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Doenças Ocupacionais Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Dr.ª Solange de Fátima Azevedo Dias Revisão Textual: Prof. Me. Luciano Vieira Francisco Vias de Penetração e Mecanismos de Proteção no Organismo • Introdução; • Doenças Ergonômicas – Como Evitá-las; • Síndrome do Túnel do Carpo; • Hérnia de Disco Cervical; • Iluminação e Acústica Inadequadas; • Ruído; • Agentes Tóxicos. · Conhecer as vias de penetração e os mecanismos de proteção do organismo; · Conhecer algumas doenças ergonômicas, síndromes e condições; · Entender de que forma a iluminação, a acústica inadequada, os ruídos e os agentes tóxicos influenciam negativamente no funcionamento do organismo. OBJETIVO DE APRENDIZADO Vias de Penetração e Mecanismos de Proteção no Organismo Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Vias de Penetração e Mecanismos de Proteção no Organismo Introdução O corpo humano é tão perfeito que em algumas situações de invasão de agentes nocivos à saúde, o próprio organismo aciona mecanismos de defesa que tentam impedir que algum agente tóxico invada as nossas células. Ademais, o agente tóxico pode até ter invadido o organismo e se instalado; mesmo assim o corpo continua produzindo agentes defensores, que tentam evitar ou minimizar os efeitos tóxicos dos invasores. São inúmeros os exemplos de defensores dos órgãos do corpo humano, tais como: Quadro 1 – Barreiras Naturais dos Órgãos Barreira Natural Protege contra; Acidez da Vagina Agentes nocivos à flora vaginal; Ácido Clorídrico (Estômago) Substâncias tóxicas ao organismo; Cera da Orelha Impurezas sólidas e líquidas; Flora Intestinal Agentes nocivos ao sistema excretor, protegendo bactérias essenciais ao sistema; Lágrima Impurezas sólidas, líquidas e gasosas são ativadas quando gases, vapores ou corpos estranhos entram em contato com os olhos; Pele e Mucosas Impurezas sólidas, líquidas e gasosas até certa concentração de produtos químicos e raios UV; Saliva Bactérias que possam atacar a mucosa e os dentes; Aparelho Respiratório À entrada de partículas, por meio do reflexo da tosse, do efeito dos cílios dos brônquios, da produção de secreções – catarro –, entre outras reações. Fonte: Elaborado pela Conteudista O Quadro 1 mostra alguns exemplos de vias de proteção do organismo humano con- tra alguns agentes no meio em que se vive; porém, quando se trata de agentes nocivos ou de riscos à saúde do trabalhador, nem sempre os defensores naturais são capazes de assegurar a proteção necessária. Se considerarmos a concentração, o tempo de exposição e tipo de agente tóxico, tais mecanismos de proteção não são capazes de preservar o trabalhador, podendo ocorrer um processo de intoxicação. Ademais, se o agente tóxico circular na corrente sanguínea, pode haver problemas muito graves à saúde do trabalhador. As doenças profissionais, conhecidas ainda com o nome de idiopatias, ergopatias, tecnopatias ou doenças profissionais típicas, podem ser desenvolvidas pelo exer- cício profissional de uma determinada atividade, ou exposição a algum agente físico, químico, biológico ou ergonômico (MARTINS, 2002). 8 9 Na década de 1980 ocorreu uma grande transformação tecnológica nos serviços oferecidos pelas empresas. A informatização dos escritórios causou grande impacto na sociedade trabalhadora. Os móveis ajustados aos computadores tiveram que mu- dar. Houve a necessidade de adequação de móveis e novas máquinas para o uso de modelos diferentes de computadores e a preocupação com a qualidade do maquinário novo que surgia a todo instante. Juntamente com as novas máquinas, tais como os computadores e seus acessórios, vieram também inúmeras doenças causadas por má postura, tais como as osteomus- culares e outras enfermidades modernas relacionadas ao trabalho. Doenças Ergonômicas – Como Evitá-las Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (Dort) São enfermidades desencadeadas por vários fatores causais, os quais ergonômicos, organizacionais e/ou psicossociais. Os fatores de nível: • Ergonômico estão relacionados a movimentos e esforços musculares excessivos e postura inadequada; • Organizacional estão associados a gestos repetitivos, jornadas de trabalho prolongadas e ritmo laboral intenso; • Psicossocial relacionam-se ao ambiente se este for tenso, se houver hierarquia na organização do trabalho, pressão de chefia e relações interpessoais. Os colaboradores mais atingidos por esses distúrbios são profissionais do comércio e de serviços, tais como operadores de telemarketing, secretárias, digitadores, professo- res, atletas e outros que trabalham constantemente sentados em frente ao computador. Uma das formas de se evitar os problemas é a utilização de mobiliário com boas con- dições ergonômicas. O consenso entre especialistas do setor dá a seguinte especificação para o mobiliário. Cadeiras Segundo a Norma Regulamentadora (NR) 17, Item 17.3.3, as cadeiras devem ter: • Altura ajustável à estatura do trabalhador e à natureza da função exercida; • Características de pouca ou nenhuma conformação na base do assento; • Borda frontal arredondada; e • Encosto com forma levemente adaptada ao corpo para proteção da região lombar (BRASIL, 2007). 9 UNIDADE Vias de Penetração e Mecanismos de Proteção no Organismo Mais recentemente, em 2007, a NR 17 publicou detalhes da cadeira ideal para o trabalho em telemarketing, sendo: • Apoio em cinco pés, com rodízios cuja resistência evite deslocamentos involuntários e que não comprometam a estabilidade do assento – os rodízios (as rodinhas) não podem ser muito leves, ou seja, deslizarem com muita facilidade; • Superfícies onde ocorre contato corporal estofadas e revestidas de material que permita a perspiração – eliminação natural do suor; • Base estofada com material de densidade entre quarenta e cinquenta kg/m3; • Altura da superfície superior ajustável, em relação ao piso, entre trinta e sete e cinquenta centímetros, podendo ser adotados até três tipos de cadeiras com alturas diferentes, de forma a atender às necessidades de todos os operadores; profundidade útil de trinta e oito a quarenta e seis centímetros; • Bordafrontal arredondada; pouca ou nenhuma conformação na base; • Encosto ajustável em altura e sentido anteroposterior, com forma levemente adaptada ao corpo para proteção da região lombar – sentido da frente para trás, ou seja, o encosto deve ter regulagem de altura e de inclinação; • Largura de, no mínimo, quarenta centímetros e com relação aos encostos de, no mínimo, 30,5 centímetros; • Apoio de braços regulável em altura de vinte a vinte e cinco centímetros a partir do assento, sendo que seu comprimento não deve interferir no movimento de aproximação da cadeira em relação à mesa, nem com os movimentos inerentes à execução da tarefa (BRASIL, 2007). A Figura 1 mostra com detalhes uma cadeira ergonômica seguindo as orienta- ções da NR 17: Figura 1 – Cadeira Ergonômica 10 11 Mesas A mesa do colaborador deve estar a uma altura que o monitor deve ser posicionado abaixo do eixo visual horizontal e estar a uma distância de um braço, no mínimo. O teclado e mouse devem ficar alinhados com os cotovelos. Assim, o peso não fica unilateral e permanentemente sobre a parte superior de seu corpo, evitando tensões e desajustes na musculatura dos ombros, das costas e da nuca. O trabalhador deve usar apoios de mãos, a fim de evitar que se dobrem as mãos, poupando as articulações, os tendões e nervos das mãos até os cotovelos. A bacia deve ficar levemente inclinada, de modo que a musculatura e os discos intervertebrais fiquem aliviados. Os pés devem ficar fixamente encostados no chão e em posição paralela, tal como mostra a Figura 2, evidenciando a posição correta do trabalhador sentado em frente ao computador: Figura 2 – Mesa Ergonômica Fonte: iStock/Getty Images Síndrome do Túnel do Carpo É uma doença causada pela compressão excessiva do nervo mediano, o nervo central do pulso de trabalhadores digitadores, cozinheiros, repositores e outros. Pode causar dormência, fraqueza muscular e dor constante. A síndrome do túnel do carpo também pode ocorrer por fatores genéticos, ou por trabalhadores que atuam em ati- vidades repetitivas. Uma das formas de evitá-la é exercitar os punhos e as mãos na posição neutra – como se estivesse fazendo o movimento “PARE”. É esta posição neutra do pulso que você precisa manter quando estiver digitando, comendo ou fazendo algum outro movimento repetitivo. 11 UNIDADE Vias de Penetração e Mecanismos de Proteção no Organismo Durante a realização dessas tarefas, procure manter o pulso reto e não flexionado. Outra posição neutra é quando você cumprimenta alguém: ao apertar a mão de outra pessoa, não precisa dobrar o pulso para realizar tal movimento (TURRINI, 2005). Ademais, vejamos outras maneiras preventivas: • Fazer uma pequena pausa a cada dez a quinze minutos para descansar os pulsos. Durante esses pequenos intervalos, fazer alongamento, algum tipo de exercício ou simplesmente ficar sentado e sem movimentar os pulsos; • Relaxar os músculos da mão e reduzir a sua força ao executar uma tarefa; • Utilizar suporte para as mãos e punhos sobre o teclado do computador; • Se necessário, usar um imobilizador de pulso com tala. Os imobilizadores, quan- do empregados corretamente, podem ajudar a manter o pulso em uma posição neutra, sem causar desconfortos – a Figura 3 mostra um colaborador utilizando corretamente um suporte para teclado a fim de evitar a doença: Figura 3 – Tipo de Teclado Ergonômico Fonte: Wikimedia Commons Hérnia de Disco Cervical A coluna é um órgão de suma importância para o indivíduo. Na contemporaneida- de, as pessoas deixaram de fazer algumas atividades que ajudavam a manter a coluna sadia, passando a exercer funções que viabilizam os problemas nos ossos da coluna. Profissões como as de motorista, atleta, digitador, carregador de peso excessivo, ope- rador de máquina vibradora, além de fatores genéticos, traumas com atividades de repetição, sedentarismo, entre outras razões, são as que mais afetam a coluna e, con- sequentemente, fazem surgir a hérnia de disco. 12 13 Esse mal ocorre quando parte de um disco intervertebral sai de sua posição normal e comprime as raízes nervosas que se ramificam a partir da medula espinhal e que emer- gem da coluna espinhal. Tal problema é mais comum nas regiões lombar e cervical, por serem áreas mais expostas ao movimento e que suportam mais carga. Na hérnia de dis- co existe uma fraqueza ou mesmo uma ruptura do anel que contém o disco, onde uma parte de seu conteúdo sai de sua posição normal e invade o canal vertebral, passando a comprimir as raízes nervosas e, consequentemente, provocando dor. Para evitar a hérnia de disco, todos os cuidados ergonômicos citados e relacio- nados a cadeiras, mesas, teclados e monitores devem ser mantidos, acrescentando- -se aos colaboradores um cinto lombar com suspensório – como mostra a Figura 4. Este Equipamento de Proteção Individual (EPI) é indicado a diversos profissio- nais, tais como carregadores, construtores, eletricistas ou profissionais ligados a atividades que demandem grande esforço na região da coluna, seja por peso ou repetição de movimentos. Cinto Lombar com Suspensório - https://goo.gl/Xfo44J Ex pl or Iluminação e Acústica Inadequadas A iluminação e acústica são fatores que influenciam diretamente o conforto, a pro- dutividade e até mesmo a saúde dos profissionais no ambiente de trabalho. Além de atrapalharem o rendimento das pessoas, podem afastar do ofício os colaboradores. Os projetos de iluminação dos ambientes de trabalho estão especificados na exigência legal da Norma Brasileira (NBR) 5413 – iluminação – e na NR 9 – Prevenção de Riscos Ambientais. Para o colaborador trabalhar de forma mais saudável, deve-se observar as seguin- tes especificações: Quadro 2 – Tipos de Luz e Cores para o Trabalho Luz Artificial Causa; Excesso Pode atrapalhar e gerar uma sensação de desconforto; Mínima Pode causar acidentes de trabalho ; Luz Solar – Excesso Ambiente muito quente, atrapalha a leitura na tela do computador; Luz Solar – Mínima Torna o ambiente sombrio e frio; Cores de Paredes Clara Acalma; Colorida Causa desconforto. Fonte: Elaborado pela Conteudista 13 UNIDADE Vias de Penetração e Mecanismos de Proteção no Organismo A luminosidade é importante para as atividades humanas, afinal, mais de 90% de nosso trabalho é controlado pelos olhos; por isso, deve-se evitar problemas, de modo que os ambientes precisam apresentar: • Uma intensidade de luz adequada ao tipo de trabalho; • Tamanho visível do objeto focalizado; • Cor e contraste entre o objeto e o fundo; • Estabilidade do objeto focalizado; • Claridade e nitidez do objeto. Ruído A atual poluição sonora é um dos maiores problemas nas grandes cidades, podendo se manifestar também no ambiente laboral, levando trabalhadores a vários problemas de saúde. Ademais, existe um conjunto de emissores de sons que podem causar pro- blemas à vida humana, tais como neurose e perda gradativa da audição. A poluição sonora tem reflexos em todo o organismo – e não apenas no apa- relho auditivo. Alguns ruídos são tão intensos e permanentes que podem alterar significativamente o humor e a capacidade de concentração nas ações humanas. Comumente provocam interferências no metabolismo de todo o organismo, com riscos de doenças como as cardiovasculares, perda auditiva parcial ou total – em casos mais graves. As NR indicam como prejudicial o ruído de 85 decibéis (dBA) – mensurados na escala A do aparelho medidor da pressão sonora – para uma exposição máxima de oito horas diárias de trabalho (BRASIL, 2001). Os sons acima dos 65 dB podem contribuir para aumentar os casos de insônia, estresse, comportamento agressivo e irritabilidade, entre outros. Já níveis superiores a 75 dB podem gerar problemas de surdez e provocar hipertensão arterial. O Ministério do Trabalho dispõe de quatro normas que, de alguma forma, tratam do problema do ruído e das vibrações: a NR 6 – EPI –; a NR 7 – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) –; a NR 15 –atividades e operações insalubres –; e a NR 17 – ergonomia (item 17.5.2) (BRASIL, 2001). Normalmente, os ruídos são excessivos em maquinários pesados, tratores, motosserras e outros. Como o som se propaga no ar e nos sólidos sob a forma de vibração, as ondas sonoras produzem, simultaneamente, ruídos por esses dois meios. As medidas de controle do ruído, essenciais no Programa de Conservação Auditiva (PCA), podem ser resumidas de maneira sucinta a três grupos em 14 15 conformidade com as soluções propostas. Pode-se, então, elencar um conjunto de medidas e exemplos que possibilita uma introdução às inúmeras alternativas possíveis de controle, tal como mostra o Quadro 3: Quadro 3 – Medidas que possibilitam a Atenuação ao Problema Equipamento Forma de Diminuir o Ruído Acoplamento Eliminação ou substituição com máquina mais silenciosa. Suportes antivibrantes; Modificação no ritmo de funcionamento da máquina. Enclausuramento integral ou parcial; Aumento da distância e redução da concentração de máquinas. Barreiras e silenciadores; Colaborador Isolamento em cabine silenciosa. Redução da jornada e reorganização do trabalho; Redução do tempo de exposição. Aumento das pausas. EPI. Cabines isolantes: locais onde os trabalhadores permanecem por períodos de tempo, intercalados no horário de trabalho; Protetores auriculares: Conchas: são formadas por duas conchas atenuadoras de ruído, colocadas em torno dos ouvidos e interligadas por meio de um arco tensor; Protetores de inserção: são colocados no interior do canal externo do ouvido. Tendem a ser mais confortáveis que os circumauriculares para exposições de longa duração, especialmente em ambientes quentes e úmidos. Capacete ou elmo: fornece atenuação média de até 50 dB. São indicados para uso em curtíssimo período de tempo e para níveis que não ultrapassem 135 dB. Abafadores. Fonte: Elaborado pela Conteudista A maneira mais eficaz de proteger os funcionários contra os problemas de ilumina- ção e ruídos é a implantação de exames periódicos e que podem prevenir ou atenuar os problemas constatados. 15 UNIDADE Vias de Penetração e Mecanismos de Proteção no Organismo Agentes Tóxicos A toxicologia é a Ciência que estuda os efeitos nocivos decorrentes das interações das substâncias químicas com o organismo, com a finalidade de prevenir, diagnosticar e tratar a intoxicação. No ambiente de trabalho, é a toxicologia que identifica e quantifica as substâncias químicas presentes e os riscos que oferecem, tendo por objetivo prevenir a saúde do trabalhador. Os agentes tóxicos podem advir de matérias-primas, produtos intermediários e/ou acabados. A interação entre agentes no ambiente e no organismo, as vias de introdução, a toxicidade, a ocorrência de intoxicação em curto, médio e longo prazo, os limites de tolerância na atmosfera e no sistema biológico e os indicadores biológicos de exposição são alguns dos fatores que podem interferir no grau de toxidez do agente. As vias de penetração de agentes tóxicos no colaborador dependem do tipo de agente e grau de toxidade, quantidade, do grau de exposição, da tolerância e do tempo exposto. Dessa forma, é preciso tomar algumas medidas para verificar se ocorre o risco na área de trabalho. Reconhecimento: Por meio do conhecimento dos métodos e processos de trabalho, é identi�cada a presença do agente químico. Avaliação: Realizada por meio da medição instrumental ou laboratorial do agente químico, comparando os resultados com os limites de tolerância no ambiente e no sistema biológico. Controle: Visa eliminar ou reduzir a exposição do trabalhador ao agente tóxico e disciplinar o uso de EPI, melhorando as condições de ventilação e treinando os trabalhadores. Figura 5 – Medidas para Verificar os Riscos Fonte: Elaborada pela Conteudista Por meio do cumprimento dessas etapas, torna-se possível estabelecer parâmetros de exposição tanto no ambiente de trabalho, quanto no organismo dos trabalhadores. Assim, dependendo dos limites de tolerância, acima dos quais as atividades são con- sideradas insalubres. 16 17 Os problemas que as substâncias podem causar dependem de seu tipo, pois algumas provocam irritação no nariz e na garganta; outras causam dor e pressão no peito; enquanto há aquelas que podem ir ao pulmão – estas que provocam pro- blemas no local onde se estabelecem, como é o caso da sílica e do amianto, subs- tâncias que ocasionam silicose e asbestose, ou seja, doenças pulmonares graves. Há substâncias que, através do sangue, são levadas a outras partes do corpo, caso exemplar do benzeno, o qual, quando inalado, chega ao pulmão, passando para o sangue, que carrega esse produto químico até a medula óssea, lugar onde o próprio sangue é produzido. Instalado nesse ponto, chega a causar vários tipos de danos, seja na pele, em queimaduras ou mesmo como reação alérgica. Menciona-se ainda aquelas que provocam problemas nos rins, fígado, coração ou outra parte do corpo, tal como a boca, comumente ocorrendo de forma involuntária, por contaminação – quando se tem o hábito de comer, beber ou fumar no ambiente de trabalho –, ou devido a meios inadequados de ofício, causando a ingestão acidental do agente químico – isso é comum quando uma pessoa suga gasolina ou etanol usan- do um tubo plástico; outras situações perigosas ocorrem por falta de conhecimento no manuseio durante o uso dos seguintes produtos: • Ácido muriático, empregado para limpar restos de cimento quando se faz uma aplicação de cerâmica no chão, podendo provocar queimaduras na pele – isto se o ácido cair na mão ou em outra parte do corpo; • Composição de tinta com solvente com odor asfixiante e que, se for inspirada, pode causar dor de cabeça, tontura, enjoo, insônia e outros sintomas; • Itens de limpeza doméstica, tais como água sanitária, limpa-fornos, multiusos etc. que, quando empregados em locais fechados, com pouca ventilação, chegam a causar problemas respiratórios. Ademais, os agentes tóxicos são classificados nestas categorias: irritantes, asfixiantes, anestésicos, de ação local, ação sistêmica, mutagênicos, teratogênicos e carcinogênicos – alguns dos quais veremos detalhadamente a seguir. Irritantes Tratam-se de substâncias que produzem inflamação dos tecidos com que entram em contato, tais como a pele, conjuntiva ocular, tecidos de revestimento das vias respiratórias etc. Penetram no organismo do trabalhador nas formas de poeiras, fumos, gases, neblinas, névoas ou vapores, ou que seja, pela natureza da atividade, de exposição, podendo ter contato ou ser absorvidas pelo organismo através da pele ou por ingestão. A saber: ácido sulfídrico – sulfeto de hidrogênio –; acrilato; arsênio e seus compostos arsenicais; berílio e seus compostos tóxicos; cimento; cloreto de eti- la; enzima de origem animal, vegetal ou bacteriana; flúor e seus compostos tóxicos; furfural e álcool furfurílico; iodo; isocianatos orgânicos; outros solventes halogenados tóxicos; radiação ionizante; radiação ultravioleta; selênio e seus derivados e o tetra- cloreto de carbono. 17 UNIDADE Vias de Penetração e Mecanismos de Proteção no Organismo Os agentes tóxicos irritantes podem causar conjuntivites ocupacionais, as quais podem ser provocadas por inúmeros irritantes: ácidos e álcalis, aerossóis, névoas, vapores de solventes e poeiras em suspensão no ar. Indivíduos portadores de atopia podem apresentar quadros desencadeados por um ou mais alérgenos, geralmente em suspensão no ar, entre os quais o pólen, sendo o mais comum; produtos animais; fungos não patológicos; proteínas vegetais e ani- mais; pelos; lãs; produtos químicos e agrotóxicos – segundo o Código Internacional de Doenças (CID-10). Vejamos outros exemplos: • Trabalhadores expostos aos Bifenilos Policlorados (PCB) – conhecidos também, no Brasil, como Askarel –, que manuseiam óleos de transformadores ou capacitores, podendo apresentar hipersecreção das glândulas Meibonian, com abundante secreção serosa ocular,edema de pálpebra superior e hiper- pigmentação da conjuntiva; • A ação alcalina do cimento tem um efeito abrasivo sobre a camada córnea, remo- vendo o manto lipídico, podendo ocasionar ceratólise e exulceração; • A exposição ocupacional às radiações infravermelhas pode provocar conjuntivi- tes, como a descrita em forjadores e outros trabalhadores siderúrgicos, associada ou não a outros tipos de acometimento, como a catarata; • A exposição às radiações ionizantes pode provocar conjuntivite e levar à sín- drome do olho seco; • A exposição ao berílio, sob a forma de sais e/ou poeiras, pode causar, além da doença pulmonar aguda ou crônica, dermatite de contato, granulomas de pele e irritação de mucosas, nasofaringite, traqueobronquite, faringite e conjuntivite. Eis os sintomas mais frequentes: • Sensação de corpo estranho – semelhante à presença de areia; • Queimação e lacrimejamento; • Peso em volta dos olhos; • Prurido e dor; • São formas de evitar: • Na vigilância dos ambientes, das condições de trabalho e dos efeitos ou da- nos à saúde; • As medidas de controle ambiental que visem à eliminação ou redução da ex- posição a níveis considerados seguros a agentes responsáveis pela ocorrência do quadro; • Enclausuramento de processos e isolamento de setores de trabalho, se possível, utilizando sistemas hermeticamente fechados; • Normas rigorosas de higiene e segurança, incluindo sistemas de ventilação exau- tora adequados e eficientes, colocação de anteparos e barreiras; 18 19 • Monitoramento ambiental sistemático; • Formas de organização do trabalho que permitam diminuir o número de funcionários expostos e o tempo de exposição; • Medidas de limpeza geral dos ambientes de trabalho e facilidades para higiene pessoal, tais como recursos para banhos, lavagens das mãos, braços, rosto e troca de vestuário; • Chuveiros ou duchas lava-olhos em locais rapidamente acessíveis; • Treinamentos periódicos aos trabalhadores para procederem imediatamente à lavagem dos olhos, com água corrente por, no mínimo, cinco minutos; sendo, em seguida, encaminhados à avaliação especializada por oftalmologista; • Fornecimento, pelo empregador, de equipamentos de proteção individual ade- quados, de modo complementar às medidas de proteção coletiva, como óculos de segurança; • A NR 15 define os Limites de Tolerância (LT) das concentrações em ambientes com a presença de algumas substâncias químicas; • Exames periódicos. Importante! O trabalhador deve evitar qualquer forma de contato e utilizar os EPI indicados, tais como botas, luvas específi cas para cada tipo de agente, máscara etc.. Importante! Asfi xiantes São aqueles que exercem a sua ação no organismo, interferindo com o oxigênio disponível na área de trabalho. Há os asfixiantes simples, que são gases inertes e cuja interferência é apenas em nível de diluição do oxigênio disponível – gás carbônico, hélio, hidrogênio, nitrogênio etc.; há também os asfixiantes químicos, os quais podem impedir o transporte de oxigênio pelo organismo – monóxido de carbono, anilina, cianeto de hidrogênio. Ademais, vejamos uma síntese dos agentes tóxicos: • Anestésicos – são aqueles que interagem com o organismo, atuando em nível do sistema nervoso central, de ampla aplicação médica – álcoois, éter, cloro- fórmio etc.; • De Ação Local – são aqueles cujos efeitos se manifestam no local onde ocorreu o contato inicial com o organismo – cimento versus dermatose ocupacional; 19 UNIDADE Vias de Penetração e Mecanismos de Proteção no Organismo • De Ação Sistêmica – são aqueles cujos efeitos se manifestam à distância do lo- cal onde se deu o contato inicial entre o agente tóxico e o organismo – benzeno versus danos celulares na medula óssea, tetracloreto de carbono versus danos hepáticos/renais/no sistema nervoso central; • Mutagênicos – são aqueles capazes de provocar alterações na informação do material genético, acarretando o aparecimento de alterações em descendentes do indivíduo contaminado – alguns pesticidas, clorofórmio, formaldeído; • Teratogênicos – são aqueles capazes de produzir alterações no desenvolvimento do feto – mercúrio, selênio, manganês; • Carcinogênicos – são aqueles capazes de induzir a transformação de células normais em células cancerígenas – benzeno, asbesto, formaldeído, anilina. 20 21 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Doenças Ocupacionais MARANO, V. P. Doenças Ocupacionais. São Paulo: LTR, [20--?]. Doenças Ocupacionais: Agentes Físico, Químico, Biológico, Ergonômico MORAES, M. V. G. Doenças Ocupacionais: agentes físico, químico, biológico, ergonô- mico. [S.l.]: Látria, 2011. Leitura Construção Civil e Saúde do Trabalhador: Um Olhar sobre as Pequenas Obras GOMES, H. P. Construção civil e saúde do trabalhador: um olhar sobre as pequenas obras. 2011. Tese (Doutorado). Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2011. https://goo.gl/1R33u6 Amarrados a Sinos: A Dupla Vitimização do Trabalhador que sofre Acidente de Trabalho ou Doença Ocupacional BUTIERRES, M. C. Amarrados a Sinos: a dupla vitimização do trabalhador que sofre acidente de trabalho ou doença ocupacional. 2015. Tese (Doutorado em Psicologia Social e Institucional). Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 2015. https://goo.gl/iWAmti 21 UNIDADE Vias de Penetração e Mecanismos de Proteção no Organismo Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA QUÍMICA. Anuário da Indústria Química Brasileira. São Paulo, 1999. BRASIL. Ministério da Saúde. Doenças Relacionadas ao Trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde. Brasília, DF, 2007. ________. Doenças Relacionadas ao Trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde. Brasília, DF, 2001. BRASIL. Ministério do Trabalho. Normas Regulamentadoras (NR) 7 e 9. São Paulo: Fundacentro, [20--?]. DURAND, M. Doença Ocupacional: Psicanálise e relações de trabalho. São Paulo: Escuta, 2000. FUNDAÇÃO JORGE DUPRAT FIGUEIREDO DE SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO. Acordo e Legislação sobre Benzeno. São Paulo, 1996. MARQUES, C. A Proteção ao Trabalho Penoso. São Paulo: LTR, 2007. MARTINS, M. C. Ergonomia e LER/Dort. 2002. Disponível em: <http://www. ergonet.com.br/download/ergonomia-lombalgias.pdf>. Acesso em: 3 mar. 2010. MICHEL, O. Acidentes do Trabalho e Doenças Ocupacionais. 2. ed. [S.l.: s.n.], 2001. MORAES, M. V. G. Doenças Ocupacionais: agentes físico, químico, biológico, ergonômico. São Paulo: Érica, 2010. RENÉ, M. Patologia do Trabalho. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2007. TURRINI, E. et al. Diagnóstico por imagem do punho na síndrome do túnel do carpo. Rev. Bras. Reumatol., 2005. 22