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1 Júlia Morbeck – @med.morbeck Objetivos 1- Compreender a fisiopatologia da aterosclerose; 2- Discutir a etiologia, fisiopatologia e manifestações clínicas da doença arterial coronariana; 3- Diferenciar dor precordial típica x atípica e angina estável x instável; 4- Descrever o diagnóstico da doença arterial coronariana; (ECG e marcadores de necrose) 5- Explicar o tratamento medicamentoso da doença arterial coronariana. *ECG e Marcadores de necrose. Aterosclerose ↠ Trata-se de uma doença inflamatória crônica sistêmica de grande complexidade que ocorre sobretudo na camada íntima das artérias, mas também envolvendo as camadas média e adventícia (SOCESP, 4ª ed.). O processo de crescimento e de desenvolvimento da doença aterosclerótica se dá de maneira silenciosa e ao longo de décadas, iniciando-se com a formação da estria gordurosa em crianças e adolescentes, progredindo para formação de placas complexas na idade adulta. Nesse momento, essas placas, a depender do seu tamanho e do seu grau de instabilidade, podem levar a um quadro sintomático como angina pectoris, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral ou claudicação intermitente (SOCESP, 4ª ed.). Etiologia e fatores de risco da aterosclerose ↠ O principal fator de risco da aterosclerose é a hipercolesterolemia e, especialmente, as elevações nos níveis de colesterol LDL. Entre os fatores de risco não modificáveis adicionais, estão o avanço da idade, histórico familiar de doença cardíaca e sexo masculino. Também foram identificadas diversas alterações determinadas geneticamente no metabolismo das lipoproteínas e do colesterol (PORTH, 10ª ed.). ↠ Os fatores de risco cardíaco tradicionais – tabagismo, obesidade e gordura visceral, hipertensão e diabetes melito – também são fatores de risco para o desenvolvimento de aterosclerose. As toxinas que entram na corrente sanguínea como resultado do tabagismo podem lesionar o tecido endotelial (PORTH, 10ª ed.). ↠ Tanto a hipertensão (pressão arterial alta) quanto o diabetes melito são fatores de risco independentes para o desenvolvimento de aterosclerose, mas também apresentam efeitos sinérgicos e aditivos. A presença isolada de hipertensão ou de diabetes melito aumenta o risco de aterosclerose em no mínimo duas vezes. Quando ambos coexistem, o risco de aterosclerose aumenta em oito vezes. Na presença da tríade hipertensão + diabetes + hiperlipidemia, o risco de aterosclerose aumenta em quase 20 vezes (PORTH, 10ª ed.). Outros fatores associados ao aumento do risco de desenvolver aterosclerose incluem inatividade física, padrões de vida estressantes, níveis séricos de proteína C reativa (PCR) e níveis séricos de homocisteína (PORTH, 10ª ed.). A PCR é uma proteína reagente de fase aguda do processo inflamatório, cujos níveis séricos são comprovadamente úteis como marcador biológico, ainda que inespecífico, da presença de inflamação sistêmica. Também foi observada a presença de moléculas de PCR em algumas placas ateroscleróticas, implicando ainda mais o papel da inflamação na formação dessas estruturas. Portanto, os níveis séricos de PCR atuam como um marcador clínico efetivo do risco de doença vascular aterosclerótica. O exame de PCR de alta sensibilidade é recomendado como um exame de triagem para risco cardiovascular (PORTH, 10ª ed.). A homocisteína é derivada do metabolismo da metionina dietética, um aminoácido abundante em proteínas de origem animal. O metabolismo normal da homocisteína requer níveis adequados de folato, vitamina B6, vitamina B12 e riboflavina. A homocisteína inibe elementos da cascata anticoagulante e está associada à lesão endotelial, que se acredita ser uma etapa inicial importante no desenvolvimento da aterosclerose. Um distúrbio autossômico recessivo raro, denominado homocistinúria, é causado por um defeito hereditário na produção de uma enzima metabolizadora de homocisteína, resultando na elevação dos níveis séricos desse aminoácido (PORTH, 10ª ed.). Locais de aterosclerose grave, em ordem de frequência. APG 06 – TEMPO É VIDA! 2 Júlia Morbeck – @med.morbeck CONCEITOS DA BIOLOGIA VASCULAR Os dois tipos celulares predominantes em uma artéria normal e que têm importância fundamental na gênese da placa aterosclerótica são as células endoteliais (CE) e as células musculares lisas (CML) (SOCESP, 4ª ed.). As CE estão localizadas primordialmente na camada íntima do vaso, estando, assim, em contato direto com o sangue e permitindo que o mesmo, em situações de homeostase normal, possa fluir adequadamente pelos vasos (SOCESP, 4ª ed.). Já as CML estão localizadas majoritariamente, em condições normais, na camada média do vaso e possuem propriedade de contração e relaxamento, sendo, assim, capazes de regular o fluxo de sangue em diversos territórios arteriais. Essas células também sintetizam matriz extracelular (sobretudo colágeno) e podem migrar para a camada íntima durante o desenvolvimento da placa aterosclerótica (SOCESP, 4ª ed.). Fisiopatologia da aterosclerose ↠ Apesar de se tratar de um processo contínuo, para fins didáticos, iremos dividir o processo ateromatoso em quatro grandes fases: (SOCESP, 4ª ed.). ➢ Fase inicial da aterogênese. ➢ Fase de desenvolvimento da estria gordurosa. ➢ Fase de progressão para placa complexa. ➢ Fase de rotura da placa. FASE INICIAL DA ATEROGÊNESE ↠ Em seu estado normal, as CE, que recobrem a superfície da parede arterial, não permitem a adesão de células sanguíneas como os leucócitos. Entretanto, fatores de risco ou desencadeadores da aterosclerose como fumo, hipertensão, hiperglicemia, dieta rica em gorduras saturadas, obesidade ou resistência à insulina podem instigar a expressão de moléculas de adesão pelas CE, permitindo a adesão dos leucócitos à parede arterial (SOCESP, 4ª ed.). ↠ Um dos responsáveis por permitir a adesão das células sanguíneas ao endotélio é a molécula de adesão celular vascular 1 (VCAM-1). A VCAM-1 liga-se a monócitos e linfócitos T, os dois tipos principais de leucócitos encontrados na fase inicial da placa aterosclerótica (SOCESP, 4ª ed.). A expressão de VCAM-1 é induzida por diversas substâncias. Podemos citar entre elas os lipídios oxidados e as citocinas pró-inflamatórias, como interleucina 1 (IL-1) e fator de necrose tumoral-α (TNF-α) que induzem a expressão de VCAM-1 através do mecanismo mediado pelo fator--nuclear kappa ß (NFkß) (SOCESP, 4ª ed.). ↠ Sabemos também que a formação de placas ateroscleróticas é influenciada pelo tipo de fluxo sanguíneo. Em áreas onde o fluxo é turbulento, há uma maior propensão para formação de placas ateroscleróticas. Já em áreas com fluxo laminar, mecanismos antiaterogênicos são deflagrados, como a expressão de uma enzima antioxidante, a superóxido dismutase, e a produção de oxido nítrico, um potente vasodilatador (SOCESP, 4ª ed.). Acredita-se que as CE possam sentir as diferenças de fluxo através de cílios presentes em sua superfície luminal e receptores de adesão em sua parede lateral, embora estes mecanismos ainda necessitem de maiores estudos. Essas estruturas seriam responsáveis por fazer a transdução de um sinal mecânico (alteração do fluxo sanguíneo vascular) em químico (SOCESP, 4ª ed.). ↠ Também nessa fase inicial da aterogênese, observamos a ocorrência de acúmulo extracelular de lípideos na íntima. O maior exemplo disso é a ligação das partículas de LDL aos proteoglicanos da matriz extracelular arterial, através de um sítio específico da apoproteína B que compõe as LDLs. Postula-se também que as LDL pequenas e densas tenham ainda maior afinidade para formação dessas ligações (SOCESP, 4ª ed.). ↠ Uma vez no espaço intimal, as lipoproteínas apresentam suscetibilidade aumentada à oxidação, dada a escassez de antioxidantes nessa região. O processo inflamatório inicial pode contribuirpara a oxidação das lipoproteínas por diversos mecanismos (SOCESP, 4ª ed.). De maneira complementar, a LDL-oxidada também pode ser capaz de amplificar o processo inflamatório inicial local (SOCESP, 4ª ed.). ↠ As células inflamatórias passam a se aderir ao endotélio, inicialmente por uma fase de rolamento, mediada por moléculas endoteliais de adesão denominadas selectinas. Em seguida, os monócitos passam para a fase de adesão firme, caracterizada pela interação entre a já descrita VCAM-1 do endotélio e moléculas específicas de integrina na superfície dos monócitos e linfócitos T (SOCESP, 4ª ed.). ↠ Uma vez aderidos ao endotélio arterial, os monócitos penetram por meio do endotélio e entram na íntima do vaso por diapedese, processo dependente de gradiente quimiotático, gerado, por exemplo, pela proteína 3 Júlia Morbeck – @med.morbeck quimiotática de monócito (MCP-1). Placas de ateroma hiperexpressam MCP-1 e essa citocina é responsável por recrutar monócitos de caráter inflamatório, presentes nos estágios iniciais da placa de ateroma (SOCESP, 4ª ed.). FASE DE DESENVOLVIMENTO DA ESTRIA GORDUROSA ↠ Na íntima das artérias, monócitos maturam–se em macrófagos que, por apresentarem expressão de receptores scavenger, que permitem a internalização excessiva de lipídios modificados, principalmente a LDL- oxidada (SOCESP, 4ª ed.). ↠ Ésteres de colesterol acumulam-se no citoplasma e, assim, os macrófagos tornam-se células espumosas, características desse estágio da aterogênese. Os macrófagos multiplicam-se e liberam vários fatores de crescimento e citocinas, amplificando e sustentando os sinais pró-inflamatórios. Um mediador importante para esse processo é o fator estimulador de colônia de macrófago (M-CSF) que é hiperexpresso em placas ateroscleróticas humanas (SOCESP, 4ª ed.). OBS.: A presença de numerosos macrófagos transformados em células espumosas na íntima vascular caracteriza uma lesão aterosclerótica precursora conhecida como estria gordurosa que, nesse estágio, ainda pode ser reversível e não causar repercussões clínicas (SOCESP, 4ª ed.). As ações de fagocitose e de liberação de citocinas exercidas por estes macrófagos são componentes da chamada resposta imunológica inata, aquela que não necessita da ativação e interação entre linfócitos T e B para ocorrer. Hoje, sabemos também, entretanto, que essas outras funções do sistema imunológico, chamadas de resposta imune adaptativa, também contribuem para a aterogênese (SOCESP, 4ª ed.). Apesar de em menor número, linfócitos T também estão presentes na placa aterosclerótica. Células dendríticas teciduais ou os próprios macrófagos provenientes da circulação funcionam como células apresentadoras de antígenos para os linfócitos T. Os antígenos apresentados são bastante variáveis, como, por exemplo, porções de lipoproteínas (SOCESP, 4ª ed.). ↠ Após a apresentação do antígeno (“sinapse imunológi- ca”), as células T CD4+ (linfócitos T helper) são ativadas e diferenciam-se em dois subtipos principais de linfócitos T CD4+, que realizam ações imunológicas distintas: as células efetoras Th1 e Th2 (SOCESP, 4ª ed.). A resposta Th1 produz citocinas pró-inflamatórias, como o interferon- γ, linfotoxina e TNF-α, contribuindo para desestabilização da placa. A resposta Th2, por sua vez, é responsável por secretar outro perfil de citocinas, como IL-4 e IL-10, que podem diminuir a inflamação, inclusive controlando a resposta Th1 e reduzindo a apresentação de antígenos às células T; sua função na aterogênese, entretanto, é menos estabelecida do que para a resposta Th1 (SOCESP, 4ª ed.). Outro subtipo, os linfócitos Th17 secretam interleucina 17, que possui efeitos mistos na placa de ateroma, tanto pró-aterogênico quanto pró- fibrótico. Ainda outra população de células TCD4+, os linfócitos T reguladores (CD4+; CD25+), também estão presentes nesse cenário e possivelmente desempenham funções antiateroscleróticas (SOCESP, 4ª ed.). ↠ Os linfócitos TCD8+ (linfócitos T citotóxicos), por sua vez, estão relacionados ao processo de apoptose de células como macrófagos, CE e CML, por meio da expressão do fator citotóxico de membrana Fas ligante e de DAMPs. Todas as ações descritas até o momento são chamadas de resposta imune adaptativa celular (SOCESP, 4ª ed.). OBS.: A resposta imune adaptativa humoral, que envolve a ativação das células B e sua decorrente produção de anticorpos, possivelmente também participa do processo aterogênico, por meio da produção de imunoglobulinas M (possivelmente ateroprotetora) pelas células B1 e de citocinas e imunoglobulinas G (pró-aterogência) pelas células B2 (SOCESP, 4ª ed.). FASE DE PROGRESSÃO PARA PLACA COMPLEXA ↠ Enquanto o conjunto de células espumosas é característico da estria gordurosa, a deposição do tecido 4 Júlia Morbeck – @med.morbeck fibroso define a lesão aterosclerótica mais avançada (SOCESP, 4ª ed.). Como vimos, macrófagos e linfócitos T infiltram as lesões ateroscleróticas e localizam preferencialmente na borda do ateroma, onde a atividade inflamatória é mais ativa e por onde se dá o crescimento da placa (SOCESP, 4ª ed.). ↠ Na fase de progressão da placa, as CML sintetizam a matriz extracelular. Essas células migram da túnica média para a íntima em resposta à produção de fator de crescimento derivado de plaqueta (PDGF) secretado pelos macrófagos ativados e pelas CE, processo em parte estimulado pela degradação da matriz extracelular pela metaloproteinase de matriz 9 (MMP-9) e por outras proteinases (SOCESP, 4ª ed.). OBS.: Acredita-se também que parte dessas CML seja proveniente de precursores vindos da corrente sanguínea ou mesmo de células tronco presentes na própria parede arterial (SOCESP, 4ª ed.). ↠ Uma vez na íntima, as CML proliferam sob influência de vários fatores de crescimento e secretam proteínas da matriz extracelular, entre eles o colágeno intersticial. Além de formação de matriz, também ocorre nesse momento a mineralização (calcificação) da placa, também por ação das CML. Esse processo parece ser mediado pelo sistema RANK/RANK ligante (como estimulantes da mineralização) e osteoprotegerina (como inibidor), de maneira análoga à mineralização no tecido ósseo (SOCESP, 4ª ed.). ↠ Outro processo importante para a progressão da aterogênese é a formação de novos vasos sanguíneos a partir da vasa vasorum, processo conhecido como neovascularização. A neovascularização é mediada por fatores como o já citado VEGF, fatores de crescimento de fibroblasto, oncostatina M e fatores de crescimento placentário. Os neovasos permitem a progressão da placa aterosclerótica por facilitarem a entrada de mais leucócitos nas placas já estabelecidas (através da hiperexpressão de VCAM-1) e por possibilitarem o aporte de nutrientes para regiões mais centrais da placa e, por isso, mais afastadas do lúmen vascular original (SOCESP, 4ª ed.). Nesse fenômeno, há a produção de trombina, que promove a ativação de CE, de monócitos e macrófagos, de CML e de plaquetas. Em resposta à trombina, essas células secretam mediadores inflamatórios, entre eles CD40L e RANTES (regulated upon activation, normal T cell express sequence), que promovem o crescimento da placa, tornando- as suscetíveis às complicações trombóticas da aterosclerose (SOCESP, 4ª ed.). ↠ As plaquetas têm um papel importante nessa fase, secretando mediadores inflamatórios, entre eles CD40L e fator de crescimento plaquetário, o que favorece o sinergismo entre inflamação e trombose na fisiopatologia da aterotrombose (SOCESP, 4ª ed.). A hemorragia causada pelos neovasos consiste num bom exemplo para ilustrar o conceito mais atual em relação à progressão temporal da doença aterosclerótica. Hoje, acredita-se, na verdade, que essa evolução se dê em surtos: as placas podem permanecer quiescentes por algum tempo, talvez anos, até quealgum evento específico (como, por exemplo, uma hemorragia intraplaca) deflagre uma piora dessa lesão, levando a um aumento de atividade inflamatória na região, com acúmulo de CML, aumento de deposição de matriz e crescimento da espessura global da placa (SOCESP, 4ª ed.). FASE DE ROTURA DA PLACA ↠ Ao longo de todo o caminho de progressão da aterogênese, no qual há a transformação de uma placa rica em gordura para uma placa fibrosa e muitas vezes calcificada, pode haver estenose do lúmen do vaso (SOCESP, 4ª ed.). ↠ Considera-se que, em geral, no início do desenvolvimento das lesões ateroscleróticas, o crescimento da placa se dá num sentido contrário à luz vascular, aumentando, assim, a espessura total da parede do vaso. Esse processo é conhecido como remodelamento positivo, sendo mediado, sobretudo, pelos diversos ciclos de secreção e degradação da matriz extracelular secretada pelas CML. Acredita-se que quando a placa atinge um determinado tamanho (cerca de 40% da espessura vascular em corte seccional), a lesão passe a crescer em direção à luz do vaso, podendo assim, causar lesões estenóticas (SOCESP, 4ª ed.). Essa progressão lenta da lesão em geral é responsável por quadros clínicos crônicos, como a angina estável, com desenvolvimento sintomático progressivo ao longo de anos (SOCESP, 4ª ed.). ↠ A rotura da placa com sua trombose é a complicação mais temida da aterosclerose, estando por trás da 5 Júlia Morbeck – @med.morbeck fisiopatologia de grande parte das síndromes coronárias agudas (SCA) (SOCESP, 4ª ed.). ↠ A SCA, em particular, pode mais frequentemente resultar de dois mecanismos distintos em relação à fase final de instabilização da placa: (SOCESP, 4ª ed.). ➢ rotura da capa fibrosa; ➢ erosão superficial da íntima. ↠ Acredita-se que, para que a rotura aconteça, deva haver um desequilíbrio entre produção e degradação de matriz extracelular que compõe a capa fibrosa, sendo que, no cômputo final, haja predomínio da degradação da matriz, enfraquecimento da capa e rotura. A inflamação, mais uma vez, seria o processo básico que faria essa regulação, sendo que a degradação da capa fibrosa se dá essencialmente por enzimas (metaloproteinases e catepsinas) liberadas pelos macrófagos (SOCESP, 4ª ed.). ↠ Com a rotura, as moléculas de fator tecidual do núcleo lipídico exposto, proveniente das células espumosas e de partículas apoptóticas de CML, irão interagir com moléculas de fibrinogênio e inibidor do ativador plasminogênio (PAI-1) presentes no sangue, levando à formação de um trombo sobre a placa rota. Este trombo pode tanto levar a uma obstrução total e dramática do fluxo sanguíneo como pode ser não oclusivo e transitório, a depender de como essas interações complexas irão ocorrer (SOCESP, 4ª ed.). ↠ O segundo mecanismo para SCA, a erosão superficial da íntima, é menos compreendido. Nesses casos, encontravam-se erosões no endotélio da placa, expondo ao sangue uma camada íntima rica em CML e proteoglicanos, sem haver, entretanto, exposição do núcleo lipídico (SOCESP, 4ª ed.). Podemos dizer que a inflamação acaba por modular as seguintes ações na aterogênese: (SOCESP, 4ª ed.). ➢ A ativação do endotélio e recrutamento monolinfocitário. ➢ A captação e oxidação das partículas de lipoproteínas de baixa densidade (LDL). ➢ A produção local e sistêmica de citocinas pró-inflamatórias. ➢ A produção de proteases e a degradação da capa fibrótica, responsáveis pela desestabilização da placa. ➢ A indução da apoptose das células da placa. ➢ O controle da coagulação após rotura da placa, aumentando fatores pró-coagulantes tanto no núcleo lipídico quanto no sangue. Obs.: A aterosclerose tem duas consequências principais: obstrução arterial, com isquemia, aguda ou crônica; dilatação arterial, resultando em aneurisma (BOGLIOGO, 10ª ed.). Doença Arterial Coronariana (DAC) ↠ O termo doença arterial coronariana (DAC) descreve a cardiopatia causada pelo comprometimento do fluxo 6 Júlia Morbeck – @med.morbeck sanguíneo coronariano. Na maior parte dos casos, a DAC é causada pela aterosclerose, que não somente afeta as artérias coronárias como também as artérias em outras áreas do corpo (PORTH, 10ª ed.). As doenças das artérias coronárias podem causar isquemia do miocárdio e angina, infarto do miocárdio ou ataque cardíaco, arritmias cardíacas, defeitos na condução, insuficiência cardíaca e morte súbita (PORTH, 10ª ed.). FATORES DE RISCO DA DAC ↠ Os principais fatores de risco para a DAC incluem: (PORTH, 10ª ed.). ➢ tabagismo; ➢ pressão arterial alta; ➢ elevação dos níveis séricos de colesterol total e de colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL); ➢ baixos níveis séricos de colesterol de lipoproteína de alta densidade (HDL); ➢ diabetes; ➢ idade avançada; ➢ obesidade abdominal; ➢ inatividade física. OBS.: Os indivíduos com diabetes e síndrome metabólica apresentam um risco particularmente alto de desenvolvimento de DCV, apresentando significativa morbidade decorrente da doença (PORTH, 10ª ed.). Etiologia da DAC Epidemiologia da DAC ↠ A prevalência da DAC varia de acordo com o estudo considerado, na medida em que os estudos referentes ao tema utilizam muitas vezes definições distintas. Estima-se que no ano de 2018, 16,5 milhões de americanos apresentavam doença coronária, sendo predominante no sexo masculino (55%) (SOCESP, 4ª ed.). ↠ Naturalmente que tanto no homem quanto na mulher a prevalência aumenta com a idade. Nas fases mais precoces da vida, a maior prevalência entre as mulheres pode ser explicada pela disfunção microvascular, mais comum nesse grupo (SOCESP, 4ª ed.). ↠ Em 2017, foi estimada uma prevalência de DAC de 1,75% (2.500.000 de indivíduos), na população brasileira maior que 20 anos. As maiores prevalências estavam nas regiões Sul e Sudeste, com taxa de mortalidade padronizada decrescente, mas com aumento da prevalência desde 1990 (MARINHO, 2021). ↠ Com estimativa de incidência de cerca de 121 mil casos por ano1 em 2017, a DAC tem sido um importante problema de saúde pública no país (MARINHO, 2021). ↠ A maior mortalidade por DAC está relacionada com um menor nível socioeconômico, países de maior renda têm, taxa de mortalidade menor que países de média renda. Os novos tratamentos da DAC com uso de novas tecnologias têm reduzido a mortalidade, mas não podem reduzir a carga da doença e a perda da saúde, associada com a DAC (MARINHO, 2021). Fisiopatologia da DAC ↠ O fluxo sanguíneo coronariano leva oxigênio aos miócitos e remove produtos do catabolismo, como dióxido de carbono, ácido láctico e íons hidrogênio. O coração tem uma demanda metabólica tremendamente alta; embora represente apenas 0,3% do peso corporal, ele é responsável por 7% do consumo de oxigênio em repouso. Isquemia celular ocorre quando há uma demanda aumentada por oxigênio em relação ao suprimento arterial máximo, ou uma redução absoluta do supri- mento de oxigênio (HAMMER; MCPHEE, 7ª ed.). ↠ A redução do suprimento de oxigênio pode raramente se originar de diminuição do conteúdo de oxigênio do sangue – como acontece na intoxicação por monóxido de carbono ou na anemia –, mas, mais comumente, é causada por anormalidades de artérias coronárias, particularmente doença aterosclerótica (HAMMER; MCPHEE, 7ª ed.). ↠ Isquemia miocárdica pode surgir por uma combinação de demanda aumentada e suprimento diminuído; o abuso de cocaína aumenta a demanda de oxigênio (por inibição da recaptação de noradrenalina nos terminais nervosos adrenérgicos no coração) e pode reduzir o suprimento de oxigênio por causar vasoespasmo (HAMMER; MCPHEE, 7ª ed.). 7 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ O coração recebe sua energia principalmente de ATP gerado por fosforilação oxidante de ácidos graxos livres, embora glicose e outroscarboidratos possam ser utilizados. Dentro de 60 segundos após oclusão de artéria coronária, a tensão de oxigênio nas células miocárdicas afetadas cai essencialmente para zero. Os estoques cardíacos de fosfatos de alta energia são exauridos rapidamente, e as células mudam prontamente para metabolismo anaeróbio, com a consequente produção de ácido láctico (HAMMER; MCPHEE, 7ª ed.). ↠ Disfunção do relaxamento e contração do miocárdio ocorre dentro de segundos, mesmo antes que aconteça a depleção de fosfatos de alta energia. A base bioquímica para esta anormalidade não é conhecida. Se a perfusão não for restabelecida dentro de 40 a 60 minutos, inicia- se um estágio irreversível de dano, caracterizado por tumefação difusa de mitocôndrias, lesão da membrana celular e depleção acentuada de glicogênio. O mecanismo exato pelo qual dano irreversível ocorre não está claro, mas depleção intensa de ATP, concentrações extracelulares de cálcio aumentadas, acidose láctica e radicais livres têm sido postulados como possíveis causas (HAMMER; MCPHEE, 7ª ed.). Manifestações Clínicas da DAC DOR TORÁCICA ↠ A dor torácica tem sido atribuída tradicionalmente à isque- mia. Contudo, evidências mais recentes sugerem que, em pacientes com doença arterial coronariana, 70 a 80% dos episódios de isquemia na verdade são assintomáticos (HAMMER; MCPHEE, 7ª ed.). Acredita-se que a dor torácica, quando presente, seja mediada por fibras aferentes simpáticas que inervam ricamente o átrio e o ventrículo. A partir do coração, as fibras atravessam os gânglios simpáticos torácicos superiores e as cinco raízes dorsais torácicas superiores da medula espinal. Na medula espinal, os impulsos supostamente convergem com impulsos de outras estruturas. Esta convergência pode ser o mecanismo da dor na parede torácica, nas costas e no braço que algumas vezes acompanha a angina de peito (HAMMER; MCPHEE, 7ª ed.). A importância dessas fibras pode ser demonstrada em pacientes que passaram por um transplante de coração. Quando esses pacientes desenvolvem aterosclerose, eles permanecem completamente assintomáticos, sem desenvolvimento de angina (HAMMER; MCPHEE, 7ª ed.). ↠ Três fatores provavelmente são responsáveis pela grande proporção de episódios assintomáticos: disfunção de nervos aferentes, perfusão reduzida transitória e limiares de dor diferentes entre pacientes (HAMMER; MCPHEE, 7ª ed.). QUARTA BULHA CARDÍACA E DISPNEIA ↠ Esses achados podem ocorrer devido à disfunção diastólica e sistólica do miocárdio isquêmico (HAMMER; MCPHEE, 7ª ed.). CHOQUE ↠ O local de oclusão da artéria coronária determina a apresentação clínica da isquemia ou do infarto do miocárdio. Como uma regra geral, quanto mais miocárdio é suprido pelo vaso ocluído, mais significativos e graves são os sintomas. Por exemplo, obstrução da artéria coronária principal esquerda, ou da artéria coronária descendente anterior esquerda, geralmente se apresentará como insuficiência cardíaca grave, frequentemente com hipotensão associada (choque) (HAMMER; MCPHEE, 7ª ed.). BRADICARDIA ↠ Infartos da parede miocárdica inferior geralmente se originam de oclusão da artéria coronária direita. Como a área de tecido ventricular esquerdo suprida por esta artéria é pequena, os pacientes geralmente não se apresentam com insuficiência cardíaca (HAMMER; MCPHEE, 7ª ed.). ↠ Entretanto, a artéria que fornece suprimento sanguíneo para o nó AV se ramifica a partir da artéria descendente posterior, de modo que os infartos do miocárdio da parede inferior às vezes são associados com condução lenta ou ausente do nó AV. Além da isquemia, podem ocorrer anormalidades de condução do nó AV em consequência de ativação reflexa do nervo vago, que inerva ricamente o nó AV (HAMMER; MCPHEE, 7ª ed.). OBS.: Disfunção do nó sinusal é raramente observada em doença arterial coronariana, porque esta área recebe sangue tanto da artéria coronária direita quanto da esquerda (HAMMER; MCPHEE, 7ª ed.). NÁUSEA E VÔMITO ↠ Náusea e vômito podem surgir por ativação do nervo vago na situação de infarto da parede inferior do miocárdio (HAMMER; MCPHEE, 7ª ed.). Taquicardia ↠ Os níveis de catecolaminas geralmente estão elevados em pacientes com infarto do miocárdio. Isso ajuda a manter o volume sistólico, mas leva a uma frequência cardíaca aumentada (HAMMER; MCPHEE, 7ª ed.). 8 Júlia Morbeck – @med.morbeck Dor precordial e angina OBS.: O termo dor precordial se refere ao incômodo na região torácica. DOR TORÁCICA ↠ A dor torácica aguda é uma das causas mais frequentes de atendimento nas unidades de emergência (UE), correspondendo a mais de 5% das visitas em UE e até 10% das visitas não relacionadas a traumatismos (DIRETRIZ, 2021). ↠ O diagnóstico de dor precordial se divide em dor típica e atípica. ➢ A dor típica caracteriza angina ou infarto do miocárdio, sendo parecida com um aperto ou opressão no peito. ➢ Já a dor atípica aponta para uma causa diferente de angina ou infarto. Febre, tosse e queimação ou azia são alguns dos sinais que podem acompanhar esse tipo de incômodo. ↠ Ainda, no momento inicial do atendimento, é muito importante identificar e classificar os pacientes quanto à probabilidade da dor torácica ser origem isquêmica (SANTOS; TIMERMAN, 2018). ➢ Dor Tipo A (definitivamente anginosa): dor em aperto ou queimação, em repouso, ou desencadeada pelo esforço ou estresse, com irradiação para o ombro, mandíbula ou face interna do braço, aliviada pelo repouso ou nitrato. Não são necessários exames complementares para a definição diagnóstica. ➢ Dor Tipo B (provavelmente anginosa): as características da dor torácica fazem da insuficiência coronária a principal hipótese, porém, são necessários exames complementares para a definição diagnóstica. ➢ Dor Tipo C (possivelmente anginosa): dor torácica cujas características não fazem da insuficiência coronária a principal hipótese (dor torácica atípica), porém, são necessários exames complementares para excluí-la. ➢ Dor Tipo D (definitivamente não anginosa): dor torácica atípica, cujas características não incluem a insuficiência coronária aguda no diagnóstico diferencial. OBS.: As diretrizes do National Heart Attack Alert Program afirmam que os pacientes com os sintomas típicos que chamam bastante atenção, devem ser avaliados de forma imediata pelos enfermeiros de triagem e encaminhados para avaliação mais precisa, os sintomas são: dor torácica, em aperto ou opressão, com duração de dez a vinte minutos, dor que se irradia para o pescoço, mandíbula, ombros, dorso ou ambos os braços; indigestão, ou azia, náuseas, e/ou vômito associados a desconforto torácico; dispnéia persistente, fraqueza, tontura e perda de consciência (LEITE et. al., 2019). IMPORTANTE: Não esquecer: uma dor torácica com característica mais intensa, súbita e com duração aproximada de dez a vinte minutos, junto com outros sinais e sintomas como: dispneia, sudorese, palidez cutânea e náuseas, frequentemente representa um infarto agudo do miocárdio (LEITE et. al., 2019). ANGINA ↠ Angina pectoris representa o quadro de crises de dor precordial com características de opressão, cortante, causada por isquemia miocárdica de curta duração (poucos minutos). Trata-se de uma síndrome DIRETRIZ, 2014 9 Júlia Morbeck – @med.morbeck essencialmente clínica, sendo o correspondente anatomopatológico variável (nem sempre há necrose de miocardiócitos). (BOGLIOGO, 10ª ed.). ANGINA ESTÁVEL ↠ A angina estável é a forma mais comum. O quadro aparece por aumento súbito do trabalho cardíaco, como acontece em exercícios físicos, estados de estresse, emoções ou outras condições que causam sobrecarga cardíaca (BOGLIOGO, 10ª ed.). ↠ Ao ECG, encontra-se infradesnivelamento do segmento ST por a isquemia ser mais intensa na regiãosubendocárdica. Em geral, associa-se a aterosclerose acentuada em uma ou mais coronárias. Sua patogênese, portanto, relaciona-se com fluxo sanguíneo em nível crítico por obstrução coronariana que se torna insuficiente quando há aumento da demanda (desbalanço entre demanda e oferta de sangue). O quadro doloroso desaparece com repouso ou pelo uso de vasodilatadores (BOGLIOGO, 10ª ed.). ANGINA INSTÁVEL ↠ Na angina instável, os episódios são desencadeados por pequenos esforços, ou até em repouso, e duram mais tempo (acima de 10 minutos). É o tipo de angina que geralmente precede o infarto do miocárdio. Na maioria dos pacientes, existe aterosclerose coronariana e formação de trombos não oclusivos, às vezes associados a vasoespasmos. Tanto a angina instável quanto o infarto do miocárdio são manifestações da síndrome coronariana aguda (BOGLIOGO, 10ª ed.). ANGINA DE REPOUSO ↠ A angina de repouso (angina de Prinzmetal) deve-se também a espasmos coronarianos, muitas vezes associados a placas ateromatosas. O quadro não tem relação com aumento da demanda (esforço físico, emoções etc.) (BOGLIOGO, 10ª ed.). ↠ Ao ECG, encontra-se supradesnivelamento do segmento ST, indicando isquemia transmural. Esta forma de angina responde rapidamente a agentes vasodilatadores (BOGLIOGO, 10ª ed.). IMPORTANTE: A AI é definida como isquemia miocárdica na ausência de necrose miocárdica, ou seja, com biomarcadores negativos. Durante o manejo inicial da SCA, frequentemente, é difícil diferenciar AI do IAMSSST com base apenas em critérios clínicos (i. e., antes que a dosagem de marcadores de necrose miocárdica esteja disponível), devendo ambas as entidades serem conduzidas de forma semelhante nessa fase (DIRETRIZ, 2021). IMPORTANTE: O termo síndrome coronariana aguda (SCA) é usado para pacientes em que há suspeita de isquemia miocárdica aguda ou IM. São classificadas em três apresentações: angina instável (AI), IM sem supradesnivelamento do segmento ST (IMsSST) e IM com supradesnivelamento do segmento ST (IMcSST). O discernimento entre IM e AI em geral é feito ao comparar as curvas de marcadores de necrose miocárdica (SOCESP, 4ª ed.). Diagnóstico da DAC ↠ O diagnóstico da doença arterial coronariana estável (DAC) deve seguir os princípios da semiologia médica, ou seja, deve incluir a anamnese detalhada, exame físico e exames subsidiários. A regra também é válida para os pacientes assintomáticos, uma vez que a busca ativa pela doença, utilizando exames subsidiários, só se justifica em pacientes de maior risco, identificados durante o atendimento médico (SOCESP, 4ª ed.). ↠ Na história clínica, além da avaliação da dor torácica, quando existente, é fundamental que os antecedentes pessoais e familiares sejam explorados adequadamente. Pacientes com fatores de risco conhecidos estão mais sujeitos a ter ou a desenvolver a doença, o que torna sua abordagem diferente daqueles sem qualquer um dos fatores. Doenças associadas também são igualmente importantes, pois muitos delas podem, mesmo isoladamente, levar ao diagnóstico de DAC, como no caso de um infarto do miocárdio prévio por exemplo (SOCESP, 4ª ed.). ↠ Em 2010, Boesner et al. propuseram cinco características para que em um contexto de atendimento primário fosse possível confirmar ou descartar a hipótese de doença coronariana: (SOCESP, 4ª ed.). ➢ Homens com idade superior a 55 anos e mulheres com idade superior a 65 anos. ➢ Doença cardiovascular conhecida. ➢ Crença, pelo paciente, que a dor seja de origem cardíaca. ➢ Piora da dor durantes os esforços. ➢ Ausência de dor à palpação torácica. DIRETRIZ, 2014 DIRETRIZ, 2014 10 Júlia Morbeck – @med.morbeck OBS.: Ainda, segundo os autores, quando apenas duas características (ou menos) estiverem presentes, é possível descartar a hipótese de DAC com especificidade de 81%. No entanto, quando 3 a 5 características estão presentes, a sensibilidade do teste chega a 87% (SOCESP, 4ª ed.). TESTES NÃO INVASIVOS ↠ Embora os testes não invasivos seja de enorme valia para o diagnóstico de DAC, seu uso só se aplica nas situações em que a probabilidade de doença é pelo menos intermediária. Exames realizados em pacientes assintomáticos ou com probabilidade baixa de doença não são custo/efetivos, além de aumentarem a possibilidade de um resultado falso-positivo, o que pode, em diversas situações, levar a condutas inadequadas (SOCESP, 4ª ed.). ↠ Os mesmos testes usados para o diagnóstico são também de grande importância para a determinação da gravidade da doença e, por consequência, do seu prognóstico. Assim, mesmo nas situações em que o diagnóstico já está confirmado, os testes não invasivos podem ser realizados para estratificação de risco ou avaliação da eficácia terapêutica (SOCESP, 4ª ed.). EXAMES BIOQUÍMICOS ↠ Os testes bioquímicos têm fundamental importância na medida em que ajudam a avaliar adequadamente o risco e/ ou o prognóstico do paciente, auxiliam no diagnóstico de doenças associadas e colaboram para a decisão terapêutica (SOCESP, 4ª ed.). ➢ Medida da glicemia de jejum, da hemoglobina glicada (HbA1c) e, eventualmente, o teste de tolerância oral à glicose são fundamentais – correlação entre DM e DAC (SOCESP, 4ª ed.). ➢ Avaliação da função renal associada ao cálculo da filtração glomerular – doenças renais são fatores de risco para a DAC (SOCESP, 4ª ed.). ➢ O colesterol total, suas frações HDL e LDL, e também os triglicérides devem ser avaliados anualmente (SOCESP, 4ª ed.). ELETROCARDIOGRAMA EM REPOUSO ↠ O ECG de 12 derivações é o procedimento diagnóstico cardiovascular utilizado com mais frequência (PORTH, 10ª ed.). ↠ Alterações eletrocardiográficas em repouso podem estar ausentes em 50% dos pacientes portadores de angina estável, principalmente aqueles com função de ventrículo esquerdo normal (SOCESP, 4ª ed.). ↠ Embora um eletrocardiograma (ECG) em repouso normal, não seja capaz de excluir a presença da doença coronariana, algumas alterações podem nos direcionar para o diagnóstico, como aquelas relacionadas a um quadro isquêmico prévio. Assim, todo paciente com suspeita de DAC deve ter o ECG realizado (SOCESP, 4ª ed.). O pai do ECG moderno foi o fisiologista holandês Walter Einthoven. Ele nomeou as partes do ECG como as conhecemos hoje e criou o “triângulo de Einthoven”, um triângulo hipotético criado ao redor do coração quando os eletrodos são colocados nos braços e na perna esquerda. Os lados do triângulo são numerados para corresponder às três derivações, ou pares de eletrodos, usados para obter o registro. (SILVERTHON, 7ª ed.) Na prática clínica, posicionam-se eletrodos nos braços e pernas (derivações dos membros) e em seis posições do tórax (derivações torácicas) para registrar o ECG. (TORTORA, 14ª ed.) O eletrocardiógrafo amplifica os sinais elétricos do coração e produz 12 traçados diferentes a partir das distintas combinações de derivações de membros e tórax. Cada eletrodo no membro e tórax registra uma atividade elétrica discretamente diferente, por causa da diferença em sua posição em relação ao coração. (TORTORA, 14ª ed.) 11 Júlia Morbeck – @med.morbeck ONDAS DO ECG Existem dois componentes principais em um ECG: as ondas e os segmentos. As ondas fazem parte do traçado que sobe e desce a partir da linha de base. Os segmentos são partes da linha de base entre duas ondas. Os intervalos são combinações de ondas e segmentos. Em um registro típico, três ondas claramente reconhecíveis aparecem a cada batimento cardíaco. (TORTORA, 14ª ed.) A primeira, chamada onda P, é um pequeno desvio para cima no ECG. A onda P representa a despolarização atrial, que se propaga do nó SA ao longo das fibras contráteis em ambos os átrios. (TORTORA, 14ª ed.) A segunda onda, denominada complexo QRS, começa com uma deflexão para baixo, continuacomo uma grande onda vertical triangular, e termina como uma onda descendente. O complexo QRS representa a despolarização ventricular rápida, conforme o potencial de ação se propaga ao longo das fibras contráteis ventriculares. (TORTORA, 14ª ed.) A terceira onda é um desvio para cima em forma de cúpula chamada de onda T. Indica a repolarização ventricular e ocorre apenas quando os ventrículos começam a relaxar. A onda T é menor e mais larga do que o complexo QRS, porque a repolarização ocorre mais lentamente do que a despolarização. (TORTORA, 14ª ed.) Durante o período de platô da despolarização constante, o traçado do ECG é reto. (TORTORA, 14ª ed.) A análise de um ECG também envolve medir os intervalos de tempo entre ondas, que são chamados intervalos ou segmentos. Por exemplo, o intervalo PQ é o tempo desde o início da onda P até o início do complexo QRS. Representa o tempo de condução do início da excitação atrial até o início da excitação ventricular. (TORTORA, 14ª ed.) O segmento ST, que começa no fim da onda S e termina no início da onda T, representa o momento em que as fibras contráteis ventriculares são despolarizadas durante a fase de platô do potencial de ação. (TORTORA, 14ª ed.) O intervalo QT se estende do início do complexo QRS até ao final da onda T. É o tempo a partir do início da despolarização ventricular até o fim da repolarização ventricular. (TORTORA, 14ª ed.) ↠ O ECG tem papel ainda maior na avaliação do paciente no momento em que a dor se faz presente. Alteração do segmento ST e da onda T, principalmente as dinâmicas, são fortemente sugestivas de doença coronária (SOCESP, 4ª ed.). ↠ Mais de 1/3 dos pacientes apresentam alterações características de SCA como depressão do segmento ST, elevação transitória de segmento ST e inversão de onda T. Alterações dinâmicas no segmento ST (depressão ou elevação do ST) ou inversões da onda T durante episódio doloroso, que se resolvem pelo menos parcialmente quando os sintomas são aliviados, são importantes marcadores de prognóstico adverso, ou seja, subsequente IAM ou morte (DIRETRIZ, 2021). ↠ Em pessoas sem elevação do segmento ST ao ECG, a oclusão coronariana trombótica não é total ou é intermitente, enquanto aquelas com elevação do segmento ST normalmente apresentam oclusão coronariana completa à angiografia; por fim, muitas apresentam infarto do miocárdio com onda Q. (PORTH, 10ª ed.). ↠ As alterações que ocorrem podem não estar presentes imediatamente após o início dos sintomas e variam consideravelmente, dependendo da duração do evento isquêmico (agudo versus progressivo), da sua extensão (subendocárdico versus transmural) e da sua localização (anterior versus septal versus inferoposterior). Como essas alterações em geral ocorrem ao longo do tempo e são observadas nas derivações do ECG que mostram a área do miocárdio envolvida, é indicado o monitoramento contínuo e sequencial do ECG de 12 derivações (PORTH, 10ª ed.). ↠ A fase de repolarização do potencial de ação (onda T e segmento ST ao ECG) normalmente é a primeira a apresentar envolvimento durante a isquemia e a lesão do endocárdio. Na medida em que a área envolvida se torna isquêmica, a repolarização do miocárdio sofre alteração, 12 Júlia Morbeck – @med.morbeck causando mudanças na onda T. Isso comumente é representado pela inversão da onda T, embora possa ocorrer uma elevação hiperaguda da onda T como o sinal mais precoce do infarto (PORTH, 10ª ed.). ↠ As alterações no segmento ST ocorrem com a lesão isquêmica do miocárdio e, dependendo das derivações envolvidas, podem indicar a lesão de interesse. Na situação normal, o segmento ST do ECG é quase isoelétrico (i. e., achatado ao longo da linha basal), uma vez que todas as células miocárdicas hígidas alcançam o mesmo potencial durante a repolarização inicial (PORTH, 10ª ed.). ↠ A isquemia aguda grave reduz o potencial de repouso da membrana e abrevia a duração do potencial de ação na área isquêmica. Tais alterações criam uma diferença de voltagem entre as áreas normais e isquêmicas do miocárdio, a qual leva à denominada corrente de lesão entre essas regiões. As correntes de lesão são as correntes representadas ao ECG de superfície como um desvio do segmento ST. Quando a lesão aguda é transmural, todo o vetor ST está desviado na direção do epicárdio exterior, resultando em elevação do segmento ST (PORTH, 10ª ed.). SITE CARDIOPAPERS ➢ Supra “feliz” = concavidade para cima = pensar em causas benignas (ou em IAM em fase inicial). ➢ Supra “triste” = concavidade para baixo = pensar em IAM. ↠ No infarto com onda Q, ocorre o desenvolvimento de ondas Q anormais e perda da onda R, uma vez que não ocorre a condução da corrente de despolarização a partir do tecido necrótico. Quando a lesão está confinada primariamente ao subendocárdio, todo o segmento ST está desviado na direção da camada ventricular interna, resultando em uma depressão geral do segmento ST e não na sua elevação (PORTH, 10ª ed.). BIOMARCADORES ↠ Marcadores bioquímicos são úteis para auxiliar tanto no diagnóstico quanto no prognóstico de pacientes com SCA. Quando as células miocárdicas sofrem lesão, suas membranas celulares perdem a integridade, as proteínas intracelulares se difundem no interstício e vão para os linfáticos e capilares (DIRETRIZ, 2021). Após a lesão miocárdica, a cinética dos marcadores depende de diversos fatores: o compartimento intracelular das proteínas; o tamanho das moléculas; o fluxo regional linfático e sanguíneo; e a taxa de depuração do marcador. Tais fatores, em conjunto com as características de cada marcador, diferenciam o desempenho diagnóstico de cada um para IAM (DIRETRIZ, 2021). ↠ A necrose do músculo cardíaco promove a liberação de enzimas e proteínas estruturais dos miócitos que podem ser quantificadas por técnicas específicas no sangue dos pacientes com IAM.1 Os principais marcadores séricos de necrose miocárdica são a mioglobina, a creatinoquinase isoenzima MB (CK-MB), a CK-MB massa e as troponinas I e T (SANTOS; TIMERMAN, 2018). IMPORTANTE: As troponinas T e I são os marcadores laboratoriais mais sensíveis e específicos de lesão miocárdica. Em média, a troponina T tem sensibilidade de 96,9% e especificidade de 94,5% para o diagnóstico de IAM. Já a CK-MB massa pode ser uma alternativa às troponinas cardíacas, quando da não disponibilidade destas (SANTOS; TIMERMAN, 2018). ↠ Os marcadores de necrose miocárdica devem ser solicitados em todos os pacientes com suspeita de SCA e repetidos entre seis e 12 horas. A elevação de tais marcadores não é exclusiva dos casos de IAM, mas também pode estar presente nas situações que cursam com injúria miocárdica de outra natureza, tais como taquiarritmias, miocardite, insuficiência cardíaca, pós- ressuscitação cardiopulmonar, trauma torácico, embolia 13 Júlia Morbeck – @med.morbeck pulmonar, hipertensão pulmonar (SANTOS; TIMERMAN, 2018). TROPONINAS As troponinas são proteínas do complexo de regulação miofibrilar presentes no músculo estriado cardíaco. Existem três subunidades: troponina T, troponina I e troponina C (DIRETRIZ, 2021). A troponina C é coexpressa nas fibras musculares esqueléticas de contração lenta e não é considerada como um marcador específico cardíaco (DIRETRIZ, 2021). As troponinas cardíacas permanecem elevadas por tempo mais prolongado, podendo permanecer elevadas por até 7 dias depois do IAM. As troponinas são os biomarcadores de primeira escolha para avaliação diagnóstica de pacientes com suspeita de IAM, pois apresentam acurácia diagnóstica superior à da CK-MB massa e dos demais biomarcadores de lesão miocárdicas (DIRETRIZ, 2021). Pacientes com troponinas elevadas apresentam risco aumentado de eventos cardíacos nos primeiros dias de internação e identificam um subgrupo de SCASSSTcom potencial maior de benefício para manuseio invasivo. Apesar da identificação acurada de lesão miocárdica pelas troponinas, elas não identificam o(s) mecanismo(s) de lesão; estes podem ser múltiplos, incluindo etiologias não coronarianas como taquiarritmias e miocardite, ou ainda condições não cardíacas, como sepse, embolia pulmonar e insuficiência renal. Assim, principalmente naqueles casos em que a apresentação clínica não é típica de SCA, devem ser consideradas outras causas de lesão cardíaca relacionadas com aumento de troponinas (DIRETRIZ, 2021). A maior limitação das troponinas convencionais é sua baixa sensibilidade quando o paciente tem um tempo de início do quadro inferior a 6h. Com a introdução das troponinas de alta sensibilidade (Trop-US), passou a ser possível a detecção de níveis mais baixos de troponina, em menor tempo após início do quadro de lesão miocárdica de causa isquêmica (DIRETRIZ, 2021). CREATINOQUINASE, SUAS ISOENZIMAS E ISOFORMAS Idealmente, a CK-MB deve ser mensurada por imunoensaio para dosagem da sua concentração no plasma (CK-MB massa) em vez da sua atividade (DIRETRIZ, 2021). As subformas da CK-MB têm surgido como marcadores precoces (menos de 6h) de lesão miocárdica e inferência precoce da magnitude do IAM (DIRETRIZ, 2021). No entanto, a CK-MB massa apresenta como principal limitação elevar- se após dano em outros tecidos não cardíacos (falso-positivos), especialmente após lesão em músculo liso e esquelético. Podem acontecer resultados falso-positivos, em que a CK-MB é positiva e a troponina é negativa em cerca de 4% dos pacientes (DIRETRIZ, 2021). MIOGLOBINA A mioglobina é um marcador muito precoce de necrose miocárdica, precedendo a liberação de CK-MB em 2 a 5 horas. Como é uma molécula pequena, ela é liberada na circulação dentro de 1 hora após a morte da célula miocárdica, com valores de pico sendo atingidos em 5 a 12 horas. Pela elevada sensibilidade precoce, a mioglobina normal pode auxiliar o afastamento do diagnóstico de infarto (elevado valor preditivo negativo) (SOCESP, 4ª ed.). TESTE ERGOMÉTRICO ↠ O teste ergométrico (TE) continua sendo uma ótima opção para a avaliação de paciente com provável DAC. A sensibilidade e especificidade do TE é em torno de 45- 50% e de 85-90%, respectivamente, tornando-o especialmente interessante nos pacientes com probabilidade pré-teste entre 15-65% (SOCESP, 4ª ed.). Tratamento da DAC ↠ Por se tratar de doença metabólica progressiva, independentemente do tratamento de escolha, o controle a longo prazo da DAC é imprescindível (MOLINA et. al., 2020). ↠ O tratamento busca prevenir o IAM e diminuir a mortalidade, reduzindo sintomas e a ocorrência de isquemia miocárdica, para permitir melhor qualidade de vida (MOLINA et. al., 2020). ↠ O início do tratamento prevê orientação dietética e a inclusão de atividade física na rotina do paciente, pois tratar a doença de base (aterosclerose) faz parte do manejo da DAC; assim, mudanças no estilo de vida, controle da HAS, do sedentarismo, do estresse emocional, do tabagismo ativo e passivo, das dislipidemias e da obesidade devem ser contemplados durante o planejamento terapêutico (MOLINA et. al., 2020). ↠ Atualmente são diversas as técnicas para a reperfusão do miocárdio atingido por essa obstrução, como a colocação de stents farmacológicos, angioplastia coronária, com ou sem a colocação de stents coronários, cirurgias com a colocação de ponte de safena e também o tratamento farmacológico com o uso de estatinas e anticoagulantes. Para a escolha do melhor método muitos cardiologistas utilizam o Syntax Score, uma ferramenta desenvolvida a partir do estudo Syntax (CAERES; NUNES, 2019). TRATAMENTO MEDICAMENTOSO 14 Júlia Morbeck – @med.morbeck TROMBOLÍTICOS ↠ A doença tromboembólica aguda em determinados pacientes pode ser tratada com a administração de fármacos que ativam a conversão de plasminogênio em plasmina, uma serinoprotease que hidrolisa fibrina e, assim, dissolve coágulos (WHALEN, 6ª ed.). MECANISMO DE AÇÃO: Os trombolíticos apresentam algumas características comuns. Todos atuam direta ou indiretamente convertendo plasminogênio em plasmina, que, então, hidrolisa a fibrina, hidrolisando, assim, os trombos (WHALEN, 6ª ed.). ↠ A dissolução do coágulo e a reperfusão ocorrem com maior frequência quando o tratamento é iniciado logo após a formação do trombo, pois ele se torna mais resistente à lise à medida que envelhece (WHALEN, 6ª ed.). OBS.: Infelizmente, um número maior de trombos pode ocorrer enquanto o trombo se dissolve, levando a uma maior agregação das plaquetas e trombose. Estratégias para evitar essa situação incluem a administração de antiplaquetários, como AAS, ou antitrombóticos, como heparina (WHALEN, 6ª ed.). EFEITOS ADVERSOS: Os trombolíticos não diferenciam entre a fibrina de um trombo indesejado e a fibrina de um tampão hemostático benéfico. Assim, a hemorragia é o principal efeito adverso. Por exemplo, uma lesão prévia insuspeita, como a úlcera péptica, pode sangrar após a injeção de um trombolítico (WHALEN, 6ª ed.). ESTATINAS ↠ Usados contra hiperlipidemias (WHALEN, 6ª ed.). ↠ O tratamento farmacológico deve sempre ser acompanhado de modificações no estilo de vida, com exercícios e dieta pobre em gorduras saturadas (WHALEN, 6ª ed.). ↠ Os inibidores da HMG-CoA redutase (mais conhecidos como estatinas) reduzem os níveis elevados de LDL-C, resultando em redução substancial de eventos coronarianos e de morte por DCC. Eles são considera dos o tratamento de primeira escolha para pacientes com risco elevado de DCVAS (WHALEN, 6ª ed.). ↠ As vantagens terapêuticas incluem estabilização das placas, melhora da função endotelial coronariana, inibição da formação do trombo plaquetário e atividade anti- inflamatória. A importância de diminuir o LDL-C com estatinas foi demonstrado em pacientes com e sem DCC estabelecida (WHALEN, 6ª ed.). MECANISMO DE AÇÃO: Lovastatina, sinvastatina, pravastatina, atorvastatina, fluvastatina, pitavastatina e rosuvastatina são inibidores competitivos de HMG-CoA redutase, a etapa limitante da síntese de colesterol. Inibindo a síntese do colesterol, elas esgotam o seu estoque intracelular. O esgotamento do colesterol intracelular leva a célula a aumentar, na superfície, o número de receptores específicos de LDL-C que podem ligar o LDL-C circulante e internalizá-lo. Assim, o colesterol no plasma diminui por redução da síntese e aumento do seu catabolismo (WHALEN, 6ª ed.). EFEITOS ADVERSOS: Pode ocorrer aumento das enzimas hepáticas no tratamento com estatinas. Por isso, a função hepática deve ser avaliada antes de iniciar o tratamento e quando o paciente tem sintomas consistentes com disfunção hepática.. Esses fármacos são contraindicados durante a gravidez e a lactação (WHALEN, 6ª ed.). FÁRMACOS: Ateplase, reteplase e tenecteplase; estreptoquinase; uroquinase. 15 Júlia Morbeck – @med.morbeck BETABLOQUEADORES ↠ Os ß-bloqueadores são opção de tratamento para pacientes hipertensos com doença ou insuficiência cardíaca concomitante (WHALEN, 6ª ed.). ↠ Os ß-bloqueadores reduzem a pressão arterial primariamente diminuindo o débito cardíaco. Eles também podem diminuir o efluxo simpático do sistema nervoso central (SNC) e inibir a liberação de renina dos rins, reduzindo, assim, a formação de angiotensina II e a secreção de aldosterona (WHALEN, 6ª ed.). ↠ Na coronariopatia aguda, seus benefícios estão relacionados com sua ação nos receptores beta-1, diminuindo a frequência cardíaca (FC), a pressão arterial e a contratilidade miocárdica, e levando deste modo à redução no consumo de oxigênio pelo miocárdio (SOCESP, 4ª ed.). São classificados em cardiosseletivos (maior afinidade pelos receptores β1-succinato de metoprolol) e não seletivos (ligam--setanto aos β1 quanto aos β2-propranolol), o que implica em menor ou maior incidência de efeitos adversos (broncoes-pasmo, por exemplo) associados ao bloqueio de receptores não β1 (SOCESP, 4ª ed.). EFEITOS ADVERSOS: Os ß-bloqueadores podem causar bradicardia, hipotensão e efeitos adversos no SNC, como fadiga, letargia e insônia. Além disso, podem diminuir a libido e causar disfunção erétil, o que pode reduzir acentuadamente a adesão do paciente (WHALEN, 6ª ed.). NITRATOS ↠ Os benefícios terapêuticos do nitrato estão relacionados aos seus efeitos na circulação periférica e coronária. Seu efeito venodilatador, diminuindo o retorno venoso ao coração e o volume diastólico final do VE, reduz o consumo de oxigênio pelo miocárdio (SOCESP, 4ª ed.). ↠ Esses compostos causam redução na demanda miocárdica de oxigênio, seguida por alívio dos sintomas. Eles são eficazes nas anginas estável, instável e variante (WHALEN, 6ª ed.). MECANISMO DE AÇÃO: Os nitratos orgânicos relaxam o músculo liso vascular por sua conversão intracelular em íons nitrito, e, então, a óxido nítrico, que ativa a guanilatociclase e aumenta o monofosfato cíclico de guanosina (GMPc). O GMPc aumentado leva à desfosforilação das cadeias leves de miosina, resultando em relaxamento do músculo liso vascular (WHALEN, 6ª ed.). ↠ Nitratos como a nitroglicerina causam dilatação das veias grandes, o que reduz a pré-carga (retorno venoso ao coração) e, assim, reduz o trabalho do coração. Acredita-se ser esse o principal mecanismo de ação no tratamento da angina. Os nitratos também dilatam os vasos coronarianos, proporcionando aumento na oferta de sangue para o músculo cardíaco (WHALEN, 6ª ed.). EFEITO ADVERSO: O efeito adverso mais comum dos nitratos orgânicos é a cefaleia. Doses altas de nitratos também podem causar hipotensão postural, rubor facial e taquicardia (WHALEN, 6ª ed.). 16 Júlia Morbeck – @med.morbeck ANTICOAGULANTES PLAQUETÁRIOS ↠ Os inibidores da aglutinação plaquetária diminuem a formação de um coágulo rico em plaquetas ou diminuem a ação dos sinais químicos promotores da aglutinação (WHALEN, 6ª ed.). ↠ Os inibidores da aglutinação de plaquetas podem inibir a cicloxigenase-1 (COX-1) ou bloquear os receptores de GP IIb/IIIa ou ADP, interferindo, assim, no sinal que promove a aglutinação plaquetária (WHALEN, 6ª ed.). ÁCIDO ACETILSALICÍLICO (AAS) A estimulação das plaquetas por trombina, colágeno e ADP resulta na ativação das fosfolipases de membrana das plaquetas que liberam ácido araquidônico dos fosfolipídeos da membrana. O ácido araquidônico é convertido inicialmente em prostaglandina H2 pela COX-1. A prostaglandina H2 é metabolizada a tromboxano A2, que é liberado no plasma. O tromboxano A2 promove o processo de aglutinação, que é essencial para a rápida formação do tampão hemostático (WHALEN, 6ª ed.). MECANISMO DE AÇÃO: O ácido acetilsalicílico (AAS) inibe a síntese do tromboxano A2 por acetilação do resíduo serina no centro ativo da COX-1, inativando irreversivelmente a enzima. Isso desloca o equilíbrio dos mediadores químicos em favor dos efeitos antiaglutinantes da prostaciclina, prevenindo a aglutinação plaquetária (WHALEN, 6ª ed.). ↠ O efeito inibitório é rápido, e a supressão da tromboxano A2 e a consequente supressão da aglutinação das plaquetas induzida pelo AAS persistem por toda a vida da plaqueta, que é 7 a 10 dias aproximadamente. O AAS é o único fármaco antiplaquetário que inibe irreversivelmente a função das plaquetas (WHALEN, 6ª ed.). EFEITOS ADVERSOS: Dosagens mais altas de AAS aumentam sua toxicidade, bem como a probabilidade de inibir também a produção de prostaciclina. O tempo de sangramento é alongado com o tratamento com AAS, causando complicações que incluem aumento da incidência de acidente cerebral hemorrágico e sangramento gastrintestinal (GI), especialmente com dosagens mais elevadas (WHALEN, 6ª ed.). Ticlopidina, clopidogrel, prasugrel e ticagrelor ↠ Ticlopidina, clopidogrel, prasugrel e ticagrelor são inibidores do receptor P2Y12 ADP, o que também bloqueia a aglutinação das plaquetas, mas por mecanismo distinto do AAS (WHALEN, 6ª ed.). MECANISMO DE AÇÃO: Esses fármacos inibem a ligação do ADP aos seus receptores nas plaquetas e, assim, inibem a ativação dos receptores de GP IIb/IIIa necessários para que as plaquetas se liguem ao fibrinogênio e umas às outras. O ticagrelor se liga reversivelmente ao receptor P2Y ADP. Os demais ligam-se Y12 irreversivelmente. Quando o tratamento é suspenso, o sistema plaquetário necessita de tempo para recuperação (WHALEN, 6ª ed.). EXTRA OXIGENOTERAPIA Apesar de evidências prévias sugerirem que a administração de oxigênio é capaz de diminuir a extensão da lesão miocárdica, dados revisados da literatura sugerem aumento de resistência vascular sistêmica, redução de fluxo coronário e aumento no risco de mortalidade (SOCESP, 4ª ed.). Por esse motivo, dados recentes de diretrizes internacionais sugerem que O2 inalatório seja utilizado somente em situações em que haja cianose ou desconforto respiratório ou na presença de saturação arterial de oxigênio < 90% (SOCESP, 4ª ed.). 17 Júlia Morbeck – @med.morbeck ANALGESIA O uso de analgésico em pacientes com dor isquêmica intensa, refratários à terapêutica antianginosa, deve ser indicado. Nessa situação, o sulfato de morfina tem sido utilizado historicamente. No entanto, dados recentes sugerem que o uso da morfina pode causar atrasos na reabsorção do clopidogrel, diminuindo os níveis plasmáticos do metabólito ativo e, portanto, acarretando em possíveis danos ao paciente em uso do medicamento, principalmente no cenário da coronariopatia aguda (SOCESP, 4ª ed.). Referências CONSOLIM-COLOMBO et. al. Tratado de Cardiologia SOCESP, 4ª edição – Barueri – São Paulo: Manole, 2019. NORRIS. PORTH Fisiopatologia, 10ª edição – Rio de Janeiro: guanabara Koogan, 2021. FILHO, G. B. Bogliogo, Patologia, 10ª edição – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021. SILVERTHORN, Dee U. Fisiologia Humana. Disponível em: Minha Biblioteca, (7th edição). Grupo A, 2017. TORTORA. Princípios de Anatomia e Fisiologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2016. WHALEN et. al. Farmacologia Ilustrada, 6ª edição. Porto Alegre: Artmed, 2016. MARINHO, F. Prognóstico da Doença Arterial Coronariana em Hospitais Públicos no Brasil: O estudo ERICO e uso do conhecimento na Saúde Pública. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 2021. SANTOS, E. S.; TIMERMAN, A. Dor torácica na sala de emergência: quem fica e quem pode ser liberado? Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, 2018. NICOLAU et. al. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Angina Instável e Infarto Agudo do Miocárdio sem Supradesnível do Segmento ST, Arquivo Brasileiro de Cardiologia, 2021 FERREIRA et. al. Diretriz de Doença Coronária Estável. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 2014. MOLINA et. al. Doença Arterial Coronariana (DAC) NO Brasil: epidemiologia, causas e consequências, tratamento e adaptações fisiológicas cardiovasculares e sistêmicas esperadas, 2020. CAERES, E.; NUNES, C. P. Doença Arterial Coronariana: tratamento e suas indicações. Revista de Medicina de Família e Saúde Mental, 2019.