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<p>RESUMO DA UNIDADE Atuações terapêuticas na psicoterapia existencial constituem o foco dessa unidade. Quando se trata de psicoterapia existencial é necessário localizar a abordagem específica da área, por isso, nesse estudo foi utilizada a perspectiva de Jean Paul Sartre, delineando o sujeito enquanto consciência de si e na interação com o mundo. Esse sujeito é capaz de transcender a condição que lhe é dada. Para isso, o entendimento da atuação terapêutica faz a diferença no modo de e intervir com esse sujeito. As práticas na psicoterapia existencial consideram o fenômeno, sem reduzir o sujeito a psicopatologias que ele pode apresentar. Por esse viés está delineada a psicopatologia na visão existencialista, em seguida estão explicitadas a ansiedade, a depressão, e outras especificidades como luto, agressividade e vitimização, justamente por fazerem parte do cotidiano dos profissionais da Psicologia. A contextualização das atuações terapêuticas no cotidiano e na visão das diferentes práticas psicológicas direciona para a abrangência da perspectiva existencialista. Palavras-chave: Psicoterapia Sujeito Transcendência do Sujeito. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados - sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>SUMÁRIO RESUMO DA UNIDADE 1 SUMÁRIO 2 APRESENTAÇÃO DO MÓDULO 3 CAPÍTULO 1 - o ENFOQUE NA EXISTÊNCIA DO INDIVÍDUO 5 1.1 DELINEAMENTO DA PSICOTERAPIA EXISTENCIAL 5 1.2 PRESSUPOSTOS DA PSICOTERAPIA EXISTENCIAL BASEADOS NO PENSAMENTO SARTREANO 8 1.3 CONCEPÇÃO DO SUJEITO SARTREANO 12 1.4 DO QUE TRATA A PSICANÁLISE EXISTENCIAL 17 CAPÍTULO 2 - ATUAÇÃO EM PSICOPATOLOGIAS ESPECÍFICAS 22 2.1 DELINEAMENTO DA PSICOPATOLOGIA GERAL 22 2.2 ANSIEDADE 27 2.3 DEPRESSÃO 29 2.4 MANEJO DE SITUAÇÕES ESPECÍFICAS: LUTO, AGRESSIVIDADE E VITIMIZAÇÃO 32 2.4.1 Luto 32 2.4.2 Agressividade 33 2.4.3 Vitimização 35 CAPÍTULO 3 - PSICOTERAPIA EXISTENCIAL COMO INSTRUMENTO PARA DIMINUIÇÃO DA DISTÂNCIA OU DISSONÂNCIA ENTRE AS VISÕES 38 3.1 APRENDIZADOS DA PSICOTERAPIA EXISTENCIAL NO COTIDIANO 38 3.2 SITUAÇÃO CONCRETA COMO INSTRUMENTO PARA PROMOVER A REFLEXÃO SOBRE AS VISÕES DE MUNDO 41 3.3 GRUPOS COMO INSTRUMENTO PARA AMPLIAR AS VISÕES DE MUNDO 46 3.4 PSICOTERAPIA EXISTENCIAL TRANSCENDE A CLÍNICA: UM MODELO PARA OUTRAS ÁREAS DE ATUAÇÃO TERAPÊUTICA 51 REFERÊNCIAS 54 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados - sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>APRESENTAÇÃO DO MÓDULO Nesse módulo vamos estudar as possibilidades de atuações terapêuticas considerando o viés da psicoterapia existencial. Embora existam múltiplos autores voltados à fenomenologia existencial, foi escolhida a abordagem delineada por Jean Paul Sartre, juntamente com Simone de Beauvoir. Por esse referencial teórico prático contempla-se a vida cotidiana, passível de aplicabilidade em todos os contextos, não se reduzindo à prática clínica individual. Para que o estudo seja coerente com a proposta da psicoterapia existencial, é preciso considerar três aspectos apresentados a seguir. primeiro aspecto diz respeito ao desenvolvimento do sujeito, como se tornou sujeito, o aprendizado nos primeiros vínculos. A história contada pelo sujeito caracteriza a aproximação com o psicoterapeuta, a apropriação de sua história e o delineamento das possibilidades de ser. Em suma, o início é delineado a partir da experiência concreta do sujeito. Outro aspecto é a visão da psicopatologia. O ser humano apresenta sofrimento psíquico, e a intensidade desproporcional ao contexto indica a necessidade de cuidados profissionais elaborados. O sujeito não é depressivo, ele está depressivo, mesmo que esse estado seja prolongado. Diagnosticar o paciente faz parte de mapear suas condições psíquicas do momento, considerando o desenrolar de tal situação. Contudo, não significa rotulá-lo como se ele não fosse capaz de mudar sua condição. Compreendê-lo como transcendente significa considerar os recursos e auxiliá-lo a utilizar os recursos que já possui e aqueles que podem ser desenvolvidos, co-criados e adaptados no contexto terapêutico. A ansiedade e a depressão constituem quadros presentes no cotidiano das pessoas. Para tanto, foram didaticamente separadas nesse estudo. Sim, didaticamente, pois na prática profissional podem surgir em comportamentos do mesmo paciente. Estar atento às reações psicofísicas auxilia o psicólogo a fazer os encaminhamentos pertinentes. Há ocasiões em que os medicamentos são necessários, efetivar o diagnóstico diferencial favorece a atuação terapêutica concisa. O delineamento do fenômeno, e não da doença, direciona à precisão das características da situação. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados - sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>A escolha do luto, da agressividade, da vitimização, como elementos de estudo na unidade, seguiu os critérios de aparição no cotidiano profissional, repercussão prolongada na conduta do indivíduo, e possibilidade de agravamento do sofrimento Essas emoções podem ter consequências para as pessoas do círculo familiar, amizade e profissional. Para entendê-las como naturais e momentâneas é preciso averiguá-las enquanto fenômenos. Elucida-se como último aspecto a amplitude da fundamentação teórico-prática da psicoterapia existencial. olhar para o fenômeno, ouvir as histórias, aguardar a descrição dada pelo indivíduo, estabelecer relação dialética com as pessoas atendidas constituem o posicionamento do psicólogo, que pode ser utilizado em outras áreas. A atuação terapêutica não se reduz à clínica psicológica individual. conhecimento produzido com base na perspectiva sartreana fomenta a abertura da Psicologia para o coletivo. A estrutura deste módulo está dividida em três capítulos, utilizando a perspectiva teórico-prática, a fim de que a aprendizagem possa ser ampliada. Ao estudar é possível fazer associações com outros contextos, aplicando esse conhecimento na realidade vivenciada. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados - sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>CAPÍTULO 1 - o ENFOQUE NA EXISTÊNCIA DO INDIVÍDUO 1.1 DELINEAMENTO DA PSICOTERAPIA EXISTENCIAL A psicoterapia existencial é o nome genérico para modelos terapêuticos desenvolvidos a partir da influência da fenomenologia e do existencialismo (TEIXEIRA, 2006). É o conjunto de práticas estruturadas a partir do pensamento de Edmund Husserl, Martin Heidegger, Sören Kierkegaard, Friedrich Nietzsche. Pode ser que o profissional da psicologia não identifique no seu aprendizado os autores citados, pois são práticas há muito tempo difundidas. Quando citamos Jean Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Albert Camus localizamos um pouco melhor a psicoterapia existencial como é conhecida atualmente. Carl Rogers, Rollo May e Abraham Maslow também podem ser considerados difusores da psicoterapia existencial humanista. Nessa disciplina especificaremos os pensamentos e práticas estruturadas por Jean Paul Sartre. Sartre utilizou o nome psicanálise existencial. No seu livro "O Ser e o Nada" ele faz distinções entre a psicanálise freudiana, que ele denomina empírica, e a psicanálise existencial protagonizada por suas teorias, análises biográficas e literatura. Nesse curso, utilizaremos a denominação psicoterapia existencial, pois estamos nos referindo à teoria e à prática terapêutica. Localizamos que práticas psicoterapêuticas, nesse contexto, são entendidas como aquelas que tratam do e da intrasubjetividade. Enquanto que a prática terapêutica abrange o e a intersubjetividade. Entende-se, portanto, que práticas terapêuticas se ampliam para áreas além da clínica psicológica. Quando o profissional da psicologia atende empresas, muito provavelmente ele atuará terapeuticamente, nas relações intersubjetivas, direcionando para o papel profissional. Situações traumatizantes, manejo das memórias infantis relacionadas a abusos e violências diversas são de ordem No decorrer dos nossos estudos, nessa disciplina, utilizamos psicoterapêuticos e terapêuticos como sinônimos. Contudo, você pode encontrar a diferenciação dos termos na sua atuação profissional. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>Um aspecto que permeia qualquer prática psicoterapêutica e terapêutica é o vínculo entre terapeuta e cliente, ou entre o profissional da psicologia e os participantes de grupos psicoterapêuticos. Quanto a atuação terapêutica estiver relacionada às práticas em empresas públicas ou privadas, hospitais, ao ambiente forense, também há o vínculo, nesses casos mais abrangentes que nas relações duais ou grupais no espaço privativo do consultório. Os vínculos estabelecidos com o profissional da psicologia são norteadores da atuação terapêutica, no sentido que é essa confiança é favorecedora das transformações das pessoas atendidas. É o psicólogo, independente da abordagem, que deve ser o principal desse Zelar por essa relação é conseguir entender os limites de sua atuação, a condição humana dos envolvidos, conhecer suas próprias fragilidades e seus pontos de tensão. Esse é um dos motivos indicadores para o psicólogo estar inserido em processo psicoterapêutico. O tripé psicoterapia, supervisão e conhecimento técnico fornece subsídios para a atuação profícua do psicólogo. O conhecimento técnico inclui a observação do código de ética e demais resoluções pertinentes à área. As especificidades das técnicas e abordagens utilizadas são fundamentais no trabalho do psicólogo, todavia precisam estar em consonância com o Código de Ética, e as resoluções pertinentes. Para embasar nosso aprendizado vamos utilizar um exemplo corriqueiro: quando não se estabeleceu vínculo de confiança entre o cliente e o profissional, e o cliente busca outro profissional, é estabelecido no Código de Ética que o psicólogo disponibilize a documentação e as anotações feitas para o novo profissional. Situações semelhantes ocorrem em Postos de Saúde, o paciente precisa estar à vontade para buscar outro psicólogo. Tende a ser uma frustração para os profissionais, que normalmente se sentem impotentes, e há ainda aqueles que tentam, a qualquer custo, manter o cliente pelo benefício pecuniário. enfoque na existência do indivíduo favorece o entendimento da psicoterapia existencial quanto às fragilidades humanas, que também se expressam nos contextos terapêuticos e psicoterapêuticos. Contudo, não estão isentos de deslizes, a necessidade de estar atento ao Código de Ética. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados - sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>Cabe aqui delinear a psicoterapia existencial de base sartreana, onde Schneider (2006, p. 287) elucida: "Sartre traz a dialética definitivamente para o corpo da psicologia, sem perder de vista a subjetividade e o sujeito. Dessa forma, na psicologia existencialista, a noção de doença não tem lugar". Na perspectiva existencialista há o sofrimento psíquico, o sujeito não é a sua doença. Ele está em sofrimento pelo conjunto de situações concretas e imaginárias, mas isso não subtrai sua capacidade de transcender sua condição. Trata-se de compreender os fenômenos psicológicos. Vamos utilizar como exemplo um sujeito em estado deprimido profundo. É preciso analisar com a pessoa seus sentimentos, quais momentos ela identifica que sofre mais, quando ela percebeu os sintomas a que se refere. mapeamento dialógico favorece a apropriação desse sofrimento por parte do sujeito. Ele assume um posicionamento ativo diante de sua vida. Ao se apropriar ele terá outras experiências em relação a sua vida pregressa, dando outro significado para os acontecimentos. sujeito assimilará quais escolhas ele fez, em quais condições ele estava para escolher, o que pode fazer a partir das situações que vivenciou. É comum as pessoas chegarem no consultório psicológico afirmando que não sofreram nada para estarem com depressão, por exemplo. Estão se referindo a eventos reconhecidamente traumáticos como acidente demissão, doenças terminais, perda de pessoas queridas. Mas, precisamos pensar nas experiências de sofrimento dela, quais os episódios difíceis de sua vida pessoal, familiar, profissional, social. Averiguar esses aspectos é o caminho dito fenomenológico existencial sartreano. Sobre o sofrimento psíquico Schneider (2006) faz referência às forças sociológicas na dinâmica psicológica como aspectos que produzem atração e repulsão em certas situações. Em outras palavras, as convenções sociais, a necessidade de se manter em determinado ofício para manter a família, o cumprimento de expectativas próprias ou familiares contribuem para o sofrimento do sujeito. Entender e se apropriar do conjunto das experiências, dar respostas 1 Grifo da autora. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>autênticas constitui um dos benefícios da atuação terapêutica com base existencialista. 1.2 PRESSUPOSTOS DA PSICOTERAPIA EXISTENCIAL BASEADOS NO PENSAMENTO SARTREANO Para delinear os pressupostos, analisaremos como o sujeito é entendido na perspectiva sartreana, à luz das autoras Kátia Maheirie e Zuleica Pretto: sujeito se constitui a partir das relações e, consequentemente, das mediações que estabelece com o mundo. Situado num contexto histórico específico, o sujeito está em meio a conflitos, contradições, negações, afirmações e superações, as quais estão impressas nas suas ações cotidianas mediadas pela história que se dá num movimento dialético o movimento singular/universal. Isto é, o homem, em seu sentido genérico, se faz um sujeito singular/original, já que pode se fazer diferente do que a história fez dele, e se faz, ao mesmo tempo, um sujeito universal, já que contém a história da humanidade em si, e se encontra aberto a uma diversidade de possibilidades em curso (MAHEIRIE e PRETTO, 2007, p.456). Quando bebês, precisamos do acolhimento e cuidados maternos incondicionais. pai, os as demais crianças da casa também passam a fazer parte do mundo do recém-nascido. Se houver a necessidade de estar em instituições como creches ou de educação infantil, há mais essa experiência. Pessoas se tornam importantes para o bebê e para a criança. E assim, estabelecendo relações de pequenas brincadeiras com outras crianças, filhos de amigos dos pais, crianças vizinhas ou parentes que fazem parte do círculo de movimentação da criança. Nas relações aparentemente sem importância, como ao brincar com outras crianças, também estamos apreendendo o mundo, por pequenas disputas de brinquedos, vontade de querer brincar mais e a limitação para brincar, seja pela determinação de um adulto, pela indiferença ou abandono da outra criança, ou ainda pelo desejo de obter o brinquedo para si. Encontramos os conflitos e as negações, e os pais nos auxiliam a entender a situação, seja explicitando ou direcionando ações. Quando os pais resolvem que não irão possibilitar momentos com outras crianças para evitar brigas, estão restringindo o convívio. Não está em discussão aqui se está certo ou errado. A mediação dos pais ou de quem está convivendo com Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>a criança possibilita o aprendizado de comportamentos, e também de valores, hábitos, normas, preconceitos. As autoras se referiram ao contexto histórico, o que significa? Situações específicas do contexto do sujeito, qual é a sua história, como se entrelaça com as histórias de pessoas com quem convive, seja na família ou no meio social. Há também o contexto macro, a história das comunidades a que pertence, do município, do estado e do país. As diversidades de movimentos fazem parte do seu contexto histórico e o constituem como sujeito. Outro aspecto que quase passa despercebido é o tempo em que se está vivendo, seja em nível de Brasil ou do mundo. As guerras, os surtos de gripe, sarampo, as violências diversas, a necessidade de consumo, são aspectos que permeiam o imaginário e fazem parte da constituição do sujeito e de seu contexto histórico. Esses acontecimentos a nível macro tornam-se objeto da consciência para o indivíduo. E é nas relações, nos grupos a que pertence que passa a ter um significado. Para ilustrar citamos o caso de um adolescente que considera a internet inofensiva, na questão de assédio sexual para meninos. Nas atividades na hora do intervalo, ou no jogo de futebol, alguém conta algo aleatório que o toca profundamente. Não aconteceu com alguém do bairro, nem da cidade. Houve a notícia nas mídias sociais que um adolescente da idade deles foi assediado e perseguido, culminando em sua morte. Essa situação passou a existir para o adolescente em questão quando se fez presente para a sua consciência, por meio da emoção desencadeada. Assim, o ocorrido com um adolescente sem vínculo direto com ele, fez parte de sua integração. É como se fosse com ele, ou poderia ter ocorrido com ele. IMPORTANTE! O sujeito se constitui nas relações e pelas relações, permeadas pela sua história de vida, pelo seu imaginário, por histórias que lhe são contadas. Para Schneider (2011, p. 113): "Só há mundo porque o homem transcende aquilo que está "dado" e estabelece significações, ordenamentos; organiza, com Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados - sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>isso, a realidade, tornando-a humana". Em seus múltiplos grupos que o sujeito dá um sentido para o mundo, organizando-o e ajudando a construir uma sociedade que tenha sentido. As parcerias para um projeto simples, como estruturar a rua do condomínio onde residem, constituem os exemplos de movimentos que dão sentido para o sujeito, e ele passa a ter sentido para os demais. projeto não é somente para o indivíduo X, é dos dois e para todos que moram no condomínio. Há tantos entrelaçamentos que podem surgir da união desses dois vizinhos, como autoconfiança, autoestima, sentimento de pertencimento, conscientização de cuidados com os fios da energia elétrica, entre outros. Esse engajamento direciona a percepção de outras melhorias, e outros ficam interessados em agregar, mesmo criticando em um primeiro momento. A sua singularidade está sendo construída por essas mediações com os outros. Ele se torna sujeito com os outros. Não é possível pensar na singularidade isolada, à medida que se faz singular tem como base a universalidade, no que pode ser comum para outras pessoas. Vamos utilizar como exemplo para refletir, o caso de um doutorando que necessita concluir a Tese de Doutorado em meio à pandemia. Essa situação é vivida por um sujeito específico, e muito provavelmente é semelhante à de outras tantas pessoas. As especificidades da situação/conflito são daquele sujeito, mas a questão total abrange outras pessoas. Vamos analisar o exemplo de uma pessoa da religião umbanda, noiva de um rapaz da religião católica ortodoxa. Quando seu noivo percebeu a prática da religião pelos futuros sogros, rompeu o noivado. Esse rompimento dificultou a aceitação de si mesma e de seus pais por muito tempo. Ela precisou compreender a si mesma, assumir suas singularidades no universo de sua família. Observar suas outras experiências de vida, seus papéis desempenhados e a receptividade na rede de amigos, entre colegas do ensino superior, e entre seus pares no atletismo. Não cabe aqui definirmos se é correto ou incorreto o que o noivo fez. No contexto familiar, muito provavelmente, ele aprendeu a religião católica como verdade em si. E ao observar o desconhecido, no caso da umbanda, optou por romper o noivado. referencial do noivo foi a família, nos seus aspectos culturais (costumes, valores, crenças) e afetivos (para não decepcionar os pais com sua Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>escolha, e nem ser excluído do convívio familiar). Ele resolveu o conflito de forma a preservar sua família, algo que parece prioridade para ele. Contudo, podemos pensar em um indivíduo que desconhece seus valores, ou está inseguro em relação aos seus valores. Vamos utilizar o exemplo de uma moça de 22 anos, recém-formada em medicina, com carreira promissora e também com intenso desejo de constituir família. No seu grupo familiar é instigada a galgar o sucesso profissional, por meio da continuação dos estudos, e também com a possibilidade de casar-se com alguém dos mesmos níveis intelectual e socioeconômico. FIQUE LIGADO! Ao se apropriar dos vínculos, o sujeito está também se apropriando de valores e costumes. O processo psicoterapêutico favorece a tomada de consciência desses vínculos Por outro lado, seus amigos próximos promovem incentivos para a diversão coletiva, como um prolongamento da graduação. Em uma das baladas ela conhece um jovem de idade semelhante e aparentemente gostos compatíveis. Três semanas depois ela percebe que não apreciam as mesmas coisas, e nem têm as mesmas preferências. Ela queria sair para socializar e ele se recusa, explicitando pela primeira vez sobre sua religião. Encontramos nesse exemplo contradições de ambas as partes, e também negações. Ela não buscou conhecê-lo, provavelmente afugentou os sinais dados por ele, pois o objetivo dela era casar. Ele por sua vez, se dizia praticante de determinada religião que não permite consumo de álcool e diversões em casas noturnas. Eles se conheceram em um local para dançar e com disponibilidade de diversas bebidas alcoólicas. Os interesses da família e dos amigos se mesclam a sua singularidade, e ela não consegue perceber esse relacionamento na totalidade. jovem está comprometido com a sua família e sua religião e, quis experienciar a vida noturna, o que é proibido. Encontra-se a negação de uma parte Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>de si mesmo, que lhe é singular, não pertence aos hábitos, costumes, valores e crenças familiares e nem de sua religião. A profissional recém-formada tem seu ideal de vida, parece almejar a vida social, conquistou status confirmado socialmente. O casamento complementaria esse status. Parece não reconhecer ainda sua singularidade em razão do que é esperado dela. Existem padrões, expectativas sociais e universais para nós, e temos o que se tornou importante para nós. Lidar com o eu, eu com os outros, e eu com os outros imaginários significa estar em conflito. Nesse contexto, está a psicoterapia existencial para promover a reflexão do estar no mundo, do singular e universal, transformando o que fizeram de nós. 1.3 CONCEPÇÃO DO SUJEITO SARTREANO sujeito em Sartre é da ordem das relações, se constitui nas e pelas relações. Não há como entender o homem isolado do seu contexto, e nem o determinar ou classificá-lo como acontece com espécies animais e vegetais. Cabe aqui a definição de sujeito explicitada brevemente por Vaccaro, "numa perspectiva existencial sartreana o sujeito é concebido como corpo (objetividade) e consciência (subjetividade), não podendo ser reduzido a nenhuma destas dimensões" (VACCARO, 2013, p, 8). O corpo é mediação da relação com as pessoas e com as situações. Quando se dá conta de si, está desenvolvendo sua consciência, sua subjetividade. Responsável por suas escolhas, livre para suas escolhas, ativo, criativo, ao invés de passivo e cheio de lamúrias, em linhas gerais, essa é a lógica predominante no pensamento sartreano. Não se trata de acreditar ou não em Deus. Essa não é uma questão da ciência, trata-se de o homem entender que ele desenvolve capacidades, habilidades, recursos por meio de seu corpo para lidar com as situações. Ao nascer somos nada, não há determinismo, vamos nos constituindo nas relações iniciais, damos respostas a esses estímulos, as pessoas a nossa volta respondem, e assim segue nas atividades escolares, de trabalho e em demais Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados - sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>grupos de convívio. É desta forma que todos somos constituídos. Acontecem de termos diferenças estruturais biológicas, como exemplo, a surdez, continuamos sendo sujeitos constituídos pelas relações que englobam essa característica. Algumas pessoas ficam estagnadas ao se depararem com uma criança surda. Os pais normalmente procuram recursos para que o filho tenha a audição. Todas as ações repercutem na criança, eliciando algumas respostas evocadas por sentimentos momentâneos e por respostas mais elaboradas, que com o tempo podem se tornar repetitivas e padronizadas. Independente das singularidades apresentadas às outras pessoas terão reações a elas, e nós teremos reações em relação às pessoas, produzindo mudanças na nossa constituição como sujeito. É inconcebível na visão sartreana e, por consequência, na psicoterapia existencial, determinar os sentimentos e as habilidades do indivíduo. As doenças, síndromes, transtornos de ordens diversas influenciam, mas não determinam a singularidade do sujeito. Ao profissional da psicologia, cabe averiguar, mapear o sentido da vida, as perspectivas desse sujeito, a partir das vivências dele. Para respaldar essas afirmações cabe citar Schneider (2011, p. 113): homem, antes de qualquer coisa, está inserido em um processo de relações, como já vimos. A condição para a ocorrência desse fenômeno é o fato de o homem ser, inelutavelmente, corpo /consciência. corpo é o seu primeiro contato com o mundo, a consciência é a sua condição de estabelecer relações. Dessa forma, o sujeito é um conjunto de relações: com a materialidade, com seu corpo, com os outros, com a sociedade, com o tempo. O sentido da vida está intrinsecamente relacionado à imagem que tem do seu corpo, do contato consigo mesmo, a imagem que teve de si próprio na infância, na adolescência, na vida adulta, e o que espera do futuro. As relações familiares, escolares, de amizades, afetivas, amorosas e profissionais constituem a materialidade da sua consciência, lhe conferindo o sentido para estar no mundo. Mediado pelas relações, o sujeito tem consciência de si próprio pelas reações psicofísicas. bebê gradativamente percebe seu corpo, e nota que consegue fazer movimentos, tentando outros e mais outros. Logo sente reações diante de algo inesperado, não tem discernimento para descrevê-las. Essas reações passam a existir para a sua consciência. Ele não consegue mas as sente. E assim Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>surgirão situações mais complexas que o sujeito sente, e pode não se apropriar delas na totalidade da sua consciência. IMPORTANTE! Estabelecer vínculo de confiança com o cliente é condição para o profissional da psicologia para atingir resultados profícuos no processo terapêutico. Para esclarecer sobre a visão de sujeito em Sartre, novamente abrimos mão da afirmação de Vaccaro (2014): "Dizer que o nada é o fundamento da realidade humana significa que o homem nasce como uma total indeterminação e, por isso, deve construir-se sem nenhuma referência sobre a qual possa se apoiar" (VACCARO, 2014, p. 25). Nós nos desenvolvemos nas primeiras relações, inicialmente sentindo o carinho, o afeto materno, e aos poucos sendo acolhido pelas outras pessoas próximas da casa. A relação mãe e bebê já começa no ventre materno. Quando essa relação é hostil e raivosa, o bebê irá sentir. Essa é sua primeira experiência com o mundo, por meio da genitora. A forma em que está constituído o ambiente ao nascer, os cuidados que terá, que vão produzindo sensações. Sartre nos diz no conjunto de sua obra que não são fatos isolados que nos constituem enquanto sujeito, mas o conjunto de fatos, incluindo percepções, sensações, memórias. Por essa perspectiva, Pretto e Langaro (2012) afirmam que a criança é lançada ao espaço social, que já está permeado pelas relações e expectativas em relação a ela. Pretto e Langaro (2012) também enfatizam que a maneira da gestante e pessoas próximas a ela experienciarem a gravidez cria um delineamento inicial para o desenvolvimento do processo de subjetivação / objetivação do bebê. Ressalta-se que esse delineamento é dinâmico, pois as relações se imbricam mutuamente e transformam-se. Vamos supor que a criança é rejeitada pelos pais, pode ser aceita pelos tios, irmãos, enfim, pessoas próximas, que se tornam vínculos importantes para ela. medida que cresce, outras pessoas fazem parte de seu mundo, que podem cuidar dela, acolhê-la. Temos aqui a importância dos professores, da escola para a Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>constituição desse sujeito. a importância de termos profissionais preparados no ambiente escolar, e que a dinâmica escolar também seja acolhedora, dando afeto, carinho, interessando-se pelas crianças. É importante considerar que a constituição do sujeito é contínua, não se restringe ao período escolar. sujeito não é mero receptador de informações, regras, normas, ele responde ao que lhe é dito ou feito, além de pensar e observar. Pode ser que no momento em que lhe é noticiado ou imposto comportamentos sua reação seja passiva, ou pode ser que escolha não demonstrar sua reação. sujeito da psicoterapia existencial é ativo, capaz de transformar o meio, também de ser influenciado pelas pessoas, grupos a que pertence, refletindo e se transformando pelo meio. É uma construção interativa entre meio e sujeito. Estamos nos referindo ao modo como o existente se torna ser humano, não quer dizer que ele está consciente desse processo de constituição. Essa tomada de consciência é função da psicoterapia. Na psicoterapia existencial um dos caminhos propostos por Sartre é o Método Progressivo- Regressivo. Em linhas gerais, consiste em partir do presente, verificar as situações do passado que o incomodam hoje, formulando seu projeto de ser. O cliente descreve o cenário em que ele foi constituído, o que acontecia no contexto macro (nível de mundo, país, estado, município, comunidade), no seu contexto social (grupos em que participa, os amigos, o trabalho), familiar e individual (seus medos, imaginações, frustrações, confirmações). Esse delineamento favorece a apropriação de sua história e da história de suas escolhas. A título de exemplo, um indivíduo que está desempregado, frustrado e deprimido, ao se contextualizar ao longo de sua vida talvez possa perceber que ele tem recursos para lidar com situações novas que se apresentam. Na época que ele iniciou sua vida profissional era necessário se estabelecer em uma empresa, fazendo carreira, e assim ele o fez. Aconteceram importações da China e processo produtivo se adequou, investindo mais em máquinas, minimizando os custos finais do produto. A operação das máquinas é programada por computadores. No âmbito mundial, de país e da sua empresa, mudou o cenário econômico e outras estratégias precisavam ser Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>utilizadas. Uma ou duas pessoas com conhecimento em programação passaram a operar o conjunto de máquinas. Nosso personagem pode encontrar outro cenário, não se trata de incompetência, se trata de mudança de ordem econômica e estratégica. Diante dessa conjuntura o que nosso personagem almeja fazer? De que modo se lançará para o futuro? Quais são seus projetos? Esse projeto pode ser construído na psicoterapia, é uma ação conjunta com o psicoterapeuta existencial. Observando, analisando suas experiências de vida, ele pode se projetar para o futuro. Definição clara e concisa sobre o método progressivo-regressivo, escrita por Schneider (2006, p.108): Deve situar os aspectos antropológicos (época, cultura, nível social, etc.), que definem os contornos de ser de um sujeito concreto, reenviando- os ao mesmo tempo, à sua rede sociológica, bem como à sua subjetividade, a fim de se compreender a apropriação peculiar desses aspectos mais universais. A expressão da pessoa em gestos, atos, palavras, obras, devem ter, assim, sua dimensão subjetiva e objetiva. sujeito é um singular/universal, pois ao mesmo tempo em que é idiossincrático, ele é resultante de seu tempo, de sua cultura e, portanto, uma ponte para compreendê-los. Nessa perspectiva, o sujeito não é culpado por estar desempregado. Deprimido, desempregado, constitui seu estado, não seu ser. Ele tem potencial criativo para lidar com essas situações, precisa da mediação de profissional da psicologia, e quem sabe da psiquiatria se seu estado deprimido se prolongar e desencadear reações psicofísicas. nosso personagem pode analisar, comparar seu estado atual com seu estado anterior, mapear os papéis desempenhados para encontrar modelos de respostas possíveis. Observar referenciais de outras pessoas de seu grupo social, e enriquecer seu repertório de respostas. Aprender novos ofícios, utilizar seus hobbies, fazer curso técnico. Ele é considerado sujeito ativo, partimos dele para a construção, ou melhor construção do seu novo projeto de ser. Esse projeto será lapidado, como um artista ao fazer sua obra. Até então ele estava desenvolvendo seu projeto de galgar níveis mais altos na empresa. contexto do seu projeto se dissipou. Ele foi tomado de sobressalto pela sua demissão. Pode-se dizer que não percebeu os sinais, estava repetindo sua dinâmica sem tomar consciência dos acontecimentos ao seu redor. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>Na psicoterapia existencial ele pode tomar consciência do que aconteceu com o objetivo de se lançar para o futuro, fazendo diferente no presente. Não se trata de se lamentar, e nem de ser alvo de reprimendas. Não há uma causa, houve um conjunto de situações que culminou em determinada resolução. ATENÇÃO! O ser humano está em formação contínua até sua morte. Situações cotidianas simples podem impactar as pessoas, criando diferentes configurações. 1.4 DO QUE TRATA A PSICANÁLISE EXISTENCIAL Nós psicólogos conhecemos os conceitos gerais de indivíduo, infante, adolescente, adulto, idoso, emoção, cognição, relações familiares, relações profissionais e sociais. A infância vivenciada pelo Beto é singular, constituiu-se por aspectos antropológicos e específicos. Dentre as especificidades citamos a família do Beto, as lembranças das brincadeiras, obrigações, frustrações e o significado atribuído por nosso personagem. Sartre (2011) postula que a psicoterapia/psicanálise existencial é transcendente, parte do próprio sujeito. Não há desejo a priori, não tem conteúdo como estrutura mental determinada. As lembranças da infância podem ser ressignificadas de modo mais saudável, se for pertinente ao sujeito. Nesse modelo de psicoterapia partimos da descrição feita pelo Beto. Vamos entender junto com ele a relação concreta que ele teve com sua infância, se essa for sua questão. Do que o Beto precisa hoje para sua existência? Quais são seus conflitos? Ou ainda sobre o que ele quer pensar, analisar, desenvolver? Quais aspectos que ele quer conhecer? Pesquisaremos com ele. A busca por psicoterapia ou por um profissional da psicologia versa sobre a promoção da saúde, para objetivos específicos e breves, por curiosidade, para avaliação, diagnóstico ou protocolo médico. São tantos motivos incentivadores da psicoterapia no seu contorno. Sartre (2011, p. 682), ao fazer referência à psicanálise existencial, nos responde sobre os motivos da psicoterapia quando afirma: "A consciência é, por princípio, consciência de alguma coisa". Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados - sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>Há expectativas do sujeito ao se direcionar para psicoterapia, há um conjunto de motivos, há sentimentos, emoções que ele passará a se dar conta ao experienciar refletir sobre os fenômenos de sua vida. Nosso personagem Beto, por exemplo, entrará em contato com contextos e subtextos de sua existência pela mediação do profissional da psicologia. Ele terá mais subsídios para direcionar suas escolhas, priorizar as possibilidades. Situações antes despercebidas serão notadas por ele. O objeto existe quando temos consciência dele. É comum ouvirmos a frase "eu preferia não saber", ou outras com o mesmo sentido, denotando que seria melhor não tomar consciência. Quando nos deparamos com algo desconhecido ampliamos nossas perspectivas, nos conduzindo para escolhas, tomada de decisões, frustrações, anseios, medos. Estas afirmações encontram respaldo em Schneider (2020, p. 27): A liberdade não diz respeito ao plano moral, de escolhas dicotômicas como o que é certo ou errado, mas sim a escolha de ser, por isso do plano ontológico. Portanto, ser livre não significa vulgarmente obter o que se quer, mas sim determinar-se a querer, diz respeito ao caminho, à construção até o que se quer. que nos leva a uma diferenciação: liberdade de escolher é diferente de liberdade de obter. Percebe-se que escolher é um ônus e um bônus do ser humano, porém muitas vezes experimentamo-nos psicologicamente determinados, como se forças predeterminadas nos dominassem e decidissem nossa trajetória. A consciência, então, está relacionada à escolha. medida que o sujeito toma consciência, se apropria de sua história, das emoções presentes, ele terá mais subsídios para escolher. Submeter-se a algo ou alguém, sem dar-se conta dessa submissão, é diferente de optar pela submissão, pois precisa sustentar-se e não tem outro meio. A tomada de consciência o lança para o futuro, ele poderá se organizar de modo mais satisfatório para si próprio. Vamos supor que o nosso personagem Beto tome conhecimento do autoritarismo exercido nas relações interpessoais no trabalho. A consciência dessa dinâmica não está baseada em fato único, mas em uma série de evidências entendida por ele como autoritarismo. Ele pode elaborar e refletir sobre essa questão em psicoterapia ou utilizar outros meios que o satisfaçam, encontrando seu ponto de equilibrio. Se ele fizer psicoterapia existencial/psicanálise existencial o psicólogo mapeará com ele os fatos, por meio da descrição detalhada de seus sentimentos, Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>percepções, reações psicofísicas. Ele se apropriará de si mesmo, de sua essência, de suas verdades. Sobre isso, Augras (1986) afirma que a descrição do mundo do cliente, e da realidade atual precisa estar apoiada na sua totalidade. Em outras palavras a autora afirma que o cliente precisa fazer uma configuração para si sobre os temas presentes para ele. Se você está pensando no termo cunhado pela Gestalt-Terapia, "fechar a Gestalt", você acertou, é esse o sentido. Ele elabora, define, configura, dá uma forma àquela inquietação presentificada. Ao contar sua história, descrevendo-a para o psicólogo, o indivíduo ressignificará suas emoções em relação ao evento. Nessa relação com o outro, que interage com ele, fazendo mediações, possibilitando um espaço dialógico, o cliente toma consciência de si e transcende. Transcender é ir além do que lhe é dado nas vivências, é criar, moldando, adaptando e fazendo arranjos. Outro aspecto na psicoterapia existencial é que a relação com o terapeuta já significa experienciar comportamentos. Por vezes, o psicoterapeuta pode ter a função de espelho, a fim de que o cliente vivencie, em um local protegido, a repercussão do seu conjunto de respostas. Em outras oportunidades, o psicólogo pode interpolar resistências, colocando empecilhos para o sujeito. espaço psicoterapêutico é local para ensaiar respostas e possibilidades de ser. Nesse modelo de psicoterapia, o psicólogo não busca as causas determinantes da demanda apresentada pelo cliente. Entende-se que não há uma causa, e nem a díade causa e efeito. Vamos utilizar, mais uma vez, Beto como nosso exemplo. Beto gosta de teatro, pratica musculação, corre aos finais de semana, é amante de vinho e café, além de suas obrigações laborais, familiares e conjugais. que Beto entende tudo sobre vinhos, não é expressão de sua totalidade, pois ele é muito mais que isso. Vamos utilizar a característica amante de vinhos e café, ele tem o desejo de conhecer e experimentar esses dois tipos de bebidas, suscitando a busca por lugares para comprar o vinho, viajar para conhecer vinícolas, conhecer pessoas e fazer parte de grupos que gostem de vinho e que também pesquisem sobre vinhos. Ele está inscrito em canais no Youtube, assiste filmes e séries documentais sobre vinhos, segue pessoas e empresas nas redes sociais relacionadas a vinhos. Mas, Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>também ele avalia os momentos para viajar e conhecer sobre vinho, considerando o bem-estar da família e os compromissos na sua empresa. projeto de vida de Beto transcende suas incursões pelo mundo do vinho e do café. Ele faz outras coisas, tem outros papéis. Quando ele nos descreve sua relação com o vinho, também está falando de si e da sua relação com o mundo. Qual sentido tem o vinho na vida dele? Qual é a relação do vinho e o seu bem-estar, ou seu ânimo para o trabalho? Essas e outras perguntas possibilitam entender os projetos concretos dele, que compõem as expressões de seu projeto de ser. No capítulo Psicanálise Existencial integrante do livro "O Ser e o Nada", Sartre aborda teoria e prática da psicologia, instrumentalizando os profissionais por meio da análise de biografias. Para tanto, é preciso uma análise descritiva da vida do sujeito para fazer psicoterapia existencial. Esse descrever de que se refere Sartre pode ser aplicado em práticas diversas da psicologia. A análise descritiva da empresa é uma forma de mapear a dinâmica da pessoa jurídica, por meio das versões das pessoas. modo de organização burocrática, a sistematização dos procedimentos também constitui a biografia da empresa. É uma forma de utilizar o método sartreano em organizações. Outro modo possível é fazer essa análise descritiva já nas entrevistas de seleção. É dada aos entrevistados a oportunidade de descreverem situações de trabalho anteriores. Seria a biografia do papel profissional. O sujeito falará dele, possibilitando que se perceba nas situações. Essa percepção amplia a visão das potencialidades do entrevistado. O psicólogo existencial estabelece relação dialógica, auxiliando o indivíduo a refletir sobre as descrições feitas, fazendo contrapostos com o emprego que pleiteia. Observando a psicoterapia existencial na sua totalidade, seja pelo conjunto de suas práticas, seja pela visão de homem, encontramos um método que dispõe de plasticidade. Plasticidade para ser adaptado a diferentes áreas de atuação, conforme referência feita às entrevistas de seleção. Partir do fenômeno, ou seja, do sujeito contribui para a plasticidade do método. Nesse modelo é possível desenvolver as pessoas para que confiem em si mesma, a partir dos recursos que já Ao contar as suas histórias e revê-las Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>fortalece seus valores, seus referenciais, considerando-se como pessoa, e sendo capaz de se autoavaliar nas situações. Ao se autoavaliar, se tem como referencial o antes e depois, os seus valores, não os dos outros, e nem os transitórios. A autoconfiança é uma necessidade psicológica que tende a ser buscada externamente na aquisição de bens materiais, por exemplo. Quando nos referimos à atuação terapêutica de base existencial sartreana pressupõe-se a investigação com o sujeito. A plasticidade citada acima somente tem sentido a partir da pessoa envolvida. entendimento mais integrador, encontramos em Schneider (2020, p. 29): Com este exaustivo e complexo processo de investigação, evidencia-se como o sujeito se constituiu, com aquele cogito e aquela dinâmica psicológica, e o psicólogo trabalha para que o sujeito adote uma consciência de segundo grau frente ao seu saber-de-ser, do modo como se constituiu. Deve ficar evidente ao paciente como ocorrem as suas experimentações, quais os gatilhos que desencadeiam as suas afetações, a atmosfera que é experimentada e o futuro que se impõem, em termos psicológicos. Somente após o compreendido quem se sabe sendo e como, é que o sujeito a possibilidade de se situar dentre de variáveis antropológicas e sociológicas implicadas neste saber-de-ser e, assim, superar a dinâmica psicológica inviabilizadora. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados - sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>CAPÍTULO 2 - ATUAÇÃO EM PSICOPATOLOGIAS ESPECÍFICAS 2.1 DELINEAMENTO DA PSICOPATOLOGIA GERAL Para falarmos da atuação em psicopatologias específicas, vamos entender um pouco sobre os conceitos de saúde e doença, normal e patológico. Giombelli (2003) pontua que os profissionais da saúde mental, nas áreas específicas de psiquiatria e psicologia, direcionam seus esforços para identificar os sinais e sintomas presentes nos pacientes, a fim de indicar o tratamento apropriado. Neste sentido, estamos pressupondo que as pessoas que buscam por atendimentos psicológicos e psiquiátricos estão mentalmente doentes. E se pensássemos que elas querem manter a saúde psíquica, semelhante à saúde física? Sim, é comum consultarmos médicos, dentistas para mantermos a saúde. Tem sido grande a procura por educadores físicos, fisioterapeutas e nutricionistas para manter e aprimorar a saúde. A pessoa quer conhecer um pouco mais sobre suas condições físicas, biológicas, bioquímicas para organizar sua vida e seus hábitos. Já vimos no capítulo 1 que é preciso compreender o homem em seus contextos social, histórico e cultural, no macrossistema e no microssistema. Assim, para definir se alguém está doente mentalmente, precisamos mapear a realidade concreta do sujeito. Por exemplo, estamos passando por uma pandemia, o convívio social precisou ser interrompido abruptamente. Muitas pessoas adoeceram psiquicamente, precisamos considerar o fenômeno pandêmico ao fazer o mapeamento e as intervenções. As pessoas podem adoecer psiquicamente por toda a condição relacionada a traumas, abusos, frustrações. Contudo, pode- se dizer que o contexto social específico vivenciado favorece a apresentação de um quadro deprimido, ideação suicida, ansiedade generalizada, transtorno de pânico, entre outros. Nesse sentido, a necessidade de suprir as expectativas pessoais e sociais leva a pessoa a suportar pressões extremas para manter o status e ser aceita. Pelo exercício profissional o sujeito se reconhece e é reconhecido, sendo constantemente reforçador para o indivíduo e, assim, ele cede a muitas pressões. Produtividade e Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados - sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>competividade constituem dois de muitos aspectos que podem exercer pressão sobre as pessoas e ocasionar sofrimento psicológico intenso. trabalho sempre abrange relações interpessoais, seja com clientes, fornecedores, colegas ou chefias, e suas dinâmicas específicas de poder. Se a organização do trabalho está adoecida, muito provavelmente, algumas pessoas também adoeceram. exercício autoritário do poder nas relações de trabalho conduz à desconfiança, insegurança e baixa autoestima do funcionário. As pessoas também adoecem em decorrência de suas relações profissionais. A autonomia nos processos de trabalho, seja no ambiente organizacional ou para profissionais liberais, favorece a saúde laboral. Para entender o sofrimento psíquico é necessário entender a história do sujeito que passa pelo seu ofício. Na perspectiva da psicoterapia existencial sartreana é possível adentrar pela psicopatologia com base em Karl Jaspers. Schneider afirma: existencialista vai compreender a psicopatologia a partir do núcleo de vida e da história concreta do sujeito. Ela é uma perturbação, sempre psicofísica, que acontece em função do movimento do sujeito no mundo, resultante de sua história de relações. Dessa forma, ao contrário da psicopatologia psiquiátrica que pretendem entender homem a partir da dando uma ênfase, às determinações genéticas, Sartre compreende a doença a partir do o patológico a partir do seu existir concreto no mundo (SCHNEIDER, 2006, p. 107). sofrimento psicológico também se manifesta no corpo, seja por palpitações, por respirações ofegantes, dificuldade para respirar, tensão muscular intensa, sensação de sufocamento e demais dores, sejam elas generalizadas ou específicas. Antes de rotulá-lo com determinado diagnóstico, o cliente descreve o que sente, em quais situações as dores se intensificam, o que relaciona com essa dor Cliente e psicoterapeuta exploram juntos a demanda, e definem as possibilidades para manejar a situação. Manejo objetivo e prático que passa pelo diagnóstico diferencial, incluindo outros profissionais. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>IMPORTANTE! reconhecimento da subjetividade e da singularidade dessa subjetividade garante a compreensão do psicoterapeuta em relação ao sujeito. Ele não é apenas a sua psicopatologia, está muito, além disso, necessidade do vínculo entre profissional e cliente. Fazer o diagnóstico diferencial quer dizer mapear a situação de modo aberto, considerando a possibilidade de não estar relacionada a perturbações psicológicas. Podem ser efeitos colaterais de medicação, ou sintomas relacionados a um problema do organismo. Entrevistar detalhadamente o cliente, incluindo no roteiro perguntas sobre exames, utilização de medicamentos, periodicidade das consultas médicas. Esses itens constituem aspectos para tomarmos decisões mais acertadas, juntamente com o cliente, no que tange ao encaminhamento para outros profissionais. diagnóstico diferencial nada mais é do que um instrumento de avaliação da saúde mental, no caso de atuações terapêuticas psicológicas. Consiste em avaliar as características clínicas de uma doença, considerando inclusive os sintomas físicos, e a cautela para indicar a outro profissional. Atuação terapêutica abrange reconhecer os próprios limites profissionais. Os médicos podem ser parceiros de trabalho para nos auxiliar a detectar algo de ordem física. Relatos de pessoas com tumores cerebrais, confundidos com surto psicótico, ou com alucinações. contrário também pode ocorrer. No caso de pessoas apresentam todos os sintomas de possível infarto, tomam medicamentos e estava apresentando reações psicofísicas, decorrentes de sua dinâmica pessoal que estava entrando em colapso. Em ambas as situações é preciso entender a doença, as reações físicas ou psicofísicas por meio do sujeito. Os profissionais psicólogos precisam desenvolver o vínculo com as pessoas atendidas, a fim de confiarem e se expressarem de forma sincera. É possível elucidar com a apresentação breve de um rapaz, a quem denominaremos Luiz. Ele é adulto e jovem, responsável pela área operacional de uma empresa apresentava tremores nas mãos, evoluindo para desatenção e Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>irritabilidade. Foi diagnosticado com estresse, após ter feito alguns exames clínicos e de imagem. Os sintomas persistiram, evoluindo para insônia. Seu superior solicitou auxílio da psicóloga da empresa, que estabeleceu um vínculo com o Luiz. O referido funcionário fez menções sobre sua situação familiar, as dívidas contraídas para ter conforto doméstico, a necessidade de assumir trabalhos aos finais de semana, e o uso de substância, conhecida como rebite, para se manter acordado. Foi o vínculo com a psicóloga que favoreceu o conhecimento da situação, assim sendo possível tomar as providências necessárias. O vínculo com o cliente, a apresentação descritiva de seu mundo favorece o entendimento do fenômeno, mas não exclui, por si só, aspectos psicopatológicos de sua vivência. A patologia está na proporção do contexto vivenciado. O quanto de fantasioso e imaginário a pessoa apresenta para determinada situação. Nessa época de pandemia, o medo de sair de casa e de se encontrar com as pessoas está relacionado ao perigo do contágio e ao risco de morte. Esse medo está mais intenso para algumas pessoas e menos para outras. Vamos imaginar alguém com medo de terroristas em aviões, e esse tem como consequência crises intensa de pânico (sudorese, taquicardia), impossibilitando de realizar viagens de trabalho, ou causando desconfortos extremos como o uso de psicotrópicos para aguentar a viagem. Nesse caso específico encontramos situações imaginárias e fantasiosas, não está de acordo com as circunstâncias atuais vivenciadas no Brasil. Em casos como esses podemos fazer referência a psicopatologias. Nesse ponto, estamos na seara de entender, a partir do sujeito, seu imaginário. A situação de terroristas pilotando aviões aconteceu nos Estados Unidos em 2001, há 19 anos. Pode ser que essa pessoa estivesse prestes a embarcar em um dos aviões mencionados, ou no seu contexto específico se originaram fatos que ela deslocou para viagens aéreas. Precisamos entender o significado de viagem, as fantasias que esse alguém elucida. Podemos considerar nessa situação uma psicopatologia determinada, se consideradas as circunstâncias coletivas. Para atuar psicoterapeuticamente, será preciso entender essa psicopatologia por meio da descrição dela. Na realidade concreta que ela se apropriou o risco existe, o pavor Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>faz sentido como defesa, e nesse caso a categorização em uma ou outra psicopatologia não fará diferença. ATENÇÃO! psicólogo precisa conhecer as questões que transpassam o sujeito, história, cultura, social, cenário político, econômico do mundo, país, estado, região, município. Em linhas gerais, o conceito de psicopatologia tem origem na medicina. Vamos entender rapidamente o que isso significa pela afirmação simples de Canguilhem (2009, p. 13): "o patológico é designado a partir do normal" Logo, o que definimos como psicopatológico é o conjunto de comportamentos desprovidos da justificativa geral. É incomum, na atual conjuntura, pessoas manifestarem reações de pânico ao utilizarem o avião como meio de transporte. Essas reações específicas de pavor têm sentido para poucas pessoas, pois estão relacionadas ao contexto privado das significações de vivências. Esse medo que não tem relação com os eventos gerais é dito psicopatológico. Por outro lado, podemos encontrar pessoas temerosas de viagens áreas, que escolheram não viajar por esse meio de transporte. Elas resolveram essas situações consigo mesmas, aceitaram que tem esse limite, talvez tenham assumido trabalhos locais. que querem continuar viajando de avião para permanecer com seus empregos, por exemplo, a atuação terapêutica é direcionada para mapear o contexto da psicopatologia a partir do sujeito. Para finalizar, no âmbito da Psicologia para entender o psicopatológico é preciso observar os normais da cultura, considerando a originalidade e especificidades do conjunto de acontecimentos (CANGUILHEM, 2019). parâmetro para diferenciar o normal e o patológico está sempre na relação das pessoas com o macrosistema e com o microssistema Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados - sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas</p><p>2.2 ANSIEDADE Para fins didáticos vamos pensar em crise de ansiedade e na ansiedade generalizada. Todos temos ansiedade em relação a algum acontecimento que atribuímos importância. Sentimos palpitações, sudorese, agitação, nervosismo, respiração um pouco mais ofegante que de costume. Quando o evento se concretiza, relaxamos até surgir novo desafio. Podemos dizer que essa ansiedade é nossa parceira, pois nos deixa em um nível de tensão que nos torna aptos e ágeis para a ação, para tomar decisões. Denominamos crise de ansiedade quando desencadeia episódios contínuos de ansiedade, devido à demissão, por exemplo. Ao ser demitido, o sujeito antecipa seu futuro para situações ruins, trazendo à tona seus temores de estar arruinado completamente. Em geral, quando a pessoa encontra novo emprego ou é amparada por familiares nesse seu status, elabora a situação. Nesses casos, a situação causadora do desequilibrio foi revertida, seja pelo conhecimento de si mesmo, seja por uma situação mais direta (encontrar o emprego, por exemplo). Houve um período pontual de ansiedade. Se as crises forem recorrentes podem evoluir para a ansiedade generalizada. Para um respaldo científico mais apurado, segue a citação de Dalgalarrondo: quadro de ansiedade generalizada caracteriza-se pela presença de sintomas ansiosos excessivos, na maior parte dos dias, por pelo menos seis meses. A pessoa vive angustiada, tensa, preocupada, nervosa ou irritada. Nesses quadros, são frequentes sintomas como insônia, dificuldade em relaxar, angústia constante, irritabilidade aumentada e dificuldade em concentrar-se. São também comuns sintomas físicos como cefaleia, dores musculares, dores ou queimação no estômago, taquicardia, tontura, formigamento e sudorese fria (DALGALARRONDO, 2008, p.305). Há sofrimento intenso, tanto psicológico, quanto físico. temor de que coisas ruins podem acontecer já está incorporado no seu funcionamento. Para as atividades diárias seu esquema principal é a precaução, sente a necessidade de ter controle sobre tudo para extinguir possibilidades de ameaças constantes. A descrição supracitada pelo autor serve como parâmetro geral. Há atuações terapêuticas possíveis para minimizar e extinguir esse sofrimento em níveis desgastantes. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>Em psicopatologia é preciso considerar o contexto, a frequência e a intensidade dos sintomas. Na pandemia, ocorrida em 2020, pelo novo coronavírus, a ansiedade generalizada está presente em grande parcela da população, seja pelo confinamento, seja pelo medo da própria morte ou morte de entes queridos. É esperada a ansiedade pelas contingências. fato da psicopatologia estar justificada pelo contexto não significa que as pessoas não precisam ser tratadas pelos profissionais da saúde mental. São necessárias intervenções psicológica e psiquiátrica nos casos relacionados às circunstâncias, e naqueles casos em que o imaginário produz medo exagerado do futuro. Qual é a diferença então? A diferença está no modo de abordar as pessoas nos atendimentos. Quando a ansiedade generalizada não tem respaldo em situação concreta é necessário entender medos, frustrações, traumas que o sujeito desenvolveu durante seu percurso vitalício, adentrando na intrasubjetividade. Em casos de ansiedade generalizada pela pandemia, é indicado que sejam tratados aspectos intersubjetivos, pois buscar aspectos passados ignorados pelo indivíduo, pode agravar seu quadro, além de levá-lo a se preocupar com aspectos desnecessários no momento. Tenório (2003) explicita uma proposta metodológica na psicoterapia existencial, composta por quatro etapas principais: 1. Escutar e observar a pessoa na sua totalidade, a fim de conhecer sem formular hipóteses; 2. Solicitar que o sujeito descreva cada experiência significativa, e o psicoterapeuta fica atento ao sentido do discurso e da experiência vivida, e também da relação entre a fala e a ação. O pressuposto é compreender, não categorizar; 3. Aspectos das experiências vividas pelo sujeito e também aspectos da experiência universal como conjunto relacionado às suas escolhas, redescobrindo a construção de sua história de vida; 4. Por meio de uma análise descritiva posiciona o sujeito dos significados explicitados por ele e aos princípios teóricos relacionados à sua história. À primeira vista diríamos que a pessoa ficará mais ansiosa com os procedimentos descritos acima. Em um primeiro momento é preciso estabelecer o vínculo, possibilitando que a pessoa se sinta à vontade, mesmo que isso implique fala contínua. Se for o caso é possível utilizar técnicas de relaxamento, aumentando a chance de ela perceber que está em um local seguro. A descrição de sua Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>experiência não precisa ser exaustiva e pragmática. A experiência de relaxar pode auxiliar o profissional na observação do sujeito, favorecendo que ambos percebam as características apresentadas. FIQUE LIGADO! A ansiedade é a antecipação negativa do futuro. É o temor de que coisas ruins aconteçam. Para tanto, planejar ações para o futuro intensificará a ansiedade. É indicado que seja estabelecido vínculo profícuo com a pessoa atendida, reforçando suas características positivas. Paulatinamente o cliente expressará o seu projeto de vida. A proposta metodológica pode ser aplicada aos dois tipos de ansiedade mencionados anteriormente. Pelo fato da psicoterapia existencial partir do sujeito, muito provavelmente ele fará referência ao que está mais premente para ele. profissional da psicologia precisa estar atento à própria curiosidade, não aguçando perguntas demasiadamente intrasubjetivas, quando o caso específico de ansiedade precisa de intervenção de cunho intersubjetivo. 2.3 DEPRESSÃO "Você precisa pensar positivo!"; "Não te preocupe, é só estresse!"; "Para curar a depressão você precisa ter força de vontade!". Essas expressões ilustram as falas de familiares, parentes e até de profissionais da saúde, minimizando o sofrimento psíquico causado pela depressão. Os relatos clínicos de pacientes se referem a um estado de torpor mental, tristeza intensa sem motivo aparente, como se as coisas não tivessem cor, a vida perde o sentido. Pessoas próximas tendem a perceber pelo descuido com a aparência física, abandono da rotina de higiene, protelando banhos, limpeza dos dentes. Outro quesito é sono em demasia ou insônia. Há eventos que podem desencadear a depressão, mas não é possível identificar uma causa. Em geral é um conjunto de situações que evocam tal estado, percebido repentinamente. Para algumas pessoas pode vir acompanhado de um episódio de ansiedade, ou de dificuldades para se concentrar e memorizar. É Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>importante diferenciar dos lutos. Perder entes queridos, perder emprego, desfazer união conjugal são episódios que provocam tristeza intensa. período deprimido do luto é importante para a elaboração e desenvolvimento do sujeito. Pode ser que a morte física ou de estados (divorciado, desempregado) direcione para a eclosão de um quadro deprimido. Para continuar nossos estudos fomos buscar conceito na psicopatologia: "as síndromes depressivas têm como elementos mais salientes o humor triste e o desânimo" (DEL PINO, 2003, Apud DALGALARRONDO 2008, p. 307). Temos a caracterização básica da depressão. Passamos por frustrações e situações desanimadoras, tem dias que estamos mais alegres, outros dias mais taciturnos. Tristezas, frustrações e ressentimentos fazem parte da vida e são momentâneos, com tempo limitado em três dias, sete dias ou até um pouco mais. Afinal, o que diferencia a depressão de períodos tristes e com baixa disponibilidade para atividades do dia a dia? Um dos aspectos a considerar nessa diferenciação é a perda do prazer nas atividades habituais diárias. Quando a pessoa passa, por exemplo, a cozinhar por obrigação, comer por obrigação, passear por obrigação. Essas tarefas rotineiras habituais perdem o sentido. É como se a vida como um todo perdesse o sentido. Um almoço familiar ou encontro com amigos, namorar, são pequenos prazeres que se tornam inócuos para a pessoa. Quando não há encadeamento de sentido para a pessoa, tende a surgir ideações suicidas, que também fazem parte do quadro. Expressões do tipo seria melhor eu morrer", ou "não vou me matar, mas se Deus pudesse me levar..." Essas frases podem ser um pedido de ajuda, não constituem por si só o planejamento do suicídio. Paulatinamente os pensamentos avançam, e a necessidade de morte torna-se mais premente. Até aqui nos referimos à depressão como um todo, seu caráter universal. Ao considerar a psicoterapia existencial, nos moldes do capítulo 1, nos interessa as depressões em suas singularidades. Conforme afirma Schneider (2006, p.107): "Psicopatologia é compreendida a partir do núcleo da vida e da história concreta do sujeito". Como é possível entender a história concreta da depressão na prática? Precisamos conhecer essa pessoa que veio nos procurar para atendimento. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>Sistematizar as informações do paciente, compilando-as na anamnese. Conhecer o histórico familiar, como se constitui sua família original, as expectativas em relação a sua gestação, como aconteceu seu nascimento, sua infância (relação com pais, irmãos, amigos), relação com a escola (aprendizagem, colegas e professores), adolescência (relação com as transformações corporais, amigos, namorados, percepção de sua aparência física), e a sua sexualidade (quando iniciou e como se sente em relação a essas experiências). A anamnese não precisa ser exaustiva e pode acontecer por etapas. O sujeito descreve a sua história como meio de se apresentar e se aprofundar no que já vivenciou. Ao contar, ele se apropria concretamente dela, tendo subsídios para seu projeto de ser. A descrição faz parte do método sartreano (método progressivo- regressivo), não constitui uma forma de buscar as causas da depressão. É uma forma de ele reconhecer sua singularidade. Como frisado no item 2.1, as psicopatologias podem ocorrer em decorrência de desequilibrios hormonais, ou como efeito colateral de algum medicamento, e também podem se desenvolver baseadas na história do sujeito. Portanto, vamos considerar o conjunto de situações que pode ter desencadeado a depressão. Para Schneider (2011), às características da depressão nos auxiliam em um diagnóstico preciso. Contudo, por si só não nos auxiliam a compreender os fenômenos psicológicos (no caso a depressão), e nem nos indicam ferramentas psicoterapêuticas para o tratamento. Torna-se necessário conhecer o fenômeno depressão por meio da descrição do sujeito, pois se trata das especificidades de uma totalidade. Pode ser que a pessoa apresente quadro de ansiedade generalizada associada à depressão, ou que a depressão contenha rompantes de raiva e de falta de discernimento. O manejo do profissional da psicologia precisa abarcar os recursos para amenizar e extinguir o sofrimento psíquico. A história concreta do sujeito, conhecida por meio de sua descrição, sistematizada em forma de anamnese favorece a utilização de alguns recursos, ao invés de outros. Na psicoterapia existencial, um dos recursos é o projeto de ser, se projetar para o futuro, conhecendo seu passado. Com alguns clientes é melhor não utilizar esse recurso no início das intervenções. Para outros pode ser interessante Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>inseri-lo em práticas grupais. Parcerias com profissionais, como psiquiatra na administração medicamentosa, ou com o educador físico constituem recurso terapêutico. IMPORTANTE! Aconselhar o cliente a pensar positivo ou fazer atividades de qualquer natureza, para se curar da depressão, não condiz com a atuação psicoterapêutica saudável. 2.4 MANEJO DE SITUAÇÕES ESPECÍFICAS: LUTO, AGRESSIVIDADE E VITIMIZAÇÃO Nas atuações terapêuticas, seja em consultório, organizações, centros de saúde têm demandas específicas, e normalmente breves, para situações de luto, agressividade e vitimização. Foram enumeradas quatro possibilidades para ajudar, você estudante a entender a dinâmica desses fenômenos comuns à existência humana. Contudo, não é possível descrever todos os temas que perpassam o cotidiano dos profissionais de Psicologia. 2.4.1 Luto Luto são perdas, abrange óbito, divórcio, demissões, mudanças de cidade, mudanças de fase de desenvolvimento (infância para adolescência, adolescência para adulto, adulto para a velhice), doenças. A princípio independe de nossas escolhas, são contingências externas alheias as nossas vontades e planejamento. Freitas (2018, p. 52) afirma sobre a vivência do luto pela perda de um ente querido: A vivência da perda de um ente querido costuma ser uma experiência de profundo sofrimento psíquico em que o sobrevivente perde mais que um "outro"4. perde também possibilidades próprias de existir no mundo, podendo experienciar, assim, o esvaziamento de sentido de sua existência. A citação se refere à morte física, mas na prática profissional sabemos que a reflexão do autor pode ser utilizada para entendermos outros lutos. Quando alguém Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados - sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>é demitido, há um sofrimento psíquico por romper possibilidades de trabalho nesse local. sujeito fez planos para esse local, investiu nos vínculos, talvez adquiriu ferramentas, estudou especificamente algumas situações, manifestou seu orgulho para familiares e amigos por trabalhar na empresa e, repentinamente, é demitido. Rompeu a possibilidade de ser, os sentidos do trabalho naquela função se esvaziam. Pensamentos de inadequação, culpa pelo ocorrido, relutância para aceitar e entender, sentimento de incapacidade, de não pertencimento também fazem parte desse processo de luto. Esse processo de luto pode desencadear quadro depressivo ou de pânico, ou de ansiedade generalizada. Contudo, depende do significado que a experiência teve para a pessoa, e de quais associações ela fez, e quais são os outros acontecimentos da vida dela no momento e quais as reações das pessoas próximas. ATENÇÃO! luto é um processo natural da experiência humana. É um período de assimilação das perdas. Luto por si só não caracteriza psicopatologia, mas pode desencadear quadros psicopatológicos. Na psicoterapia existencial consideramos a singularidade no processo de luto. É preciso pesquisar com o sujeito, por meio da descrição dele, seja das reações psicofísicas, seja dos sentimentos que apresenta. Conhecer o contexto geral dos lutos, o que já se produziu cientificamente sobre o luto, ou ainda as produções artística e literária, ou relatos sobre lutos enriquecem a atuação terapêutica nesse tema. 2.4.2 Agressividade Os enlutados podem estar resignados, deprimidos, negar a realidade ou manifestar agressividade, dentre outras possibilidades de manifestação de seu sofrimento. Os significados e comportamentos humanos estão interligados e estão dispostos nas inter-relações. As crianças ao passarem para a adolescência podem se sentir irritadas, algumas ficam mais agressivas, pois lhe são exigidas Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>responsabilidades. No caso dos adolescentes sabemos que os hormônios afloram e há a tendência para a irritabilidade e agressividade. A agressividade pode ser consequência de luto, ou fazer parte da experiência concreta do sujeito desde sua infância, ou ainda para provar-se forte, poderoso. É um comportamento aprendido. Sim, o sentimento de raiva pode culminar em agressão ao objeto que suscita raiva. É comum assistirmos nas mídias vítimas de homicídio por terem desafiado alguém com poder. A agressividade parece ser a manifestação de sentimentos não elaborados. FIQUE LIGADO! Um dos aspectos a ser considerado no comportamento agressivo é sua relação com o lugar de poder pela função/cargo que a pessoa assumiu. Para demonstrar sua autoridade, a pessoa torna-se autoritária, impondo ações de modo agressivo. Buscamos o entendimento da agressividade por meio dos escritos de Schneider (2006, p. 309) "Todo dia temos de continuar sendo quem somos, mas não podemos ignorar que podemos escolher diferente". Nesse sentido, a pessoa que se manifesta agressiva consegue dar essa resposta ao mundo e desconhece outras possibilidades de ser. Tem liberdade para escolha, é responsável pelas suas escolhas, mas precisa se dar conta de como se constitui sujeito. No âmbito sociocultural os meninos, desde a tenra infância, são incentivados a reagir, a enfrentar. Um simples jogo de futebol já instiga a competição, a provar que consegue vencer. sujeito se experimenta como vencedor e perdedor, na primeira opção é venerado, aplaudido, na segunda é lhe solicitado que não chore. "Parte para cima" o garoto ouve por diversas vezes, tanto em relação a si, como em relação a seus colegas, ou em relação a seu pai. Vamos utilizar um exemplo de uma garotinha de dez anos, protagonista de uma brincadeira na escola, no dia de seu aniversário. Os colegas da sala jogaram ovo, farinha, confete para comemorar a passagem. Quando chega a casa sua mãe a estigmatiza, dizendo que ela foi boba, um brinquedo dos colegas. Sua experiência, ao passar pelo referencial materno, passa a ter sentido negativo. A repetição do posicionamento materno em outras situações associa-se a outras experiências ao Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>decorrer de sua vida. E a menina, agora, adulta, age com autoritarismo em relação aos seus subordinados, pois precisa contê-los. Ela sofre por essa agressividade, cuja consequência é o repúdio por parte de alguns de seus vínculos. Nossa questão na psicoterapia existencial é mapear com o cliente as situações em que houve agressividade, e as reações provocadas, retomando ou repensando seu projeto de ser. Ao acompanhar esse eu vivido na atuação terapêutica o sujeito vivenciará novas respostas, favorecendo que agressividade seja extinta ou minimizada. 2.4.3 Vitimização A vitimização pode ser uma forma de agressividade velada, a fim de angariar vantagens, ou estar em um lugar de poder. Outra opção é se constituir como discurso para amenizar o sofrimento, se eximir de culpa, passar como inofensiva e protegida. Ao mesmo tempo em que a vítima também é vista como incapaz aos olhos dos outros, em referência às pessoas de suas relações familiares, profissionais, afetivas/amorosas. Na psicoterapia existencial sartreana o sujeito é entendido como autor de sua própria história. Apesar das adversidades, o homem sartreano é capaz de transcender. Considerando as exigências do mundo moderno, tanto no que diz respeito à produtividade, quanto à aquisição de bens de consumo, o ser humano não dispõe de recursos para resolver todos os problemas. É possível encontrar algumas soluções, alcançar alguns objetivos diante do universo que se apresenta. Esse imaginário de dar direcionamento sistemático e ideal leva à vulnerabilidade. O sujeito vulnerável torna-se vítima. A vitimização se constitui como discurso e como ação. Em algumas situações será um meio de pedir acolhimento, em outras ocasiões se refere à crença limitante, possibilitando que o sujeito esteja em uma zona de conforto. Conforme descrito, anteriormente, pode ser uma forma de manipular e também algo não para o sujeito. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados - sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>Pires e Schneider (2013, p. 28) analisam o papel de doente, semelhante ao papel de vítima: "No papel de doente, há uma relativa desresponsabilização do sujeito, porquanto atribui o comportamento à doença da qual é portador, desobrigando-o do ônus da mudança, desde que se submeta ao tratamento prescrito". A historicidade, cultura e o meio social atribuem ao sujeito características, localizando-o como vítima e/ou como doente. A vitimização não se trata apenas de um lugar de escolha livre e autêntica do sujeito. Para tanto, a atuação terapêutica de perspectiva existencial pode criar perspectivas concretas com o cliente. A possibilidade de imaginar, em sequência, planejar e realizar favorece que o sujeito assuma seu espaço ativo. IMPORTANTE! A passividade é um aspecto evidente na vitimização, mesmo àqueles que a utilizam com o objetivo de obter vantagens e manipular. Para tanto, pode vir a sustentar quadro depressivo, por exemplo. No cotidiano psicoterapêutico, a vitimização pode aparecer concatenada a um quadro ou ser parte da demanda do cliente. Se for no ambiente organizacional, pode aparecer como limite para o desempenho profissional e de relações interpessoais profícuas. Na atuação terapêutica de concepção existencial faz-se a descrição ontológica do sujeito, perpassando pelo seu projeto de ser. Sobre isso Schneider (2008, p. 296) aponta a biografia como metodologia de trabalho integrada à psicanálise existencial: Em método psicanálise existencial propõe uma forma objetiva de investigar a dimensão de ser do sujeito humano, compreendido enquanto ser-no-mundo6, como um singular/universal. Dessa forma, o ponto de partida da investigação devem ser aspectos concretos de sua vida, ou seja, as dimensões da vida de relações. caminho da investigação deve desvelar, entre estes diferentes aspectos e dimensões, aquilo que Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>processa a unificação do conjunto, que é o ser do sujeito, ou seja, seu projeto original. A referência à biografia é para conhecer as histórias do sujeito, situações de sua infância, sua adolescência, sua vida adulta, e de sua velhice (de que forma a imagina? quais são os modelos de vivência de velhice nos seus Quais suas cenas marcantes? Quais cenários estiverem mais presentes em sua vida? Quais seus sonhos? O que fez e o que faz sentido? A totalidade de sua vida se configura por meio das singularidades e de detalhes relevantes para o sujeito. O psicoterapeuta precisa estar disponível para desbravar esse conjunto. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados - sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas</p><p>CAPÍTULO 3 PSICOTERAPIA EXISTENCIAL COMO INSTRUMENTO PARA DIMINUIÇÃO DA DISTÂNCIA OU DISSONÂNCIA ENTRE AS VISÕES Do que estamos falando nesse título? Estamos nos referindo à utilização da psicoterapia existencial para ampliar a visão de mundo tanto nossa, como profissionais da Psicologia, quanto das pessoas atendidas por nós. existencialismo considera o ser humano como agente de transformação, e não como aquele que se submete, o que se sujeita a tudo e a todos. Leis, normas e regulamentações fazem parte do convívio em sociedade, além disso, perceber as outras pessoas compreendê-las é saudável e necessário. Contudo, a pessoa pode decidir sobre o direcionamento de suas escolhas e das consequências delas. Quando fazemos referência ao sujeito como agente de transformação, está implícito que ele não é a doença psíquica dele. sujeito pode estar deprimido, ele não é deprimido. Quando alguém diz que é deprimido, bipolar, entre outras enfermidades psíquicas, ele está erroneamente dizendo que faz parte de sua essência, constituindo sua identidade. ser humano pode transcender situações, seus estados, suas crenças, seus limites, seus valores. As pessoas e organizações, objetos das atuações terapêuticas, chegam com as mais diversas visões de mundo. Os profissionais da Psicologia precisam conhecer a experiência concreta das pessoas atendidas e apresentar a sua perspectiva de trabalho, sua visão de homem e de mundo. Assim, é possível diminuir a dissonância entre as visões, estabelecendo relação dialética, de criação e transformação. É por meio do vínculo saudável e não de manipulação, que o fazer terapêutico acontece. existencialismo perpassa infindáveis campos de atuação. Pode ser aplicado a microssistema, macrossistema, modalidades grupais, individuais, casal, familiares. Direta ou indiretamente a psicoterapia existencial transcende a clínica. 3.1 APRENDIZADOS DA PSICOTERAPIA EXISTENCIAL NO COTIDIANO Quando ouvimos o outro, temos interesse genuíno em entender a sua perspectiva, estamos utilizando o aprendizado do existencialismo no dia a dia. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem consentimento por escrito do Grupo</p><p>Nesse sentido, uma atendente de loja, ao ouvir o que o cliente precisa e não somente o que ela precisa vender, podemos dizer que ela está atuando a partir de uma visão existencial. A psicoterapia existencialista está no dia a dia, parte da prática em si. Vimos no capítulo 2 que para entender os processos psicopatológicos do paciente não basta o conhecimento técnico, são necessárias as descrições dos sentimentos, dos pensamentos e das vivências desse interlocutor. Para desenvolver o conhecimento sobre a psicoterapia existencial no cotidiano, incluindo-a como instrumento, Bakewell (2017, p. 24) expressa uma questão de Sartre, em meados dos anos 1940: "Visto que somos livres, como podemos usar bem nossa liberdade em tempos tão exigentes?". Após oito décadas não há respostas única e conclusiva para essa pergunta. Podemos considerar que também estamos em tempos exigentes, não pela Segunda Guerra Mundial, mas pela necessidade de consumo, ou pela pandemia, por exemplo. Bem ou mal são juízos de valor. que significa bem para uma pessoa, não significa para a outra. Quando as pessoas procuram um profissional da psicologia, normalmente estão desconfortáveis, querem ficar bem, mas em relação a quem e ao o quê? Auxiliando no conhecimento sobre si, o psicólogo atua na singularid e na totalidade do ser humano. Ela precisará refletir, descrever e elaborar a sua existência, considerando o contexto em que está. Liberdade, em Psicoterapia Existencial Sartreana, significa escolher segundo meu projeto de ser, e baseado em minhas experiências. O fato de assumir a responsabilidade pelas suas escolhas, tende a causar desconforto. Parece antagônico, pois estar livre no senso comum, livre de preocupações, livre para fazer o que se tem vontade. Para exemplificar, vamos utilizar a aquisição de um carro. A possibilidade de ir e vir sem depender de ninguém, a sensação de liberdade e de poder. Contudo, é preciso manter o carro, isso inclui pagar impostos, revisões, zelar pela limpeza do carro, atualizar carteira de motorista, estar atento ao trânsito, seguir as normas do trânsito. Existem prazer e obrigações. Tem pessoas que optam somente pelo prazer, e podem ter consequências como apreensão do carro. Liberdade, de um modo geral, consiste em assumir a escolha na sua totalidade, pensando nos riscos e nos Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>benefícios que determinada situação tem para Manejar as situações criando novas respostas entre o limite e o conforto. A psicoterapia existencial tem sentido quando relacionada à vida real. Bakewell (2017) relata sua experiência existencialista: Experimentei in a parques públicos de minha própria cidade de província, Reading, e fiquei olhando uma das árvores até embaçar a vista. Não funcionou; pensei ter visto algo se movendo, mas era apenas a brisa na folhagem. Mas ficar olhando algo tão detidamente deu-me, de fato, uma espécie de clarão. A partir daí também descuidei dos estudos para existir. Já era dada a cabular aulas; agora, com a influência de Sartre, virei uma cabuladora mais empenhada do que nunca. Em vez de in à escola, arranjei um bico de meio período numa loja caribenha que vendia discos de reggae e cachimbos de haxixe decorativos. Foi um ensino mais interessante do que jamais havia tido na sala de aula (BAKEWELL, 2017, p.54). A abertura para experimentar e observar a si mesmo consiste em adentrar no seu existir. O pensar, o sentir e o fazer entram em consonância. Afirmar que é preciso relaxar diante de circunstâncias preocupantes torna-se algo racional, desprovido da vivência, e que normalmente funciona como conselho. Não conseguimos nos da ideia de morte mediante o diagnóstico de câncer. Quando alguém nos fala que devemos pensar positivo, está dificultando nossa condição de ser humano. É fundamental que esse processo de experimentação tenha base na psicoterapia existencial propriamente dita. O ambiente terapêutico também é um local para vivenciar nossos pensamentos falando para outra pessoa, no caso o profissional da Psicologia. O vínculo psicólogo/cliente favorece a autonomia para pensar alto, sem ser julgado. Assim, a pessoa toma decisões conhecendo um pouco mais os seus temores. Pode se frustrar, sofrer, mas terá um suporte para elaborar. ATENÇÃO! O sentido da vida para o sujeito está relacionado as suas histórias de vida e aos modelos que presenciou, considerando o conjunto de situações e de relações a que foi, está exposto e ao que espera de si (projeto de ser). Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>Na psicoterapia existencial as experiências vividas constituem objetos para a consciência, passíveis de serem utilizadas para conhecer a si mesmo no processo de construção contínua do ser. Para onde essas situações experienciadas me conduzem? Qual sentido teve para mim determinada experiência? Qual dinâmica eu estou repetindo? As sessões psicoterapêuticas funcionam como um laboratório, ou como treinos para vida, porque partem da percepção do sujeito. 3.2 SITUAÇÃO CONCRETA COMO INSTRUMENTO PARA PROMOVER A REFLEXÃO SOBRE AS VISÕES DE MUNDO O sujeito é visto na psicoterapia existencial como inacabado, sempre é um projeto de ser que se constitui na mediação de suas relações. O conhecimento produzido no existencialismo sartreano é útil para nos apropriarmos das situações, unificando as visões sobre o mundo. Não há a preocupação em comprovar a teoria, pois parte do sujeito. Dito isso, as possibilidades de pesquisa e de trabalho no existencialismo se ampliam. Pereira e Maheirie (2016) pesquisaram sobre o aprendiz circense, e de que forma ele percebe a arte circense na relação com o público, com seus colegas e professores. A atividade circense constitui a mediação do sujeito na sua relação com a vida. Nas entrelinhas entendemos a importância do trabalho como mediação para a vida. O papel profissional envolve conhecimento técnico, competências para tal, relações com clientes, colegas e chefes. O homem se sente útil mediante a confirmação dos benefícios de seu labor. O trabalho o inclui em um meio social e o dignifica na sua família e na sociedade. A pessoa se reconhece e é reconhecida pelo trabalho. Quando somos apresentados à outra pessoa uma das perguntas mais comuns é: "o que você faz?" A resposta dessa pergunta direciona a relação com o interlocutor, induzidas por juízo antecipado. Se a resposta à pergunta for "sou dona de casa", é comum a pessoa perder o interesse, como se não fosse útil. Pela perspectiva existencialista precisamos conhecer a pessoa, colocando de lado as ideias preconcebidas, ao que se denomina tecnicamente de epoché. A Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados - sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>expectativa é que profissionais da Psicologia consigam escutar e compreender pela percepção da pessoa, colocando de lado seus juízos de valor. Esse aprendizado também vale para as pessoas que atendemos, é algo que podemos passar a elas. Nesse sentido, estamos diminuindo o distanciamento entre as visões, e essa é uma das contribuições da psicoterapia existencial para promover a saúde do sujeito como um todo. Os contempladores, o público que inclui familiares, amigos próximos e demais participantes da plateia são confirmadores, motivadores do trabalho, Pereira e Maheirie (2016, p. 137) pontuam: "O que cada um dos entrevistados apresenta em suas falas e assim, o que acreditam, é que os contempladores demonstram valorização pelo que eles fazem". E quando acontece diferente? Quando a mãe não gosta do posicionamento do filho no picadeiro, ou usa algum aspecto como falha desprezando o filho? Aqui encontramos outra situação que pode ser elaborada de forma a promover a saúde. Não se trata de criar demandas para o cliente, mas de aproveitar as demandas que ele traz, as descrições feitas por ele, co-construindo um olhar da vida como um Esse comportamento de compreensão da realidade também tem utilidade quando o assunto é alcoolismo, tanto para psicoterapeutas, quanto para pessoas atendidas por meio da psicoterapia existencial. Mapear os determinantes do alcoolismo, produzindo uma compreensão voltada à realidade do paciente, incluindo seus projetos de vida, a recaída e as possibilidades de recuperação constituiu a pesquisa feita por Pires e Schneider, 2013. Os autores enfatizaram, dentre os resultados, a postura passiva da maioria dos entrevistados, esperança de recuperação com pobreza de ações concretas, estruturando suas vidas em função do tratamento. Embora a pesquisa tenha sido feita com alcoolistas, seus efeitos podem ser moldados para outras situações de vida. FIQUE ATENTO! Subjetividade é o processo de interiorização, de apropriação do que vivenciamos nos aspectos materiais, sociais, familiares e existenciais concretos. Ela atribui significado às coisas de acordo com o que vivencia e entende que vivenciou. Risoto Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>é mais do um prato típico italiano feito com arroz úmido, adicionado a outros ingredientes. Risoto tem diferentes significados para a pessoa que o consome ou que não o consome. Entender os determinantes consiste em conhecer a história do sujeito, o que caracteriza o uso abusivo de álcool na percepção dele. Desse modo, não julgamos, buscamos as respostas com quem vivenciou e vivencia determinado contexto. Alguns acontecimentos somente podem ser descritos por quem passou pela situação, o que nos leva a ampliar as possibilidades de compreensão. Para as pessoas, de um modo geral, o aprendizado é pragmático para que valorizem o saber sobre si, percebam o conhecimento de outras pessoas sobre a vida delas, sobre os estudos que elas fizeram, sem julgamentos a priori. Para os profissionais da Psicologia amplia o de possibilidades e resultados se eles considerarem a descrição do cliente, sem pré-julgamentos. Pode-se inferir que uma das possibilidades é conhecer aspectos mais obscuros da situação relatada pela pessoa, levando a conduzir o processo terapêutico mais acertadamente. Outro aspecto é mais leveza durante os atendimentos, já que o cliente tende a cooperar mais quando pode se posicionar sem julgamentos. Pires e Schneider (2013, p. 27). afirmam que "a experiência passiva de tratamento pode ser considerada uma reação adaptativa do sujeito que corresponde à oferta de tratamento nas modalidades biomédicas e jurídico-morais" Esse respaldo favorece a confirmação dos parágrafos anteriores, no sentido de abarcar a psicoterapia existencial como inovadora na sua proposta. Haja vista que enquanto paciente em consultório médico (odontológico, fisioterápico, fonoaudiológico) e cliente na área jurídica, seu posicionamento consiste em aguardar soluções para o seu problema por meio desses profissionais. Quando esse sujeito participa de atendimentos sob a ótica da psicoterapia existencial, pode-se dizer que o fato de refletir sobre as possibilidades de sua vida, já é transformador no posicionamento de estar no mundo como sujeito mais ativo. É dada a ele a oportunidade de experienciar novos comportamentos. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>A psicoterapia existencial com crianças também é efetiva para aspectos na totalidade da experiência de vida concreta. Essas pontuações são feitas por Pretto e Langaro (2012, p. 1034).: A mãe relatava que era possível as transformações do filho com relação às queixas iniciais, movimento que também foi percebido pelo pai e pela professora de Pedro. Especificamente com relação à queixa de agressividade, a mãe dizia que o filho estava mais tranquilo, que já era possível negociar acordos sem que ele se alterasse e que agora cumpria os combinados. Destaca-se que a mudança na expressão verbal de Pedro em terapia - mesmo que em nenhum momento ele tenha utilizado a agressão com a estagiária foram encarados como mostras de que as conquistas relatadas pela mãe eram bastante concretas. Essa mudança possivelmente tenha também auxiliado Pedro a expressar de forma mais assertiva com seus novos amigos. Nesse caso houve atuação conjunta da Psicóloga com a professora e os pais. O pedido inicial foi referente à agressão, mas o auxiliou a se comunicar de forma mais assertiva. A agressividade foi a característica notada como inapropriada, contudo, outros aspectos compunham a base dos comportamentos agressivos. A criança apreende o mundo de outra forma, no seu tempo. É comum, em situações semelhantes à de Pedro, os pais buscarem orientação médica para prescrição de um medicamento como a Ritalina, cujo princípio ativo é o cloridrato de metilfenidato, estimulante do Sistema Nervoso Central. Essa agressividade poderia ser entendida, em um diagnóstico rápido, como Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade. O posicionamento profissional de buscar a descrição das situações, as histórias contadas pelos envolvidos (pais e professora) e a comunicação com a criança favoreceram entendimento da situação na sua totalidade. "Pedro chegou à terapia com sete anos de idade" (PRETTO e LANGARO, 2012, p. 1031). Não foi exigida a descrição exaustiva por parte de Pedro, a dinâmica psicoterápica é diferente com crianças. O comportamento dos adultos, com quem a criança tem mais vínculo, influencia diretamente nos comportamentos infantis. Isso não quer dizer que os pais estão sendo agressivos com a criança. A criança está se expressando no mundo por meio da agressividade, advinda talvez da insegurança dos pais ou de situações de instabilidade em casa. Podemos utilizar o relato das autoras para refletir acerca do papel profissional e nas situações em geral. A atuação conjunta favorece resultados mais acertados. É Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>um aprendizado que os pais e a professora do Pedro possivelmente adquiriram pela experiência concreta na relação com a psicóloga. Talvez nem tenha sido expresso verbalmente de forma direta, foi incorporado pela vivência. Muito provavelmente, a criança se sentiu segura e protegida, não foi lhe atribuída culpa, os adultos, quem têm mais discernimento, perceberam a si mesmos, assumindo a responsabilidade, se expressando de modo mais assertivo com o pequeno Pedro. Outro aspecto que pode ser comentado como aprendizado é que a criança entende o mundo como um lugar confortável, com desafios, peripécias, erros e acertos, frustrações e expectativas positivas. A criança tende a se tornar um adulto confiante de suas possibilidades, principalmente por ter percebido que não está sozinha. IMPORTANTE! A correlação que uma criança faz por meio dos adultos de fatos isolados, se torna um conjunto de fatos, portanto, um fenômeno. Aquela situação (objeto) é integrada à consciência com algum significado. É comum pais, principalmente em situações de divórcio, apresentarem alguns aspectos para a criança, até então desconhecidos. A questão, por exemplo, não é que o pai a rejeitou quando nasceu. Mas, o que a mãe ou demais vínculos importantes falam para a criança a respeito desse fato. A psicoterapia existencial sartreana, de acordo com Schneider (2006), tem nas biografias de escritores famosos e nas obras literárias, fonte concreta para promover a reflexão e a transformação do indivíduo. A autora se refere às biografias e os romances, como A Nas palavras específicas de Schneider (2006, p.51): "É o caso do romance La Nausée, objeto principal de nossa análise, no qual realiza uma espécie de processo psicoterapêutico com seu principal personagem, Roquentin, trazendo importantes indicações de como deve ser uma clínica sartriana". A literatura provoca a transformação das pessoas, principalmente por adentrarem na vida dos personagens. Sartre utilizou a literatura com a intenção de produzir reflexão e evocação de sentimentos intensos o bastante para promover mudança em alguns Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>comportamentos. Não é possível controlar o envolvimento das pessoas, e nem quais tipos de mudança. modo dos personagens expressarem seu sentimento já produz identificações, visto que sentimentos são humanos. Na internet, seja por meio de plataformas, ou pelas redes sociais, há encontros para leitura conjunta, ou lives e vídeos produzidos pelos chamados "booktubers" que auxiliam a entender um pouco mais dos personagens. Na atuação terapêutica, o uso da literatura e filmes favorece a percepção de si mesmo, realçando a observação dos diversos contextos em que está inserido. É como se houvesse prolongamento da psicoterapia. 3.3 GRUPOS COMO INSTRUMENTO PARA AMPLIAR AS VISÕES DE MUNDO No item 1.1 desse módulo foi especificada a diferença entre práticas psicoterapêuticas e terapêuticas. Os atendimentos grupais que ocorrem em ambiente clínico tendem a estarem voltados às questões intrasubjetivas, portanto, caracterizados como psicoterapêuticos. Nas demais práticas grupais torna-se usual focalizar em questões intersubjetivas, onde o direcionamento abrange o processo na coletividade. Nesse âmbito nos referimos à grupalidade, quando as situações são vivenciadas no coletivo, independente de um grupo terapêutico específico para tal. Por exemplo, no que se refere às mulheres vítimas de violência doméstica, existem aquelas que frequentam grupos psicoterapêuticos na saúde pública, ou participam de outros grupos, denominados terapêuticos, com o intuito de fortalecê-las. Contudo, há redes de profissionais que tratam da violência doméstica, promovendo ações para a coletividade, para a grupalidade, para as pessoas como um todo. A grupalidade não acontece somente nos processos terapêuticos grupais, ocorre diante do coletivo, em serviços de Saúde Pública. Savi afirma: "Sujeitos que expressam não apenas o singular, mas também a singularidade de sua interação com o coletivo" (SAVI, 2005, p.12). Encontramos o modo sartreano de intervenções, considerando o universal e o singular. São compreensíveis os alvoroços no cotidiano, como conflitos de interesses políticos e ideológicos. Contudo, qual é o cerne para o sujeito? Quais caminhos ele pode escolher diante desse caos? Os grupos de cunhos Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>psicoterapêutico e terapêutico surgem como possibilidade de criar novas respostas à coletividade. Existem pessoas nos programas de saúde pública que buscam incessantemente possibilidades de manejar o sofrimento Savi (2005) denominou Grupo de Convivência, no sentido de acolher o sofrimento das mulheres e trocar experiências. Acolher buscando no coletivo, saídas para os sofrimentos. Troca de experiências para ampliar a compreensão da realidade. Os diálogos possibilitaram a convivência, identificando e fortalecendo as capacidades de cada mulher. As participantes do grupo supracitado tornam-se multiplicadoras diretas e/ou indiretas. Suas ações e pensamentos podem ser confirmados e desmistificados no grupo. Trata-se de ouvir e vivenciar durante um curto espaço de tempo as experiências oferecidas por aquele conjunto de pessoas. Essas pessoas estão vinculadas entre si, comprometidas em aceitar e disponibilizar ajuda. O movimento de troca, ora permanecendo em silêncio, ora falando, transcende os encontros, se perpetuando nas demais relações das pessoas envolvidas nele. ATENÇÃO! grupo é composto por diferentes singularidades, portanto, críticas, elogios, aproximação, rejeição podem acontecer como se fosse espelho das relações no contexto social. Tudo isso se torna instrumento para o psicólogo. De acordo com Savi (2005, p. 21): "Entendo que é justamente esse estar junto que possibilita o entendimento da problematização do que aflige verdadeiramente as mulheres". As intervenções grupais constituem instrumentos de transformações pela experiência concreta do vínculo, além das mediações feitas pelos profissionais da Psicologia. É a possibilidade de estar com outras pessoas, expressar-se, desenvolver a autonomia sem julgamentos. Para elaborar os resultados de intervenções grupais, cita-se a experiência de Biselli (2013) com um grupo de pais na situação de psicodiagnóstico colaborativo, na perspectiva fenomenológica existencial. Esse serviço foi ofertado na Clínica-Escola da Universidade Católica de Pernambuco, quando os pais procuravam atendimento para seus filhos, haja vista que a demanda também é da família. No contexto do Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>grupo, estar com outros pais, narrar suas experiências e ouvir as dos outros mobilizou a atenção deles para o problema entendido, inicialmente, como do filho. Nessa dialética da relação eu/outro, singularidade/universalidade, o sujeito transforma continuamente seu projeto de ser. A disponibilidade para participar dos encontros grupais favoreceu a plasticidade da experiência vivida. Em outras palavras, a procura para o atendimento dos filhos não se constituiu como um fim em si mesmo. A equipe da área de Psicologia teve habilidade para interagir, explicar e integrar os pais às propostas, muito provavelmente pautadas na ideia de transcendência do sujeito, cerne da fenomenologia existencial sartreana. Consolidamos o objetivo do presente subtítulo citando entendimento de Biselli (2013, p.74) sobre as intervenções grupais: Como ponto de partida, indico que a situação de grupo de pais no psicodiagnóstico possibilitou a apropriação e expressão da disposição afetiva de medo e resistência diante de uma situação não conhecida. A vivência da experiência grupal afetou cada um e possibilitou outro modo de estar e sentir a situação de grupo, a qual passou a ser percebida como acolhedora e facilitadora da expressão dos sofrimentos e sentimentos. Os resultados do grupo de pais são semelhantes aos resultados do grupo das mulheres. Ambos com objetivos e públicos diferentes, se identificam nos benefícios oriundos da prática grupal. Foi possível entender o grupo como uma espécie de experimento para as vivências concretas. Nas relações com os demais participantes podem acontecer rejeições, encontro de ideias e afetos, proximidades, parcerias, amizades. Participar de intervenções grupais significa se experimentar como sujeito, em um espaço protegido e mediado por um terapeuta. Até aqui estudamos o grupo como instrumento para acolher, ampliar as possibilidades de ação, troca de experiências, experimentações em local protegido, e transcender o entendimento do mundo. O grupo potencializa os resultados de duas formas: agentes multiplicadores e aplicação do aprendizado em inúmeras situações. Vamos ao exemplo: um dos participantes do grupo traz a demanda da dificuldade de aprendizagem de seu filho na disciplina matemática. Na perspectiva da psicoterapia existencial, serão averiguadas as experiências do pai em relação a si mesmo no papel de estudante, os sentimentos com relação ao seu filho de um modo geral e no entendimento de assuntos específicos, e a forma de Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>desempenharem outros papéis e resolverem seus conflitos, além dos projetos inerentes de ser. delineamento é feito pela descrição e/ou compartilhamento das histórias referentes ao tema, ao relacionamento pais e filhos, às expectativas no desempenho de papéis, entre tantas outras possibilidades que o grupo é capaz de criar. profissional da Psicologia auxilia fazendo a mediação com perguntas, pontuações, ponderações e construção coletiva do conhecimento, ajudando os participantes a perceberem as histórias semelhantes. Perceber as histórias em sua totalidade consiste em averiguar quais situações já ocorreram em outros papéis, as reações, os resultados positivos, os efeitos negativos, os medos, as frustrações. Outro aspecto consiste em averiguar que outras situações semelhantes ele já passou, e como ele reagiu, e quais os resultados positivos. As possibilidades são infindáveis, ampliam a percepção do protagonista sobre a situação para outras situações, reverberando nos demais participantes, pois se lembram de situações, analisam, comparam e experimentam novos caminhos. fato de não fornecer resposta pronta favorece a psicoterapia existencial a ser um método para transformar o sujeito, desenvolvendo sua habilidade para dar respostas apropriadas às situações que vivencia. Em âmbito grupal, a percepção é potencializada pelas experiências, opiniões, reações de outras pessoas. A forma de Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir viverem o existencialismo deu mostras de como liderar movimentos, grupos, atuando na grupalidade. Eles utilizaram a filosofia existencialista no seu cotidiano. Ambos se engajaram politicamente, auxiliando a estruturar movimentos por determinadas causas (BAKEWELL, 2017). A revista, o jornal, o contato e a disponibilidade com as pessoas foram meios criados por eles para trabalhar as transformações na grupalidade. Eles se fizeram presentes, participaram concretamente, ao invés de permanecerem no mundo da escrita exclusiva para a filosofia. É como se eles estivessem intermediando o entendimento das sociedades. Nos livros de Simone de Beauvoir, em que de maneira geral ela escreve sobre a condição da mulher, pode-se dizer que é uma forma de levar o pensamento existencial para o conhecimento de todas as mulheres, Ela Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p><p>escreve na linguagem cotidiana. Os romances escritos por Sartre também constituem um caminho para abrir espaço para o entendimento das pessoas como um todo. Para tanto, ambos utilizaram suas habilidades para engajar as pessoas, oportunizar conhecimento às massas e, por assim dizer, para a grupalidade. A possibilidade de atuar em redes também diz respeito à grupalidade. Estamos nos referindo a redes de apoio e engajamento social entre as pessoas. A integração em rede dos serviços de saúde, família, escola é uma forma de atuar com a grupalidade, para a consonância de medidas e ações. Contudo, é algo mais complexo para discutirmos no presente módulo. As redes que estamos nos referindo são semelhantes às redes criadas por Sartre e Beauvoir. Chofi (2013, p. 34) explica: "As redes a que estas pesquisas fazem referência são a dos vínculos estabelecidos entre pessoas: as amizades, a família, ou os contatos criados a partir da pertença de determinados grupos" Vamos tentar entender a ideia da autora para elucidar movimentos da atuação terapêutica. Todo ano em comemoração à fundação da universidade é proposta uma gincana. São dadas tarefas às equipes, que interligadas, têm como objetivo maior arrecadar subsídios para a biblioteca ou para custear viagens de estudos. Cada equipe quer vencer, mas tem algo a mais que as unifica, e as leva a atuarem de forma saudável. Elas estarão contribuindo e fazendo a diferença de qualquer forma. Outro exemplo de rede, pessoas que residem em um bairro se organizam para subsidiar o Posto de Saúde para melhor conforto de todos, inclusive dos profissionais. Elas podem negociar com a Prefeitura, a limpeza, e os materiais específicos de uso dos profissionais. Contudo, ter estofados melhores para as pessoas sentarem enquanto esperam as consultas favorece o bem-estar. Então, essa rede de vizinhos se organiza, seja por meio de eventos, da contribuição espontânea, ou de pedido de doações para os comerciantes do bairro. É a forma saudável de organizar grupos. O profissional da Psicologia pode utilizar essas situações como interação, engajamento, mediando as experiências concretas para a comunidade ter seu projeto de ser. Vejam aqui o projeto existencialista está amplo, sendo direcionado às massas, transformando comunidade, grupo de pessoas. Cabe aqui a afirmação de Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados sem o consentimento por escrito do Grupo</p>