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<p>FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E EXATAS DO SERTÃO DO SÃO FRANCISCO- FACESF</p><p>CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO</p><p>CICERO RUAN BARROS FREIRE VENTURA DE ANDRADE</p><p>BELÉM DO SÃO FRANCISCO</p><p>2024</p><p>CICERO RUAN BARROS FREIRE VENTURA DE ANDRADE</p><p>RECLAMAÇÃO TRABALHISTA</p><p>Atividade apresentada como requisito de pontuação extra para a disciplina de Prática Jurídica IV- Direito do Trabalho, da professora Gabriela Vergolino, do curso de Direito, da Faculdade de Ciências Humanas e Exatas do Sertão do São Francisco – FACESF.</p><p>Professora: Gabriela Vergolino.</p><p>BELÉM DO SÃO FRANCISCO</p><p>2024</p><p>Proposta de atividade: após reprodução do filme 7 prisioneiros (2021) em sala de aula, leia o caso baseado no filme a seguir e redija uma peça processual.</p><p>Samuel é um dos muitos jovens que deixam os interiores do Brasil e vão em busca de uma oportunidade única para mudarem as suas realidades na maior metrópole do país, São Paulo. Acreditando nas promessas de um trabalho digno. Ele deixa sua família no interior com a esperança de ganhar dinheiro e melhorar de vida. Durante a viagem, compartilha dessa expectativa com seus colegas, Mateus e Isaque, que têm o mesmo objetivo, mostrando-se animados com a possibilidade de uma nova oportunidade na cidade grande.</p><p>Eles chegaram a um ferro velho, no meio da capital paulista, chefiado por Luís Carlos, o Luca, com auxílio de toda uma organização, já “especializada” na exploração do trabalho humano. Samuel logo percebeu que a situação não era o que imaginava. Eles foram forçados a trabalhar longas horas em condições desumanas. Além disso, o deslocamento dos garotos, a estalagem, comida e uma quantia entregue as famílias fazem parte da dívida que eles agora têm com o chefe do ferro velho. Dívida essa que só cresce e não há como pagar. Tentando se rebelar contra a situação, sua resistência, no entanto, foi vista como um risco para Luca, e sua tentativa de protestar ou escapar foi suprimida rapidamente. Ele não desistiu de seus esforços, mas começou a perceber que Mateus, seu amigo, estava se distanciando e colaborando com o chefão, o que aprofundou sua sensação de traição.</p><p>Samuel tentou escapar várias vezes, mas foi pego, seja pelos capangas de Luca ou pelos próprios trabalhadores, a mando de Mateus. Ele foi empurrado ao limite emocional, vendo suas tentativas de liberdade serem esmagadas de novo e de novo. O desespero de Samuel cresceu ao perceber que o sistema de poder que os aprisiona é mais complexo do que ele imaginava, com Mateus funcionando como um dos opressores e deixando o ferro velho junto a Luca.</p><p>Talvez como um meio de se libertar a qualquer custo e pondo em jogo sua moralidade, Mateus partiu para um outro negócio com o seu antigo opressor, agora camarada, deixando os seus colegas nas mãos de uma nova administração para o ferro velho. Depois de diversas tentativas, em uma noite de bebedeira do novo chefe, Samuel finalmente conseguiu fugir, buscou auxílio psicológico após os traumas vivenciados e para saber de todos os seus direitos e amparo da lei, busca você como advogado para entender o que pode ser feito por ele.</p><p>OBS.: Redija uma peça processual no âmbito do Direito do Trabalho, abrangendo todos os fundamentos de Direito que possam ser utilizados para dar respaldo às pretensões de Samuel.</p><p>AO JUÍZO DE DIREITO DA __ VARA DO TRABALHO DA COMARCA DE SÃO PAULO</p><p>SAMUEL, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portador do RG nº ..., inscrito no CPF sob nº ..., residente e domiciliado à rua..., nº..., bairro..., cidade..., estado..., CEP..., com endereço eletrônico..., vem respeitosamente perante Vossa Excelência, através de seu advogado infra afirmado (procuração em anexo), com fulcro no artigo 840, §1º, da CLT, propor</p><p>RECLAMAÇÃO TRABALHISTA</p><p>em face de LUÍS CARLOS, vulgo LUCA, nacionalidade..., estado civil..., portador do RG nº..., inscrito no CPF sob nº..., chefe do ferro velho..., localizado na rua..., nº... bairro..., São Paulo, CEP..., pelos fatos e fundamentos que passa a expor:</p><p>I- DOS FATOS</p><p>O Reclamante, no mês de ... foi contratado verbalmente pelo Reclamado para prestar serviços de natureza geral no ferro velho de sua propriedade, sob a promessa de receber salário de R$ ... por mês, além de estalagem, alimentação e todos os direitos assegurados pela CLT. O Reclamante, junto com outros trabalhadores, foi transportado do interior do estado de São Paulo até a capital, acreditando que se tratava de uma oportunidade de trabalho justa e regular.</p><p>Ao ser deixado no local de trabalho, todavia, o Reclamante foi surpreendido com condições absolutamente precárias e análogas à escravidão. Teve seus documentos retidos pelo Reclamado, foi forçado a residir no local de trabalho em um alojamento em condições inadequadas e insalubres, e a exercer atividades laborais em jornadas extenuantes, sem nenhuma remuneração ou garantia de direitos trabalhistas. Sendo também, imposto um "sistema de dívida" pelo Reclamado, obrigando o Reclamante a permanecer no local sob o pretexto de que precisava pagar por transporte, alimentação e moradia.</p><p>O Reclamante não tinha liberdade de locomoção, sendo vigiado por capangas do Reclamado, e todas as tentativas de fuga foram frustradas com ameaças e agressões. O Reclamante permaneceu nessa situação por um bom tempo, sem saber qual ao certo, por não ter nem a certeza de qual dia e mês estava, sem jamais receber salário ou qualquer direito trabalhista, sendo- lhe imposta a uma condição degradante de trabalho, configurando clara violação de sua dignidade e dos princípios constitucionais.</p><p>Fatos estes que ensejaram a presente Reclamação Trabalhista visando a tutela jurisdicional para a obtenção de seus direitos.</p><p>II- DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA</p><p>Cumpre salientar que o Reclamante não possui condições financeiras de arcar com as custas processuais e os honorários advocatícios, sem prejuízo ao seu próprio sustento e de sua família, visto que esteve sob as condições congênere à escravidão, conforme narradas nos Fatos, estando psicologicamente e financeiramente fragilizado, requerendo, desde já, os benefícios da justiça gratuita, nos termos do artigo 790, § 4º da CLT, in verbis:</p><p>Art. 790. Nas Varas do Trabalho, nos Juízos de Direito, nos Tribunais e no Tribunal Superior do Trabalho, a forma de pagamento das custas e emolumentos obedecerá às instruções que serão expedidas pelo Tribunal Superior do Trabalho. (Redação dada pela Lei nº 10.537, de 27.8.2002)</p><p>§ 4o O benefício da justiça gratuita será concedido à parte que comprovar insuficiência de recursos para o pagamento das custas do processo. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)</p><p>III- DO MÉRITO</p><p>III.I- DO VÍNCULO EMPREGATÍCIO</p><p>O Reclamante trabalhou de forma contínua, subordinada, onerosa e pessoal para o Reclamado, estando configurados os requisitos do vínculo empregatício, conforme o artigo 3º da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Dessa maneira exercia o princípio da Pessoalidade, já que o trabalho era realizado exclusivamente por ele, sem a possibilidade de substituição. O princípio da Onerosidade, embora não tenha recebido efetivamente os salários, havia promessa de pagamento, conforme acordado verbalmente. O da Subordinação, SAMUEL estava sujeito às ordens diretas de LUÍS CARLOS e seus capangas, não tendo qualquer autonomia. Princípio da Continuidade, visto que o trabalho foi prestado diariamente, sem interrupções, durante meses.</p><p>Assim, resta incontroverso o vínculo de emprego entre as partes, motivo pelo qual requer o reconhecimento da relação empregatícia, com o consequente registro na CTPS do Reclamante.</p><p>III. II- DO TRABALHO EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS À ESCRAVIDÃO</p><p>Nos termos do artigo 149 do Código Penal, o Reclamado manteve o Reclamante em condições próximas à escravidão, cerceando-o de sua liberdade de locomoção e determinando-lhe exaustivas jornadas e condições deteriorantes de trabalho, sob chuva e sol. Esta conduta é amplamente replicada pela legislação brasileira e internacional, configurando uma grave violação aos direitos humanos e trabalhistas de SAMUEL, conforme disposição legal:</p><p>Art.</p><p>149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto: (Redação dada pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)</p><p>Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência. (Redação dada pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)</p><p>Além disso, o artigo 4º da Convenção nº 29 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), ratificada pelo Brasil, proíbe o trabalho forçado ou obrigatório, o que se aplica diretamente ao caso dos autos, in verbis:</p><p>Artigo 4º</p><p>1. A autoridade competente não imporá nem permitirá que se imponha trabalho forçado ou obrigatório em proveito de particulares, empresas ou associações.</p><p>2. Onde existir trabalho forçado ou obrigatório, em proveito de particulares, empresas ou associações, na data em que for registrada pelo Diretor Geral do Secretariado da Organização Internacional do Trabalho a ratificação desta Convenção por um País-membro, esse País-membro abolirá totalmente o trabalho forçado ou obrigatório a partir da data de entrada em vigor desta Convenção em seu território.</p><p>III. III- DAS JORNADAS EXCESSIVAS E DAS HORAS EXTRAS</p><p>O Reclamante era forçado a laborar de segunda a segunda, das XXhXX às XXhXX, sem intervalo com no mínimo de 1 hora para refeições e sem qualquer folga semanal, totalizando uma jornada de XX horas diárias, conforme artigo 71 da CLT. Assim, restam devidas as horas extras além da 8ª diária e 44ª semanal, com o adicional de 50%, nos termos do artigo 7º, inciso XVI da Constituição Federal e do artigo 59 da CLT.</p><p>III. IV- DA MULTA POR RETENÇÃO DA CTPS</p><p>A falta de anotação na CTPS do Reclamante gera a aplicação da multa prevista no artigo 47 da CLT, motivo pelo qual requer o pagamento da referida penalidade, in verbis:</p><p>Art. 47. O empregador que mantiver empregado não registrado nos termos do art. 41 desta Consolidação ficará sujeito a multa no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais) por empregado não registrado, acrescido de igual valor em cada reincidência. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017) (Vigência)</p><p>III.V- DO PAGAMENTO DAS VERBAS RESCISÓRIAS</p><p>De acordo com o que é disposto pela legislação trabalhista, através do reconhecimento do vínculo empregatício entre o Reclamante e o Reclamado, é obrigado o pagamento integral das verbas rescisórias devidas. A extinção do contrato de trabalho deve seguir as diretrizes impostas pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), e o Reclamante faz jus ao recebimento das seguintes parcelas:</p><p>1. Saldo de Salários</p><p>O Reclamante não recebeu qualquer remuneração durante o período em que prestou serviços ao Reclamado. O artigo 459 da CLT determina que o pagamento do salário deve ser efetuado até o quinto dia útil do mês subsequente ao vencido. Assim, requer-se o pagamento dos salários não pagos, correspondentes ao período trabalhado, com base no valor mensal pactuado verbalmente (R$ ___).</p><p>2. 13º Salário Proporcional</p><p>O Reclamante também faz jus ao pagamento do 13º salário proporcional, conforme previsto no artigo 7º, inciso VIII, da Constituição Federal e na Lei nº 4.090/1962. Considerando o período trabalhado de ___ meses, deve ser paga a fração correspondente ao período laborado, com base no salário pactuado.</p><p>3. FGTS com Multa de 40%</p><p>Nos termos do artigo 15 da Lei nº 8.036/1990, o empregador é obrigado a recolher mensalmente 8% do salário do empregado a título de Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). No entanto, o Reclamado não efetuou os depósitos relativos ao FGTS do Reclamante. Diante disso, requer-se o pagamento dos valores devidos a título de FGTS de todo o período trabalhado, com a multa de 40% sobre o montante, nos termos do artigo 18, § 1º da mesma Lei, em razão da rescisão imotivada do contrato de trabalho.</p><p>4. Multa do Artigo 477 da CLT</p><p>O artigo 477, § 6º da CLT, estabelece que o pagamento das verbas rescisórias deve ocorrer no prazo de até 10 dias contados da data da rescisão do contrato de trabalho. Caso contrário, aplica-se a multa prevista no § 8º do mesmo artigo, no valor de um salário do empregado. Como o Reclamante não recebeu suas verbas rescisórias no prazo legal, é devida a referida multa.</p><p>III.VI- DO DANO MORAL</p><p>As condições degradantes às quais o Reclamante foi submetido, incluindo a retenção de documentos, jornadas extenuantes, alojamento inadequado e a privação de sua liberdade de locomoção, configuram dano moral, nos termos dos artigos 5º, inciso X da Constituição Federal e 186 do Código Civil. Assim, é devida a reparação pelos danos sofridos, em valor a ser arbitrado por Vossa Excelência.</p><p>Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:</p><p>X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;</p><p>IV- DOS PEDIDOS</p><p>Diante do exposto, requer:</p><p>A) O reconhecimento do vínculo empregatício desde //___ até //___, com a consequente anotação na CTPS do Reclamante;</p><p>B) A concessão do benefício da gratuidade da justiça por ser a parte hipossuficiente;</p><p>C) O pagamento das verbas rescisórias devidas, incluindo: saldo de salários; 13º salário proporcional; FGTS + 40%; o pagamento das horas extras e reflexos, com adicional de 50%; o pagamento da multa por retenção da CTPS, conforme artigo 47 da CLT;</p><p>D) A condenação do Reclamado ao pagamento de indenização por danos morais, em valor a ser arbitrado por Vossa Excelência;</p><p>E) A aplicação de todas as sanções civis e penais cabíveis pela prática de trabalho em condições análogas à escravidão.</p><p>Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito, especialmente pelo depoimento pessoal do Reclamado, sob pena de confissão, bem como pela oitiva de testemunhas e juntada de documentos.</p><p>Dá-se à causa o valor de R$ ___.</p><p>Termos em que,</p><p>Pede e espera deferimento.</p><p>Local, data.</p><p>Advogado</p><p>OAB nº ___</p><p>image1.png</p>