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HISTÓRIA DA MATEMÁTICA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Descrever a matemática desenvolvida na Idade Média. > Explicar a matemática desenvolvida no Renascimento. > Demonstrar técnicas da matemática da Idade Média ou do Renascimento na sala de aula de matemática. Introdução Ao longo da história, o homem sempre buscou formas de simplificar suas tarefas diárias, utilizando diversos meios para isso. Muitas ciências, portanto, têm a incumbência de facilitar grande parte das atividades cotidianas do homem em sociedade, como as ciências físicas e matemáticas. A necessidade de contar per- mitiu ao homem uma evolução na matemática, que vem aprimorando essa técnica e criando outras formas de utilizar conceitos matemáticos aplicados a situações do dia a dia. Assim, a história da matemática é permeada de situações nas quais conceitos matemáticos foram descobertos e aperfeiçoados no sentido de satis- fazer às necessidades do homem, seja na Idade Média ou em tempos modernos. Matemática na Idade Média e no Renascimento Maria Elenice dos Santos Neste capítulo, explicaremos como se deu o desenvolvimento da matemática durante a Idade Média e na época do Renascimento. A história da matemática é dividida em fases devido a fatos históricos. Aqui, veremos que essa história sofreu grande influência de cinco povos (egípcios, gregos, chineses, hindus e árabes), os quais, muitas vezes, discutiram os mesmos conceitos matemáticos de formas diferentes, produzindo avanços na forma de se pensar a matemática. Desenvolvimento da matemática na Idade Média Atualmente, as ideias no campo da matemática encontram-se bastante evolu- ídas e amparadas por altas tecnologias; porém, suas origens estão baseadas em ideais e noções primitivas, relacionadas aos conceitos de número, de grandeza e de forma. A história da matemática constitui uma área de estudo capaz de explorar as diversas práticas matemáticas existentes ao longo da história, desde suas origens, passando pela Idade Média e pelo Renascimento, até chegar à matemática moderna (ARAGÃO, 2009). Nesse caminhar, muitas descobertas foram realizadas e grandes nomes fizeram história nesse setor da ciência, que, sem dúvidas, trata-se de um dos mais importantes e de grande contribuição para o avanço científico (BOYER; MERZBACH, 1996). Do ponto de vista histórico, a Idade Média é delimitada com base em mar- cos históricos bem definidos, pois teve seu início a partir da queda de Roma, no ano de 476, e seu término ligado à queda de Constantinopla, no ano de 1436 (BOYER; MERZBACH, 1996). Essa foi uma época da história rica em acon- tecimentos marcantes da história humana, mas, na história da Matemática, não houve um grande desenvolvimento de conceitos e de ideias como ocorreu mais adiante, na época do Renascimento, por exemplo (ARAGÃO, 2009). Ainda assim, alguns matemáticos e cientistas famosos da época fizeram história e grandes contribuições para o desenvolvimento de conceitos e teorias da matemática (MEDINA, 2013). Ressalta-se, aqui, que os grandes acontecimentos da história ligados à matemática ocorreram na Europa, mas, ainda assim, muitos historiadores fazem menção ao desenvolvimento matemático da Era Medieval, relatando a contribuição dos povos chineses, hindus e árabes, além dos europeus (BOYER; MERZBACH, 1996). Matemática na Idade Média e no Renascimento2 A matemática da Idade Média dividida entre dois povos: Bizantinos e Romanos Com destaque na Europa, cita-se a contribuição na história da matemática de dois povos: os Bizantinos, cuja língua oficial era o grego, e os Romanos, cuja língua oficial era o latim. O desenvolvimento da matemática com base nos conhecimentos do povo Bizantino promoveu uma busca dos conceitos relacionados à matemática da época dos gregos, resgatando muitas das teorias que a impulsionaram nessa época (BOYER; MERZBACH, 1996). O desenvolvimento da matemática na Idade Média pelo povo Bizantino foi inspirado em muitos matemáticos de tempos passados. Dos povos que fizeram história, podem ser citados Eutócio, Simplício, Isidoro de Mileto, An- têmio de Tales, John Filoponus, etc. (BOYER; MERZBACH, 1996; MEDINA, 2013). Filoponus, sobretudo, fez grandes contribuições à evolução da matemática por questionar as Leis aristotélicas do movimento e a probabilidade da não existência do vácuo. Além disso, como contribuição para a ciência, não para a matemática, especificamente, Filoponus construiu a ideia do princípio da inércia, afirmando que corpos em movimento continuariam em movimento (ARAGÃO, 2009). Filoponus também teve trabalhos de matemática aplicada, sendo que uma de suas obras cita a aplicação da matemática no desen- volvimento de um astrolábio (BOYER; MERZBACH, 1996). A maioria de seus desenvolvimentos na matemática era com base na matemática elementar. Destaca-se que, na época do Império Bizantino, esforços dos cien- tistas e matemáticos eram empreendidos no intuito de preservar ao máximo tudo o que já havia sido descoberto e estudado na Antiguidade, usando conceitos e teorias preexistentes como base para desenvolvimentos futuros da matemática (MEDINA, 2013). Na mesma linha de atuação de Filoponus, o matemático Georgios Pachy- meres também desenvolveu a matemática e procurou preservar os conceitos da Antiguidade, dando continuidade ao progresso na área com o cuidado de manter conceitos antigos e fundamentais (BOYER; MERZBACH, 1996). Pachy- meres atuou na aritmética, assim como o matemático Maxymos Planudes, que escreveu sobre o tema numeração. Ambos também estudaram grandes matemáticos da Antiguidade e comentaram obras de grande relevância, como o livro Aritmética, de Diofante (BOYER; MERZBACH, 1996). Matemática na Idade Média e no Renascimento 3 Além das muitas produções no campo da matemática, a Idade das Trevas (como também é chamada a Idade Média), produziu uma grande gama de materiais traduzidos de outras épocas; daí o fato de essa época ser retratada na história como “O século da tradução” (BOYER; MERZBACH, 1996). Falando especificamente da história da matemática, muitas obras da área foram traduzidas e disseminadas para diversas partes do mundo, sendo que o livro Elementos, de Euclides, foi um dos primeiros a serem traduzidos, seguido de outros livros das mais diversas áreas e de igual notoriedade (MEDINA, 2013). Retratando-se a história com base em seu desenvolvimento por parte dos romanos, na época da Idade Média, já havia uma linha de divisão entre os cientistas e matemáticos de cunho religiosos e aqueles vinculados às universidades (ARAGÃO, 2009). A história retrata uma série de desavenças e rivalidades entre as duas classes, o que acabou por prejudicar o desenvolvi- mento de alguns conceitos e teorias da matemática. No entanto, ainda assim, muitos avanços ocorreram. Destacam-se, nessa época, alguns matemáticos conhecidos, sendo que um dos nomes de referência era Leonardo de Pisa, mais conhecido como Fibonacci (BOYER; MERZBACH, 1996). Da época da Idade Média, Fibonacci foi um dos matemáticos mais conheci- dos e renomados. Além de ser famoso pela criação da “sequência de Fibonacci”, sua obra Liber Abaci também é famosa na história, retratando métodos e problemas algébricos e utilizando numerais indo-arábicos (ARAGÃO, 2009). A referida obra é bem contextualizada com a época e sua linguagem bem adaptada aos conceitos desenvolvidos até então, não sendo, por exemplo, uma obra a ser discutida na época moderna, por exemplo (BOYER; MERZBACH, 1996). A sequência de Fibonacci, quando criada, trouxe notório avanço e grande estímulo à matemática, pois Fibonacci a demonstrou geométrica e algebrica- mente, provando ser essa uma relação entre números, cujo número seguinte se tratava da soma de dois outros anteriores, e que sua versão geométrica constituía uma forma espiralada, representando os valores da série elevados ao quadrado (MEDINA, 2013; BOYER; MERZBACH, 1996). Dos muitos problemas apresentados no livro Liber Abaci, de Leo- nardo Fibonacci, os problemasenvolvendo o desenvolvimento de sequências é um dos mais famosos, pois são capazes de apresentar e definir sequências numéricas, procurando relacionar com situações-problema de apli- cações práticas, definir sequências crescentes e apresentar propriedades e teoremas sobre sequências numéricas. Matemática na Idade Média e no Renascimento4 A problemática a ser solucionada é intitulada “sucessão de Fibonacci” e embasa-se na seguinte situação: um homem colocou um par de coelhos (um macho e uma fêmea) em um local cercado por muros. Sabendo-se que o casal de animais deverá copular, deseja-se conhecer quantos pares de coelhos poderão ser gerados a partir desse par no intervalo de um ano se, supostamente, todo mês cada par dará à luz a um novo par, os quais serão sempre férteis a partir do segundo mês. Resolução: a solução desse problema deverá levar em consideração a forma como os animais se desenvolvem e os intervalos de tempo a partir dos quais estarão prontos para procriar. Conforme relatou o enunciado, devemos considerar o coelho pronto para procriação após dois meses de seu nascimento. Para melhor visualizar a questão e utilizar as ideias de Fibonacci para solu- cionar o problema da sucessão de Fibonacci, veja a Figura 1. Figura 1. Distribuição de coelhos que se desenvolvem a partir da sucessão de Fibonacci. Fonte: Adaptada de Universidade de Lisboa ([20--?]). Para melhor explicar a distribuição de coelhos, pode-se fazê-los com base na sequência de Fibonacci, dada como: ....14489553421138532110 Ao comparamos as informações da sequência de Fibonacci com as informações mostradas na Figura 1, vemos que a distribuição da série é satisfeita. Assim, ao utilizarmos o conceito de que a soma de dois números anteriores corresponde ao valor seguinte, considerando-se o intervalo de dois meses após o nascimento, o número de coelhos no 12º mês será de 144, como aparece na série. Matemática na Idade Média e no Renascimento 5 Nesta seção, vimos que a Idade Média um período de grande importância na história, valorizando as obras da matemática e resgatando conceitos já desenvolvidos na Antiguidade. Embora, do ponto de vista histórico, tenha sido uma época de grandes desafios e pouca produção de ciência e de co- nhecimento, muitos trabalhos desse período tiveram grande notoriedade e foram fundamentais para o progresso que observado mais adiante, na época do Renascimento e em épocas futuras. Aqui, vimos a relevância de grandes nomes da época, como Leonardo Fibonacci, Filoponus e muitos outros, que nem sempre são citados diretamente, mas que fizeram importantes contri- buições para o avanço da história da matemática. Desenvolvimento da matemática no Renascimento O período que compreendeu o Renascimento iniciou-se no final do século XIII, indo até meados do século XVII (BOYER; MERZBACH, 1996). Esse foi um período de descobertas e de valorização da cultura da Antiguidade Clássica, uma vez que essas produziram mudanças na direção de um ideal humanista e naturalista (EVES, 2004). Diferentemente do que se passou na Idade Média, no Renascimento, o enfoque para a matemática se deu de forma mais aplicada, considerando-se os avanços da época. De forma gradativa, percebeu-se um aumento no número de trabalhos matemáticos por volta do século XV (EVES, 2004). O período do Renascimento trouxe alguns marcos importantes da história, como a queda de Constantinopla, um grande tumulto acerca das grandes navegações e a possibilidade de difusão de grandes obras, uma vez que se tornou possível imprimi-las (BOYER; MERZBACH, 1996). Desenvolvimento da matemática no Humanismo A queda de Constantinopla foi um marco cronológico na história e no mundo da política (BOYER; MERZBACH, 1996). Ao longo da história, existem relatos de manuscritos que desapareceram, causando perda de parte da história da matemática, especificamente alguns tratados gregos (EVES, 2004). Além disso, na Europa Ocidental e por volta de 1447, relatou-se a experiência de ter o primeiro livro totalmente impresso, o que ocasionou um aumento sig- nificativo de obras circulando, sendo que muitas eram obras da matemática (BOYER; MERZBACH, 1996). Ressalta-se, aqui, uma das características fortes Matemática na Idade Média e no Renascimento6 da matemática na época do Renascimento: utilizar conceitos da área para produzir uma matemática mais aplicada a campos como arte, mecânica, cartografia, óptica, contabilidade, etc. (EVES, 204). Um dos fatores interessantes dessa época é que, apesar de haver crescimento em diversas áreas, com um forte movimento voltado para a arte e a ciência antiga, o desenvolvimento científico acabou encontrando grande resistência por parte da Igreja Católica, o que visivelmente atrasou o progresso dos conceitos da matemática em diversos setores da sociedade (EVES, 2004; BOYER; MERZBACH, 1996). A história ressalta que muitas teorias não foram publicadas, uma vez que os cientistas e estudiosos temiam sofrer penalidades por parte dos membros de destaque da Igreja. Na época que o Renascimento apareceu, a Igreja Católica era mentora do desenvolvimento do saber (BOYER; MERZBACH, 1996). O desenvolvimento da matemática, durante o Renascimento, contribuiu muito para o movimento renascentista, pois as ideias inovadoras de teorias matemáticas favoreceram a rejeição ao misticismo medieval. A isso, soma- -se o acesso à educação de muitas pessoas que não estavam diretamente envolvidas com a matemática, devido à criação de muitas universidades (BOYER; MERZBACH, 1996; EVES, 2004). Com esse grande leque de variedades, de ideias diferentes daquelas pregadas pela Igreja, a perspectiva de que se tornara necessário conhecer os fatos existentes começou a ganhar força. É sabido que o Renascimento teve início na Itália, a partir da queda de Constantinopla. Nesse processo, muitos escritos pertencentes à Grécia re- tornaram a seu berço (BOYER; MERZBACH, 1996). O Renascimento é tido como o começo do racionalismo do homem, e muitos filósofos e estudiosos mate- máticos de renome podem ser citados nessa época de evolução da história da matemática (EVES, 2004). Um dos matemáticos mais conhecidos da referida época foi Johann Müller, também conhecido como Regiomontanus. Sua obra máxima, intitulada de Triangulis omnimodis, trata-se de uma exposição sistemática dos métodos utilizados para solucionar problemas envolvendo triângulos (EVES, 2004). Essa foi uma época marcante na história da matemática, visto o fato de que a álgebra e a trigonometria se desenvolveram bastante. Além de Regiomon- tanus, o matemático Luca di Borgo, também conhecido como Luca Pacioli, fez sua contribuição à história, produzindo a obra Summa de arithmetica, Matemática na Idade Média e no Renascimento 7 geometrica, proportioni et proportionalita, rica em um desenvolvimento matemático mais rebuscado (BOYER; MERZBACH, 1996). Tratou-se, de fato, de um trabalho notável nas áreas da aritmética, da álgebra, da geometria euclidiana elementar e da contabilidade. Além dos referidos nomes, existem outros de igual importância, como o de Nicolau Copérnico e o de Leonardo da Vinci, um matemático da Renascença que se envolveu na teoria da perspectiva (EVES, 2004). No desenvolvimento da história da matemática no Renascimento, Nico- lau Copérnico foi um renomado matemático e astrônomo polonês (pai da astronomia moderna), responsável pela ideia do heliocentrismo (STEWART, 2014; BOYER; MERZBACH, 1996). Uma vez que já existiam universidades para lecionar matemática na época, Copérnico foi um dos que ingressaram em uma universidade para aprender medicina, direito, astronomia e matemática. Ao longo de sua vida, realizou observações feitas por instrumentos de sua própria confecção, utilizando conceitos matemáticos para isso (EVES, 204). Copérnico, por seu brilhantismo na astronomia, escreveu um livro intitulado Pequeno comentário sobre as hipóteses de constituição do movimento celeste. As teorias de Copérnico foram fundamentaispara os estudos de cientistas como Johannes Kepler e Galileu Galilei (BOYER; MERZBACH, 1996). Já Leonardo da Vinci, outro nome de grande notoriedade na história, fez grandes contribuições à área da matemática. Portador de um olhar de pesquisador incansável e com grande talento para a experimentação, muito pouco se conhece de sua vida profissional, mas seus feitos, no século XV, revolucionaram a história da matemática (EVES, 204). Além de seu talento para a matemática, os feitos de Leonardo da Vinci também são conhecidos na arte, devida a suas pinturas (BOYER; MERZBACH, 1996). Embora não tenha frequentado a universidade, da Vinci teve grande êxito em áreas como geologia, botânica, anatomia, astronomia, matemática, hidráulica, engenharia, música, poesia, pintura e arquitetura. Seu interesse era vasto, deixando mais de 6 mil páginas contendo escritos de suas áreas de interesse, sendo a matemática uma delas (STEWART, 2014). Leonardo da Vinci sempre mostrou grande apreço pelo desenvolvimento da matemática na época dos gregos, tanto que, em seus apontamentos, foram encontrados os dizeres: “Que não entre ninguém que seja um laico em geometria”. Tal escrito se encontrava à porta da academia fundada por Platão. Isso deixa clara a importância que o tema possuía na vida de Leonardo da Vinci, sendo a matemática estruturante em muitas das áreas em que ele desenvolveu seus conhecimentos (EVES, 2004). Matemática na Idade Média e no Renascimento8 Um dos pontos de discussão que coube a Leonardo da Vinci foi a divisão áurea, muito conhecida e já utilizada na Grécia Antiga. Uma representação de divisão áurea pode ser observada na Figura 2. Trata-se de uma fórmula matemática que, ao dividir o espaço, tem o poder de dividi-lo em formas agradáveis aos olhos, respeitando-se medidas numéricas preestabelecidas (STEWART, 2014). Existem muitos objetos no mundo que obedecem a tal divisão, mostrando harmonia em sua representação (EVES, 2004). Um dos exemplos mais notáveis de uso da matemática pode ser visto na pintura A Monalisa, de da Vinci, que usou a matemática e a influência luminosa para dar uma perspectiva aérea na referida pintura. Figura 2. Representação da divisão áurea na figura geométrica de um triângulo. Fonte: Secretaria da Educação de São Paulo ([20--?], documento on-line). Após a época do Renascimento, a história da matemática contou com uma transformação até adentrar a matemática moderna, que utilizou conceitos mais atuais para produzir uma matemática mais aplicada aos problemas diários do homem. Matemática na Idade Média e no Renascimento 9 Nesta seção, vimos os avanços realizados no período do Renascimento. Sobretudo, vimos que muitos dos conceitos matemáticos aqui relatados são oriundos da Era Medieval e foram aprimorados no período do Renascimento. Além disso, explicamos que a história da matemática esbarrou em entraves, como desavenças com a Igreja Católica e a perda de documentos que teriam sido fundamentais para seu avanço. A seguir, veremos quais técnicas da matemática relativas à Idade Média e ao Renascimento são utilizadas até hoje em sala de aula. A matemática no Renascimento: técnicas de uso em sala de aula Após o grande desenvolvimento da matemática na Idade Média, alguns fatos históricos e políticos intimidaram o processo de criação de teorias e conceitos matemáticos. Somente na época do Renascimento, datado do fim do século XIII até meados do século XVII, é que houve uma mudança no pensamento, pautada em ideias humanistas e naturalistas, permitindo que o desenvolvi- mento da matemática tomasse novos rumos e continuasse a mostrar grandes avanços, mas de forma aplicada aos avanços da época (SMOLE; MUNIZ, 2013; EVES, 2004). Durante o período do Renascimento, houve um sensível aumento da produção de trabalhos matemáticos de grande relevância até os dias de hoje, e o desafio, atualmente, é transpor, para o ensino, toda a produção de ideias e de conceitos advindos não só da época do Renascimento, mas também de outras épocas (BOYER; MERZBACH, 1996). Após a queda de Constantinopla, um marco histórico importante, a ma- temática aplicada passou a ser empregada em áreas como artes, mecânica, cartografia, contabilidade, ótica, etc. Alguns exemplos incluem (POSAMENTIER; KRULIK, 2014; EVES, 2004): � a resolução de equações cúbicas e quadráticas, de Lodovico Ferrari e Niccolò Tartaglia; � o uso de medidas, de Nicholas de Cusa; � noções fundamentais na resolução de triângulos, além da aplicação da álgebra à geometria, de Regiomontanus; � as publicações no campo da álgebra, de Lucca Pacioli; � estudos de aritmética, álgebra e geometria, de Leonardo da Vinci; � estudos de aritmética e soluções algébricas, como as cúbicas irredu- tíveis e números complexos, de Cardano; Matemática na Idade Média e no Renascimento10 � soluções da equação quártica, de Luigi Ferrari; � estudos de trigonometria, de Nicolau Copérnico; � o conceito de números imaginários, de Bombelli. As formas de ensino da matemática em sala de aula A matemática como ciência a ser ensinada em sala de aula pode ter duas divisões bem estabelecidas (BOYER; MERZBACH, 1996): 1. o ensino do desenvolvimento do raciocínio matemático; 2. o ensino da história da matemática em uma linha do tempo. Ambos podem ser desenvolvidos nos vários níveis de aprendizado (en- sino fundamental, médio e nível superior); porém, um aprofundamento dos conhecimentos da história da matemática ocorre especificamente em cursos de nível superior, quando se trata das correntes filosóficas da matemática (perspectiva e história), da cultura matemática, dos fundamentos da mate- mática, da forma como a matemática é apresentada, do papel da matemática em todas as etapas da história, etc. (POSAMENTIER; KRULIK, 2014). Especificamente, o ensino da matemática até a época do Renascimento pode englobar as origens primitivas da matemática, os conceitos matemáticos no Egito, na Mesopotâmia e na Jônia, a escola pitagórica, a Idade Heroica, a idade de Platão e Aristóteles, os conceitos matemáticos na época de Euclides de Alexandria e Arquimedes, o ressurgimento e o declínio da matemática grega, a matemática na visão dos chineses, dos hindus e dos árabes, e a matemática na Europa na Idade Média e durante o Renascimento (EVES, 2004). Práticas pedagógicas do ensino da matemática do Renascimento em sala de aula Uma das formas de integrar o aluno com os conceitos da matemática é utilizar a história da matemática em sala de aula, no processo de ensino-aprendizagem, contextualizando o aluno a cada conceito matemático apresentado. Uma das vertentes de uso da história da matemática em sala de aula é usá-la para promover atividades de integração da matemática com as demais discipli- nas, como por exemplo, uma interdisciplinaridade entre as disciplinas de matemática e história (SMOLE; MUNIZ, 2013). Matemática na Idade Média e no Renascimento 11 Uma prática pedagógica que pode exemplificar essa situação é a contex- tualização da matemática ao longo da história (POSAMENTIER; KRULIK, 2014). Como exemplo, toma-se a época do Renascimento, utilizando conceitos ma- temáticos importantes ocorridos nesse período e mostrando sua importância no âmbito da história. Essa é uma prática que visa ao crescimento intelectual e cultural do aluno (SMOLE; MUNIZ, 2013). Estudar a história da matemática proporciona, ao aluno, uma visão mais ampla e contextualizada, mostrando a relevância de cada conceito matemático na evolução dos tempos e quais foram seus impactos na ciência na época de seu surgimento e nos dias atuais. Ao estudar as correntes científicas que influenciaram a época do Renasci- mento, a matemática é um dos temas de destaque (BOYER; MERZBACH, 1996). Para exemplificar uma situação didática em que se utilize uma abordagem histórica, veremos os impactos das ideias de um matemático de renome do Renascimento, Nicolau Copérnico, ao apresentar ao mundo suas ideias sobre trigonometria (BOYER;MERZBACH, 1996). A trigonometria consiste no estudo das relações que existem entre os lados e os ângulos de figuras geométricas como os triângulos. A abrangência de sua aplicação permitiu um avanço na compreensão de conceitos matemáticos: Copérnico promoveu grande evolução da trigonometria ao aplicá-la ao estudo das órbitas celestes (POSAMENTIER; KRULIK, 2014). Nesse exemplo, o papel da história da matemática é fundamental. As ideias sobre a disposição dos astros no céu foi um estudo envolvendo muitos conflitos entre cientistas e religiosos, de forma que história da ma- temática ajuda o aluno a contextualizar melhor o assunto, pois explica as circunstâncias por trás da teoria (BOYER; MERZBACH, 1996). Portanto, o estudo se baseia tanto em informações históricas quanto em informações do ponto de vista da matemática, na construção das ideias de trigonometria de Nicolau Copérnico, que possibilitou comprovar a disposição dos astros celestes e produzir avanços no pensamento da época. A época do Renascimento foi, de fato, enriquecedora na produção de ideais que revolucionaram a história da matemática, sendo Copérnico ape- nas um dos muitos matemáticos que contribuíram para o avanço da ciência matemática (EVES, 2004). A história da matemática como ferramenta didática dá suporte à disseminação das teorias e das ideias da matemática e permite a contextualização dessa rica produção de ideias ao longo da história da humanidade (BOYER; MERZBACH, 1996). Matemática na Idade Média e no Renascimento12 Ao longo da história, os conhecimentos matemáticos foram sendo cada vez mais aprofundados e, por consequência, houve uma evolução dos conceitos da área. Na época da Idade Média, esses conceitos evoluíram muito, permitindo que, durante Renascimento, um aprofundamento deles ocorresse, além da criação de novos conceitos matemáticos. Com base na história da ma- temática durante o período do Renascimento, cite dois conceitos fundamentais que foram criados nessa época. Resolução: no período do Renascimento, também chamado de Humanismo, muitos conceitos matemáticos foram desenvolvidos e aprimorados, muitos deles oriundos da Era Medieval. Ressaltam-se, aqui, dois conceitos de grande notoriedade: a criação da geometria analítica, pelo matemático René Descartes, em meados do século XVII, e a criação dos logaritmos, por John Napier, datada da mesma época. Neste capítulo, fizemos uma descrição da história da matemática com base na época histórica da Idade Média e do Renascimento, apontando os fatos relevantes na matemática e contextualizando-os com a época histórica. Além disso, foram descritas as principais ideias de grandes matemáticos e cientistas que impactaram a história e que até hoje fomentam avanços na área. Por fim, demonstramos como aplicar o conhecimento matemático da época do Renascimento em sala de aula utilizando conceitos-chave do período e contextualizando-os segundo a perspectiva histórica como uma forma de produzir a interdisciplinaridade da matemática com outras disciplinas. Referências ARAGÃO, M. J. História da matemática. Rio de Janeiro: Interciência, 2009. BOYER, C. B.; MERZBACH, U. C. História da matemática. 2. ed. São Paulo: Blucher, 1996. EVES, H. W. Introdução à história da matemática. Campinas: Unicamp, 2004. MEDINA, M. B. Os grandes matemáticos. São Paulo: MBOOKS. 2013. POSAMENTIER, A. S.; KRULIK, S. A arte de motivar os estudantes do ensino médio para a matemática. Porto Alegre: AMGH, 2014. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DE SÃO PAULO. Grandezas e medidas: triângulo áureo. [20--?]. Disponível em: http://www.matematica.seed.pr.gov.br/modules/galeria/uplo ads/4/943triaguloaureo.3.jpg. Acesso em: 15 fev. 2021. SMOLE, K. S.; MUNIZ, C. A. A matemática em sala de aula: reflexões e propostas para os anos iniciais do ensino fundamental. Porto Alegre: Penso, 2013. Matemática na Idade Média e no Renascimento 13 STEWART, I. Os maiores problemas matemáticos de todos os tempos. Rio de Janeiro: Zahar, 2014. UNIVERSIDADE DE LISBOA. Sucessão de Fibonacci. [20--?]). Disponível em: http://www. educ.fc.ul.pt/icm/icm99/icm41/suc-fib.htm. Acesso em: 15 fev. 2021. Leitura recomendada MENDES, M. J. F. Possibilidades de exploração da história da ciência na formação do professor de matemática: mobilizando saberes a partir da obra de Nicolau Copérnico “De Revolutionibus Orbium Coelestium”. 2010. 193 f. Tese (Doutorado em Educação) — Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Matemática na Idade Média e no Renascimento14