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W BA 10 41 _V 1. 0 PRINCÍPIOS BÁSICOS DO PROCESSO TERAPÊUTICO EM TERAPIA COGNITIVO- COMPORTAMENTAL 2 Gessyka Wanglon Veleda São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2022 PRINCÍPIOS BÁSICOS DO PROCESSO TERAPÊUTICO EM TERAPIA COGNITIVO- COMPORTAMENTAL 1ª edição 3 2022 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Head de Platos Soluções Educacionais S.A Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Camila Turchetti Bacan Gabiatti Revisor Rogério Adriano Bosso Editorial Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Veleda, Gessyka Wanglon Princípios básicos do processo terapêutico em terapia cognitivo-comportamental / Gessyka Wanglon Veleda. – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2022. 32 p. ISBN 978-65-5356-187-8 1. Terapia cognitivo-comportamental. 2. Processo terapêutico. 3. Técnicas cognitivas. I.Título. CDD 616.8914 _____________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB: 010289/O V436p © 2022 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. https://www.platosedu.com.br/ 4 SUMÁRIO Apresentação da disciplina __________________________________ 05 Avaliação inicial do paciente e primeira sessão ______________ 06 Sessões subsequentes em TCC e aliança terapêutica ________ 18 Técnicas Cognitivas e Técnicas Comportamentais ___________ 30 Encerramento do processo terapêutico e prevenção da recaída _______________________________________________________ 43 PRINCÍPIOS BÁSICOS DO PROCESSO TERAPÊUTICO EM TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL 5 Apresentação da disciplina Seja bem-vindo! Na disciplina Princípios básicos do processo terapêutico em Terapia Cognitivo-Comportamental, você conhecerá um pouco mais sobre como a psicoterapia cognitivo-comportamental acontece na prática, discutindo seus objetivos e sua estrutura. No primeiro Tema, você aprenderá sobre o início do processo terapêutico, a partir da avaliação inicial, e os passos que devem ser seguidos. Em seguida, no segundo Tema, serão abordadas a estrutura das sessões subsequentes e a importância da aliança terapêutica para a psicoterapia cognitivo-comportamental. Já no terceiro Tema, é o momento de conhecer as principais técnicas cognitivas e comportamentais que podem ser utilizadas ao longo da intervenção terapêutica, a fim de identificar e alterar tanto estruturas cognitivas do paciente, pensamentos automáticos e crenças subjacentes e nucleares quanto seu repertório comportamental. Por fim, no quarto Tema, você poderá verificar também sobre o encerramento do processo psicoterapêutico e as práticas da prevenção de recaída. Como é possível perceber, nesta disciplina você estudará todas as etapas do processo terapêutico, buscando uma interlocução entre os conceitos teóricos e as atividades práticas. O objetivo aqui é ajudar você a desenvolver o processo terapêutico da melhor maneira possível, a partir das ferramentas que a TCC proporciona. Para maximizar a sua prática, ao final de cada Tema, você também estudará casos clínicos inspirados em demandas reais, possibilitando o exercício das habilidades aprendidas ao longo da disciplina. Certamente as discussões presentes aqui contribuirão ainda mais para a sua formação. Bons estudos! 6 Avaliação inicial do paciente e primeira sessão Autoria: Gessyka Wanglon Veleda Leitura crítica: Rogério Adriano Bosso Objetivos • Apresentar o processo de avaliação inicial e primeira sessão na Terapia Cognitivo-Comportamental. • Oferecer ferramentas úteis para a realização da avaliação inicial e da primeira sessão. • Propor uma interlocução entre os achados empíricos e os aspectos práticos associados à avaliação clínica inicial e à primeira sessão. 7 1. Avaliação inicial: objetivos e estrutura Para desempenhar uma prática clínica efetiva na Terapia Cognitivo- Comportamental (TCC), é necessária, além de um conjunto de teorias e técnicas bem desenvolvidas, a formulação de planos de tratamento que orientem as intervenções do terapeuta. Nesse sentido, a avaliação inicial tem papel fundamental para a TCC, visto que, para ser efetiva, requer que o terapeuta avalie, formule e conceitue o caso de modo adequado e, assim, planeje a intervenção (BECK, 2013; WRIGHT et al., 2018). Para compreendermos como conduzir as sessões de avaliação, inicialmente precisamos identificar os seus objetivos. Em resumo, a avaliação para o tratamento cognitivo-comportamental inclui colher informações e identificar possíveis hipóteses diagnósticas, além de atentar-se aos problemas presentes do paciente que possivelmente o trouxeram à terapia. Ainda, é necessário investigar suas relações interpessoais, seus pontos fortes pessoais e sua base sociocultural, levando em consideração os impactos da história de seu desenvolvimento, os fatores genéticos e biológicos e os possíveis diagnósticos médicos (DOBSON; DOBSON, 2009; WRIGHT et al., 2018). A avaliação de um paciente inicia-se normalmente com uma série de entrevistas, que podem ser complementadas através da aplicação de instrumentos padronizados de avaliação psicológica. Além das entrevistas não estruturadas, mais comuns na prática clínica, temos as entrevistas estruturadas e semiestruturadas já desenvolvidas (entrevista clínica estruturada para os transtornos do DSM-5, cujo nome original é Structured Clinical Interview For DSM Disorders – SCID-5, por exemplo), bem como modelos de anamnese completa. Vale destacar que a escolha desses instrumentos deve considerar suas adequação e sustentação empíricas, ou seja, o ajuste desta ao contexto real, além de suas propriedades psicométricas, como a validade e a fidedignidade da medida. 8 Na plataforma Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI), o terapeuta poderá encontrar medidas que estão de acordo com as adequações psicométricas citadas anteriormente. Contudo, ressalta-se que esses instrumentos são dirigidos especialmente para a identificação diagnóstica, que, apesar de importante, é limitada para a avaliação na TCC, visto que esta requer informações consideráveis que superam esses aspectos, necessitando de outras ferramentas para o seu processo de avaliação (ARAÚJO; SHINOHARA, 2002; DOBSON; DOBSON, 2009; WRIGHT et al., 2018). Ainda não está disponível nenhum formato padronizado ou entrevista estruturada específica para a avaliação cognitivo-comportamental. Contudo, Beck (2013) elenca as áreas e os aspectos essenciais que devem ser identificados na avaliação inicial, como fica evidente no quadro a seguir: Quadro 1 – Áreas investigadas na avaliação inicial na TCC • Dados pessoais. • Queixas principais e problemas atuais. • História da doença atual e eventos desencadeantes. • Estratégias de enfrentamento (adaptativas e desadaptativas), atuais e passadas. • História psiquiátrica, incluindo tipos de tratamento psicossocial (e opinião sobre a validade desses tratamentos), hospitalizações, medicação, tentativas de suicídio e situação atual. • História de abuso de substância e situação atual. • História médica e situação atual. • Históriapsiquiátrica familiar e situação atual. • História do desenvolvimento. • História geral familiar e situação atual. • História social e situação atual. • História educacional e situação atual. • História vocacional e situação atual. • História religiosa/espiritual e situação atual. • Pontos fortes, valores e estratégias de enfrentamento adaptativas. • Descrição de um dia típico. Fonte: Beck (2013, p. 69). 9 Cada uma dessas áreas exige que o terapeuta levante diferentes informações, as quais, apesar de parecerem pouco úteis em um primeiro momento, podem ser significativas no decorrer da terapia ou mesmo no caso de encaminhamento desse paciente (ARAÚJO; SHINOHARA, 2002). Para potencializar a sessão de avaliação, é possível coletar parte dessas informações antes do primeiro atendimento. O terapeuta poderá solicitar ao paciente que envie relatórios relevantes de diferentes profissionais, incluindo profissionais da saúde (check-up médico, por exemplo) e saúde mental. Outro recurso que poderá ser utilizado é o preenchimento, com antecedência, de questionários de autorrelato, como o Inventário de Depressão de Beck (BDI-II) (BECK, 2013). Outras fontes de informação que podem ser consideradas são os pais, cônjuges, parceiros ou professores, possibilitando a coleta de dados a partir do ponto de vista de outro indivíduo. Porém, para levantar dados com essas pessoas, é essencial o consentimento do cliente (DOBSON; DOBSON, 2009; WENZEL, 2018). Beck (2013) recomenda que, antes da sessão de avaliação, o psicólogo informe ao paciente sobre a possibilidade da companhia de um familiar, parceiro ou amigo de confiança, com o objetivo de fornecer outras informações importantes; contudo, não se trata de uma obrigatoriedade, sobretudo na avaliação de adultos. Em geral, na sessão de avaliação, é desejável encontrar, no primeiro momento, apenas o paciente e então decidir em conjunto sobre a necessidade de o acompanhante ser chamado, próximo ao final da sessão. Além de entrevistas e instrumentos padronizados, a observação clínica é uma forte aliada no processo de avaliação inicial. Os psicólogos são treinados para observar o paciente de forma cuidadosa, o que inclui as comunicações verbal e não verbal que ocorrem desde o primeiro contato. Ainda, tanto o conteúdo quanto os aspectos subjacentes das respostas aos instrumentos também podem fornecer dados importantes. Vale destacar que o comportamento do paciente durante a avaliação pode ser entendido como uma “amostra” do seu comportamento geral e por isso deve ser observado com cuidado. 10 Fazer anotações sobre esse comportamento (após sua comunicação e consentimento) ao longo da sessão, juntamente com fragmentos de suas frases de maior destaque, auxilia no processo de avaliação inicial (DOBSON; DOBSON, 2009). Por fim, outro objetivo da avaliação inicial é a identificação da elegibilidade do paciente para o tratamento com TCC e as chances de essa intervenção fornecer resultados satisfatórios a curto e médio prazos (BECK, 2013). Apesar de não haver contraindicações absolutas ao uso da TCC, uma análise inicial de diferentes dimensões do sujeito pode auxiliar o terapeuta a verificar a sua adequação para a terapia, aumentando as chances de bom prognóstico (WRIGHT et al., 2018). Wright et al. (2018) indicam sete dimensões que devem ser avaliadas para a verificação da adequação do paciente à terapia, como fica evidente no quadro a seguir. Quadro 2 – Dimensões a serem consideradas ao avaliar pacientes na TCC • Cronicidade e complexidade. • Otimismo em relação às chances de sucesso na terapia. • Aceitação de responsabilidade pela mudança. • Compatibilidade com a linha de raciocínio cognitivo-comportamental. • Capacidade de acessar pensamentos automáticos e identificar as emoções que os acompanham. • Capacidade de envolver-se em uma aliança terapêutica. • Capacidade de manter e trabalhar dentro de um foco orientado para o problema. Fonte: Wright et al. (2018, p. 47). As duas primeiras dimensões (“cronicidade e complexidade” e “otimismo em relação às chances de sucesso na terapia”) são importantes 11 indicadores de prognóstico. Problemas complexos e presentes há muito tempo podem demandar acompanhamentos mais longos, aspecto que precisa ser avaliado por terapeutas que oferecem programas de tratamento com durações de 12 a 16 semanas, por exemplo. Ainda, altos níveis de pessimismo podem reduzir a capacidade de um paciente responder e se engajar no processo terapêutico, influenciando, assim, na sua resposta ao tratamento (WRIGHT et al., 2018). A TCC é um modelo de terapia colaborativa que busca o envolvimento ativo do paciente e do terapeuta na resolução dos problemas (ARAÚJO; SHINOHARA, 2002). Desse modo, as dimensões “aceitação da responsabilidade pela mudança” e “compatibilidade com a linha de raciocínio cognitivo-comportamental” são essenciais para a continuidade do tratamento. Para isso, é indicado que ainda na sessão de avaliação o terapeuta possa começar a familiarizar o paciente com a estrutura e o processo terapêutico e verificar assim sua aceitação e adequação (BECK, 2013; WRIGHT et al., 2018). Já a dimensão “capacidade de acessar pensamentos automáticos e identificar as emoções que os acompanham” indica uma inclinação real para a TCC, que poderá ter implicações diagnósticas positivas, tendo em vista as especificidades do modelo. A sexta dimensão (“capacidade de envolver-se em uma aliança terapêutica) também está intimamente associada a uma maior adesão ao tratamento e assim a melhores resultados. Perguntas sobre a história de relacionamentos íntimos e a observação de comportamentos na sessão podem transferir algumas informações sobre como será a relação terapêutica. Destaca-se que na avaliação inicial já é indicado o início do desenvolvimento da aliança terapêutica com o paciente (ARAÚJO; SHINOHARA, 2002; BECK, 2013; WRIGHT et al., 2018). A última dimensão a ser considerada aborda a presença de comportamentos potencialmente disruptivos como tentativas de controlar excessivamente os conteúdos durante a entrevista, evitação de 12 materiais emocionalmente carregados ou mesmo um discurso prolixo e tangencial. Repertórios como esses podem dificultar o andamento e a evolução do tratamento ao longo do tempo. A baixa capacidade de trabalhar com base na estruturação da TCC da mesma forma pode limitar os efeitos da terapia (WRIGHT et al., 2018). Assim, estando atento a essas dimensões, juntamente com todos os outros aspectos indicados, o terapeuta poderá definir se tanto ele como o paciente estão apropriados para o início do acompanhamento. Ainda, esses fatores podem auxiliar na construção de hipóteses sobre possíveis fatores potencializadores e desafiadores do tratamento, bem como guiar o pensamento do terapeuta no desenvolvimento de um plano inicial (BECK, 2013; WRIGHT et al., 2018). Após coletar as principais informações e estando próximo ao fim da sessão, é indicado que o terapeuta explique ao paciente sobre a necessidade de um tempo para examinar as anotações, os formulários e os relatórios anteriores. Contudo, é conveniente discutir as impressões iniciais e as expectativas do tratamento junto com o paciente ainda na sessão de avaliação, além de questioná-lo se existe alguma outra informação importante ou mesmo dúvidas que precisem ser discutidas (BECK, 2013). Há muitas tarefas a serem cumpridas na sessão de avaliação; entretanto, é importante destacar que a avaliação inicial não está limitada ao primeiro encontro, visto que a cada sessão o terapeuta continuará coletando dados significativos. A avaliação na TCC é um processo dinâmico e contínuo, que precisará sofrer repetições e aprimoramentos ao longo do acompanhamento (BECK, 2013 DOBSON; DOBSON, 2009). 1.1 Formulação e conceituação inicial do caso Após coletar as informações mais relevantes, é necessário que o terapeuta as analise e sintetize com o objetivo de desenvolver uma 13conceituação inicial do caso. A conceitualização ou formulação de caso pode ser definida como o processo pelo qual os terapeutas aplicam a teoria cognitivo-comportamental para entender os fatores que precipitam, mantêm e exacerbam as apresentações clínicas do paciente. Na conceitualização, não são levados em conta apenas os aspectos relativos ao momento presente, mas toda a história de desenvolvimento do paciente (ARAÚJO; SHINOHARA, 2002; BECK, 2013; WENZEL, 2018). Para a construção da conceitualização de caso, o terapeuta deverá considerar todos os achados importantes da sua avaliação. Wright et al. (2018) propõem um fluxograma que reúne os principais domínios presentes na avaliação, como indicado a seguir. Figura 1 – Fluxograma da conceitualização de caso Fonte: Wright et al. (2018, p. 49). Por ser construída logo no início da terapia, a conceitualização de caso, neste momento, pode ser apenas um esboço, o qual será aprimorado ao longo do acompanhamento. O importante é que esta não seja considerada 14 uma verdade absoluta e estática. Inclusive, todas as hipóteses levantadas devem ser discutidas em conjunto com o paciente, que poderá validá-las ou não (ARAÚJO; SHINOHARA, 2002; WRIGHT et al., 2018). Desse modo, semelhantemente a uma bússola, a formulação de caso orienta o terapeuta para o seu trabalho com o paciente. Apesar de não ficar em destaque no tratamento, esta será um suporte para toda intervenção durante o tratamento, guiando o plano de intervenção (ARAÚJO; SHINOHARA, 2002; WRIGHT et al., 2018). Existem diferentes perspectivas que auxiliam na estruturação da formulação de caso, contudo a abordagem beckiana tradicional ainda é a mais utilizada. De qualquer forma, todos os diferentes enfoques partem do modelo cognitivo, no qual as emoções, os comportamentos e as reações fisiológicas dos sujeitos são influenciados pelas percepções dos eventos e das situações (BECK, 2013; WENZEL, 2018). 2. Primeira sessão: objetivos e estrutura Ao finalizar a sessão de avaliação, muitos estudantes e profissionais se perguntam “o que fazer agora?”. Assim, para auxiliar nesse processo, são elencados a seguir passos importantes para realizar a primeira sessão, após a avaliação inicial, de maneira efetiva (DOBSON; DOBSON, 2009). Após a construção da conceituação e do plano de tratamento inicial, o terapeuta já poderá conduzir a primeira sessão. Nesse momento, será importante que o profissional comunique ao paciente suas hipóteses para que assim possam juntos estabelecer as metas da terapia. Apesar de parecer uma tarefa simples, esse processo é parte crucial e está intimamente ligado ao envolvimento e ao comprometimento do paciente a longo prazo, bem como à postura de trabalhar para atingir esses objetivos (DOBSON; DOBSON, 2009). 15 Wright et al. (2018) defendem que o desenvolvimento de metas de tratamento é uma das primeiras intervenções do tratamento, além de ser uma grande oportunidade de ensinar ao paciente a importância do estabelecimento de alvos objetivos e mensuráveis para a mudança. No quadro a seguir, são elencados alguns tópicos importantes a serem levados em conta no planejamento e na psicoeducação das metas com o paciente: Quadro 3 – Dicas para estabelecer metas na TCC • Instrua o paciente sobre as técnicas de estabelecimento de metas. • Tente evitar metas muito generalizadas e abrangentes que possam ser difíceis de definir ou atingir. Por parecerem pesadas e inatingíveis, a formulação de metas desse tipo pode fazer com que o paciente se sinta pior, pelo menos temporariamente. • Seja específico. • Oriente o paciente a escolher metas que tenham a ver com preocupações ou problemas significativos. • Escolha metas de curto prazo que você acredite terem probabilidade de serem alcançadas no futuro próximo. • Desenvolva algumas metas de longo prazo que exijam trabalho mais extensivo na TCC. • Tente usar termos que tornem as metas mensuráveis, ajudando-o a medir o progresso. Fonte: Wright et al. (2018, p. 61). Ao longo de todo o processo de tratamento, essas metas devem ser revistas e revisadas. É possível que os problemas destacados no início do tratamento não façam sentido ao longo do tempo, ou mesmo que novas metas surjam devido à progressão da terapia, sendo necessários ajustes no método de tratamento. É importante estabelecer maneiras de avaliar os resultados e o cumprimento dessas metas, possibilitando que o paciente identifique as evoluções no tratamento. Vale registrar as metas 16 por escrito, em sessão, ou ainda solicitar que o paciente as aprimore em casa (BECK, 2013 DOBSON; DOBSON, 2009; WRIGHT et al., 2018). A concordância explícita entre paciente e terapeuta sobre as metas pode levar a uma melhora já no início do processo. Em concomitância, o terapeuta pode estabelecer também um contrato formal ou informal com o paciente. Contratos formalizados são impressos ou digitais e solicitam assinatura de todos os atores envolvidos no processo. Em boa parte dos ambientes clínicos, os contratos informais são mais comuns; todavia, vale ressaltar que os contratos formais ampliam a adesão e a motivação do paciente, além de evitar que o próprio terapeuta se desvie dos propósitos da dupla (DOBSON; DOBSON, 2009). Além da discussão com o paciente sobre a conceitualização, a definição de metas e o contrato de tratamento, a primeira sessão tem como propósito o estabelecimento de confiança com o paciente, a familiarização deste com o modelo cognitivo e o processo de terapia, além de ser o início da resolução de problemas importantes. Apesar de ter início na primeira sessão, esses tópicos serão trabalhos também ao longo das sessões posteriores. Em síntese, desenvolver uma relação terapêutica efetiva e estimular o paciente a aliar-se para atingir os objetivos da terapia são tarefas fundamentais da sessão inicial, as quais aumentam as chances de o paciente retornar para as próximas sessões (BECK, 2013; DOBSON; DOBSON, 2009). Referências ARAÚJO, C. F.; SHINOHARA, H. Avaliação e diagnóstico em terapia cognitivo- comportamental. Interação em psicologia, [s.l.], v. 6, n. 1, 2002. BECK, J. S. Terapia cognitivo-comportamental: teoria e prática. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2013. 348p. DOBSON, D.; DOBSON, K. S. A terapia cognitivo-comportamental baseada em evidências. Por Alegre: Artmed, 2009. 17 KNAPP, P.; BECK, A. T. Fundamentos, modelos conceituais, aplicações e pesquisa da terapia cognitiva. Brazilian Journal of Psychiatry, [on-line], v. 30, suppl., p. s54-s64, 2008. WENZEL, A. Inovações em terapia cognitivo-comportamental: intervenções estratégicas para uma prática criativa. Porto Alegre: Artes Médicas, 2018. WRIGHT, J. H. et al. Aprendendo a Terapia Cognitivo-Comportamental: Um Guia Ilustrado. Porto Alegre: Artmed, 2018. 18 Sessões subsequentes em TCC e aliança terapêutica Autoria: Gessyka Wanglon Veleda Leitura crítica: Rogério Adriano Bosso Objetivos • Apresentar os objetivos e a estruturação das sessões subsequentes na Terapia Cognitivo- Comportamental. • Oferecer ferramentas úteis para a realização das sessões subsequentes, elencando potencialidades e desafios. • Discutir a função e a relevância da aliança terapêutica no tratamento baseado na Terapia Cognitivo-Comportamental. 19 1. Sessões subsequentes: estruturação e objetivos Após o processo de avaliação inicial e primeiro atendimento na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), a segunda sessão e todas as sessões subsequentes seguem um formato aproximado. Isso porque as sessões em TCC são planejadas a partir de uma estruturação com diferentes elementos que maximizam a resolução das metas e dos objetivos estabelecidos pelo paciente e pelo terapeuta na primeira sessão. Seguir o formato estruturado de sessão permite uma maior colaboração entre paciente e terapeuta, potencializa a eficácia e eficiência do tratamento e auxilia na compreensão do processo da terapia por parte do paciente (BECK, 2013; KNAPP, 2009). Mesmopara pacientes com diferentes diagnósticos ou estágios do tratamento, alguns componentes da sessão são mantidos; entretanto, momentos iniciais da terapia acabam necessitando de maior estrutura. É nessa etapa que os sintomas tendem a se apresentar de maneira mais intensa e a habilidade de enfrentar problemas pode ser diminuída, sendo a estruturação das sessões uma aliada. Ao passo que pacientes vão progredindo e assumindo uma maior responsabilidade pelo controle do processo terapêutico, a estruturação da sessão pode sofrer maiores flexibilizações (BECK, 2013; WRIGHT et al., 2018). De modo geral, o roteiro usual da segunda sessão e das posteriores em TCC inclui os seguintes passos: Quadro 1 – Roteiro de estrutura de sessão Parte Inicial da Sessão 1. Fazer uma verificação do humor. 2. Definir a pauta. 3. Obter uma atualização. 4. Revisar o exercício de casa. 5. Priorizar a pauta. 20 Parte Intermediária da Sessão 6. Trabalhar em um problema específico e ensinar habilidades da Terapia Cognitivo-Comportamental naquele contexto. 7. Discutir o seguimento com a prescrição colaborativa de exercícios de casa relevantes. 8. Trabalhar em um segundo problema. Parte Final da Sessão 9. Apresentar ou solicitar um resumo. 10. Revisar as novas prescrições de exercícios de casa. 11. Solicitar feedback. Fonte: adaptado de Beck (2013, p. 120-121). 1.1 Parte inicial da sessão: elementos e estrutura Na primeira parte da sessão, o terapeuta deverá revisar o humor do paciente, podendo utilizar avaliações objetivas preenchidas antes do início da sessão. O Inventário de Depressão de Beck-II é uma das possibilidades quando é necessário mensurar sintomas depressivos, por exemplo. A verificação de humor também pode ser registrada de modo mais breve, por meio de escala de pontos. Para isso, o terapeuta questiona o paciente sobre como ele se sente, atribuindo uma nota de zero a dez, em que zero equivale a nenhuma depressão ou ansiedade e 10 a muita depressão e ansiedade. São igualmente úteis perguntas abertas como: “Como você está se sentindo esta semana em relação a semana passada?”. A verificação do humor, além de ser uma oportunidade para o terapeuta demonstrar interesse pela semana do paciente, traz uma avaliação importante do progresso do tratamento (BECK, 2013; KNAPP, 2009; WRIGHT et al., 2018). Em seguida, paciente e terapeuta, em conjunto, deverão definir uma pauta inicial ou agenda da terapia. O objetivo maior dessa estrutura é o estabelecimento de uma hierarquia nos assuntos que serão discutidos 21 na sessão, focando nos problemas a serem trabalhados e em suas possíveis soluções. Uma agenda de atividades da sessão pode auxiliar no maior rendimento de tempo de cada encontro (KNAPP, 2009; RANGÉ, 2001). Ressalta-se que, para maior aproveitamento, é indicado que os tópicos das pautas a serem trabalhadas na sessão voltem-se diretamente para as metas gerais da terapia, estabelecidas no primeiro atendimento. Ainda, as metas precisam ser específicas, mensuráveis e atingíveis. Caso o paciente ainda não consiga estabelecer essas pautas, o terapeuta pode tomar a frente na modelagem da agenda (WRIGHT et al., 2018). Para a potencialização dos efeitos da TCC, as sessões devem estar associadas, trazendo a percepção de continuidade do trabalho. Assim, é indicado que o terapeuta estabeleça uma “ponte” com a sessão anterior, fazendo comentários e perguntas sobres os aspectos mais importantes trabalhados no último encontro. Ainda, nesse momento, o terapeuta deve realizar uma rápida atualização da semana do paciente, ficando atento a questões que podem ser importantes ao longo da sessão. Outro aspecto a ser verificado trata-se da realização da tarefa de casa. É importante que esta seja revisada e discutida junto com o paciente, a fim de extrair da tarefa todo o aprendizado possível. Destaca-se que ignorar essa etapa influenciará no engajamento do paciente em tarefas futuras (DOBSON; DOBSON, 2009; KNAPP, 2009). Após o seguimento de todas as etapas anteriores, é o momento de resumir os tópicos que serão abordados em sessão, já que, após coletar dados sobre a semana e verificar a realização de tarefa de casa, é provável que outros pontos tenham sido acrescentados à agenda. Colaborativamente, a dupla terapêutica define os tópicos de fato essenciais para serem trabalhados naquela sessão e os que podem ser trabalhados em sessões futuras. Igualmente deve ser definido o tempo médio para cada tópico escolhido (BECK, 2013). 22 1.2 Parte intermediária da sessão: elementos e estrutura Na parte intermediária da sessão, com a pauta já construída, é indicado perguntar ao paciente por quais problemas ou tópicos ele deseja começar. Esse processo auxilia no desenvolvimento de uma postura ativa do paciente e no reconhecimento de suas responsabilidades no acompanhamento terapêutico. Nessa etapa, o objetivo é trabalhar a situação-problema através das ferramentas cognitivas e comportamentais, além de reduzir o sofrimento imediato do paciente, caso necessário. Um dos objetivos de todas as intervenções utilizadas em TCC é ajudar o paciente a desenvolver habilidades mais adaptativas que poderão ser utilizados na resolução de problemas presentes e futuros (BECK, 2013; DOBSON; DOBSON, 2009). A partir dos pontos trabalhados na sessão, o terapeuta deverá solicitar uma tarefa ou exercício de casa que possibilite a continuidade do aprendizado. Este é um dos componentes essenciais para a prática clínica em TCC que permite a generalização de mudanças e a resolução de problemas reais para além do contexto de terapia. Além disso, as tarefas de casa são elementos-chave no processo de estruturação da terapia, sendo um item comum da agenda de cada sessão e um elo entre as sessões. Para que a tarefa de casa seja bem-sucedida, é imprescindível que a decisão final sobre a atividade seja colaborativa, específica e clara. Ela precisa estar relacionada com as metas gerais do tratamento, devendo o paciente dispor de recursos e habilidades para realizá-la. Entre os diferentes tipos de tarefas, podemos incluir desde a leitura de materiais psicoeducativos e a orientação de experimentos comportamentais até práticas de habilidades apreendidas em sessão (DOBSON; DOBSON, 2009; RANGÉ, 2001; WRIGHT et al., 2018). 23 Em seguida, se ainda houver tempo disponível na sessão, é indicado trabalhar em um segundo problema a partir de técnicas cognitivas e comportamentais específicas, as quais serão abordadas com maior aprofundamento na próxima seção. Para maximizar a compreensão dos problemas, é indicado fazer um resumo dos conteúdos trazidos ao longo da sessão de forma clara e concisa e apresentá-lo ao paciente, inclusive usando suas próprias palavras, a fim de possibilitar uma compreensão mais adequada para ambos, além de manter o foco no problema principal (BECK, 2013). 1.3 Parte final da sessão: elementos e estrutura Com o propósito de compreender o que foi descoberto juntamente com o fortalecimento da memória desses novos aprendizados, no período final da sessão é solicitado que o paciente faça um resumo dos tópicos mais importantes. É possível que nas sessões iniciais o próprio terapeuta faça um resumo e ao longo do acompanhamento, conforme progressão, o paciente aponte os principais aprendizados da sessão (BECK, 2013; KNAPP, 2009). Por fim, o terapeuta solicita ao paciente um feedback da sessão, questionando como ele se sentiu, se algum dos assuntos foi desconfortável ou mesmo se algo importante não foi trabalhado. O objetivo dessa etapa é manter a estruturação da sessão, investir na aliança terapêutica e estimular e corrigir distorções no processamento de informações. Contudo, deve ficar claro para o terapeuta que, ao dar feedback, é importante que este seja verdadeiro e não ultrapasse limites com afirmações extremamente positivas ou críticas. É indicado o uso de comentários construtivos que reconheçam pontos fortes do paciente e seus ganhosao longo d tempo, sugerindo também maiores oportunidades de mudança (RANGÉ, 2001; WRIGHT et al., 2018). 24 Apesar de estarem estruturados próximo ao término da sessão, os feedbacks podem ser recebidos e dados a qualquer momento. Ainda, devem ser solicitados ao paciente feedbacks do processo geral de tratamento e do progresso terapêutico. Caso seja necessário que ele trabalhe a habilidade de dar e receber feedbacks para além da terapia, esses momentos, em sessão, poderão ser úteis para o aprendizado a partir da modelação (aprendizado pela observação) de formas eficazes de processar feedbacks (KNAPP, 2009; WRIGHT et al., 2018). Ainda que a estruturação da sessão seja uma importante aliada na prática clínica cognitivo-comportamental, é comum que terapeutas mais novos tenham dificuldades para compassar a sessão, inclusive superestimando a quantidade de trabalho que é possível ser realizada. Alguns sinais que denotam problemas em relação ao compasso da terapia e merecem mais atenção são: sessões imprecisas sem foco específico, poucos itens da agenda abordados, dificuldades em tomar decisões com o paciente sobre o direcionamento da sessão, nenhuma sensação de movimento ou progresso ao término dos encontros e pouco aprofundamento de um tópico importante (DOBSON; DOBSON, 2009; WRIGHT et al., 2018). Identificando problemas na condução da terapia, é recomendado que os terapeutas desenvolvam habilidades de aproveitamento do tempo e de elaboração de perguntas mais precisas que facilitem o manejo das transições entre as diferentes etapas da sessão. Em conjunto com a supervisão clínica, outra sugestão que pode melhor a percepção de tempo e manejo da sessão é usar a regra 10-30-10, que indica que devem ser dispendidos 10 minutos com a parte inicial da sessão, 30 minutos com a etapa intermediária e 10 minutos com o momento final, totalizando os 50 minutos de sessão tradicional. Desse modo, próximo aos 40 minutos de sessão, o terapeuta já deverá estar atento para encaminhar a etapa de finalização (DOBSON; DOBSON, 2009; WRIGHT et al., 2018). 25 Finalmente, vale destacar que a estruturação e mesmo a construção da agenda para a sessão não são um processo extremamente fixo ou imutável que precisa ser seguido dogmaticamente. Questões mais urgentes, como término de relacionamento, perda de emprego ou mesmo o adoecimento de um familiar, serão destaques em uma sessão mesmo que não estejam na lista de problemas inicial. Assim, ao utilizar esses instrumentos de forma flexível, o terapeuta permitirá maior espontaneidade e aprendizagem criativa do paciente, garantindo maior eficácia e efetividade ao tratamento (KNAPP, 2009; WRIGHT et al., 2018). 2. Psicoeducação Juntamente com todas as etapas descritas anteriormente, a psicoeducação em TCC também agrega estrutura à terapia e está presente em diferentes momentos do tratamento. Em definição, a psicoeducação é o ensino de princípios e conhecimentos psicológicos que sejam pertinentes ao paciente. Pode ser empregada com diferentes objetivos, que vão desde informar o paciente sobre o modelo cognitivo, apontando as conexões existentes entre situações, pensamentos e emoções, e apresentar a estrutura das sessões até mesmo informar sobre um possível diagnóstico (RANGÉ, 2001; WRIGHT et al., 2018). Existem diferentes materiais que podem ajudar no processo de psicoeducação, como livros, cartilhas, filmes e recursos da internet (vídeos em diferentes plataformas, por exemplo). Wright et al. (2018) indicam o uso do caderno de terapia, no qual ficam descritos e compilados vários materiais associados às sessões, como os exercícios realizadas, as tarefas de casa e as anotações sobre insights importantes. Esse instrumento possibilita ao paciente maior aprendizagem, realização da tarefa de casa e fortalecimento dos conceitos discutidos na sessão. 26 Além disso, o terapeuta poderá oferecer miniaulas durante a sessão para ajudar o paciente a compreender diferentes conceitos. É necessário que essas breves explicações não sigam um estilo palestra, mas sim um modelo interativo, claro e amigável, inclusive levando em conta exemplos da vida do paciente (DOBSON; DOBSON, 2009). A Figura 1 ilustra um modelo de cinco partes que pode ser utilizado em sessão, auxiliando na psicoeducação sobre o modelo cognitivo. Figura 1 – Modelo de cinco partes para a compreensão do modelo cognitivo Fonte: Greenberger e Padesky (2016, p. 7). É importante que o terapeuta antes fique atento também a algumas características do paciente que são determinantes para a escolha. Em primeiro lugar, é necessário considerar a escolarização e a linguagem do paciente, a fim de optar por um material que corresponda a esses aspectos. Ainda devem ser priorizados os interesses, as habilidades e os recursos disponíveis para ele que facilitem o acesso ao material. Por fim, o terapeuta precisa garantir a qualidade dos materiais, examinando-os com antecedência (DOBSON; DOBSON, 2009; WRIGHT et al., 2018). 27 A psicoeducação traz inúmeros benefícios ao tratamento, visto que o conhecimento sobre os problemas e seus precursores e gatilhos leva a uma maior sensação de controle sobre eles, potencializando as mudanças cognitivas. Além do mais, identificar que outras pessoas escreveram, pesquisaram e discutiram sobre o seu problema traz ao paciente uma sensação de alívio, identificação e apoio (DOBSON; DOBSON, 2009). 3. Empirismo colaborativo e aliança terapêutica Na TCC, terapeuta e paciente formam uma equipe de trabalho em que ambos têm um papel ativo e diretivo na detecção de estratégias que podem ser utilizadas para enfrentar os problemas do paciente. Esse estilo terapêutico colaborativo é denominado “empirismo colaborativo” e tem um papel fundamental para a efetividade da terapia. Em conjunto, a dupla terapêutica identifica pensamentos e comportamentos disfuncionais, verifica empiricamente sua validade ou utilidade e planeja estratégias de enfrentamento para dificuldades futuras. Contudo, para que essa equipe trabalhe de modo afinado, é necessária a construção de uma aliança terapêutica sólida desde o primeiro contato (KNAPP, 2009; RANGÉ, 2001; WRIGHT et al., 2018). Inúmeros fatores influenciam na construção de uma relação terapêutica positiva, como confiança, empatia, autenticidade, respeito pelo paciente, entre outras dimensões não específicas. Um dos enganos comuns sobre a TCC é pensar que os terapeutas dessa abordagem são secos e técnicos e não dão importância às emoções. Pelo contrário, os terapeutas cognitivo-comportamentais reconhecem que, ao longo do acompanhamento, empatia e afeto são fundamentais e precisam de investimento (DOBSON; DOBSON, 2009; WRIGHT et al., 2018). 28 Em contrapartida, é importante que o terapeuta fique atento e regule adequadamente o quanto e quando essas expressões de empatia e afeto são necessárias. Por exemplo, balançar a cabeça de modo afirmativo enquanto o paciente relata cognições negativamente distorcidas poderá validá-las, favorecendo que o paciente acredite que o terapeuta concorda com essas afirmações. Por outro lado, ignorar uma demonstração significativa de sofrimento igualmente poderá distanciar o paciente. Portanto, manter a postura autêntica aliada à constante busca de estratégias que reduzam o sofrimento do paciente são estratégias indicadas para estabelecer empatia e afeto e construir uma relação terapêutica significativa (DOBSON; DOBSON, 2009; WRIGHT et al., 2018). Outro fator importante a ser considerado no desenvolvimento da aliança terapêutica é a demonstração adequada de boas habilidades terapêuticas e compreensão acurada por parte do terapeuta. Ao buscar um profissional, o paciente deseja receber um apoio efetivo e, à medida que o terapeuta indica suas especialidades, poderá sentir-se mais seguro com o acompanhamento a seguir. Entretanto, apesar do conhecimento especializado, somente o paciente é o especialista em sua própria história, funcionamento eproblemas atuais, o que deve sempre ser respeitado pelo terapeuta (BECK, 2013; DOBSON; DOBSON, 2009; KNAPP, 2009). No que diz respeito ao paciente, algumas características também podem influenciar substancialmente na aliança terapêutica. Pacientes com transtorno bipolar em episódios maníacos, por exemplo, podem ser intrusivos e irritantes ou mesmo sedutores. Da mesma forma, traços de personalidade também podem interferir na relação terapêutica, a exemplo de pacientes com traços esquizoides, que podem ser defensivos, dificultando na relação de confiança necessária para o processo terapêutico (BECK, 2013; WRIGHT et al., 2018). Para lidar com esses desafios, é necessário que o terapeuta fique atento a possíveis problemas e possa adaptar seu comportamento 29 a esses casos mais complexos. É indicado que o profissional não rotule o paciente, utilizando termos que podem ser entendidos como pejorativos (como maníaco e alcoolista). Manter a serenidade e a objetividade, mesmo em situações desafiadoras ou emocionalmente carregadas, também é uma habilidade valiosa para lidar com pacientes demandantes em relação à aliança terapêutica (WRIGHT et al., 2018). Diferentes pesquisas apontam que alianças positivas estão fortemente associadas ao resultado positivo do tratamento, tornando-se assim um dos pilares fundamentais para a TCC. Desse modo, da mesma maneira que a estruturação das sessões, a psicoeducação e outras ferramentas recebem destaque na intervenção cognitivo-comportamental, o empirismo colaborativo e a aliança terapêutica devem ser priorizados (BECK, 2013; WRIGHT et al., 2018). Referências BECK, J. S. Terapia cognitivo-comportamental: teoria e prática. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2013. 348p. DOBSON, D.; DOBSON, K. S. A terapia cognitivo-comportamental baseada em evidências. Porto Alegre: Artmed, 2009. GREENBERGER, D.; PADESKY, C. A. A mente vencendo o humor: mude como você se sente, mudando o modo como você pensa. Porto Alegre: Artmed, 2016. KNAPP, P. Terapia cognitivo-comportamental na prática psiquiátrica. Porto Alegre: Artmed, 2009. RANGÉ, B. Psicoterapias cognitivo-comportamentais: um diálogo com a psiquiatria. In: RANGÉ, B. Psicoterapias cognitivo-comportamentais: um diálogo com a psiquiatria. Porto Alegre: Artmed, 2001. p. 567-567. WRIGHT, J. H. et al. Aprendendo a Terapia Cognitivo-Comportamental: Um Guia Ilustrado. Porto Alegre: Artmed, 2018. 30 Técnicas Cognitivas e Técnicas Comportamentais Autoria: Gessyka Wanglon Veleda Leitura crítica: Rogério Adriano Bosso Objetivos • Apresentar as principais técnicas cognitivas e comportamentais utilizadas no contexto clínico. • Desenvolver habilidades para a aplicação de técnicas cognitivas e comportamentais no contexto clínico. • Discutir a importância e a finalidade das técnicas cognitivas e comportamentais. 31 1. Técnicas cognitivas A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) se baseia na ideia de que estados de sofrimento, como a depressão e a ansiedade, são mantidos ou acentuados por pensamentos exagerados ou tendenciosos. Sendo assim, é papel do terapeuta auxiliar o paciente a identificar e examinar estilos disfuncionais de pensamentos para poder modificá-los a partir de dados lógicos e empíricos (LEAHY, 2018). Para isso, a TCC se utiliza de diferentes métodos terapêuticos, como a avaliação inicial, a estruturação das sessões e as técnicas cognitivas e comportamentais. Apesar de ser reconhecida pelo grande arcabouço de intervenções disponíveis, a prática da TCC não se concentra apenas na aplicação de um punhado de técnicas cognitivas e comportamentais. Seu diferencial está na ênfase que o terapeuta dá ao papel dos pensamentos na causa e na manutenção do sofrimento, sendo as técnicas um dos meios de acessar e alterar essas relações (KNAPP, 2009). Ainda, apesar de o modelo cognitivo trazer contribuições relevantes para esse arcabouço de intervenções, técnicas e outras orientações utilizadas dentro de uma estrutura cognitiva são igualmente implementadas. Intervenções inspiradas na Gestalt, em mindfulness e na ativação comportamental são exemplos de procedimentos emprestados de outras escolas terapêuticas, adaptadas para a mudança cognitiva (BECK, 2013; KNAPP, 2009; LEAHY, 2018). Ao longo deste Tema, serão discutidas técnicas cognitivas e comportamentais separadamente. Contudo, vale ressaltar que se trata de uma divisão com propósito didático, já que tanto técnicas cognitivas como comportamentais geram efeitos nessas duas estruturas (KNAPP, 2009). Para auxiliar na compreensão, um caso será descrito e utilizado ao longo do texto, a fim de demonstrar a aplicabilidade das técnicas ao contexto clínico: 32 Vicente, 33 anos, procura a terapia devido a sintomas depressivos e ansiosos que se intensificaram após sua demissão da instituição em que trabalhava há 8 anos. É enfermeiro e atuava em um hospital privado como chefe de setor; contudo, devido a cortes de gastos, ele e mais alguns colegas foram demitidos. Jeane, sua companheira, trabalha como assistente social em uma instituição pública, mas o casal tem dois filhos, o que preocupa a família em relação às despesas mensais. Desde sua demissão, há 7 meses, Vicente tem ficado muito preocupado com o futuro da família e se percebe triste, sem motivação e sem perspectivas de encontrar outro emprego. Comenta que verifica as vagas em aberto e no mês anterior se candidatou a um cargo em uma clínica privada, mas não foi chamado. Desde então não se candidata para outras vagas e tem passado os dias realizando tarefas domésticas, cuidando dos filhos e assistindo a conteúdos na internet. 1.1 Técnicas cognitivas – Pensamentos automáticos As técnicas voltadas para identificar, examinar e modificar os pensamentos automáticos desadaptativos são centrais nas intervenções cognitivo- comportamentais. Especialmente nos estágios iniciais, os terapeutas auxiliam os pacientes a compreender o conceito de pensamentos automáticos e avaliar sua precisão, identificando possíveis distorções cognitivas (WENZEL, 2018). Os terapeutas costumam acessar pensamentos automáticos ao longo da sessão a partir de perguntas diretas sobre esses pensamentos, principalmente quando o paciente descreve acontecimentos com alto grau de emoção. Assim, nesse momento é indicado que, de forma objetiva, o terapeuta questione o paciente sobre o que está pensando. Essa abordagem direta é uma das técnicas possíveis para acessar esses pensamentos, como fica evidente no caso de Vicente descrito a seguir (KNAPP, 2009; DOBSON; DOBSON, 2009) 33 Na primeira sessão, quando Vicente comenta com o terapeuta sobre a dificuldade em se candidatar para novas vagas, começa a ficar com a voz trêmula e olhos marejados. Nesse momento, o terapeuta comenta: “notei que você se emocionou ao falar sobre a dificuldade em se candidatar para vagas de emprego. O que está passando pela sua cabeça neste momento?”. Vicente responde: “Fico pensando que nunca conseguirei um emprego, pois já fui demitido e agora não fui selecionado em outra vaga.”. Assim, a partir da intensificação do humor do paciente, o terapeuta consegue identificar seus pensamentos automáticos e, com isso, pode promover sua psicoeducação. Na fala de Vicente “nunca conseguirei um emprego, pois já fui demitido e agora não fui selecionado em outra vaga”, este é o pensamento automático associado à busca de vagas. O Quadro 1 traz outras perguntas que podem ser feitas para identificar esses pensamentos. Quadro 1 – Perguntas objetivas para acessar pensamentos automáticos • O que estava passando na sua cabeça instantes antes de você começar a se sentir assim? • Que imagens ou lembranças você tem em relação a essa situação? • Neste momento, você acha que pode ter pensado algo como (exemplificar com pensamentos plausíveis, ex.: “já que ele não me cumprimentou, deve estar chateado comigo”)? • Se o (exemplifica com uma pessoa próxima ao paciente) estivesse nessa situação, o que você acreditaque ele pensaria? Fonte: adaptado de Greenberger e Padesky (2016); Knapp (2009). Após a identificação e o reconhecimento dos pensamentos automáticos, os terapeutas podem utilizar o questionamento socrático para ajudar o paciente a avaliar e identificar sua real precisão. Nessa técnica, inspirada na linha de investigação do filósofo grego Sócrates, o objetivo é realizar 34 um série de perguntas gradativas que levem o paciente a avaliar racionalmente seus problemas e as soluções a partir de uma perspectiva mais distante. Vale destacar que a premissa dessa técnica não está associada ao convencimento do paciente através de argumentos, mas a sua autoexploração inquisitiva (WENZEL, 2018; KNAPP, 2009). O Quadro 2 traz exemplos de perguntas socráticas: Quadro 2 – Perguntas socráticas para exame de pensamentos automáticos • Que evidência apoia esse pensamento automático? Essa evidência é factual? Que evidência é incompatível com esse pensamento automático? • Quais são as outras explicações para essa situação? • Qual é o resultado da pior hipótese? Qual é o resultado da melhor hipótese? Qual é o resultado mais realista? Fonte: Wenzel (2018, p. 58). Dando continuidade ao caso de Vicente, após identificar os pensamentos disfuncionais, o terapeuta poderá questionar sua validade através de perguntas similares, como fica evidente a seguir: Em sessão, após identificar os seguintes pensamentos automáticos: “nunca conseguirei um emprego, pois já fui demitido e agora não fui selecionado em outra vaga”, o terapeuta comenta: Terapeuta: Sobre o pensamento “nunca conseguirei um emprego”, como você se sente logo após essa ideias aparecerem? Vicente: Fico triste e preocupado, até mesmo sem esperança. Terapeuta: E quais são as evidências que apoiam essa ideia? Vicente: Eu fui demitido e não passei no primeiro processo que tentei. Isso mostra que realmente não conseguirei e que não devo me candidatar para novas vagas. 35 Terapeuta: Além desses pontos, quais outros fatores você acredita que podem estar associados a conquistar um novo emprego? Vicente: Boa qualificação, disponibilidade e experiência na atividade. Terapeuta: Você acredita que tem alguma das características que citou? Vicente: Eu posso considerar que tenho uma boa formação, já que continuei me especializando após a graduação. Também tenho disponibilidade, apesar de não estar me sentindo motivado. Além disso, fiquei oito anos no hospital como chefe de setor e sei fazer algumas coisas. Terapeuta: Então, podemos considerar que suas chances de conseguir um novo emprego não são nulas, tendo em vista que você apresenta boa parte dos requisitos necessários para ser contratado? Vicente: Pensando assim, acho que que pode fazer sentindo. Após identificar e examinar o pensamento automático, é o momento de propor uma resposta adaptativa que substitua o pensamento original, corrigindo os erros nesse pensamento, o que irá resultar em menos dificuldades emocionais (WENZEL, 2018). Em sessão, essa proposta pode ser aplicada da seguinte maneira: Terapeuta: Agora que verificamos que suas chances de conseguir um novo emprego não são nulas, podemos encontrar um pensamento alternativo à ideia de nunca mais conseguir um novo emprego? Vicente: Sim, talvez o pensamento mais razoável seja: “eu tenho requisitos necessários para conseguir um emprego, apesar de ainda não ter conseguido”. Terapeuta: E como você se sente após identificar esse novo pensamento? 36 Vicente: Eu me sinto um pouco mais animado e com esperança, apesar de ainda estar preocupado. O processo de identificação dos pensamentos automáticos disfuncionais e de proposta de novas alternativas é denominado de restruturação cognitiva e ocorre dentro e fora da sessão. Comumente, os terapeutas solicitam como tarefa de casa o uso do registro de pensamentos automáticos, o que possibilita realizar esse processo à medida que os pensamentos surgem ao longo dos dias (BECK, 2013; WENZEL, 2018). A seguir trazemos o registro de Vicente com base nos pensamentos relatados. Quadro 3 – Registro de Pensamento de Vicente Data/ Hora Situação Pensamento automático Emoções Reposta adaptativa Resultado 15 horas. Verificar novas vagas de emprego. “Nunca conseguirei um emprego, pois já fui demitido e agora não fui selecionado”. Tristeza, ansiedade, desesperança. “Eu tenho os requisitos necessários para conseguir um emprego, apesar de ainda não ter conseguido”. Diminui a intensidade da tristeza. Maior esperança. Fonte: adaptado de Beck (2013). 1.2 Técnicas cognitivas – Crenças subjacentes e nucleares Além dos pensamentos automáticos, outras estruturas mais profundas que os pacientes têm de si mesmos, dos outros e do mundo estão associadas ao sofrimento psicológico e suscitam esses pensamentos. Entre essas estruturas, estão as crenças subjacentes e as crenças nucleares. A crenças subjacentes são definidas como regras e pressupostos rígidos, relacionados a afirmações como “deveria”, “tenho que” e “se... então”. 37 Essas crenças não costumam ser problemáticas em períodos estáveis; contudo, mudanças significativas, como término de relacionamentos e perda de emprego, tendem a ativá-las, resultando em sofrimento ao paciente (BECK, 2013; LEAHY, 2018). Uma das maneiras mais conhecidas de identificar crenças subjacentes é a partir da técnica da seta descendente, que visa questionar o paciente sobre os significados associados aos pensamentos automáticos até chegar ao seu significado principal (WENZEL, 2018). A seguir a técnica da seta descendente é aplicada na demanda de Vicente. Vicente: Apesar de identificar uma alternativa em relação as minhas chances de conseguir um novo emprego, ainda me sinto incomodado com o fato de não estar empregado. Terapeuta: Certo, entendi. Eu gostaria de compreender mais sobre seus pensamentos. Por favor, tente completar a seguinte frase: “Não estar trabalhando no momento me incomoda porque... Vicente: Porque parece que sou um inútil e fracassado na minha profissão. Terapeuta: E parecer que é um fracassado e inútil significaria que... Vicente: Eu realmente sou um fracassado. A partir da intervenção anterior, o terapeuta pode identificar crenças subjacentes como: “se eu não estou trabalhando, então sou um fracasso na minha profissão” e “se sou um fracasso na minha profissão, então sou um fracassado.”. Vale destacar que a técnica da seta descendente também auxilia na identificação de crenças nucleares, que são ideias e conceitos que se encontram no nível cognitivo mais profundo e dizem respeito sobre si mesmo, os outros ou o mundo. Ainda, são do tipo “tudo ou nada” 38 e originadas desde a infância. Contudo, para aplicar a técnica da seta descendente na identificação da crença nuclear, é necessário perguntar ao paciente o que esse pensamento diz sobre ele, e não somente o que significa (GREENBERGER; PADESKY, 2016; KNAPP, 2009). A partir da descrição da intervenção anterior, já podemos identificar que Vicente possui uma crença nuclear de desvalor, descrita como “sou um fracasso”. Esta está diretamente associada a suas regas e seus pressupostos, além dos pensamentos automáticos disfuncionais que aparecem em situações desafiadoras. Após a identificação das crenças subjacentes e nucleares, a técnica das vantagens e desvantagens pode ser utilizada com o objetivo de auxiliar o paciente a avaliar e reconsiderar as crenças que mantêm o sofrimento emocional. O propósito nessa intervenção é minimizar as vantagens e potencializar as desvantagens, a ponto de que o paciente identifique que a insistência nessa crença poderá lhe causar ainda mais sofrimento (BECK, 2013; WENZEL, 2018). A seguir trazemos a aplicação no caso de Vicente: Terapeuta: Agora que identificamos uma regra importante, ou seja, “se eu não estou trabalhando, então sou um fracasso na minha profissão”, quais as vantagens de acreditar nessa ideia? Vicente: Acho que isso me ajuda a não ficar parado,sabe? Pensando assim, eu nunca vou desistir de trabalhar. Terapeuta: Seria interessante verificar se você realmente precisa de uma crença tão extrema para não desistir de trabalhar, mas podemos conversar sobre isso mais tarde. Você consegue pensar em alguma outra vantagem? Vicente: No momento não. Terapeuta: E quais são as desvantagens de acreditar que, se você não estiver empregado, então é um fracasso na profissão? 39 Vicente: Acho que isso faz eu me sentir muito triste e ansioso, especialmente nesse momento em que não estou trabalhando. Inclusive, fico com vergonha de conversar com colegas. Também acabo ficando bastante desesperançoso em relação a um emprego futuro. Terapeuta: E isso ajuda você a encontrar um novo emprego ou tentar outras oportunidades? Vicente: Com certeza não, porque parece que tenho ainda mais medo de tentar qualquer processo seletivo. Terapeuta: Então, se por um lado essa crença ajuda você a não desistir de trabalhar, por outro faz você se sentir triste, ansioso e desmotivado com a ideia de tentar novas oportunidades, afastando inclusive você de colegas e de novos processos seletivos? Vicente: Isso mesmo. Terapeuta: Então, será que poderíamos mudar essa ideia? A partir daí, o terapeuta poderá utilizar estratégias para modificar e formular uma nova crença mais adaptativa. Para isso, é importante que o profissional se pergunte qual crença seria funcional e realista para o paciente (BECK, 2013). No caso de Vicente, pode propor a alteração de “se eu não estou trabalhando, então sou um fracasso na minha profissão” para “se eu não estou trabalhando, não significa que sou um fracasso, apenas que ainda não consegui minha nova oportunidade de emprego”. 2. Técnicas comportamentais A prática clínica da TCC envolve inevitavelmente técnicas comportamentais, porque, além de aprimorar o repertório comportamental do cliente, também possuem a capacidade de modificar 40 crenças que mantêm problemas específicos. Modificando as crenças disfuncionais para ideias mais adaptativas, as expectativas futuras e a disponibilidade para se engajar em estratégias comportamentais igualmente aumentam, demonstrando assim os impactos mútuos dessas diferentes técnicas (LEAHY, 2018). Uma das técnicas extensamente utilizadas na prática clínica é a ativação comportamental, especialmente para pacientes que apresentam humor deprimido, padrões evitativos de comportamento e distanciamento da resolução de problemas. Especialmente para sintomas depressivos, essa técnica é uma estratégia central no tratamento, visto que o enfrentamento evitativo é um dos maiores problemas nesses casos. Paciente deprimidos são governados por reforço negativo, ou seja, são gratificados apenas por comportamentos de fuga e esquiva, enquanto carecem de comportamentos intrinsicamente gratificantes, o que leva assim a um agravamento do quadro depressivo e o sujeito se torna cada vez mais letárgico e com humor deprimido (DOBSON; DOBSON, 2009; WENZEL, 2018). Assim, a ativação comportamental é uma técnica prioritariamente contextual que estimula o paciente a se tornar ativo apesar de sua motivação ou de como esteja se sentindo no momento. Inicialmente, é indicado seguir o modelo TRAP (Trigger – gatilho ou ativador; Response – resposta; e Avoidance Pattern – padrão de evitação), ou seja, o paciente identifica os gatilhos para a evitação e suas consequências. Em seguida, sugere-se o modelo TRAC (Trigger – gatilho ou ativador; Response – resposta; e Alternative Coping – enfrentamento alternativo) (DOBSON; DOBSON, 2009). No caso de Vicente, o paciente indica que tem realizado poucas atividades e que, após a recusa em um dos processos seletivos, não tem conseguido buscar novas vagas. O terapeuta poderá utilizar a técnica de ativação comportamental e discutir os modelos TRAP e TRAC em sessão, como identificado a seguir. 41 Figura 1 – Modelo TRAP aplicado à demanda de Vicente Fonte: adaptada de Dobson e Dobson (2009). Após identificar os gatilhos, as respostas e os padrões de evitação em sessão, o terapeuta poderá discutir com Vicente sobre as alternativas para a manutenção dessa condição. Vale ressaltar que, após essa identificação, o objetivo é que o paciente se engaje na atividade, apesar de sentimentos negativos ou desmotivação. Os comportamentos alternativos bloqueiam padrões de evitação, rompendo o agravamento do quadro depressivo (DOBSON; DOBSON, 2009). A seguir trazemos o modelo TRAC. Figura 2 – Modelo TRAC aplicado à demanda de Vicente Fonte: adaptada de Dobson e Dobson (2009). Por fim, vale ressaltar que a TCC apresenta um número vasto de técnicas que vão muito além das debatidas nessa sessão, cabendo ao terapeuta sua atualização e a escolha das intervenções mais adaptadas às diferentes demandas do paciente. Vale lembrar que a técnica mais valiosa e significativa será aquela que ajude o paciente a se sentir cuidado e ouvido (LEAHY, 2018). 42 Referências BECK, J. S. Terapia cognitivo-comportamental: teoria e prática. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2013. 348p. DOBSON, D.; DOBSON, K. S. A terapia cognitivo-comportamental baseada em evidências. Porto Alegre: Artmed, 2009. GREENBERGER, D.; PADESKY, C. A. A mente vencendo o humor: mude como você se sente, mudando o modo como você pensa. Porto Alegre: Artmed, 2016. KNAPP, P. Terapia cognitivo-comportamental na prática psiquiátrica. Porto Alegre: Artmed, 2009. LEAHY, R. L. Técnicas de Terapia Cognitiva: Manual do Terapeuta. Porto Alegre: Artmed, 2018. WENZEL, A. Inovações em terapia cognitivo-comportamental: intervenções estratégicas para uma prática criativa. Porto Alegre: Artes Médicas, 2018. 43 Encerramento do processo terapêutico e prevenção da recaída Autoria: Gessyka Wanglon Veleda Leitura crítica: Rogério Adriano Bosso Objetivos • Apresentar os objetivos e a estruturação da etapa de encerramento do processo terapêutico cognitivo- comportamental. • Apresentar os objetivos e as etapas do modelo de prevenção de recaída na Terapia Cognitivo- Comportamental. • Oferecer ferramentas para a aplicação do modelo de prevenção de recaída no encerramento do processo terapêutico cognitivo-comportamental. 44 1. Encerramento do processo terapêutico Toda terapia chega a um fim, e, mesmo nessa etapa, alguns tópicos são imprescindíveis para aumentar as chances de efetividade e manutenção dos ganhos terapêuticos (DOBSON; DOBSON, 2009). Ao longo dos últimos três Temas, foram abordadas diferentes etapas e estratégias de intervenção para o acompanhamento cognitivo-comportamental. Assim, antes de iniciar as discussões sobre a última fase do tratamento, vale lembrar os principais tópicos abordados nas fases anteriores, juntamente com as últimas intervenções a serem aplicadas, como apresentado na figura a seguir. Figura 1 – Fases da terapia e suas principais intervenções Fonte: elaborada pela autora. Salienta-se que algumas intervenções podem estar presentes em diferentes etapas da terapia, a exemplo de algumas técnicas, como a psicoeducação, devendo o terapeuta estar atento às especificidades de cada fase (BECK, 2013). E como o terapeuta poderá identificar que o processo terapêutico deve ser finalizado? O propósito da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é facilitar o alívio e a remissão dos sintomas do paciente, bem como ensiná- lo novas habilidade que poderão ser usados na sua vida, sem 45 necessidade de tratamento contínuo. Em resumo, um dos objetivos da TCC é preparar os pacientes para que sejam seus próprios terapeutas. Assim, a terapia bem-sucedida vai além dos progressos identificados na fase aguda e inclui o uso contínuo de intervenções autodirecionadas que proponham uma melhor qualidade de vida (BECK, 2013; DOBSON; DOBSON, 2009; WRIGHT, 2012). É importante lembrar que, por outro lado, a intenção da terapia não é resolver todos os problemas do paciente. O terapeuta que assume a responsabilidade de lidar com todas essas demandas está favorecendoa dependência do paciente ao longo do tempo e dificultando que ele teste e fortaleça suas habilidades (BECK, 2013). A verdade é que os problemas continuarão a aparecer na vida do paciente e mesmo pensamentos automáticos disfuncionais ainda poderão ser identificados; entretanto, após o treinamento significativo de identificação, exame e alteração desses conteúdos, essas habilidades passam a ocorrer “automaticamente” (BECK, 2013; GREENBERGER; PADESKY, 2016). Os terapeutas cognitivo-comportamentais costumam concordar que a decisão de finalizar o tratamento deve ser tomada quando o paciente atingir os objetivos da lista de problemas construída no início da terapia, juntamente com a verificação do seu progresso em diversas situações de vida e por tempo suficiente. A partir dessa descrição, o terapeuta pode ficar com a impressão de que a finalização da terapia é um processo fácil, com poucos desafios. Porém, na realidade clínica, os pacientes costumam apresentar demandas complexas e crônicas associadas a problemas e sintomas residuais que, mesmo após intervenção, podem ser melhorados, mas não eliminados. Ainda, após a dupla terapêutica ter estabelecido uma boa aliança e uma boa relação colaborativa, pode ser difícil encerrar o tratamento, tornando-se mais um desafio dessa etapa (KNAPP, 2009; DOBSON; DOBSON, 2009). 46 Para auxiliar na decisão de finalizar o tratamento, alguns pontos podem ser levados em consideração pelo terapeuta. De modo geral, o profissional deve ter a condição técnica de avaliar o momento em que os sintomas de um determinado diagnóstico psicológico foram reduzidos ou eliminados e os objetivos atingidos, visto que esse é o momento ideal para finalizar a terapia. Destaca-se aqui a ideia de diminuição dos sintomas, e não somente sua eliminação. Muitos transtornos psicológicos, como a esquizofrenia, apresentam mais períodos de remissão parcial do que total da sua condição e isso deverá ser avaliado pelo terapeuta no momento do encerramento (DOBSON; DOBSON, 2009). Em contrapartida, muitos pacientes buscam ajuda devido a uma crise pessoal ou a uma transição de vida ou mesmo para solucionar um problema difícil, e não devido a um transtorno psicológico. Um sujeito que busca ajuda devido à morte de um ente querido, por exemplo, poderá não apresentar sintomas graves, mas necessitar de auxílio para lidar com as mudanças nesse momento. No encerramento, um dos critérios que pode ser utilizado é identificar se houve a resolução da crise ou do problema que levou o paciente para a terapia. Em muitas situações, é possível que, a partir de intervenções mais breves, o problema possa ser abordado e resolvido, indicando assim a finalização do tratamento (DOBSON; DOBSON, 2009). Também é possível levar em conta as mudanças nos fatores causativos, como as crenças, os esquemas e as situações precipitantes. É difícil identificar a quantidade de mudanças necessária nesses pontos, porém verificar se algumas habilidades cognitivo-comportamentais foram desenvolvidas e estão sendo utilizadas no presente pode dar um direcionamento sobre o encerramento do processo. A seguir, encontram-se algumas habilidades a serem verificadas para auxiliar na decisão sobre o encerramento do tratamento (DOBSON; DOBSON, 2009; GREENBERGER; PADESKY, 2016): 47 Quadro 1 – Habilidades centrais que devem ser identificadas ao final do tratamento psicoterapêutico Próximo ao término do processo terapêutico, o paciente: Nota as interações entre pensamentos, estados de humor, comportamentos, reações físicas e ambiente? Avalia a intensidade dos estados de humor? Considera as vantagens e as desvantagens da mudança? Identifica pensamentos automáticos e imagens? Completa um Registro de Pensamentos? Gera pensamentos alternativos ou compensatórios com base nas evidências coletadas? Reúne mais evidências para fortalecer novos pensamentos? Quando as evidências em um Registro de Pensamentos apoiam um pensamento disfuncional, cria um plano de ação para resolver o problema? Usa planos de ação para fazer uma mudança em sua vida ou para atingir um objetivo? Identifica pressupostos subjacentes do tipo “Se... então...”? Testa um pressuposto subjacente com experimentos comportamentais? Desenvolve pressupostos alternativos que combinam com sua experiência de vida? Identifica crenças nucleares? Identifica novas crenças nucleares? Anota evidências que apoiam e fortalecem novas crenças nucleares? Avalia a confiança em novas crenças nucleares? Fonte: adaptado de Greenberger e Padesky (2016, p. 273-274). Não é necessário que todas essas habilidades estejam totalmente construídas, e diferentes pacientes podem desempenhar essa habilidade em graus variados. Contudo, esses pontos podem indicar como o paciente se encontra em relação aos seus aspectos cognitivos e comportamentais, ajudando na decisão de encerramento. Após identificar que a terapia chegou a sua fase final, o terapeuta deverá voltar suas intervenções para esse objetivo (BECK, 2013; GREENBERGER; PADESKY, 2016). 48 1.1 Preparação para o encerramento da terapia A preparação para o encerramento da terapia começa na primeira sessão, quando o terapeuta propõe a familiarização do paciente com o modelo da TCC. Nessa etapa, o profissional comenta que o tratamento será estruturado para durar o menor tempo possível, fazendo com que o paciente se torne o seu próprio terapeuta (BECK, 2013). Ao longo do tratamento, algumas intervenções são igualmente imprescindíveis, a fim de preparar o paciente para a etapa final. Atribuir o progresso ao paciente diante de suas melhoras no humor é essencial para fortalecer sua autoeficácia na resolução de problemas. Alguns pacientes tendem a atribuir toda a sua melhora a mudanças nas circunstâncias, como o início do uso de psicotrópicos; nesses casos, o terapeuta deverá ficar atento para que, ao longo do processo, possa auxiliar em uma atribuição mais adequada, que leve em consideração as mudanças dos conteúdos cognitivos. Em situações em que o paciente insiste que não merece o mérito, vale investigar e trabalhar as crenças associadas a essa inclinação (BECK, 2013). Já próximo ao término, o terapeuta deve discutir o espaçamento na frequência de sessões, visto que esse processo não ocorre abruptamente. Incialmente, as sessões que costumam ser semanais passam a ser quinzenais, mensais e logo são oferecidas algumas sessões de reforço que podem acontecer 3, 6 e 12 meses após a finalização. Ao discutir essa combinação, alguns pacientes podem ficar ansiosos com a redução e com a futura finalização. Nesses casos, o terapeuta poderá utilizar a técnica de vantagens e desvantagens, potencializando os benefícios e reestruturando os prejuízos da decisão. Vale destacar que a redução das sessões se inicia como um experimento, devendo a cada nova sessão a combinação ser revisitada (BECK, 2013; DOBSON; DOBSON, 2009; KNAPP, 2009). 49 Próximo às sessões mensais, é indicado que o terapeuta incentive o paciente a ler e organizar suas anotações mais significativas do processo terapêutico, a fim de auxiliá-lo durante e após a redução e a finalização do tratamento. Ainda, o terapeuta deverá preparar o paciente para possíveis retrocessos após o encerramento. Aqui é importante esclarecer que o progresso ocorre com períodos de melhora que são interrompidos por flutuações e retrocessos, além do surgimento de novos problemas. Apesar disso, essas mudanças não significam que o tratamento falhou ou mesmo que é necessário retomar o processo integralmente, visto que agora o paciente está mais equipado para lidar com essas demandas, especialmente após a prevenção da recaída, que será discutida na Seção 2 (BECK, 2013; DOBSON; DOBSON, 2009; WRIGHT, 2012). Já as sessões de reforço acontecem com tempo maior de espaçamento. Um de seus propósitos é conferir o bem-estar do paciente, tornando- se também uma oportunidade de discutir as estratégias utilizadas diante de novos problemas eavaliar se existiriam outras ferramentas mais funcionais. Em caso positivo, a dupla poderá construir um plano para lidar com essas situações ao longo dos próximos meses. De modo geral, a própria programação de sessões de reforço tende a suavizar a ansiedade do paciente em relação à manutenção de seu progresso a longo prazo (BECK, 2013). Por fim, existem outros cenários de encerramento da terapia que não permitem preparação, como no caso dos pacientes que evadem sem dar explicações. Nessas situações, cabe ao terapeuta tentar contactar o sujeito pelos contatos disponíveis. Caso a desistência seja por conta de uma percepção ineficaz da terapia, vale questioná-lo sobre o que o ajudou a construir essa percepção. De qualquer forma, esses acontecimentos devem ser avaliados para que a atuação do terapeuta possa ser ainda mais potencializada a partir dessas experiências. A supervisão de caso poderá ajudar o terapeuta a avaliar esse cenário e identificar se outras estratégias poderiam ter sido utilizadas (DOBSON; DOBSON, 2009). 50 2. Prevenção da recaída Compreende-se por recaída a recorrência de sintomas ou comportamentos disfuncionais que aparecem logo após a remissão, fazendo com que os critérios diagnósticos sejam novamente encontrados. Especialmente em casos mais graves e crônicos, as chances de recaída tendem a ser mais altas, o que preocupa os terapeutas cognitivo-comportamentais. A fim de lidar com esse desafio, a TCC inclui como parte integrante do tratamento o processo de prevenção da recaída, que busca identificar o aparecimento dos sintomas, revisar as estratégias relevantes da TCC e, por fim, implementar um plano para o seu acompanhamento de maneira contínua (DOBSON; DOBSON, 2009; WRIGHT, 2012). Para iniciar a prevenção da recaída, é importante que terapeuta e paciente identifiquem situações de alto risco, ou seja, as circunstâncias que auxiliam o aparecimento dos sintomas. Como a grande maioria dos pacientes com transtornos psiquiátricos já vivenciou mais de um episódio da condição antes mesmo de chegar à terapia, poderá trazer informações importantes sobre os estressores aos quais apresenta mais vulnerabilidade (GREENBERGER; PADESKY, 2016; WRIGHT, 2012). Logo após a identificação dos aspectos situacionais, é importante que o paciente e a rede de apoio (como familiares, companheiros e amigos) estejam alertas aos primeiros sinais que precedem os sintomas. Esses sinais podem ser tanto alterações nos comportamentos quanto em pensamentos, estados de humor e alterações físicas. A experiência passada pode ajudar a identificar essas mudanças previamente. Indica- se ainda que o paciente tenha uma planilha de resumo de sintomas personalizada que permita a identificação dessas condições precoces. Pacientes com transtorno depressivo maior, por exemplo, podem incluir na sua planilha a perda de prazer nas atividades, a falta de motivação e o aumento de apetite, caso estes sejam sintomas presentes em outros episódios (GREENBERGER; PADESKY, 2016; WRIGHT, 2012). 51 Após identificar as possíveis situações de gatilho e os sintomas precoces, é importante construir um plano de enfrentamento. Nesse momento, o objetivo é levantar diferentes possibilidades que poderão ser desempenhadas pelo paciente fora do contexto da terapia. Essas estratégias poderão ser técnicas e habilidades cognitivo- comportamentais já desenvolvidas pelo paciente ao longo do processo terapêutico ou mesmo outras ações que evitem o retorno completo dos sintomas (WRIGHT, 2012). Para ilustrar a prevenção de recaída, a figura a seguir descreve os três momentos da intervenção a partir do caso de Janice, que se encontra na fase final do tratamento. A paciente tem 47 anos e, após seis meses de acompanhamento, encontra-se em remissão parcial dos sintomas depressivos, juntamente com uma melhora global em vários aspectos de sua vida. Em sessão, ela discute com seu terapeuta sobre a prevenção de recaída, chegando ao seguinte planejamento: Figura 2 – Prevenção de recaída aplicada ao caso de Janice Fonte: elaborada pela autora. 52 Para fortalecer o plano de enfrentamento, nas últimas sessões é indicado utilizar técnicas como a dramatização para promover um ensaio cognitivo-comportamental das estratégias elencadas. Outra ferramenta importante é a técnica do cenário, isto é, “no pior caso...”, para que o paciente encontre possibilidades de enfrentamento mesmo em situações de sofrimento intenso. Vale destacar que uma das estratégias poderá ser a retomada das sessões ou a procura do terapeuta novamente (WRIGHT, 2012). Outro aspecto que deve ser levado em conta, especialmente em casos de psicopatologias mais graves, é a manutenção da farmacoterapia após o encerramento das sessões. Esta está diretamente relacionada a bons resultados a longo prazo, sendo indicado que o terapeuta trabalhe a adesão do paciente ao longo da terapia e a inclua como um dos cuidados que deverão ser mantidos. Vale lembrar que a prescrição de medicamentos é uma conduta restrita aos profissionais médicos, sendo necessário que o paciente mantenha os atendimentos com esses especialistas. Mudanças no estilo de vida, como a prática de exercícios físicos e a regularização de sono e alimentação, também devem ser reforçadas pelo terapeuta como pontos fundamentais para a manutenção dos ganhos terapêuticos a longo prazo (WRIGHT, 2012). O encerramento do processo terapêutico pode ser um momento de muitos receios para o paciente e o terapeuta; contudo, as pesquisas em TCC apontam uma vantagem: pacientes que passam pelo processo terapêutico e continuam fazendo uso competente de suas estratégias apresentam menores taxas de recaída. Diante disso, é importante que os terapeutas empreguem a preparação para o encerramento e a prevenção de recaída ao longo da terapia, aumentando assim as chances de manutenção dos ganhos terapêuticos a longo prazo (BECK, 2013; DOBSON; DOBSON, 2009; WRIGHT, 2012). 53 Referências BECK, J. S. Terapia cognitivo-comportamental: teoria e prática. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2013. 348p. DOBSON, D.; DOBSON, K. S. A terapia cognitivo-comportamental baseada em evidências. Porto Alegre: Artmed, 2009. GREENBERGER, D.; PADESKY, C. A. A mente vencendo o humor: mude como você se sente, mudando o modo como você pensa. Porto Alegre: Artmed, 2016. KNAPP, P. Terapia cognitivo-comportamental na prática psiquiátrica. Porto Alegre: Artmed, 2009. WENZEL, A. Inovações em terapia cognitivo-comportamental: intervenções estratégicas para uma prática criativa. Porto Alegre: Artes Médicas, 2018. WRIGHT, J. H. et al. Terapia cognitivo-comportamental de alto rendimento para sessões breves: guia ilustrado. Porto Alegre: Artmed, 2012. 54 Sumário Apresentação da disciplina Avaliação inicial do paciente e primeira sessão Objetivos 1. Avaliação inicial: objetivos e estrutura 2. Primeira sessão: objetivos e estrutura Referências Sessões subsequentes em TCC e aliança terapêutica Objetivos 1. Sessões subsequentes: estruturação e objetivos 2. Psicoeducação 3. Empirismo colaborativo e aliança terapêutica Referências Técnicas Cognitivas e Técnicas Comportamentais Objetivos 1. Técnicas cognitivas 2. Técnicas comportamentais Referências Encerramento do processo terapêutico e prevenção da recaída Objetivos 1. Encerramento do processo terapêutico 2. Prevenção da recaída Referências