal Fonte: os autores. EDUCAÇÃO FÍSICA 75 A Figura 33 apresenta o ponto anatômico da dobra cutânea da perna medial. Nesta,se utiliza, como ponto de medida, o ponto de maior circunferência da pantur- rilha, na porção medial. Figura 33 - Perna medial Fonte: os autores. Como dito anteriormente, existem diversas equa- ções para estimar os componentes da composição corporal a partir das medidas das dobras. De acordo com a proposta dos autores, as equações podem uti- lizar de três até sete dobras no cálculo. Essas equa- ções determinam a densidade corporal e são classi- ficadas como específicas (desenvolvidas a partir de amostras homogêneas) e generalizadas (desenvolvi- das a partir de amostras heterogêneas). Enquanto as equações específicas contemplam apenas determinadas populações, as equações gene- ralizadas são aplicáveis a uma população mais abran- gente. Elas são construídas com amostras heterogê- neas, com variadas idades, composições corporais e níveis de aptidão física. Dentre as várias equações generalizadas, vale destacar as propostas por Jack- son e Pollock, muito utilizadas em todo o mundo. Nos Quadros 1 e 2 são apresentadas algumas das equações generalizadas mais utilizadas para a esti- mativa da densidade corporal ou percentual de gor- dura, de acordo com o sexo. 76 Quadro 1 - Equações generalizadas para o cálculo da densidade corporal ou percentual de gordura no sexo feminino Sexo Feminino Fórmula Faixa Etária Autor(es) Dc = 1,0970 – [0,00046971 x (TR + SI + CX + AB + PE + SE + AM)] + [0,00000056 x (TR + SI + CX + AB + PE + SE + AM)2] – [0,00012828 x Idade] 18 a 55 anos. Jackson, Pollock e Ward (1980). Dc = 1,0994921 – [0,0009929 x (TR + SI + CX)] + [0,0000023 x (TR + SI + CX)²] – (0,0001392 x Idade) 18 a 55 anos. Jackson, Pollock e Ward (1980). Dc = 1,03465850 – 0,00063129 x (AM + SI + CX + PA) + 0,00000187 x (AM + SI + CX + PA)2 – 0,000311 x Idade – 0,00048890 x MC + 0,00051345 x Estatura 18 a 51 anos. Petroski (1995). %G = 0,55 x TR + 0,31 x SE + 6,13 17 a 26 anos. McArdle et al. (1998). Dc = densidade corporal; %G= percentual de gordura; TR = dobra cutânea tricipital; SE = dobra cutânea subescapular; AM = dobra cutânea axilar média; PE = dobra cutânea peito; SI = dobra cutânea suprailíaca; AB = dobra cutânea abdo- minal; CX = dobra cutânea coxa; PA= dobra cutânea panturrilha medial. Fonte: os autores. Quadro 2 - Equações generalizadas para o cálculo da densidade corporal ou percentual de gordura no sexo masculino Sexo Masculino Fórmula Faixa Etária Autor(es) Dc = 1,1120 – [0,00043499 x (TR + SI + CX + AB + PT + SE + AM)] + [0,00000055 x (TR + SI + CX + AB + PT + SE + AM)2] – [0,00028826 x Idade] 18 a 61 anos. Jackson, Pollock e Ward (1980). Dc = 1,109380 – [0,0008267 x (PT + AB + CX)] + [0,0000016 x (PT + AB + CX)²] - (0,0002574 x Idade) 18 a 61 anos. Jackson, Pollock e Ward (1980). Dc = [1,10726863 – 0,00081201 x (SE + TR + SI + PA)] + [0,00000212 x (SE + TR + SI + PA)2 – 0,00041761 x Idade] 18 a 61 anos. Petroski (1995). %G = 0,43 x TR + 0,58 x SE + 1,47 17 a 26 anos. McArdle et al. (1998). Dc = densidade corporal; %G = percentual de gordura; TR = dobra cutânea tricipital; SE = dobra cutânea subescapular; AM = dobra cutânea axilar média; PT = dobra cutânea peitoral; SI = dobra cutânea suprailíaca; AB = dobra cutânea abdominal; CX = dobra cutânea coxa; PA = dobra cutânea panturrilha medial. Fonte: os autores. Enquanto as equações generalizadas contemplam população mais abrangente, as equações específicas são aplicáveis somente a determinadas populações, pois são construídas com amostras que contemplam as singularidades dessas. Por exemplo, existem equações espe- cíficas para atletas, diferentes etnias, crianças e adolescentes, entre outros. Os Quadros 3 e 4 apresentam algumas das equações específicas mais utilizadas para a estimativa da densi- dade ou do percentual de gordura corporal, de acordo com o sexo. EDUCAÇÃO FÍSICA 77 Quadro 3 - Equações específicas para o cálculo da densidade ou do percentual de gordura corporal no sexo feminino Sexo Feminino Fórmula Especificidade Autor(es) %G = 0,610 x (TR + PT) + 5,1 De 8 a 18 anos. Slaughter et al. (1988). %G = 1,35 x (TR + SE) – 0,012 x (TR + SE)2 – 2,4 De 8 a 29 anos. Boileau et al. (1985). Dc = 1,09695 – 0,0006952 x (TR + CX + SI + AB) + 0,0000011 x (TR + CX + SI + AB)2 – 0,0000714 x Idade Mulheres atletas (18 a 29 anos). Jackson, Pollock e Ward (1980). Dc = densidade corporal; %G = percentual de gordura; TR = dobra cutânea tricipital; PT = dobra cutânea peitoral; SI = dobra cutânea suprailíaca; AB = dobra cutânea abdominal; CX = dobra cutânea coxa. Fonte: os autores. Quadro 4 - Equações específicas para o cálculo da densidade ou do percentual de gordura corporal no sexo masculino Sexo Masculino Fórmula Especificidade Autor(es) %G = 0,735 x (TR + PT) + 1,0 De 8 a 18 anos. Slaughter et al. (1988). %G = 1,35 x (TR + SE) – 0,012 x (TR + SE)2 – 4,4 De 8 a 29 anos. Boileau et al. (1985). Dc = 1,10647 – (0,00162 x SE) – (0,00144 x AB) – (0,00077 x TR) + (0,00071 x AM) Homens atletas (14 a 19 anos). Forsyth e Sinning (1973). Dc = densidade corporal; %G = percentual de gordura; TR = dobra cutânea tricipital; PT = dobra cutânea peitoral; SE = dobra cutânea subescapular; AB = dobra cutânea abdominal; AM = axilar média. Fonte: os autores. É importante ressaltar que algumas das equações anteriores estimam o percentual de gordura, enquanto outras determinam a densidade corporal. Sendo assim, após a ob- tenção do valor da densidade corporal, podemos utilizar duas fórmulas clássicas para a estimativa do percentual de gordura corporal. O percentual de gordura é determinado pela equação de Siri (1961), da seguinte maneira: % , ,G Dc x4 95 4 50 100 Em que: %G = percentual de gordura; Dc = densidade corporal. 78 O percentual de gordura corporal estimado pela equação de Brozek, Anderson e Keys (1963) é da seguinte forma: % , ,G Dc x� � � � � � � � �� � � 4 57 4 142 100 . Em que: %G = percentual de gordura; Dc= densidade corporal. Após determinar o percentual de gordura corporal, o avaliador (no nosso caso, o professor de Educação Física) poderá classificar e identificar possíveis riscos relaciona- dos ao excesso ou ao baixo peso, como também estipular metas e planejar sua interven- ção ou seu programa de treinamento. Para realizar essa classificação, existem valores de referência específicos para fatores como o sexo e a idade, direcionados para a saúde e a qualidade de vida ou para os esportes. Uma proposta de classificação do percen- tual de gordura corporal direcionada para a saúde e a qualidade de vida, sugerida por Lohman, Houtkooper e Going (1997), é apresentada na Quadro 5. Quadro 5 - Classificação do percentual de gordura corporal em diferentes faixas etárias, de acordo com o sexo Homens Mulheres Idade (anos) 6 – 17 18 – 34 35 – 55 + 55 6 – 17 18 – 34 35 – 55 + 55 Não recomendado < 5% < 8% < 10% < 10% < 12% < 20% < 25% < 25% Baixo 5 – 10% 8% 10% 10% 12 – 15% 20 % 25% 25% Médio 11 – 25% 13% 18% 16% 16 – 30% 28% 32% 30 Alto 26 – 31% 22% 25% 23% 31 – 36% 35% 38% 35 Obesidade > 31% > 22% > 25% > 23% > 36% > 35% > 38% > 35% Fonte: os autores. Nesse sentido, existem valores de referência que classificam os riscos relacionados ao excesso ou ao baixo peso. O Quadro 6 apresenta a classificação do risco à saúde de acordo com o percentual de gordura, proposta por Heyward e Stolarczyk (2000). Quadro 6 - Classificação do risco à saúde de acordo com o percentual de gordura, de acordo com o sexo Homens Mulheres Em risco ≤ 5% ≤ 8% Abaixo da média 6 – 14% 9 – 22% Média 15% 23% Acima da média 16 – 24% 24 – 31% Em risco ≥ 25% ≥ 32% Fonte: adaptado de Heyward e Stolarczyk (2000). EDUCAÇÃO FÍSICA 79 Outra proposta de classificação, direcionada para o esporte, sugerida pelo Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM), propôs valores que retratam o percentual essencial, mínimo e em nível esportivo de gordura corporal (Quadro 7). Quadro 7 - Valores de referência do percentual de gordura direcionado para o esporte,de acordo com o sexo Essencial Mínimo Esportivo Masculino 3 – 5% 5% 5 – 13% Feminino 8 – 12% 10 – 12% 12 – 22% Fonte: adaptado de Colégio Americano de Medicina do Esporte (2011). Uma vez identificado o percentual de gordura corporal, podemos determinar, também, a massa gorda e a massa isenta de gordura, em quilogramas. Para isso, podemos utilizar as seguintes equações: MG MC x ( % G ) 100 Na qual: MG = massa gorda (kg); %G = percentual de gordura; MC = massa corporal (kg). MIG = MC – MG Na qual: MIG = massa isenta de gordura (kg); MC = massa corporal (kg); MG = massa gorda (kg). Medidas antropométricas Até este ponto de nosso estudo, podemos verificar que existem diversas técnicas para avaliar a composição corporal, umas mais acessíveis e outras, nem tanto. Seguindo a linha da simplicidade, podemos fracionar a massa corporal por meio de algumas medi- das antropométricas (vistas no capítulo anterior), como a perimetria (circunferências corporais) e o IMC (índice de massa corporal). Partido do pressuposto de que as mudanças nas perimetrias corporais acompa- nham as alterações na composição corporal (ROCHA; GUEDES JUNIOR, 2013), podemos fracionar a massa corporal por meio da Equação de Penroe, Nelson e Fisher (1985). Nela, é possível estimar o percentual de gordura, a massa isenta de gordura e a massa gorda, tanto no sexo masculino quanto no feminino. 80 A estimativa desses componentes no sexo mas- culino é feita por meio das seguintes equações: MIG x MC x CA CP= + ( ) ( ) 41 955 1 038786 0,82816, , – – E %G MC MIG MC x100 Em que: MIG = massa isenta de gordura (kg); MC = massa corporal em quilogramas; CA = cir- cunferência abdominal (kg); CP = circunferência de punho (kg); %G = percentual de gordura; MC = massa corporal (kg); MG = massa gorda (kg). Para essas estimativas no sexo feminino, utiliza- mos as seguintes equações: % , ,G x CQ EST x CA= +( ) ( ) ( )0 55 0 24 0 28 8 43 x , ,– – MG � %G x MC 100 E MIG MC MG( ) Na qual: %G = percentual de gordura; CQ = cir- cunferência de quadril (cm); EST = estatura (cm); CA = circunferência abdominal (cm); MG = massa gorda (kg); MC = massa corporal (kg); MIG = massa isenta de gordura (kg). Como dito anteriormente, também podemos fracionar a massa corporal utilizando o IMC (índice de massa corporal). Ele é uma maneira prática de determinar o estado nutricional de um indivíduo. Você se lembra de como calculamos o IMC? Ele é determinado pelo “peso corporal dividido pelo quadrado da estatura”. Utilizando esse índice, Deu- renberg et al. (1991) propuseram uma equação para estimar o percentual de gordura corporal em ambos os sexos: % , ,G x IMC x idade x sexo= +( ) ( ) ( )1 20 0,23 10,8 5 4 – – Em que: sexo = masculino:1; feminino: 0. Apesar de apresentar boa correlação com téc- nicas mais sofisticadas, é importante destacar que a utilização do IMC para a estimativa do percentual de gordura deve ser vista com cautela, pois foi ex- planado, na presente unidade, que a referida medida não é capaz de distinguir massa gorda e massa livre de gordura. Estimativa de peso ideal Uma prática comum de pessoas que desejam ema- grecer é adotar, como referência e meta, a própria massa corporal. Contudo engordar e emagrecer depende exclusivamente das mudanças na gordura corporal, não da massa corporal. Como discutido no início desta unidade, a massa corporal é cons- tituída de diferentes componentes. Por exemplo, uma pessoa pode reduzir seu peso e ainda se manter gorda, ou seja, apesar de estar mais leve, essa pessoa pode ter perdido massa muscular, não massa gorda. Sendo assim, as estimativas e metas para perda de peso e de peso ideal devem ser feitas por meio da massa (kg) ou do percentual de gordura. Nesse senti- do, McArdle, Katch e Katch (1998) sugerem a seguin- te equação para determinar o peso corporal desejado: MCD MIG GD)(1 % EDUCAÇÃO FÍSICA 81 Em que: MCD = massa corporal desejada (kg); MIG = massa isenta de gordura (kg); %GD = percentual de gordura desejada. Vamos criar uma situação hipotética para ilus- trar a determinação do peso desejado. Vamos supor que uma pessoa do sexo feminino com 60 kg e 29% de gordura deseja saber quantos quilos dever redu- zir para atingir um percentual de gordura de 23%. Segue o exemplo a seguir: Para determinar a massa gorda: MG = MC x %G 100 MG = 60 x 0,29 MG = 17,4 kg Para determinar a massa isenta de gordura: MIG = MC – MG MIG = 60 – 17,4 MIG = 42,6 kg Aplicando a equação para determinar a massa cor- poral desejada: MCD � � � � 42 6 1 0 23 42 6 0 77 55 3, , , , , Logo, a MCD é igual a 55,3 kg. Com base nos valores da massa corporal atu- al e da massa corporal desejada, podemos calcular a quantidade de gordura, em quilogramas, que essa pessoa precisa perder para atingir sua meta. Para isso, basta subtrair a massa corporal pela massa corporal desejada (60 kg – 55,3 kg), que resulta em 4,7 kg. Bioimpedância elétrica A bioimpedância elétrica é uma técnica de diagnós- tico não invasiva e indolor, que utiliza correntes elé- tricas de baixa intensidade com o objetivo de avaliar o valor de resistência total oferecida pelo corpo à passagem do fluxo elétrico. Essa resistência é cha- mada de impedância. Assim, o aparelho de bioimpe- dância é capaz de estimar os componentes da massa corporal por meio da medição da impedância (RO- CHA; GUEDES JUNIOR, 2013). Sabendo que a maior parte da água e dos eletróli- tos do corpo se encontra nos músculos, pressupõe-se que, quanto menor for a resistência ao fluxo elétrico, maior será a quantidade de massa muscular. Sendo o inverso verdadeiro, quanto maior for a resistência, maior será a quantidade de gordura corporal. Dessa forma, essa técnica considera o corpo humano como um grande circuito elétrico (NIEMAN, 2001). Os aparelhos de bioimpedância podem emitir di- ferentes frequências de corrente (variam de 50 KHz até 1000 KHz) para avaliar a impedância. Quanto maior o número de frequências emitidas, maior será a quantidade de informações fornecidas pelo apare- lho (GUEDES, 2003). Geralmente, são fornecidos os dados da massa magra, massa gorda e percentual de gordura. No entanto, existem aparelhos capazes de fornecer, além dessas informações, dados sobre hi- dratação total, água intra e extracelular, massa isenta de gordura, massa muscular-esquelética, conteúdo mineral ósseo, entre outros. Os aparelhos podem ser classificados de acordo com a maneira que realizam a avaliação. Existem aparelhos que avaliam de maneira segmentar, ou seja, os condutores elétricos (eletrodos) são posicio- nados nos membros superiores (mãos) ou nos infe- riores (pés), e avaliam o segmento superior (braços 82 e região do tórax) ou inferior (pernas e região do quadril), respectivamente. Um exemplo é o aparelho de bioimpedância bipolar de mãos (Figura 34). Existem também os aparelhos que avaliam o corpo inteiro. Os eletrodos são posicionados nas mãos e nos pés. Eles realizam o que é conhecido como bioimpedância tetrapolar (Figura 35). Figura 34 - Equipamento e simulação da avaliação por bioimpedância bipolar de mãos Fonte: os autores. BA Figura 35 - Aparelho de bioimpedância tetrapolar. A: simulação da ava- liação com aparelho de quatro pontos. B: simulação da avaliação com aparelho de oito pontos Fonte: os autores. Mesmo sendo uma técnica de aplicação relativa- mente simples, exige que o(a) avaliado(a) siga algu- mas recomendações prévias, necessárias para uma boa avaliação (HEYWARD, 2013). Recomendações prévias à avaliação pela técnica de bioimpedância: Além das informações destacadas, é importan- te ressaltar que os dados fornecidos pelo aparelho são baseados em modelos matemáticos, ou seja, são estimativas baseadas em equações que predizem as variáveis. Contudo essa técnica apresenta resul- tados consistentes em diferentes públicos: atletas e não-atletas, bem como indivíduos não-saudáveis. Estar em jejum (comida e bebida) por quatro horas antes da avaliação.Não fazer exercício físico por 12 horas antes da avaliação. Urinar 30 minutos antes da avaliação. Não consumir álcool por, minimamente, 48 horas antes da avaliação. Não usar diurético durante os sete dias que antecedem a avaliação. Não realizar a avaliação em mulheres durante o ciclo menstrual. EDUCAÇÃO FÍSICA 83 Interactância de raios infravermelhos A interactância de raios infravermelhos é uma medida duplamente indireta, e pouco utilizada, nos dias atuais, para a mensuração da composição corporal. O referi- do método tem como princípio a absorção e a reflexão dos raios vermelhos, avaliando, assim, a gordura e os líquidos corporais. A luz do equipamento adentra os tecidos e é refletida pelos ossos, voltando ao aparelho. Caro(a) aluno(a), os conteúdos discutidos nesta unidade serão extremamente úteis para as avaliações antropométricas no ambiente escolar, nas academias e no treinamento esportivo. Com base no material apresentado, será possível delinear estratégias de avaliações para as diferentes linhas de trabalho na Educação Física. A sarcopenia é um processo de perda de massa muscular que ocorre durante o en- velhecimento. Esta condição está intima- mente relacionada à redução da capacidade funcional e, consequentemente, à perda da independência de adultos de meia idade e, sobretudo, de idosos. O diagnóstico é associado à presença, à redução ou à perda dos componentes: massa muscular, força e função musculares. Fonte: Fechine, Trompieri (2012). SAIBA MAIS Avaliar as práticas relacionas à aptidão e à atividade física faz parte do universo da Educação Física. Para isso, o(a) professor(a)/profissional tem, à sua disposição, diversos métodos, técnicas e instrumentos de avaliação. Nesse sentido, como esses procedimentos podem auxiliar nas intervenções desse(a) professor(a)/profissional? REFLITA 84 considerações finais N a presente unidade, discutiu-se a aplicabilidade das diferentes medidas descritas na literatura para a avaliação antropométrica. Inicialmente, fo- ram abordadas as medidas fundamentais do processo de avaliação, tais como: a massa corporal (peso corporal), a estatura e a circunferência da cintura. Medidas essas que são imensamente pertinentes para avaliar o estado nu- tricional de uma pessoa. Em seguida, falamos da avaliação da composição corporal pelo método direto, o qual subsidia a concepção dos métodos indiretos e duplamente indiretos. Adicionalmente, foi discutida a aplicabilidade do método indireto em dife- rentes aparelhos que são considerados padrão-ouro de medida, isto é, os resultados das análises desses equipamentos para a avaliação da composição corporal são muito sólidos e semelhantes, ou seja, o erro é mínimo quando as medidas são repetidas nas mesmas condições. Todavia a medida das espessuras das dobras cutâneas, que é classificada como duplamente indireta, também pode apresentar elevada reproduti- bilidade intra-avaliador, desde que o(a) avaliador(a) seja experiente e repita rigoro- samente o protocolo. Essa medida é uma ferramenta elementar para estimar o per- centual de gordura corporal de indivíduos sedentários, fisicamente ativos e atletas, uma vez que o método denota simplicidade, confiabilidade e velocidade para a coleta das informações. Complementarmente, a medida de espessura de dobras cutâneas manifesta diferentes opções de equações para a estimativa da densidade corporal ou percentual de gordura corporal. Por consequência, torna-se fundamental proceder a análise das características do(a) avaliado(a) e escolher a fórmula adequada, de acor- do com suas características. Por fim, esperamos que o(a) aluno(a) faça ótimo uso do material, escrito para o desenvolvimento da avaliação da composição corporal nas diferentes esferas de trabalho do profissional de Educação Física. considerações finais 85 atividades de estudo 1. O índice de massa corporal (IMC) é uma medida mundialmente utilizada para identificar o estado nutricional das pessoas em diferentes faixas etárias. A litera- tura aponta classificações para crianças, adolescentes, adultos e idosos. Nesse aspecto, considerando o IMC como indicador antropométrico do estado nutricio- nal, assinale a alternativa correta: a) O IMC é uma medida internacionalmente utilizada para avaliar a composição corporal dos indivíduos, visto que é possível identificar a quantidade de massa gorda excedente nesse tipo de avaliação. b) O IMC é uma medida aplicável a todas as populações: sedentários, fisicamen- te ativos e atletas, pois os indivíduos que estão em faixas de corte, como o sobrepeso e a obesidade, certamente apresentam riscos de morte elevados. c) O IMC é uma medida que pode superestimar o estado nutricional de atletas de modalidades de força e potência muscular, uma vez que esse indicador antropométrico não faz a distinção dos tecidos: massa magra e massa gorda. d) O IMC é pouco utilizado na prática do(a) profissional de Educação Física no âmbito escolar e, também, na avaliação de grandes populações. e) O IMC apresenta uma classificação única, independentemente de faixa etária e sexo. 2. A antropometria é considerada um conjunto de técnicas e medidas que objeti- vam identificar parâmetros morfológicos do ser humano. Nessa perspectiva, a ciência já identificou padrões de medida em diferentes faixas etárias, níveis de aptidão física e sexo. Assim, com base nas informações apresentadas, avalie as informações a seguir, acerca das possibilidades de consumação do conhecimen- to da antropometria humana no ambiente escolar. I - A análise longitudinal do crescimento da criança e do adolescente é um exemplo claro do campo de estudo da antropometria. II - A avaliação dos desvios posturais e do percentual de gordura corporal. A avaliação da postura e da composição corporal, em ergonomia, constitui uma possibilidade dessa aplicação. III - A identificação das massas gorda e magra compõe as medidas antropomé- tricas. É correto o que se afirma em: a) I apenas. b) II apenas. c) I e III apenas. d) II e III apenas. e) I, II e III. 86 atividades de estudo 3. Na literatura, são identificadas diferentes medidas para a avaliação da composi- ção corporal, como as medidas direta, indiretas e duplamente indiretas. Em vista disso, assinale verdadeiro (V) ou falso (F) para as medidas apresentadas a seguir. ( ) A dissecação de cadáveres é uma medida indireta. ( ) A pletismografia é uma medida duplamente indireta. ( ) O índice de massa corporal é uma medida duplamente indireta. ( ) A medida da circunferência da cintura é uma medida duplamente indireta. ( ) A espessura das dobras cutâneas é uma medida duplamente indireta. ( ) O Dexa é uma medida indireta. ( ) A bioimpedância elétrica é uma medida indireta. ( ) A pesagem hidrostática é uma medida indireta. ( ) A tomografia computadorizada é uma medida direta. Assinale a alternativa correta: a) F, F, V, V, V, V, F, V, F. b) F, F, F, V, F, V, F, V, F. c) V, V, V, F, F, F, V, F, V. d) V, F, V, V, F, V, V, F, F. e) V, F, F, F, F, F, F, F, V. 4. A espessura de dobras cutâneas internacionalmente utilizada para identificação da densidade corporal. Com base na densidade corporal, consegue-se estimar o percentual de gordura corporal dos avaliados. Assim, baseado(a) nas informa- ções apresentadas acerca da medida de espessura das dobras cutâneas, assina- le a alternativa correta. a) É uma medida indireta que apresenta elevada reprodutibilidade, independen- temente de como é conduzida a mensuração. b) É uma medida duplamente indireta, muito utilizada no âmbito das academias para a avaliação da composição corporal. c) A espessura de dobras cutâneas não é uma medida precisa, visto que são observados erros intra-avaliadores extremamente elevados na avaliação da composição corporal. d) É uma medida com elevada reprodutibilidade em obesos que apresentam dobras maiores que 40 mm no adipômetro. e) As medidas de espessura de dobras cutâneas são parâmetros indicados ape- nas paraatletas, visto que, para indivíduos sedentários e com sobrepeso, a medida propriamente dita não é recomendada. 87 atividades de estudo 5. A realização da análise da composição corporal pela bioimpedância elétrica apre- senta algumas padronizações para a obtenção de um resultado fidedigno. Diante disso, assinale a alternativa correta: a) O(a) avaliado(a) pode fazer a análise em qualquer momento, pois não há ne- nhuma padronização no decurso da realização do teste. b) O(a) avaliado(a) deverá seguir o protocolo estabelecido, que envolve jejum de quatro horas, não praticar atividade física ou exercício físico de intensidade moderada ou vigorosa 12 horas precedentemente a medida, não ingerir café ou bebidas cafeinadas, urinar antes do teste, usar roupas leves e não usar metais durante a medida propriamente dita. c) A avaliação da composição corporal pela bioimpedância elétrica é uma medi- da indireta de alta reprodutibilidade, quando consumada em aparelhos tetra- polares de oito eletrodos. d) Não existem parâmetros de classificação da avaliação da composição cor- poral pela bioimpedância elétrica em brasileiros. Portanto, essa medida não deve ser realizada. e) Os aparelhos de bioimpedância elétrica são relativamente iguais, não haven- do diferença entre eles. 6. As medidas duplamente indiretas, tais como as medidas de circunferência, a mensuração das dobras cutâneas pela técnica da plicometria e a bioimpedân- cia elétrica requerem procedimentos técnicos previamente estabelecidos para a correta estimativa da massa gorda e da massa magra (GUEDES, 2013). Nesse sentido, explique detalhadamente os três procedimentos aqui mencionados. 88 LEITURA COMPLEMENTAR A literatura aponta que altos índices de gordura corporal estão associados ao aumento exponencial da mortalidade. Em vista disso, o estudo publicado por Woolcott e Bergman (2018) no periódico Scientific Reports identificou equações específicas baseadas em dados antropométricos, uma para homens e outra para mulheres, que podem, segundo os mes- mos autores, estimar a massa de gordura corporal total de indivíduos adultos. Para a ela- boração do modelo, foi utilizada parte dos dados do programa de estudos para avaliar o estado nutricional e de saúde de crianças e adultos norte-americanos (NHANES - National Health and Nutrition Examination Survey), realizado entre os anos de 1994 e 2004, com 12.581 indivíduos. Por sua vez, os dados de 2005-2006, com 3.456 indivíduos do mesmo programa, foram usados para a validação do referido modelo. Dos 365 modelos elaborados, a equa- ção selecionada foi: 64 – [(20 x estatura) / circunferência da cintura] + (12 x sexo), na qual o valor determina a massa gorda relativa (RFM, em inglês: relative fat mass), com os valores de 0 para os homens e 1 para as mulheres. Para a validação da fórmula, o RFM indicou maior percentual de gordura corporal total, sendo similar aos valores mensurados pela densitometria por dupla emissão de raios-X (DEXA), entre os homens e mulheres avaliados. A RFM mostrou maior precisão do que o IMC e denotou menores casos falso-negativos de obesidade nos homens e mulheres. Em vista das respostas elencadas no presente estudo, foi sugerido pelos autores que A RFM é mais precisa para estimar o estado nutricional do que o IMC. Para maiores informações acerca desse novo índice elaborado, indicamos aos alunos que façam a leitura do artigo completo. Fonte: adaptado de Woolcott e Bergman (2018). 89 material complementar O Preço da Perfeição – A História de Ellen Hart Pena Konstantin Grcic Ano: 1996 Sinopse: a verdadeira história de Ellen Hart, corredora forçada a fazer regime para integrar o time americano de atletismo nas Olimpíadas de Moscou. Acabou viti- mada da anorexia nervosa num ano em que os EUA sequer disputaram os Jogos devido a um boicote político. Indicação para Assistir Avaliação Física e Prescrição de Exercício: Técnicas Avançadas Vivian Heyward Editora: Artmed Sinopse: integrando as últimas pesquisas, recomendações e informações às orientações claras e diretas para sua aplicação, essa nova edição de Avaliação Fí- sica e Prescrição de Exercício: Técnicas Avançadas é um recurso valioso para que estudantes e profissionais da área da Ciência do Exercício aumentem seus conhe- cimentos, suas habilidades e sua competência profissional. Indicação para Ler Conheça o caderno de referência de avaliação física da Unesco. Web: http://unesdoc.unesco.org/ima- ges/0022/002250/225004POR.pd. Acesso em: 4 jun. 2019. Indicação para Acessar http://unesdoc.unesco.org/images/0022/002250/225004POR.pd http://unesdoc.unesco.org/images/0022/002250/225004POR.pd 90 referências BEN-NOUN, L. L.; SOHAR, E.; LAOR, A. Neck Circumference as a Simple Scree- ning Measure for Identifying Overweight and Obese Patients. 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C. 3. A. 4. B. 5. B. gabarito UNIDADEIII Professor Dr. Braulio Henrique Magnani Branco Professor Me. Adriano Ruy Matsuo Professor Me. Bruno Follmer Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Força muscular • Potência muscular • Flexibilidade Objetivos de Aprendizagem • Apresentar as diferentes manifestações de força muscular e os principais testes de avaliação da força máxima e resistência de força. • Conceituar a potência muscular e identificar os principais testes de avaliação dessa valência. • Entender a flexibilidade e apresentar os testes para sua avaliação. FORÇA MUSCULAR E FLEXIBILIDADE unidade III INTRODUÇÃO N esta unidade, serão discutidos importantes aspectos da capa- cidade física humana. A força muscular, a potência muscular e a flexibilidade são variáveis presentes em muitas de nossas atividades do dia a dia e, também, do desempenho atlético. Saber o conceito de cada uma dessas capacidades, bem como reconhe- cê-las, são conhecimentos fundamentais para o profissional de Educação Física. Ainda, o profissional deve ter ciência de quais testes devem ser empregados para avaliar corretamente cada uma das variáveis que serão tratadas nesta unidade. Primeiramente, será abordada a força muscular e suas diversas mani- festações. Ela está presente em praticamente todos os momentos de nossa vida, seja em atividades diárias, seja no exercício físico. Será fundamental diferenciar que tipo de força um indivíduo está empregando em determi- nada atividade. Portanto, após o reconhecimento do tipo de força, será possível estudar qual o teste mais apropriado para avaliá-la corretamente. Trata-se de um assunto constantemente discutido em artigos científicos e em salas de musculação. Em seguida, a potência muscular será o tema de nossa unidade. Con- ceituar a potência é o primeiro passo para entender a utilização dessa capacidade física. A identificação de exemplos práticos será fundamental para esse entendimento. Estamos falando de uma capacidade que mistu- ra força e velocidade, e devemos levar isso em consideração ao avaliar a potência muscular de um indivíduo. Por fim, em nossa unidade, trataremos da flexibilidade. Este é um tópico interessante, pois muita confusão é observada, geralmente, sobre ele. Frequentemente, o uso dessa capacidade é equivocado, até mesmo entre profissionais, e confundido com o simples alongamento. Portanto, será fundamental conceituar a flexibilidade, primeiramente, para, depois, identificarmos os principais testes utilizados para mensurá-la em dife- rentes partes do corpo. 100 Olá! Neste tópico, você saberá mais sobre uma das mais conhecidas e discutidas capacidades físicas, a força muscular. Vamos, juntos, conceituar a força e cada um dos seus diferentes tipos de manifestação. Toda essa parte introdutória facilitará o trabalho de reconhecer qual o teste de avaliação mais apropria- do para aplicar quando o objetivo é mensurar a força muscular de um indivíduo. Força Muscular EDUCAÇÃO FÍSICA 101 A força muscular apresenta três fundamentais manifestações: força máxima, resistente e potente (WEINECK, 2004). As duas primeiras serão abor- dadas no presente tópico, enquanto que a força po- tente será o assunto do tópico a seguir. Portanto, conceituar força máxima e resistência de força será a primeira tarefa, bem como sua importância na vidadiária e no rendimento. Em seguida, discutiremos diferentes métodos de avaliação dessas duas mani- festações da força muscular. Existem diversos motivos para avaliar a força muscular de um indivíduo. No âmbito esportivo, um treinador deve avaliar seus atletas, principal- mente a fim de reconhecer o atual nível de treina- mento deles, e como fundamentação para elaborar o plano de treinos com as cargas específicas. Além disso, avaliar um indivíduo periodicamente durante um ciclo de treinamento é uma excelente ferramenta para acompanhar as respostas desse atleta aos estí- mulos e cargas que estão sendo propostos. Não somente indivíduos ativos e atletas se be- neficiam de bons níveis de força muscular. Avaliar a força muscular é um importante elemento para diag- nosticar diversos aspectos relacionados à qualidade de vida de qualquer pessoa. Uma boa força muscular está relacionada positivamente com a manutenção da massa óssea, a tolerância à glicose, o aumento do metabolismo basal, a integridade músculo-tendínea (diminuindo riscos de lesão) e com a funcionalidade do corpo para ações da vida diária (PESCATELLO et al., 2014). A força muscular refere-se à capacidade do músculo de produzir força; depende tanto de fato- res inerentes à plasticidade das estruturas muscula- res quanto do sistema nervoso, sendo caracterizada como uma valência neuromuscular (PESCATELLO et al., 2014). A força máxima é a mais alta força al- cançada em determinado movimento, sob condições específicas (KOMI, 2006), enquanto que a resistên- cia de força está relacionada à habilidade do mús- culo de desempenhar sucessivos esforços ou muitas repetições (PESCATELLO et al., 2014). Não se deve, portanto, julgar a força muscular somente pela quantidade de carga que um indivíduo é capaz de sustentar, mas também pelo número de repetições que são realizadas em um determinado exercício. Basicamente, testes que envolvam até três repetições são caracterizados como ações de força máxima, enquanto que aqueles com mais de 12 re- petições são considerados medidas de resistência de força (PESCATELLO et al., 2014). Para exemplificar, Gustav Fechner, em 1857, documentou o seu experimento em que ele mesmo erguia um par de halteres de 4 kg acima da cabeça pelo maior número de vezes consecutivas durante 60 dias. No primeiro dia, Fechner realizou 104 repe- tições, enquanto que, no final do período do estudo, ele realizava em torno de 700 repetições (BARSS; PEARCEY; ZEHR, 2016). Esse exemplo clássico de- monstra, claramente, como a força muscular pode ser desenvolvida não somente pelo incremento de carga, mas também pelo número de repetições. Outro fator importante no âmbito da força muscular é reconhecer qual a ação muscular rea- lizada em determinado movimento. Por definição, ações isométricas são aquelas que não modificam a posição articular (THOMPSON; FLOYD, 2002), mesmo com ação de força. Nesse caso, a força inter- na se equipara à carga externa, e pode haver dimi- nuição do comprimento muscular pela interação das pontes cruzadas, porém, sem alteração na posi- ção da articulação. 102 Na vida diária, as contrações isométricas ou está- ticas ocorrem quando seguramos um objeto numa de- terminada posição. Por exemplo, um copo, enquanto o enchemos. Pensando no lado esportivo, as contra- ções isométricas ocorrem frequentemente em ações estáticas, como em uma pose de balé, em que diversas musculaturas são contraídas isometricamente para manter a posição intacta e em harmonia. Mais comuns, as contrações dinâmicas envol- vem movimento articular. Essas se apresentam como contrações concêntricas e excêntricas. Con- trações concêntricas são aquelas em que há encur- tamento muscular, ou seja, a força interna vence a carga externa, também conhecida como contração positiva (THOMPSON; FLOYD, 2002). Provavel- mente, esse seja o tipo de contração mais facilmente identificado nos movimentos da vida diária ou nas ações esportivas. A contração concêntrica ocorre quando um halter é erguido na flexão do cotovelo, ou quan- do os extensores do joelho realizam o movimento que resulta no chute em uma bola de futebol, por exemplo. Por outro lado, quando a carga externa é superior à força interna, causando o alongamento das fibras musculares, ocorre a contração excêntri- ca, ou contração negativa (THOMPSON; FLOYD, 2002). Ela também está relacionada ao mecanismo de frear um movimento explosivo de uma muscu- latura antagonista. Essa forma de contração é frequentemente reali- zada, porém, pode ser um pouco mais complexa de ser compreendida. Trata-se de uma contração com características específicas em termos de estruturas associadas ao mecanismo de contração, consumo energético, fadiga e lesão pós-exercício. Pensando num exemplo prático e bastante comum: durante o movimento do exercício de agachamento, a fase des- cendente é caracterizada pela contração excêntrica dos extensores do joelho e do quadril, mesmo que o movimento articular realizado seja a flexão do jo- elho e do quadril. Outro exemplo: no exercício de supino, enquanto a barra se aproxima do peitoral, num movimento de flexão dos cotovelos e abdução horizontal do ombro, o que está sendo contraído excentricamente são os extensores do cotovelo e o principal adutor horizontal do ombro, o peitoral maior, enquanto suas fibras musculares são alonga- das (THOMPSON; FLOYD, 2002). Razão de equilíbrio muscular é o termo que define a relação entre a força de musculaturas antagonistas. O desequilíbrio entre essas for- ças, geralmente, é associado a um aumento no risco de lesão. No exemplo dos jogadores de futebol, geralmente, a musculatura anterior da coxa, dos extensores do joelho, é muito mais forte que os seus antagonistas da parte poste- rior, os flexores. Com isso, a lesão na muscula- tura dos isquiostibiais é bastante comum. Uma boa bateria de exames laboratoriais, envolven- do contrações concêntricas e excêntricas, pode ajudar a diagnosticar desequilíbrios e diminuir esse fator de risco de lesão. Fonte: os autores. SAIBA MAIS Todas as informações introdutórias reportadas ante- riormente serão de extrema importância no proce- dimento correto de avaliação da força muscular. Um bom planejamento inicial é fundamental para orga- nizar uma avaliação útil. Você deve considerar qual a ação motora e o grupo muscular a serem avaliados e sua relevância para o indivíduo. Por exemplo, a força muscular de atletas de futebol é, geralmente, mensu- rada nos membros inferiores, em movimentos que EDUCAÇÃO FÍSICA 103 envolvam extensão e flexão do joelho e quadril. O tipo de contração que será avaliado é outro aspecto a ser considerado e, novamente, deve ser específico aos ob- jetivos do avaliador ou à prática esportiva do avaliado. Considere novamente o futebol, a extensão do joelho durante uma corrida ou um chute ocorre por conta da contração concêntrica dos extensores do joelho, enquanto que os flexores do joelho têm um papel importante na desaceleração de movimentos rápidos de extensão, caracterizando uma contração excêntrica. Ainda, no caso da força muscular, deve- -se reconhecer qual o tipo de força que você quer avaliar: força máxima ou resistência de força? Já vimos que cada tipo tem suas características e influenciará na quantidade de repetições a serem desempenhadas durante o teste. Portanto, a escolha do protocolo de teste deve ser específica, e também considerar a transferência das informações obtidas no teste para o ambiente real do avaliado, seja na vida diária, seja no desempenho esportivo. De posse das respostas para as questões anteriores, a escolha do teste adequado torna-se uma tarefa facilitada. AVALIAÇÃO DA FORÇA MUSCULAR Começaremos a discutir a avaliação da força muscu- lar por meio da dinamometria, especificamente por equipamentos chamados de dinamômetros eletro- mecânicos, que conseguem medir a força pela con- versão da energia mecânica em elétrica. Como nos- so corpo é fundamentadoem sistemas de alavancas, a força muscular, somada ao braço de alavanca pre- sente numa determinada articulação, caracteriza o torque muscular. Para fins didáticos, continuaremos a chamar os resultados da dinamometria de força muscular. Os dinamômetros são, reconhecidamen- te, instrumentos confiáveis para a medição da força muscular, seja ela máxima ou resistente. Ainda, os diferentes tipos de contração (isométrica, concên- trica e excêntrica) podem ser avaliados em diversas articulações do corpo. Além disso, os resultados são bastante repro- dutíveis e, pelo fato de os protocolos serem padro- nizados, geralmente, a comparação dos dados com valores de referência são possíveis. Os dinamôme- tros eletromecânicos têm ganhado espaço em clubes desportivos, clínicas médicas e universidades, com diferentes intuitos. Basicamente, esse equipamento auxilia na avaliação de diversos parâmetros referen- tes à força muscular, como torque, impulso, traba- lho, potência e equilíbrio muscular, auxiliando na prevenção e no tratamento de lesões. A avaliação da força isométrica, chamada de contração voluntária isométrica máxima, ou CVIM, é comumente realizada nesse tipo de equipamento. Praticamente todas as principais articulações do corpo humano podem ser avaliadas seguindo as re- comendações de cada fornecedor do equipamento a fim de criar uma padronização universal e facilitar a comparação dos dados. Pensaremos na articula- ção do joelho como exemplo, conforme ilustrado na imagem a seguir. Figura 1 - Articulação do joelho 104 É necessário que o sujeito a ser avaliado esteja firmemente preso ao banco do equipamento, e a articulação avaliada alinhada ao eixo de rotação do aparelho. Antes do início do teste, o ângulo articular que será avaliado deve ser determinado. É bastante co- mum que diversos ângulos sejam testados, possibili- tando, assim, a elaboração de uma curva de força pelo ângulo articular (mais especificamente, a curva tor- que-ângulo). As instruções sobre como será realizado o teste devem ser cuidadosamente repassadas ao(à) avaliado(a), além da realização de contrações a fim de familiarizar o(a) avaliado(a) com o equipamento e com o esforço que será realizado durante o teste. Por exemplo, se o teste envolve contrações iso- métricas dos extensores e flexores do joelho no ângulo de 75°, essa referência deve ser utilizada na familiarização do indivíduo, e contrações submáxi- mas devem ser realizadas. Recomenda-se que con- trações isométricas durem em torno de cinco a seis segundos, num total de até três séries com intervalo de um a dois minutos entre elas (BROWN; WEIR, 2001). Esse tempo de contração (cinco a seis segun- dos) deve-se ao fato de que a força máxima demora certo tempo para ser atingida e, geralmente, ocorre entre o terceiro e o quarto segundos de contração. Caso realizada de forma explosiva, há uma gran- de produção de força em curto espaço de tempo nos instantes imediatamente após o início da contração isométrica, chamada de taxa de produção de força. Essa variável também vem demonstrando implica- ções relevantes em diversas populações, e é mais um aspecto que pode ser utilizado ao realizar um teste de contração isométrica máxima em dinamômetro isocinético (MAFFIULETTI et al., 2016). A variável comumente extraída do teste de con- tração isométrica, entretanto, é o pico de torque, ou seja, o maior torque atingido durante todo o período de contração. Ainda, o impulso é a variá- vel que traduz a quantidade de torque realizado ao longo do tempo de contração isométrica. Portanto, tanto a força máxima, com o pico de torque, como a resistência de força, com sucessivas contrações ou avaliando o impulso numa longa contração, po- dem ser mensuradas pela contração isométrica em dinamometria. Ainda sobre os dinamômetros eletromecânicos, eles são capazes de realizar contrações com veloci- dade angular controlada e constante, chamadas de contrações isocinéticas. Na realidade, durante um teste isocinético, existem momentos de velocidade constante e outros de aceleração nas extremidades da amplitude de movimento, para frear e acelerar o braço do equipamento. Portanto, um teste isocinéti- co não possui velocidade angular constante durante toda a amplitude de movimento, e isso varia de for- ma inversamente proporcional à velocidade angular. Quanto maior a velocidade angular de contração, menor é o período de velocidade constante durante o teste (BROWN; WEIR, 2001). As contrações dinâmicas são comumente realizadas para avaliar as forças concêntrica e excêntrica. Considere novamente a avaliação da articulação do joelho. Todos os procedimentos an- teriores ao teste são semelhantes ao protocolo de avaliação da contração isométrica, como a posição do indivíduo no equipamento, sua fixação e alinha- mento dos eixos de rotação do aparelho com o ar- ticular. Agora, porém, como a avaliação envolverá EDUCAÇÃO FÍSICA 105 movimento, é preciso determinar se a contração será concêntrica ou excêntrica para o grupo muscular escolhido. No caso analisado, a contração concên- trica dos extensores resulta na extensão do joelho, enquanto que a contração excêntrica desse mesmo grupamento muscular implica no movimento de fle- xão do joelho. Ainda, deve-se definir qual a velocidade angu- lar do teste. Velocidades angulares menores que 180º/s são comumente utilizadas para avaliar o pico de torque (semelhante à força máxima) e o traba- lho, enquanto que velocidades angulares maiores que 180º/s servem para avaliar potência (TERRE- RI, 2001). Ao avaliar a mesma articulação em dife- rentes velocidades angulares, é possível elaborar a curva de força pela velocidade (torque-velocidade), comprovando que, quanto maior a velocidade ar- ticular, menor a capacidade muscular de produzir força e vice-versa. O número de contrações é, naturalmente, um elemento importante na definição do protocolo de avaliação, e determinará se a força máxima será a principal variável ou a resistência de força. Por fim, e não menos importante, deve-se determinar a am- plitude de movimento dessa avaliação. No caso da avaliação dinâmica do joelho, geralmente, a ampli- tude em torno de 90º é utilizada, enquanto 0° é con- siderado a posição em que o joelho encontra-se es- tendido, e 90º, quando a articulação está flexionada, formando um ângulo reto. O pico de torque também é a variável mais uti- lizada após um teste de contrações isocinéticas. Ele representa o máximo valor de torque atingido du- rante toda a amplitude de movimento. Semelhante ao impulso nas contrações isométricas, durante a curva formada pelas contrações dinâmicas, é pos- sível calcular o trabalho realizado, considerando o torque gerado multiplicado pelo deslocamento do segmento. A força muscular também pode ser avaliada por testes realizados fora do ambiente laboratorial, são os chamados testes de campo, ou específicos. Um dos mais conhecidos é o teste de uma repetição má- xima (1RM), que representa a máxima quantidade de carga que pode ser sustentada em uma única re- petição (BROWN; WEIR, 2001). Trata-se de um tes- te barato, acessível e específico à fase concêntrica da contração muscular. A carga encontrada ao final do teste (chama- da de 1RM) será aquela correspondente à máxima capacidade de produzir força durante a fase con- cêntrica do movimento. Se pensarmos no famoso exercício do supino, que trabalha, prioritariamente, os músculos da região peitoral, a fase concêntrica desse exercício é o movimento de empurrar a barra, partindo do peitoral até a extensão dos cotovelos, conforme a Figura 2. Figura 2 - Supino 106 No agachamento ou leg press, a fase concêntrica é aquela de extensão dos joelhos e do quadril, partin- do da posição mais agachada para a posição ereta. Trata-se de um teste seguro, mas que depende da familiarização do executante e da experiência do profissional avaliador. Pensando na execução de um agachamento ou leg press, devemos considerarque bastante carga pode estar envolvida na realiza- ção de apenas uma repetição, principalmente por indivíduos treinados. É importante estar atento, pois a falha concên- trica que será apresentada na execução do teste má- ximo está ligada à impossibilidade de o indivíduo completar a repetição; nesse momento, os(as) ava- liadores(as) (pode e deve haver mais do que um) devem intervir e auxiliar na retirada do peso e/ou na ativação de travas de segurança. Assim, a escolha do exercício e do aparelho é fundamental. Aparelhos que possuam travas de segurança também são indi- cados para a realização de testes de carga máxima, como no exemplo da imagem a seguir: Figura 3 - Aparelho Leg press com trava de segurança Para a aplicação do teste de 1RM, as seguintes etapas descritas por Brown e Weir (2001) devem ser consi- deradas. Aquecimento geral de três a cinco minutos, seguido por um aquecimento no aparelho específico e, consequentemente, para a musculatura específica. Após esse aquecimento, é realizada uma primeira série de oito repetições com 50% do 1RM estimado, seguida por uma segunda série de três repetições, com carga referente a 70% do 1RM estimado. A partir desse momento, os avaliadores adotam a estratégia de tentativa e erro, manipulando a carga do exercício nas séries subsequentes a fim de encon- trar aquela carga com a qual o indivíduo é capaz de realizar apenas uma repetição completa e correta. Recomenda-se que sejam efetuadas de três a cinco- séries, com um intervalo de até cinco minutos entre elas, garantindo a recuperação do indivíduo entre as séries. Deve-se evitar a fadiga acumulada ao longo das tentativas. Portanto, a experiência dos avaliadores é fundamental, tanto para reconhecer se a carga esti- pulada está baixa ou alta quanto para determinar o intervalo necessário entre as séries. Caso o(a) ava- liado(a) consiga realizar apenas uma repetição com- pleta e correta, mas não consiga realizar a segunda repetição, o teste é encerrado com sucesso, sendo que o valor do 1RM corresponde à carga dessa últi- ma etapa do teste. A avaliação de 1RM apresenta li- mitações que devem ser consideradas pelos(as) ava- liadores(as), principalmente ao aplicar os resultados das avaliações para a rotina de treinamento. Conforme apresentado anteriormente, esse teste avalia, basicamente, a força máxima concêntrica do indivíduo, portanto, treinamentos de modalidades com contrações isométricas e/ou excêntricas não devem se basear exclusivamente nos resultados do teste de 1RM. Ainda, esse o teste avalia a força máxi- ma de um indivíduo. Obrigatoriamente, ela é obtida por meio de uma contração lenta das fibras muscu- lares, devido à alta carga externa imposta. EDUCAÇÃO FÍSICA 107 Aplicar os resultados de teste de 1RM para treina- mento de potência (~ 40 a 60% 1RM) e/ou resistência de força (< 40% 1RM), em que contrações mais rápidas são realizadas, é inadequado e inespecífico. Ainda, re- comenda-se que reavaliações sejam realizadas perio- dicamente dentro de um ciclo de treinamento (como a cada quatro semanas num ciclo de 12 semanas), para que as cargas do treinamento sejam reajustadas. Exemplificando, se seu(sua) aluno(a) obteve 100 kg como resultado no teste de 1RM no supino, é razoável pensar que, em quatro semanas de treina- mento, sua força máxima aumente, e, consequente- mente, aumentará o seu valor de 1RM. Supondo que o novo 1RM desse indivíduo seja 120 kg, 80% dessa carga, agora, é de 96 kg, não mais 80 kg. Caso esse reajuste da carga não seja feito, ele(a) estará treinan- do com 66% do seu 1RM, e não mais 80%, subesti- mando consideravelmente a carga de treinamento. Frequentemente, o grande objetivo do teste de 1RM não é alcançado. Ou seja, após o final do teste, não foi encontrada a carga com a qual o indivíduo consegue realizar apenas uma repetição do exercí- cio. Isso acontece, muitas vezes, pelo fato de o alu- no conseguir realizar mais do que uma repetição na última série do teste. Neste caso específico, deve-se estimular o avaliado a realizar o maior número pos- sível de repetições corretas e completas, até a falha concêntrica e a consequente impossibilidade de completar a próxima repetição. Quando o teste é realizado dessa maneira, diz- -se que valores de 2RM, 5RM ou, até mesmo, 10RM foram encontrados, correspondendo às cargas em que o sujeito era capaz de realizar, no máximo, duas, cinco e dez repetições, respectivamente. Diante des- sa situação frequente, diversas tabelas de conversão foram elaboradas a fim de estimar o valor de 1RM por valores submáximos. Os fatores de correção apresentados por Lom- bardi (1989) são bastante aceitos e utilizados na li- teratura e na prática. Muitos professores, inclusive, preferem utilizar os testes submáximos de repetição máxima, a depender do público que será avaliado, como indivíduos com alguma limitação física, des- treinados e frágeis. Nessas circunstâncias, é mais seguro estimular o indivíduo a realizar um número maior de repetições com menor carga, e utilizar esse escore submáximo como padrão para as próximas reavaliações. Se o objetivo for comparar com resul- tados de testes de 1RM, indica-se a correção por tabelas como a de Lombardi (1989), assumindo as limitações do uso de valores corretivos. Por exem- plo, se o(a) avaliado(a) realiza seis repetições em seu teste com a carga de 50 kg, isso significa que o valor estimado de 1RM é de 60 kg (50 x 1,2), utilizando o fator de correção conforme Quadro 1. Quadro 1 - Valores de correção para estimativa do teste de 1RM a partir de testes submáximos Número de repetições Fator de correção 1 1.00 2 1.07 3 1.10 4 1.13 5 1.16 6 1.20 7 1.23 8 1.27 9 1.32 10 1.36 Fonte: adaptado de Lombardi (1989). 108 Avaliar a força máxima é o grande objetivo do teste de 1RM, porém, outras versões com mais repetições são aceitas, aproximando-se da avaliação da resis- tência de força. Existem outros protocolos de testes práticos que avaliam prioritariamente a resistência de força, uti- lizando movimentos bastante comuns e exercícios básicos. Como exemplos, os testes de repetições de abdominal e de flexão de braços. Os dois testes fun- cionam com a mesma lógica, que é realizar o maior número de repetições do exercício dentro do tempo de um minuto. Para que os resultados sejam compa- rados com valores de referência, ou com o próprio avaliado em outro momento (por exemplo, no início e no fim de um ciclo de treinamento), a padronização do gesto motor e da dinâmica do teste é fundamental. No caso do teste de resistência abdominal, o(a) avaliado(a) é posicionado deitado, em decúbito dor- sal, com os joelhos flexionados e com os braços cru- zados à frente do corpo. O(a) avaliador(a) deve fixar os pés do(a) avaliado(a) no solo. Antes do início do teste, é importante pedir para que o(a) avaliado(a) realize uma repetição completa do teste, flexionando o tronco até que os cotovelos toquem nas coxas e, posteriormente, retornando à posição inicial. Após essa familiarização, o indivíduo será infor- mado de que essa repetição correta será contabiliza- da durante um minuto, e que seu objetivo é realizar o maior número possível de repetições dentro des- se período de tempo. Durante a realização do teste, o(a) avaliador(a) deve fazer a contagem em voz alta, inclusive, estimulando o(a) avaliado(a) a realizar seu esforço máximo. Trata-se de um teste simples, de fácil aplicação e que pode trazer resultados interessantes na avaliação de um público bem variado, desde crianças (PRO- ESP-BR, 2018) até atletas de elite de artes marciais (MARINHO et al., 2016). Algumas variações do tes- te são encontradas na literatura, porém o importante é que seja mantido um padrão entre teste e reteste. O teste de flexão de braços, também conhecido como exercício de apoio, segue a mesma lógica do teste anterior. O objetivo do teste é que o(a) avaliado(a) re- alize o maior número de repetições corretas do exercí- cio dentrodo tempo de um minuto. Novamente, para que os resultados gerados sejam confiáveis e reprodu- tíveis, a padronização do gesto motor é importante. Geralmente, a instrução é de que a posição inicial do teste seja em decúbito ventral, com as palmas da mão no chão, afastadas lateralmente na linha dos ombros, e com os pés apoiados no chão. Algumas variações são permitidas, com o apoio dos joelhos no chão ao invés dos pés, principalmente em iniciantes ou mulheres. A repetição completa consiste em flexionar os cotovelos até um ângulo em torno de 90°, aproxi- mando-se do chão, e posterior retorno à posição inicial, estendidos os cotovelos por completo. Cada repetição correta é contabilizada para o escore final do teste, e essas instruções devem ser passadas ao(à) avaliado(a) antes da realização. O avaliador deve re- alizar a contagem em voz alta e também estimular o avaliado a desempenhar o máximo esforço durante o período de avaliação. A Figura 4 ilustra as posições do teste de flexão de braços, ou de apoio. Figura 4 - Posições do teste de flexão Especificamente para a população idosa, o teste de sentar e levantar avalia a resistência de força de membros inferiores (JONES; RIKLI; BEAM, 1999). Esse teste foi desenvolvido e validado com o intui- to de fornecer uma avaliação prática e simples para essa população que, muitas vezes, não está acostu- mada com exercícios de força em academia. O gesto de sentar e levantar ainda constitui uma das tantas atividades da vida diária, fundamentais para a manu- tenção da independência durante o envelhecimento. O teste consiste em realizar o movimento de sen- tar e levantar o maior número de vezes durante o tempo de 30 segundos, cronometrado pelo avaliador. Cabe ao(à) avaliador(a), também, realizar a contagem das repetições. A padronização do movimento desse teste envolve a breve familiarização com o movimento correto, a utilização de um banco ou cadeira de 43 cm de altura e a devida instrução prévia ao(à) avaliado(a). O escore do teste resume-se ao número de repe- tições corretas e completas realizadas dentro do pe- ríodo de avaliação. Esse teste tem se mostrado sensí- vel ao treinamento de força, de modo que o grupo de senhoras que realizou treinamento de força obteve melhora significativa no resultado da avaliação após seis semanas de treinamento com pesos, seguido de incrementos de espessura muscular nos músculos da coxa (PINTO et al., 2014). Neste primeiro tópico, você conheceu duas das diferentes manifestações da força muscular, a máxi- ma e a resistência de força. Ainda, os diferentes tipos de contração muscular foram abordados. Com esses conhecimentos, progredimos para a apresentação dos principais protocolos de avaliação da força máxima e da resistência de força, em testes laboratoriais e de campo, para membros inferiores e superiores. No pró- ximo tópico, continuaremos a aprender a força, po- rém, no que se refere à potência muscular. 110 Potência Muscular EDUCAÇÃO FÍSICA 111 linear de relação negativa logo foi modificado pelo entendimento de uma curva hiperbólica na relação (HOLMES, 2006). Depois de inicialmente investigada em mode- los animais, essa relação entre força e velocidade foi muito estudada e também confirmada em humanos. A dinamometria eletromecânica, com contrações isocinéticas, conforme visto no tópico anterior, é o instrumento mais utilizado para essas avaliações. Como a velocidade de contração pode ser controla- da, os protocolos que compararam o torque máximo alcançado em contrações de diferentes velocidades encontram uma tendência a menores forças máxi- mas, enquanto a velocidade angular é aumentada (BROWN; WEIR, 2001). Neste momento, cabe um exemplo prático e bas- tante simples. Pense num indivíduo que tem a tarefa de erguer determinada carga no simples movimento de flexionar o cotovelo. Caso essa carga seja peque- na, como um halter de 1 kg, ele será capaz de realizar este movimento em altíssima velocidade. Isso não necessariamente reflete grande potência muscular, pois a força foi muito baixa. Lembre-se que a potên- cia depende diretamente da velocidade e da força muscular. Por outro lado, caso o indivíduo tenha que reali- zar a mesma tarefa de flexionar o cotovelo com uma carga muito elevada, esse movimento, provavelmen- te, será feito de maneira bastante lenta. Novamente, esse aumento de carga pode não refletir aumento de potência, pois, dessa vez, a velocidade é muito dimi- nuída. Então, qual seria a relação ótima para atingir grande potência muscular? A resposta parece estar no meio do caminho, com cargas moderadas que possibilitem boa veloci- dade de execução. Num estudo com atletas de Bra- zilian Jiu-Jitsu (SILVA et al., 2015), foi demonstrado Olá, neste tópico, continuaremos a falar sobre força muscular. Conforme visto anteriormente, ela apre- senta, basicamente, três manifestações, sendo que a força máxima e a resistência de força já foram ante- riormente exploradas. Portanto, a potência muscu- lar será tratada exclusivamente neste tópico. Por se tratar de uma valência de interação entre a força e a velocidade, você deverá saber como conceituar e entender essa interação. Em seguida, você será ca- pacitado a conhecer alguns dos principais testes de avaliação da potência muscular para distintos gru- pos musculares. A potência muscular, também conhecida como força rápida (WEINECK, 2004), é o tipo de força que pode ser explicada pela capacidade de exercer energia (ou trabalho) em um período de tempo (AS- TRAND et al., 2006). Vamos por partes, para que essa primeira etapa seja bem esclarecida. Primeiro, consideramos a potência como produto da força pela velocidade. A velocidade nada mais é do que a distância dividida pelo tempo. Com isso, nossa fór- mula se caracteriza da seguinte forma: potência = força x (distância/tempo). A multiplicação da força (em Newton – N) pela distância (em metros – m) caracteriza o chamado trabalho (N x m), expresso na unidade de Joules (J = N x m). Quando dividi- mos o trabalho (J) pelo tempo (s), temos a unidade de potência, conhecida como Watt (W = J/s). Existe uma propriedade muscular bem reconhe- cida na literatura, que é a relação entre a velocidade de encurtamento muscular e a força gerada (LIEBER; WARD, 2011). Quanto maior a força muscular, me- nor será a velocidade de contração e vice-versa. O início das investigações dessa relação entre a força e a velocidade data da primeira metade do século XX, quando pesquisadores estudavam essa relação em fibras musculares de animais. O primeiro modelo 112 que o pico de potência no exercício do supino era atingido quando os participantes arremessavam car- gas referentes a 42% dos valores de 1RM (o mesmo teste explicado no tópico anterior). Portanto, com cargas intermediárias, a velocidade de execução foi relativamente grande, o que gerou os maiores valo- res de potência muscular. Em dinamometria eletromecânica, com exer- cícios de contração isocinética, essa tendência se confirma, já que os maiores valores de potência são atingidos em velocidades intermediárias, entre 180 e 240°/s. Velocidades angulares menores (de 60 a 120°/s) ou maiores (>300°/s) resultam em valores de potência diminuídos (BROWN; WEIR, 2001). De que forma um ciclista conseguiria produzir maior potência: pedalando em uma marcha pesada, com bastante força e poucas rotações por minuto, ou em uma marcha mais leve, com alto giro, porém, baixa força? REFLITA AVALIAÇÃO DA POTÊNCIA MUSCULAR Após essa breve introdução, você já deve estar ciente de que os testes que avaliam a potência muscular não são aqueles que envolvem elevadas cargas externas. Além da possibilidade de medida em aparelhos labo- ratoriais, a potência muscular é comumente avaliada por instrumentos práticos, que não envolvem grande investimento. A seguir, serão apresentados testes de impulsão horizontal e vertical, além do arremesso de Medicine Ball, para avaliação da potênciamuscular de membros inferiores e superiores, respectivamente. Para a execução do teste de impulsão horizontal é necessário, somente, uma trena. Deve-se marcar uma linha no solo, que determinará o ponto de par- tida do salto, onde a trena deve marcar a distância 0 cm. O avaliado coloca-se imediatamente atrás dessa linha, com os pés paralelos e afastados lateralmente. A posição inicial envolve uma semiflexão dos joelhos e uma leve flexão do tronco, projetado li- geiramente à frente. O aluno deve ser instruído a saltar a maior distância possível horizontalmente, e a permanecer imóvel após a aterrissagem. A dis- tância entre a fita da posição inicial e o calcanhar do pé mais próximo ao ponto inicial será medida. A maior distância alcançada após duas tentativas ser- virá como o escore do teste (PROESP–BR, 2018). A familiarização do gesto motor envolvido no salto e as instruções dos procedimentos são fundamentais para uma boa avaliação. Com relação à avaliação de salto vertical, as op- ções de testes são maiores e envolvem instrumentos práticos, de campo e laboratoriais. Primeiramente, vamos falar sobre as avaliações práticas, mais sim- ples e acessíveis para profissionais que trabalham em escolas ou com o público em geral, mas também com o desempenho de atletas. O teste de salto ver- tical tem como objetivo principal avaliar a potência de membros inferiores no plano vertical. O(a) avaliado(a) deve ser instruído a assumir uma posição ereta ao lado de uma superfície (a pa- rede, por exemplo), com o braço estendido acima da cabeça. No ponto mais alto que o avaliado consegue alcançar, mantendo toda a sola do pé no chão, deve ser feita uma marca, que será o ponto inicial da me- dida do teste. Essa marca pode ser feita com o auxílio de um giz. Em seguida, o(a) executante será instruí- do(a) a saltar o mais alto possível e, novamente, com EDUCAÇÃO FÍSICA 113 o mesmo braço estendido acima da cabeça, realizar uma nova marca na parede com o giz. A recomendação geral é de que sejam feitas três tentativas, e a maior distância alcançada entre os pontos inicial e final deve ser considerada como o escore do teste, representado em centímetros (MA- RINS; GIANNICHI, 2003). Um dos fatores que li- mitam, porém, a extrapolação do resultado obtido nesse teste, é a padronização do salto realizado, e é esse aspecto que será abordado na sequência. Existem diferentes procedimentos para a execu- ção do movimento de um teste de salto vertical. Ba- sicamente, dois tipos de saltos são utilizados, o squat jump (SJ) e o conter movement jump (CMJ). A tradu- ção do SJ é a de um salto saindo da posição de aga- chamento. Nesse salto, o(a) avaliado(a) se agacha até uma posição predeterminada pelo(a) avaliador(a) e, após uma breve pausa, é dado o comando para sal- tar. O(a) executante realiza o seu salto o mais rápido e alto possível, sem se agachar mais antes do salto. Por outro lado, durante o CMJ, os indivíduos ini- ciam o teste a partir de uma posição ereta, agachando dinamicamente até certo ponto e, sem qualquer pe- ríodo de pausa, realizam o salto o mais rápido e alto possível (LINTHORNE, 2001). Além dessas diferen- ças no próprio movimento de saltar, existem variações do teste que permitem ou não a utilização dos braços para aumentar o impulso do salto. Caso o movimento dos braços seja permitido, recomenda-se que esses ba- lancem para baixo e para cima durante o salto. Quando não há movimento dos braços, estes devem estar posicionados ao lado do corpo, com as mãos apoiadas nos quadris (BROWN; WEIR, 2001). É fundamental ressaltar que cada uma das variações possíveis no teste de salto vertical resulta em mo- dificação no escore final. Portanto, faz-se necessária a padronização do movimento do salto para fim de comparação de escores antes e depois de uma inter- venção. Caso o objetivo seja comparar os resultados de um indivíduo com um banco de dados, o mesmo tipo de salto e com as mesmas características deve ser desempenhado. Tradicionalmente, o movimento envolvido no salto com contramovimento é muito mais natu- ral e associado a diversas práticas esportivas. Adi- cionalmente, o teste de CMJ apresenta resultados mais elevados do que os obtidos no SJ, devido ao aproveitamento de energia elástica, produto do ciclo alongamento-encurtamento presente no contramovimento antes do salto (LINTHORNE, 2001). Ainda, o uso dos braços parece aumentar o esco- re final do teste para ambos os tipos de saltos, CMJ e SJ (BROWN; WEIR, 2001). Como o resultado do teste é dado em centímetros, pesquisadores têm de- senvolvido equações de predição da potência mus- cular a partir do resultado do teste de salto vertical e da massa corporal do avaliado. A fórmula de Sayers, citada por Brown e Weir (2001), que conta com um erro estimado de 355 W, é representada por: Pico de potência W x altura do salto em cm � � � �� �60 7 45, ,,3 2055 x massa corporal em kg� � � 114 Após a autorização do avaliador, o executante deverá lançar a bola na maior distância possível, estenden- do rapidamente os cotovelos e sempre com todo o corpo apoiado na parede, sem realizar movimentos compensatórios. Recomenda-se o uso de talco ou pó branco na bola, para que uma marca seja feita no seu primeiro contato com o solo. O resultado do tes- te será a distância entre a parede na qual o avaliado está apoiado e o ponto mais próximo em que a bola tocou no solo. Após a realização de duas tentativas, o melhor resultado será registrado como o escore do teste (PROESP-BR, 2018). A avaliação da potência muscular de membros superiores pelo arremesso de medicine ball pode apresentar diversas versões, com variações em cer- tos elementos do teste. Por exemplo, Marins e Gian- nichi (2003) descrevem essa avaliação com o ava- liado sentado em uma cadeira, arremessando uma bola de 3 kg. A lógica do teste permanece a mesma, porém, três tentativas são concedidas ao executante, enquanto que a distância registrada para o escore é entre os pés dianteiros da cadeira e o ponto onde a bola toca no solo. Novamente, a padronização do teste é elemento fundamental para uma boa repro- dutibilidade dos escores obtidos. O segundo tópico desta unidade complemen- tou o material apresentado no primeiro e finalizou o conteúdo de força muscular. A potência muscular foi conceituada, e os principais protocolos de ava- liação dessa capacidade foram abordados. Testes de campo e laboratoriais foram apresentados para você, tanto para avaliação da potência de membros infe- riores quanto superiores. No próximo tópico, o as- sunto será outra capacidade que envolve diretamen- te a musculatura, com a direta influência de outras estruturas, como tendões, ligamentos e articulações. Trata-se da flexibilidade. Os testes de impulsão vertical citados anteriormente são também avaliados em ambiente laboratorial, por meio de um instrumento chamado de plataforma de força. Esta plataforma consegue gerar dados mais precisos com relação à altura do salto e à potência gerada do que aqueles obtidos em testes de campo. O princípio básico da plataforma de força é fundamen- tado na terceira lei de Newton, na qual a força que o sujeito coloca ao saltar a plataforma é devolvida ao sujeito, como na chamada força de reação do solo. O teste de impulsão vertical em plataforma de força ainda gera dados como curvas de força – tem- po, deslocamento – tempo e força – deslocamento, além de valores de potência pico, média, e relativa à massa corporal (LINTHORNE, 2001). Trata-se, portanto, de uma avaliação muito mais completa e confiável, mas que exige treinamento e experiência por parte do(a) avaliador(a), não somente para ava- liar, mas também para interpretar os resultados. Mesmo com toda a confiabilidade do teste, a re- produtibilidade dos dados será comprometida caso a padronização da execução do gesto motor do salto não seja adequada. Resumidamente, seja por meio de teste de campo, ou com a utilização deequipa- mentos laboratoriais, a familiarização, a instrução e a padronização do gesto motor são fundamentais para a boa medida de avaliação da potência de membros inferiores por meio do teste de impulsão vertical. O teste de arremesso de medicine ball é uma avaliação prática e simples que estima a potência muscular dos membros superiores. Primeiramen- te, deve-se padronizar a posição inicial do avaliado, sentado no chão, com os joelhos estendidos, pernas unidas e de costas para uma parede. O avaliado deve segurar uma medicine ball de 2 kg junto ao peito, com os cotovelos flexionados, semelhante ao repre- sentado na Figura 5. EDUCAÇÃO FÍSICA 115 Figura 5 - Utilizando a medicine ball 116 Flexibilidade EDUCAÇÃO FÍSICA 117 Olá, o último tópico desta unidade tratará da fle- xibilidade. Esta capacidade física está diretamen- te associada com a qualidade dos movimentos de cada uma das articulações do corpo humano. Jun- tamente com os parâmetros de força muscular pre- viamente descritos, avaliar a flexibilidade constitui parte fundamental de qualquer programa de me- didas e avaliação. Tanto para professores de esco- las, clubes e associações quanto para treinadores de atletas de alto nível, monitorar os níveis de flexibili- dade em todo o corpo é fundamental por uma série de fatores que serão abordados neste último tópico. Por fim, você será apresentado a diversos testes de avaliação da flexibilidade. O Colégio Americano de Medicina do Esporte define a flexibilidade como a habilidade de movi- mentar uma articulação por toda sua amplitude de movimento (PESCATELLO et al., 2014). Trata-se de uma capacidade física importante, tanto para o desempenho esportivo quanto para a realização de atividades da vida diária, principalmente para a qualidade do movimento, com a finalidade de di- minuir o risco de lesão articular, ligamentar, tendí- nea e muscular. Essa capacidade motora é determi- nada geneticamente, porém, diversos componentes do estilo de vida e do nível de atividade física do indivíduo influenciam diretamente nos graus de flexibilidade de cada articulação. Alguns fatores interferem nos níveis de flexibi- lidade de um indivíduo. Podemos citar alguns ine- rentes à estrutura pessoal, como os ossos, músculos, ligamentos e tendões (PESCATELLO et al., 2014). Outros, como a idade e o sexo, apresentam caracte- rísticas e padrões mais definidos. Sabe-se que a flexi- bilidade é diminuída com o envelhecimento, muito devido às modificações estruturais do músculo, do tendão, dos ligamentos e das cápsulas articulares. Mulheres apresentam, geralmente, maiores valores de flexibilidade do que homens, fato este associado, principalmente, à menor massa muscular e às ativi- dades desenvolvidas ao longo da vida. A temperatura ambiente, o estado de treina- mento do avaliado e a utilização de aquecimento prévio ao teste também podem influenciar os resul- tados de flexibilidade obtidos (WEINECK, 2004). Por fim, a massa corporal do avaliado pode acar- retar dificuldades para realizar certos movimentos em algumas articulações. Isso ocorre, principal- mente, em indivíduos com sobrepeso. Nesses casos, cabe ao avaliador considerar qual será o melhor instrumento de medida para avaliar a flexibilidade na articulação em questão. Flexibilidade ativa é a máxima amplitude ob- tida por meio de movimentos produzidos pelos músculos de forma independente, enquanto que a flexibilidade passiva remete à amplitude arti- cular conseguida por meio da ação de uma for- ça externa. Sendo assim, a flexibilidade passiva é frequentemente maior que a ativa (WEINECK, 2004). Um fator que vale a pena ser ressaltado é a comum confusão feita entre a flexibilidade e o alongamento. O alongamento e as suas técnicas de execução são atividades e exercícios programados que têm diversos objetivos, dentre eles, o incremento da fle- xibilidade de uma determinada articulação. A flexi- bilidade, porém, não é uma valência de tão rápida adaptação quanto a força muscular, por exemplo. Muitas vezes, leva-se mais tempo para aumentar a flexibilidade de uma articulação do que para aumentar a força de um grupamento muscular. Os alongamentos, como os ilustrados na imagem a se- guir frequentemente têm o objetivo de aquecer ou relaxar a musculatura. 118 Muito cuidado deve ser empregado nessa técni- ca, pois você não deve esperar resultados distintos da musculatura se oferecer a ela o mesmo estímulo. Por exemplo, realizar o mesmo procedimento de alon- gamento antes e depois de uma sessão de exercícios, esperando que seu corpo se prepare (antes) e relaxe (depois). Se o estímulo dado é o mesmo, não espere resultados diferentes. Se o objetivo é o aquecimento articular para uma atividade, movimente seu aluno, privilegie o dinâmico. Se o objetivo é relaxar uma mus- culatura, ou mesmo treinar a flexibilidade, privilegie as posições estáticas, considerando o nível de dano e/ou fadiga causado pela sessão de treinos recém-realizada. Assim como anteriormente visto com relação à força muscular e às suas diferentes manifestações, a flexibilidade é específica a cada articulação. Ou seja, não existe um único teste que avalie essa capacidade no corpo todo. Avaliar a flexibilidade é importante sob diferentes aspectos. Primeiramente, ela é uma capacidade física que se adapta ao treinamento, por- tanto, para fins de acompanhamento da eficácia de um programa de treinos, testes periódicos são reco- mendados. No início de um ciclo de treinamento, também é importante verificar o nível basal de um indivíduo, já que baixos resultados dessa capacidade podem ser associados a lesões e dores crônicas (PES- CATELLO et al., 2014). Ainda mais, bons níveis de flexibilidade auxi- liam no desempenho esportivo, além de ser um fa- tor de prevenção de lesões. Não é somente na esfera esportiva que pessoas se beneficiam de bons níveis de flexibilidade. Assim como ocorre com a força muscular, a flexibilidade auxilia na realização das tarefas da vida diária e na manutenção de uma boa postura, sem contar o já citado fator preventivo de lesões agudas e crônicas, que podem comprometer atividades de cunho pessoal e profissional. AVALIAÇÃO DA FLEXIBILIDADE Os testes existentes para medir a flexibilidade podem ser classificados em três grupos (MARINS; GIANIC- CHI, 2003). Os testes angulares são aqueles que ex- pressam seus resultados em forma de graus, quando articulações formam ângulos. Exemplo desse tipo de teste é a goniometria, que será explorada mais à frente, neste tópico. Testes lineares expressam os seus resultados em escalas lineares de distância, como os centímetros. Um exemplo de teste linear é o famo- so sentar e alcançar, que mede a distância entre um ponto do corpo e outro de referência; esse também será explicado em detalhes ainda neste tópico. Os testes adimensionais têm como principal característica o fato de que seus valores são dados devido a observações realizadas durante o desempe- nho do teste. Pode-se usar folhas de gabaritos ou va- lores de referência para anotar os resultados, que de- pendem bastante da experiência do(a) avaliador(a). Como exemplos de testes adimensionais, que serão abordados aqui, temos o Flexiteste e o método do Functional Movement System, conhecido como FMS. A maneira mais precisa para avaliar a amplitude de movimento de diversas articulações ocorre com a utilização de um instrumento chamado goniômetro, com a técnica denominada goniometria. Essa avalia- ção angular deve seguir procedimentos padroniza- dos para cada uma das articulações, a fim de se obter resultados reprodutíveis e passíveis de comparação com banco de dados ou com o mesmo avaliado em momentos distintos (PESCATELLO et al., 2014). Trata-se da utilização do goniômetro para a me- dição dos ângulos articulares em diversas articula- ções e em diversos movimentos. O goniômetro é de simples manuseio, porém, requer a experiência do avaliador para a precisa obtenção dosresultados. EDUCAÇÃO FÍSICA 119 Por exemplo, a articulação do cotovelo (umeroul- nar) é classificada como ginglimóide ou dobradiça e, realiza, basicamente, o movimento de flexão e ex- tensão (THOMPSON; FLOYD, 2002). Utilizar a goniometria, nessa articulação, é sim- ples, basta posicionar o eixo do goniômetro no eixo de rotação da articulação. Se analisarmos, porém, uma articulação com diversos planos de movimen- to, como a do ombro (glenoumeral), classificada como enartrodial, a tarefa é mais complicada pe- los diversos movimentos possíveis, como flexão- -extensão, adução-abdução, adução-abdução ho- rizontal e rotação interna-externa (THOMPSON; FLOYD, 2002). Provavelmente, um dos mais conhecidos testes para avaliação da flexibilidade é o de sentar e al- cançar, extremamente prático e de fácil aplicação (PESCATELLO et al., 2014). Nele, o indivíduo se posiciona sentado no chão, de frente para um banco de madeira (geralmente, com 55 centímetros de fita métrica na superfície superior). Com os pés encos- tados no banco, descalço, e com os joelhos comple- tamente estendidos, o sujeito realiza uma flexão do tronco para frente, em velocidade controlada, deslo- cando uma pequena peça de madeira que corre so- bre uma fita métrica sobre a estrutura do banco. Em alguns casos, o(a) avaliado(a) apenas posiciona as mãos sobrepostas no ponto mais distante que conse- gue alcançar na fita métrica do banco, sustentando essa posição por três segundos. O escore desse teste linear é dado em centíme- tros, correspondente à distância alcançada pelo ava- liado. Existe, ainda, a possibilidade de realização desse teste sem o banco, somente com uma fita mé- trica no solo. Essa fita deve ser estendida no chão, e na marca de 38 cm, deve ser feita uma marcação. Será neste ponto que os calcanhares do avaliado de- vem estar posicionados, novamente descalço e com os joelhos completamente estendidos. O ponto 0 cm da fita estará entre as pernas do executante. Diferentes modalidades requerem maiores índices de flexibilidade em algumas articu- lações? Pense no cotovelo e no ombro de um arremessador de beisebol, no quadril de ginastas, e nos joelhos e tornozelos de um nadador. REFLITA A execução do teste é semelhante ao do banco, com o executante flexionando o tronco para frente e esten- dendo o cotovelo e as mãos o mais distante possível, consequentemente, ele toca na fita e mantém a po- sição por tempo suficiente para que a marca seja re- gistrada. Geralmente, são dadas três tentativas para cada indivíduo, e o maior valor de distância na fita é registrado como o escore do teste de flexibilidade de sentar e alcançar (PROESP-BR, 2018) Basicamente, o teste de sentar e alcançar limita-se a avaliar a flexibilidade da cadeia posterior do corpo hu- mano, principalmente flexores de joelho e extensores de quadril. Normalmente, o avaliado tem três tentati- vas consecutivas para realizar o teste, e o maior resul- tado é considerado para análise. Mesmo como um tes- te simples e de fácil compreensão, a familiarização ao movimento e às orientações do teste são importantes e podem ter papel fundamental no resultado obtido. É um teste simples, barato e bastante eficaz, que pode trazer aos(às) avaliadores(as) informa- ções básicas, porém, relevantes para avaliar a fle- xibilidade da musculatura posterior da coxa e do tronco (PESCATELLO et al., 2014). Essa avaliação 120 é, inclusive, capaz de distinguir indivíduos de dife- rentes níveis de treinamento, já que atletas de elite de Brazilian Jiu Jitsu obtiveram resultados significa- tivamente maiores do que os atletas que não eram de elite (MARINHO et al., 2016). O flexiteste é um método de avaliação adimen- sional que avalia a flexibilidade de 20 movimentos articulares do corpo humano. São oito em membros inferiores, nove em membros superiores e três no tronco. Toda a avaliação em articulações que este- jam presentes nos dois lados é realizada somente no hemicorpo direito do indivíduo. Trata-se de um protocolo de teste de flexibilidade passiva, com o au- xílio do avaliador, em que os movimentos devem ser executados lentamente. O escore do teste é dado de acordo com a com- paração do movimento apresentado com o padrão preestabelecido por figuras, que representam esco- res de zero, sendo zero de pior desempenho, e o qua- tro, o de melhor. No caso de desempenho entre dois escores, como, por exemplo, entre os padrões um e dois, sempre se registra o de menor valor, nesse caso, um. Portanto, a medida não é feita pelo valor que mais se aproxima da amplitude efetuada. Ao final da avaliação das 20 articulações, cada escore individual é somado para a obtenção do re- sultado final, chamado de índice global de flexibili- dade, o flexíndice (MARINS; GIANNICHI, 2003). A classificação geral do flexíndice é a seguinte: ≤ 20: deficiente; 21 a 30: fraco; 31 a 40: médio (–); 41 a 50: médio (+); 51 a 60: bom; > 60: excelente. Por fim, o método do Functional Movement Sys- tem, ou FMS, vem é muito utilizado em diversos am- bientes. Esse conjunto de avaliações também utiliza um método adimensional de mensuração, com esco- res entre zero e três pontos, para avaliar a qualidade dos movimentos propostos, sendo um o de menor qualidade, ou o 0 com dor, e o três, com a melhor qualidade de execução. Entretanto, se deve salientar que o FMS não é um sistema que avalia diretamente a flexibilidade, mas sim, padrões de movimentos. Ao(à) avaliado(a), é requisitada a realização de sete movimentos que envolvem diversas articula- ções concomitantes, em que flexibilidade, mobili- dade e estabilidade articular são exigidas de forma integrada. A avaliação do FMS tem sido utilizada como um indicador do risco de lesões em espor- tes, principalmente por sua eficácia em diagnosticar desequilíbrios contralaterais em determinados pa- drões de movimento e limitações articulares (DEL VECCHIO; FOSTER; ARRUDA, 2016). No presente tópico, a flexibilidade foi o assunto abordado. Você aprendeu o conceito dessa impor- tante capacidade que envolve diversas estruturas do corpo humano. A flexibilidade é de fundamental im- portância, tanto para o desempenho esportivo quan- to para a qualidade de vida. Os principais métodos e protocolos para avaliar a flexibilidade foram apre- sentados para você, em diferentes articulações. Os diferentes tipos de testes de avaliação foram descri- tos, sendo eles angulares, lineares ou adimensionais. Uma tabela de valores normativos para o esco- re final do flexiteste foi elaborada e publicada para indivíduos de ambos os sexos, entre cinco a 91 anos de idade. No artigo do professor Claudio Gil Soares de Araújo, publicado em 2008 na revista dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, foram avaliados 4711 indivídu- os não atletas, sendo 2943 homens e 1768 mulheres. Fonte: os autores. SAIBA MAIS 121 considerações finais N esta unidade, você aprendeu a conceituar as diferentes manifestações de força e a flexibilidade. Mais ainda, a você foram apresentados os prin- cipais testes para avaliação de cada uma dessas valências. Seja você um profissional que atuará em escola ou em clubes, com crianças, público em geral ou atletas, todos os conhecimentos descritos nesta unidade são de imensurável valor para que boas estratégias de avaliação sejam feitas. Todas as capacidades físicas estão presentes na vida diária das pessoas e no desempenho esportivo, fazendo parte e influenciando diretamente na qualidade de vida das pessoas e no aumento do de- sempenho esportivo. A força muscular e suas diversas manifestações são um dos fatores que garan- tem a independência dos seres humanos ao longo da vida. Portanto, avaliar a força máxima, a resistência de força e a potência muscular são elementos valiosos do co- nhecimento de um bom profissional de Educação Física. Você aprendeu os passos fundamentais para a escolha correta do teste de avaliação da força muscular deseja- da. Ainda, os procedimentos que devem ser efetuadospara que a avaliação seja feita com qualidade, gerando dados úteis ao processo de identificação do nível de aptidão do avaliado. Não menos importante, a flexibilidade é um elemento presente em todo o mo- vimento humano. Você aprendeu que bons níveis de flexibilidade são fundamentais para o funcionamento do corpo em movimento, e que diferentes testes e protocolos existem para a avaliação da flexibilidade em praticamente todas as principais articu- lações do corpo. Caro(a) aluno(a), independentemente do rumo que você dará à sua carreira, a força muscular e a flexibilidade serão elementos constantes na sala de aula, na qua- dra, no campo, na academia ou na ciência. Lembre-se de que, onde há movimento, há força realizada e, provavelmente, certo nível de flexibilidade exigida em determi- nada articulação. 122 atividades de estudo 1. De acordo com as informações apresentadas nesta unidade, considere as se- guintes afirmações sobre a força muscular: I - A força muscular apresenta três fundamentais manifestações: força máxima, força resistente e força potente. II - A força muscular está relacionada positivamente com a manutenção da mas- sa óssea, o aumento do metabolismo basal e a diminuição do risco de lesão, dentre outros aspectos. III - O tipo de contração muscular isométrica pode ocorrer de forma concêntrica ou excêntrica. IV - Na contração muscular excêntrica, a força interna vence a carga externa, di- minuindo o comprimento da fibra muscular. Assinale a alternativa correta: a) I apenas. b) IV apenas. c) I e II apenas. d) II e III apenas. e) II, III e IV apenas. 2. Considerando o teste de uma repetição máxima (1RM) para avaliação da força máxima, qual o tipo de contração que será exigido e avaliado nesse protocolo de teste? a) Contração isométrica. b) Força potente. c) Contração excêntrica. d) Contração concêntrica. e) Força rápida. 123 atividades de estudo 3. A dinamometria eletromecânica é um método confiável e bastante utilizado para avaliação da força muscular. Analise as afirmações a seguir sobre os fatores que devem ser considerados ao realizar uma avaliação nesse equipamento e assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F): ( ) A relevância da ação motora, ou seja, do movimento realizado, e o grupo muscular a ser avaliado. ( ) A velocidade angular para avaliação em contrações isométricas. ( ) O tipo de contração muscular a ser realizada, seja ela isométrica, concên- trica ou excêntrica. Assinale a alternativa correta: a) V; V; F. b) F; F; V. c) V; F; V. d) F; F; F. e) V; V; V. 4. O objetivo do teste de 1RM é verificar a carga com que o avaliado realiza apenas uma repetição em determinado exercício. Porém como você deve agir caso o avaliado realize mais do que uma repetição na última série de tentativas do teste de 1RM? I - Interromper o atual teste e realizar mais uma nova série até encontrar o valor de 1RM. II - Estimular o avaliado a realizar o máximo de repetições na série atual e, depois, utilizar tabelas de correção para encontrar o valor correspondente ao 1RM. III - Utilizar tabelas de correção para encontrar o 1RM ou assumir o valor encon- trado, adaptando a terminologia correspondente ao número de repetições realizadas, como 5RM ou 10RM, por exemplo. IV - Interromper o teste atual e marcar uma nova sessão de avaliação em menos de 24h. Assinale a alternativa correta: a) I apenas. b) II apenas. c) I e II apenas. d) II e III apenas. e) II, III e IV apenas. 124 atividades de estudo 5. Atualmente, diversos protocolos de avaliação têm sido desenvolvidos para públi- cos distintos. Uma alternativa útil para avaliar a resistência de força de membros inferiores em pessoas idosas é: a) Teste de arremesso de medicine ball. b) Teste de sentar e alcançar. c) Teste de salto com contramovimento (CMJ). d) Teste de sentar e levantar em 30 segundos. e) Teste de salto horizontal. 6. Conforme as informações disponibilizadas sobre a potência muscular, analise as afirmações a seguir e assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F): ( ) A potência muscular é um produto entre a força muscular e a velocidade de contração. ( ) Quanto maior a força exercida pela musculatura, menor será a velocidade de contração dela. ( ) Elevados valores de potência muscular são observados em contrações onde a força máxima não é atingida. Assinale a alternativa correta: a) V; V; F. b) F; F; V. c) V; F; V. d) F; F; F. e) V; V; V. 7. Leia a descrição do protocolo de teste a seguir e identifique qual o protocolo em questão: “neste tipo de salto, o avaliado se agacha até uma posição inicial prede- terminada e realiza o seu salto o mais rápido e alto possível, sem agachar mais antes do salto”. Estamos falando do: a) Salto horizontal. b) Salto vertical - squat jump (SJ). c) Salto vertical com contramovimento (CMJ). d) Teste de sentar e levantar em 30 segundos. e) Arremesso de medicine ball. 125 atividades de estudo 8. Diversos fatores influenciam a flexibilidade de um indivíduo. Assinale qual o as- pecto que não possui influência direta na flexibilidade: a) Idade do avaliado. b) Gênero do avaliado. c) Modalidade esportiva praticada pelo avaliado. d) Sobrepeso do avaliado. e) Equilíbrio do avaliado. 9. Conforme as informações descritas dos protocolos de testes para avaliar a flexi- bilidade, analise as afirmações a seguir e assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F): ( ) O flexiteste avalia apenas a flexibilidade da cadeia posterior do corpo hu- mano. ( ) O método da goniometria gera resultados em centímetros, sendo caracte- rizada como um teste angular. ( ) O teste de sentar e alcançar pode ser realizado mesmo sem o banco de referência, sendo adaptado apenas com o uso da fita métrica no chão. Assinale a alternativa correta: a) V; V; F. b) F; F; V. c) V; F; V. d) F; F; F. e) V; V; V. 10. Ao longo desta unidade, você recebeu informações sobre a relevância da ava- liação periódica da força e da flexibilidade, independentemente do nível do in- divíduo avaliado. Descreva a importância da avaliação da força muscular e da flexibilidade para indivíduos atletas e para o público geral. 126 LEITURA COMPLEMENTAR Recomendo a leitura do capítulo sobre a Biodinâmica do Brazilian Jiu Jitsu (BJJ), no livro Biodinâmica do Movimento Humano (FOLLMER; ANDREATO, 2017). Nesse capítulo, você en- contrará muitas informações sobre a importância da força muscular e da flexibilidade em praticantes e atletas dessa modalidade de esporte de combate de agarre. Ainda neste capí- tulo, há a investigação da relação entre um teste prático para avaliação da força muscular com a avaliação em dinamometria eletromecânica, com exercícios isométricos e dinâmicos de modo concêntrico e excêntrico. Os resultados são interessantes e alguns serão descritos aqui, para você. A seguir, são transcritos trechos da obra, especificamente do capítulo 9, que se inicia na página 162. Algumas investigações acerca da força de grandes grupos musculares têm sido conduzidas nos últimos anos com praticantes de BJJ. As manifestações de força vêm sendo avaliadas por vários métodos, em diferentes grupamentos musculares. Testes de saltos ou de carga máxima são comumente utilizados em praticantes de BJJ para avaliar a força e/ou potência de membros inferiores. A fim de avaliar as capacidades musculares de membros superio- res, a força máxima em teste de repetição máxima (1RM) no exercício de supino é o ins- trumento mais utilizado. Avaliações mais simples e acessíveis também já foram efetuadas para avaliar e classificar os atletas da modalidade, como o teste de um minuto de flexões de braço e de abdominais. De acordo com os resultados obtidos e as classificações realizadas, os praticantes de BJJ possuem bons níveis de força muscular nos grupos musculares avaliados. Nota-se, porém, não haver padronização quanto ao tipo de manifestação de força avaliada e quanto ao protocolo de teste realizado, dificultando a geraçãode dados para comparação e discussão entre os diferentes trabalhos. Neste sentido, avaliações em dinamômetros isocinéticos, que reconhecidamente geram dados fidedignos e reprodutíveis, podem identificar e caracterizar os parâmetros de torque de atletas de BJJ com maior validade, confiabilidade e reprodutibilidade, possibilitando a comparação entre estudos. Os resultados de pico de torque de contrações concêntricas, apresentados em termos absolutos e normalizados, foram maiores para os extensores em relação aos flexores do cotovelo, enquanto que nenhuma diferença foi apontada para as contrações excêntricas. A maioria das ações dinâ- micas de flexores do cotovelo no BJJ envolve a utilização concomitante da massa corporal, 127 LEITURA COMPLEMENTAR como para puxar o adversário. Já os extensores do cotovelo parecem ser recrutados de for- ma mais isolada, principalmente quando o praticante está de costas para o solo, portanto sem o auxílio da massa corporal, e empurra o seu oponente a fim de conseguir espaço para algum movimento técnico ou para se defender. Sugere-se que esse maior recrutamento isolado dos extensores do cotovelo justifique os maiores valores encontrados concentri- camente nos praticantes de BJJ. Conforme esperado e de acordo com a teoria das pontes cruzadas, o pico de torque obtido nas contrações excêntricas gerou maiores valores do que os obtidos nas contrações concêntricas, para ambos os grupos musculares. Contudo, nem todos os técnicos e atletas têm acesso a equipamentos sofisticados e avalia- ções laboratoriais, tornando importante o desenvolvimento e a investigação de testes de campo para a avaliação de capacidades físicas. Os Kimono Grip Strength Tests (KGST) são: máximo número de repetições (MNR) e máximo tempo de sustentação (MTS). Ambos são realizados para verificar aspectos que possivelmente determinam a habilidade de manu- tenção da pegada, durante isometria (i.e. MTS) ou em movimento dinâmico (i.e. MNR). Nos dois testes, o indivíduo faz a pegada no kimono, que permanece enrolado em uma barra fixa. O MNR consiste na quantidade de repetições do movimento da máxima extensão à máxima flexão do cotovelo. O MTS é definido como o tempo que o sujeito consegue per- manecer suspenso, com a pegada no kimono, sustentando sua própria massa corporal na máxima flexão de cotovelo. Além do fato dos KGST serem mais acessíveis que dinamôme- tros isocinéticos, estes estão positivamente relacionados com parâmetros de torque de membros superiores em atletas de BJJ. Um estudo correlacionou os resultados obtidos nos dois KGST com parâmetros de torque mensurados em dinamometria isocinética, a fim de verificar a relação do MNR e MTS com um instrumento reconhecidamente validado e confiável. Concluiu-se que o teste de MNR apresentou, supostamente, maiores índices de correlação que o MTS para cada ângulo articular avaliado isometricamente e no modo dinâmico, tanto para flexores quanto extensores do cotovelo. Esses resultados sugerem que o MNR pode avaliar parâmetros de força muscular de atletas de BJJ, com altos índices de correlação com os picos de torque isométrico, concêntrico e excêntrico, avaliados por dinamometria isocinética. Fonte: Follmer e Andreato (2017). 128 material complementar O Projeto Esporte Brasil propõe uma bateria de testes para diversas capacidades de crianças e jovens brasi- leiros. O banco de dados formado ajuda em diagnósticos e na detecção de talentos. Web: https://www.ufrgs. br/proesp/. Acesso em: 5 jun. 2019. Conheça o artigo do professor Claudio Gil Soares de Araújo. Web: http://www.scielo.br/scielo.php?script=s- ci_arttext&pid=S0066-782X2008000400008. Acesso em: 5 jun. 2019. Indicação para Acessar Força e Potência no Esporte P. V. Komi Editora: Artmed Sinopse: livro publicado sob o aval da Comissão Médica do Comitê Olímpico Inter- nacional, esta segunda edição de Força e Potência no Esporte aborda as relações entre fatores neurais, hormonais, musculares e mecânicos, fundamentais para o entendimento tanto do desempenho nos esportes como nas atividades da vida diária da população em geral. Neste livro, são abordados os seguintes tópicos: de- finição de termos e conceitos; bases biológicas de força e potência; mecanismos de adaptação no treinamento de força e potência; considerações especiais no treinamento de força e potência; treinamento de força e potência nos esportes. Indicação para Ler https://www.ufrgs.br/proesp/ https://www.ufrgs.br/proesp/ http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2008000400008 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2008000400008 129 referências ASTRAND, P. O.; RODAHL, K.; DAHL, H. A.; STROMME, S. B. Tratado de Fisio- logia do Trabalho. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. BARSS, T. S.; PEARCEY, G. E. P.; ZEHR, E. P. Cross-education of strength and skill: an old idea with applications in the aging nervous system. Yale Journal of Biology and Medicine. v. 89, p. 81-86, 2016. BROWN L. E.; WEIR J. P. Accurate assessment of muscular strength and Power. Journal of Exercise Physiology Online. v. 4, n. 3, 2001. SILVA, B. V. C.; SIMIM, M. A. M.; MAROCOLO, M.; FRANCHINI, E.; MOTA, G. R. Optimal load for the peak power and maximal strength of the upper body in Bra- zilian Jiu-Jitsu athletes. The Journal of Strength and Conditioning Research, v. 29, n. 6, p. 1616–1621, 2015. DEL VECCHIO, F. B.; FOSTER, D.; ARRUDA, A. Functional movement screening performance of Brazilian jiu-jitsu athletes from Brazil: differences considering prac- tice time and combat style. The Journal of Strength and Conditioning Research. v. 30, n. 8, p. 2341-2347, 2016. FOLLMER, B.; ANDREATO, L. V. 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Ba- rueri: Manole, 2002. WEINECK, J. E. Futebol total: o treinamento físico no futebol. Guarulhos: Phorte, 2004. 131 gabarito 1. C. 2. D. 3. C. 4. D. 5. D. 6. E. 7. B. 8. E. 9. B. 10. Sobre a força muscular: Reconhecer o atual nível de treinamento e como fundamentação para ela-borar o plano de treinos, com as cargas específicas. Além disto, avaliar um indivíduo periodicamente durante um ciclo de treinamento é uma excelente ferramenta para acompanhar as respostas desse atleta aos estímulos e car- gas que estão sendo propostos. Uma boa força muscular está relacionada positivamente com a manutenção da massa óssea, a tolerância à glicose, o aumento do metabolismo basal, a integridade músculo-tendínea (diminuindo riscos de lesão) e com a funciona- lidade do corpo para ações da vida diária. Sobre a flexibilidade: Bons níveis de flexibilidade auxiliam no desempenho esportivo, além de ser considerado um fator de prevenção a lesões. Assim como ocorre com a força muscular, a flexibilidade auxilia na realização das tarefas da vida diária e na manutenção de uma boa postura, sem contar o já citado fator preventivo a lesões agudas e crônicas, que podem compro- meter atividades de cunho pessoal e profissional. Professor Dr. Braulio Henrique Magnani Branco Professor Me. Adriano Ruy Matsuo Professor Me. Bruno Follmer Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Avaliação aeróbia • Testes laboratoriais • Testes de campo Objetivos de Aprendizagem • Conceituar o metabolismo aeróbio, bem como as variáveis de potência e capacidade aeróbia. • Apresentar os testes físicos que mensuram a condição aeróbia em ambiente laboratorial. • Descrever os testes práticos de campo que avaliam a condição aeróbia. AVALIAÇÃO AERÓBIA unidade IV INTRODUÇÃO A condição aeróbia é um dos principais componentes de saúde dos seres humanos. A integração entre sistema cardíaco, res- piratório e muscular garante à condição aeróbia um papel de destaque em qualquer programa de avaliação, prevenção ou re- abilitação. A direta associação da saúde cardiovascular com riscos de do- enças, e até com a mortalidade, ressalta a importância dessa capacidade. O estudo da avaliação aeróbia demanda boas bases bioquímica e fi- siológica. Para isso, o primeiro tópico desta unidade vai tratar dos concei- tos e mecanismos do sistema aeróbio de fornecimento de energia. Tanto a capacidade quanto a potência aeróbia serão abordadas. Termos que são frequentemente encontrados na literatura serão explicados. Com esse conhecimento, você estará apto a entender melhor o funcionamento do sistema aeróbio e, consequentemente, a importância dele na vida e no desempenho. Frequentemente avaliado em ambiente laboratorial, com o objetivo de diagnosticar o nível de condicionamento de um atleta, o sistema ae- róbio também pode ser avaliado por testes simples e práticos, chamados testes de campo. Estas alternativas trazem opções para que o profissio- nal da Educação Física avalie a condição aeróbia do público em geral, de crianças a idosos, de atletas a sedentários. As principais variáveis dos testes serão apresentadas e explicadas, pois constituem aspectos funda- mentais para o entendimento do conteúdo. Nesta unidade do livro, você será apresentado a diversos testes e pro- tocolos de avaliação do sistema aeróbio, tanto em condições laboratoriais quanto em campo. Seja qual for o teste escolhido para avaliar a condição aeróbia, você deve estar ciente dos detalhes que envolvem cada protocolo, para garantir uma boa avaliação e a utilidade dos dados gerados na pro- moção da saúde ou na aplicação a um programa de treinamento. 136 O condicionamento cardiorrespiratório está re- lacionado à habilidade de realizar exercícios dinâ- micos de diversas intensidades, que envolvam gran- des grupos musculares por prolongado período de tempo (PESCATELLO et al., 2014). É, muitas vezes, também chamada de aptidão cardiorrespiratória, capacidade aeróbia máxima, capacidade funcional e capacidade física de trabalho. O fato é que, para en- tender o sistema aeróbio, será necessário fundamen- tá-lo desde o processo de fornecimento de energia. Olá, pessoal! O assunto desta unidade é de extre- ma importância para a avaliação da saúde e/ou do desempenho de um indivíduo. O sistema aeróbio engloba variáveis cardíacas, respiratórias e mus- culares, integrando alguns dos principais sistemas do corpo humano. Neste tópico, você será apre- sentado a diversos conceitos e ao entendimento do sistema aeróbio de fornecimento de energia, para, depois, reconhecer e entender os principais testes de avaliação. Avaliação Aeróbia EDUCAÇÃO FÍSICA 137 A energia pode se apresentar em várias formas: química, térmica, mecânica, elétrica, eletromagnética e nuclear. A primeira lei da termodinâmica diz que a energia não pode ser criada nem destruída, no entanto, ela pode ser transformada de uma forma a outra de acordo com as exigências fisiológicas do organismo. Pela alimentação, o homem obtém os nutrientes necessários à sua sobrevivência, por- tadores da energia química armazenada durante o processo de fotossíntese. As fontes energéticas dos alimentos são armazenadas e utilizadas pelo homem na forma de carboidratos, gorduras e proteínas. A transformação da energia química dos alimentos em energia mecânica é o que permite a contração mus- cular e, consequentemente, os movimentos do cor- po humano, além da manutenção das funções vitais (FUNDAÇÃO VALE, 2013b). A fonte energética primordial para o funciona- mento celular é o ATP. A quebra dessa molécula está diretamente associada ao fornecimento de energia, o que gera diversos fenômenos no sistema fisiológico humano, como a contração e o relaxamento muscu- lar, por exemplo. Porém, para que haja fornecimen- to suficiente de energia, deve ocorrer a ressíntese de ATP, realizada por diversos sistemas que derivam de nutrientes, como carboidratos, gorduras e proteínas. Essas vias metabólicas integradas, que visam a ofer- ta energética para que o organismo possa desempe- nhar suas funções, podem ocorrer de forma aeróbia (sistemas glicolítico oxidativo, lipolítico e proteolí- tico) ou anaeróbia (sistemas ATP-CP e glicolítico). No presente tópico, abordaremos o sistema oxi- dativo, ou metabolismo aeróbio de fornecimento de energia, para, depois, apresentar os testes de avaliação dessa capacidade. Aspectos bioquímicos e fisiológicos detalhados não serão encontrados nesta unidade, ten- do em vista que o foco principal é estruturar uma base para o posterior entendimento dos testes e avaliações. Entretanto, algum entendimento básico de como fun- ciona o sistema oxidativo será apresentado a seguir. METABOLISMO AERÓBIO DE FORNECIMENTO DE ENERGIA Trata-se do mais complexo sistema de produção de energia existente, que utiliza carboidratos, gorduras e proteínas de forma integrada como fonte de subs- trato, sempre contando com o oxigênio como prin- cipal elemento para o catabolismo dos substratos (FUNDAÇÃO VALE, 2013b). Esse é um dos moti- vos pelos quais o consumo máximo de oxigênio é uma das variáveis mais conhecidas da aptidão aeró- bia. A integração entre diferentes sistemas, porém, é o que garante a eficiência dessa rota. O sistema respiratório tem a sua importância no que diz respeito a captar o oxigênio do ar e, nos pulmões, realizar as trocas gasosas, purificando o sangue com moléculas de oxigênio e expelindo as de dióxido de carbono. O sistema cardíaco é o res- ponsável pelo bombeamento desse sangue cheio de oxigênio da zona central até a periferia, ou seja, a musculatura. O sistema muscular, por sua vez, deve possuir a capacidade de aproveitar essa oferta do sangue arterial para captar e utilizar o oxigênio de modo eficiente e, assim, promover a ressíntese de ATP, principalmente no sistema oxidativo. Essa integração de sistemas é o que fundamenta a importância da condição cardiorrespiratória. Baixos níveis de condicionamento aeróbio estão relacionados ao aumento do risco de doenças e de morte por di- versas causas, enquanto que altos níveis de condição cardiorrespiratória representam maiores índices de atividades físicas, o que resulta em diversos benefícios à saúde (Figura 1) (PESCATELLO etal., 2014). 138 Melhora a função cerebral. Reduz risco de doença cardíaca. Melhora a pressão arterial. Controle do peso. Fortalece sistema imunológico. Fortalecimento muscular. Fortalece os pulmões. Figura 1 - Os benefícios da corrida para a saúde Será que existe uma ordem de importância no que diz respeito aos sistemas envolvidos com a condição aeróbia? REFLITA Seja para observação da aptidão física de um indi- víduo normal, seja para a mensuração do desem- penho de um atleta esportivo, avaliar a condição cardiorrespiratória é sempre relevante. De acordo com Marins e Giannichi (2003), o principal objetivo dessa avaliação é investigar o processo de adequação dos ajustes fisiológicos às demandas metabólicas, que ultrapassam as de repouso, até a identificação da capacidade máxima aeróbia do avaliado. Entre diversos aspectos, a avaliação da condição aeróbia possibilita a observação do comportamen- to cardíaco e da pressão arterial em exercício, o que pode auxiliar no diagnóstico de anormalidades. O exercício físico e o treinamento podem ser prescri- tos com base nos resultados encontrados em uma avaliação aeróbia. A comparação entre avaliações em diferentes momentos gera dados importantes para saber qual a resposta de um indivíduo a deter- minado programa de treinamento ou reabilitação, desde que as avaliações tenham sido realizadas de forma padronizada. Conforme citado anteriormente, a variável mais conhecida para a avaliação da condição aeró- bia é o consumo máximo de oxigênio, representado pela abreviação VO2max . Dentre diversas definições, ele pode ser entendido como o volume máximo de oxigênio que pode ser captado, transportado e utilizado pelas células, fazendo referência à inte- gração dos sistemas respiratório, cardíaco e mus- cular (FUNDAÇÃO VALE, 2013b). O VO2max é determinado geneticamente, porém, o estilo de vida e o treinamento físico podem alterar o seu valor em magnitude dependente de aspectos relacionados à individualidade biológica (ASTRAND et al., 2006). Em termos de unidade de medida, o VO2max é apresentado em valores absolutos em L/min ou re- lativos à massa corporal, em ml/kg/min. Os valores absolutos desprezam a massa corporal do indivíduo, gerando valores dependentes dela. Ou seja, indiví- duos com maior massa corporal terão maiores valo- res de consumo de oxigênio, pois apresentam maior volume corporal. Nesse sentido, os valores relativos são comumente reportados, considerando a massa corporal dos indivíduos e, assim, minimizando dife- renças entre avaliados por conta da estrutura corpó- rea, o que facilita a comparação de grupos (PESCA- TELLO et al., 2014). Os maiores valores de VO2max são, geralmente, encontrados em esportistas de provas de longas dis- tâncias, como esquiadores e maratonistas. Por outro lado, pessoas sedentárias são as que apresentam os menores valores, além daquelas que possuem doen- ças específicas ou que sofreram infarto do miocárdio. EDUCAÇÃO FÍSICA 139 O VO2max é uma variável que tem relação direta com o sexo e a idade dos indivíduos. Após a fase de maturação da adolescência, meninos desenvolvem maior massa muscular, o que contribui diretamente para maior VO2max em relação às meninas. Com o passar dos anos, o envelhecimento acarreta a diminuição do con- sumo máximo de oxigênio das pessoas, muito em função da perda de massa muscular. Fonte: os autores. SAIBA MAIS O consumo máximo de oxigênio é tido como um índice da potência aeróbia, enquanto que outros índices, na literatura, aparecem relacionados à ca- pacidade aeróbia. Astrand et al. (2006) define que a capacidade refere-se à disponibilidade total de energia, enquanto a potência significa energia por unidade de tempo (como nas unidades de medida do VO2max). Com relação aos índices de capacidade aeróbia, alguns se destacam, como os limiares de lactato e os limiares ventilatórios. Basicamente, os limiares de lactato represen- tam intensidades de exercício nas quais há au- mento substancial na produção ou no acúmulo de lactato no sangue. Bastante correlacionado a esse aspecto está a ocorrência de um ponto de quebra na relação da ventilação pulmonar pelo consu- mo de oxigênio, denominado limiar ventilatório (ASTRAND et al., 2006). Mais informações sobre os limiares de transição fisiológica devem ser en- contradas em capítulos específicos do conteúdo de fisiologia do exercício. Qual índice é mais sensível ao treinamento, o VO2max ou o limiar de lactato? Um alto valor de VO2max , obrigatoriamente, reflete sucesso no desempenho esportivo? REFLITA Tanto em avaliações laboratoriais quanto em testes práticos de campo, é sempre interessante para o(a) avaliador(a) observar alguns fatores que podem ser considerados como contraindicações para a realiza- ção dos testes. A anamnese inicial é fundamental. Com ela, o(a) avaliador(a) pode ter conhecimento do histórico de doenças e predisposições do avalia- do. Casos de embolia pulmonar, arritmias, dores to- rácicas, insuficiência cardíaca e lesões em músculos, tendões ou ligamentos podem ser fatores a proibir a execução de qualquer avaliação de esforço, princi- palmente sem a presença de um médico. É fundamental que o(a) avaliado(a) tenha acesso a um termo de consentimento onde todos os pro- cedimentos da avaliação sejam descritos. Com esse documento, o avaliador garante que expôs ao ava- liado todas as condições do teste, como os procedi- mentos de coleta, os riscos e benefícios daquela ava- liação. A mensuração dos índices de potência ou de capacidade aeróbia pode ser obtida por meio de pro- tocolos e testes de avaliação (que serão abordados nos próximos tópicos). Na sequência, as avaliações laboratoriais serão apresentadas, enquanto que, no terceiro tópico desta unidade, você será apresentado a diversas possibilidades de testes de campo para a avaliação da condição aeróbia. 140 Testes Laboratoriais EDUCAÇÃO FÍSICA 141 No segundo tópico desta unidade, você aprenderá os testes de avaliação da condição aeróbia desem- penhados em ambiente laboratorial. Todas as infor- mações relevantes, desde a escolha do ergômetro, do procedimento para a coleta de dados, dos protocolos de avaliação e das variáveis avaliadas serão aborda- das. Os principais testes de avaliação da potência e capacidade aeróbia serão descritos a você. Os testes laboratoriais contam com muitas van- tagens, porém, também apresentam desvantagens e maiores cuidados em relação aos testes de campo. As maiores vantagens de realizar uma avaliação fí- sica em ambiente laboratorial são a confiabilidade e a reprodutibilidade dos dados. A validade interna desses dados é excelente, pois são medidas padro- nizadas, em unidades reconhecidas internacional- mente, como o L/min e o ml/kg/min do VO2max . Por outro lado, esses testes laboratoriais não são acessíveis a todas as pessoas e a todos os profissio- nais, exigindo treinamento específico dos(as) ava- liadores(as) e certo grau de familiarização dos(as) avaliados(as). Ainda, diversas variáveis constituem a avaliação laboratorial, portanto, a padronização do protocolo e dos procedimentos de avaliação é fun- damental. Será por meio dessas variáveis que come- çaremos nosso entendimento das avaliações labora- toriais da capacidade aeróbia. O teste para obtenção do consumo máximo de oxigênio em laboratório é realizado com a utilização de um espirômetro, ou analisador de gases, aparelho que permite a mensuração de vários volumes e fluxos de ar. Esse teste máximo é comumente administrado de forma incremental. Ou seja, o exercício se inicia em uma intensidade baixa que, progressivamente, é aumentada até a exaustão do(a) avaliado(a). De que modo será feito esse incremento na intensidade do teste até o seu ponto máximo é a primeira variável que será abordada. Existem dois principais protocolos para um teste incremental de medida do VO2max , em rampa e em escada, também conhecido como degrau. Testes em rampa sãoaqueles caracterizados pelo aumento frequente de intensidade em intervalos curtos de tempo, entre um a dois minutos. Devido a isso, essa intensidade é incrementada de forma sutil, em pequena quantidade. Com esse padrão, dificil- mente há a estabilização de marcadores metabólicos no sangue, como a concentração de lactato. Testes com protocolo em rampa, porém, podem ser mais rápidos e gerar dados confiáveis nas variáveis venti- latórias e na própria obtenção do VO2max (ASTRAND et al., 2006). Os protocolos com características de escada, ou degrau, possuem estágios mais longos, geralmente, entre três a seis minutos. A intensidade, porém, é aumentada de forma mais brusca, com significativa mudança no ritmo do exercício. O tempo maior em cada estágio também possibilita a estabilização dos marcadores sanguíneos e ventilatórios que interes- sam aos avaliadores. Testes com protocolos em es- cada são, geralmente, mais demorados, e deve haver cuidado para que o tempo da avaliação não seja exa- cerbado, de modo que o indivíduo entre em fadiga por mecanismos não desejados para uma avaliação de VO2max (ASTRAND et al., 2006). 142 A duração do estágio em um teste incremen- tal é um fator que influencia diretamente nos re- sultados de diversas variáveis dos testes realizados em diferentes ergômetros, como em esteira rolante (KUIPERS et al., 2003) e em bicicleta (ROFFEY et al., 2007). A escolha da característica do protocolo – rampa ou escada – pode depender do tipo de ergô- metro que será utilizado no teste. Apesar do remoer- gômetro ser uma possibilidade, os dois ergômetros mais empregados para a avaliação da condição ae- róbia são a esteira rolante e a bicicleta ergométrica, conforme Figuras 2 e 3: Figura 2 - Ergômetro: esteira rolante Figura 3 - Ergômetro: bicicleta ergométrica Ambos os métodos são bastante empregados, po- rém, algumas diferenças devem ser consideradas ao definir qual ergômetro será escolhido. A esteira é o aparelho mais comum e que recruta a maior quan- tidade de massa muscular durante o exercício, prin- cipalmente por envolver os membros superiores nos movimentos da caminhada e corrida. Devido a isso, é bastante normal que se encontre valores maiores de VO2max quando o teste é desempenhado em estei- ra (PESCATELLO et al., 2014). Existem duas formas básicas de manipular a intensidade do teste incremental em esteira: a ve- locidade e a inclinação. Manipular a velocidade e/ ou a inclinação significa um incremento em uma dessas variáveis – ou até mesmo nas duas – a cada estágio do teste. Essa configuração é estipulada antes da realização do teste, e deve ser explicada previa- mente ao(à) avaliado(a). Maiores informações sobre os procedimentos para a aplicação do teste serão fornecidas ao final deste tópico. Conforme citado anteriormente, protocolos em rampa manipulam o incremento de velocidade de forma mais sutil, com aumentos pequenos a cada estágio, pouco perceptíveis e que causarão mínimo desconforto ao(à) avaliado(a). Já os protocolos em escada ou degrau apresentarão incrementos mais bruscos na velocidade ou na inclinação da esteira a cada estágio e perceptíveis aos(às) avaliados(as), que podem gerar desconforto inicial. Entretanto, o maior tempo que o avaliado passa no estágio possi- bilitará a adaptação antes de progredir para o próxi- mo estágio do teste. Independentemente do protocolo escolhido, o teste incremental em esteira se encerra no momen- to da desistência voluntária do indivíduo, seja por aviso aos avaliadores, seja pelo abandono da faixa rolante da esteira. Recomenda-se que o teste em es- EDUCAÇÃO FÍSICA 143 teira seja feito com indivíduos que estejam familiari- zados com o exercício da caminhada e da corrida e, principalmente, habituados com a própria esteira. A utilização das barras laterais do aparelho não é reco- mendada durante todo o teste, pois pode manipular os dados de consumo de oxigênio e outras variáveis (PESCATELLO et al., 2014). O teste incremental máximo realizado em bici- cleta é outra maneira bastante comum para a obten- ção do VO2max . O exercício em bicicleta apresenta uma vantagem considerável em relação à esteira, pois indivíduos com sobrepeso ou não acostumados com a corrida têm maior facilidade de completar o teste nesse tipo de ergômetro. Por outro lado, o exer- cício focado principalmente nos membros inferio- res preconiza uma fadiga periférica e localizada nas pernas, o que pode comprometer os resultados da avaliação (PESCATELLO et al., 2014). A intensidade do exercício na bicicleta ergo- métrica é, basicamente, manipulada pela carga de resistência que o ergômetro impõe ao avaliado no movimento da pedalada. A avaliação é iniciada com carga baixa e o(a) avaliado(a) é, geralmente, instru- ído(a) a pedalar na mesma cadência (rotações por minuto) durante todo o protocolo de coleta de da- dos. A cada estágio, a carga é aumentada e, como a cadência é constante, a força que o indivíduo deve fazer para pedalar aumenta, assim como a potência gerada. Novamente, as características de protocolos em rampa ou em escada são possíveis, e partem da escolha do avaliador. No caso de protocolos em rampa, alguns mode- los de cicloergômetro possibilitam um aumento pra- ticamente imperceptível ao avaliado, em intervalos de tempo bastante diminuídos. Conforme explicado anteriormente, nos protocolos em escada ou degrau, o incremento de carga é maior a cada estágio, que dura mais tempo. O final do teste ocorre, basica- mente, quando o avaliado não é capaz de manter a mesma rotação por minuto. Trata-se de um final de teste mais seguro em relação ao da esteira, principal- mente para indivíduos não habituados a correr no aparelho. Aliás, os fatores que devem ser considera- dos para encerrar um teste máximo incremental em laboratório, independentemente do ergômetro esco- lhido, serão abordados na sequência. As variáveis obtidas nos testes máximos de condição aeróbia são também influenciadas pela especialidade dos avaliados. Por exem- plo, ciclistas obterão melhores resultados quando avaliados em bicicleta. A mesma ló- gica serve para corredores, quando realizam o teste em esteira. E os triatletas? E os seden- tários? Estas perguntas foram respondidas no artigo intitulado “Índices de potência e capacidade aeróbia obtidos em cicloergô- metro e esteira rolante: comparações entre corredores, ciclistas, triatletas e sedentários” de autoria de Caputo e colaboradores (2003). Fonte: os autores. SAIBA MAIS Não é somente quando o(a) avaliado(a) desiste vo- luntariamente do teste que este pode ser encerrado. O que se espera, ao conduzir uma avaliação máxima in- cremental, é que o(a) avaliado(a) atinja o máximo de esforço e desista voluntariamente do teste quando não estiver mais em condições de continuar. Em esteira, isso é manifestado verbal ou gestualmente, ou pela sa- ída da faixa rolante da esteira, com o auxílio das barras laterais. Em bicicleta, o processo é mais seguro, já que basta o(a) avaliado(a) parar de pedalar ou não conse- guir manter a mínima rotação exigida pelo protocolo. 144 Existem, entretanto, diversos marcadores que o(a) avaliador(a) deve monitorar e, em determi- nados casos, considerar a interrupção do teste in- cremental, mesmo que o(a) avaliado(a) não tenha manifestado intenção de parar. Tais procedimentos visam a segurança do(a) avaliado(a). O principal deles é o surgimento de angina, dor torácica devi- da ao baixo abastecimento de oxigênio e nutrientes, ou sintomas de angina. Estes são fatores suficientes para a interrupção imediata da avaliação. Ainda, al- terações não justificáveis no ritmo cardíaco, como arritmias, ou na pressão arterial, são suficientes para o término do exercício. O comportamento da frequência cardíaca deve ser monitorado durante todo o protocolo. Muitos avaliadores decidem pela interrupção do teste caso a frequência cardíaca não aumente com o incremento da intensidade, ou mesmo se atingir valoressupe- riores a 85% da frequência cardíaca máxima predita, geralmente pela equação de 220 – idade (PESCA- TELLO et al., 2014). Fatores visuais que exigem ex- periência do avaliador também devem ser conside- rados, como a observação de descoordenação grave do gesto motor, de confusão e respiração com difi- culdade (PESCATELLO et al., 2014). A percepção subjetiva de esforço também é um critério que pode ser utilizado pelos(as) avaliadores(as) para avaliar o nível de esforço do(a) avaliado(a) e considerar a in- terrupção do teste. A percepção subjetiva de esforço pode ser men- surada pela famosa escala de Borg (1982). A primei- ra versão divulgada, criada em 1970, remetia a uma proporção linear da escala com a frequência cardíaca. Os números seis a 20 não saíram da imaginação dos pesquisadores. Eles estariam diretamente associados a valores de frequência cardíaca, por exemplo: 6 = 60 bpm, 10 = 100 bpm e 20 = 200 bpm. A ideia da segunda tabela, de zero a dez, foi criar a relação de proporcionalidade, no sentido de que o nível dois corresponda à metade do nível quatro, e a nomencla- tura deve acompanhar essa proporção. O intuito dos pesquisadores foi tornar a expressão da percepção algo mais familiar para os indivíduos, criando esse sentido de proporcionalidade entre os níveis. Muitas variáveis são coletadas durante testes incrementais, independentemente do protocolo e do ergômetro escolhidos. Conforme visto anterior- mente, porém, as variáveis podem apresentar com- portamentos diferentes, caso não haja padroniza- ção entre as avaliações. Normalmente, o VO2max é a variável de potência aeróbia desejada, enquanto que os limiares ventilatório e de lactato são os índices de capacidade aeróbia. O VO2max é verificado, basi- camente, na forma de platô ou de pico. Em platô, mesmo com incremento de intensidade, os valores de consumo de oxigênio não se alteram significati- vamente (DIEFENTHAELER et al., 2017). Quando o teste incremental é interrompido (vide motivos anteriores) mesmo sem a presença de platô no comportamento do consumo de oxigênio ao final do teste, diz-se que o VO2max pico foi coletado. Para a determinação dos limiares de transição fisiológica, ventilatório e/ou de lactato, o tipo de protocolo e o ergômetro escolhidos são relevantes. Em um teste que demande análise de lactacidemia, a coleta de sangue é realizada, geralmente, pelo lóbulo da ore- lha, sempre no início de um novo estágio do teste. Testes realizados em esteira exigem que o(a) ava- liado(a) saia da faixa rolante da esteira para que a coleta seja feita com o indivíduo parado. Esse tempo entre os estágios pode ser considerado um descanso e comprometer os resultados da avaliação (BENEKE EDUCAÇÃO FÍSICA 145 et al., 2003). Se o teste incremental for conduzido em bicicleta, a coleta de sangue pode ser realizada com o indivíduo em exercício, dada a estabilidade do corpo do avaliado. Em ambos os casos, a experi- ência do avaliador é fundamental para uma precisa e eficiente coleta do material sanguíneo. No caso das variáveis ventilatórias, não há tanta influência direta nos dados em função do ergômetro ou do tipo de protocolo escolhido, já que o espirômetro coleta a troca de gases constantemente. Pausas para a coleta de sangue são realiza- das a cada estágio de um teste incremental máximo realizado em esteira. Será que essa pausa influencia os resultados do teste? REFLITA Juntamente a essas variáveis conhecidas (VO2max e li- miares), outras submáximas são coletadas ao longo do teste, as quais são de extrema relevância para a avaliação e para a prescrição de intensidades de trei- namento (FUNDAÇÃO VALE, 2013a). A frequên- cia cardíaca é monitorada ao longo de todo o teste máximo incremental, por meio da utilização de um aparelho chamado frequencímetro. Ele coleta os ba- timentos cardíacos e envia os dados para um dispo- sitivo, geralmente, um relógio, ou diretamente para o computador ao qual o ergômetro está sincronizado. O comportamento da frequência cardíaca é, en- tão, acompanhado durante todo o teste, e os dados da frequência correspondentes aos pontos dos limiares de lactato e ventilatório são bastante úteis para o treinamento físico. Ainda, outro índice importante é a frequência cardíaca máxima, registrada como o valor máximo obtido durante a fase final do teste incremental (DIEFENTHAELER et al., 2017). Outra variável interessante é a intensidade do VO2max , re- presentada pela sigla iVO2max ,que significa a mínima velocidade (em esteira) ou potência (em bicicleta) na qual o VO2max foi atingido (CAPUTO et al., 2003). O pico de velocidade é mais uma variável possí- vel, entendido como a máxima velocidade atingida no teste por um estágio completo (DIEFENTHA- ELER et al., 2017). Importante salientar que a trans- ferência dos dados de variáveis obtidas em testes la- boratoriais para situações de treinamento em pista deve observar algumas peculiaridades. Em termos energéticos, o principal fator atribuído à corrida ao ar livre é a maior resistência do ar, e isso gera um custo energético maior ao corredor em comparação à condição em esteira. Geralmente, ao efetuar um protocolo incremen- tal para determinação do VO2max baseado em incre- mento apenas de velocidade, adota-se a inclinação constante de 1% na esteira, a fim de reproduzir as condições climáticas da corrida na rua. A inclina- ção não demonstrou diferença em relação ao consu- mo de oxigênio, nem quanto à frequência cardíaca obtida na corrida em rua, em seis velocidades estu- dadas (10,5; 12; 13,5; 15; 15,5 e 18 km/h). Portanto, em velocidades entre 10,5 e 18 km/h, a inclinação de 1% em esteira é a que melhor reproduz o custo energético obtido em corrida na rua para a mesma velocidade (JONES; DOUST, 1996). Desse modo, acredita-se que os parâmetros submáximos obtidos no teste incremental (como a iVO2max ou frequência cardíaca-alvo) possam ser mais fielmente reproduzidos para o treinamento em pista. Testes incrementais para avaliação da condição aeróbia devem durar entre oito a 15 146 minutos (MARINS; GIANNICHI, 2003). Essa re- comendação visa a obtenção de dados fisiológicos suficientes para a análise do comportamento físico aeróbio e evita mecanismos de fadiga relacionados a outros aspectos que não ao metabolismo aeróbio. Alguns protocolos clássicos foram desenvolvi- dos há muitos anos, como o de Bruce (MARINS; GIANNICHI, 2003). O protocolo de Bruce possui estágios de três minutos, caracterizando um proto- colo de escada ou degrau, com aumento conjunto na velocidade e na inclinação da esteira a cada está- gio. Trata-se de um protocolo agressivo, com incre- mentos abruptos e que, geralmente, causam a fadiga localizada nas pernas dos avaliados, que encerram o teste entre o terceiro e quinto estágios, dentro da faixa de tempo recomendada. Protocolos como esse ainda são muito utilizados, principalmente em consultórios médicos, quando o comportamento da pressão arterial e do eletrocardiograma são as variá- veis fundamentais. Além de não representar atividades recorrentes do dia a dia e nem do desempenho esportivo (ca- minhar e correr com grande inclinação na esteira), tais protocolos fixos não consideram a individuali- dade e o nível de treinamento do indivíduo avaliado (PESCATELLO et al., 2014). Estes são fatores funda- mentais a serem considerados em qualquer avalia- ção física, como temos visto durante toda a unidade. Nenhum protocolo de testes é ideal para todas as situações (ASTRAND et al., 2006). O protocolo deve considerar, principalmente, o nível físico do(a) avaliado(a). Caso ele seja um(a) sedentário(a), recomenda-se que o teste se inicie em intensidade menor, como em caminhadas, no caso de testes em esteira, ou com potências míni- mas, em caso de utilização do cicloergômetro. É indicado que esse teste seja lentamente incremen- tado, principalmente no início, pois o avaliado pode sentir os desconfortos causados por mudan- ças abruptas deintensidade a cada estágio e, até mesmo, desistir do teste antes de atingir o seu má- ximo esforço. No caso de indivíduos melhor condicionados, o fato de iniciar um teste com intensidade baixa acar- retará em muito tempo desperdiçado. Trata-se de atletas que já têm familiaridade com o gesto, com o esforço e com eventuais desconfortos momentâne- os. Além disso, atletas atingirão maior velocidade ou potência final no teste incremental, o que representa maior tempo de avaliação. Portanto, a intensidade inicial do teste deve ser mais elevada, e um cálculo estimativo de intensidade e tempo final de teste deve ser feito pelos(as) avaliadores(as). Qual protocolo de teste você escolheria para avaliar o VO2max e o limiar de lactato de um atleta que atinge 18 km/h como pico de ve- locidade? Quais velocidade inicial, duração e incremento por estágio? REFLITA No presente tópico, você aprendeu os principais as- pectos que devem ser considerados para a avaliação da condição aeróbia. A fisiologia básica envolvida na fundamentação teórica da avaliação, os possíveis protocolos e ergômetros foram abordados. As prin- cipais variáveis extraídas dos testes incrementais para avaliação da condição aeróbia, bem como os critérios para interrupção do teste, também foram assuntos discutidos durante este tópico. EDUCAÇÃO FÍSICA 147 148 Testes de Campo Olá, neste tópico da Unidade 4, os testes de cam- po para avaliação aeróbia serão apresentados. Tes- tes práticos de campo são importantes ferramentas de avaliação, pois nem todo avaliado tem condição de se submeter a um teste laboratorial. Ainda, nem todo profissional tem acesso a testes laboratoriais, que demandam equipamentos sofisticados e trei- namento específico para manuseio. Principalmen- te por esses motivos, diversos testes práticos foram elaborados para estimar indiretamente as variáveis relacionadas à condição aeróbia. No presente tópico, os testes de campo mais conhecidos e que apresen- tam resultados confiáveis e reprodutíveis serão des- critos para você. Conforme você aprendeu no tópico anterior, os testes laboratoriais apresentam resultados mais precisos e válidos, porém, demandam maior tem- po, custo e treinamento do(a) avaliador(a), além de equipamentos sofisticados. Além disso, os testes laboratoriais são sempre realizados de forma indi- vidual. Por outro lado, os testes práticos são mais acessíveis para avaliadores(as) e avaliados(as), com menor custo financeiro e de tempo. Testes de campo, muitas vezes, demandam apenas um cro- nômetro. Alguns, inclusive, permitem a avaliação em grupos, o que gera um componente motivacio- nal relevante para o desempenho (PESCATELLO et al., 2014). EDUCAÇÃO FÍSICA 149 Os testes práticos podem ser mais específicos do que os laboratoriais, sendo realizados no mesmo ambiente e sob condições semelhantes às encontra- das no dia a dia. Por exemplo, para um corredor de provas de longa distância, ter a sua condição aeróbia avaliada em pista é mais específico do que em uma es- teira, muitas vezes, com protocolos incrementais que manipulam a inclinação mais do que a velocidade. A resistência do ar, o calçado, o terreno do teste, todos esses elementos contribuem para que testes práticos de campo apresentem, muitas vezes, validade externa elevada em comparação aos testes laboratoriais. A execução dos testes práticos deve seguir al- gumas recomendações que também servem para os testes laboratoriais. Não é recomendado que o in- divíduo avaliado ingira alimentos pesados antes da avaliação, bem como a ingestão de álcool e café é proibida em até 24h antes do procedimento de coleta de dados, por conta da influência dessas bebidas na mobilização de substratos energéticos e na frequência cardíaca. Recomenda-se que não se faça exercícios vi- gorosos até 24h antes do protocolo de avaliação, para evitar efeitos acumulados de fadiga no momento do teste. Por fim, o(a) avaliado(a) deve estar vestido(a) adequadamente, com roupas confortáveis e apropria- das para a execução dos testes. Alguns desses, que po- dem ser realizados em terrenos diversos, como pista de corrida, gramado ou quadra, podem demandar a vestimenta de calçado específico para o terreno. O primeiro teste de campo para avaliação da condição aeróbia que será apresentado é, provavel- mente, o mais conhecido de todos. Você já deve ter ouvido falar no teste de Cooper (1968), mas é pos- sível que não tenha ciência de como esse teste foi elaborado. O estudo, que resultou na publicação do teste de Cooper, contou com 115 homens da força aérea americana, portanto, eram indivíduos bem condicionados. A idade média da amostra foi de 22 anos, com massa corporal de 75kg, em média. Participaram do estudo, porém, homens entre 17 e 52 anos, com 51 a 120 kg de massa corporal. Esses dados dão ideia da heterogeneidade da amostra que compôs a avaliação original e, por isso, esse teste é empregado em diversas populações até hoje. O es- tudo verificou correlação positiva entre a distância percorrida em 12 minutos de corrida em pista com o consumo máximo de oxigênio obtido após um teste incremental máximo em esteira. Para o(a) avaliador(a), o teste de corrida de 12 minutos é de fácil aplicação, porém, carece de al- gumas considerações importantes. O protocolo do teste é simples, e isso deve ser passado aos(às) ava- liados(as). O objetivo é percorrer a maior distân- cia possível dentro do tempo de 12 minutos. O(a) avaliado(a), portanto, tem a opção de correr ou caminhar durante o teste. Não somente o objetivo deve ser explicado antes do início, mas também as possíveis estratégias para conseguir realizar a tarefa de percorrer a maior distância de forma satisfatória, sem que o avaliado entre em fadiga antes da hora, comprometendo o resultado ou, até mesmo, aban- donando o teste. A recomendação é para que o(a) avaliado(a) mantenha uma velocidade constante ao longo do teste. Dessa forma, indivíduos mais acostumados com a tarefa de correr podem ter seus resultados mais válidos e confiáveis em comparação àqueles que não estão acostumados com a tarefa e possuem dificuldade de encontrar a intensidade ideal. Uma boa estratégia é informar periodicamente, ao longo dos 12 minutos, qual o tempo decorrido do teste ou o tempo restante até o final, para que o avaliado pos- sa ter uma ideia mais precisa de sua intensidade de corrida. 150 Caso o teste de Cooper seja realizado em uma pista atlética tradicional de 400 metros, o(a) avalia- dor(a) pode se posicionar na linha de chegada das provas olímpicas. Deste ponto, o(a) avaliador(a) terá uma boa visão sobre o avaliado e, mais importante, terá uma noção mais precisa da distância percorrida ao final do teste. Este é iniciado por um sinal sono- ro, e o(a) avaliado(a) deve, imediatamente, começar a avaliação. Da mesma forma, quando o teste ter- minar, ou seja, ao final dos 12 minutos, o(a) avalia- dor(a) deverá emitir um novo sinal sonoro, e o(a) avaliado(a) deverá permanecer imóvel até a autori- zação do avaliador. Nesse momento, o avaliador deverá conferir qual foi a distância total percorrida pelo avaliado. Uma maneira simples de resolver essa questão é contabilizar as voltas completas na pista ao longo do teste e somar à distância que o avaliado percorreu na última volta incompleta. A sinalização com cones al- tos no entorno da pista, a cada 20 m, facilitará muito a medição precisa da distância total percorrida. O resultado do teste de Cooper se dá, portanto, pela distância percorrida pelo avaliado após 12 minutos de corrida ou caminhada. Com essa informação em mãos, o avaliador pode estimar o VO2max dos avalia- dos de acordo com a seguinte fórmula: VO ml kg min Distância em metros 504 2max / /( ) ( ) = 45 – Alguns anos mais tarde, uma tabela foi publicada para verificar o nível de condicionamento físico de acordo com a distância percorrida no teste de 12 mi- nutos, considerando o sexo e a idade do(a) avaliado(a).Quadro 1 - Nível de condicionamento físico baseado no teste de 12 minutos de Cooper de acordo com a idade, o sexo e a distância percorrida em metros Nível Idade 13 – 19 20 – 29 30 – 39 40 – 49 50 – 59 > 60 Muito Fraco H M < 2090 < 1610 < 1960 < 1550 < 1900 < 1510 < 1830 < 1420 < 1660 < 1350 < 1400 < 1260 Fraco H M 2090 – 2200 1610 – 1900 1960 – 2210 1550 – 1790 1900 – 2090 1510 – 1690 1830 – 1990 1420 – 1580 1660 – 1870 1350 – 1500 1400 – 1640 1260 – 1390 Médio H M 2210 – 2510 1910 – 2080 2120 – 2400 1800 – 1970 2100 – 2400 1700 – 1960 2000 – 2240 1590 – 1790 1880 – 2090 1510 – 1690 1650 – 1930 1400 – 1590 Bom H M 2520 – 2770 2090 – 2300 2410 – 2640 1980 – 2160 2410 – 2510 1970 – 2080 2250 – 2460 1800 – 2000 2100 – 2320 1700 – 1900 1940 – 2120 1600 – 1750 Excelente H M 2780 – 3000 2310 – 2430 2650 – 2830 2170 – 2330 2520 – 2720 2090 – 2240 2470 – 2660 2010 – 2160 2330 – 2540 1910 – 2090 2130 – 2490 1760 – 1900 Superior H M > 3000 > 2430 > 2830 > 2330 > 2720 > 2240 > 2660 > 2160 > 2540 > 2090 > 2490 > 1900 H = Homem; M = Mulher. Fonte: adaptado de Marins e Giannichi (2003). EDUCAÇÃO FÍSICA 151 Outra possibilidade é a aplicação do teste de correr a distância de 2400 metros. Nesse caso, a lógica é inversa ao do teste de Cooper, descrito anterior- mente. A distância é fixa, 2400 metros, e o objetivo do teste é completar essa distância no menor tempo possível. Portanto, o tempo é a unidade mensurada nessa avaliação. As instruções para realizar o teste de 2400 metros são semelhantes às aplicadas ao de Cooper. Os(as) avaliados(as) devem ser familiariza- dos com o protocolo, com os objetivos e com o gesto motor da corrida. Nessa avaliação, o(a) avaliador(a) não necessita avisar sobre o final do teste, tendo em vista que completar a distância determina o seu final. Apenas as distâncias percorridas por cada ava- liado(a), em caso de grupos, devem ser monitoradas e informadas aos(às) avaliados(as). Esse teste tem sido aplicado em populações di- versas, para ambos os sexos, e em uma ampla faixa etária. Assim como no teste de 12 minutos de Coo- per, existe uma tabela de referência para a verifica- ção do nível de condicionamento aeróbio de acordo com o tempo registrado para a realização da distân- cia de 2400 metros (MARINS; GIANNICHI, 2003). Além dessa tabela, a seguinte fórmula pode ser apli- cada para a estimativa do valor de consumo máximo de oxigênio (PESCATELLO et al., 2014): VO ml kg min D x 60 x 0 2 3 5 duração do teste2max / / , , � � � ��� ��� = eem segundos Onde: D = distância em metros, neste caso, 2400. Uma alternativa para o público que não tem apti- dão suficiente para correr durante períodos prolonga- dos é o teste de caminhada/corrida de seis minutos. Este teste é frequentemente empregado para a avalia- ção aeróbia de adultos, idosos ou pacientes com pro- blemas clínicos, como doenças pulmonares ou cardí- acas. Esse protocolo de avaliação é bastante simples, e já mostrou capacidade de predizer fatores como morbidade e mortalidade. Avaliados(as) que atingem marca inferior a 300 metros após seis minutos de ca- minhada parecem demonstrar menor tempo estima- do de vida em comparação àqueles(as) que superam essa marca (PESCATELLO et al., 2014). O Colégio Americano de Medicina do Esporte indica a seguinte fórmula como adequada para a estimativa do consu- mo máximo de oxigênio a partir do desempenho de idosos no teste de caminhada de seis minutos: VO2max (ml / kg / min) = (0,02 x distância em metros) – (0,191 x idade em anos) – (0,07 x massa corporal em kg) + (0,09 x estatura em cm) + [0,26 x (frequência cardíaca x pressão sistólica em mm Hg) x 10–3] + 2,45 Ainda, o teste de caminhada em seis minutos tem sido utilizado na avaliação de crianças que ainda não desenvolveram totalmente a aptidão aeróbia. Após coletar a distância percorrida no tempo de seis mi- nutos do teste, as seguintes equações podem ser uti- lizadas para estimar o consumo máximo de oxigênio de meninos e meninas (FUNDAÇÃO VALE, 2013a): Meninos: VO ml kg min x 0 118 17 82max / / , ,� � � � � � � � � � � � � �� � D 6 Meninas: VO ml kg min x 0 131 16 62max / / , ,� � � � � � � � � � � � � �� � D 6 Onde: D = distância em metros. 152 Ainda em termos de testes práticos de campo en- volvendo corrida contínua, a avaliação desenvol- vida por Conconi e colaboradores (1982) é uma alternativa interessante. O teste propõe a avalia- ção de uma intensidade de corrida em que ocor- re o chamado ponto de deflexão da frequência cardíaca. O ponto de deflexão é a quebra na line- aridade da relação entre a velocidade de corrida e a frequência cardíaca em exercício incremental em pista. Segundo o estudo original (CONCONI et al., 1982), esse ponto estaria relacionado ao limiar de lactato, ocorrendo em velocidade de corrida seme- lhante para os dois eventos. O teste pode ser feito em pista, porém, o uso da esteira ergométrica ga- rante o controle correto sobre o incremento de in- tensidade a cada estágio. Após um aquecimento com corrida leve, o tes- te pode ser iniciado. Em esteira, pessoas sedentárias devem começar com a velocidade de 5 a 7 km/h, e atletas, de 7 a 8 km/h. A cada minuto, deve ser au- mentada a velocidade em 0,5 km/h. A partir dos 10 km/h, a velocidade deve ser aumentada em 1 km/h a cada minuto. A frequência cardíaca deve ser coletada durante todo o teste, e os valores registrados ao final do estágio devem ser plotados num gráfico com a ve- locidade de corrida. Em pista, cada estágio tem dura- ção de 200 metros, e a intensidade também deve ser aumentada em 1 km/h, enquanto que a frequência cardíaca deve ser monitorada nos últimos 50 metros de cada estágio (FUNDAÇÃO VALE, 2013a). O teste em esteira ou na pista é encerrado, prin- cipalmente, pela desistência voluntária do(a) avalia- do(a), ou quando esse(a) não for capaz de manter a velocidade estipulada. Com o gráfico montado entre os valores registrados de velocidade de corri- da pela frequência cardíaca ao final de cada estágio, será possível verificar o resultado mais importante dessa avaliação. O ponto de deflexão da frequência cardíaca representará a perda da linearidade da reta do gráfico. Avaliadores(as) experientes têm capa- cidade para verificar visualmente a ocorrência des- se fenômeno. Mais de um(a) avaliador(a) pode ser consultado(a) para essa determinação. A velocidade correspondente ao ponto de deflexão da frequência cardíaca pode ser facilmente utilizada em treina- mentos de corrida, correspondendo, em muitos ca- sos, ao limiar de transição fisiológica, ou limiar de lactato, que marcará a mudança da predominância do metabolismo aeróbio para o anaeróbio. Testes como Cooper de 12 minutos, 2400 me- tros, seis minutos e Conconi são realizados com corrida contínua, e podem ser mais específicos para modalidades em que essa característica é marcante, bem como a ausência de mudança de direção du- rante a corrida. Por exemplo, é específico para um corredor de longa distância, que realiza sua prova sempre na mesma direção, sem movimentos bruscos que envolvam desaceleração e aceleração. Quando o objetivo é avaliar praticantes de modalidades in- termitentes, que possuem mudança de direção nas ações principais do jogo, existe a clara falta de es- pecificidade nos testes apresentados até o momento. Modalidades como futebol, futsal, basquete e han- debol são exemplos em que os(as) praticantes ne- cessitam de boa aptidão aeróbia, porém, os esforços que eles(as) realizam durante suas práticas são inter- mitentes, com diversas mudanças de direção. Nestes casos, avaliar a aptidão aeróbia por protocolos como os descritos até o momento não é o mais específico. Dessa forma, os próximos protocolos de avaliação da aptidão aeróbia apresentam a intermitência como característica predominante. EDUCAÇÃO FÍSICA 153 O teste de Yo-Yo, originalmente desenvolvido na década de 90, apresenta características diferentesdas apresentadas pelos testes anteriormente descritos. Nesse teste, determina-se uma distância fixa de 20 metros utilizando dois cones. O(a) avaliado(a) de- verá se deslocar entre os cones durante todo o tes- te. Portanto, conclui-se que, a cada 20 metros, o(a) avaliado(a) realizará a desaceleração e, consequente- mente, a aceleração após a mudança de direção. O Yo- Yo é uma avaliação máxima incremental, que conta com estágios de intensidade crescentes (BANGSBO; IAIA; KRUSTRUP, 2008). O teste acontece com o au- xílio de um sistema de som, e um bip sonoro marca o ritmo de corrida que o(a) avaliado(a) deverá realizar. A cada bip sonoro, o(a) avaliado(a) deverá estar po- sicionado em um dos cones localizados nas extremi- dades dos 20 metros do percurso. A cada dois deslocamentos (2 x 20 m), um pe- ríodo de recuperação de dez segundos é fornecido. Cada estágio do teste conta com determinada frequ- ência de sinais sonoros. A cada estágio, a frequên- cia entre os sinais sonoros aumenta, diminuindo o tempo entre cada um dos bips e, consequentemente, diminuindo o tempo que o(a) avaliado(a) tem para se deslocar de um cone a outro. Naturalmente, o(a) avaliado(a) deve aumentar a velocidade e a intensi- dade do exercício. O teste é encerrado quando o(a) avaliado(a) falhar na tarefa de estar no cone ao sinal sonoro por duas vezes consecutivas. Essa lógica e esse critério para decretar o término servem para os diferentes protocolos criados para o teste Yo-Yo. O nível um inicia-se em uma velocidade menor, com incremento de intensidade moderado entre os es- tágios. Esse protocolo parece ser a melhor escolha para iniciantes, e deve durar em torno de dez a 20 minutos para um indivíduo treinado. O nível dois do Yo-Yo teste é mais agressivo em termos de incremento de intensidade, e avalia a habilidade do(a) avaliado(a) em realizar sucessi- vos tiros curtos com alta contribuição anaeróbia, que será o assunto na próxima unidade. Ambos os protocolos do teste de Yo-Yo têm apresentado sig- nificativas correlações com o desempenho em es- portes com característica intermitente e com o ní- vel de potência aeróbia, além de serem sensíveis ao treinamento durante uma temporada (BANGSBO; IAIA; KRUSTRUP, 2008). A frequência cardíaca é uma variável que pode ser acompanhada facilmen- te durante o teste Yo-Yo, e o valor máximo atingi- do, geralmente, ao final do teste, pode ser utilizado como parâmetro de frequência cardíaca máxima. Entretanto, a principal variável analisada nos testes Yo-Yo é a distância total percorrida. A estimativa do valor de consumo máximo de oxigênio pode ser feita por meio da utilização das seguintes fórmulas (BANGSBO; IAIA; KRUSTRUP, 2008): Yo-Yo teste nível um: VO2max (ml / kg / min) = distância total em metros x 0,0084 + 36,4. Yo-Yo teste nível dois: VO2max (ml / kg / min) = distância total em metros x 0,0136 + 45,3. Uma das grandes vantagens de avaliações como o Yo-Yo teste é a possibilidade de avaliação simultâ- nea de vários indivíduos. Essa estratégia economiza tempo e incorpora um componente motivacional à avaliação, porém, demanda maior concentração do(a) avaliador(a) no momento da coleta de dados. Esses aspectos também ocorrem no próximo teste 154 de avaliação aeróbia a ser descrito. O T-CAR tam- bém apresenta a intermitência como característica principal, entretanto, alguns aspectos o diferenciam do Yo-Yo, tornando-o uma alternativa bastante inte- ressante. O teste de T-CAR também é incremental, com aumento de velocidade a cada estágio do pro- tocolo. A lógica do teste é semelhante ao Yo-Yo, em que o(a) avaliado(a) precisa cumprir determinada distância entre dois cones e estar posicionado(a) em um dos cones a cada sinal sonoro. Porém as gran- des diferenças desse teste são a variável manipulada a cada estágio e a distância entre os cones. A cada estágio, deve-se aumentar em um metro a distân- cia entre os cones, mantendo a frequência do sinal sonoro. O teste é iniciado com os cones posiciona- dos a 15 metros um do outro, e os(as) avaliados(as) devem correr numa velocidade de 9 km/h. O tempo para completar o deslocamento é de 12 segundos, e mais seis segundos são fornecidos de intervalo com caminhada. Cada estágio é composto por cinco deslocamentos, que totalizam 90 s. A cada estágio, a distância entre os cones aumenta em um metro, gerando o incremento de velocidade de 0,6 km/h. O teste é encerrado quando o(a) avaliado(a) não consegue estar no cone ao sinal sonoro por duas oca- siões seguidas, ou por desistência voluntária do ava- liado. A distância total percorrida é um dos resulta- dos importantes do T-CAR, e serve, principalmente, para comparação entre indivíduos ou para verificar efeitos do treinamento num mesmo grupo. O pico de velocidade atingido no T-CAR, isto é, no último estágio, está relacionado à intensidade do iVO2max de um teste incremental laboratorial discutido previa- mente nesta unidade. A frequência cardíaca, caso acompanhada durante todo o teste incremental, deve gerar um gráfico semelhante ao realizado no proto- colo de Conconi. Com isso, o ponto de deflexão da frequência cardíaca é mais uma variável potencial- mente registrada nessa avaliação. Ainda, a frequência cardíaca máxima atingida após o T-CAR parece semelhante à máxima após um teste incremental máximo laboratorial em esteira (DITTRICH et al., 2011). Portanto, os dois últimos protocolos de testes apresentados, o Yo-Yo e o T-CAR, aparecem como excelentes opções para avaliação da aptidão aeróbia, principalmente para praticantes de modalidades acíclicas. A constante troca de direção, as ações de aceleração e a possibili- dade de realizar esses testes em terreno determinado e com calçado específico garantem ótima validade externa a tais protocolos. Entretanto, tais testes só podem ser fielmente reproduzidos caso os(as) ava- liadores(as) tenham acesso ao áudio específico de cada um dos protocolos de avaliação. Ainda, é ne- cessário um sistema de som para que os avaliados ouçam claramente os sinais sonoros que ditam o rit- mo da corrida em cada estágio. Todos os testes práticos apresentados até o mo- mento, neste tópico, têm a caminhada ou a corrida como gesto motor predominante. A alternativa para indivíduos que não estejam familiarizados com esse gesto ou que prefiram outro exercício é o teste de subir e descer de um banco. Trata-se de um teste barato, e cuja tarefa é subir e descer de um banco em determinado ritmo. O avaliado não necessita de grandes habilidades, tendo em vista que a tarefa é demasiado simples e não requer muita prática. Ou- tro benefício é sua curta duração. EDUCAÇÃO FÍSICA 155 A frequência cardíaca é mensurada após o teste ou durante a recuperação, e esta será o indicador de aptidão aeróbia. Indivíduos melhor condicionados apresentam menor valor de frequência cardíaca após o teste, ou maiores taxas de recuperação. O resultado é de fácil entendimento para o avaliado. Algumas pre- cauções devem ser tomadas, principalmente com in- divíduos extremamente mal condicionados ou aqueles que possam apresentar dificuldade de subir e descer em um degrau relativamente alto. Avaliados com pro- blemas de equilíbrio também devem ser supervisiona- dos com cautela (PESCATELLO et al., 2014). O teste de banco de Katch & McArdle é consti- tuído pela tarefa de subir e descer de um banco de 41 centímetros durante três minutos. Homens devem realizar a tarefa no ritmo de 24 subidas e descidas por minuto, e mulheres, no ritmo de 22 repetições por minuto. Se contada cada passada para subir e descer, o ritmo é de 96 para homens e 88 para mulhe- res. A utilização de um metrônomo auxilia bastante na correta aplicação desse teste. Ao final dos três mi- nutos de avaliação, a frequência cardíaca é medida, ou pelo pulso do avaliado, ou com auxílio de um fre- quencímetro. O resultado da frequência cardíaca en- contrado após o teste deverá ser inserido na seguinte fórmula, para estimar o consumo máximode oxigê- nio do avaliado (MARINS; GIANNICHI, 2003): Homens: VO ml kg min 111 33 0 42 x frequência cardíaca2max / / ,( ) ( )= , – Mulheres: VO ml kg min 65 81 0 1847 x frequência cardíaca2max / / ,( ) ( )= –, É notório que os protocolos de avaliação da aptidão aeróbia privilegiam o uso dos membros inferiores. Todos os testes apresentados no presente tópico utilizam gestos motores que recrutam grande massa muscular, exigindo que os componentes respiratório, cardíaco e muscular trabalhem em conjunto e de forma ideal para fornecer dados reais sobre a condição aeróbia do avaliado. Com as informações disponibilizadas sobre todos os testes práticos de campo deste tópico, você estará apto a escolher qual deles melhor se aplica ao seu objetivo e ao perfil do indivíduo que você deseja avaliar. Foi demonstrado que não somente cien- tistas ou laboratórios podem fornecer condições para a avaliação da condição aeróbia. Ao longo dos anos, diversos testes práticos de campo foram desenvolvidos, facilitando o trabalho dos(as) pro- fissionais de Educação Física. 156 considerações finais A condição aeróbia é um dos principais componentes de saúde dos seres hu- manos. Os sistemas respiratório, cardíaco e muscular trabalham de forma integrada no sistema aeróbio, cada um com suas responsabilidades para o bom funcionamento. Uma boa aptidão aeróbia está relacionada à dimi- nuição do risco de doenças e de mortalidade. Seja onde for, quando trabalhamos com movimento, atividades e exercícios físi- cos, o sistema aeróbio será requisitado, invariavelmente. Portanto, profissionais de Educação Física que trabalham com recreação, lazer, educação ou com desempenho esportivo devem possuir o conhecimento dos benefícios de um bom funcionamento do sistema aeróbio e, consequentemente, devem saber como avaliar essa condição. No primeiro tópico desta unidade, você foi introduzido aos princípios básicos da bioenergética e da fisiologia, que fundamentam o sistema aeróbio de fornecimento de energia. A base necessária para o conhecimento desse sistema deve ser encontra- da em materiais didáticos específicos, como em livros de bioquímica e fisiologia do exercício. Ainda, os conceitos de potência e de capacidade aeróbia foram definidos, e as principais variáveis de cada um deles, descritos para você. Você recebeu o conhecimento para avaliar a condição aeróbia de diferentes ma- neiras. Testes laboratoriais que apresentam resultados confiáveis e variáveis bem determinadas demandam aparelhagem sofisticada e treinamento por parte do(a) avaliador(a). Agora, você sabe que diversos detalhes do protocolo de avaliação são importantes, e que deve haver padronização e critérios bem definidos na hora de escolher o seu protocolo. Para os profissionais que não terão acesso às facilidades de um laboratório, diver- sos testes práticos de campo para avaliação da condição aeróbia foram apresentados nesta unidade. Por meio de testes simples, baratos e de fácil aplicação, dados confi- áveis e bastante úteis no diagnóstico da aptidão aeróbia são gerados, inclusive para monitoramento de níveis de treinamento. considerações finais 157 atividades de estudo 1. Considerando as informações sobre o sistema aeróbio, quais são os sistemas do corpo humano que estão diretamente envolvidos na aptidão aeróbia? a) Sistemas nervoso, cardíaco e muscular. b) Sistemas respiratório, nervoso e muscular. c) Sistemas endócrino, nervoso e cardíaco. d) Sistemas respiratório, endócrino e nervoso. e) Sistemas respiratório, cardíaco e muscular. 2. Verifique as afirmações a seguir sobre o sistema aeróbio e sua avaliação por meio de protocolos de testes: I - É importante avaliar o sistema aeróbio, pois a boa condição aeróbia está rela- cionada à diminuição da mortalidade, dentre outros benefícios. II - Testes de avaliação de campo fornecem valores diretos de índices de capaci- dade e potência aeróbia. III - Apenas testes realizados em ambiente laboratorial fornecem informações re- levantes e aplicáveis sobre a aptidão aeróbia. IV - A variável do sistema aeróbio denominada consumo máximo de oxigênio de- pende apenas do sistema respiratório. Assinale a alternativa correta: a) I apenas. b) IV apenas. c) I e II apenas. d) II e III apenas. e) II, III e IV apenas. 158 atividades de estudo 3. Os protocolos de testes laboratoriais apresentam diversas variáveis que devem ser consideradas. Analise as afirmações a seguir a respeito dos protocolos de teste incremental em laboratório para avaliar o sistema aeróbio e assinale Verda- deiro (V) ou Falso (F): ( ) Protocolos laboratoriais em rampa incrementam a intensidade de modo mais acentuado e frequente do que os de escada. ( ) Não há diferenças relevantes nas variáveis extraídas e no modo de elaborar o protocolo entre os diferentes ergômetros, como a esteira e a bicicleta. ( ) Indivíduos com sobrepeso ou dificuldades de equilíbrio são mais facilmen- te avaliados em cicloergômetro do que em esteira. Assinale a alternativa correta: a) V; V; F. b) F; F; V. c) V; F; V. d) F; F; F. e) V; V; V. 4. Diversos índices são extraídos de uma avaliação laboratorial da aptidão aeróbia. Qual índice corresponde à mínima intensidade na qual o VO2max é atingido? a) iVO2max . b) VO2max em platô. c) Limiar de lactato. d) Pico de velocidade. e) VO2max em pico. 5. Existem diversos protocolos de campo para avaliação da aptidão aeróbia, porém, al- guns exigem que os(as) avaliados(as) estejam acostumados com o exercício de corri- da. Qual teste de campo é uma boa alternativa para avaliar a aptidão aeróbia de ido- sos e crianças que não estão acostumados a correr por longos períodos de tempo? a) Teste de Cooper de 12 minutos. b) Teste de Conconi em pista. c) Teste de caminhada em seis minutos. d) Teste de 2400 metros. e) Teste intermitente de Yo-Yo. 159 atividades de estudo 6. Protocolos de corrida intermitente são mais específicos para atividades que exi- gem mudança de direção. Analise as afirmações a seguir sobre os protocolos de testes de campo intermitentes para avaliar o sistema aeróbio e assinale Verda- deiro (V) ou Falso (F): ( ) A intensidade do teste T-CAR é incrementada pelo aumento da frequência dos sinais sonoros a cada estágio. ( ) No teste Yo-Yo, a intensidade é incrementada pelo aumento da distância a ser percorrida em cada estágio. ( ) Tanto o Yo-Yo quanto o T-CAR podem gerar dados úteis a partir da distân- cia total percorrida e da frequência cardíaca. Assinale a alternativa correta: a) V; V; F. b) F; F; V. c) V; F; V. d) F; F; F. e) V; V; V. 7. Diversos testes de campo para avaliação do sistema aeróbio foram descritos nesta unidade. Analise as considerações a seguir sobre os protocolos de testes práticos de campo para avaliação da aptidão aeróbia: I - O teste do banco de Katch & McArdle estima o consumo máximo de oxigênio a partir da frequência cardíaca obtida durante todo o teste. II - Avaliações como os testes de Cooper, Conconi e 2400 m são mais específicas para atletas de modalidades cíclicas, principalmente de corrida. III - Para atletas de modalidades acíclicas, testes com intermitência, como o Yo-Yo e o T-CAR são mais específicos. IV - Por meio de equações e tabelas de referência, é possível verificar o nível de condicionamento aeróbio de acordo com o gênero e a idade dos avaliados. Assinale a alternativa correta: a) I apenas. b) IV apenas. c) I e II apenas. d) II e III apenas. e) II, III e IV apenas. 160 atividades de estudo 8. Elabore um protocolo de teste incremental para avaliar a aptidão aeróbia de um sujeito ativo, porém, sem experiência em corrida. Seu objetivo é encontrar o consumo máximo de oxigênio e o limiar de lactato. Indique e justifique suas escolhas quanto ao ergômetro e ao protocolo incremental. 9. Calcule o VO2max estimado e indique o nível de condicionamento físico de dois sujeitos que realizaram o teste de Cooper de 12 minutos. Um homem de 30 anos obteve2080 metros. Uma mulher de 25 anos de idade atingiu a marca de 2450 metros. 161 LEITURA COMPLEMENTAR Indico a você a leitura na íntegra do artigo intitulado “Índices e capacidade aeróbia obtidos em cicloergômetro e esteira rolante: comparações entre corredores, ciclistas, triatletas e sedentários”. A seguir, insiro um dos trechos mais interessantes desse artigo. Um dos tantos fatores discutidos na presente unidade, ao avaliar a aptidão aeróbia, é a escolha do ergômetro. Esse artigo demonstrou que este fator pode ter influência direta no resultado de algumas variáveis. Como regra geral, os protocolos em esteira fazem com que o avaliado obtenha maiores va- lores de consumo máximo de oxigênio. Tal fato ocorre principalmente pelo recrutamento de mais massa muscular durante o exercício em esteira quando comparado ao exercício em bicicleta ergométrica. Porém, ciclistas, que obviamente estão acostumados com o exer- cício neste aparelho, conseguem resultados melhores quando avaliados em bicicleta. Isso ocorre pela especificidade e pela familiaridade prévia do avaliado com o instrumento de avaliação. A seguir, você encontrará o resumo do artigo de Caputo e colaboradores (2003). Nele, as principais informações serão trazidas para você. Para o profundo conhecimento dos proce- dimentos metodológicos bem como das definições das variáveis e da discussão dos resul- tados, recomenda-se fortemente a leitura da versão integral do estudo. 162 LEITURA COMPLEMENTAR Os objetivos deste estudo foram: a) determinar, de modo transversal, os efeitos do treinamen- to aeróbio no pico do consumo de oxigênio (VO2pico), na intensidade associada ao VO2pico (IVO2pico) e no limiar anaeróbio (LAn) durante a corrida e o ciclismo; e b) verificar se a transfe- rência dos efeitos do treinamento é dependente do tipo de exercício ou do índice fisiológico analisado. Participaram deste estudo 36 indivíduos do sexo masculino, sendo sete corredores (CR), nove ciclistas (CL) e nove triatletas (TR) bem treinados em provas de fundo e 11 seden- tários (SE). Os voluntários realizaram, em dias diferentes e em ordem aleatória, um teste in- cremental até a exaustão voluntária na esteira rolante e outro na bicicleta ergométrica. Os valores de VO2pico (ml. Kg / min) obtidos na esteira e na bicicleta ergométrica (CR = 68,8 ± 6,3 e 62,0 ± 5,0; CL = 60,5 ± 8,0 e 67,6 ± 7,6; TR = 64,5 ± 4,8 e 61,0 ± 4,1; SE = 43,5 ± 7,0 e 36,7 ± 5,6, respectivamente) foram maiores no grupo que apresentava treino específico na modalidade. O grupo SE apresentou os menores valores de VO2pico, independente do tipo de exercício. Esse mesmo comportamento foi observado para o LAn (ml/kg/min) obtido na esteira e na bicicleta ergométrica (CR = 56,8 ± 6,9 e 44,8 ± 5,7; CL = 51,2 ± 5,2 e 57,6 ± 7,1; TR 56,5 ± 5,1 e 49,0 ± 4,8; SE = 33,2 ± 4,2 e 22,6 ± 3,7, respectivamente). Pode-se concluir que as transferên- cias dos efeitos do treinamento parecem ser apenas parciais, independentemente do índice (VO2pico, IVO2pico ou LAn) ou do tipo de exercício (corrida ou ciclismo). Em relação aos índices, a especificidade do treinamento parece estar menos presente no VO2pico do que na IVO2pico e no LAn. Fonte: Caputo et al. (2003). 163 material complementar Os cadernos de referência do esporte da Unesco são abrangentes e servem como base para diversas áreas. Os cadernos de Fisiologia do Exercício e de Avaliação Física serão muito úteis para o estudo desta unidade. Web: http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/single-view/news/cadernos_de_referencia_de_ esporte_12_volumes/. Acesso em: 6 jun. 2019. Confira o texto “Índices de potência e capacidade aeróbia obtidos em cicloergômetro e esteira rolante: compa- rações entre corredores, ciclistas, triatletas e sedentários”. Web: http://www.luzimarteixeira.com.br/wp-con- tent/uploads/2010/03/comparacoes-potencia-e-cap-aer.pdf. Acesso em: 06 jun. 2019. Indicação para Acessar Tratado de Fisiologia do Trabalho: bases fisiológicas do exercício Per-Olof Astrand, Kaare Rodahl, Hans A. Dahl, Sigmund B. Stromme Editora: Artmed Sinopse: esta edição do Tratado de Fisiologia do Trabalho combina conhecimentos clássicos em fisiologia do trabalho e do exercício com as novas descobertas cien- tíficas na área. O resultado é uma excelente obra de referência, indispensável a estudantes, fisiologistas, clínicos, professores de Educação Física, enfim, qualquer profissional que estude o trabalho realizado pelo corpo humano. Indicação para Ler http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/single-view/news/cadernos_de_referencia_de_esporte_12_volumes/ http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/single-view/news/cadernos_de_referencia_de_esporte_12_volumes/ http://www.luzimarteixeira.com.br/wp-content/uploads/2010/03/comparacoes-potencia-e-cap-aer.pdf http://www.luzimarteixeira.com.br/wp-content/uploads/2010/03/comparacoes-potencia-e-cap-aer.pdf 164 referências ASTRAND, P. O.; RODAHL, K.; DAHL, H. A.; STROMME, S. B. Tratado de Fisio- logia do Trabalho. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. BANGSBO, J.; IAIA, F. M.; KRUSTRUP, P. The Yo-Yo intermittent recovery test: a useful tool for evaluation of physical performance in intermittent sports. Sports Medicine, v. 38, n. 1, p. 37-51, 2008. BANGSBO, J. The physiology of soccer-with special reference to intense intermi- tent exercise. Acta Phisiologica Scandinavica Supplementum. v. 619, n. 1, p. 155, 1994. BENEKE, R.; HUTLER, M.; VON DUVILLARD, S. P.; SELLENS, M.; LEITHAUS- ER, R. M. Effect of test interruptions on blood lactate during Constant workload testing. Medicine and Science in Sports Exercise. v. 35, n. 9, p. 1626-1630, 2003. BORG, G. A. V. Psychophysical bases of perceived exertion. Medicine and Science in Sports Exercise. v. 14, p. 377-381, 1982. CAPUTO, F.; STELLA, S. G.; MELLO, M. T.; DENADAI, B. S. Índices de potência e capacidade aeróbia obtidos em cicloergômetro e esteira rolante: comparações entre corredores, ciclistas, triatletas e sedentários. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. v. 9, n. 4, 2003. Disponível em: http://www.luzimarteixeira.com.br/ wp-content/uploads/2010/03/comparacoes-potencia-e-cap-aer.pdf. Acesso em: 6 jun. 2019. CONCONI, F.; FERRARI, M.; ZIGLIO, P. J.; DROGHETTI, P.; CODECA, L. Deter- mination of the anaerobic threshold by a noninvasive field test in runners. Journal of Applyed Physiology: Respiratory, Environmental and Exercise Physiology. v. 52, n. 4, p. 869-873, 1982. referências http://www.luzimarteixeira.com.br/wp-content/uploads/2010/03/comparacoes-potencia-e-cap-aer.pdf http://www.luzimarteixeira.com.br/wp-content/uploads/2010/03/comparacoes-potencia-e-cap-aer.pdf 165 referências DIEFENTHAELER, F.; SAKUGAWA, R. L.; DELLAGRANA, R. A.; FOLLMER, B.; LEMOS, E. C.; CAMPOS, W. Is respiratory exchange ratio an alternative to estimate anaerobic threshold in trained runners? Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano. v. 19, n. 1, p. 108-117, 2017. DITTRICH, N.; SILVA, J. 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Homem em nível de condição física fraca: VO2max (ml / kg / min) = (2080 – 504) / 45 = 35. Mulher em nível de condição física superior: VO2max (ml / kg / min) = (2450 – 504) / 45 = 43,2. gabarito UNIDADE V Professor Dr. Braulio Henrique Magnani Branco Professor Me. Adriano Ruy Matsuo Professor Me. Bruno Follmer Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Avaliação anaeróbia • Testes laboratoriais • Testes de campo Objetivos de Aprendizagem • Conceituar o metabolismo anaeróbio, alático e lático. • Explorar as avaliações laboratoriais existentes para mensuração de aptidão anaeróbia. • Descrever os testes de campo disponíveis para avaliação da aptidão anaeróbia. AVALIAÇÃO ANAERÓBIA unidade V INTRODUÇÃO C aro(a) aluno(a), nesta unidade, o sistema anaeróbio de forne- cimento de energia será o tema principal. Assim como o siste- ma aeróbio, abordado na unidade anterior, a aptidão anaeróbia constitui importante elemento da condição física de um indiví- duo. Por realizar esforços mais intensos e de menor duração, esse sistema engloba muitos dos exercícios e atividades já descritos na Unidade 3 so- bre a força e a potência muscular. Primeiramente, você aprenderá os conceitos básicos do sistema anaeróbio de fornecimento de energia. Elementos bioquímicos e de fisio- logia humana serão descritos, o que facilitará o entendimento dos conteú- dos que serão apresentados em seguida. Diversos exemplos práticos serão mostrados para que você tenha melhor compreensão do que se trata o sistema anaeróbio, tornando mais fácil e agradável seu aprendizado. Naturalmente, protocolos de testes laboratoriais existem para a avalia- ção da condição anaeróbia. Esses protocolos de avaliação serão descritos e apresentados para você, além dos equipamentos e das respectivas técni- cas de coleta de dados. As principais variáveis de avaliação da capacidade anaeróbia também serão detalhadas, bem como sua importância no de- sempenho esportivo. Tanto a capacidade quanto a potência anaeróbia têm suas variáveis de mensuração, que serão exploradas ao longo desta unidade. Por fim, abordaremos os testes práticos de campo que avaliam a condição anaeróbia. Algumas avaliações têm sido desenvolvidas e de- monstram resultados interessantes que podem ser traduzidos em rele- vantes implicações no treinamento de atletas e indivíduos ativos. Cada teste prático apresenta suas particularidades, e seus protocolos geram variáveis específicas. Você terá acesso a todos esses aspectos, que lhe ga- rantirão o embasamento necessário para escolher qual o teste de aptidão anaeróbia mais adequado para aplicar no(a) seu(sua) aluno(a) ou atleta. Bons estudos! 172 Avaliação Anaeróbia EDUCAÇÃO FÍSICA 173 Olá, nesta unidade, o sistema anaeróbio de forneci- mento de energia será o assunto principal. Trata-se de um sistema de vias metabólicas mais simples do que as do sistema aeróbio, porém, com algumas par- ticularidades que podem gerar confusão. Para que isso não aconteça, faremos uma introdução ao siste- ma anaeróbio de fornecimento de energia, antes de progredir para os testes de avaliação física que men- suram essa capacidade. Conforme descrito na unidade anterior, o ATP é a molécula elementar para o fornecimento de ener- gia no metabolismo humano. Essa molécula está associada tanto à contração quanto ao relaxamen- to muscular. Você já sabe que o músculo utiliza o oxigênio para ressintetizar o ATP em condições ae- róbias, utilizando carboidratos, gorduras e até pro- teínas como substratos. Como você também deve saber, existem rotas para a ressíntese de ATP que não envolvem a utilização direta do oxigênio, ge- rando, assim, energia anaerobiamente. São dois os sistemas disponíveis para garantir esse processo – o sistema de fosfato de alta energia e o sistema glicolí- tico anaeróbio. Em função do primeiro não envolver a formação de ácido lático, mas o segundo envolver, esses sistemas podem ser denominados anaeróbio alático e anaeróbio lático, respectivamente. O sistema de fosfato de alta energia utiliza, priori- tariamente, uma substância chamada creatina fosfato (CP) para ressíntese de energia, que é denominada via ATP-CP. Esse composto encontra-se no interior da cé- lula, em concentrações de quatro a cinco vezes maio- res do que a concentração intracelular de ATP. Mes- mo assim, sua concentração ainda é pequena, tende a diminuir rapidamente sob exercício vigoroso e, por conseguinte, ocasiona fadiga do tecido muscular por depleção de substrato energético. Essa é a via metabó- lica predominante durante atividades muito intensas e de curta duração, em torno de dez segundos, aproxi- madamente (WILMORE; COSTILL, 2001). Ainda que existam outras vias para o forneci- mento de energia, diante da manutenção da alta in- tensidade da atividade, a fadiga por deficiência de CP é inevitável. Bioquimicamente, o processo de liberação de energia se dá pela quebra do compos- to fosforado de creatina, sob ação da enzima crea- tinaquinase. Esse fosfato, liberado pela CP, liga-se à molécula de adenosina di-fosfato (ADP) que, justa- mente, carece de um fosfato para ser ressintetizada à ATP. O fator regulador da atividade da enzima cre- atinaquinase é a ADP, garantindo a automodulação do processo. Ou seja, quanto mais ADP, mais a en- zima creatinaquinase será estimulada (MAUGHAN; GLEESON; GREENHAFF, 2000). Em modalidades como o futebol e o futsal, a potência anaeróbia alática é fundamentalmente usada por atletas ao realizarem ações como chutes, saltos e piques curtos. Dessa forma, gera-se melhor capacidade de resistir às mudanças de velocidade e de acompanhar o alto ritmo do jogo (WEINECK, 2004). A produção de energia anaeróbia é extrema- mente relevante, já que fornece energia de alta in- tensidade durante períodos de exercícios intensos de jogo (BANGSBO, 1994), geralmente, aqueles que constituem os lances decisivos para o sucesso. Dessa forma, é fundamental que a avaliação da condição anaeróbia alática de atletas seja realizada dentro de um programa de treinamento. Outras modalidades que envolvem ações curtas e de altíssima intensida- de também dependem muito dessa rota de forneci- mento de energia. 174 Quais outras modalidades apresentam ações físicas decisivas que envolvem alta intensida- de por breve período de tempo? Pense em arremesso, salto, drible ou finta. REFLITA Existem, ainda, as provas que dependem quase que totalmente do fornecimento de energia pela rota ATP-CP. As provas olímpicas mais curtas do atle- tismo e da natação são de 100 e 50 metros, respec- tivamente. A duração dessas provas fica em torno dos dez segundos, no caso dos 100 metros rasos do atletismo, e dos 20 segundos, na prova dos 50 metros da natação. Para que o músculo realize um esforço tão grande, se espera que ele recorra a uma rota simples e rápida, como a ATP-CP. Essa rota, porém, é bastante limitada pela oferta do substrato, a CP (GASTIN, 2001). Portanto, essas provas têm como característicao esforço absoluto intenso, em máxima velocidade. Consequentemente, uma característica desses eventos é uma chegada acirrada ao final da prova, quase sempre decidida com o auxílio da tecnologia. Nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, a diferença entre o medalhista de bronze e o sexto co- locado da prova dos 100 metros masculina de atle- tismo foi de apenas cinco centésimos de segundo. No caso da prova olímpica de natação dos 50 metros livres, a medalha de ouro foi decidida pela diferença de um centésimo de segundo (INTERNATIONAL OLYMPIC COMMITTEE, 2019). Vale ressaltar que provas como essas são decididas por outros aspectos também, como boa velocidade de reação e vanta- gens biomecânicas. Diversos testes e avaliações que verificam aspectos relacionados à potência anaeró- bia podem auxiliar na identificação de talentos para provas com essas características. Conforme citado anteriormente, o metabolis- mo anaeróbio se manifesta de uma segunda forma. O processo de glicólise anaeróbia é mais complexo do que a formação de ATP do sistema ATP-CP. A glicólise anaeróbia representa, também, um dos principais fornecedores de ATP durante ativida- des de alta intensidade e de curta duração, porém, um pouco mais duradouras, como as provas de 400 e 800 metros, no atletismo, e os 100 metros, na natação (FUNDAÇÃO VALE, 2013b). Ainda, a potência anaeróbia lática é necessária nas situa- ções de sucessivas ações de alta intensidade sem o devido tempo de recuperação, como em um jogo de futsal ou futebol (WEINECK, 2004). Essas ati- vidades dependem, em grande parte, do sistema do ATP-CP e da glicólise anaeróbia, sendo, por- tanto, denominadas atividades anaeróbias. O fator que diferencia essas atividades é formação ou não do ácido lático. Conforme você deve saber pelos livros de fisio- logia do exercício, a demanda energética determina se o rumo do piruvato formado se dará pela via ae- róbia ou anaeróbia. O exercício de alta intensidade induz a saturação dos transportadores mitocon- driais, gerando acúmulo significativo de piruvato fora da mitocôndria; esse acúmulo é convertido em ácido lático por enzimas específicas. Em função da sua elevada constante de dissociação, esse ácido lá- tico praticamente não se acumula no sistema, dis- EDUCAÇÃO FÍSICA 175 sociando-se em hidrogênio e lactato imediatamente após sua formação (ASTRAND et al., 2006). É esse lactato formado que interessa quando avaliamos ati- vidades de característica anaeróbia lática. Indivíduos bem treinados, geralmente, apresen- tam concentrações de lactato menores do que os não treinados em uma mesma tarefa, o que sinaliza maior adaptação aos esforços que utilizam predomi- nantemente o metabolismo anaeróbio lático. A acidi- ficação do meio celular e sanguíneo, que é decorren- te do acúmulo de íons provenientes da dissociação do ácido lático, é um fenômeno celular importan- tíssimo, pois é apontado por diversos autores como o mecanismo responsável pela fadiga muscular do sistema glicolítico anaeróbico (GASTIN, 2001). Portanto, quanto menos lactato acumulado, menor acidificação do meio, com menos diminuição do pH sanguíneo, gerando menores prejuízos neuromus- culares atribuídos a esse fenômeno (MAUGHAN; GLEESON; GREENHAFF, 2000). Um estudo clássico de Gastin (2001) se propôs a estimar a contribuição aeróbia e anaeróbia de acordo com o tempo de duração de esforços máximos. Por exemplo, exercícios em intensidade máxima que du- ram até dez segundos são 94% anaeróbios, enquanto que exercícios máximos que duram 240 segundos são apenas 21% anaeróbios, mas 79% aeróbios. Segundo o estudo, exercícios máximos com duração entre 60 a 75 segundos teriam praticamente a mesma contribui- ção dos sistemas aeróbio e anaeróbio, representando a faixa de transição dos dois metabolismos. Algumas modalidades apresentam característi- cas que podem gerar confusão sobre qual teste físico escolher para avaliar. Especificamente, a confusão gira em torno de qual capacidade é a mais impor- tante de se avaliar no atleta. Por exemplo, Barros e Guerra (2004) afirmam que 88% das ações do jogo de futebol envolvem atividades aeróbias, enquanto que apenas 12% seriam atividades anaeróbias de maior intensidade. Em outro exemplo, dessa vez com mo- dalidade de combate, a relação entre esforços de alta e baixa intensidades mostra que, no Brazilian Jiu-Jit- su, os competidores passam a maior parte do tempo de luta em ações de baixa intensidade (ANDREATO et al., 2016). Tais informações poderiam induzi-lo a pensar que, como o metabolismo aeróbio parece ser o mais ativado nessas modalidades, é ele que deve ser avaliado preferencialmente. Por conta de possíveis deficiências em enzimas da rota glicolítica, como a fosfofrutoquinase, é normal que crianças não apresentem valores de concentração de lactato tão elevados quanto adultos após exercícios intensos. Isto não significa que crianças não atinjam picos de concentração de lactato após protocolos exaustivos. Fonte: os autores. SAIBA MAIS 176 O que deve ser ressaltado é que as atividades que determinam o sucesso nessas modalidades, geralmen- te, são realizadas com o fornecimento de energia pelas vias anaeróbias. Ações motoras como corridas curtas, saltos, chutes e acelerações são as que, geralmente, de- terminam o sucesso para alcançar o objetivo do jogo do futebol, que é fazer o gol. Da mesma forma que no Bra- zilian Jiu-Jitsu e na maioria das lutas, as ações decisivas são oriundas de movimentos rápidos e potentes, como uma queda, uma finalização ou um golpe traumático, nas modalidades de percussão. Todas essas ações de alta intensidade e menor duração é que, provavelmente, serão responsáveis pelo sucesso na modalidade. Por serem sustenta- das pelo metabolismo anaeróbio, é este que deve ser prioritariamente avaliado. Logo, o fator fundamen- tal para saber qual capacidade deve ser avaliada é analisar as ações decisivas da modalidade. Se estas envolverem esforços de curta duração e alta intensi- dade, como nas modalidades da Figura 1, a avaliação de variáveis relacionadas ao metabolismo anaeróbio se faz fundamental. Figura 1 - Modalidades Em qual momento de provas de longa distância, predominantemente aeróbias, o metabolismo anaeró- bio pode ser fundamental para o sucesso? REFLITA EDUCAÇÃO FÍSICA 177 Entender que há uma evidente associação entre as características dos testes de avaliação de força des- critos na Unidade 3 deste livro com o metabolis- mo anaeróbio, é de extrema importância. A força máxima e a potência muscular estão associadas ao metabolismo anaeróbio alático, enquanto que a resistência de força será sustentada pelos meta- bolismos anaeróbio lático, ou até aeróbio, depen- dendo da intensidade do esforço (FUNDAÇÃO, 2013a). Portanto, todos os testes apresentados na Unidade 3 sobre força máxima, resistência e po- tência podem ser entendidos como protocolos de testes da aptidão anaeróbia de um sujeito. Dessa forma, avaliar a aptidão não é exclusividade para treinadores e atletas de alto rendimento. Conforme visto anteriormente, a força muscular está relacio- nada positivamente com diversos marcadores de saúde, como a massa óssea, a tolerância à glicose, o aumento do metabolismo basal, a integridade músculo-tendínea e com a funcionalidade do cor- po para ações da vida diária, diminuindo riscos de lesão (PESCATELLO et al., 2014). As principais variáveis dos testes que avaliam a aptidão anaeróbia também são semelhantes às encontradas nas avaliações de força máxima, força resistente e força potente. A potência, em Watts, provavelmente é a variável mais avaliada, e pode ser expressa em termos absolutos ou relativos à massa corporal do avaliado. Ainda, a potência média, bem como a velocidade, a força e a acele- ração aparecem como variáveis dos testes. O índi- ce de fadiga é uma variável de extrema relevância, e que pode ajudar muito na preparação de um(a) atleta, dependendo da modalidade. Todasessas variáveis e seus significados clínicos e práticos serão discutidos na sequência desta unidade, no próximo tópico. Neste primeiro tópico, você conheceu os concei- tos básicos sobre as duas manifestações do sistema anaeróbio. O fornecimento de energia por meio da rota da ATP-CP foi descrito, bem como exemplos de provas foram mostrados a você. A rota da ATP- -CP não envolve a formação de ácido lático, por este motivo, é denominada anaeróbia alática. Por outro lado, o metabolismo anaeróbio proveniente da gli- cólise resulta em acúmulo de ácido lático e, conse- quentemente, há aumento da concentração de íons e de lactato no sangue. Por este motivo, é denominado anaeróbio lático. Esforços de curta duração e inten- sidades elevadas são característicos do metabolismo anaeróbio, e essas ações são decisivas em muitas modalidades esportivas. No próximo tópico, você terá conhecimento dos principais protocolos de ava- liação da aptidão anaeróbia em laboratório. 178 Testes Laboratoriais Olá, este tópico será dedicado aos protocolos de tes- tes laboratoriais que se propõem a avaliar a aptidão anaeróbia. Conforme você deve imaginar, os proto- colos que serão apresentados neste tópico deman- dam aparelhagem específica, sofisticada e, muitas vezes, inacessível ao grande público. Além disso, os avaliadores devem estar treinados para conduzir os testes, seguindo a padronização correta para obter dados precisos sobre as variáveis de mensuração da condição anaeróbia. Por outro lado, esses protocolos representam as melhores opções disponíveis para avaliação anaeróbia, gerando dados representativos para o diagnóstico da condição atual e a resposta de um indivíduo ao treinamento. EDUCAÇÃO FÍSICA 179 O Wingate Anaerobic Test foi desenvolvido há bastante tempo e é mundialmente difundido (INBAR; BAR-OR; SKINNER, 1996). Pode ser con- siderado um dos testes laboratoriais mais utilizados, principalmente por sua praticidade. Além disso, o teste de Wingate origina dados úteis na avaliação da condição atual e é sensível ao treinamento. O teste demanda um cicloergômetro com o software especí- fico, em que o teste já está embutido no ergômetro, o que facilita a realização da avaliação e a geração dos dados para posterior análise. Como se trata de um protocolo de avaliação amplamente utilizado, ele será minuciosamente descrito a você. O teste consiste em pedalar em cicloergômetro por 30 segundos, na maior rotação possível, contra uma resistência oferecida pelo ergômetro. A resis- tência é fixa ao longo do teste e representa 7,5% da massa corporal total do indivíduo que será avaliado (INBAR; BAR-OR; SKINNER, 1996). Essa carga de resistência foi selecionada, originalmente, em indi- víduos jovens, o que gera algumas discussões quanto ao seu emprego em adultos ou atletas. Alguns ou- tros protocolos já foram desenvolvidos com diferen- tes cargas relativas à massa corporal, porém, a carga original permanece como a mais utilizada (FRAN- CHINI, 2002). Portanto, se o intuito é comparar os resultados de sua avaliação com a de valores de refe- rência para uma população ou com os de outros es- tudos, escolha a carga originalmente proposta, pois essa será a escolhida na grande maioria dos estudos. Detalharemos mais o protocolo do teste de Win- gate. Primeiramente, você deverá mensurar a mas- sa corporal do sujeito que será avaliado por meio de uma balança. Cuide para que o indivíduo esteja descalço e sem objetos pesados junto ao corpo. Ge- ralmente, o cicloergômetro em que será realizado o teste possui o software do protocolo, portanto, você deverá inserir o valor da massa corporal do(a) ava- liado(a) e o computador fará o cálculo da resistência que deverá ser aplicada durante o teste. A posição do avaliado no cicloergômetro deve respeitar uma regra básica. Sentado(a), o(a) avaliado(a) deve permanecer em contato com o pedal da bicicleta durante toda a amplitude de movimento da pedalada, inclusive no ponto em que o joelho se encontra mais estendido. Por outro lado, deve-se observar que o joe- lho do indivíduo não pode permanecer muito flexionado, mesmo no ponto mais distante do pedal. A recomendação geral é que o banco esteja próximo à linha da crista ilíaca do avaliado, quando ele per- manece de pé ao lado do ergômetro. Uma vez cor- retamente posicionado no cicloergômetro, o indiví- duo deverá realizar uma pedalada por três minutos, com uma carga que vai de baixa a moderada (60 a 90 W) em 60 rotações por minuto, para aquecer. Após o aquecimento, o(a) avaliador(a) deverá inserir os da- dos do avaliado no ergômetro e dar início ao proto- colo de avaliação. Geralmente, o indivíduo inicia uma pedalada livre e acompanha uma contagem regressiva de 30 segundos. Nos instantes finais dessa etapa, em torno de três a cinco segundos restantes, o(a) avalia- do(a) já é estimulado(a) a aumentar o giro de rotação do movimento de pedalar. Automaticamente, após os primeiros 30 segundos regressivos sem carga, o teste é iniciado sem inter- rupção (BAR-OR, 1987). Nesse momento, a carga de 7,5% é oferecida ao avaliado, e este deverá pedalar na máxima intensidade possível durante 30 segundos. A contagem do tempo, dessa vez, será mostrada de forma progressiva na tela do ergômetro (dependendo do modelo). Vale ressaltar que, durante todo o tem- po do teste, o(a) avaliado(a) deverá ser verbalmente estimulado(a) a realizar a maior intensidade possível, mantendo o maior número de rotações por minuto. 180 O comportamento padrão do teste é de uma al- tíssima intensidade nos momentos iniciais, com ele- vados ciclos de rotação no ergômetro. Com o passar dos primeiros dez segundos de teste, a intensidade tende a cair bruscamente e, ao final, o(a) avaliado(a), geralmente, pedala em intensidade muito menor do que a inicial. Principalmente por essa fadiga acen- tuada é que se orienta que haja motivação externa durante todos os 30 segundos do teste. Diferente- mente do teste incremental em cicloergômetro para determinação do consumo máximo de oxigênio, o teste de Wingate não requer o uso de espirometria. É importante salientar que o indivíduo avaliado deve- rá permanecer sentado durante toda a execução do teste, para fins de padronização. O encerramento do teste deverá ser comunicado pelo(a) avaliador(a) ao sujeito avaliado. Por conta do esforço intenso que marca o teste de Wingate, é aconselhado que o(a) avaliado(a) permaneça no cicloergômetro, pedalando em baixa intensidade e sem carga de resistência por, pelo menos, dois mi- nutos. Enquanto registra os resultados do teste, que podem ser gerados instantaneamente no painel do ergômetro, o(a) avaliador(a) deverá observar as re- ações do(a) avaliado(a). Não é incomum que avalia- dos do teste de Wingate sintam-se fracos, pálidos e tenham até mesmo vômitos ou desmaios. Portanto, o(a) avaliador(a) nunca deve deixar o(a) avaliado(a) sozinho(a) após a realização do teste. Apesar de amplamente utilizado em treinamen- to e na ciência, o Wingate apresenta algumas claras limitações, que serão discutidas a seguir. Por se tra- tar de um teste em cicloergômetro, em que a princi- pal ação motora é pedalar, alguns especialistas não recomendam e nem utilizam o Wingate. Modalida- des como vôlei, basquete, natação, futebol, entre ou- tras, não apresentam qualquer especificidade com o gesto de pedalar. Nesses casos, outras possibilidades de avaliações da aptidão anaeróbia são realizadas com outros gestos motores que se aproximem mais aos realizados em determinadas modalidades. Pro- tocolos aquáticos, com saltos, ou com corrida, ten- tam gerar dados tão confiáveis, reprodutíveis e úteis quanto os do Wingate. Entretanto, a praticidade do Wingate e a fácil leitura dos resultados acabam, muitas vezes, con- vencendo que essa avaliação pode sim, ser útil para diagnosticar, em atletas de diferentes modalidades, a aptidão anaeróbia, ou verificar efeitos do treina- mento (BAR-OR, 1987). Na realidade, ainda hoje,existem tentativas de criação de protocolos de ava- liação da capacidade e potência anaeróbia em es- EDUCAÇÃO FÍSICA 181 teira, com o movimento de corrida. Os protocolos variam entre testes progressivos com estágios de 20 segundos de corrida (NUMMELA et al., 1996) ou testes de corrida única de 30 segundos, na máxima velocidade (MCKIE et al., 2017). Entretanto, o fato é que nenhum protocolo criado até o momento con- seguiu ganhar a popularidade e o reconhecimento que o Wingate tem como padrão para mensuração da capacidade e potência anaeróbia. Além disso, o fato de o Wingate ser realizado numa situação em que o avaliado fica estável possibilita que pacientes com diversas limitações ou condições espe- ciais sejam avaliados em segurança. É o caso de pa- cientes com paralisia cerebral, o que compromete os movimentos e a coordenação. Portanto, nesse caso, o Wingate é um excelente teste para avaliação da apti- dão anaeróbia, e deve ser utilizado, principalmente, na comparação do mesmo indivíduo em momentos diferentes (PESCATELLO et al., 2014). Ao final do teste, as variáveis obtidas no Wingate são automati- camente geradas pelo software contido no ergômetro. Elas são de simples entendimento e podem fornecer informações importantes para avaliadores(as) e ava- liados(as) (INBAR; BAR-OR; SKINNER, 1996). O resultado do teste de Wingate é fornecido em seis intervalos de cinco segundos cada. Os seis inter- valos são: entre 0 e 5 s, entre 5 e 10 s, entre 10 e 15 s, entre 15 e 20 s, entre 20 e 25 s, e entre 25 e 30 s. Esta divisão temporal facilita a elaboração de gráficos de pico de potência absoluto ou relativo pelo tempo. O pico de potência anaeróbia absoluto é considerado o maior valor absoluto de potência alcançado pelo in- divíduo ao longo dos 30 segundos de teste. O pico de potência anaeróbia relativo reflete o pico absoluto de potência anaeróbia dividido pela massa corporal do indivíduo, previamente informada pelo(a) avalia- dor(a) ao ergômetro. Esse parâmetro é importante no sentido de fornecer referência sobre a potência anaeróbia do indivíduo desconsiderando sua massa corporal. Essa variável permite a comparação entre indivíduos de massas corporais distintas. O com- portamento normal de um teste de Wingate é uma curva decrescente, partindo de valores altos de po- tência nos primeiros cinco a dez segundos de teste, seguidos por uma queda inevitável de potência, até o trigésimo segundo de teste. Quais vias metabólicas e substratos são pre- dominantemente utilizados ao longo dos 30 segundos do teste de Wingate? REFLITA Após receber as informações básicas do metabolismo anaeróbio alático e lático no primeiro tópico desta unidade, você já deve saber relacionar o comporta- mento da potência ao longo dos 30 segundos do teste de Wingate com o funcionamento do metabolismo anaeróbio de fornecimento de energia. Por conta da incapacidade de suprir toda a demanda do esforço, o metabolismo anaeróbio alático deve ser predo- minante apenas nos primeiros segundos do teste. O metabolismo anaeróbio lático passa a ser predo- minante rapidamente, e são esperadas altas concen- trações de lactato sanguíneo alguns minutos após o encerramento do protocolo de teste de Wingate. A potência média é mais uma variável que pode ser extraída dessa avaliação. A potência média ab- soluta representa a média de potência alcançada ao longo dos seis intervalos de cinco segundos, en- quanto que a potência média relativa normaliza o valor absoluto registrado pela massa corporal do 182 avaliado (BAR-OR, 1987). O valor de percentual de fadiga, ou índice de fadiga, é outra variável obtida pelo teste de Wingate. Esse valor remete à queda da potência desenvolvida pelo indivíduo ao longo dos 30 segundos de teste (BAR-OR, 1987), e deve ser calculado pela seguinte fórmula matemática: Índice de fadiga Pico de potência menor potência do test = ee Pico de potência x( ) 100– Geralmente, a maior potência é obtida no primeiro intervalo de cinco se- gundos do teste, enquanto o valor de menor potência é invariavelmente regis- trado no último segmento de tempo da avaliação. Quanto maior for o valor ob- tido no índice de fadiga, maior a queda que o indivíduo apresentou nos valores de potência ao longo dos 30 segundos de teste. Por outro lado, indivíduos que registram pouca diferença entre a maior e menor potência ao longo do teste devem apresentar baixo valor de índice de fadiga. Por exemplo, um avaliado que inicia o teste com 1000 W de potência e finaliza com 800 W apresentará um índice de fadiga de apenas 20%, o que significa que houve pouca queda de desempenho ao longo dos 30 segundos de teste. Esse índice ganha relevância se analisarmos qual a modalidade que o(a) ava- liado(a) pratica. Praticantes de esportes que necessitam de momentos únicos de máxima potência, como saltos, arremessos e lançamentos, não precisam apresentar baixos valores dessa variável. Por outro lado, esportistas que precisam manter seus níveis de potência por diversos momentos do jogo ou da prova podem se beneficiar de menores índices de fadiga. Como exemplo, você pode pensar em modalidades coletivas, como fute- bol, basquete e voleibol, em que repetidos esforços são realizados, e é interessante possuir a capacidade de manter os níveis de potência sem queda de desempenho ao longo de uma partida. Como um exemplo mais claro, pense na prova dos 400 metros do atletismo. Não a vence quem atinge a velocidade máxima ao longo da prova, mas sim, quem tem a maior velocidade média ao final dela. Portanto, numa prova de 400 metros, que dura um pouco mais do que 40 segundos, possuir um baixo índice de fadiga pode ser incrivelmente importante. Por fim, a capacidade anaeróbia total é entendida como o trabalho total com- pletado durante o teste de Wingate. Para que seja calculado esse valor, basta somar o pico de potência obtido em cada um dos seis intervalos de cinco segundos regis- trados do teste (INBAR; BAR-OR; SKINNER, 1996). EDUCAÇÃO FÍSICA 183 A avaliação de Wingate é sempre realizada em cicloergômetro para membros inferiores, mas também tem sido realizada em cicloergômetro para braços, o que acaba por avaliar, especifica- mente, a aptidão anaeróbia dos membros supe- riores. Cicloergômetros para braços podem ser modificados a partir de cicloergômetros tradicio- nais, substituindo os pedais por manoplas para as mãos, e adequando a estrutura do ergômetro para que o indivíduo permaneça em posição sentada, com o esforço realizado na altura dos ombros (PESCATELLO et al., 2014). Apesar da mesma lógica do protocolo original de 30 segundos, no Wingate para membros supe- riores, existem algumas recomendações específi- cas. Por exemplo, a carga de resistência que o ergô- metro empregará ao longo do teste deve ser menor do que os tradicionais 7,5%. Os valores de 6% para homens e de 4,8% para mulheres aparecem como as melhores cargas indicadas para a realização do teste de Wingate adaptado para membros supe- riores (INBAR; BAR-OR; SKINNER, 1996). Este modo de execução pode ser indicado a indivíduos que possuem limitações para se exercitar com os membros inferiores, e os resultados obtidos nes- ses protocolos parecem ser úteis nessas populações (PESCATELLO et al., 2014). A utilização de outros instrumentos permite a mensuração da potência anaeróbia por meio de ou- tros protocolos de avaliação laboratorial, principal- mente relacionados ao pico de potência anaeróbia. Instrumentos como os acelerômetros, que medem a velocidade e a aceleração e podem gerar dados de pico de potência por meio de cálculos matemáticos (COMSTOCK et al., 2011). São, geralmente, apare- lhos pequenos e que ficam presos à barra ou ao cor- po do avaliado. Após fornecer algumas informações básicas, como os dados de estatura e massa corporal do avaliado, o teste é realizado. Por exemplo, num teste de salto, com movimento semelhante aos des- critos na Unidade 3, o aparelhopreso à cintura do avaliado calculará a altura do salto, a velocidade e a aceleração; considerando a informação prévia da massa corporal do indivíduo, outras variáveis serão calculadas, como a potência pico e média, em valo- res absolutos ou relativos. Em exercícios como o supino e o agachamento, o dispositivo deve ser fixado à barra na qual será re- alizado o teste. Você deverá informar ao equipamento a carga externa oferecida. A instrução para um teste como esse é bastante simples: o avaliado deverá reali- zar a fase concêntrica da contração na maior velocida- de possível. No caso do supino, a fase concêntrica será aquela em que o avaliado empurra a barra para cima, A motivação é um fator decisivo para o desempenho no teste de Wingate. Diversos estudos verificaram que fatores motivacionais, principalmente emocionais, podem influenciar as variáveis do teste. Esse é mais um fator a ser considerado, claro. Portanto, a padronização dos procedimentos do teste é a melhor forma de excluir variáveis intervenientes e, consequentemente, obter resultados que traduzam exclusivamente os efeitos da intervenção proposta. Fonte: os autores. SAIBA MAIS 184 nesse caso, tentando realizar o movimento na maior velocidade possível, como num arremesso. Novamen- te, diversas variáveis são fornecidas pelo dispositivo após uma série de repetições, que varia de acordo com o objetivo do teste. Geralmente, o pico de potência é o mais relevante, e deriva quase que exclusivamente do metabolismo anaeróbio alático, já que os esforços são máximos em curtos períodos de tempo. Os picos de potência de exercícios como supino (SILVA et al., 2015) e remo (TAVARES et al., 2018) para membros superiores, além do agachamento (COMSTOCK et al., 2011) para membros inferiores, têm sido registrados na literatura. Vale ressaltar que a realização prévia do teste de carga máxima de 1RM, descrito na Unidade 3, faz-se fundamental. Após sa- ber a carga máxima do(a) avaliado(a), você poderá investigar qual a carga relativa à máxima (1RM) com a qual a potência máxima é atingida. Valores em tor- no de 40 a 50% do 1RM têm sido reportados como os ideais para a obtenção dos maiores picos de potên- cia em comparação a outras cargas relativas ao 1RM, como 30% ou valores maiores de 60% (SILVA et al., 2015; TAVARES et al., 2018). Lembre-se, conforme discutido na Unidade 3, a potência muscular depende da força e da velocida- de, portanto, cargas muito altas são movimentadas com menos rapidez, o que compromete os resul- tados de potência. Da mesma forma, a potência é comprometida com cargas demasiadas baixas, mes- mo que a velocidade atingida seja bastante alta. As- sim como descrito na Unidade 3, no tópico de Po- tência Muscular, os testes de saltos em plataforma de força fornecem dados intimamente ligados ao sistema anaeróbio de fornecimento de energia. Tes- tes de saltos com ou sem contramovimento avaliam, basicamente, o sistema alático em ações únicas que envolvem força e velocidade. No intuito de expandir as possibilidades envol- vendo saltos, pesquisadores desenvolveram um tes- te de saltos contínuos pelo tempo de 30 segundos (DAL PUPO et al., 2014). O tempo de duração faz referência direta ao teste de Wingate, previamente descrito, ao qual foram feitas as comparações dos índices anaeróbios extraídos da avaliação. O teste consiste em realizar, durante 30 segundos, saltos su- cessivos e ininterruptos com a técnica correta do sal- to com contramovimento, em máxima intensidade. Esse teste é realizado sobre uma plataforma de força. A maioria das variáveis extraídas do teste de saltos contínuos teve relação com as conhecidas variáveis de Wingate. Houve correlações entre a média de altura dos quatro primeiros saltos e o pico de potência do Wingate, e entre a média de altura em todos os sal- tos e a potência média ao longo dos 30 segundos do teste. O pico de lactato atingido após os dois pro- tocolos também se correlaciona, além do índice de fadiga, que também demonstrou relação entre os testes. Tais achados sustentaram a ideia dos autores de que o teste de saltos contínuos em 30 segundos fornece dados dos índices anaeróbios, inclusive, com a participação do metabolismo anaeróbio lá- tico. Ainda, esse protocolo pode ser mais específico a atletas de modalidades que tenham, nos saltos e impulsões, as ações motoras específicas, como jo- gadores de voleibol. O sistema de fotocélulas é bastante utilizado com a finalidade de avaliar com precisão um dos componentes da potência anaeróbia, a velocidade (FUNDAÇÃO VALE, 2013a). Nesse sistema, a cro- nometragem do teste de deslocamento entre dois pontos é precisamente mensurada, evitando os erros frequentes que ocorrem quando se utiliza um cro- nômetro manual. Diversos testes para avaliação da EDUCAÇÃO FÍSICA 185 velocidade existem, com protocolos de distâncias de 20, 30 e 50 m. Ainda, algumas avaliações são realiza- das com os indivíduos partindo de posição estática, enquanto outros iniciam lançados, com o avaliado já em corrida antes mesmo do ponto de partida da distância do teste (MARINS; GIANNICHI, 2003). Aparelhagem como as fotocélulas permitem o for- necimento de outras variáveis além de tempo e ve- locidade, como a aceleração e o índice de fadiga, em caso de sucessivos tiros de velocidade. A velocidade de reação também é mensurada com maior precisão por meio de avaliação com fotocélulas. Por favor, não confunda a velocidade de reação com reflexo. Velocidade de reação é uma capacidade física que pode ser treinada, e se resume ao tempo entre um estímulo e uma consequente reação. Mo- dalidades de curta duração, como provas rápidas de natação e atletismo, dependem muito de uma boa saída no início da prova; são exemplos de prova em que uma boa velocidade de reação auditiva (ao som do anúncio de início) é necessária. Goleiros de fu- tebol, futsal e handebol, por exemplo, necessitam de grande velocidade de reação por estímulo visu- al, principalmente pela observação da trajetória da bola em sua direção. Portanto, avaliar a velocidade de reação em praticantes dessas modalidades se faz extremamente relevante. Praticamente todos os testes que avaliam a ve- locidade em distâncias curtas e, consequentemente, por curtos períodos de tempo, serão formas de ava- liar o sistema anaeróbio. Em esforços únicos e curtos, o sistema anaeróbio alático deve ser absolutamente predominante, enquanto que corridas ou esforços re- petidos acabam por ativar a via anaeróbia, com for- mação de ácido lático, ou seja, a via anaeróbia lática. A capacidade e potência anaeróbias mensuradas em laboratório demandam equipamentos sofisticados e, muitas vezes, inacessíveis à maioria dos(as) professo- res(as) e treinadores(as). Apesar de bastante simples, os protocolos laboratoriais nem sempre podem ser realizados na rotina de avaliação física de indivíduos normais, ou até mesmo, em atletas. No presente tópico, você soube que o Wingate é o mais conhecido e difundido teste para avaliação da aptidão anaeróbia em laboratório. Sua praticidade e facilidade na interpretação dos resultados lhe garan- tem essa preferência. Outros testes foram descritos para você, por exemplo, a avaliação de potência em exercícios comuns, como supino e agachamento. En- tretanto, equipamentos especificamente designados, por exemplo, o acelerômetro, são necessários para que dados confiáveis e reprodutíveis sejam forneci- dos. A velocidade em curtas distâncias, bem como a velocidade de reação, também integram a bateria de exercícios necessária para uma completa avaliação da potência anaeróbia, principalmente de componente alático. Nesse caso, equipamentos como fotocélulas são indispensáveis para uma precisa avaliação. 186 Testes de Campo EDUCAÇÃO FÍSICA 187 Conforme comentado anteriormente, neste tópico, você terá conhecimento dos principais protocolos de avaliação da aptidão anaeróbia por meio de testes práticos de campo. Diferentementedos testes labo- ratoriais, os de campo são muito mais acessíveis a profissionais da Educação Física de diferentes áreas e com diferentes enfoques. Assim como nos testes laboratoriais, porém, uma rigorosa padronização na execução dos testes é necessária para que os dados gerados por essas avaliações tenham utilidade no diagnóstico da aptidão anaeróbia e no acompanha- mento de eventuais treinamentos. Da mesma forma que o Wingate representa o teste laboratorial mais realizado para avaliar a ap- tidão anaeróbia, o Running-based Anaerobic Sprint Test, ou simplesmente RAST, é o teste prático de campo mais conhecido. Ele foi originalmente cria- do para avaliação da condição anaeróbia com o uso de cronômetro, apenas (DRAPER; WHYTE, 1997). Diversos estudos foram realizados até o momento e essa avaliação tem demonstrado estreita relação com o Wingate, sendo reconhecida como um dos principais instrumentos para avaliação da capacida- de e potência anaeróbias. O RAST apresenta dife- rentes formatos, porém, o mais difundido consiste em seis tiros de 35 metros em velocidade máxima. O avaliado tem dez segundos de intervalo entre cada um dos tiros de velocidade. O que deve ser registrado, nesse teste, é o tem- po de cada um dos seis piques de 35 metros. Os dez segundos de intervalo, porém, também devem ser registrados por cronômetro, o que sugere uma quan- tidade ideal de dois(as) avaliadores(as) na execução desse protocolo de avaliação. Cada um(a) dos(as) avaliadores(as) seria responsável por registrar o tem- po de cada um dos momentos do teste, em velocidade ou em descanso. Ainda, cada participante deverá ser avaliado individualmente, para evitar possível con- fusão no momento da coleta dos dados. Os coman- dos para o(a) avaliado(a) são extremamente básicos e simples, como “posiciona”, “prepara” e “já”. É importante salientar ao(à) avaliado(a) que ele(a) passe correndo em máxima velocidade pos- sível pela marca final dos 35 metros, deixando para desacelerar após a marca, a fim de não comprometer o resultado do teste. Além de envolver um exercício comum para diversas modalidades esportivas, que é a corrida, o RAST pode e deve ser realizado no terre- no específico e com calçado específico à modalidade. Por exemplo, jogadores de futebol poderão realizar o RAST calçando chuteiras, no gramado, pois assim será mais específico à situação real encontrada no momento do jogo, aumentando a validade externa da avaliação. A partir do tempo registrado de cada tiro de velocidade, é possível o cálculo de diversas variáveis, conforme a lógica a seguir: Distância = 35m Tempo = Tempo registrado em cada um dos seis tiros Velocidade = Distância Tempo Aceleração = Velocidade Tempo Força = Massa corporal x Aceleração Potência absoluta = Força x Velocidade Potência relativa = Potência absoluta Massa corporal 188 Conforme você pôde notar nas equações expostas, é fundamental que você colete a massa corporal do sujeito avaliado antes do teste, para gerar a cascata completa de equações. A utilização de fotocélulas, conforme citado no último tópico, aumenta muito a precisão dos valores registrados para cada uma das vari- áveis extraídas do teste. A potência máxima será obtida utilizando o menor valor de tempo dos tiros de velocidade. De maneira oposta, a menor potência corres- ponderá ao tiro em que houve o maior tempo registrado. A potência média é cal- culada como a média aritmética da potência obtida nos seis tiros (FUNDAÇÃO VALE, 2013a). Ainda, o índice de fadiga pode ser calculado segundo a seguinte fórmula: Índice de fadiga Potência máxima Potência mínima Potência = ( ) máxima x 100 – Assim como no teste de Wingate, um elevado valor de índice de fadiga repre- senta grande queda no desempenho ao longo do teste, possivelmente indicando a necessidade do(a) avaliado(a) em melhorar a sua capacidade anaeróbia e a resistên- cia à fadiga. Ainda, a capacidade anaeróbia é vista como a soma de todas a potên- cias obtidas ao longo dos seis tiros de velocidade, semelhante à lógica aplicada ao teste de Wingate. Assim como nesse teste, os(as) avaliados(as) devem ser motivados ao longo de todos os tiros de velocidade. Curiosamente, um estudo investigou a influência do ritmo musical durante a avaliação do RAST (ATAN, 2013). Foram realizadas três sessões do teste, uma sem música, outra com música lenta, e a úl- tima, com música rápida. Não houve qualquer influência da música em nenhuma das variáveis do RAST. O mesmo estudo investigou, também, a influência no Wingate e, novamen- te, nenhuma diferença foi constatada. Portanto, parece que música como compo- nente motivacional não possui influência no desempenho em testes de capacida- de anaeróbia, como o RAST e o Wingate. A aptidão anaeróbia também pode ser mensurada em um teste prático de campo que envolve corrida contínua. Trata- se do teste de corrida em 40 segundos, desenvolvido por Matsudo (MARINS; GIANNICHI, 2003). Ele consiste em mensurar qual distância é percorrida em uma corrida em máxima velocidade, por 40 segundos. Para tanto, é indicado que essa avaliação seja realizada em uma pista atlética e que haja uma marcação em determinados espaços de metros, por exemplo de cinco em cinco, dez em dez, ou até de um em um, dependendo do nível de precisão que se deseja obter. EDUCAÇÃO FÍSICA 189 O cronômetro é acionado no início do teste e, ao completar 40 segundos, o(a) avaliador(a) poderá emi- tir um sinal sonoro para indicar o final do teste. Mais importante do que indicar o final, o(a) avaliador(a) deverá observar, com precisão, qual a posição do(a) avaliado(a) ao final do tempo e, assim, computar qual foi a exata distância percorrida. Esse teste pode con- tar com dois(as) avaliadores(as) para que a medida da distância percorrida seja realizada com maior preci- são. Essa avaliação não resulta em dados de potência, especificamente, porém, a distância percorrida gera uma referência à capacidade anaeróbia total do avalia- do, principalmente de característica lática, por conta da intensidade e duração do esforço. Por ser um teste simples e de fácil execução, pode ser aplicado em diversos públicos. Não se trata de uma avaliação específica e exclusiva para atletas. De acordo com Marins e Giannichi (2003), duas ta- belas com valores coletados em grandes amostras foram divulgadas com resultados provenientes do teste de corrida de 40 segundos. A primeira relata os resultados de escolares de sete a 18 anos. A segunda apresenta valores médios de atletas de alto nível de diferentes modalidades esportivas. Quadro 1 - Resultados, em metros, do teste de corrida de 40 segundos em escolares da rede pública de sete a 18 anos Idade Masculino Feminino 7 178,03 ± 12,24 166,42 ± 11,91 8 191,95 ± 19,37 169,50 ± 12,89 9 197,29 ± 13,72 186,42 ± 17,50 10 200,21 ± 17,01 189,93 ± 10,52 11 203,34 ± 19,24 195,09 ± 24,33 12 213,15 ± 19,37 195,82 ± 18,16 13 221,48 ± 15,93 201,78 ± 25,79 Idade Masculino Feminino 14 230,29 ± 23,23 204,85 ± 20,11 15 246,54 ± 12,76 202,16 ± 18,96 16 250,70 ± 16,56 197,29 ± 15,64 17 240,20 ± 17,32 197,12 ± 10,01 18 261,67 ± 19,85 201,09 ± 10,98 Fonte: Marins e Giannichi (2003). Quadro 2 - Valores, em metros, de resultados obtidos no teste de 40 segundos por atletas de diferentes modalidades Modalidade Masculino Feminino Natação 232,61 ± 34,12 208,16 ± 12,32 Atletismo 295,90 ± 17,70 258,83 ± 25,21 Basquetebol 266,01 ± 15,93 228,61 ± 16,96 Ginástica 261,10 ± 19,93 216,91 ± 13,70 Voleibol 267,10 ± 14,22 227,21 ± 17,44 Pugilismo 272,69 ± 11,04 X Sel. Bras. Voleibol 279,98 ± 14,20 X Sel. Bras. Basquetebol 275,30 ± 21,60 X Fonte: Marins e Giannichi (2003). A potência anaeróbia de membros inferiores, prin- cipalmente o componente alático, pode ser avaliada por um teste de campo que não envolve correr e nem pedalar. Trata-se do teste de dez saltos horizontais sucessivos. Esse protocolo de avaliação visa a abran- ger praticantesde modalidades em que os saltos es- tejam entre as ações decisivas para o sucesso, mais do que pedalar ou correr. Atletas como saltadores em provas do atletismo, lutadores e ginastas pode- riam se beneficiar da especificidade desse protocolo de avaliação (MARINS; GIANNICHI, 2003). 190 Antes da execução do teste, o(a) avaliador(a) deverá fazer marcas no chão a cada 50 centímetros, num espaço considerável, em torno de 30 metros. O indiví- duo avaliado deverá realizar dez saltos horizontais consecutivos, mantendo os pés unidos, sem sobrepasso, no menor tempo possível, que não deverá ser superior a dez segundos (MARINS; GIANNICHI, 2003). Tanto a distância percorrida quanto o tempo na realização dos dez saltos deverão ser registrados. Portanto, uma fita métrica e um cronômetro são necessários para aplicar esse protocolo de avaliação. A estimativa da potência poderá ser feita pela equação: Potência Massa corporal do avaliado x Distância total Tem = ( ) ppo em segundos Outras avaliações de potência anaeróbia que não foram citadas no presente tó- pico estão descritas na Unidade 3, no tópico de Potência Muscular. São avaliações simples, como de impulsão horizontal ou vertical para os membros inferiores, e o teste de arremesso de medicine ball para potência dos membros superiores. Pelo que você aprendeu nesta unidade, sabe que esses testes avaliarão a potência anaeró- bia alática de membros inferiores ou superiores, pois são avaliações curtas e de alta intensidade, com movimentos realizados contra determinada resistência, em que elevada velocidade nos membros envolvidos é exigida. No presente tópico desta unidade, diversos protocolos de avaliação da capaci- dade e potência anaeróbia foram descritos para você. Tanto o metabolismo anaeró- bio alático quanto o lático constituem a principal fonte de fornecimento de energia dentro das tarefas exigidas nas avaliações apresentadas. Aqui, você soube que vá- rios protocolos de testes práticos de campo podem ser utilizados na avaliação da aptidão anaeróbia, facilitando a vida dos(as) profissionais de Educação Física. 191 considerações finais N a presente unidade, o sistema anaeróbio de fornecimento de energia foi o assunto principal. Você aprendeu que o metabolismo anaeróbio está relacionado a atividades de grande intensidade que, no entanto, podem ser sustentadas por menores períodos de tempo. Diferentemente do sistema aeróbio, abordado anteriormente, o oxigênio não está diretamente ligado ao fornecimento de energia nas rotas anaeróbias. A rota da ATP- -CP, chamada de anaeróbia alática, é predominante nas provas mais curtas e intensas do atletismo e da natação. Ainda, é essa rota que fornece energia em alguns momen- tos decisivos de outras modalidades, como tiros curtos, chutes, arremessos e saltos. Para esforços repetitivos sem a devida recuperação, ou aqueles um pouco mais duradouros, a formação do ácido lático e o eventual acúmulo de lactato sanguíneo caracterizam a rota anaeróbia lática. Essa é a rota predominante de esforços realiza- dos durante esportes intermitentes, como futebol ou algumas lutas, ou em algumas provas do atletismo e da natação. Nos testes laboratoriais que avaliam a aptidão anaeróbia, o Wingate é o protocolo de avaliação mais conhecido e mundialmente utilizado. Pela descrição do teste e das variáveis oriundas dele, você entendeu que a praticidade do protocolo e a facilidade de interpretação dos dados são os elementos que contribuem para que essa avaliação seja referência. Outros métodos e instrumentos laboratoriais para avaliação da po- tência e da capacidade anaeróbia foram apresentados a você. A potência e a capacidade anaeróbia também podem ser avaliadas com a uti- lização de testes práticos de campo, conforme visto no último tópico da presente unidade. A você foram apresentados diversos testes, seus protocolos e respectivas variáveis, inclusive, com tabelas de referência. Com as informações recebidas, você deve estar apto a escolher qual o melhor protocolo de teste para avaliar a aptidão anaeróbia do seu(sua) aluno(a) ou atleta. 192 atividades de estudo 1. Conforme informações apresentadas ao longo desta unidade, considere as se- guintes afirmações sobre o sistema anaeróbio de fornecimento de energia: I - O metabolismo anaeróbio lático resulta na formação do ácido lático, e tem a ATP-CP como principal rota metabólica. II - A rota do ATP-CP é capaz de fornecer grande quantidade de energia, porém, por um período curto de tempo. III - O metabolismo anaeróbio é o sistema responsável pelo fornecimento de energia para as ações de força máxima. IV - O metabolismo anaeróbio é o sistema predominante durante o tempo total das ações físicas de um jogo de futebol. Assinale a alternativa correta: a) I apenas. b) IV apenas. c) I e II apenas. d) II e III apenas. e) II, III e IV apenas. 2. Existem modalidades em que muitas ações físicas são sustentadas pelo meta- bolismo anaeróbio. Leia as afirmações a seguir sobre o sistema anaeróbio de fornecimento de energia e a sua contribuição em algumas modalidades. Assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F): ( ) As ações decisivas de muitas modalidades são executadas com o forneci- mento de energia proveniente do sistema anaeróbio, como chutes no fute- bol, saltos na ginástica e golpes nas artes marciais. ( ) No futebol, o sistema aeróbio é predominante, porém, as ações decisivas do jogo são, geralmente, em alta intensidade, como piques curtos e chutes, sustentadas pelo sistema anaeróbio. ( ) Provas curtas do atletismo, como as dos 100 e 400 metros, são sustentadas pelo metabolismo anaeróbio, tanto alático quanto lático. Assinale a alternativa correta: a) V; V; F. b) F; F; V. c) V; F; V. d) F; F; F. e) V; V; V. 193 atividades de estudo 3. Ao longo desta unidade, você aprendeu a avaliação da aptidão anaeróbia. Leia as afirmações a seguir sobre a avaliação da aptidão anaeróbia: I - É importante avaliar a aptidão anaeróbia em todos os públicos, já que a força muscular está relacionada a diversos componentes de saúde. II - É importante para que treinadores monitorem o nível de treinamento de seus atletas. III - Como envolve ações de alta intensidade, a avaliação da aptidão anaeróbia é recomendada apenas para atletas e indivíduos ativos. IV - A avaliação da aptidão anaeróbia só pode ser realizada em ambiente labora- torial, principalmente com uso da esteira. Assinale a alternativa correta: a) I apenas. b) IV apenas. c) I e II apenas. d) II e III apenas. e) II, III e IV apenas. 4. O teste de Wingate é um dos mais famosos protocolos de avaliação da aptidão anaeróbia. Leia as informações a seguir e assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F): ( ) O objetivo do teste é pedalar na máxima intensidade durante 30 segundos, gerando a maior potência possível ao longo de todo o teste. ( ) O indivíduo avaliado pode assumir a posição de preferência no cicloergô- metro durante o período do teste, seja ela sentada ou em pé. ( ) O avaliado necessita de um período breve de aquecimento antes do teste e recomenda-se um período ativo em baixa intensidade após a conclusão do teste. Assinale a alternativa correta: a) V; V; F. b) F; F; V. c) V; F; V. d) F; F; F. e) V; V; V. 194 atividades de estudo 5. Existem diversos protocolos laboratoriais e de campo para avaliação da aptidão anaeróbia, e muitos foram discutidos ao longo desta unidade. Leias as afirma- ções a seguir sobre os protocolos de avaliação da aptidão anaeróbia: I - Alto valor de índice de fadiga significa pequena redução no desempenho do teste de Wingate. II - Protocolos com saltos ou corrida são alternativas ao Wingate para atletas de modalidades que não envolvem o gesto de pedalar, como saltadores e corredores. III - Existem protocolos adaptados do teste de Wingate para avaliar a aptidão anaeróbia específica de membros superiores. IV - O uso da acelerometria é válido para o cálculo do pico de potência emdiver- sos exercícios, para membros inferiores, como os saltos, e superiores, como o supino. Assinale a alternativa correta: a) I apenas. b) IV apenas. c) I e II apenas. d) II e III apenas. e) II, III e IV apenas. 6. Testes de campo para avaliação da aptidão anaeróbia foram descritos nesta uni- dade. Analise as seguintes considerações sobre alguns desses protocolos de ava- liação e assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F): ( ) O RAST é uma avaliação de campo que envolve corrida e pode ser realizada em terreno determinado e com calçado específico. ( ) O uso de fotocélulas para medida de tempo aumenta a precisão da coleta de dados de testes que envolvam velocidade, como o RAST. ( ) O RAST envolve seis piques máximos sucessivos e imediatos, sem intervalo, de 35 metros cada. Assinale a alternativa correta: a) V; V; F. b) F; F; V. c) V; F; V. d) F; F; F. e) V; V; V. 195 atividades de estudo 7. Considere as seguintes afirmações a respeito dos testes práticos de campo para avaliação da aptidão anaeróbia: I - Protocolos que objetivam avaliar a força máxima e a força potente são consi- derados testes de aptidão anaeróbia. II - O teste máximo de corrida em 40 segundos avaliará a frequência cardíaca máxima obtida ao final do teste. III - O avaliado deverá registrar somente a distância percorrida ao aplicar o teste de dez saltos consecutivos. IV - O teste de corrida em 40 segundos deve ser aplicado apenas ao público de crianças e adolescentes jovens. Assinale a alternativa correta: a) I apenas. b) IV apenas. c) I e II apenas. d) II e III apenas. e) II, III e IV apenas. 8. Imagine a seguinte situação-problema. Seu aluno, que possui 65 kg de massa corporal, realizou a avaliação do RAST e obteve cinco e sete segundos como me- lhor e pior tempo, nos piques de 35 metros. Calcule todas as variáveis máximas e mínimas do teste, além do índice de fadiga. 9. Imagine uma situação-problema. Você avaliou sua equipe de futebol com o teste de Wingate. Um de seus atletas, de 80 kg, realizou essa avaliação e obteve os resultados descritos a seguir. Calcule a potência média absoluta e relativa e faça uma análise do índice de fadiga do seguinte resultado: 0 – 5s = 950W. 5 – 10s = 935W. 10 – 15s = 700W. 15 – 20s = 570W. 20 – 25s = 490W. 25 – 30s = 405W. 196 LEITURA COMPLEMENTAR A leitura complementar que indico é o artigo de revisão sobre o teste de Wingate escrito pelo professor Emerson Franchini, intitulado “Teste anaeróbio de Wingate: conceitos e apli- cação”. Esse artigo foi publicado em 2002, e a referência completa você encontrará ao final desta unidade, juntamente às outras referências que fundamentaram nosso estudo. O teste anaeróbio de Wingate foi intensivamente citado e descrito na presente unidade, pois trata-se da principal avaliação laboratorial da potência e capacidade anaeróbia. Nesse artigo indicado, você encontrará ainda mais informações e estudos a respeito do teste, complementando o seu conhecimento. Recomendo fortemente a leitura completa do material citado. O professor Emerson Fran- chini é uma referência na pesquisa em nível nacional e internacional, e a leitura desse artigo certamente lhe ajudará no entendimento do conteúdo desta unidade. A seguir, leia o resumo do artigo, para que você tenha uma ideia do que ele aborda: A potência e a capacidade anaeróbias são variáveis importantes para o desempenho espor- tivo e para atividades do cotidiano, mas a avaliação dessas variáveis apresenta problemas de validação teórica. No entanto, o teste de Wingate tem sido utilizado como alternativa para avaliar a potência e a capacidade anaeróbias. Essa revisão objetivou analisar os con- ceitos teóricos associados ao teste de Wingate e apresentar algumas considerações para sua aplicação. Com base nessa revisão, o teste de Wingate pode ser utilizado para avaliar a potência e a capacidade anaeróbias, embora alguns aspectos devam ser considerados. Confira outro trecho do artigo, sobre o tempo de duração do esforço durante o protocolo de teste de Wingate. O protocolo original do teste de Wingate preconiza a duração de 30 segundos. O principal motivo para a escolha do período de 30 segundos diz respeito à observação de que, ao propor períodos de 45 e 60 segundos, muitos indivíduos não reali- zavam esforços de máxima intensidade. Essa observação foi feita com base no fato de que os valores de potência gerados nos testes de 30 segundos eram superiores àqueles regis- trados durante os primeiros 30 segundos dos testes mais longos. Além disso, as sensações de mal-estar são maximizadas ao se prolongar o tempo do teste (INBAR et al., 1996). Fonte: adaptado de Franchini (2002). 197 material complementar Conheça um pouco mais sobre o teste de Wingate no artigo de Franchini. Web: http://www.mackenzie.br/filead- min/Graduacao/CCBS/Cursos/Educacao_Fisica/REMEFE-1-1-2002/art1_edfis1n1.pdf. Acesso em: 10 jun. 2019. Indicação para Acessar Avaliação e Prescrição de Atividade Física: Guia Prático João C. Bouzas Marins e Ronaldo S. Giannichi Editora: Shape Sinopse: existem muitos livros de medidas e avaliação, mas há somente um que associe esse conteúdo à prescrição da atividade física. Após uma parte inicial, na qual os procedimentos e protocolos de avaliação são completa e facilmente apre- sentados, ensina-se a utilizar os dados colhidos para o treinamento de atletas, na Academia de Ginástica ou no Personal Training. É totalmente revisado, com mais um capítulo sobre avaliação da flexibilidade. Indicação para Ler http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/CCBS/Cursos/Educacao_Fisica/REMEFE-1-1-2002/art1_edfis1n1.pdf http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/CCBS/Cursos/Educacao_Fisica/REMEFE-1-1-2002/art1_edfis1n1.pdf 198 material complementar Neste link, você poderá assistir ao protocolo do teste de Wingate, em que o avaliado deve pedalar na maior intensidade possível durante 30 segundos. Note que há incentivo por parte dos avaliadores em todo o tempo. Web: https://www.youtube.com/watch?v=nVk_a849Nis. Acesso em: 10 jun. 2019. Indicação para Acessar Neste link, você poderá assistir a um exercício de altíssima intensidade que, consequentemente, não dura muito tempo. Interessante reflexão sobre a rota metabólica anaeróbia e mecanismos de fadiga. Web: https:// www.facebook.com/myswimpro/videos/1860246184197581/UzpfSTY3Mzg1NDcyNjAwMzAwNzoxMjA1MDU- xOTU5NTQ5OTQ1/. Acesso em: 10 jun. 2019. Indicação para Acessar https://www.youtube.com/watch?v=nVk_a849Nis https://www.facebook.com/myswimpro/videos/1860246184197581/UzpfSTY3Mzg1NDcyNjAwMzAwNzoxMjA1MDUxOTU5NTQ5OTQ1/ https://www.facebook.com/myswimpro/videos/1860246184197581/UzpfSTY3Mzg1NDcyNjAwMzAwNzoxMjA1MDUxOTU5NTQ5OTQ1/ https://www.facebook.com/myswimpro/videos/1860246184197581/UzpfSTY3Mzg1NDcyNjAwMzAwNzoxMjA1MDUxOTU5NTQ5OTQ1/ 199 referências ANDREATO, L. V.; FOLLMER, B.; CELIDONIO, C. L.; HONORATO, A. S. Brazilian Jiu-Jitsu Combat Among Different Categories: Time-Motion and Physiology. A Systematic Review. Strength and conditioning journal. v. 38, n. 6, 2016. ASTRAND, P. O.; RODAHL, K.; DAHL, H. A.; STROMME, S. B. Tratado de Fisiologia do Trabalho. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. ATAN, T. Effect of music on anaerobic exercise performance. Biology of Sport. v. 30, n. 1, p. 35-39, 2013. BANGSBO, J. The physiology of soccer-with special reference to intense intermitent exercise. 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Potência média absoluta = 4050 / 6 = 675 W. Potência média relativa = 675 / 80 = 8,43 W / kg. Índice de fadiga = [(950 – 450) / 950] x 100 = 57,36%. Houve queda acentuada de desempenho ao longo do teste. Para modalida- des de esforços repetidos, como o futebol, é interessante que se atinja valo- res menores de índice de fadiga. gabarito conclusão geral Olá, caro(a) aluno(a), ao longo deste estudo dis- cutimos os conhecimentos que permeiam a discipli- na de Medidas e Avaliação no contexto da Educação Física. Na Unidade 1, tratamos desde o estabelecimento da diferença entre medir e avaliar, passando pela apre- sentação dos principais conceitos que envolvem a es- tatística, até a descrição dos principais termos da esta- tística descritiva. A Unidade 2 buscou contextualizar a avaliação antropométrica no âmbito da Educação Física, identificando os principais conceitos e técnicas que permeiam esse processo de avaliação, bem como apresentando os métodos direto, indireto e dupla- mente indireto da avaliação da composição corporal. Na Unidade 3, apresentamos e conceituamos a flexibilidade e as diferentes manifestações de força muscular, bem como expusemos os principais testes de avaliação dessas capacidades físicas. A Unidade 4 buscou conceituar o metabolismo aeróbio, as va- riáveis de potência e a capacidade aeróbia. Foram apresentados os testes físicos que mensuram a ca- pacidade aeróbia em ambiente laboratorial e, ainda, descritos os testes práticos de campo que avaliam essa capacidade. Por fim, na Unidade 5, discutimos o metabolis- mo anaeróbio, alático e lático, exploramos, também, as avaliações laboratoriais existentes para mensura- ção de aptidão anaeróbia e tratamos, ainda, dos tes- tes de campo disponíveis para avaliação da aptidão anaeróbia. Esperamos que este material tenha auxiliado a despertar sua curiosidade acerca deste tão vasto e in- teressante tema, que contribua para você se torne um profissional atento, sempre em busca de mais conhe- cimento e, assim, aos poucos, se torne um referência na área. Agradecemos pelo caminho que percorremos juntos até aqui, e até a próxima! INTRODUÇÃO ÀS MEDIDAS E AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA Medidas e Avaliação em Educação Física Introdução à Bioestatística Estatística Descritiva Aplicada à Educação Física gabarito AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA Introdução à Avaliação Antropométrica Avaliação da Composição Corporal Modelos Teóricos de Análise e Métodos da Avaliação da Composição Corporal Técnicas da Avaliação da Composição Corporal referências gabarito FORÇA MUSCULAR E FLEXIBILIDADE Força Muscular Potência Muscular Flexibilidade AVALIAÇÃO AERÓBIA Avaliação Aeróbia Testes Laboratoriais Testes de Campo referências gabarito Avaliação Anaeróbia Avaliação Anaeróbia Testes Laboratoriais Testes de Campo referências gabarito _GoBack Botão 1: