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A ARTE DE ASSESSORAR EXECUTIVOS Maria Ester Cambréa Alonso A ARTE DE ASSESSORAR EXECUTIVOS Prefácio de Maria Elizabete Silva D'Elia São Paulo 2002 © Edições Pulsar 1a edição — inverno de 2002 Editores: Jair Baida e Carlos Bauer Revisão: Anita Franquine de Paula e Luiz Santos Abbondanza Capa: Expedito Correia Editoração Eletrônica: Xamã Editora Edições Pulsar um compromisso militante com a cultura Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Índices para catálogo sistemático: 1. Assessoria : Administração executiva 658.402 2. Executivos : Assessoria : Administração de empresas 658.402 Edições Pulsar Rua da Quitanda, 113 - Conjunto 74 CEP.: 01012-010 - Centro - São Paulo-SP Telefone: (011) 3106-7788 - Fax: (011) 3112-2313 e-mail: edpulsar@bol.com.br Impresso no Brasil julho - 2002 Alonso, Maria Ester Cambréa A arte de assessorar executivos / Maria Ester Cambréa Alonso. — São Paulo : Edições Pulsar, 2002. Bibl iograf ia. 1. Assessores 2. Executivos I. Título 02-3734 CDD-658.402 AGRADECIMENTOS A Deus, que tem me ensinado a crer que tudo aquilo que for edificado sobre a rocha firme será recompensado. À minha querida mãe, que com seu amor e dedicação me ensinou a ser uma profissional comprometida. Ao meu querido marido e fiel amigo, que tem me apoiado em minha caminhada. Aos meus amados filhos, Giovanni e Robertta, que me fizeram rever muitos conceitos e valores, ensinando-me a quebrar minha rigidez profissional, para desfrutar de um prazeroso mundo de profundas emoções. Aos meus queridos alunos, que me fizeram aprender muito com eles, inclusive a gostar da vida acadêmica. Aos meus queridos irmãos, que me ensinaram desde cedo a complexidade das diferenças e do saber dividir o espaço com o outro. À minha psicoterapeuta, Valquíria Gold, que com seu apoio, carinho, dedicação e profissionalismo fez-me crescer emocionalmente. À Maria Elisabete Silva D'Elia, estimada colega, que com suas valiosas críticas construtivas me ajudou a rever o conteúdo e a forma de apresentação deste livro. Ao Prof. Dr. Jacob Daglhian, à Profa Mestre Mariantonia Chippari e a Profª Especialista Filomena Júlia R. Purkote, que em muito contribuíram na minha vida acadêmica e, conseqüentemente, na realização de parte de meus sonhos. Ao Prof. Mestre Marcos Antônio G. Cascino, Diretor Educacional da Faculdade Ítalo Brasileira, que confiou a mim o cargo de Coordenadora do Curso de Secretariado Executivo Bilíngüe desta conceituada Instituição. Ao Prof. Mestre Luís Fernando F. de Araújo, que me fez acreditar que seria útil publicar este livro, por sua colaboração, especial, no capítulo sobre comunicação e cuidadosa revisão de todo o texto. À ProP. especialista Renira Appa M. Cirelli, minha irmã na fé, que com sua experiência como secretária e, posteriormente, gerente executiva contribuiu de forma brilhante com sugestões importantes e revisão. À consultora e ProP. Walkíria A. A. Morales da Silva, que colaborou grandemente com a escolha do título deste livro. À ProP. Dra. Ana Cristina Limongi-França minha professora e estimada colega, que com suas brilhantes aulas, no Programa de Doutorado da USP-FEA, na disciplina de Gestão de Qualidade de Vida no Trabalho, contribuiu em muito com o aprofundamento deste tema, que mereceu destaque especial em um dos capítulos deste livro. Agradeço também àqueles que tentaram direta ou indiretamente me prejudicar, pois serviram de fator motivador para que eu alcançasse várias vitórias e, com isso, aprendesse que todas as situações, por piores que sejam, sempre tem um lado positivo e que ninguém precisa prejudicar o outro para se sobressair. Também, aprendi a exercitar um dos maiores dons divinos, que é o perdão. Agradeço, novamente, a Deus por ter colocado todas estas pessoas queridas e valiosas na minha caminhada e, pelas muitas outras que, de uma forma ou de outra, também colaboraram, as quais aqui, infelizmente, não seria possível denominá-las. Obrigada, Senhor, por estar concedendo-me, a cada dia, saúde e sabedoria para desfrutar com elas o valor mais supremo da vida que é: o amor. "Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor nada serei. " 1 Coríntios, 13,2 SUMÁRIO Prefacio Introdução 1 A arte de assessorar Executivos 1.1 A parceria entre Executivos e suas equipes 1.2 Como administrar conflitos profissionais 2 O processo da comunicação 2.1 O poder da comunicação 2.2 A importância do feedback 2.3 Saber ouvir 2.4 Distorções na transmissão oral 2.5 A comunicação empresarial/organizacional 2.6 Barreiras à comunicação 2.7 Funções da comunicação 2.8 Diferenças culturais 3 Um pequeno recorte na área de recursos humanos 3.1 Entrevista em seleção de pessoal 3.1.1 Visão psicológica da entrevista 3.1.2 Tipos de entrevista 3.1.3 Fases da entrevista 3.1.4 Passos a serem seguidos numa situação de entrevista 3.1.5 Processo de seleção (testes) 3.1.6 Fecho da entrevista 3.1.7 Fatores de importância na entrevista 3.1.8 Salário - negociação 3.1.9 Após a entrevista 3.2 Elaboração de currículos 3.2.1 Para quem enviar o currículo 3.2.2 Modelo de carta de apresentação 3.2.3 Modelo de currículo detalhado 3.2.4 Modelo de currículo resumido 3.2.5 Modelo de currículo de profissional em início de carreira 11 13 17 21 23 27 28 30 32 32 33 38 39 40 43 50 50 51 51 52 53 53 54 56 57 57 58 59 60 63 64 3.3 Descrição de cargo 3.3.1 Modelo de descrição de cargo 3.4 Avaliação de desempenho 3.4.1 Objetivos da avaliação de desempenho 3.4.2 A entrevista da avaliação de desempenho 3.4.3 Acompanhamento do desempenho do funcionário 3.4.4 Modelos de formulários para avaliação de desempenho 3.5 Plano de carreira 3.5.1 Modelo simplificado de plano de carreira 3.5.2 Administração de carreiras 4 Qualidade total e qualidade de vida no trabalho 4.1 Qualidade total 4.1.1 Os dez mandamentos da qualidade 4.1.2 Qualidade como um ótimo negócio 4.1.3 As três categorias de clientes 4.1.4 Estratégia é fundamental 4.1.5 Qualidade é participação 4.1.6 O tripé da qualidade 4.1.7 A técnica de fazer chover idéias (brainstorming) 4.1.8 Certificação de sistemas de qualidade 4.2 Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) 4.2.1 Evolução do conceito 4.2.2 Estresse e psicossomática 4.2.3 Metaqualidade e QVT 4.2.4 Caso Shell 5 O novo conceito de inteligência 5.1 Inteligência emocional 5.2 Inteligência emocional no trabalho 5.3 Inteligências múltiplas 6 Administração do tempo 6.1 Principais desperdiçadores de tempo do(a) Assessor(a)/Secretário(a) 6.2 Principais desperdiçadores de tempo do Executivo 6.2.1 Folha para identificação de prioridades 6.3 Economizadores de tempo 6.3.1 Dicas importantes para o(a) Assessor(a)/Secretário(a) organizar melhor o tempo 7 Reuniões 7.1 Planejamento 7.2 Condução 7.3 Controle 7.4 Dicas para evitar os fracassos 7.5 Cuidados que devem ser adotados para evitar problemas 7.6 Check List para reuniões 7.7 Modelo de convocação 7.8 Modelos de atas 65 66 67 68 68 69 69 73 73 74 77 77 78 78 80 80 81 81 82 83 85 85 91 94 97 101 101 102 105 107 108 109 111 113 117 119 119 120 121 125 125 127 128 129 7.8.1 Estilo mais utilizado 7.8.2 Estilo padronizado 8 Técnicas de apresentação em público 8.1 Dicas para uma boa apresentação 8.1.1 Como transferir o conteúdo para o grupo 8.1.2 Postura do comunicador 8.1.3 Como lidar com o grupo 9 Agendas 9.1 Agenda de compromissos 9.2 Agenda de endereços 9.3 Agendas eletrônicas 10 Viagens - Nacionais/Internacionais 10.1 Planejamento 10.2 Check List - maleta do Executivo 10.3 Roteiro de viagem 11 Arquivos e Gerenciamento Eletrônico de Documentos(GED) 11.1 Conceito 11.1.1 Funções 11.1.2 Objetivos 11.1.3 Organização 11.2 Fases do arquivamento 11.2.1 Ativa ou corrente 11.2.2 Intermediária 11.2.3 Inativa ou permanente 11.3 Métodos de arquivamento 11.3.1 Alfabético 11.3.2 Numérico 11.3.3 Alfanumérico 11.3.4 Automático 11.3.5 Mnemônico 11.3.6 Unitermo 11.4 Tipos de pastas para organização dos documentos 11.5 Rotina básica de arquivamento 11.5.1 Documentos recebidos 11.5.2 Documentos expedidos 11.6 Plano de arquivamento 11.7 Prazo de permanência dos documentos 11.7.1 Modelo de Tabela de Temporalidade de Documentos (TTD) 11.8 Noções gerais de preservação da documentação 11.9 Gerenciamento Eletrônico de Documentos (GED) 11.9.1 Gestão documental na era da tecnologia da informação 11.9.2 Conceito 11.9.3 Aplicação 11.10 Microfilmagem 129 131 133 133 134 134 137 139 139 140 140 147 147 150 151 155 156 157 157 158 158 158 158 158 159 159 162 162 163 163 164 164 165 165 166 166 166 167 169 171 171 172 173 174 11.10.1 Vantagens 11.10.2 Desvantagens 11.10.3 Utilização e formas de apresentação 11.10.4 Arquivamento 11.10.5 Agentes de riscos à conservação 11.11 Arquivo técnico 11.12 Catalogoteca 11.13 Arquivamento em Bibliotecas 11.13.1 Tipos 11.13.2 Áreas de serviços 11.13.2.1 Seleção 11.13.2.2 Tombamento 11.13.2.3 Classificação 11.13.2.4 Catalogação 11.13.2.5 Ficha catalográfica 11.13.2.6 Complementação técnica 11.13.2.7 Descritores/Indexadores 11.13.2.8 Periódicos 12 Etiqueta empresarial, protocolo e cerimonial 12.1 Etiqueta 12.2 Protocolo e cerimonial 13 Marketing 13.1 Conceito 13.2 Administração de Marketing 13.3 Marketing do relacionamento 13.4 Marketing pessoal Considerações finais Sites e e-mails importantes Anexos Anexo I Lei de Regulamentação da Profissão Anexo II Código de Ética Profissional Bibliografia Notas sobre a autora 175 175 175 176 176 176 177 177 177 177 177 178 178 178 178 178 179 179 181 182 183 185 185 187 188 189 191 193 195 197 199 202 206 PREFÁCIO MARIA ELIZABETE SILVA D 'ELIA * "As lições nós sabemos de cor. Só nos falta aprender". B eto Guedes, além de nos presentear com a sua poesia, faz um convitepermanente à nossa reflexão e à ação. Fazer a diferença no mundo, agregar valor à nossa profissão, adicionar atitudes extras são os desafios atuais de todos os profissionais que querem fazer parte do time vencedor. O que nos leva de um patamar ao outro? Como construir a ponte entre o saber e o aprender? Hoje, a grande vantagem competitiva dos profissionais e das empresas é a velocidade com que aprendem. Esse "aprender" passa pela atitude de colocar em prática o que está armazenado no lado intelectual, com coragem de adaptar, fazer os ajustes à realidade e o recriar constante, fruto do estado de sintonia com o mercado, a empresa, clientes externos e internos. O profissional empregável e com as credenciais do sucesso precisa corresponder a essa expectativa. Nesse time de linha de frente está o Profissional da Área Secretarial/Assessor. Sua posição estratégica, ao lado do poder decisório, confere-lhe maior responsabilidade, aliada à exigência de ser agente de mudança, otimizando o fazer e o pensar. Há receitas e mapas para esse caminho? Num mundo de mudanças velozes como o de hoje, todas as receitas são perecíveis à data de validade. Só há indicadores disponíveis para cada pro- fissional construir o seu modelo de acordo com a pluralidade de situações e informações da realidade atual e, principalmente, com o timing correto, de- terminado pelo cliente. * Professora e autora do livro Profissionalismo: não dá para não ler. São Paulo: Gente, 1997. 11 PREFÁCIO Criar o seu diferencial é a arte que se torna possível, com o compromisso permanente de aprender, aprender, aprender. Sempre que um livro é colocado a serviço da humanidade, ele responde a uma missão e cumpre a vocação de ampliar a aprendizagem. Na área técnica, essa aprendizagem tem como foco ampliar os caminhos da prática e, prin- cipalmente, desamarrar os nós que ainda existem no percurso de "saber e aprender". Ester, como exemplo de profissional vencedora, propõe-se a contribuir com este desafio. Sua obra une sua experiência prática e acadêmica, a formação técnica e humana, a voz do mercado e a oportunidade de formar o profissional para ocupá-lo. Ampliando as alternativas de "como fazer" com qualidade e "como manejar" com habilidade as ferramentas do cenário empresarial, Ester possibilita cora o seu livro que os profissionais possam atuar como agentes de resultados e como facilitadores de toda engrenagem empresarial. 12 INTRODUÇÃO Este livro tem o objetivo de apresentar técnicas àqueles que pretendem de-senvolver ou desenvolvem atividades administrativas, sejam eles estudantes do Curso de Secretariado Executivo, Assessores Executivos, Assistentes Administrativos ou muitas outras funções semelhantes dentro das diferentes áreas, de qualquer tipo de Organização. Trata-se de um trabalho desenvolvido com base em mais de vinte e cinco anos de experiência na área Secretarial, divididos entre atividades empresariais e acadêmicas. São apresentadas aqui técnicas das práticas da rotina diária destes profissionais. Elas servem como instrumentos operacionais, para um maior aprofundamento teórico e, principalmente, para agilizar o tempo e organizar as tarefas que parecem simples, mas que absorvem muito dos Executivos, caso sejam desenvolvidas de forma desordenada ou inadequada. A linguagem aqui utilizada procurou ser empregada de forma clara e objetiva, para que as pessoas que não tenham nenhum conhecimento anterior da área, inclusive, possam compreender a importância da organização adequada das atividades "assessoriais e secretariais", assim como, desenvolver a cons- cientização da criação de hábitos de trabalho que humanizem, dinamizem, flexibilizem e economizem tempo. Nesse sentido e com esse espírito, é que apresentamos, do primeiro ao quinto capítulos, temas mais relacionados aos aspectos humanistas, tais como: 'A Arte de Assessorar Executivos", a parceria entre executivos e suas equipes e como administrar conflitos profissionais; "O Processo da Comunicação" e sua complexidade, incluindo a comunicação organizacional; "Um PequenoRecorte na Área de Recursos Humanos", compreendendo a entrevista em seleção, elaboração de currículos, descrição de cargo, avaliação de desempenho, plano e administração de carreira; "Qualidade Total e Qualidade de Vida no Trabalho" e, "O Novo Conceito de Inteligência". Todos estes capítulos foram desenvolvidos 13 MARIA ESTER CAMBRÉA ALONSO com base em minha experiência na área secretarial, acadêmica e, especialmente, com base na minha experiência clínica psicoterápica, de anos de atendimentos a Executivos. Os demais capítulos, do sexto ao décimo terceiro, são mais técnicos ('Admi- nistração de Tempo"; "Reuniões"; "Técnicas de Apresentação em Público"; 'Agendas"; "Viagens Nacionais e Internacionais"; 'Arquivos e Gerenciamento Eletrônico de Documentos"; "Etiqueta Empresarial", "Protocolo e Cerimonial"; "Marketing") eles foram mais baseados em minha experiência prática de treze anos e meio de atuação como Secretária e três anos como coordenadora do curso de Secretariado Executivo Bilíngüe. Na minha experiência como secretária pude desenvolver bastante a razão: eu colocava meu trabalho acima de todas as minhas outras atividades e, principalmente, encobria as minhas emoções, ou seja, minha área afetiva era muito mal resolvida. Com o tempo, fui percebendo a importância de conseguir relacionar-me melhor com as pessoas, de entender o porquê de os outros projetarem suas frustrações em mim. Nesta época, eu já havia atingido o auge como secretária, já não tinha mais como ascender profissionalmente, já havia me especializado o bastante,até que percebi que estava faltando algo mais para me realizar, não apenas como profissional, mas como pessoa. Foi quando fui atrás de um sonho antigo, que era fazer Psicologia. Amei o curso e, desde o segundo ano, tive de fazer meu processo psicoterápico, requisito básico para quem pretendia atender em consultório. Fiz terapia utilizando-me desta desculpa, mas logo percebi quantas coisas eu tinha para serem elaboradas, desde a minha infância até a minha idade adulta "cronológica". Foi uma experiência maravilhosa, cresci muito emocionalmente e aprendi a me conhecer e a lidar com as minhas emoções. Terminando o curso, sentia- me segura para enfrentar qualquer desafio. Tanto é que me formei em dezembro de um ano e em fevereiro do ano seguinte já estava ministrando aulas para o curso universitário. Um fato marcante aconteceu, do qual nunca me esquecerei: na minha primeira turma havia um senhor de 70 anos, chamando-me por senhora professora. Após cinco anos como professora universitária, passei a assumir também o cargo de coordenadora universitária, sendo que nesta última função consegui atrelar muitos conhecimentos práticos da minha experiência secretarial, ou seja, consegui atrelar perfeitamente duas áreas aparentemente tão antagônicas: secretariado e psicologia. Mas hoje percebo nitidamente uma grande afinidade entre elas. E para completar este encontro brilhante, Deus me presenteou com o ingresso em uma das mais bem conceituadas instituições, a FEA/USP, para fazer o meu doutorado em uma área fantástica, a Administração de Recursos Humanos. 14 A ARTE DE ASSESSORAR EXECUTIVOS Tenho convicção de que estou fazendo a minha parte, sou comprometida e amo o que faço, mas tenho certeza de que minha fé levou-me a caminhos que nem eu mesma imaginava serem possíveis. Depois que aprendi a acreditar em Deus, de coração, a minha vida tomou uma direção maravilhosa em todos os aspectos, ou seja, tanto pessoal, como profissional. E creio que tudo aquilo que for edificado sobre a rocha firme será recompensado. Um fato marcante que tenho presenciado dentro da área secretarial/ assessorial é o interesse de homens por esta profissão. Eu tive o privilégio, durante sete anos como professora do curso de Secretariado Executivo, de ter cinco homens fazendo o curso, o que vem marcar a época de transição, na década de 90. E, ainda, justificar a afirmação da Organização das Nações Unidas (ONU) feita em 1997, que esta é uma das profissões que mais cresce no mundo. Espero, de verdade, que outros profissionais dêem continuidade a este trabalho, que aqui foi apenas iniciado. E que todos os leitores que tiverem contato com ele possam entender que apenas os profissionais comprometidos e realizados, pessoal e profissionalmente, terão espaço para sobreviver daqui por diante no mercado de trabalho economicamente globalizado. 15 1 A ARTE DE ASSESSORAR EXECUTIVOS Ao longo de vinte e três anos em atividades na área secretarial, passamos pormuitas barreiras e, principalmente, estereótipos referentes à profissão. Acreditamos que a pior delas é a imagem distorcida que, em especial, a mídia veicula nos programas de televisão, revistas, promoções em motéis etc, que depreciam uma profissão tão bela e essencial à sobrevivência de qualquer tipo de Organização. Existe, em nível subliminar, por uma parte da sociedade, que é desprovida de conhecimentos, a necessidade de transmitir a idéia deste profissional como sendo um objeto de luxo dos executivos. Podemos afirmar com veemência que a(o) secretária(o) serviçal já morreu há muitos anos. Entendemos que essa imagem distorcida se deu em função de um de- terminado momento de nossa história, quando as pessoas que ocupavam esta função não tinham formação acadêmica para tal ou, possivelmente, tinham formação em outra área. O primeiro curso superior em Secretariado Executivo, no Brasil, foi criado em 1969 na Universidade Federal da Bahia, em Salvador, mas foi reconhecido somente em 1998, segundo informações extraídas do site da Fenassec (Federação Nacional das Secretárias), e o primeiro curso superior reconhecido no Brasil foi o da Universidade Federal de Pernambuco, criado em 1970 e reconhecido em 1978. Em São Paulo, a Faculdade Anhembi-Morumbi, hoje Universidade, foi a primeira a formar Secretários(as) Executivos(as). A primeira turma colou grau em 20 de março de 1984, embora o curso tenha sido reconhecido somente em 17 de abril de 1994. 17 MARIA ESTER CAMBRÉA ALONSO Segundo Fleury e Fischer (1992): na década de 40 foi criado o Senai, em convênio com a Confederação Nacional das Indústrias, objetivando organizar e administrar as escolas de aprendizagem industrial e fornecer programas de treinamento para a indústria e a construção civil; em 1946 foi criado o Senac, para aprendizagem no setor comercial; já na década de 50, foi feita a reforma do ensino industrial, transformando as antigas Escolas de Aprendizes em Escolas Técnicas Federais. O primeiro curso Técnico em Secretariado, teve início em São Paulo, na Fun- dação "Escola e Comércio Álvares Penteado", em 1943, embora tenha sido aprovado em 27 de março de 1973 e reconhecido apenas em 4 de julho de 1979. Tanto o curso superior, quanto o curso técnico, somente passaram a ser estruturados, mais efetivamente, a partir Lei de Regulamentação da Profissão, de n° 7.377, de 30/9/85 e da Lei n° 9.261, de 11/1/96, que complementa a primeira (ver Anexo I). Quanto mais estudamos, mais percebemos o quanto a história é cíclica em vários aspectos. Aqui podemos citar o exemplo da profissão de secretariado, que se originou, segundo alguns autores, aproximadamente no século IV a.C. com os cultos escribas: homens letrados, com domínio de vários idiomas, taquígrafos, com conhecimentos gerais e máxima competência. Na Idade Média, a função de secretário fica restrita aos monges. Houve épocas que marcaram mais a necessidade destes profissionais, como por exemplo: (1) na Revolução Comercial (1400-1700); (2) na Revolução Industrial na Inglaterra, a partir de 1760 e (3) após as duas grandes Guerras Mundiais (1914 a 1918 e 1939 a 1945), em função da escassez de mão-de-obra masculina é que surge a necessidade das mulheres ocuparem esta função. Pode-se dizer que da década de 30 até o final da década de 80, a profissão passou a ser exercida praticamente só por mulheres. E, a partir da década de 90, começou a haver um crescimento do interesse por parte dos homens, o que é fácil de entender, uma vez que esta profissão foi considerada pela ONU (Organização das Nações Unidas), em 1997, como uma das que mais cresce no mundo. A crescente velocidade do processamento de informações e os avanços da tecnologia, a globalização econômica e o aumento da competição entre as empresas têm contribuído cada vez mais para elevação do nível de exigência na hora de escolher um profissional, para qualquer que seja o cargo dentro das organizações. O Profissional de Secretariado Executivo, mais conhecido atualmente como Assessor Executivo, é peça importante nesse processo, tanto em tarefas administrativas e organizacionais, como na tomada de decisões importantes, pois atua como um líder, que é pago para "pensar" e não mais apenas executar tarefas. Ao longo desses anos, esta profissão vem passando por muitas trans- formações significativas e é sabido que, atualmente, o mercado de trabalho, 18 A ARTE DE ASSESSORAR EXECUTIVOS altamente competitivo, está em busca de profissionais holísticos, isto é, que além dos conhecimentos específicos inerentes à área seja uma pessoa equilibrada emocionalmente, que saiba relacionar-se com sua equipe de trabalho, que seja um líder nato, que saiba se comunicar com clareza e objetividade, que tenha motivação interna, que seja criativo, entre outras atribuições. O mercado de trabalho levou muito tempo para descobrir que é in- finitamente mais fácil treinar seu funcionário para uma determinadafunção do que prepará-lo emocionalmente, no sentido de ter equilíbrio para tomar decisões e exercer uma função de liderança. Para isso, os profissionais precisam ter mais do que uma formação profissional técnica, ou seja, o que pesa mais, atualmente, é ter uma excelente formação humanista. O profissional de Secretariado Executivo/Assessor Executivo pode trabalhar como Gestor, Empreendedor, Consultor, entre muitas outras funções, pois ele gerencia projetos, trabalha em busca do cumprimento das metas, participa do planejamento estratégico e, ainda, facilita a atuação dos dirigentes das organizações, auxiliando-os na busca de soluções para problemas complexos. Com uma ação participativa, atua de modo a aprimorar o processo de gestão de desenvolvimento nas instituições, é responsável por grande parte das intermediações entre elas e desenvolve um trabalho de parceria tanto com a direção da empresa e demais funcionários, clientes internos, como com os clientes externos. Por isso, tem que conhecer bem a filosofia da organização onde trabalha, ter profissionalismo, ter uma visão empreendedora, inovadora, genérica e competitiva. Profissionalismo é uma das palavras chave que segundo D'Elia (1997) significa: Cada vez mais, aqueles que pretendem se destacar no trabalho ou na admi- nistração empresarial precisam aprender a soletrar esta palavra nas suas várias aplicações e significados [...] uma atualização da gramática profissional, sintonizada com o cenário mundial em permanente mutação [...] o profissionalismo tem como eixo central justamente a flexibilidade e agilidade que garantem adequação e resolução positiva dos mais diferentes problemas e situações. Mas não só. Ser Profissional também é: liderar com os pés no presente e os olhos no futuro, entender de gente, encantar clientes, sejam eles internos ou externos, vencer sem precisar derrotar os outros, competir pelo prazer de jogar e não apenas pela certeza da vitória ... Podemos afirmar que só haverá espaço no mercado de trabalho, em qual- quer área de atuação, àqueles profissionais que são comprometidos com aquilo que fazem, que sejam responsáveis o necessário para assumir seus erros e crescer com eles, que tenham iniciativa, sensibilidade e humildade para entender que, quanto mais aprendemos, mais descobrimos que pouco sabemos. 19 MARIA ESTER CAMBRÉA ALONSO Quem pensa que profissionalismo é um diferencial competitivo está enganado. Profissionalismo é um fator de sobrevivência! [...] Todos os dias somos lançados diante do desconhecido e precisamos nos atualizar cotidianamente para poder enfrentá-lo. [...] as pessoas precisam, antes de tudo, estar abertas ao novo, sendo ao mesmo tempo humildes e flexíveis para recriar o seu futuro a cada dia (SHINYASHIKI, 1997). É por isso que as faculdades, hoje em dia, devem estar mais preocupadas em ensinar a seus alunos como pensar, como refletir de maneira ética e com espírito solidário, ou seja, permitir que os alunos vivenciem seus pontos francos, suas frustrações, seu autogerenciamento, seu relacionamento em grupos, as regras pré-estabelecidas etc, dentro do ambiente acadêmico e com isso aprendam a conhecer seus próprios limites e, especialmente, os dos outros. Assim elas estarão formando pessoas humanistas, que é o que o mercado está buscando. Em outras palavras, o mercado está à procura de talentos, no sentido amplo da palavra, de pessoas que sejam positivas, éticas, assertivas, competentes, humildes e com sentimentos bons, que possam ser compartilhados. Segundo Albuquerque (1992), estudos mostram que há dez anos percebia- se que as estruturas organizacionais altamente especializadas não mais estavam atendendo: às demandas de um ambiente em constante mutação, às necessidades dos clientes, aos concorrentes eficientes e agressivos, à rápida evolução tecnológica e às trans- formações sociais, que colocavam as empresas face ao imperativo de flexibilidade, inovação e criatividade, maior produtividade e qualidade nos produtos e serviços, humanização da empresa e aumento da qualidade de vida no trabalho. [...] A busca de melhoramentos contínuos é estratégia baseada na produção que redefiniu o significado da atividade empresarial, saindo de seu tradicional enfoque individualista para o conceito coletivista. A empresa empreendedora procura a vantagem competitiva pelo projeto de produto superior, flexibilidade organizacional e comprometimentos organizacionais na solução de problemas, persistência em detalhar a integração entre o pensamento e o fazer nas atividades do trabalho (grifo do autor). A palavra ética, descrita acima, tem sido bastante citada em todos os meios de comunicação atuais. Entre as várias definições, entendemos que significa um conjunto de princípios que disciplina as ações das pessoas, ou seja, regula seus costumes, sua moral e sua conduta. Cada profissional tem seu Código de Ética e, normalmente, se utiliza dele ou parte dele para fazer seu juramento quando de sua formatura. Mas, infelizmente, na prática este pode ir se diluindo a cada dia: caso o indivíduo não tenha uma ética pessoal, não terá base para ter ética profissional e, com certeza, não terá condições psicológicas de suportar as pressões constantemente impostas pelas organizações. A ética profissional é um 2O A ARTE DE ASSESSORAR EXECUTIVOS quesito curricular oculto na escrita, mas muito presente nas atitudes do dia-a- dia (ver o Código de Ética do Profissional Secretário, Anexo II). Gerentes e suas organizações estão atacando esse problema de várias formas. Eles estão criando e distribuindo códigos de ética para guiarem os empregados através de dilemas éticos. Eles estão oferecendo seminários, workshops e programas de treinamento similares para tentar melhorar os comportamentos éticos. Eles estão fornecendo consultores que podem ser contratados, muitas vezes anonimamente, para darem assistência em assuntos éticos. E estão criando mecanismos de proteção para empregados que denunciem práticas antiéticas internas. O gerente de hoje precisa criar um clima ético saudável para que seus subordinados possam fazer seu trabalho de forma produtiva e sejam confrontados por um grau mínimo de ambigüidade em relação ao que constitui um comportamento certo e um errado (ROBBINS, 1998). Em todas as relações interpessoais, a ética e a educação são princípios que precisam estar presentes para que seja possível, por exemplo, a parceria entre executivos e suas equipes, a administração de conflitos profissionais e o efetivo processo da comunicação. A seguir detalharemos melhor estes itens. 1.1A PARCERIA ENTRE EXECUTIVOS E SUAS EQUIPES Os executivos estão, cada vez mais, procurando estabelecer parceria de sucesso com sua equipe de trabalho. O profissional da área secretarial, ou seja, o(a) Assessor(a) é, portanto, um dos elos principais para que esta engrenagem se ajuste de forma produtiva. Os mais arrojados não estão preocupados se sua equipe permanece 8 ou 14 horas ao dia dentro da empresa e, sim, se ela está cumprindo sua meta de trabalho. Na administração moderna, há muitas organizações adotando o horário móvel de trabalho e com isso percebendo que as equipes se tornam mais comprometidas e motivadas a alcançar os resultados necessários. Shinyashiki diz que a "nova secretária tem que ter a capacidade de multi- plicar o tempo e o talento do seu parceiro". Há muitos executivos que trabalham em casa, como, por exemplo, Ricardo Semler, jovem empresário, na faixa dos 40 anos de idade, muito bem sucedido, que comanda seu grande grupo de empresas de dentro de casa, de posse de seu laptop, faz contato com todas as suas empresas, seus fornecedores e clientes. Segundo o depoimento de uma de minhas ex-alunas, que trabalhava em uma de suas empresas, em 1998: "ele tem uma filosofia de vida e profissional bastante harmoniosa e flexível, considerada de primeiro mundo, e somente os funcionários que se adaptam e entendema sua maneira democrática de liderar é que conseguem 21 MARIA ESTER CAMBRÉA ALONSO receber muitos benefícios. Seus funcionários têm participação nos lucros da empresa, a cada mês, podendo o departamento ou setor escolher como investir essa verba que, na maioria das vezes, usam em treinamentos, reciclagem, inte- gração e, por último, escolhem receber em dinheiro, pois como eles ganham ura "bom" salário, ou seja, um salário que consideram adequado para o cargo que ocupam, preferem usar a verba para o crescimento pessoal e profissional". E, com isso, ele conseguiu fazer o seu diferencial e tornar a Semco uma empresa de sucesso. Segundo reportagem feita por Nely Caixeta, para a Revista Exame, edição 747, de 22 de agosto de 2001, ele é considerado: "o brasileiro mais requisitado entre os pensadores do mundo dos negócios". Com isso, o Assessor Executivo/Secretário deve estar preparado para realizar tarefas, inclusive, virtuais e, muitas vezes, ficar disponível vinte e quatro horas por dia, por meio de um celular. Mas, por outro lado, tendo a liberdade de levar seu filho ao médico ou à escola sem ser descontado em seu salário e, tampouco, ter que enfrentar "cara feia" de sua chefia. Segundo Maerker (1999): "para a secretária, o executivo é seu cliente preferencial e como tal deve ser tratado, senão ele muda de fornecedora". E aqui aproveito a oportunidade para ampliar este conceito dizendo que qualquer profissional, de qualquer área, deveria aprender a tratar seus clientes internos também como clientes preferenciais, pois para que uma equipe possa trabalhar em parceria é fundamental que haja o respeito, a valorização do conhecimento do outro, a empatia e, principalmente, a tolerância. Para que isso seja possível, é preciso que os profissionais tenham equilíbrio emocional e saibam lidar bem com sua vida pessoal e profissional. Cada vez mais, as organizações têm se dado conta de que há necessidade de diminuir os workaholics (pessoas que se dedicam exclusivamente à vida profissional), pois, atualmente, estão percebendo que o indivíduo que tem uma vida particular adequada, com direito a emoções, férias, lazer etc, tem maior chance de ser eficiente e criativo, e acaba produzindo muito mais para a empresa do que aqueles que trabalham exaustivamente. Ainda segundo Maerker, o conceito de chefia está cada vez mais sendo substituído pelo conceito de liderança, em que há delegação de tarefas, troca de idéias, interação e feedback (realimentação da informação) entre o executivo e seus colaboradores, quando as empresas deixam de procurar os profissionais que agem como auto-suficientes, para contratar pessoas que saibam delegar responsabilidades. Assim, torna-se fundamental diferenciar os "agentes de mudança", capazes de entender as pessoas com as quais trabalham, os fatores que influenciam suas reações e aquilo que as motivam a colaborar eficientemente com o trabalho e com a organização como um todo. 22 A ARTE DE ASSESSORAR EXECUTIVOS No caso específico da relação executivo-secretária, por exemplo, o agente de mudanças é aquele que sabe abrir possibilidade para que a assessora consiga se integrar ao trabalho, motivando-a a se envolver verdadeiramente com a atividade dele e da empresa, globalmente. Embora pareça óbvio, muita gente ainda se esquece de que ninguém admira uma pessoa por simples hierarquia ou obrigação! É catastrófico para qualquer profissional moderno ter de ficar dentro da própria casca, fazendo tudo automaticamente, sem pensar, sem conseguir entender o todo do negócio, em um tipo de relação que não funciona mais, nem sequer em linhas de produção. Seria até engraçado, se não fosse trágico, constatar que executivos e presidentes de empresas criam programas de apresentação do negócio para estudantes, mas se esquecem de cogitar algo semelhante para mostrar a atividade da organização a suas próprias secretárias. O agente de mudanças é aquele que tem sempre em mente que cada um dentro da empresa precisa saber a dimensão exata da importância de seu trabalho para o negócio como um todo. É muito importante que o Assessor/Secretário Executivo entenda todo o processo no qual trabalha e participe ativamente dele, pois haverá situações que ele e/ou sua equipe terão de substituir o executivo de nível hierárquico maior e, conseqüentemente, liderar situações e tomar as decisões por ele. É claro que isso exige uma certa dose de experiência, observação, conhecimento, bom senso e, principalmente, a capacidade de administrar conflitos. 1.2 COMO ADMINISTRAR CONFLITOS PROFISSIONAIS Ainda que eu fale a língua dos homens e dos anjos, se não tiver amor, ... nada serei [...] Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor (1 CORÍNTIOS 13; grifo nosso). Cada vez mais aumenta a necessidade de trabalhar em equipe e isso é um fator determinante para o sucesso, tanto pessoal como profissional, só que conforme aumenta o número de inter-relacionamentos, aumentam também as chances de conflitos. As pessoas não conseguem trabalhar com eficiência se há outras pessoas em conflito com elas. Segundo Pickering (1998): "administrar conflitos com sucesso requer o desenvolvimento da competência em cinco áreas". São elas: 1. Entender os ingredientes críticos do pensamento colaborativo. 2. Alinhar as responsabilidades às necessidades dos outros. 3. Trazer para as interações diárias as práticas necessárias para o suporte. 4. Desenvolver técnicas para a solução de conflitos e para negociação a fim de vencer os vários tipos de desafios. 5. Começar a desenvolver ferramentas e sistemas pessoais para lidar com tensões e pressões. 23 MARIA ESTER CAMBRÉA ALONSO A capacidade de desenvolver essas competências depende de quatro fatores de sucesso: • A responsabilidade pessoal pelo conhecimento e pelo desenvolvimento de técnicas. • Flexibilidade de estilo. • Capacidade de ouvir e dar retorno sobre o que foi dito. • Uma atitude positiva com relação às mudanças. Partindo-se do princípio de que cada indivíduo tem seu modo de pensar e agir de acordo com suas experiências passadas na vida, fica fácil imaginar o quanto é complicado/complexo juntar vários, ou simplesmente dois, indivíduos em torno de uma mesma meta/objetivo. Neste momento, o papel do líder, ou de uma pessoa responsável em estabelecer o clima adequado aos funcionários, torna-se fundamental. Paciência, tolerância, autoconhecimento, equilíbrio, confiança, honestidade e delegação de responsabilidades são essenciais para lidar de maneira eficaz com os conflitos inevitáveis dentro da organização. Para que seja possível tomar as melhores decisões durante o conflito, líderes e/ou executivos e seus assessores precisam de um entendimento saudável e positivo dos relacionamentos. Pickering destaca, ainda, cinco fatores para manter relacionamentos positivos durante o conflito: 1) estimular a participação de todos (a responsa- bilidade compartilhada aumenta o comprometimento e o poder e diminui as questões pessoais); 2) ouvir ativamente (o que significa dar importância ao outro e dispor do seu tempo para com ele); 3) repensar questões e posicio- namentos; 4) diferenciar fatos de opiniões (opiniões refletem percepções parciais, não a realidade dos fatos. Separá-los também aumenta a criatividade, sendo mais interessante avaliar as várias opções como forma de minimizar os conflitos); 5) focalizar o problema, e não a pessoa, criando um ambiente seguro, aumentando, conseqüentemente, as possibilidades de os indivíduos abandonarem suas posições defensivas. A melhor alternativa é criar um ambiente de cooperação e com um fluxo de comunicação aberto e flexível, pois grande parte dos conflitos é gerada por falhas de comunicação.Uma das queixas da vida moderna é a má comunicação entre as pessoas. Na correria da vida, o tempo é dinheiro e não se tem mais tempo para cultivar amizade o suficiente, para conhecerbem um ao outro. A regra da comunicação eficaz diz que conhecer a si mesmo e conhecer aos outros é fundamental para a boa comunicação entre duas pessoas. Quantos mal-entendidos têm ocorrido porque não conhecemos bem o que a outra pessoa pensa, sente, deseja e teme, nem suas expectativas em relação a nós. Muitas vezes machucamos ou somos machucados emocionalmente pelos outros, pois nem nós mesmos sabemos sempre o que realmente queremos e não nos conhecemos na profundeza 24 A ARTE DE ASSESSORAR EXECUTIVOS de nosso ser. Prova disso é que não podemos prever qual será a nossa reação automática diante de uma situação inesperada. O que temos escondido no coração é o que não queremos saber, porque doeria demais se viesse à tona. Conhecendo o nosso verdadeiro "eu", podemos entender como as outras pessoas nos vêem, podemos cultivar a comunicação e, conseqüentemente, melhorar a relação com as pessoas nessa era de colapso da comunicação interpessoal. As emoções são responsáveis pelos conflitos e interferem diretamente na qualidade da comunicação entre as pessoas. O ideal seria que as pessoas conseguissem se manter calmas e controladas, o que não é nada fácil, pois nós humanos temos reações inesperadas, que parecem ser quase que involuntárias, quando "pisam em nosso calo", ou seja, quando alguém toca em algo de nossa personalidade que nos incomoda, temos uma espécie de reflexo que nos impulsiona a devolver de forma mais agressiva do que a que sentimos ter recebido. Normal- mente, aquilo que não gostamos nas outras pessoas tem a ver com nossos próprios defeitos, isto é, aquilo que rejeitamos em nós, projetamos nos outros. É muito fácil identificar os defeitos nos outros, mas em nós mesmos não, pois existe um meandro muito intenso de emoções que nos cegam inconscientemente. Um exemplo básico, para tornar mais didática esta afirmação é: se durante o período da formação de nossa personalidade (que segundo alguns autores da psicologia compreende de 0 a 12 anos de idade) tivermos pais ou responsáveis muito críticos, faremos, muitas vezes, pelo resto na vida, todo o possível para nos tornarmos verdadeiros protótipos de perfeição. E isso dificultará qualquer tipo de inter-relacionamento, aumentando assim os conflitos, pois por mais que o outro faça, nunca alcançará nosso nível de exigência, estará sempre aquém, o que sufocará qualquer companheiro, tanto na vida profissional, como também na pessoal. Muitas vezes, um determinado tom de voz ou uma simples expressão facial pode fazer você perder o controle da situação. Isso se explica em função de experiências passadas, mal-elaboradas, armazenadas em nosso inconsciente, que são instantaneamente ativadas e a reação é compulsiva. Cada indivíduo tem um limite diferente para suportar a frustração e a resposta mais comum ao sentimento de frustração é a agressividade. É importante destacar que quando o indivíduo está vivendo situações de tensão ou estresse, seu limiar de tolerância fica muito mais comprometido. O que, por exemplo, passaria despercebido em uma situação normal torna-se intolerável nestes momentos. A ansiedade e a culpa são outros fatores geradores de conflitos. Não é nada simples controlar estes tipos de emoções. Somente é possível se o indivíduo tem certa consciência de si mesmo e, principalmente, se ele confia em algo superior a todos nós. As sábias mensagens da Bíblia Sagrada dizem: "Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e o mais ele fará" (Salmos 37,5). 25 MARIA ESTER CAMBRÉA ALONSO Somente crendo nisso é que conseguiremos entender que Deus nunca nos dará um fardo mais difícil do que aquele que podemos carregar e, como afirmava Freud, "nada na vida acontece ao acaso", isto significa que quando estamos tendo dificuldade com alguma coisa ou pessoa é porque aquela situação nos trará algum aprendizado ou crescimento emocional e espiritual necessários. Seria muito mais sensato se conseguíssemos identificar nossos sentimentos negativos antes de expressá-los, mas isso demanda muito treino, reflexão, policiamento mental e maturidade emocional. Esta última é bastante complicada pois, como muitos sabem, a idade cronológica não tem nada a ver com a idade emocional dos indivíduos. Há muitos casos de pessoas de idade avançada, que se comportam como adolescentes, ou até mesmo como crianças, quando seus desejos são frustrados. Elas passam a emitir comportamentos inadequados, tornam-se agressivas e lutam exaustivamente para encontrar um culpado para os seus próprios erros. Segundo Deepak Chopra, o renomado autor de A Cura Quântica, "se com- preendermos nossa verdadeira natureza e soubermos viver em harmonia com as leis naturais, a sensação de bem estar, de entusiasmo pela vida e de abundância material surgirão facilmente". Este mesmo autor, em seu livro As Sete Leis Espirituais do Sucesso (1994), diz que cada célula de nosso corpo tem apenas uma função: ajudar as outras. Cada célula nutre a outra e é nutrida pelas demais, há um constante movimento de dar e receber; portanto, este é o fluxo da própria vida e a genialidade da inteligência da natureza. Apesar de todo o avanço na tecnologia da comunicação, continua difícil compreender a linguagem humana e expressar sentimentos. Os homens estão muito atrasados no que se refere a saber lidar com seus próprios sentimentos, o que dificulta, conseqüentemente, qualquer outro processo de comunicação.O amor é um dom e uma dádiva que Deus nos deu, é ele que esclarece, dá discer- nimento, paciência e sabedoria na comunicação com o outro. É o amor que nos move em direção ao outro e nos motiva a caminhar juntos. Sabedoria, dentro deste contexto, é conseguir amar ao "próximo" que cruzar os nossos caminhos, mesmo que ele não goste de nós ou seja muito diferente dos padrões que estabelecemos de "certo ou errado". Se o mundo pudesse ser tocado por esta tão pequena palavra (amor), mas de infinita grandeza, com certeza não estaríamos vivendo neste caos social. Abriremos, a seguir, um capítulo, para tratar do tema "O Processo da Comunicação", devido à sua complexidade. 26 2 O PROCESSO DA COMUNICAÇÃO N ão sabemos com exatidão como os primitivos se comunicavam entre si,estudiosos acreditam que por meio de gestos, objetos, mãos, pés e não so- mente pela boca. O homem descobriu os signos, que são a associação de certos gestos/sons a determinados objetos. Fixando estes signos em desenhos, ele descobriu a escrita, que foi evoluindo a partir dos pictogramas (sinais gráficos que representam uma pintura), da linguagem ideográfica (representação das idéias por sinais que repro- duzem objetos concretos) e, depois, a fonográfica (representação gráfica das vi- brações dos corpos sonoros) e, assim, dá-se o nascimento das letras. Após a invenção do papel pelos chineses, houve uma grande evolução na comunicação e, posterior- mente, com a invenção dos aparelhos eletrônicos que se utilizam de ondas, se assegurou o alcance eficaz da comunicação em diversos lugares do mundo. É teórica e praticamente impossível dizer onde começa ou termina o pro- cesso da comunicação. As fases podem se dar em qualquer ordem, ou simulta- neamente, e podem até entrar em conflito umas com as outras. A comunicação é um produto funcional da necessidade humana de expressão em relaciona- mento. Tudo comunica, é impossível não comunicar. Até mesmo o silêncio co- munica, ou seja, nosso corpo fala - nossos olhos, nossos gestos e atitudes muitas vezes "dizem" mais do que nossas palavras. Um exemplo belo da gran- deza da comunicação é que o ser humano se comunica mesmo antes de nascer, dentro do útero de sua mãe. A palavra "processo" pode ser definida como qualquer fenômeno que apresente contínua mudança no tempo, ou qualquer operação ou tratamento contínuo. Para Berlo (1999): "processo é um acontecimento dinâmico, em evo- 2 7 MARIA ESTER CAMBRÉA ALONSO lução, sempre era mudança e contínuo". Enquanto que a palavra"comunicação" é vista como uma transmissão de informações e, para Díaz Bordenave (1992): "ela serve para que as pessoas se relacionem entre si, transformando-se mu- tuamente e à realidade que as rodeia". Vale aqui ressaltar que a informação é o conhecimento, a participação, ou seja, ela é transmitida de acordo com o nosso conhecimento, envolvendo os demais componentes que são inerentes à nossa personalidade e, dependendo da forma como passamos a mensagem, poderemos influenciar na compreensão pelo nosso receptor. É bastante difícil a comunicação entre as diversas culturas, em função dos seus diferentes valores e costumes, por isso é importante nos preocuparmos em conhecer as diferenças culturais para sabermos respeitá-las. 2.1 O PODER DA COMUNICAÇÃO A comunicação tem grande poder, por isso ela pode ser perigosa, como, por exemplo, as classes dominantes manipulam a informação para tirar vantagens próprias. Um recorte típico disso são os políticos, que induzem as camadas mais pobres de nossa população a votarem neles, prometendo-lhes inúmeras mentiras. A televisão é outro meio de manipulação em massa que, na grande maioria das vezes, traz conteúdos distorcidos, sem qualquer valor educativo ou conscientizador, abusando enormemente da inocência das crianças e/ou da ignorância de uma população desprovida de cultura e de capacidade de reflexão crítica, para despejar uma dose exagerada de modelos de consumismo, violência, infidelidade e exemplos declarados de falta de respeito e de dignidade para com o outro. O ideal seria que as pessoas procurassem encontrar meios de usar o poder da comunicação de uma forma mais produtiva e menos egoísta (que visa ape- nas os seus próprios benefícios), para que isso viesse ajudar a diminuir o índice de violência física e emocional que nossa população vem sofrendo, ao ponto de estarmos vivendo, atualmente, um caos social. A sociedade está cada dia mais doente e desequilibrada emocionalmente em função das pressões e dificuldades que agridem nossos valores morais e éticos. Daremos enfoque aqui à comunicação no relacionamento humano e qual a importância desta técnica no relacionamento intra e interpessoal. Para ilustrar de forma agradável e didática, nos basearemos no livro de Fritzen (1992): Janela deJohari. Ele acredita que a técnica da comunicação interpessoal deve ser vivenciada para que de fato possa ser assimilada. Esta janela de comunicação, elaborada pelos psicólogos Joseph Luft e Harry Ingham, enfatiza a forma como as pessoas dão ou recebem informações sobre 28 A ARTE DE ASSESSORAR EXECUTIVOS si mesmas e sobre os outros, explorando particularmente o "dar e receber feedback". Ela nos auxilia a formarmos uma idéia de muitos de nossos comporta- mentos e procura oferecer soluções para enfrentarmos determinadas dificuldades nas relações interpessoais. Observando as quatro áreas ou quadrantes em termos de colunas (verticais) e barras (horizontais), as duas colunas representam o eu e as duas barras representam o grupo. A primeira coluna contém "aquilo que eu sei a meu respeito", a segunda coluna contém "aquilo que desconheço a meu respeito"; a primeira barra contém "aquilo que os outros (o grupo) sabem a meu respeito"; a segunda barra contém "aquilo que os outros (o grupo) desconhecem a meu respeito". Não são estáticas as informações contidas nessas barras e colunas, mas deslocam-se de um quadrante para o outro na medida em que o grau de confiança recíproca e o intercâmbio do feedback variam dentro do grupo. Como resultado deste movimento, o tamanho e o formato dos quadrantes sofrerão modificações no interior da janela (FRITZEN, 1992) Explicaremos a seguir o que significa cada quadrante, de acordo com a definição deste autor. 1) Arena ou área livre (primeiro quadrante) É onde se encontram as experiências e dados conhecidos pela própria pessoa e por aqueles que a rodeiam, caracteriza-se pela troca livre e aberta de informações entre o eu e os outros, ou seja, o comportamento é público e disponível a todos. Esta área aumenta de tamanho à medida que o nível de confiança cresce entre os participantes, ou entre o participante e o seu grupo, e mais informações, principalmente pessoais, são compartilhadas 2) Mancha Cega (quadrante superior direito) Contém informações do nosso "eu" que ignoramos, mas que são do co- nhecimento dos outros. São coisas que nossos amigos sabem de nós, mas que não nos dizem; quando iniciamos nossa participação num grupo, comunica- mos todos os tipos de informações das quais não estamos conscientes, mas que são observadas pelas outras pessoas do grupo. Estas informações são trans- mitidas pela nossa maneira de agir, nosso jeito de falar, nosso estilo de relacionamento etc. 3) Fachada ou área oculta (quadrante inferior esquerdo) Contém informações que sabemos a nosso respeito e que são desconhe- cidas pelo grupo. Aqui se encontra muito daquilo que conhecemos de nós mesmos e que mantemos oculto aos demais. Temos medo de que se o grupo vier a saber dos nossos sentimentos, percepções e opiniões a respeito dele ou de algum dos seus integrantes, ou de nós mesmos, ele poderá rejeitar-nos, atacar- 29 MARIA ESTER CAMBRÉA ALONSO ARENA FACHADA MANCHA CEGA DESCONHECIDO O EU recebe feedback Conhecido pelo "eu" Não conhecido pelo "eu" Co nh ec id o pe lo s ou tr os N ão co n he ci do pe lo s ou tr os O G R U PO dá fee db ac k 2.2 A IMPORTÂNCIA DO FEEDBACK (retorno da informação dada pelo outro) Como foi pontuado acima, já sabemos que, ao iniciarmos nossa participa- ção em um grupo, comunicamos várias informações que desconhecemos, mas que as outras pessoas captam e a única forma de aumentar a nossa conscien- 3O nos ou atingir-nos de alguma forma. Talvez o motivo de escondermos infor- mações seja porque não encontramos apoio no grupo. Temos receio de que se revelarmos nossos sentimentos, pensamentos e reações, os integrantes do gru- po poderão julgar-nos negativamente. E para sabermos a reação do grupo, a única alternativa é corrermos o risco de nos expor. 4) O desconhecido ou área ignorada (quadrante inferior direito) É a área que representa fatores da personalidade dos quais não estamos conscientes e que as pessoas que estão relacionadas conosco também desco- nhecem. É o quadrante de nossas motivações inconscientes. Esta área represen- ta o nosso "desconhecido" ou "inexplorado". O ideal é que haja uma movimentação destes quadrantes no decorrer dos relacionamentos interpessoais que vamos estabelecendo, e é necessário que a arena ou área livre (primeiro quadrante) vá aumentando seu raio de ação de modo que fique reduzido ao mínimo o campo ignorado, tanto dos outros como de nós mesmos. E isto só é possível acontecer à medida que haja uma maior e melhor comunicação interpessoal. A ARTE DE ASSESSORAR EXECUTIVOS tização será obtendo feedback do grupo. Só que sabemos que a maioria das pesso- as tem dificuldades em dar feedback da maneira adequada, ou seja, mesmo que seja uma crítica, esta tem de ser muito bem formulada para que o outro não receba tal comentário como uma agressão. Por outro lado, há também pessoas que não permitem ser questionadas e/ou avaliadas pelos outros. É necessário que cada um de nós saiba desenvolver uma atitude de receptividade, de modo a incentivar membros do grupo a nos dar o feedback. Para isso acontecer, precisamos ter prontidão para aceitá-lo e só assim ele será produtivo, independentemente de ser uma crítica ou um elogio. Exemplos: 1) "Eu não gosto do seu modo de falar": é um feedback inútil, que em nada beneficiará a comunicação. Vejamos uma maneira mais adequada de dizer a mesma coisa: "Você está falando (ou costuma falar) demasiadamente alto e isso é desagradável". 2) "Talvez seja o caso de você deixar este relatório para que o Fulanodê uma olhada, ele é 'cobra no assunto'." Modo mais adequado: "Este seu relatório precisa ser olhado nas partes X, Y, e Z; você pode e deve fazer uma boa revisão, talvez o Fulano pudesse auxiliá-lo". Podemos observar nos dois exemplos citados pelo autor que a última mensagem dispõe de dados concretos a serem explorados pelo receptor, enquanto a primeira mensagem tem o teor de censura, reprovação ou avalia- ção negativa. Evitando-se o uso da linguagem avaliativa, reduz-se a necessidade de a outra pessoa reagir de forma defensiva e dá-se condições a ela de se auto- avaliar e, até, de rever sua atitude. Devemos aprender a ter o cuidado de dar o feedback no momento oportu- no. Saber quando oferecê-lo é tão importante quanto saber como fazê-lo. O critério da oportunidade reside exatamente na capacidade do comunicador em discernir se tanto ele quanto o receptor têm condições, naquele momento, que possibilitem um efeito positivo para ambos. O feedback deve ser mais solicitado do que imposto, ou seja, o comunicador pergunta como foi seu desempenho e isso favorece observações. O feedback negativo pode ter o mais positivo dos efeitos, desde que transmi- tido apropriadamente. E fatal ao relacionamento entre duas pessoas quando a comunicação da informação negativa é dada por terceiros. Pode-se dizer que o feedback é uma forma de oferecer ajuda e deve ser visto como um mecanismo corretivo para o indivíduo que deseja aprender a se conhecer e melhorar suas atitudes, favorecendo, assim, um maior relacionamento interpessoal. 31 MARIA ESTER CAMBRÉA ALONSO 2.3 SABER OUVIR É do filósofo grego Zenão a frase: "A natureza nos deu dois ouvidos, dois olhos e uma língua, para que pudéssemos ouvir e ver mais do que falar". Segundo Fritzen (1992): "Ouvir é algo muito mais complicado do que o processo físico da audição, ou escutar". A audição acontece pelos ouvidos, enquanto o ouvir implica num processo intelectual e emocional que integra dados físicos, emocionais e intelectuais na busca de significados de compreensão. O ouvir eficaz somente ocorre quando o receptor é capaz de discernir e compre- ender o significado da mensagem do emissor, pois só assim é atingido o objetivo da comunicação. Portanto, podemos dizer que ouvir é perceber (adquirir conhecimento ou formar idéia de algo) e entender (compreender, alcançar com a inteligência; ter experiência sobre algo). Para que consigamos ouvir melhor, precisamos: • concentrar nossa atenção no que está sendo dito; • esperar que o emissor termine o assunto, para depois fazer as interrup- ções necessárias; • ser um ouvinte participativo, ou seja, fazer questões esclarecedoras; • não tentar pressupor o que o emissor está falando antes que ele faça as conclusões; • não ser seletivo a ponto de só ouvir o que for de interesse próprio; • respeitar quem está falando, evitando preconceitos e discussões antagônicas; • usar da empatia, buscando compreender o ponto de vista do outro; • usar o bom senso - sempre. Ouvir bem traz uma série de vantagens, como por exemplo: evita mal- entendidos, proporciona um melhor relacionamento interpessoal, favorece o crescimento pessoal e profissional, permitindo, conseqüentemente, que as metas pessoais, assim como as da empresa, sejam alcançadas com mais faci- lidade e eficiência. Lembre-se: ouvir é uma habilidade que pode e deve ser treinada, pois vale a pena investir neste desafio. 2.4 DISTORÇÕES NA TRANSMISSÃO ORAL Segundo Fritzen (1993), é quando transmitimos algo oralmente que perce- bemos quantas distorções são provocadas pelas deficiências auditivas: "pre- conceitos, preocupações, sentimentos integram-se na mensagem recebida e jun- tam-se aos maus hábitos para distorcer o que se ouve". 32 A ARTE DE ASSESSORAR EXECUTIVOS No livro A Técnica da Comunicação Humana, de J. R. Whitaker Penteado, citado por Fritzen, há uma pequena história que ilustra muito bem o quão complexo é comunicar-se: Eclipse do Sol Capitão ao Sargento-ajudante - Sargento! Dando-se amanhã um Eclipse do Sol, determino que a compa- nhia esteja formada, com uniforme de campanha, no campo de exercício, onde darei explicações em torno do raro fenômeno que não acontece todos os dias. Se por acaso chover, nada se poderá ver e neste caso fica a companhia dentro do quartel. Sargento-ajudante ao Sargento de Dia - Sargento, de ordem de meu capitão, amanhã haverá um eclipse do sol, em uniforme de campanha. Toda a companhia terá de estar formada no campo de exercício, onde seu capitão dará as explicações necessárias, o que não acontece todos os dias. Se chover, o fenômeno será mesmo dentro do quartel! Sargento do Dia ao Cabo - Cabo, o nosso capitão fará amanhã um eclipse do sol no campo de exercício. Se chover, o que não acontece todos os dias, nada se poderá ver. Em uniforme da campanha o capitão dará a explicação necessária, dentro do quartel. Cabo aos Soldados - Soldados, amanhã para receber o eclipse que dará a explicação necessária sobre o nosso capitão, o fenômeno será em uniforme de exercício. Isto, se chover dentro do quartel, o que não acontece todos os dias. 2.5 A COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL/ORGANIZACIONAL Como já vimos, a comunicação não é um ato isolado, pois ela está pre- sente em todos os momentos do dia-a-dia. Ela é uma necessidade básica do homem social, permitindo que as pessoas expressem idéias e sentimentos. Ela é composta por: os interlocutores - o emissor e o receptor; a mensagem; o código e o veículo. A palavra comunicação do latim comunicatio, em seu significado mais simples, quer dizer: o ato de entender alguém e de se fazer entendido. Segundo Serra e Bastos (1993): "A comunicação efetiva é aquilo que o receptor entendeu, e não o que o emissor pretendeu dizer". Pode-se dizer que a comunicação é um atributo essencial da atividade humana. Dela depende o entendimento social, familiar e profissional. O êxito da empresa depende, essencialmente, da habilidade dos indivíduos de comunicar-se entre si. 33 MARIA ESTER CAMBRÉA ALONSO É importante termos claro que a comunicação é um processo bastante com- plexo, pois ela é revestida de conteúdos não apenas conscientes, como também inconscientes, tanto por parte do emissor, quanto por parte do receptor. Aque- le que fala ou que escuta sempre fará isso de seu modo particular, de acordo com suas experiências passadas, seus valores, seus sentimentos e cultura. E, tendo em vista que um executivo gasta a maior parte de seu tempo se comunicando, e um assessor executivo é considerado como um importante canal de comunicação, é necessário destacarmos algumas técnicas que facilitam este processo: • transmitir as informações, idéias e instruções de forma clara, obje- tiva e breve; • que o conteúdo a ser transmitido tenha começo, meio efim (introdução, desenvolvimento e conclusão), nunca perdendo de vista o objetivo principal; • fazer um roteiro do que será apresentado, para não ter perigo de desvi- ar-se da meta; • fazer anotações dos pontos importantes; • fazer relatórios, atas dos assuntos tratados, para efeito de registro; • pensar, cuidadosamente, sobre o que será transmitido; • não usar termos rebuscados e sim termos simples, de acordo com o nível de entendimento do(s) receptor(es); • dominar o assunto; • pedir feedback; • saber ouvir etc. Mesmo nos utilizando das técnicas descritas acima, ainda corremos o ris- co de as pessoas interpretarem a mensagem de forma diferente. Portanto, o sucesso da compreensão da mensagem não depende apenas do comunicador, mas também, da disponibilidade (vontade de cooperar), cultura, compreensão, empatia, experiências etc, do receptor. Sendo assim, o comunicador tem de se apoiar no bom senso e na aborda- gem de tentativa e erro até achar o método/técnica mais eficiente para cada situação. Pois numa empresa a comunicação é o meio de executar serviços eficientemente e de fazê-la atingir suasmetas. A globalização, em seu processo acelerado, modifica as noções de tempo e espaço. A velocidade crescente que envolve, principalmente, a comunicação mostra não haver mais espaço para o tradicional: novas formas de relacio- namento e comunicação estão sendo construídas. Entre as várias definições encontradas pode-se definir globalização como sendo o conjunto de transformações na ordem política e econômica mundial que vem ocorrendo nas últimas décadas. O ponto central dessa mudança é a integração dos mercados numa grande "aldeia global". 34 A ARTE DE ASSESSORAR EXECUTIVOS Os constantes avanços da tecnologia da informação levam a um novo tipo de organização: sem níveis hierárquicos, sem integração vertical, com as relações baseadas na flexibilidade, confiança e no trabalho em equipe. Esse modelo de organização traz consigo uma radical mudança no processo de troca de informações nas organizações, afetando todo um sistema de comunicação basea- do anteriormente na transmissão controlada de informações. A organização impõe uma outra forma de lidar com a informação e com a comunicação. A tecnologia traça uma forma de diálogo e a organização deve repensar e/ou reformular seus discursos. Com os atuais modelos organizacionais, voltados para a cooperação, a competência e a possibilidade de estabelecer novas relações de trabalho, baseadas na confiança, desenvolve-se um cenário para a comunicação interna, onde se espera que as empresas se mostrem propensas a incentivar e garantir o livre trânsito de idéias como meio eficaz para se buscar o aprendizado e a inovação permanentes, com mudança de objetivos, missão, valores e processos. A lei da selva mercadológica é taxativa: "ou muda, ou morre". A visão global possibilita a criação de sistemas organizacionais em função das necessidades culturais de cada país, promovendo um maior apoio ao cresci- mento dos negócios. Além disso, proporciona uma melhor comunicação entre os participantes do processo, possibilitando um maior envolvimento e moti- vação. Há necessidade de integração entre a estrutura organizacional, os pro- cessos administrativos, os recursos humanos e a cultura, pois eles compreendem os valores e regras que controlam o comportamento organizacional. É um processo lento em razão das resistências impostas pelos envolvidos e pela necessidade que as pessoas têm de digerir o desconhecido. Para sobreviver na era digital, a empresa deverá entender não só de tecnologia e redes, mas, acima de tudo, da psicologia de seus colaboradores. O envolvimento humano em todos os processos de uma organização é fundamental para que ela alcance o sucesso. Implantar um sistema de informação sem o conhecimento e participação de todos os envolvidos acabará por minimizar a eficácia desses sistemas. A intranet tem sido usada nas organizações não só para agilizar a troca de informações entre os diversos departamentos, mas também para o desenvolvimento humano, visando prepará-los para atingir os objetivos junto com a empresa. No trabalho em equipe, o grupo é responsável pelo sucesso ou fracasso dos projetos e cada membro assume não só a responsabilidade pela sua con- tribuição, mas também por ser compreendido. O processo de comunicação é responsável pelo sucesso da equipe e da empresa. A comunicação, que era vista como um mero instrumento para transmissões de ordens e informações, hoje 35 MARIA ESTER CAMBREA ALONSO visa a aproximar e integrar os públicos aos princípios e objetivos centrais da empresa na construção e veiculação das mensagens, numa crescente relação de troca com o ambiente. O processo de comunicação organizacional deve ser baseado no diálogo e na participação crescente de todos os departamentos envolvidos, inclusive, o operacional. A crença de que os empregados precisavam mais do empregador do que o empregador precisava do empregado está totalmente superada; o trabalho em equipe dá a todos membros do time a responsabilidade de contribuir para o alcance de resultados positivos. Para que o processo de comunicação ocorra de forma satisfatória é im- prescindível que estejamos preparados para atender às constantes trocas de paradigmas que passarão a ocorrer cada vez mais em nossa vida pessoal e profissional. Por exemplo, a flexibilidade, a facilidade e o interesse em estar sempre aprendendo características culturais, usos e costumes, são fatores importantes para o processo da comunicação globalizada. Possuir uma boa capacidade de comunicação, aliada ao interesse constante de estar sempre aberto para receber novas informações, transformando-as em conhecimento produtivo, é umas das exigências do mercado profissional. A comunicação é um novo e importante ingrediente para o sucesso das pessoas e das empresas, o ser humano se torna cada vez mais participativo, questionador e consciente dos seus direitos e deveres. Com a globalização e a revolução digital, que mudaram a realidade mundial e fizeram emergir novas exigências de excelência em produtos e serviços, o público interno adquiriu papel de destaque no sucesso dos negócios. É dele que depende a assimilação de novos conceitos e práticas que vão garantir o desempenho da organização. Para que ela seja competitiva é necessário que se atualize, constantemente, aprimorando processos e modelos de gestão. Neste sentido, a comunicação de duas vias, entre a organização e seu público interno, é fundamental. Informar aos funcionários porque determinadas decisões são tomadas e, ao mesmo tempo, estimular sua participação, ouvindo suas opiniões e contri- buições, faz com que o público interno sinta-se co-responsável pelo sucesso da organização. Assim, a comunicação integra os funcionários, envolvendo-os com os objetivos e metas da organização. Na nova economia, jogar a favor dos funcionários é o melhor meio de obter retornos. Para tanto, a comunicação deve ser uma preocupação de todos e, principalmente, dos executivos. A comunicação organizacional deixa de ser acionada em situações emergenciais, para inserir-se como ferramenta fundamental e ajudar a atingir metas e otimizar relações interpessoais. 36 A ARTE DE ASSESSORAR EXECUTIVOS A arte de comunicar está em identificar os aspectos favoráveis, selecionar o tratamento adequado aos seus diversos públicos e escolher o melhor ou melhores veículos para atingi-los de forma positiva. Para que a comunicação alcance seus objetivos é necessário que ela seja transparente e tenha credibilidade. Solicitar aos funcionários que opinem sobre o que pensam e esperam da empresa para qual trabalham, idéias para soluções de possíveis problemas, faz com que se sintam co-responsáveis pelo sucesso da organização. A comunicação, portanto, exige credibilidade e comprometimento, tendo o poder de criar valores, impulsionando a organização para frente. Para que os colaboradores aceitem e confiem nos veículos e mensagens da comunicação interna, também é necessário que esta esteja de acordo com as suas expectativas e necessidades. A comunicação interna engloba a comunicação admi- nistrativa (memorandos, e-mails, cartas circulares, instruções), a comunicação social (boletins, jornais internos, vídeos institucionais, revistas) e a comunicação interpessoal (funcionários/funcionários, chefia/funcionários). Ela é definida por Curvello (1993) como aquela voltada para o público interno das organizações (diretoria, gerências e funcionários), buscando informar e integrar os diversos segmentos desse público aos objetivos e interesses organizacionais. A realização de pesquisas junto ao público interno ajudará os responsáveis pela comunicação da empresa a adotarem o melhor veículo de informação, a fim de despertar adesões, maior interesse e participação para somar forças com a empresa, visando ao alcance dos objetivos traçados. A motivação só é possível quando as pessoas se identificam com os objetivos e missões da empresa, orgulhando-se em fazerparte dela. O conhe- cimento da motivação e as necessidades humanas são úteis para a definição da melhor estratégia a ser implantada. A liderança desempenha papel fundamental na motivação dos empregados e no alcance dos objetivos da empresa, aprendendo a confiar e ser confiável. Os líderes usam seu tempo para influenciar e dar direção às pessoas, construir relacionamentos e parcerias. Segundo Bergamini (1982), o público interno está à procura não só de bons salários, está em busca de satisfação, da concretização de seus objetivos; não deseja ser apenas mais um "empregado", e sim um participante ativo. É composto não só das pessoas que trabalham na empresa, mas também de seus familiares, pois no momento em que a organização favorece a realização pessoal, demonstrando reconhecimento pelo valor profissional, oferecendo oportu- nidades de promoção, dando responsabilidade a cada um, tornando agradável o próprio trabalho e possibilitando o crescimento do indivíduo, ela pode atingir maiores níveis motivacionais de seus empregados. 37 MARIA ESTER CAMBRÉA ALONSO Tudo isso seria fácil se o processo de comunicação não fosse tão complexo, e se as pessoas conseguissem se dar conta das inúmeras vezes emque cometem fa- lhas de comunicação e fossem humildes o suficiente para "concertar" estas falhas. 2.6 BARREIRAS À COMUNICAÇÃO Há basicamente dois tipos de barreiras. São elas: externas e internas. As externas são as mais fáceis de ser identificadas e derrubadas, como por exem- plo: ruídos, calor, frio, falta de luminosidade etc; as internas são bastante com- plexas, pelo simples fato de não existirem dois indivíduos iguais, ou seja, que tenham a mesma variedade de conceitos. Sendo assim, cada um desenvolve suas próprias barreiras à comunicação: seus preconceitos, seus bloqueios (por falta de conhecimento da cultura ou do idioma, ou, ainda, por falta de vontade), suas "miopias" etc. Segundo Shannon e Weaver (1949): ruído é qualquer fator que distorça a qualidade de um sinal. O ruído é tudo aquilo que afeta a transmissão da mensagem. Os fatores de um ruído são: barreiras ou filtros que se colocam entre o emissor e o receptor dentro do processo de comunicação. A comunicação pode ser bloqueada por três outras barreiras, são elas: • barreiras mecânicas - um problema físico, como a surdez, algo na produção da fala, como gagueira, murmúrio, rouquidão - podem impedir a recepção da mensagem. • barreiras semânticas - diz respeito ao significado das palavras. Palavras inarticuladas ou usadas inadequadamente, interpretações aleatórias, quebra de convenções e outros fatores, tais como o contexto no qual o código (vocabulário ou sistema de sinais) está sendo utilizado, podem provocar bloqueios em relação ao entendimento da mensagem. • barreiras psicológicas - relacionadas à seleção e interpretação das mensagens no processo comunicativo, de acordo com nossas presunções, crenças, valores e ideologia, inseridas no processo emocional que envolve as pessoas no ato comunicativo. A psicologia afirma: "O que nós sabemos sobre os outros está baseado em nossa própria experiência". As falhas de interpretação acontecem porque vemos só o que queremos ver e/ou perceber (só o que nos interessa), criamos um padrão de acordo com as experiências passadas, ou que nos tenham ensinado a criar. E a nossa ten- dência é rejeitar tudo o que não se ajuste ao nosso padrão tradicional ou àquilo que gostaríamos que nosso padrão fosse. Padrões criam expectativas, que são, normalmente, valores nossos e não do outro. 38 A ARTE DE ASSESSORAR EXECUTIVOS A inexatidão de percepção é uma outra barreira significativa à comunicação, pois ela é responsável pelo processo de elaboração de um padrão mental das informações que dispomos; ou ainda, é a identificação e a interpretação dos estímulos externos e internos que recebemos, pelos órgãos dos sentidos (visão, audição, olfato, tato e paladar). Portanto, ela acontece quando não damos a uma situação toda a nossa atenção, quando não estamos dispostos ou não conseguimos distinguir cuidadosamente entre seus diferentes elementos. Por mais racionais que pareçam nossas atitudes, sempre haverá um fundamento emocional (sentimento). Elas ajudam ou dificultam os indivíduos a conviver uns com os outros. Tentamos nos identificar com o grupo por meio delas, pois este estabelece padrões de comportamento para todos os seus membros. Todos os indivíduos são dotados do lado racional (ou pensante) e do lado emocional (ou irracional). E estes dois pólos variam muito de pessoa para pessoa. Por exemplo: quando o que predomina é o lado racional, o indivíduo tende a justificar tudo, encontrando desculpas para todos os seus comporta- mentos, procurando motivos para substituir seu lado emocional, ou seja, seus sentimentos. Já quando é a emoção que controla o indivíduo, este tende a distorcer as informações e reagir a uma mensagem ou instrução de modo diferente da que se quer. Para que nos tornemos comunicadores eficientes, isto é, para que consiga- mos que os outros ajam e façam como nós queremos, precisamos saber: (a) quais são as barreiras internas e externas, e onde elas estão; (b) quais estratégias e táticas nos permitirão derrubá-las. Como podemos perceber, não é nada fácil se comunicar. E o único teste possível para verificar se a mensagem foi bem entendida ou não é se o receptor reagir exatamente do modo como o comunicador pretendia. Lembre-se: é impossível não se comunicar, pois até o silêncio comunica algo. 2.7 FUNÇÕES DA COMUNICAÇÃO Segundo DíazBordenave(1992): 'A comunicação é um produto funcional da necessidade humana de expressão e relacionamento". Portanto, ela satisfaz uma série de funções. São elas: 1) função instrumental - satisfaz as necessidades materiais ou espirituais da pessoa; 2) função informativa - apresenta nova informação; 3) função regulatória - controla o comportamento de outros; 4) função interacional - com outras pessoas; 5) função de expressão pessoal - identifica e expressa o "eu"; 6) função heurística ou explicativa - explora o 39 MARIA ESTER CAMBRÉA ALONSO mundo dentro e fora da pessoa; 7) função imaginativa - cria um mundo próprio de fantasia e beleza. Ele afirma, também, que outra função da comunicação é indicar a qualidade de nossa participação no ato de comunicar: que papéis tomamos e impomos aos outros; que desejos, sentimentos, atitudes, juízos e expectativas trazemos ao ato de comunicar; e que a comunicação deve ter tudo isto ao mesmo tempo. As qualidades únicas da comunicação humana destacam-se em relação à animal, pois esta última carece do potencial de beleza e de paixão que o homem coloca em suas mensagens. 2.8 DIFERENÇAS CULTURAIS "Um dever tão humano"1 Certa ocasião, uma família inglesa foi passar as férias na Alemanha. No decurso de seus habituais passeios, repararam numa pequena casa de campo que lhes pareceu muito adequada para as férias. Indagando sobre o proprietário, souberam tratar-se de um pastor protes- tante, a quem pediram licença para percorrer a casa. Esta os agradou muito. Não só pela sua situação, como também pela comunidade. E fizeram ura acor- do com o proprietário para a alugarem. Regressando à Inglaterra, discutiram sobre as acomodações da casa, quando Maud, a esposa, lembrou-se de não ter localizado o W.C. Maud endereçou ao proprietário a seguinte carta: Gentil Pastor. Como membro da família que há poucos dias o visitou a fim de alugar uma propriedade na Alemanha, para utilizá-la no verão, gostaria que nos infor- masse sobre um detalhe que reputamos fundamental. Muito agradeceríamos se nos informasse o local onde se encontra o W.C. Maud O pastor não conhecia o significado da abreviatura W.C. e, julgando tratar-se de uma capela inglesa, denominada "White Chapei", respondeu nos seguintes termos: Prezada Senhora Maud. Recebi sua carta e tenho o prazer de informar que
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