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ÁGATA BEOLCHI ACIDENTES COM ANIMAIS PEÇONHENTOS EM PEDIATRIA EPIDEMIOLOGIA E IMPORTÂNCIA EM SAÚDE PÚBLICA • Pouco frequentes (mais raros ainda na criança) • Maior gravidade na infância (mesma quantidade de peçonha injetada, mas com área corporal menor: concentração de fração livre nos órgãos alvo mais alta) • Incidência de cerca de 20.000 casos de acidentes ofídicos por ano no Brasil • As regiões Centro-Oeste e Norte possuem os índices mais elevados por habitantes • Não se conhece a real incidência desses acidentes na infância OFÍDICOS (AS SERPENTES) • A maioria ocorre no Norte e Nordeste: Pará é o Estado campeão em notificações • Sazonalidade: ocorre a maior atividade metabólica das serpentes no calor e chuvas. • Área rural • Falta de EPI Para todos os pacientes... • Lavar o local apenas com água ou água e sabão • Manter paciente em decúbito • Hidratação adequada • Levar o animal se disponível • Debridas ferida • Profilaxia antitetânica se indicado de acerto com histórico vacinal Não fazer nos pacientes... • Torniquete ou garrote • Cortar local da picada • Perfurar redor da picada • Colocar folhas, pós, cafés, substâncias contaminantes • Não colocar outros tóxicos 4 GÊNEROS IMPORTANTES Botrhops (acidente botrópico): Jararaca Crotalus (acidente crotálico): Cascavel Lachesis (acidente laquético): Surucucu Familia Elapidae (gênero micrurus- acidente elapídico): Cobra Coral ABORDAGEM INICIAL Na abordagem inicial o mais importante é reconhecer se a cobra é peçonhenta ou não peçonhenta. Licensed to Mariana - mariana.riccetto@gmail.com - 07754098636 ÁGATA BEOLCHI A cobra peçonhenta apresenta fosseta loreal, ou seja, é um orifício que está localizado entre o olho e o nariz da cobra. É necessário também reconhecer se a cobra possui presas. Através do tipo de cobra observamos qual é o tipo de presa para saber se a cobra irá inocular ou não o veneno. A única exceção é a cobra coral (gênero micrurus) que não possui a fosseta loreal. RECONHECIMENTO Podemos reconhecer a cobra de diversas formas: • Físico • Descritivo • Epidemiológico • Critérios clínicos BOTRÓPICOS • Nomes populares: Jararaca, jararacuçu, urutu, caiçara • Hábitos noturnos • Habitam zonas rurais e periferias • Locais com facilidade de proliferação de roedores • Comportamento agressivo se ameaçada QUADRO CLÍNICO • Veneno → Ação proteolítica → Ação coagulantes → Ação hemorrágica • Destruição local na lesão → Dor intensa, edema endurado, bolhas, abscesso, até síndrome compartimental e amputação • Distúrbios importantes de coagulação • Dor e inchaço local, manchas arroxeadas, sangramentos em orifício de picadas, gengivorragia, sangramento de pele, hematúria, infecções oportunistas, necrose local EXAMES Laboratório → Provas de coagulação → Hemograma TRATAMENTO • Suporte • Repouso • Elevação do membro • Administração imediata de SORO ANTIBOTRÓPICO ou ANTIBOTRÓPICO- LAQUÉTICO (SAB OU SABL) • Monitorização durante a aplicação do soro • ATENÇÃO: urticárias, náuseas e vômitos, rouquidão, estridor, broncoespasmo, hipotensão → SINAIS DE ANAFILAXIA • Reações tardias: doença do soro, urticária, febre, adenomegalia 4 semanas após aplicação do soro no paciente. LAQUÉTICOS • Nomes populares: Surucucu, pico-de-jaca • Maior serpente peçonhenta das américas QUADRO CLÍNICO • Efeito proteolítico Licensed to Mariana - mariana.riccetto@gmail.com - 07754098636 ÁGATA BEOLCHI • Coagulante • Hemorrágico • Neurotóxico • Ação mototóxica, hemolítica, hipotensiva • Ações locais: reação inflamatória, intensa, edema, dor, equimose, bolhas, eventos hemorrágicos • A fosfolipase A2 LmTx-1 gera um bloqueio neuromuscular irreversível. Esse paciente possui a necessidade de um eletrocardiograma seriado • As alterações de coagulação ocorrem 30 minutos após a picada • TRATAMENTO Estabilização hemodinâmica • Volume, atropina, inotrópico (evitar choque) • Soro antiveneno SABL • Atenção a monitorização obrigatória por 72 horas (hipotensão tardia após 16ª hora, HDA, trombose mesentérica, AVC CROTÁLICO • Nomes populares: Cascavel, cascavel- quatro-ventas, boicinga, maracá, maracamboia • Áreas secas • Florestas e pantanal • Atacam quando extremamente excitadas • Presença do ruído do chocalho TOXINAS • Critotoxina: fosfolipase A2 e critapotina • Ação mototóxica, coagulante e neurotóxica • Irá agir na junção neuromuscular gerando uma inibição da liberação de neurotransmissores e um bloqueio de receptores da sinapse • Inibição da coagulação (hemólise e plaquetólise) QUADRO CLÍNICO • Ação sistêmica: pouco efeito local • Dor e edema discretos na picada • Ação neurotóxica mais evidente: efeito neuroparalítico crânio-caudal, fácies miastênica (ptose), tirvação visua, oftalmoplegia, redução do reflexo do vômito, disfagia. • Ação mitotóxica: Rabdomiólise e mialgia→ colúria e IRA por NTA EXAMES Laboratório (alterações) • CK • Aldolase • TGO • LDH • Aumento de escórias nitrogenadas por IRA • Leucocitose com desvio à esquerda • Presença de mioglobinúria TRATAMENTO • Soro anticrotálico (SAC) → 5-20 ampolas de acordo com quadro • Hidratação vigorosa: débito urinário 300 ml/h • Manitol • Bicarbonato: manter pH urinário > 6,5 • Correção de distúrbios hidroeletrolíticos Licensed to Mariana - mariana.riccetto@gmail.com - 07754098636 ÁGATA BEOLCHI • Regressão de sintomas ocorre de forma completa ELAPÍDICO • Nomes populares: Cobra coral VERDADEIRA ou boicorá • Cobra coral falsa: barriga branca e anéis levemente diferentes da verdadeira • Região amazônica TOXINAS • Three fingers toxinas (3Ftx): pós- sinápticas → receptores colinérgicos • Fosfolipase A2: pré-sinápticas → bloqueiam a liberação de neurotransmissores QUADRO CLÍNICO • 45-75 min: → Naúseas e vômitos, sudorese, ptose, fácies, miasténicas, paralisia muscular e respiratória → Lesão local não evidente → Grave → Prepare-se para insuficiência respiratória: pode ser imediato ou em 24 horas TRATAMENTO • Soro em grande quantidade: 5-10 ampolas • Anticolinesterásicos: Neostigmina → Prolonga a vida da acetilcolina → Reversão do quadro respiratório → Ação pós-sináptica → Teste → se resposta → manutenção • ATENÇÃO: Atropina antes da Neostigmina para bloqueio dos efitos muscarínicos da acetilcolina RESUMINDO... • Efeito proteolítico: as toxinas proteolíticas do veneno das serpentes têm a capacidade de quebrar proteínas no corpo humano. Isso pode causar danos nos tecidos e nas células, resultando em inchaço, inflamação e até mesmo necrose localizada. • Efeito coagulante: algumas toxinas presentes no veneno das serpentes têm a capacidade de interferir na coagulação sanguínea. Isso pode levar a uma hemorragia interna, causando sangramentos difíceis de serem controlados e potencialmente perigosos. • Efeito neurotóxico: algumas toxinas do veneno das serpentes podem afetar o sistema nervoso central e periférico. Isso pode levar a sintomas como paralisia, tontura, dor de cabeça, convulsões e até mesmo coma. • Efeito miotóxico: algumas toxinas do veneno das serpentes podem afetar o tecido muscular, levando a dores musculares intensas, fraqueza e até mesmo rabdomiólise (destruição muscular). Licensed to Mariana - mariana.riccetto@gmail.com - 07754098636 ÁGATA BEOLCHI ARACNÍDICO • 3º tipo mais comum de acidente por animal peçonhento (atrás de acidentes escorpiônicos e ofídicos) • Menor letalidade • Evento médico raro • Preocupação maior com lesões necróticas • Mais de 40 mil espécies de aranhas, maioria inofensiva 3 TIPOS DE ARANHAS COM GRANDE RELEVÂNCIA Lexosceles: aranha marrom Phoneutria: aranha armadeira Latrodectus: viúva negra LEXOSCELES: ARANHA MARROM • Aranhas pequenas, nãoagressivas, hábitos noturnos (picam quando são comprimidas) • Mais comum na coxa e tronco • Muito pequenas: Medem de 2 a 4cm • Mais grave • Picada Imperceptível • Necrose, com possibilidade de óbito QUADRO CLÍNICO • Patogênese não é claro • Envolvimento da família das fosfolipases D que gera uma necrose cutânea • Reação inflamatória e hemolítica → Agregação plaquetária → Isquemia local → Trombose de microcirculação → Necrose tecidual • Picada pouco dolorosa no momento • Passa despercebidas • Não são capturadas • Pacientes não reconhecem evento agudamente • Lesão dolorosa com aumento progressivo 2-8 horas • Forma cutânea: 99% dos casos, lenta e progressiva e evidente Licensed to Mariana - mariana.riccetto@gmail.com - 07754098636 ÁGATA BEOLCHI ✓ Lesão característica ✓ Base eritematosa com área de isquemia no centro ✓ Presença ou não de bolhas hemorrágicas ✓ Dor e queimação ✓ Evolui para necrose Forma provável • Lesão sugestiva • Equimose, dor em queimação, Rash Forma possível • Incaracterísticas (eritema, dor discreta, prurido, vesícula, poucas horas de evolução) • Necrótica seguida de infecção fazendo DDX com outras doenças ulcerosas Forma edematosa • Face e genitália: edema exuberante ATENÇÃO: As vezes a forma é caracterizada como cutânea, mas os pacientes possuem algumas manifestações sistêmicas mas são inespecíficas como estado geral, astenia, cefaleia, mialgia, rash, febre, diarreia. Forma cutânea-visceral/hemolítica • Hemólise intravascular irá cursar com sintomas clássicos de hemólise como anemia, hemoglobinúria, icterícia, CIVD • IRA EXAMES Laboratório • Hemograma, plaquetas, reticulócitos, bilirrubinas, hepatoglobinas, função renal, CPK, coagulograma TRATAMENTO • Soro antiaracnídeo (SAA) → Eficácia até 24-36h pós acidente → Administrar o mais rápido possível • Corticoide → 40-60 mg; dia (adultos); 1mg/kg (crianças) → 5 a 10 dias PHONEUTRIA: ARANHA ARMADEIRA • Picam quando atacadas • Escondidas em roupas e sapatos • Medem 3- 4 cm, podendo chegar a 20 cm • Raramente são graves QUADRO CLÍNICO • Dor local imediata e intensa • Diaforese localizada, piloereção e eritema • Dor com irradiação proximal • Sintomas sistêmicos → Priapismo → Inquietude → Vômitos → Tonturas → Salivação TRATAMENTO • Compressa local • Sintomático • Anestesia local • Soro indicado apenas em casos graves com manifestações autonômicas: Soro Antiaracnídea (SAA) LATRODECTUS: VIÚVA NEGRA • Litoral da região nordeste • Mede em torno de 1 cm • Patas longas e frágeis • Cor negra e metálica • Barrancos em beira de estrada • Sob Cascas e folhas secas Licensed to Mariana - mariana.riccetto@gmail.com - 07754098636 ÁGATA BEOLCHI • Somente as fêmeas causam acidentes • Atacam quando comprimidas • Não são agressivas por naturezas QUADRO CLÍNICO Veneno: Alpha-Latrotoxina • Terminações nervosas sensitivas • Dor intensa • Descarga adrenérgica e colinérgica • Contrações espasmódicas em MMII • Contraturas intermitentes • Tremores • Rigidez abdominal: diagnóstico diferencial de abdome agudo TRATAMENTO • Soro antilactrodectico → Não utilizar para rotina -Guia de Vigilância Epidemiológica • Analgésicos sistêmicos • Benzodiazepínicos, se necessário: espasmos musculares • Gluconato de cálcio, se necessário: alterações hidroeletrocardiograma • Clorpromazina, se necessário ESCORPIÔNICO • Maior número de notificações no Brasil • Meses quentes e chuvosos: outubro a março • Minas, São Paulo e Bahia • Geralmente benigno em adultos e sistêmico/ grave em crianças 3 TIPOS DE ESCORPIÃO Tityus serrulatus: escorpião amarelo • Bahia ao Paraná • Mais grave T. bahiensis: escorpião marrom • Todo país, exceto a região Norte T. metuendus: escorpião preto • Região Norte QUADRO CLÍNICO • Ativação de canais de sódio Licensed to Mariana - mariana.riccetto@gmail.com - 07754098636 ÁGATA BEOLCHI → Ocorre uma despolarização das terminações nervosas e ganglionares gerando uma liberação de acetilcolina e catecolaminas causando efeitos simpáticos e parassimpáticos. Paciente pode-se apresentar com confusão mental, hipertensão ou hipotensão, geralmente cursa com sialorreia e arritmias. Edema agudo de pulmão pode ser frequente e paciente pode acabar chocando. EXAMES • CK • CKMB • Amilase • Eletrólitos • Raio X de tórax • ECG TRATAMENTO • Soro antiescorpiônico (SAEsc) • Soro antiaracnídico (SAA): quando não possui o soro específico para escorpião pode usar o soro para aranhas. • 2-3 ampolas para pacientes moderados • 4-6 ampolas para pacientes graves sintomáticos MORTALIDADE E LETALIDADE QUADRO COMPARATIVO DE DIAGNÓSTICO SINDRÔMICO Licensed to Mariana - mariana.riccetto@gmail.com - 07754098636