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CONCEITO E APLICAÇÃO DE FUNÇÕES RAFAEL DE MOURA MOREIRA Sumário INTRODUÇÃO ������������������������������������������������� 3 CONCEITO DE FUNÇÕES �������������������������������� 4 Definição de funções ������������������������������������������������������������ 4 Gráfico de uma função ��������������������������������������������������������� 6 Notação ��������������������������������������������������������������������������������� 9 Propriedades de uma função ��������������������������������������������� 10 Função inversa �������������������������������������������������������������������� 13 Função composta ��������������������������������������������������������������� 16 FUNÇÕES E SUAS REPRESENTAÇÕES �������� 18 Funções polinomiais ����������������������������������������������������������� 18 Funções trigonométricas ��������������������������������������������������� 22 Funções exponenciais e logarítmicas ������������������������������� 28 USO PRÁTICO DAS FUNÇÕES ����������������������32 Arremesso para cima ��������������������������������������������������������� 32 CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������������38 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS & CONSULTADAS ��������������������������������������������40 2 INTRODUÇÃO Funções matemáticas são regrinhas relacionando valores numéricos e são utilizadas nas mais diversas áreas do conhecimento humano, como a Física, a Química e a Economia, dentre muitas outras� Elas servem para se estudar como certas grandezas variam para acompanhar outras grandezas e, por conta disso, são muito úteis para modelar diversos fenômenos reais� 3 CONCEITO DE FUNÇÕES DEFINIÇÃO DE FUNÇÕES Funções matemáticas são regras que descrevem relações entre diferentes grandezas� Basicamente, podemos descrever uma grandeza em função de outra grandeza� Formalmente, podemos definir funções da seguin- te maneira: considere dois conjuntos numéricos X e Y� Uma função de X em Y é uma regra para associar um valor do conjunto Y para cada valor do conjunto X� Também podemos dizer que uma função de X em Y mapeia valores do conjunto X para valores do conjunto Y� Chamamos o conjunto X de domínio da função� O conjunto Y é chamado de contradomínio da função� Os valores do contradomínio que pos- suem correspondente no domínio são chamados de imagens e o subconjunto do contradomínio formado apenas por esses pontos é conhecido como conjunto imagem� Para que uma relação entre conjuntos seja consi- derada uma função, cada valor do domínio deve possuir uma única imagem� O inverso não é ne- 4 cessário: múltiplos valores do domínio podem ser mapeados para uma mesma imagem� Para representar uma função mapeando pontos de um domínio X para um contradomínio Y utilizamos a seguinte notação: 𝑓𝑓: 𝑋𝑋 → 𝑌𝑌 � Observemos alguns exemplos representados visualmente: Figura 1: a� uma função de X em Y; b� Uma relação que não é uma função, pois há elementos do domínio mapea- dos para mais de uma imagem� -1 0 a. X Y b. X Y 1 2 3 0 1 2 4 9 -1 0 1 2 3 0 1 2 4 9 Fonte: elaboração própria� Note que na Figura 1a todos os elementos do domínio possuem exatamente 1 imagem� O fato de um elemento do contradomínio ser imagem de mais de um elemento do domínio não é problema� Portanto, podemos relacionar o conjunto X ao Y por meio de uma função� 5 Já na Figura 1b temos pontos do domínio sendo relacionados a mais de uma imagem� Nesse caso, essa relação não pode ser definida como uma função� Note também que na Figura 1a o contradomínio é o conjunto 𝐶𝐶 = {0, 1, 2, 4, 9}, ou seja, todos os valores possíveis de serem mapeados ao domínio� Já o conjunto imagem é dado por 𝐼𝐼𝐼𝐼 = {0, 1, 4, 9} Note que o elemento “2” ficou de fora, pois uma imagem deve necessariamente estar mapeada a um elemento do domínio� GRÁFICO DE UMA FUNÇÃO Outro conjunto importante relacionado às funções é o chamado gráfico de uma função� O gráfico é o conjunto formado por todos os pares ordenados (𝑥𝑥, 𝑦𝑦) tal que x é um elemento do domínio e y é sua imagem correspondente� Para o conjunto da Figura 1a, o gráfico é dado por 𝐺𝐺 = { −1,1 , 0,0 , 1,1 , 2,4 , 3,9 }� Podemos também dizer que os pares ordenados são (𝑥𝑥, 𝑦𝑦) tal que 𝑓𝑓 𝑥𝑥 = 𝑦𝑦 , ou mesmo que são (𝑥𝑥, 𝑓𝑓(𝑥𝑥))� É comum representarmos o conjunto gráfico de uma função utilizando eixos cartesianos: duas retas perpendiculares entre si conhecidas como eixo das abcissas e eixo das coordenadas� 6 Utilizamos o eixo das abcissas, frequentemente conhecido como eixo x, para representar os ele- mentos do domínio, geralmente conhecidos por variável independente. O eixo das coordenadas, frequentemente conhecido como eixo y, representa a variável dependente, ou seja, as imagens cor- respondentes a cada elemento do domínio. Cada par ordenado (𝑥𝑥, 𝑦𝑦) é conhecido como um ponto no gráfico. Vamos colocar os pontos da função da Figura 1a em uma tabela e, em seguida, utilizaremos esses pontos para representá-la graficamente: Tabela 1: pontos de uma função� x y -1 1 0 0 1 1 2 4 3 9 Fonte: elaborado pelo autor� Agora basta marcarmos nossos pontos no gráfico: traçamos uma reta imaginária paralela ao eixo y cruzando a marcação “menos 1” do eixo x, e uma reta imaginaria paralela ao eixo x cruzando a mar- cação “1” do eixo y: 7 Figura 2: localizando um ponto no gráfico� -1 -1-2-3 1 1 32 2 3 4 5 6 7 8 9 10 -3 -2 Fonte: elaboração própria� Agora basta repetir o processo para os outros pontos da função: Figura 3: gráfico da função da Figura 1a� -1 -1-2-3 1 1 32 2 3 4 5 6 7 8 9 10 -3 -2 Fonte: elaboração própria� 8 NOTAÇÃO Assim como no caso dos conjuntos, nós frequen- temente iremos representar nossas funções como uma regra e não enumerando elementos de um conjunto. Quando não especificamos os conjuntos domínio e contradomínio, normalmente supõe-se que ambos são o conjunto dos reais: 𝑓𝑓:ℝ → ℝ . As regras de formação geralmente colocam a ima- gem isolada ao lado esquerdo, representada pelo nome da função (geralmente “f”) com o nome da variável independente entre parênteses – chama- da de argumento da função, e à direita utilizamos uma expressão matemática utilizando a variável independente. Por exemplo: 𝑓𝑓 𝑥𝑥 = 2𝑥𝑥% + 1 Podemos substituir x por qualquer elemento do domínio para obter sua imagem: 𝑓𝑓 3 = 2(3)' + 1 𝑓𝑓 3 = 19 Podemos esboçar o gráfico de funções arbitrárias calculando alguns pontos desta maneira para criar uma tabela semelhante à Tabela 1, e em seguida marcamos os pontos em um gráfico cartesiano� 9 PROPRIEDADES DE UMA FUNÇÃO Função injetora Uma função é chamada de injetora quando cada elemento de seu contradomínio é a imagem de, no máximo, um elemento do conjunto domínio� Ou seja, cada imagem corresponde a exatamente um elemento� Função sobrejetora Uma função é chamada de sobrejetora quando todos os elementos de seu contradomínio são a imagem de pelo menos um ponto do domínio� Ou seja, o conjunto contradomínio e o conjunto imagem coincidem� Função bijetora Uma função é chamada de bijetora quando é, si- multaneamente, injetora e sobrejetora� Ou seja, a função cria uma correspondência de 1 para 1 entre o conjunto domínio e o conjunto contradomínio: cada elemento do domínio corresponde a um ele- mento do conjunto imagem e vice-versa� Funções bijetoras são consideradas invertíveis� 10 Figura 4: funções injetora, sobrejetora e bijetora� -1 0 a. Função não-injetora e não-sobrejetora X Y b. Função injetora. X Y c. Função sobrejetora X Y d. Função bijetora X Y 1 2 3 0 1 2 4 9 -1 0 1 2 3 0 1 2 4 9 11 -1 0 1 2 3 0 1 4 9 -1 0 1 2 3 0 1 2 4 9 Fonte: elaboração própria� Função par Uma função é chamada de função par caso 𝑓𝑓 𝑥𝑥 = 𝑓𝑓(−𝑥𝑥) para todos os valores possíveis 11 de x. Isso causa uma simetria em relação ao eixo y, ou seja, a região do gráfico à esquerda do eixo y é uma “reflexão” da região à direita. Figura 5: exemplos de funções pares 𝑓𝑓 𝑥𝑥 =cos 𝑥𝑥 𝑒𝑒 𝑓𝑓 𝑥𝑥 = 𝑥𝑥) . -6 -4 -2 20 -0.25 0.00 0.25 0.50 0.75 1.00 -0.50 -0.75 -1.00 4 6 6 5 3 3-3 2 2-2 1 0 1-1 4 7 8 9 Fonte: elaboração própria� Função ímpar Uma função é chamada de função ímpar caso 𝑓𝑓 −𝑥𝑥 = −𝑓𝑓(𝑥𝑥)para todos os valores possíveis de x. Isso causa uma simetria em relação à origem, ou seja, a função é simultaneamente “refletida” em ambos os eixos. 12 Figura 6: exemplos de funções ímpares: 𝑓𝑓 𝑥𝑥 = 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠 𝑥𝑥 e f x = 𝑥𝑥+ . -6 -4 -2 20 -0.25 0.00 0.25 0.50 0.75 1.00 -0.50 -0.75 -1.00 4 6 -3 -2 -1 10 -2 -4 -6 -8 0 2 4 6 8 2 3 Fonte: elaboração própria� Uma função não possuir uma dessas proprie- dades não implica em possuir outra delas� Por exemplo, uma função pode não ser nem injeto- ra nem sobrejetora� Da mesma maneira, uma função que não é par não necessariamente é uma função ímpar� FUNÇÃO INVERSA É possível inverter certas funções� Ou seja, dada uma função que nos dá valores de y em função de x, podemos alterar sua regra para que possamos obter valores de x em função de y� Isso significa que a variável y, antes dependente, irá tornar-se FIQUE ATENTO 13 uma variável independente, enquanto x se tornará a nova variável dependente� Vejamos um passo-a-passo para inverter uma função� Considere a função abaixo: 𝑓𝑓 𝑥𝑥 = 2𝑥𝑥 + 1 Vamos começar trocando “f(x)” por y: 𝑦𝑦 = 2𝑥𝑥 + 1 Note que y está isolado� Para inverter a função, devemos isolar o x: 𝑦𝑦 − 1 = 2𝑥𝑥 𝑦𝑦 − 1 2 = 𝑥𝑥 Podemos agora escrever x como uma função de y: 𝑓𝑓(𝑦𝑦) 𝑦𝑦 − 1 2 Dizemos que 𝑓𝑓 𝑦𝑦 = 𝑓𝑓$% (𝑥𝑥). Compare os gráficos das funções para compreender melhor a inversão de uma função: 14 Figura 7: gráfico de 𝑓𝑓 𝑥𝑥 = 2𝑥𝑥 + 1 e de 𝑓𝑓"#(𝑥𝑥) . -2 -1 1 30 -1 -2 -3 0 1 4 2 3 4 5 2 -3 -1 1 30 -1 -2 0 1 4 2 3 4 2 5-2 Fonte: elaboração própria� Para que uma função seja invertível, é necessário que ela seja bijetora (simultaneamente injetora e sobrejetora). Veja o que ocorre se tentarmos in- verter, por exemplo, a função 𝑓𝑓(𝑥𝑥) = 𝑥𝑥%. Note que ela não é sobrejetora. Por exemplo, 𝑓𝑓(2) e 𝑓𝑓(−2) possuem o mesmo valor – dois elementos do domínio possuem a mesma imagem. Ao invertê-la, passaremos a ter um elemento do domínio com mais de uma imagem, o que viola a definição de função� No gráfico isso fica bastante claro: 15 Figura 8: 𝑓𝑓 𝑥𝑥 = 𝑥𝑥$ e 𝑓𝑓"# 𝑥𝑥 , que não é função. -2 0 00 0 2 -3 -2 -1 1 2 2 6 84 3 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Fonte: elaboração própria� FUNÇÃO COMPOSTA Imagine uma função f qualquer e uma função g cujo domínio seja a imagem de f� Podemos obter uma expressão para mapear o domínio de f dire- tamente para a imagem de g� Chamamos isso de composição de funções� Para realizar essa opera- ção, representada por 𝑔𝑔 ∘ 𝑓𝑓 � Para realizar a com- posição, podemos calcular 𝑔𝑔(𝑓𝑓(𝑥𝑥)), substituindo todos os “x” de 𝑔𝑔(𝑥𝑥) pela expressão de 𝑓𝑓(𝑥𝑥) � Considere como exemplo as duas funções 𝑔𝑔 𝑥𝑥 = 3𝑥𝑥% + 2𝑥𝑥 − 1 e 𝑓𝑓 𝑥𝑥 = 𝑥𝑥 + 2 � Então temos: 16 𝑔𝑔 ∘ 𝑓𝑓 = 𝑔𝑔 𝑓𝑓 𝑥𝑥 = 3(𝑥𝑥 + 2)+ + 2 𝑥𝑥 + 2 − 1 𝑔𝑔 ∘ 𝑓𝑓 = 𝑔𝑔 𝑓𝑓 𝑥𝑥 = 3 𝑥𝑥' + 4𝑥𝑥 + 4 + 2 𝑥𝑥 + 2 − 1 𝑔𝑔 ∘ 𝑓𝑓 = 𝑔𝑔 𝑓𝑓 𝑥𝑥 = 3𝑥𝑥' + 12𝑥𝑥 + 12 + 2𝑥𝑥 + 4 − 1 𝑔𝑔 ∘ 𝑓𝑓 = 𝑔𝑔 𝑓𝑓 𝑥𝑥 = 3𝑥𝑥' + 14𝑥𝑥 + 15 17 FUNÇÕES E SUAS REPRESENTAÇÕES Observemos algumas funções importantes na Matemática, que utilizaremos com frequência para modelar os mais diversos problemas� FUNÇÕES POLINOMIAIS Funções polinomiais são aquelas representadas por uma soma de termos elevados a diferentes expoentes� Elas possuem a forma: 𝑓𝑓 𝑥𝑥 = 𝑐𝑐%𝑥𝑥& + 𝑐𝑐(𝑥𝑥&)% +*** + 𝑐𝑐&)%𝑥𝑥%+ 𝑐𝑐& Ou seja, cada termo é composto por x elevado a um expoente de 0 até n e multiplicado por uma constante real, lembrando que qualquer número elevado a 0 é igual a 1� Alguns termos podem ser omitidos, basta que seu coeficiente seja igual a 0� Note que o número “n” dá o grau do polinômio� Ou seja, se o maior expoente de um polinômio é 2, dizemos que o polinômio possui grau 2� O grau do polinômio determina o número de raízes que ele possuirá – isto é, em quantos pontos ele cruza o eixo x� Mas note que nem sempre as raí- zes serão números reais� Há circunstâncias onde 18 uma raiz será complexa� Vamos estudar alguns polinômios bastante comuns� Função afim Função afim é um nome para uma função polino- mial de primeiro grau� Ela também é conhecida como função linear� Sua forma é 𝑓𝑓 𝑥𝑥 = 𝑎𝑎𝑥𝑥 + 𝑏𝑏 . Seu gráfico sempre irá formar uma reta. O termo “a” é chamado de coeficiente angular e influenciará na inclinação da reta: quanto maior esse termo, maior o ângulo entre a função e o eixo x. O termo b é o termo constante e representa o ponto onde a função cruza o eixo y. As funções 𝑓𝑓 𝑥𝑥 = 2𝑥𝑥 + 1 e sua inversa 𝑓𝑓 𝑥𝑥 = 1 2 𝑥𝑥 + 1 2 são exemplos de função afim. Seus coeficientes angulares são, respectivamente, 2 e 1 2# , e seus termos constantes são, respectivamente, 1 e −1 2$ . Observe no gráfico (Figura 7) o ponto onde as re- tas cruzam o eixo y. Note também que a segunda função, cujo coeficiente angular é menor, possui uma reta menos inclinada do que a primeira. Função quadrática A função quadrática, como o nome sugere, é um polinômio cujo maior termo está elevado ao qua- drado – ou seja, é uma função polinomial de grau 19 2. Seu gráfico forma uma parábola. Ela geralmente possui a forma 𝑓𝑓 𝑥𝑥 = 𝑎𝑎𝑥𝑥%𝑏𝑏𝑥𝑥 + 𝑐𝑐 . O coeficiente “a” controla a abertura da parábola: quanto maior seu módulo, mais “aberta” será a curva. Seu sinal controla se a parábola abre para cima (positivo) ou para baixo (negativo). Os coeficientes “a” e “b” irão influenciar o eixo de simetria da parábola, ou seja, a localização de seu vértice. Já o termo “c” controla a altura da parábola, representando o ponto onde ela irá interceptar o eixo y. Além do ponto “c”, onde a parábola intercepta o eixo y, temos alguns outros pontos notáveis que irão nos ajudar a caracterizar uma função quadrática: suas raízes (os pontos onde a função cruza o eixo x) e seu vértice (que será seu ponto de máximo ou de mínimo). Outro valor que irá nos auxiliar é o discriminante da função, representado pela letra grega delta (Δ). Ele é dado por ∆= 𝑏𝑏$ − 4𝑎𝑎𝑎𝑎 . O valor do discriminante nos traz informações sobre as raízes do polinômio: ∆ > 𝑐𝑐: a função possui duas raízes reais e distintas. ∆= 𝑐𝑐 : a função possui uma raiz real (que coin- cidirá com seu vértice). 20 ∆ função constante e geral- mente a representamos como 𝑓𝑓 𝑥𝑥 = 𝑘𝑘 , onde k é um número real qualquer� Seu gráfico é uma reta paralela ao eixo x, cortando o eixo y no ponto k� FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS As funções trigonométricas surgiram a partir de relações entre os diferentes lados de um triângulo 22 retângulo e são utilizadas desde a antiguidade para se calcular distâncias e realizar medições� Uma forma mais moderna de defini-las utiliza uma circunferência com centro nos eixos cartesianos e raio igual a 1� Ao traçarmos um raio unindo um ponto arbitrário da circunferência ao seu centro, podemos identificar duas das funções trigonomé- tricas mais básicas: seno e cosseno� Figura 10: definindo seno e cosseno na circunferência trigonométrica� -0.5 -0.5 0.0 0.5 1.0 0.0 0.5 θ 1.0-1.0 -1.0 Raio =1 sen(θ) cos(θ) Fonte: elaboração própria� 23 Funções seno e cosseno Em um triângulo retângulo qualquer, podemos calcular o seno e o cosseno de um de seus ângulos agudos, vamos chamar de θ (teta), da seguinte maneira: 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝜃𝜃 = 𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑠𝑠𝑐𝑐𝑐𝑐 𝑐𝑐𝑜𝑜𝑐𝑐𝑠𝑠𝑐𝑐𝑐𝑐 ℎ𝑖𝑖𝑜𝑜𝑐𝑐𝑐𝑐𝑠𝑠𝑠𝑠𝑖𝑖𝑠𝑠𝑐𝑐 𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝜃𝜃 = 𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐 𝑐𝑐𝑎𝑎𝑎𝑎𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑎𝑎𝑐𝑐𝑐𝑐 ℎ𝑖𝑖𝑖𝑖𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑎𝑎𝑖𝑖𝑐𝑐𝑐𝑐 Utilizando a circunferência trigonométrica centrada na origem e com raio unitário, podemos generalizar as funções seno e cosseno que recebem como argumento um ângulo� O seno do ângulo será a altura do triângulo, ou seja, a projeção do raio no eixo y� Já o cosseno será a base do triângulo, ou seja, a projeção do raio no eixo x� Observe a figura anterior atentamente e note o que acontece com os valores do seno e do cosseno conforme o ângulo cresce no sentido anti-horário� Note que é possível calcular o valor das funções para qualquer ângulo, inclusive ângulos superiores a 360 graus (a função irá se repetir) e negativos (variando o ângulo no sentido horário)� Por serem definidas dentro de uma circunferência, tanto o seno quanto o cosseno se repetem a cada 360 graus� Esse comportamento periódico as torna bastante importantes para a modelagem de fenômenos oscilatórios, presentes em diversas áreas da física� 24 Figura 11: gráficos das funções seno e cosseno� 360˚ 270˚ 160˚ 90˚ 90˚ -0.25 0.00 0.25 0.50 0.75 1.00 -0.50 -0.75 -1.00 160˚ 270˚ 360˚ 360˚ 270˚ 160˚ 90˚ 90˚ -0.25 0.00 0.25 0.50 0.75 1.00 -0.50 -0.75 -1.00 160˚ 270˚ 360˚ Fonte: elaboração própria� Note também que o seno e o cosseno possuem os mesmos valores, porém com um “deslocamento” no gráfico� Podemos dizer que o cosseno é igual ao seno com 90 graus de “atraso”� Foram utilizados graus nos gráficos acima para facili- tar a visualização e compreensão� Porém, as funções trigonométricas frequentemente são utilizadas com argumentos em radianos� Você pode fazer a conversão utilizando as fórmulas: 𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟 = 𝑔𝑔𝑟𝑟𝑟𝑟𝑔𝑔𝑔𝑔 𝑥𝑥 𝜋𝜋 180 𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔 = 180 𝑥𝑥 𝑔𝑔𝑔𝑔𝑟𝑟 𝜋𝜋 FIQUE ATENTO 25 Função tangente Assim como o seno e o cosseno, a tangente tam- bém vem diretamente de relações entre lados no triângulo retângulo� Ela pode ser calculada pela fórmula: 𝑡𝑡𝑔𝑔𝜃𝜃 = 𝑐𝑐𝑐𝑐𝑡𝑡𝑐𝑐𝑡𝑡𝑐𝑐 𝑐𝑐𝑜𝑜𝑐𝑐𝑜𝑜𝑡𝑡𝑐𝑐 𝑐𝑐𝑐𝑐𝑡𝑡𝑐𝑐𝑡𝑡𝑐𝑐 𝑐𝑐𝑎𝑎𝑎𝑎𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑎𝑎𝑡𝑡𝑐𝑐 Ela também pode ser definida como uma função, e ela é calculada a partir das outras duas funções trigonométricas já estudadas: 𝑡𝑡𝑔𝑔(𝜃𝜃) = 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠(𝜃𝜃) 𝑐𝑐𝑐𝑐𝑠𝑠(𝜃𝜃) Graficamente, imagine na circunferência unitária uma reta paralela ao eixo y cruzando o eixo x em x = 1� Prolongue o raio até que ele intercepte essa reta� A altura entre o eixo x e essa reta é a tangente do ângulo� 26 Figura 12: a tangente na circunferência trigonométrica e o gráfico da função tangente� -0.5 -0.5 0.5 1.0 1.5 0.0 0.0 0.5 θ 1.0 1.5-1.0 -1.0 sen(θ) cos(θ) tg(θ) 360˚ 270˚ 160˚ 90˚ 90˚ -2.5 0.0 2.5 5.0 7.5 10.0 tg(x) -5.0 -7.5 -10.0 160˚ 270˚ 360˚ Fonte: elaboração própria� Observe na circunferência trigonométrica que conforme o ângulo cresce e se aproxima de 90 graus, a tangente também cresce bastante. Bem próximo de 90 graus, seu valor deve ser muito alto e em exatamente 90 graus o raio coincide com o eixo y, sendo impossível prolongá-lo até a reta imaginária. Nesse ponto, a função tangente deixa de existir. Algebricamente, temos que , ou seja, ocorreria uma divisão por zero na fórmula da tangente. Note no gráfico o comportamento da função: conforme o ângulo se aproxima dos valores cujo cosseno vale 0, a função cresce vertiginosamente em direção ao infinito (positivo ou negativo, depen- 27 dendo do ângulo), para em seguida “ressurgir” na direção oposta� Esse ponto onde uma função deixa de existir mas para onde os pontos na vizinhança convergem são chamados de assíntotas, e serão estudados futuramente� Seno, cosseno e tangente são as funções trigonométri- cas mais utilizadas� Porém em alguns problemas você verá a razão inversa dessas funções aparecendo, e elas recebem nomes especiais: secante (razão inversa do cosseno), cossecante (razão inversa do seno) e cotan- gente (razão inversa da tangente)� Caso tenha interesse em entender melhor suas pro- priedades e interpretações geométricas, leia mais em: OLIVEIRA, R� R� de� Secante, cossecante e cotangente� Brasil Escola, [s� d�]� Disponível em: https://brasilescola� uol�com�br/matematica/secante-cosecante-cotangente� htm� Acesso em 20 abr� 2022� FUNÇÕES EXPONENCIAIS E LOGARÍTMICAS Uma outra forma de função que representa bem diversos fenômenos reais, como a propagação de doenças infecciosas ou taxas de juros, é a função exponencial� Nela, a variável independen- te representa um expoente� Uma forma típica de SAIBA MAIS 28 https://brasilescola.uol.com.br/matematica/secante-cosecante-cotangente.htm https://brasilescola.uol.com.br/matematica/secante-cosecante-cotangente.htm https://brasilescola.uol.com.br/matematica/secante-cosecante-cotangente.htm função exponencial seria 𝑓𝑓 𝑥𝑥 = 𝑎𝑎&, onde “a” é uma constante real� Considere, por exemplo, 𝑓𝑓 𝑥𝑥 = 10' � Note que au- mentar x em 1 unidade implica em multiplicar o valor da função por 10, ou seja, adicionar um zero ao seu final� 𝑓𝑓 1 = 10 e 𝑓𝑓 5 = 10000 � 29 Figura 13: gráfico de 𝑓𝑓 𝑥𝑥 = 2% � 1000 800 600 400 200 20 0 4 6 8 10 Fonte: elaboração própria� Trabalhar com grandezas exponenciais pode ser muito trabalhoso, pois envolve números grandes e crescimentos difíceis de visualizar� Isso torna muito úteis as funções logarítmicas� Vamos entender a notação de um logaritmo: 30 𝑙𝑙𝑜𝑜𝑔𝑔$ 𝑎𝑎 = 𝑥𝑥 ⟺ 𝑏𝑏+ = 𝑎𝑎 Quando a base (b) é omitida, normalmente en- tendemos que a base é 10. Em outros contextos, podemos ter outras bases: em problemas de ciência da computação, normalmente supomos base 2. Existe também o logaritmo natural, que é o logaritmo de base e, um número transcendental como o π (pi), que será estudado futuramente. Muitas vezes, 𝑙𝑙𝑜𝑜𝑔𝑔$ 𝑥𝑥 será representado como 𝐼𝐼𝐼𝐼 𝑥𝑥 . Figura 14: Gráfico de 𝑓𝑓 𝑥𝑥 = 𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙(𝑥𝑥). 12 10 8 6 4 2 0 0 500 1000 1500 2000 2500 35003000 4000 Fonte: elaboração própria� Os logaritmos também aparecem com frequência quando estamos resolvendo equações envolvendo funções exponenciais, e até mesmo de maneira es- pontânea ao modelarmos certos problemas da natu- reza, como o decaimento de substâncias radioativas� 31 USO PRÁTICO DAS FUNÇÕES Funções irão aparecer na prática em problemas de áreas diversas onde temos uma grandeza que depende de outra� Vejamos alguns exemplos na prática� ARREMESSO PARA CIMA Quando arremessamos um objeto para cima, ele tende a desacelerar por conta da gravidade até que atinja uma altura máxima� Desse ponto em diante, ele passará a acelerar para baixo até atingir o solo� Podemos modelar esse movimento por meio da função: 𝑠𝑠 𝑡𝑡 = 𝑠𝑠$+𝑣𝑣&𝑡𝑡 − ) * 𝑔𝑔𝑡𝑡* , onde s0 é a altura inicial,t é o tempo, v0 é a velocidade inicial do objeto e g é a gravidade (considere 10𝑚𝑚/𝑠𝑠& )� Se um objeto for atirado a 40metros por segundo ao quadrado a partir da altura de 1 metro e meio para cima, determine: a) Sua altura máxima; b) O instante em que a altura máxima será atingida; c) O momento que o objeto irá chegar ao solo; d) Esboce o gráfico ilustrando a altura do projétil em função do tempo� 32 Primeiramente, vamos colocar os valores dados em nossa função e escrevê-la em um formato mais convencional: 𝑠𝑠 𝑡𝑡 = 1,5 + 40𝑡𝑡 + −1 2 10𝑡𝑡- 𝑠𝑠 𝑡𝑡 = −5𝑡𝑡& + 40𝑡𝑡 + 1,5 Note que a função é um polinômio de grau 2. Seu coeficiente “a” é negativo, confirmando que a parábola está virada para baixo, possuindo um ponto de máximo. Podemos aplicar diretamente a fórmula para obter a coordenada x do vértice , que representa o tempo em que ocorreu a altura máxima: 𝑡𝑡"#$ = 𝑥𝑥' = −𝑏𝑏 2𝑎𝑎 𝑡𝑡"#$ = &'( )(&+) = 4 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠 Podemos utilizar outra fórmula para determinar Y, ou, alternativamente, aplicar na função: 𝑠𝑠"#$ = −5 4) + 40 4 + 1,5 𝑠𝑠"#$ = 81,5 𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑠𝑠 Como o solo seria a altura 𝑠𝑠 = 0 , o objeto retornar ao solo equivaleria à sua trajetória atingir o eixo 33 das abcissas. Portanto, ele seria uma das raízes do polinômio. Vamos utilizar a fórmula de Bháskara: ∆= 𝑏𝑏$ − 4𝑎𝑎𝑎𝑎 = 40$ − 4𝑥𝑥 −5 ×1,5 = 1630 𝑡𝑡 = #$± ∆ '( = #)*± +,-* #'×/ =)*±)*,-1 +* 𝑡𝑡𝑡 = 8,04𝑠𝑠|𝑡𝑡” = −0,04𝑠𝑠 Naturalmente, o objeto não pode ter caído em 2 instantes diferentes� Note que uma das raízes é negativa: não faz sentido também falar em raiz negativa nesse problema� Portanto, descartamos essa raiz e ficamos com a positiva� Figura 15: esboço da trajetória de um projétil� 80 70 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 60 50 40 30 20 10 Fonte: elaboração própria� 34 1) Determine a função representada no gráfico abaixo: Figura 16: gráfico de função a ser determinada (exemplo 2)� -270˚ 270˚-180˚ 180˚-90˚ -1 1 0 2 3 -2 -3 90˚ Fonte: elaboração própria� Pelo comportamento oscilatório, é razoável supor que se trata de uma função trigonométrica, como seno ou cosseno� Como seu valor máximo coincide com o eixo y, sabemos que é o cosseno� Podemos notar também o valor 0 nos ângulos de 90 e 270 graus, tanto positivos quanto negativos� Porém, o cosseno oscila entre -1 e 1, enquanto a função exibida aqui oscila entre -3 e 3� Portanto: 35 𝑓𝑓 𝑥𝑥 = 3cos (𝑥𝑥) 1) Determine a função representada pelo gráfico abaixo: Figura 17: gráfico de função a ser determinada (exemplo 3)� -270˚ 270˚-180˚ 180˚-90˚ -2 2 4 6 -4 -6 90˚ Fonte: elaboração própria� Pela mesma lógica do exercício anterior, temos uma função trigonométrica� Porém, dessa vez ela está partindo do zero� Portanto, provavelmente seria o seno� 36 Também seguindo a lógica do exemplo anterior, nossa função está oscilando entre -6 e 6, o que significa que nosso seno provavelmente está sendo multiplicado por 6� Mas note o valor da função nos ângulos destaca- dos� O seno deveria atingir seu valor máximo em 90 graus e retornar a 0 ao chegar nos 180 graus� A função ilustrada atinge o máximo na metade do “caminho” e já está de volta ao 0 nos 90 graus� Seu ângulo está “se movendo” com o dobro da “velocidade”� Portanto, temos: 𝑓𝑓 𝑥𝑥 = 6sen (2𝑥𝑥) 37 CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao fim de nossa breve introdução às funções� Nós percebemos como funções servem para mapear elementos de um conjunto, conheci- do como domínio, para outro conjunto, conhecido como contradomínio� Os pontos do contradomínio mapeados para o domínio formam o conjunto imagem� Após entendermos funções, discutimos também os gráficos de funções: conjuntos de pontos for- mados por elementos do domínio e suas respec- tivas imagens, que podem ser utilizados para se representar graficamente uma função� Em seguida, estudamos algumas propriedades das funções, como sua paridade (que indica diferentes tipos de simetria) e algumas relações mais notáveis entre os elementos de seus conjuntos (funções injetoras, sobrejetoras e bijetoras)� Estudamos também algumas operações úteis que podemos realizar com funções, como invertê-las (desde que elas sejam bijetoras) ou combiná-las� Tendo em mãos todos os conceitos básicos de funções, conhecemos alguns exemplos de fun- ções, como as polinomiais, as trigonométricas e as logarítmicas e exponenciais� Todas elas são funções que irão aparecer frequentemente em 38 diversas áreas do conhecimento e serão úteis para resolver problemas do mundo real� Por fim, estudamos alguns exemplos de como se trabalhar com funções e analisar seus gráficos� Não se esqueça de praticar bastante – matemática é prática! 39 Referências Bibliográficas & Consultadas AXLER, S� Pré-cálculo: uma preparação para o cálculo com manual de soluções para o estudante� 2� ed� Rio de Janeiro: GEN/LTC, 2016� [Minha Biblioteca]� GERSTING, J� L� Fundamentos matemáticos para a Ciência da Computação: Matemática Discreta e suas aplicações� 7� ed� Rio de Janeiro: GEN/LTC, 2017� [Minha Biblioteca]� GUIDORIZZI, H� L� Um curso de Cálculo, Vol. 1� 6� ed� Rio de Janeiro: GEN; LTC, 2018� [Minha Biblioteca]� GUIDORIZZI, H� L� Um Curso de Cálculo, Vol. 2� 6� ed� Rio de Janeiro: GEN; LTC, 2018� [Minha Biblioteca]� MORETTIN, P� A�; HAZZAN, S�; BUSSAB, W� O� Introdução ao Cálculo para Administração, Economia e Contabilidade� 2� ed� São Paulo: Saraiva, 2018� [Minha Biblioteca]� RODRIGUES, A� C� D�; SILVA, A� R� H� S� Cálculo diferencial e integral a várias variáveis� Curitiba: InterSaberes, 2016� [Biblioteca Virtual Pearson]� ROGAWSKI, J�; COLIN, A� Cálculo� 3� ed� Porto Alegre: Bookman, 2018� [Minha Biblioteca]� SILVA, P� S� D� Cálculo Diferencial e Integral� 1� ed� Rio de Janeiro: LTC, 2017� [Minha Biblioteca]� Introdução Conceito de Funções Definição de funções Gráfico de uma função Notação Propriedades de uma função Função inversa Função composta Funções e suas representações Funções polinomiais Funções trigonométricas Funções exponenciais e logarítmicas Uso prático das funções Arremesso para cima Considerações finais Referências Bibliográficas & Consultadas