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<p>Conteudista: Prof.ª Esp. Luciana Lima Verdan Neves</p><p>Revisão Textual: Esp. Laryssa Fazolo Couto</p><p>Objetivo da Unidade:</p><p>Apresentar as principais ferramentas para o planejamento, execução e</p><p>monitoramento do negócio.</p><p>˨ Material Teórico</p><p>˨ Material Complementar</p><p>˨ Referências</p><p>Definição do Negócio</p><p>Introdução</p><p>Não podemos falar de saúde sem antes compreender o contexto demográfico e social brasileiro.</p><p>O Brasil é uma república federativa cujo território possui cerca de 8,5 milhões de quilômetros</p><p>quadrados, representando 47% da América do Sul, dividido em 5 grandes regiões (Norte,</p><p>Nordeste, Centro-oeste, Sudeste e Sul), composto de 26 estados e um distrito federal, possui</p><p>5.570 munícios. Estima-se que a população seja 213.317.639 de habitantes, segundo o censo de</p><p>2021. O Brasil é um país diverso, com condições demográficas, econômicas, sociais, culturais, de</p><p>saúde e com amplas desigualdades internas, cerca de 56% do produto interno bruto concentra-</p><p>se na Região Sudeste do país.</p><p>O Brasil sofreu grandes mudanças no contexto de gestão em saúde e políticas públicas. Desde</p><p>1970, tem-se trabalhado para garantir o direito de saúde da população. Para o desenvolvimento</p><p>de estratégias públicas, deve-se considerar o contexto regional, tais como a faixa etária, as</p><p>organizações das cidades e infraestrutura, taxa de fertilidade, natalidade, mortalidade e</p><p>desenvolvimento social local.</p><p>O sistema de saúde surgiu de uma necessidade da população para reduzir a desigualdade e</p><p>garantir o acesso à saúde para todos, visto que até meados de 1990 existiam 3 tipos de pessoas:</p><p>as que tinham recursos e conseguiam pagar pela assistência médica, as que trabalhavam com</p><p>vínculo empregatício e tinham direitos a serviços médicos oferecidos pelo IAMPS e as que não</p><p>tinha acesso à assistência médica e procuravam ajuda em hospitais filantrópicos quando em</p><p>situação de urgência e emergência. E assim foi criado o Sistema Único de Saúde (SUS).</p><p>O sistema de saúde evoluiu ao longo das duas décadas seguintes, garantindo acesso universal,</p><p>equidade e integralidade, que são alguns dos princípios do SUS, mas agora enfrenta um novo</p><p>1 / 3</p><p>˨ Material Teórico</p><p>desafio com o envelhecimento da população e o surgimento de doenças crônicas. Os gestores</p><p>precisam definir estratégias para atender essas novas necessidades da população, que</p><p>aumentam os custos da saúde no país.</p><p>O Brasil é o único país no mundo, com mais de 200 milhões de habitantes, com um dos sistemas</p><p>de saúde mais completo existentes, pois leva em consideração o indivíduo, a família, a</p><p>comunidade e o cuidado que cada um necessita. O SUS é modelo de referência para muitos</p><p>países, pois é organizado de forma a pensar em saúde, ou seja, em prevenção e promoção da</p><p>saúde e não da doença, como muitos países se organizam.</p><p>Figura 1 – Por que o atendimento demora tanto?</p><p>Fonte: Reprodução</p><p>Quando o sistema é organizado nas doenças, não existe prevenção, apenas tratamento, e isso</p><p>pode levar a comorbidades, aumento na taxa de mortalidade, redução na qualidade de vida,</p><p>desigualdade e aumento do custo da saúde.</p><p>Os gestores de instituição de saúde, ao elaborarem o plano de negócio e a estratégia para atingi-</p><p>lo, devem considerar a estrutura do sistema de saúde brasileiro, mesmo em instituições</p><p>particulares, seguindo as recomendações do Ministério da Saúde, as regras sanitárias federais,</p><p>estaduais e municipais, além de boas práticas recomendadas por instituições especializadas.</p><p>Histórico</p><p>O Brasil foi colonizado por Portugal em 1500, mas apenas em 1542 foi fundado o primeiro</p><p>hospital brasileiro, por Braz Cubas, nomeado como Hospital Real de Todos os Santos, onde se</p><p>tratavam as doenças pestilentas ou infecciosas existentes na época, destacando as DSTs,</p><p>hanseníase, tuberculose e febre amarela. Hoje, o hospital é conhecido como a Santa Casa de</p><p>Misericórdia de Santos e compõe a estrutura do Sistema Único de Saúde.</p><p>Desde a colonização até 1822, no Brasil, as medidas sanitárias instituídas tinham o intuito de</p><p>minimizar os problemas que afetavam a produção econômica e o comércio. Toda política</p><p>instituída era elaborada em Portugal, e o Brasil Colônia deveria seguir as regras estabelecidas</p><p>pela Coroa. Não havia políticas voltada à promoção de saúde, sendo que apenas a população de</p><p>classe favorecida ou privilegiada tinha acesso a tratamentos rudimentares.</p><p>Em 1822, o Brasil conquista sua independência, e com ela nascem as primeiras políticas públicas</p><p>brasileiras. Em 30 de agosto de 1828 foi promulgada a Lei de Municipalização dos Serviços de</p><p>Saúde, que determinou que as recém-criadas “Juntas Municipais” executariam as funções</p><p>previamente exercidas pelo Físico-Mor, Cirurgião-Mor e seus Delegados. No mesmo ano,</p><p>ocorreu a criação da Inspeção de Saúde Pública do Porto do Rio de Janeiro, subordinada ao</p><p>Senado da Câmara, sendo, em 1833, duplicado o número dos integrantes.</p><p>Uma das ações de maior relevância na história brasileira voltadas à prevenção à saúde foi</p><p>instituída em 1837 quando foi estabelecido o programa de imunização compulsória das crianças</p><p>contra a varíola.</p><p>Figura 2 – Políticas Públicas</p><p>No final do século XIX, ocorre a Primeira Revolução Industrial e com ela o êxodo rural para</p><p>centros urbanos de maior concentração, no Sudeste do Brasil, proporcionando o</p><p>desenvolvimento econômico e o surgimento das elites agrárias, porém o desenvolvimento de</p><p>políticas sanitárias não acompanhou o avanço econômico, permitindo epidemias de novas</p><p>doenças, tais como cólera, tifo, malária, varíola e a gripe espanhola. Essas doenças trouxeram</p><p>um impacto significativo na taxa de mortalidade, causando prejuízo ao comércio e dificultando a</p><p>expansão do capitalismo.</p><p>Até esse momento, as atividades de Saúde Pública estavam limitadas à delegação das atribuições</p><p>sanitárias às Juntas Municipais que tinham como objetivo o controle de Navios e Saúde dos</p><p>Portos e Autoridades Vacinadoras contra a varíola.</p><p>Devido ao aumento nos casos de tuberculose, que afetava principalmente jovens em idade</p><p>produtiva e reduzindo a expectativa de vida no Brasil, em 1851 foram instituídas algumas</p><p>medidas, tais como a Lei de Higienização Pública, registro dos nascimentos e dos óbitos.</p><p>Em 1900 iniciam os primeiros estudos e registros estatísticos sobre doenças tropicais, que</p><p>resultaram nas campanhas sanitárias contra a malária e febre amarela. Também foi criado o</p><p>Instituto Soroterápico, que fabricava soros e vacinas contra a peste – hoje ele faz parte do</p><p>Instituto Oswaldo Cruz.</p><p>Oswaldo Cruz, um dos nomes mais importantes na história do Brasil relacionados à gestão em</p><p>saúde, médico sanitarista, nomeado como diretor-geral de Saúde Pública em 1903, instituiu os</p><p>primeiros programas de educação em saúde e políticas sanitárias, mas a ação mais lembrada na</p><p>história foi em 1904, quando tornou obrigatório em todo o país a vacinação e a revacinação</p><p>contra a varíola, gerando punições a médicos que emitissem atestados falsos e para pessoas que</p><p>não cumprissem a lei. Fato importante é que essa ação causou a tão conhecida Revolta da Vacina,</p><p>liderada por opositores e médicos contrários à ação, ocasionando a revogação da lei.</p><p>Figura 3 – Carlos Chagas</p><p>Fonte: Reprodução</p><p>Oswaldo Cruz também fundou o Instituto de Patologia Experimental de Manguinhos (atual</p><p>Instituto Oswaldo Cruz), onde foram estabelecidas normas e estratégias para o controle dos</p><p>mosquitos vetores da febre amarela. E, em 1907, foi decretada a erradicação da febre amarela.</p><p>Em seguida, surge um outro grande nome na gestão das políticas sanitárias no Brasil, Carlos</p><p>Chagas, que descobriu a doença causada por um parasita que afeta as funções cardíacas,</p><p>conhecida como doença de Chagas. Carlos Chagas criou diversas ações voltadas à profilaxia de</p><p>doenças rurais, que possibilitou, em 1923, o Regulamento Sanitário Federal, que vigorou por</p><p>muitos anos.</p><p>Vídeo</p><p>Um Cientista, Uma História | Oswaldo Cruz</p><p>Um Cientista, Uma História | Oswaldo Cruz</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=wpgsxBOPpLI</p><p>Durante a época da Segunda República (1930-1945),</p> <p>começa a surgir com maior expressão a</p><p>polarização dos centros urbanos, ainda na Região Sudeste, com grandes oportunidades e</p><p>investimento do setor industrial. Isso gera um grande êxodo rural, especialmente em se</p><p>tratando dos estados do Nordeste brasileiro, resultando em um processo de urbanização</p><p>precário e desordenado. Ele culminou em problemas sanitários mais recorrentes pela falta de</p><p>saneamento básico nas novas moradias improvisadas, que surgiam dentro dos centros urbanos.</p><p>Paralelamente, é nesse período que começam a ser criados os ministérios, incluindo o do</p><p>Trabalho, da Indústria e Comércio e o da Educação e Saúde. Ainda que algumas iniciativas</p><p>surgissem no sentido de leis de regulamentação trabalhistas, como a criação da CLT, em uma</p><p>velocidade mais acelerada surgiam, também, as primeiras condições de saúde ligadas às</p><p>condições precárias de trabalho, resultando em acidentes recorrentes, estresse, desnutrição,</p><p>entre outras, somadas a todas as anteriores que ainda eram tratadas superficialmente. Nesse</p><p>período, ainda não existiam políticas de saúde pública claramente estabelecidas e isso gerou</p><p>uma dualidade no modelo assistencial, que privilegiava as pessoas empregadas e excluía aquelas</p><p>que não tinham empregos formais da assistência prestada por instituições de caridade. Nesse</p><p>período, há um crescimento expressivo da medicina liberal que era um privilégio das classes de</p><p>maior poder aquisitivo que podiam pagar por seus serviços.</p><p>Em 1941, o Brasil tem um grande avanço nas reformas sanitárias tendo Barros Barretos a frente</p><p>do processo. Ele reorganizou o Departamento Nacional de Saúde do Ministério dos Negócios da</p><p>Educação e Saúde Pública, definiu sua competência, composição e criou:</p><p>Divisão de Organização Sanitária;</p><p>Divisão de Organização Hospitalar;</p><p>Instituto Oswaldo Cruz;</p><p>Serviço Nacional de Lepra;</p><p>Serviço Nacional de Tuberculose;</p><p>Serviço Nacional de Febre Amarela;</p><p>Serviço Nacional de Malária;</p><p>Nessa época, são criadas as Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs), financiadas com</p><p>recursos de trabalhadores, empresas e governo compilam assistência médica e benefícios</p><p>previdenciários, dando os primeiros passos para a fundação do que conhecemos, hoje, como</p><p>Previdência Social.</p><p>Em 1948, criação do primeiro Conselho de Saúde, considerado por William Welch o marco inicial</p><p>da Saúde Pública moderna. A saúde do povo era integralmente reconhecida como importante</p><p>função administrativa de governo. Quanto melhores as condições de saúde da população, tanto</p><p>maiores seriam as possibilidades econômicas de um país.</p><p>Em seguida, em 1953, há a criação do Ministério da Saúde, que estabeleceu normas gerais sobre</p><p>a defesa e proteção da saúde. “Art.1º - É dever do Estado, bem como da família, defender e</p><p>proteger a saúde do indivíduo (Lei nº 2.312, de 3/ 9/1954)”.</p><p>Em 1961, Regulamentação do Código Nacional de Saúde, Lei nº 2.312, de 3 de setembro de 1954,</p><p>estabelecendo as Normas Gerais sobre Defesa e Proteção da Saúde.</p><p>Serviço Nacional de Peste;</p><p>Serviço Nacional de Doenças Mentais;</p><p>Serviço Nacional de Educação Sanitária;</p><p>Serviço Nacional de Fiscalização de Medicina;</p><p>Serviço de Saúde dos Portos;</p><p>Serviço Federal de Águas e Esgotos;</p><p>Serviço Federal de Bioestatística; e</p><p>Sete Delegacias Federais de Saúde.</p><p>Curiosidade: apesar de que, nesse período, foram instituídas muitas políticas relacionadas à</p><p>saúde. Ainda não existia um sistema de saúde específico, ficando a critério de cada tipo de</p><p>serviço a forma de organização de atendimento.</p><p>Em 1964, o Brasil entra no período do Regime Militar, que traz a expansão dos serviços de saúde</p><p>privada, incluindo a construção de clínicas e hospitais com recursos da previdência e de</p><p>faculdades particulares de medicina, que tinham ênfase em diversas especialidades médicas,</p><p>ainda que com enfoque exclusivamente curativo.</p><p>Esse crescimento também movimentou o mercado de consumo de equipamentos e dispositivos</p><p>médico-hospitalares. Por outro lado, começaram a surgir fraudes e corrupção, o que trouxe um</p><p>grande impacto com os gastos da previdência, enfraquecendo a representação do Ministério da</p><p>Saúde.</p><p>Nessa época, o médico sanitarista Sérgio Arouca surge como protagonista na busca da reforma</p><p>sanitária, com a proposta de criação de um sistema de saúde único com foco na prestação dos</p><p>serviços médicos para toda a população brasileira, entendendo a saúde como um direito de todos</p><p>e um dever do Estado.</p><p>No fim do regime militar, em meados de 1984, essa proposta se torna uma possibilidade real.</p><p>Passados dois anos, Sérgio Arouca preside a 8ª Conferência Nacional de Saúde, que é</p><p>considerada o marco nacional no movimento para a realização da reforma sanitária, pois</p><p>garantiu o acesso à saúde na Constituição Federal e a criação do SUS.</p><p>Em 1988 é promulgada a Constituição Federal, e o Sistema Único de Saúde é aprovado</p><p>incorporando a maioria das propostas feitas pela Reforma Sanitarista. A princípio houve muitas</p><p>dificuldades para a regulamentação e implementação das diretrizes propostas na Constituição</p><p>pelo momento político e econômico do país. Isso também afetou a atuação do SUS, que nasce</p><p>sob uma descrença popular, pela falta de recursos e gestão para colocar suas operações em</p><p>prática.</p><p>Criação do SUS</p><p>A Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, conhecida como Lei Organizada da Saúde, constitui o</p><p>SUS e determina os princípios, diretrizes, a organização de gestão e prestação dos serviços de</p><p>saúde.</p><p>A Lei nº 8.142/90 regulamenta como deve ocorrer a participação da população nas decisões do</p><p>SUS, estabelecendo a formação de dois grupos, o primeiro é a Conferência de Saúde, que ocorre a</p><p>cada quatro anos, reúne os cidadãos da região, os gestores do SUS, profissionais de saúde e os</p><p>prestadores de serviços, eles decidem, em conjunto, os projetos e os planos a serem realizados</p><p>nos próximos quatros anos. O segundo é o Conselho de Saúde, um grupo permanente e</p><p>deliberativo, que fiscaliza e orienta as secretarias municipais, estaduais e o Ministério da Saúde.</p><p>As reuniões são periódicas, em local aberto para a população e organizadas em dias e horários</p><p>que possibilitem o maior número de participantes. O porta-voz dos conselhos, nomeado como</p><p>conselheiro, é eleito por voto aberto e democrático dos cidadãos participantes e seu mantado</p><p>tem duração de 4 anos, tem a responsabilidade de fiscalizar as execuções financeiras das</p><p>políticas de saúde e a execução das diretrizes eleitas na Conferência de Saúde. O número de</p><p>conselheiros varia do total de moradores da região. O conselho deve ser formado por 50% de</p><p>usuários do SUS, 25% de profissionais do SUS e 25% de gestores e prestadores particulares de</p><p>serviços de saúde.</p><p>As leis 8.080/90 e 8.142/90 são um conjunto criado para formar as bases de funcionamento do</p><p>SUS, que, entre seus princípios, determinam como deveria ser a participação popular e o</p><p>controle social.</p><p>Figura 4 – De quem é o SUS?</p><p>Fonte: apubh.org</p><p>Precisamos lembrar que, antes da formação do SUS, o sistema de saúde existente era</p><p>constituído pelo Instituto Nacional de Assistência Médica de Previdência Social (INAMPS), cujos</p><p>recursos eram providos da Previdência Social, e a assistência à saúde era oferecida apenas para</p><p>seus associados, ou seja, trabalhadores da economia formal, com “carteira assinada”. Não tinha</p><p>caráter universal e a gestão era regionalizada; a assistência provida era proporcional ao volume</p><p>de recursos arrecadados, aumentando a vulnerabilidade de áreas carentes. Somente três anos</p><p>após a constituição do SUS, com a Lei nº 8.689/93, o INAMPS foi extinto e o SUS absorveu as</p><p>funções, competências, atividades, atribuições e recursos.</p><p>Dessa forma, o SUS inicia a sua atuação na área da assistência à saúde com caráter universal,</p><p>utilizando-se de uma instituição que tinha sido criada e organizada para prestar assistência a</p><p>uma parcela limitada da população e sem uma reorganização da lógica de financiamento, isso</p><p>significava um grande remanejamento de recursos entre os estados e causando uma forte</p><p>reação política dos estados</p> <p>mais desenvolvidos na aceitação para a implantação do SUS.</p><p>Outro problema que o SUS enfrentou foi com o repasse dos recursos feito pelo Ministério da</p><p>Previdência Social (MPS) para o Ministério da Saúde (MS). Com a extinção do INAMPS, o MPS</p><p>deixou de repassar os recursos, criando uma enorme defasagem entre a nova responsabilidade</p><p>constitucional e a disponibilidade orçamentária. Os anos seguintes foram muito desafiadores</p><p>para a gestão do SUS e para a garantia da sua permanência.</p><p>Nessa época, entre 1993 e 1995, devido aos problemas enfrentados pelo SUS e as incertezas de</p><p>um sistema de saúde, a rede de saúde privada expande suas atividades, surgindo os diversos</p><p>planos de saúde particulares e de grupos, conhecidos como convênios de saúde.</p><p>Para compreender o SUS, precisamos entender três fatores de sua constituição: o primeiro,</p><p>como é organizado, ou seja, a forma de gestão; o segundo, como é financiado, ou seja, como são</p><p>alocados os recursos financeiros para garantia da universalidade; e o terceiro, qual o modelo</p><p>assistencial.</p><p>Organização</p><p>O Sistema Único de Saúde (SUS) é composto pelo Ministério da Saúde, Estados e Municípios,</p><p>conforme determina a Constituição Federal. Cada ente tem suas corresponsabilidades.</p><p>O Ministério da Saúde (MS) é o gestor nacional do SUS, é quem formula, normatiza, fiscaliza,</p><p>monitora e avalia políticas e ações em articulação com o Conselho Nacional de Saúde. Atua no</p><p>âmbito da Comissão Intergestores Tripartite (CIT) para pactuar o Plano Nacional de Saúde.</p><p>Integram sua estrutura: Fiocruz, Funasa, Anvisa, ANS, Hemobrás, Inca, Into e oito hospitais</p><p>federais.</p><p>As Secretarias Estaduais de Saúde (SES) participam da formulação das políticas e ações de saúde,</p><p>prestam apoio aos municípios em articulação com o conselho estadual e participam da Comissão</p><p>Intergestores Bipartite (CIB) para aprovar e implementar o plano estadual de saúde.</p><p>As Secretarias Municipais de Saúde (SMS) planejam, organizam, controlam, avaliam e executam</p><p>as ações e serviços de saúde em articulação com o conselho municipal e a esfera estadual para</p><p>aprovar e implantar o plano municipal de saúde.</p><p>Figura 5 – Princípios do SUS</p><p>Fonte: Adaptada de SUS, 2021 | Getty Images</p><p>Para entender a organização do SUS, precisamos falar de seus princípios fundamentais, alguns</p><p>com cunho doutrinário e outros com cunhos organizativos. São estes:</p><p>Universalidade: esse princípio baseia-se na garantia de que</p><p>todo e qualquer cidadão, independente do sexo e raça,</p><p>ocupação e outras características pessoais e sociais, tem</p><p>direito de acesso à saúde por parte do sistema governamental;</p><p>Equidade: é um conceito parecido com o teor de justiça, pois foca na diminuição das</p><p>desigualdades. Porém isso não quer dizer que equidade seja o mesmo que igualdade,</p><p>isso, porque mesmo que todos tenham direito aos serviços de saúde, as pessoas são</p><p>diferentes umas das outras e por isso têm necessidades diferentes;</p><p>Integralidade: esse princípio se refere ao atendimento como um todo para os</p><p>cidadãos, garantindo uma rede de atenção à saúde que se conecta e realiza todo o</p><p>cuidado necessário para a necessidade do usuário;</p><p>O SUS é formado por uma Rede de Atenção à Saúde, mais conhecida como RAS, composta pela</p><p>atenção básica que oferece serviços de promoção, prevenção e assistência à saúde, através das</p><p>Unidades de Saúde da Família (USF) que estão instaladas em todos os municípios do Brasil, tem</p><p>também a atenção de média complexidade, que oferece serviços especializados e está</p><p>estabelecida apenas em algumas cidades, mas que atende os municípios vizinhos. E a alta</p><p>complexidade que são encontradas são atendidas apenas nas grandes cidades.</p><p>Quadro 1 – Hierarquia no SUS</p><p>Hierarquia: as ações e serviços prestados pelo SUS são</p><p>desenvolvidos em 3 níveis de atenção.</p><p>Regionalização e hierarquização: estão conectados na forma de organização da</p><p>oferta dos serviços permitindo um maior conhecimento da população de cada área</p><p>específica e assim melhorando ações de atenção ambulatorial e hospitalar nos</p><p>níveis de complexidade. Os serviços devem ser organizados em níveis crescentes de</p><p>complexidade, circunscritos a uma determinada área e planejados, a partir de dados</p><p>epidemiológicos, sempre com o conhecimento da população a ser atendida;</p><p>Descentralização e comando único: foca na redistribuição de responsabilidades e</p><p>poder referentes às ações e serviços de saúde, distribuído entre os níveis de</p><p>governo, ou seja, entre o governo federal, estadual e municipal, considerando que</p><p>quanto mais perto do acontecimento ou fato a decisão for tomada, maior a</p><p>probabilidade de acertar na decisão. Dessa forma, cabe ao município a execução da</p><p>maioria das ações de promoção de saúde, sendo diretamente voltada aos cidadãos,</p><p>especialmente a responsabilidade política pela sua saúde individual;</p><p>Participação social: garante a participação da população no planejamento, decisões</p><p>e na execução dos serviços oferecidos pelo SUS.</p><p>Hierarquia: as ações e serviços prestados pelo SUS são</p><p>desenvolvidos em 3 níveis de atenção.</p><p>Alta Complexidade</p><p>(5%)</p><p>Hospitais, cirurgias especializadas</p><p>(trauma-ortopedia, neurocirurgia,</p><p>cardíaca), oncologia, exames diagnósticos</p><p>(tomografia, ressonância), tratamento</p><p>especializados (hemodiálise), transplantes</p><p>(Estado e União).</p><p>Média Complexidade</p><p>(15%)</p><p>CAIS, CIAMS, Maternidades (Materno</p><p>infantil, Nascer Cidadão), especialidades,</p><p>internações básicas, trauma-ortopedia e</p><p>exames diagnósticos (ultra-som,</p><p>eletrocardiograma, eco doppler,</p><p>citopatologia) (Município e Estado).</p><p>Atenção Básica</p><p>(80%)</p><p>UABSF, UBS, CAIS: Atendimento de clínica</p><p>médica, pediatria e ginecologia,</p><p>imunização, programas (Município).</p><p>Fonte: Adaptado de Cartão do SUS</p><p>Financiamento</p><p>O orçamento é divido em três partes, com recursos federais, estaduais e municipais. Até os anos</p><p>2000, a organização do financiamento do SUS não estava estabelecido, trazendo incertezas de</p><p>como manter os custos. Nessa época, foi aprovada a Emenda Constitucional nº 29, que</p><p>regulamentava a definição dos gastos do SUS até 2004, quando deveria ser instituída a lei</p><p>complementar com a definição final, porém essa lei só foi aprovada em 2012. Hoje está definido</p><p>que o governo estadual deve destinar 12% de seu orçamento para o SUS, os municípios devem</p><p>destinar no mínimo 15% de seu orçamento ao SUS e o valor que governo federal deve repassar</p><p>para a saúde varia com o Produto Interno Bruno (PIB), não devendo ser menor que a destinação</p><p>do ano anterior e garantir no mínimo 5% do PIB.</p><p>Os recursos para financiar as despesas da RAS devem ser repactuados na Comissão Gestora</p><p>Bipartite. Ela envolve o Estado e os municípios, e define o valor que cada município vai repassar</p><p>para as cidades que possuem os serviços especializados. Funciona com certa instabilidade, mas</p><p>pode ser fortalecida com negociações internas entre os gestores municipais e fiscalizada pela</p><p>população usuária através dos grupos de controle social.</p><p>Modelo Assistência</p><p>Modelo que centraliza os indivíduos e suas necessidades, é o sistema de saúde para todos, com</p><p>integralidade e justiça, é um sistema completo, que prevê saúde, além da assistência na doença,</p><p>ou seja, realiza ações na prevenção de doenças com diagnósticos, tratamento, reabilitação e a</p><p>promoção de saúde, considerando todos os aspectos humanos que nos diferenciam,</p><p>respeitando a história, crenças e conhecimentos de cada um.</p><p>Busca a integralidade no cotidiano através de seus profissionais, gestores, prestadores de</p><p>serviços e usuários. Muitos serviços compõem o SUS. Além das Unidades Básicas de Saúde,</p><p>ambulatórios especializados e hospitais, o SUS possui uma gama de programas, tais como a</p><p>vacinação, distribuição de medicamentos, camisinhas, pesquisas e ensino, e eventos científicos.</p><p>As vigilâncias sanitárias, epidemiológicas e tecnológicas também compõem a estrutura do SUS.</p><p>Um novo serviço são os centros de saúde holísticos, que realizam práticas assistenciais à saúde</p><p>alternativa e tradicionais de outras culturas, tais como acupuntura, pilates, arte terapia, entre</p> <p>outros.</p><p>Rede Suplementar</p><p>Todas as atividades ligadas à saúde, que envolvem a operação de planos ou seguros e não</p><p>incluem a participação do SUS, fazem parte do que chamamos de saúde suplementar.</p><p>Até 1998 não havia uma legislação que regulasse esse setor, o que fazia com que sua oferta, em</p><p>termos de valores e serviços, fosse incompleta e volátil.</p><p>Com a Lei nº 9.656, o mercado passou a ser mais controlado em se tratando de períodos de</p><p>carência, prestação de serviços, coberturas e demais requisitos, favorecendo clientes e</p><p>operadoras, mas ainda não havia um órgão fiscalizador que garantisse a execução da lei, com</p><p>isso é criada pela Lei n° 9.961, de 28 de janeiro de 2000, a Agência Nacional de Saúde</p><p>Suplementar (ANS), que é uma autarquia sob regime especial, vinculada ao Ministério da Saúde.</p><p>Contribuindo para o desenvolvimento das ações de saúde no país, a ANS tem a missão de</p><p>promover a defesa do interesse público na assistência suplementar à saúde, regulando as</p><p>operadoras setoriais, inclusive nas suas relações com prestadores e consumidores.</p><p>Ainda não existem leis que determinem como a assistência à saúde deve ser oferecida pela rede</p><p>suplementar. Por mais que a ANS tenha participação fundamental para garantia dos direitos do</p><p>consumidor, há uma defasagem quando se fala de como deve ser a prestação de serviço.</p><p>O sistema de saúde suplementar brasileiro é composto por dois subsetores: o da saúde</p><p>suplementar, composto por serviços financiados pelos planos e seguros de saúde, que é</p><p>controlado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar; e o liberal, que engloba os serviços</p><p>particulares e autônomos de saúde. Em sua maior parte, o sistema suplementar é financiado de</p><p>modo privado, mas ele também recebe determinados subsídios do setor público.</p><p>A rede suplementar de saúde está conectada com a situação econômica do país. Quando</p><p>enfrentamos crises econômicas, as redes perdem seus clientes e estes logo recorrem ao SUS,</p><p>sobrecarregando o sistema e levando a novas necessidades, e o plano formado na Conferência</p><p>de Saúde pode já não fazer sentido para aquela região.</p><p>A rede suplementar é reativa, e não proativa, pois não realiza a promoção e prevenção à saúde,</p><p>responde a procura do paciente/cliente, quando ele já está com algum problema de saúde. Esse</p><p>tipo de gestão eleva os custos e gera a realização de procedimentos desnecessários, já que o</p><p>consumo de recursos significa receita entrando na instituição de saúde.</p><p>Também não há programas que garantam a comunicação, integração e o monitoramento dos</p><p>pacientes, gerando repetidos processos de assistência, a depender da procura.</p><p>No Brasil existem quatro tipos de modalidades de operadoras de saúde, cada qual com o seu</p><p>modelo gestão e organização.</p><p>O modelo de autogestão é o serviço de assistência à saúde prestado por uma empresa aos seus</p><p>colaboradores, esse modelo não pode ser oferecido a outras pessoas, sem que estejam</p><p>vinculadas a esta empresa.</p><p>O modelo de cooperativas médicas, criadas por associações sem fins lucrativos ou autônomas de</p><p>no mínimo 20 profissionais, oferece seus serviços aos clientes de maneira própria ou</p><p>terceirizada.</p><p>O modelo de medicina de grupo centraliza os atendimentos em rede própria e oferece seus</p><p>planos de saúde para pessoas físicas e jurídicas.</p><p>O modelo de seguradoras de saúde são os planos de saúde sem rede própria, que possuem</p><p>contratos com instituições de saúde e profissionais de saúde, pagando pelos seus serviços</p><p>prestados. São obrigadas a prever livre escolha aos beneficiários, portanto, devem realizar o</p><p>reembolso quando o cliente decide por um serviço não credenciado.</p><p>Gestor em Saúde</p><p>O gestor em saúde precisa entender o contexto em que a instituição está incluída, levar em</p><p>consideração o propósito, os valores, a missão, a visão e a cultura da empresa para determinar o</p><p>plano de negócio e sua estratégia para atingir os resultados esperados.</p><p>O gestor em saúde, além de garantir o funcionamento da instituição, precisa ter a visão humana</p><p>e entender se os serviços oferecidos trazem benefícios e valor aos clientes e pacientes.</p><p>Entender a estrutura da empresa é fundamental para ter sucesso no seu funcionamento. O</p><p>mapeamento da rede macro da instituição talvez seja uma das principais atividades a serem</p><p>executadas no início do planejamento, definindo suas entradas, processos e saídas.</p><p>A definição do orçamento e o controle ao longo do ano fazem parte do planejamento estratégico.</p><p>Nele o gestor define como e quais áreas receberão investimentos, qual o valor a ser consumido</p><p>em cada área e demonstra de forma estruturada os ganhos e gastos da empresa aos</p><p>proprietários, sócios, acionistas, parceiros e a órgãos governamentais públicos de controle</p><p>fiscal.</p><p>Outro ponto de extrema importância é a estruturação dos processos, com organogramas,</p><p>procedimentos operacionais padrão, ciclos de treinamentos, a definição de responsabilidades,</p><p>dos objetivos, dos indicadores e seu monitoramento, das metas a serem alcançadas e a inter-</p><p>relação entre as áreas e como garantir a comunicação entre elas.</p><p>Foram apresentados os diversos modelos de saúde existentes no Brasil, independente se a</p><p>instituição é pública, privada, sem ou com fins lucrativos. O gestor deve acompanhar as</p><p>legislações vigentes, garantir o cumprimento e prestar contas aos órgãos reguladores. A</p><p>definição de negócio vai nortear muito as legislações que são aplicáveis à instituição.</p><p>Ao longo das próximas aulas, vamos aprofundar as discussões nas atribuições,</p><p>responsabilidades e conhecimento que um gestor em saúde deve ter para executar suas</p><p>atividades no dia a dia, trazendo resultados para a empresa, seus colaboradores, prestadores e</p><p>clientes.</p><p>Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:</p><p>Livros</p><p>Os 5 Desafios das Equipes</p><p>LENCIONI, P. Os 5 desafios das equipes. Rio de Janeiro: Sextante, 2015.</p><p>A Estratégia do Oceano Azul: como Criar Novos Mercados e</p><p>Tornar a Concorrência Irrelevante</p><p>KIM, C.; MAUBORGNE, R. A estratégia do oceano azul: como criar novos mercados e tornar a</p><p>concorrência irrelevante. Rio de Janeiro: Sextante, 2019.</p><p>Leitura</p><p>A Gestão em Saúde: Nexos entre o Cotidiano Institucional e a</p><p>Participação Política no SUS</p><p>2 / 3</p><p>˨ Material Complementar</p><p>Clique no botão para conferir o conteúdo.</p><p>ACESSE</p><p>Declaração de Alma Ata sobre Cuidados Primários</p><p>Clique no botão para conferir o conteúdo.</p><p>ACESSE</p><p>7 Características Importantes para Ser um Gestor de Saúde</p><p>Excelente</p><p>Clique no botão para conferir o conteúdo.</p><p>ACESSE</p><p>https://www.scielo.br/j/icse/a/ZXCmWQGLXMxBk6C4qKDTn9G/?format=pdf&lang=pt</p><p>https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/declaracao_alma_ata.pdf</p><p>https://blogsaude.volkdobrasil.com.br/caracteristicas-para-um-gestor-de-saude/</p><p>COHEN, E.; FRANCO, R. Avaliação de projetos sociais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016.</p><p>CONTADOR, C. R. Projetos sociais: benefícios e custos sociais, valor dos recursos naturais,</p><p>impacto ambiental, externalidades. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2014. (e-book)</p><p>CASTRO, A. C. de; CASTRO, C. O. de. Gestão pública contemporânea. Curitiba: Intersaberes, 2014.</p><p>(e-book)</p><p>DE TONI, J. O planejamento estratégico governamental: reflexões metodológicas e implantação</p><p>na gestão pública. Curitiba: Intersaberes, 2016. (Série Gestão Pública). (e-book)</p><p>FARIA, C. A. P. A política da avaliação de políticas públicas. Revista Brasileira de Ciências Sociais,</p><p>São Paulo, v. 20, n. 59, p. 97-169, 2005. Disponível em:</p><p>. Acesso em: 01/02/2022.</p><p>PIMENTA, R. C.; THIRY-CHERQUES, H. R. Gestão de programas e projetos públicos. São Paulo:</p><p>FGV, 2015</p><p>3 / 3</p><p>˨ Referências</p>