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INSPEÇÃO E TECNOLOGIAINSPEÇÃO E TECNOLOGIA Universidade Federal de Juiz de ForaUniversidade Federal de Juiz de Fora Juiz de Fora, MGJuiz de Fora, MG 20252025 Emília Maricato Pedro dos Santos Rafaela Assis Machado INSPEÇÃO E TECNOLOGIAINSPEÇÃO E TECNOLOGIA de carne e produtos derivados 1 I59 CDU: 637.5 Inspeção e Tecnologia de Carne e Produtos Derivados 1 / [editores] Emília Maricato Pedro dos Santos, Rafaela Assis Machado. - [7. ed.] - Juiz de Fora: Edição Independente, 2025. 279p. : il. 29cm Inclui Bibliografia e índice. 1.Inspeção e tecnologia de produtos de origem animal. 2. Higiene de alimentos. 3. Carne e derivados. I. Título. “O ser humano é aquilo que a educação faz dele.” — Immanuel Kant Brasão Vigiagro Organograma de funcionamento do serviço de inspeção oficial Logo SUASA Logo SISBI-POA Projeção do consumo per capita de carne bovina no Brasil Linha do tempo: legislações relacionadas à inspeção industrial e sanitária de carnes no Brasil Figura 1.1 Figura 1.2 Figura 1.3 Figura 1.4 Figura 1.5 Figura 1.6 Transporte a pé de animais de abate Transporte aéreo de animais Embarque de animais em navio Vagão para transporte ferroviário de animais Transporte rodoviário de animais de abate Estádios da reação de estresse Embarque adequado de animais em caminhão de transporte Figura 2.1 Figura 2.2 Figura 2.3 Figura 2.4 Figura 2.5 Figura 2.6 Figura 2.7 Fluxograma de inspeção ante mortem de bovinos e suínos Guia de Trânsito Animal (GTA) Currais de matança, chegada e seleção (ao fundo) e rampa de acesso à matança Organograma de realização da inspeção ante mortem Exemplo de planta baixa (fabril) de um abatedouro frigorífico de bovinos Exemplo de planta baixa (fabril) de um abatedouro frigorífico de suínos Linha A1: exame da glândula mamária Figura 3.1 Figura 3.2 Figura 3.3 Figura 3.4 Figura 3.5 Figura 3.6 Figura 3.7 Linha A: exame dos pés Linha A: exame dos lábios Linha B: exame do conjunto cabeça-língua Linfonodos da cabeça de bovinos Linha C: cronologia dentária Cronologia dentária de bovinos Linha D: exame do canal alimentar, baço, pâncreas, bexiga urinária e útero Linha E: exame do fígado Linha F: exame dos pulmões Linha F: exame do coração Linha G: exame dos rins Linha H: exame da meia-carcaça caudal e linfonodos Linha I: exame da carcaça cranial e linfonodos Linha J: Carimbagem das meias-carcaças Material Especificado de Risco conforme a espécie e idade animal Porção distal do íleo Tonsilas palatinas Tonsilas linguais Medula espinhal bovina Globo ocular bovino Encéfalo bovino Currais de chegada e seleção Curral de observação Lavagem dos animais antes do abate na rampa de acesso à matança Seringa Box de atordoamento Local correto para o posicionamento da pistola pneumática para insensibilização de bovinos Área de vômito Sangria Serragem dos chifres Esfola Órgãos na mesa de evisceração Colaborador (ao fundo) serrando a carcaça Lavagem das meias-carcaças Fluxograma de abate de bovinos Linha A1: exame da cabeça Linha A1: exame dos linfonodos da papada Linha A: exame do útero Figura 3.8 Figura 3.9 Figura 3.10 Figura 3.11 Figura 3.12 Figura 3.13 Figura 3.14 Figura 3.15 Figura 3.16 Figura 3.17 Figura 3.18 Figura 3.19 Figura 3.20 Figura 3.21 Figura 3.22 Figura 3.23 Figura 3.24 Figura 3.25 Figura 3.26 Figura 3.27 Figura 3.28 Figura 3.29 Figura 3.30 Figura 3.31 Figura 3.32 Figura 3.33 Figura 3.34 Figura 3.35 Figura 3.36 Figura 3.37 Figura 3.38 Figura 3.39 Figura 3.40 Figura 3.41 Figura 3.42 Figura 3.43 Figura 3.44 Figura 3.45 Linha B: exame do canal alimentar, baço, pâncreas e bexiga urinária Linha C: exame do coração Linha C: exame da língua Linha D: exame do fígado Linha D: exame dos pulmões Linha E: exame da carcaça Linha F: exame dos rins Linha G: exame do cérebro Baias de matança Suíno imobilizado no restainer Insensibilização de suíno por eletronarcose Insensibilização de suíno por eletrocussão Insensibilização de suíno com pistola de dardo cativo Sangria Local correto para inserção da faca de sangria em suíno Escaldagem Depilação Toalete de depilação Abertura das cavidades abdominal e torácica Evisceração Fluxograma de abate de suínos Figura 3.46 Figura 3.47 Figura 3.48 Figura 3.49 Figura 3.50 Figura 3.51 Figura 3.52 Figura 3.53 Figura 3.54 Figura 3.55 Figura 3.56 Figura 3.57 Figura 3.58 Figura 3.59 Figura 3.60 Figura 3.61 Figura 3.62 Figura 3.63 Figura 3.64 Figura 3.65 Figura 3.66 Abscesso em carcaça suína (esquerda) e bovina (direita) Abscesso hepático Actinomicose mandibular Aumento de volume da mandíbula em bovino acometido por actinomicose Língua de pau causada por Actinobacillus lignieresii (língua bovina). Adipoxantose em carcaça bovina Carcaça oriunda de bovino com icterícia Broncopneumonia purulenta em bovino Broncopneumonia em suíno Lesão sugestiva de brucelose bovina localizada no ligamento nucal de bovino Carcaça caquética Hemorragia generalizada em carcaça proveniente de animal com carbúnculo hemático Figura 4.1 Figura 4.2 Figura 4.3 Figura 4.4 Figura 4.5 Figura 4.6 Figura 4.7 Figura 4.8 Figura 4.9 Figura 4.10 Figura 4.11 Figura 4.12 Cistos viáveis de Cysticercus bovis no masseter (A) e no coração (B) bovinos Cisto calcificado de Cysticercus bovis no músculo masseter de bovino Contaminação de carcaça bovina por conteúdo oriundo do canal alimentar Contusão generalizada em carcaça bovina Edema pulmonar em bovino Endocardite em suíno Miocardite por cisticercose em bovino Pericardite fibrinopurulenta em bovino Esteatose hepática em bovino Lesão característica de febre aftosa, com presença de vesículas em língua bovina Lesão interdigital em bovino Glossite em bovino Cistos hidáticos no fígado bovino Cisto hidático no coração bovino Membrana laminada do cisto hidático no baço bovino Tuberculose em pulmão bovino Tuberculose em meia-carcaça bovina Aspiração agônica de sangue em suíno (pulmão com manchas de sangue) Aspiração de conteúdo ruminal em bovino Cálculo renal em ovino Cicatriz ruminal em bovino Cisto renal em bovino Dictiocaulose em bovino Escaldagem excessiva em carcaça suína Enfisema pulmonar em bovino Esofagostomose em bovino Fasciolose hepática em bovino Fasciolose pulmonar em bovino Linfossarcoma em bovino Melanose em pulmão bovino Sangria malfeita observada em meia-carcaça bovina Telangectasia em fígado bovino Figura 4.13 Figura 4.14 Figura 4.15 Figura 4.16 Figura 4.17 Figura 4.18 Figura 4.19 Figura 4.20 Figura 4.21 Figura 4.22 Figura 4.23 Figura 4.24 Figura 4.25 Figura 4.26 Figura 4.27 Figura 4.28 Figura 4.29 Figura 4.30 Figura 4.31 Figura 4.32 Figura 4.33 Figura 4.34 Figura 4.35 Figura 4.36 Figura 4.37 Figura 4.38 Figura 4.39 Figura 4.40 Figura 4.41 Figura 4.42 Figura 4.43 Figura 4.44 Aspectos sensoriais da carne resfriadaFigura 5.1 Composição da lata metálica estanhada utilizada na apertização Diferença visual entre as carnes conservadas pela salga Tipos diferentes de salaminho Presença de miíase em carne bovina Ranço oxidativo em carne bovina Putrefação em corte cárneo bovino Figura 5.2 Figura 5.3 Figura 5.4 Figura 5.5 Figura 5.6 Figura 5.7 Feto em gestação adiantada Bezerro recém-nascido Animal magro Animal caquético Carne com coloração avermelhada em virtude de sangria ineficiente Carne salgada com coloração vermelho escura em alguns pontos, característica da alteração “vermelhão” Carcaça com adipoxantose Carcaça ictérica Carcaça com melanose Figura 6.1 Figura 6.2 Figura 6.3 Figura 6.4 Figura 6.5 Figura 6.6 Figura 6.7 Figura 6.8 Figura 6.9 Diagrama correlacionando segurança alimentar, qualidade de alimentos e segurança de alimentos Distribuição dos surtos de DTHA no Brasil por critério de confirmação (2014-2023*) Microrganismos responsáveis por surtos alimentares no Brasil (2007- 2016) Distribuição dos agentes etiológicos mais identificados nos surtos de DTHA no Brasil (2014-2023*) Distribuição dos surtos de DTHA no Brasil por local de ocorrência (2014- 2023*) Distribuição dos alimentos incriminados em surtos de DTHA no Brasil (2014-2023*) Tríade de Leavell-Clark Figura 7.1 Figura 7.2 Figura 7.3Pecuária e Abastecimento. SISBI-POA. 2017. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/suasa/sisbi-1. Acesso em: 15 abr. 2022. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa n. 28, de 23 de julho de 2019. Definir, conforme estabelecido no Manual de Construção e Aplicação do Selo ARTE, disponibilizado no endereço eletrônico www.agricultura.gov.br, o modelo de logotipo a ser utilizado na rotulagem dos produtos dos estabelecimentos registrados como artesanais nas Secretarias de Agricultura e Pecuária dos Estados e do Distrito Federal. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 24 jul. 2019. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/instrucao-normativa-n-28-de-23-de-julho-de-2019-203422087. Acesso em: 10 abr. 2022. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa n. 67, de 10 de dezembro de 2019. Estabelecer os requisitos para que os Estados e o Distrito Federal realizem a concessão do Selo Arte, aos produtos alimentícios de origem animal produzidos de forma artesanal, na forma desta Instrução Normativa. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF 11 dez. 2019. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/instrucao-normativa-n-67-de-10-de-dezembro-de-2019-232668924. Acesso em: 10 abr. 2022. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Brasão Vigiagro. 2020. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/vigilancia-agropecuaria/imagens/Brasao-Vigiagro.png/view. Acesso em: 15 abr. 2022. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa n 61, de 16 de novembro de 2020. Estabelecer, em todo o território nacional, o Regulamento para enquadramento dos produtos cárneos e artesanais, necessário à concessão do selo ARTE, na forma desta Instrução Normativa. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 18 nov. 2020. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/instrucao-normativa-no-61-de-16-de-novembro-de-2020.-288997564. Acesso em: 10 abr. 2022. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Portaria n. 176, de 16 de junho de 2021. Estabelece o Regulamento para enquadramento do pescado e do produto alimentício derivado do pescado em artesanais necessário à concessão do selo ARTE. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 24 jun. 2021. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-176-de-16-de-junho-de-2021-327670560. Acesso em: 10 abr. 2022. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Portaria n. 289, de 13 de setembro de 2021. Estabelece regulamento para enquadramento dos produtos de abelhas e seus derivados em Artesanal para concessão do selo ARTE. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 14 set. 2021. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/producao-animal/selo-arte/legislacao/portaria-no- 289-de-13-de-setembro-de-2021.pdf/view. Acesso em: 20 abr. 2022. MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 57 BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. SUASA. 2022. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/suasa/. Acesso em: 15 abr. 2022. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa SDA n. 138, de 08 de fevereiro de 2022. Estabelece critérios para mensuração do Risco Estimado Associado ao Estabelecimento, para determinar a frequência mínima de fiscalização em estabelecimentos, no âmbito da inspeção e fiscalização agropecuária. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 10 fev. 2022. Disponível em: https://www.in.gov.br/web/dou/-/instrucao-normativa-sda-n-138-de-8-de-fevereiro-de-2022-379468308. Aceso em: 20 abr. 2022. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Decreto n. 11.099, de 21 de junho de 2022. Regulamenta o art. 10-A da Lei nº 1.283, de 18 de dezembro de 1950, e a Lei nº 13.860, de 18 de julho de 2019, para dispor sobre a elaboração e a comercialização de produtos alimentícios de origem animal produzidos de forma artesanal. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 21 jun. 2022. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/producao-animal/selo-arte/legislacao/decreto-no-11-099-de-21-de- junho-de-2022-decreto-no-11-099-de-21-de-junho-de-2022-dou-imprensa-nacional.pdf/view. Acesso em: 11 set. 2022. BRASIL. Ministério da Agricultura e Pecuária. Portaria n. 672, de 08 de abril de 2024. Estabelece os procedimentos de cadastro no Sistema de Gestão de Serviços de Inspeção (e-Sisbi), as diretrizes e as regras de transição para a integração de Serviços de Inspeção ao Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Sisbi-Poa). Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 09 abr. 2024. Disponível em: https://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-mapa-n-672-de-8-de-abril-de-2024-552780312. Acesso em: 19 nov. 2024. BRASIL. Presidência da República. Lei n. 13.680, de 14 de junho de 2018. Altera a Lei nº 1.283, de 18 de dezembro de 1950, para dispor sobre o processo de fiscalização de produtos alimentícios de origem animal produzidos de forma artesanal. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 15 jun. 2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13680.htm. Acesso em: 10 abr. 2022. BRASIL. Presidência da República. Decreto n. 9.918, 18 de julho de 2019. Regulamenta o art. 10-A da Lei nº 1.283, de 18 de dezembro de 1950, que dispõe sobre o processo de fiscalização de produtos alimentícios de origem animal produzidos de forma artesanal. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 19 jul. 2019. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/d9918.htm. Acesso em: 10 abr. 2022. BRASIL. Presidência da República. Decreto n. 9.013, de 29 de março de 2017. Regulamenta a Lei nº 1.283, de 18 de dezembro de 1950, e a Lei nº 7.889, de 23 de novembro de 1989, que dispõem sobre a inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 30 de mar. 2017. Disponível em: https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/20134722/do1-2017-03-30-decreto-n- 9-013-de-29-de-marco-de-2017-20134698. Acesso em: 10 abr. 2022. BRASIL. Presidência da República. Decreto n. 9.069, de 31 de maio de 2017. Altera o Decreto nº 9.013, de 29 de março de 2017, que regulamenta a Lei nº 1.283, de 18 de dezembro de 1950, e a Lei nº 7.889, de 23 de novembro de 1989, que dispõem sobre a inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 01 jun. 2017. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2017/decreto/D9069.htm#:~:text=DECRETO%20N%C2%BA%209.069%2C%20DE%2031,de%20produtos%20 de%20origem%20animal.. Acesso em: 10 abr. 2022. BRASIL. Presidência da República. Decreto n. 10.468, de 18 de agosto de 2020. Altera o Decreto nº 9.013, de 29 de março de 2017, que regulamenta a Lei nº 1.283, de 18 de dezembro de 1950, e a Lei nº 7.889, de 23 de novembro de 1989, que dispõem sobre o regulamento da inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 19 ago. 2020. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/decreto-n-10.468-de-18-de-agosto-de-2020-272981604. Acesso em: 10 abr. 2022. CECOM SP. Instituto da Pesca. Selo arte para pescado pode contribuir para manter o Brasil entre os melhores países com segurança alimentar. 2022. Disponível em: https://www.pesca.agricultura.sp.gov.br/instituto/centro-de-comunicacao/sala-de-imprensa/1489-selo-arte-para- pescado-pode-contribuir-para-manter-o-brasil-entre-os-melhores-paises-com-seguranca-alimentar. Acesso em: 10 abr. 2022. SILVA, J. G.; CARVALHO,L. V.; NUNES, L. V. A corrupção e seus efeitos no mercado de alimentos: o caso da Operação “Carne Fraca”. Economic Analysis of Law Review, v. 12, n. 2, p. 3-23, 2021. Disponível em: https://www.proquest.com/openview/d117e908c94af0ff2b0b27e0f125d729/1?pq- origsite=gscholar&cbl=1226335. Acesso em: 14 abr. 2022. UFMG - UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. Cenários para pecuária de corte amazônica. 2021. Disponível em: https://csr.ufmg.br/pecuaria/portfolio-item/mercado/. Acesso em: 10 abr. 2022. MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 58 BibliografiaBibliografia Várias dessas bibliografias estão presentes nas bibliotecas da UFJF em livros físicos e em e-books. Aproveite! CADERNOS técnicos de veterinária e zootecnia, n. 77 (cadernos técnicos da escola de veterinária da UFMG). Inspeção de produtos de origem animal. Belo Horizonte: FEPMVZ, 2015. 147p. MANEJO E TRANSPORTE DEMANEJO E TRANSPORTE DE ANIMAIS PARA ABATEANIMAIS PARA ABATE O manejo pré-abate consiste no conjunto de operações desde o embarque até a contenção dos animais de açougue para a execução da insensibilização. As condutas durante esse processo são determinantes para a qualidade da carne e, de forma consequente, para os produtos gerados por ela. Dessa forma, é de suma importância garantir o bem-estar dos animais até o momento em que eles serão abatidos. São considerados animais para abate/de açougue aqueles criados para a produção de alimentos e de produtos de consumo humano, seja indireto ou direto. Dentre eles pode- se citar os bovinos, suínos, aves, pequenos, ruminantes, bubalinos, equinos e, até mesmo, espécies exóticas. MÓDULO 02 | TRANSPORTE E CUIDADOS MÓDULO 02 | TRANSPORTE E CUIDADOS ANTE MORTEMANTE MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE Apesar de ser permitido o abate de várias espécies em uma mesma planta industrial, este não pode acontecer simultaneamente, a fim de se evitar transmissão de doenças, contaminação cruzada, mistura ou troca acidental de carnes de espécies diferentes, e variação na temperatura de armazenamento das carnes provenientes de cada espécie. Além disso, a planta industrial deve ser projetada adequadamente e de acordo com as normas vigentes para os tipos de abate que nela serão realizados. 60 IntroduçãoIntrodução O transporte dos animais de abate pode ficar tanto a cargo do produtor, quanto da indústria, sendo uma prática muito comum a terceirização desse serviço. De certa forma, a terceirização de tal atividade pode comprometer significativamente o bem-estar desses animais, muito em virtude da empresa responsável pela realização desse transporte, muitas vezes, negligenciar a forma correta com a qual ele será realizado. Nota-se que, a superlotação dos caminhões, veículos sem manutenção adequada, falta de requisitos básicos para a segurança dos animais são pontos críticos e que influenciam diretamente na ocorrência de estresse de transporte, e ainda que podem corroborar com o aparecimento de doenças ou até mesmo com a morte dos animais. Atualmente, considerando o ciclo produtivo bovino longo, não é uma vantagem para o produtor assumir a responsabilidade do transporte. Em contrapartida, para a indústria já é uma alternativa interessante, considerando que essa terá um melhor e maior controle das condições em que esse transporte ocorre, obtendo um produto de maior qualidade. Objetiva-se que o transporte seja minimamente estressante para os animais, garantindo assim o bem- estar e a qualidade da carne que será gerada a partir do abate dos animais. MÓDULO 02 | TRANSPORTE E CUIDADOS MÓDULO 02 | TRANSPORTE E CUIDADOS ANTE MORTEMANTE MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 61 Dentre os transportes de animais de abate legalizados no Brasil pode-se citar o transporte a pé, rodoviário, aéreo, ferroviário e náutico. A escolha por um meio de locomoção deve levar em consideração a distância, as condições de terreno, a viabilidade e o aspecto econômico. Tipos de transporteTipos de transporte O transporte a pé (Figura 2.1) foi extremamente importante para a implantação da indústria de carnes no Brasil. Ele pode ser aplicado para bovinos, equinos e pequenos ruminantes, desde que seja respeitado o deslocamento máximo de 30 a 35 km/dia com o adequado fornecimento de água e alimento para os animais durante o percurso. Figura 2.1. Transporte a pé de animais de abate MÓDULO 02 | TRANSPORTE E CUIDADOS MÓDULO 02 | TRANSPORTE E CUIDADOS ANTE MORTEMANTE MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 62 O transporte aéreo (Figura 2.2) é o que apresenta maior qualidade, porém, o seu custo ainda é muito elevado e, por isso, torna-se inviável na maioria dos casos. Seu emprego está associado mais comumente ao deslocamento de matrizes e reprodutores de alto valor zootécnico. Fonte: Sindicato rural de Bela Vista (2021). Normalmente, esse tipo de transporte acontece quando a indústria está localizada dentro da própria fazenda ou por associação com algum outro meio de transporte, em casos de impossibilidade de se chegar, por outros meios, até onde os animais estão localizados. Figura 2.2. Transporte aéreo de animais Fonte: Estado de Minas 2016). O transporte náutico (Figura 2.3) é muito empregado quando a malha rodoviária é deficiente ou não atende a uma situação específica. Seu emprego é comum no norte do país para o transporte de bubalinos (Ilha de Marajós – PA) e também é utilizado para a exportação. Figura 2.3. Embarque de animais em navio Fonte: Assessoria Agropecuária (2019). MÓDULO 02 | TRANSPORTE E CUIDADOS MÓDULO 02 | TRANSPORTE E CUIDADOS ANTE MORTEMANTE MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE O Programa Pé na Estrada traz uma reportagem sobre como funciona o transporte de suínos para abate, passando pelas condições de trabalho, manuseio da criação e modal específico para o tipo de carga. O objetivo é garantir a qualidade do produto que chega à mesa do consumidor. Assista ao vídeo! O transporte ferroviário (Figura 2.4) é empregado no Brasil, principalmente, para o transporte de minérios. Quando utilizado para o transporte de animais, os animais devem ser separados em vagões diferentes de acordo com a espécie e fixa etária, preconizando ainda as questões sanitárias e o domínio territorial. Figura 2.4. Vagão para transporte ferroviário de animais 63 O transporte rodoviário (Figura 2.5) tem como vantagens realizar a carga dos animais diretamente nas propriedades rurais e a descarga diretamente no abatedouro frigorífico, menor tempo de transporte, itinerário e horário menos rígidos. Por outro lado, são gargalos desse tipo de transporte as estradas depreciadas, caminhões sem Fonte: Minas`s Trains (2012). Figura 2.5. Transporte rodoviário de animais de abate Fonte: A carne que o mundo prefere (2019). manutenção e motoristas sem a devida instrução para realizar transporte de carga viva. Atualmente, é o principal meio de transporte empregado no Brasil, apresentando a melhor relação custo-benefício. As ocorrências mais comuns durante o transporte são perda de peso e de carne, estresse de transporte e a enfermidade do transporte. A perda de peso dos animais durante o transporte pode ser oriunda da perda de líquidos, gordura e até mesmo musculatura, entretanto, é considerada fisiológica, correlacionando-se com a desidratação em função do estado do animal, duração da viagem, condições do ambiente (lotação, temperatura), idade (jovens apresentam MÓDULO 02 | TRANSPORTE E CUIDADOS MÓDULO 02 | TRANSPORTE E CUIDADOS ANTE MORTEMANTE MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE metabolismo acelerado) e sexo. Em 24 horas de jejum, bovinos perdem cerca de 30 a 40 kg de peso vivo (cerca de 18 kg só de musculatura), ovinos perdem de 1 a 2 kg enquanto suínos perdem de 2 a 5 kg de peso vivo. Mesmo com a perda de peso, o cumprimento do jejum pré-abate é fundamental, considerando os parâmetros sanitários, que envolvem a evisceração e a maior tendência do rompimento das vísceras caso nãoestejam vazias. Em casos de contaminação, tanto de vísceras quanto da carcaça, por conteúdo proveniente do canal alimentar, essas são completamente condenadas, o que acarreta em um grande prejuízo para o produtor e para a indústria. 64 Ocorrências durante o transporteOcorrências durante o transporte A Portaria n. 365/2021 do MAPA (modificada pela Portaria n. 864/2023 do MAPA) estabelece o período máximo permitido para jejum alimentar obrigatório dos animais de abate (este período começa a contar a partir do embarque nos animais na propriedade rural), sendo este de 24 horas para bovinos, 18 horas para suínos e equinos e de 12 horas para aves. O período mínimo de jejum alimentar, por sua vez, deve ser definido pelos Programas de Autocontrole da indústria. Deve-se respeitar também o período de descanso dos animais (inicia-se após o desembarque na indústria), sendo este de 12 horas para bovinos, que pode ser reduzido em até seis horas para viagens O estresse do transporte caracteriza-se por múltiplas defesas naturais dos animais para manter os seus processos vitais (homeostasia corporal), na tentativa de se adaptar ao estímulo estressante. Tal ocorrência é extremamente negativa e influencia diretamente na qualidade da carne, podendo levar o animal a perda de peso, a adquirir alguma enfermidade em virtude da baixa imunidade e, até mesmo, sofrer contusões e fraturas. MÓDULO 02 | TRANSPORTE E CUIDADOS MÓDULO 02 | TRANSPORTE E CUIDADOS ANTE MORTEMANTE MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 65 Os suínos e as aves são as espécies mais susceptíveis a ocorrência do estresse, e a carga e descarga dos animais caracterizam os pontos mais estressantes do manejo pré- abate. As aves são mais propensas a fraturas e contusões, enquanto os suínos são mais propensos a desenvolverem a síndrome do estresse suíno, que cursa com um quadro de acidose metabólica. A Síndrome de Adaptação Geral (Figura 2.6), também chamada de Síndrome de Selye, consiste nas primeiras quatro respostas que o animal tem na tentativa de se adaptar a um estímulo estressante. Essas respostas consistem no aumento do ritmo cardíaco (taquicardia), aumento da frequência e profundidade respiratória (taquipneia), aumento da pressão sanguínea (hipertensão arterial) e aumento da temperatura corporal (hipertermia). com duração máxima de duas horas, oito horas (mínimo de 3 horas) para suínos e de duas horas para aves. Tal prática está relacionada com o bem-estar animal e com o reestabelecimento das suas reservas de glicogênio, que são fundamentais para o processo de conversão do músculo em carne. Durante a reação de alarme, que é uma resposta vinculada ao sistema nervoso simpático, o animal apresenta taquicardia, hipertensão arterial, maior fluxo sanguíneo muscular, o que dificulta a eliminação de sangue durante a sangria (sangue retido altera as características sensoriais da carne e o seu prazo de validade), contração do baço (aumenta a capacidade de coagulação sanguínea), parada da digestão e degradação do glicogênio armazenado no fígado e na musculatura (este último impacta no processo de conversão do músculo em carne). MÓDULO 02 | TRANSPORTE E CUIDADOS MÓDULO 02 | TRANSPORTE E CUIDADOS ANTE MORTEMANTE MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 66 Figura 2.6. Estádios da reação de estresse Fonte: Samulski (2002). Quando o estímulo é severo e persistente, o organismo tende a gerar uma resposta de adaptação, sendo essa a fase de resistência. Possui uma maior duração, levando a liberação de hormônios pela tireoide, aumentando o metabolismo proteico e lipídico, gerando a perda de peso do animal. O estresse acarreta em uma série de efeitos sobre a musculatura do animal vivo, que incluem a maior demanda de contrações e de oxigênio muscular e a utilização de glicogênio anaeróbio para a produção de ácido lático podendo gerar um quadro de acidose metabólica e acarretar a morte do animal. Assim, o animal deve se adaptar de forma gradativa às condições estressantes. O estresse gera, ainda, aumento da sensibilidade dos animais às enfermidades e desencadeia uma série de fenômenos que afetam a qualidade da carne, como catabolismo proteico, mobilização da gordura, degradação de glicogênio de reserva e, de forma consequente, as características sensoriais e o prazo de validade da carne. MÓDULO 02 | TRANSPORTE E CUIDADOS MÓDULO 02 | TRANSPORTE E CUIDADOS ANTE MORTEMANTE MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 67 Assim, reforça-se a importância de tentar minimizar ao máximo as situações estressantes nos momentos pré-abate. Portanto, preconiza-se o transporte nas horas mais frescas do dia, os caminhões devem apresentar condições estruturais adequadas de transporte (piso antiderrapante, tábuas de ventilação, lotação adequada), motorista treinado, rampas adequadas Deseja-se que o período de rigor mortis seja o mais longo possível, pois é nesse momento que deve ocorrer a adequada manipulação da carne, já que o meio ácido não é interessante para a proliferação dos microrganismos. Entretanto, o que irá determinar o tempo de duração do rigor mortis é a quantidade de ácido lático produzida, sendo esta dependente das reservas de glicogênio. Figura 2.7. Embarque adequado de animais em caminhão de transporte Fonte: Compre rural (2021). tanto no embarque quanto no desembarque dos animais (Figura 2.7) e, principalmente, deve-se respeitar rigorosamente o período de descanso nos abatedouros frigoríficos. A relação entre o estresse e a qualidade da carne se dá em virtude do consumo das reservas de glicogênio e a consequente alteração do pH da musculatura do animal. Tal situação impacta diretamente tanto nas características sensoriais quanto nutricionais do produto carne. MÓDULO 02 | TRANSPORTE E CUIDADOS MÓDULO 02 | TRANSPORTE E CUIDADOS ANTE MORTEMANTE MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 68 Leitura ComplementarLeitura Complementar JIMENEZ FILHO, D. L. Efeitos do transporte sobre a qualidade da carne - revisão. Medicina Veterinária, v. 6, n. 4, p. 26-31, 2012. A enfermidade do transporte, também chamada de doença ou febre do transporte, está associada a viagens longas, tendo como principais agentes Pasteurella multocida, Mannhemia haemolytica, Hytophilus somni, Mycoplasma bovis, Parainfluenza vírus tipo 3, Hepervírus bovino tipo 1 (IBR). Tal enfermidade é mais comum em gado de leite em virtude das longas viagens a que esses animais são submetidos (para participação em exposições agropecuárias, por exemplo), apresentando, durante a viagem ou no desembarque, sinais clínicos que incluem hipertermia, estremecimento e tremores musculares, olhos irritados e edema submandibular cutâneo. As lesões post mortem consistem em pneumonia lobar e enterite aguda. A empresa responsável pelo transporte deve respeitar a capacidade do caminhão (não transportar os animais em sublotação nem em superlotação); a carroceria deve apresentar piso antiderrapante, deve ser fechada na altura da cabeça dos animais, mas com presença de tábuas de ventilação, parafusos não podem representar nenhum tipo de risco para os animais; é proibido o uso de instrumentos pontiagudos e o transporte deve ocorrer nas horas mais frescas do dia. Normas para o transporte deNormas para o transporte de animais de abateanimais de abate MÓDULO 02 | TRANSPORTE E CUIDADOS MÓDULO 02 | TRANSPORTE E CUIDADOS ANTE MORTEMANTE MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 69 O estabelecimento industrial deve coibir qualquer tipo de maus tratos aos animais, deve respeitar o período de descanso pré-abate, conferir a Guia de Trânsito Animal (GTA) bem como os boletins sanitários dos lotes. Animais que apresentem qualquer sofrimento devem ser destinados ao abate de emergência imediato e animais que apresentarem sinais clínicos que cursam com a “doença do transporte” devem ser condenados. Tal resolução determina os requisitos que o veículo de transporte de animais vivos (VTAV) devem apresentar, tais como evitar sofrimento e ferimentos desnecessários, ser adaptadoa espécie que transporta, ter abertura compatível com o embarque/desembarque da A resolução também regulamenta a questão sanitária que envolve o transporte de animais e é aplicável a todos os veículos fabricados a partir de 1º de julho de 2019. carga viva, superfícies de contato sem proeminência, permitir a circulação de ar, piso antiderrapante, possibilitar o fornecimento de água, dentre outras exigências. A Resolução n. 791, de 18 de junho de 2020, do CONTRAN (Conselho Nacional de Trânsito) consolida as normas sobre Consulte a LegislaçãoConsulte a Legislação o transporte de animais de produção, de interesse econômico, de esporte, de lazer ou de exposição. MÓDULO 02 | TRANSPORTE E CUIDADOS MÓDULO 02 | TRANSPORTE E CUIDADOS ANTE MORTEMANTE MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 70 A Instrução Normativa n. 46/2018 do MAPA determina os procedimentos técnicos, sanitários e operacionais para a exportação de bovinos, bubalinos, ovinos e caprinos vivos, para abate e reprodução. Aborda parâmetros objetivos de densidade de animais no transporte e no EPE, os quais consistem em locais privados com habilitação para isolamento dos animais antes do seu transporte para o exterior. Normas para estabelecimentosNormas para estabelecimentos pré-embarque - exportaçãopré-embarque - exportação Atualmente, o Brasil conta com aproximadamente 40 EPEs credenciados, os quais tem que ter acompanhamento de médico veterinário habilitado pelo MAPA com treinamento específico em problemas sanitários, legislação e bem-estar. Caros alunos, Encerramos o conteúdo de Transporte e Cuidados Ante Mortem de Animais de Abate. O Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) dessa disciplina está repleto de materiais para auxiliá-lo no aprofundamento dos seus estudos e você pode acessar a Plataforma de EAD da UFJF pelo link https://ead.ufjf.br/. Não deixe de conferir! MÓDULO 02 | TRANSPORTE E CUIDADOS MÓDULO 02 | TRANSPORTE E CUIDADOS ANTE MORTEMANTE MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 71 Os exercícios de fixação são uma excelente forma de verificar se você está assimilando corretamente o conteúdo abordado em aula. As questões são de múltipla escolha e versam sobre o tema: Transporte e Cuidados Ante Mortem de Animais de Abate. O formulário só poderá ser respondido uma única vez, portanto, tenha atenção durante a execução da atividade. Após a finalização do questionário você contará com feedbacks orientativos que poderão ajuda-lo no momento do estudo. Exercícios de FixaçãoExercícios de Fixação MÓDULO 02 | TRANSPORTE E CUIDADOS MÓDULO 02 | TRANSPORTE E CUIDADOS ANTE MORTEMANTE MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 72 A CARNE QUE O MUNDO PREFERE. Transporte adequado de suínos resulta na qualidade da carne. 2019. Disponível em: https://acarnequeomundoprefere.com.br/seguranca/transporte-adequado-de-suinos. Acesso em: 12 abr. 2022. ASSESSORIA AGROPECUÁRIA. SC: Porto de Imbituba exporta mais 3,5 mil bovinos para a Turquia. 2019. Disponível em: http://www.assessoriaagropecuaria.com.br/noticia/2019/09/12/sc-porto-de-imbituba-exporta- mais-3-5-mil-bovinos-para-a-turquia. Acesso em: 12 abr. 2022. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa n. 46, de 28 de agosto de 2018. Estabelece o Regulamento técnico para exportação de bovinos, bubalinos, ovinos e caprinos vivos, destinados ao abate ou à reprodução. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 03 set. 2018. Disponível em: https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/39325268/do1-2018- 09-03-instrucao-normativa-n-46-de-28-de-agosto-de-2018-39325102. Acesso em: 12 abr. 2022. BRASIL. Ministério da Infraestrutura. Resolução n. 791, de 18 de junho de 2020. Consolida as normas sobre o transporte de animais de produção, de interesse econômico, de esporte, de lazer ou de exposição. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 24 jun. 2020. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-n-791-de-18-de-junho-de-2020- 263184341#:~:text=Fica%20revogada%20a%20Resolu%C3%A7%C3%A3o%20CONTRAN,1%C2%BA%20de%20julh o%20de%202020.. Acesso em: 12 abr. 2022. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Portaria n. 365, de 16 de julho de 2021. Aprova o Regulamento Técnico de Manejo Pré-abate e Abate Humanitário e os métodos de insensibilização autorizados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 23 jul. 2021. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-365-de-16-de-julho-de-2021-334038845. Acesso em: 12 abr. 2022. BRASIL. Ministério da Agricultura e Pecuária. Portaria n. 864 de 31 de julho de 2023. Altera a Portaria SDA Nº 365, de 16 de Julho de 2021, que aprova o Regulamento Técnico de Manejo Pré-Abate e Abate Humanitário e os métodos de insensibilização autorizados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 01 ago. 2023. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-sda/mapa-864-de-31-de-julho-de-2023-499871950? fbclid=PAAaYeePI0zeJDty7BjpNkgLKr2k8wsjcniOJCuFKY42rbX_wcG4cEtB9piGE_aem_AQ5rHnJmlvUroerB_Ymyy9Eyb WL0GjOfjx78SQppyGfxuKTbqwJc2KWtgjHK7rdOY-Y. Acesso em: 01 ago. 2023. COMPRE RURAL. Quantos bois cabem em um caminhão boiadeiro. 2021. Disponível em: https://www.comprerural.com/quantos-bois-cabem-em-um-caminhao-boiadeiro/. Acesso em: 12 abr. 2021. ESTADO DE MINAS. Brasil busca oportunidades no embarque de bois para abate. 2016. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/agropecuario/2016/06/06/interna_agropecuario,769902/brasil-busca- oportunidades-no-embarque-de-bois-para-abate.shtml. Acesso em: 12 abr. 2022. JIMENEZ FILHO, D. L. Efeitos do transporte sobre a qualidade da carne - revisão. Medicina Veterinária, v. 6, n. 4, p. 26-31, 2012. Disponível em: http://www.journals.ufrpe.br/index.php/medicinaveterinaria/article/view/609/488. Acesso em: 12 abr. 2022. MINAS'S TRAINS. Carros e vagões da Oeste de Minas - Guindastes. 2012. Disponível em: http://minasstrains.blogspot.com/2012/03/. Acesso em: 12 abr. 2022. SAMULSKI, D. M. Psicologia do esporte. 1. ed. Editora Manole. Barueri, 380 p. 2002. (e-book) SINDICATO RURAL DE BELA VISTA. Fiscais resgatam grupo que levava gado a pé na transamazônica. 2021. Disponível em: http://www.sindicatoruraldebelavista.com.br/fiscais-resgatam-grupo-que-levava-gado-pe-na- transamazonica/. Acesso em: 12 abr. 2022. ReferênciasReferências MÓDULO 02 | TRANSPORTE E CUIDADOS MÓDULO 02 | TRANSPORTE E CUIDADOS ANTE MORTEMANTE MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 73 EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Série agronegócios: Processamento da carne bovina. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2004. 184p. PARDI, M.C.; SANTOS, I.F.; SOUZA, E. R.; PARDI, .H.S. Ciência, higiene e tecnologia da carne. 2. ed. Goiânia: Editora da UFG, 2006. v.1. 624p SEBRAE. ABCS. Bem-estar animal na produção de suínos: transporte. Brasília: ABCS, 2016. 38p. SEBRAE. ABCS. Bem-estar animal na produção de suínos: frigorífico. Brasília: ABCS, 2016. 48p. BRASIL. Presidência da República. Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal. Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal. Aprovado pelo Decreto n. 30.691 de 29 de março de 1952, alterado pelos Decretos n. 1.225 de 25 de junho de 1962, Decreto n.1236 de 02 de setembro de 1994, Decreto n.1812 de 08 de fevereiro de 1996, Decreto n.2244 de 04 de junho de 1997, Decreto n.9.013 de 29 de março de 2017, Decreto n.9069 de 31 de maio de 2017, Decreto n.10468 de 18 de agosto de 2020. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 19 ago. 2020. BibliografiaBibliografia Várias dessas bibliografias estão presentes nas bibliotecas da UFJF em livros físicos e em e-books. Aproveite! INSPEÇÃO INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ANIMAIS DE ABATEDE ABATE MÓDULO 03| INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 75 IntroduçãoIntrodução A inspeção ante mortem consiste nas etapas de inspeção que acontecem com o animal ainda vivo, avaliando o seu comportamento de forma geral e, se necessário, realizando exame clínico individualizado. Já a inspeção post mortem acontece após o animal ser abatido, em que será avaliada a sua carcaça e órgãos/vísceras. A espécie que mais apresenta ocorrência de achados post mortem é a bovina, tendo em vista o seu método de criação bem como a duração do seu ciclo de produção. Aves e suínos, além de possuírem ciclo de produção mais curso, são submetidos a um manejo sanitário muito mais intenso, quando comparado com o de bovinos. O porte de um abatedouro frigorífico é determinado de acordo com a sua capacidade de abate por hora, baseando-se no tempo em que o animal leva desde a entrada na sala de abate e a chegada na câmara-fria já como meia-carcaça. Quando a comparação de quantidade de achados post mortem é entre aves e suínos, há mais alterações em suínos. Assim, são considerados abatedouro-frigoríficos de pequeno porte aqueles em que capacidade de abate é de até 50 animais por hora, de médio porte aqueles que abatem entre 51 e 80 animais por hora e, de grande porte aqueles com capacidade de abate de acima de 80 animais por hora. Considerando o Serviço de Inspeção Federal (SIF), a fiscalização de todo o processo de abate e do demais processamentos industriais é de atribuição do Auditor Fiscal Federal Agropecuário (AFFA), com formação em medicina veterinária, sendo regulamentada principalmente pelo RIISPOA (2017). Além desse profissional, há também os agentes e auxiliares de inspeção, com formação de nível médio, e juntos formam uma equipe de trabalho, respeitadas às devidas competências de cada um deles. MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 76 Figura 3.1. Fluxograma de inspeção ante mortem de bovinos e suínos Inspeção Inspeção ante mortemante mortem É atribuição do médico veterinário e dos agentes de inspeção a realização da inspeção ante mortem (Figura 3.1). Fonte: Dos autores (2024). Checagem da documentação Condições das instalações e funcionamento da sala de abate Avaliação do acesso à água e cumprimento do período de descanso Avaliação das características zootécnicas dos grupos de animais Exame ante mortem Tal atividade, inicia-se ainda durante a chegada dos animais, em que são exigidas as Guias de Trânsito Animal (núo de animais, espécie, idade, raça) (Figura 3.2) e os certificados sanitários (vacinação obrigatória, terapia medicamentosa) que, além de atestarem o estado sanitário dos animais, auxiliam nos trabalhos de inspeção post mortem. Esses documentos são conferidos pelo AFFA juntamente com a programação de abate, que é fornecida obrigatoriamente pela indústria com 72 horas de antecedência, garantindo a organização e bom andamento das atividades, bem como evitando casos de sonegação fiscal. MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 77 Figura 3.2. Guia de Trânsito Animal (GTA) Fonte: Brasil (2020). Após desembarcarem dos meios de transporte, os animais são encaminhados para os currais/pocilgas de chegada e seleção e de matança (Figura 3.3). Nesse local será realizada a inspeção ante mortem, em plataformas elevadas para bovinos, o que permite a melhor visualização dos animais e a segurança do trabalhador, enquanto para suínos não há essa exigência. Figura 3.3. Currais de matança, chegada e seleção (ao fundo) e rampa de acesso à matança Fonte: Pacheco (2006). Verifica-se o cumprimento do jejum alimentar obrigatório pré-abate (evitar contaminação, facilitar o manejo de evisceração), dieta hídrica e o cumprimento do período de descanso (correta conversão do músculo em carne). Certifica-se das boas condições higiênicas e de conservação das instalações e o provimento de água nos bebedouros dos animais. MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 78 O exame ante mortem é visual e de caráter geral, observando o comportamento dos animais em repouso e em movimento, sendo realizado nos currais/pocilga de chegada e seleção e/ou de matança. Se alguma alteração for observada, esse animal será encaminhado para o curral de observação/pocilga de sequestro (geralmente identificados de vermelho) para a realização de um exame clínico mais detalhado. Uma vez encaminhados para o curral de observação/pocilga de sequestro os animais, em casos de confirmação de alguma desordem ou alteração, não voltam para a linha de abate normal, de forma que sofrem o abate de emergência, podendo ser imediato ou mediato, de acordo com as condições fisiológicas e patológicas observadas. Em anexo ao curral de observação, deve existir um brete de contenção, a ser utilizado para facilitar o exame de bovinos. Abate de emergência é aquele destinado aos animais que chegam em condições precárias, físicas ou de saúde, impossibilitados de chegarem até a sala de abate pelos seus próprios meios, e também aos animais retidos no curral de observação/pocilga de sequestro. O abate de emergência imediato é efetuado antes do abate normal, e é aquele realizado em animais incapacitados de se locomover, contundidos, com ou sem fratura, que não apresentam indícios de enfermidades infectocontagiosas. MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 79 Já o abate de emergência mediato é efetuado após o abate normal, devido ao risco de contaminação do ambiente, das linhas de inspeção e das demais carcaças, com animais doentes, provenientes do curral de observação/pocilga de sequestro, com sinal de febre (doença infectocontagiosa) ou eliminação de pus, por exemplo, ou qualquer outro sinal/sintoma de doenças infectocontagiosas, certificados de tuberculinização ou de soroaglutinação brucélica positivos. Bovinos doentes são identificados por etiqueta na orelha, enquanto suínos são identificados por tatuagem, e deve-se encaminhar a papeleta de inspeção ante mortem ao DIF (Departamento de Inspeção Final) como subsídio informativo ao exame post mortem. Mesmo sendo de caráter geral, o exame ante mortem é muito importante pois realiza-se uma triagem dos animais sadios e doentes evitando possíveis contaminações na sala de abate. Fêmeas diagnosticadas com parto recente, aborto e gestação avançada (últimos 10 %) devem ser refugadas (não devem ser abatidas) pelo prazo regulamentar mínimo de 10 dias, devido ao potencial risco sanitário (baixa imunidade e consequente propensão a enfermidades, doenças infectocontagiosas e zoonoses como causas do aborto). As fêmeas em gestação adiantada ou com sinais de parto recente, não portadoras de doença infectocontagiosa, podem ser retiradas do estabelecimento para melhor aproveitamento, observados os procedimentos definidos pelo serviço de saúde animal. Fêmeas com sinais de parto recente ou aborto somente poderão ser abatidas após no mínimo dez dias, contados da data do parto, desde que não sejam portadoras de doença infectocontagiosa. Os animais diagnosticados com doenças infectocontagiosas devem ser sacrificados utilizando-se os preceitos do abate humanitário e em seguida incinerados. MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 80 A necropsia é realizada obrigatoriamente, no departamento de necropsia, em animais que chegam mortos, que morrem nas dependências do estabelecimento ou que são sacrificados devido a doenças infectocontagiosas e o lote de animais no qual foi constatado caso de morte só deve ser abatido após o resultado da necropsia. O destino desses animais é a Unidadede beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria) para a fabricação de coprodutos não comestíveis pelo homem, ou para o forno crematório ou autoclave do departamento de necropsia, quando for confirmado ou deixar suspeitas de doenças infectocontagiosas. Deve ser realizado o preenchimento do boletim de necropsia. Antes de iniciar o processo de abate, são verificadas a integridade e limpeza de todas as instalações, a disponibilidade de água e de energia elétrica, e se há colaboradores disponíveis em quantidade suficiente para execução das atividades industriais. O RIISPOA (2017), na seção I, que compreende os art. 85 ao 101, dispõe sobre a inspeção ante mortem de animais de abate. Consulte a LegislaçãoConsulte a Legislação A figura 3.4. ilustra o organograma de realização da inspeção ante mortem. Figura 3.4. Organograma de realização da inspeção ante mortem MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 81 Assim como o que acontece para bovinos e suínos, para aves também são exigidos a Guia de Trânsito Animal bem como o certificado sanitário do lote de aves. Confere-se a programação de abate, verifica-se o cumprimento de jejum pré-abate obrigatório, a dieta hídrica e do período de descanso, realiza-se levantamento dos dados zootécnicos, verifica-se as condições das plataformas de recepção, bem como as instalações internas e externas e se há colaboradores disponíveis em quantidade suficiente para execução das atividades industriais. Origem Transporte Abatedouro Necropsia Animais queAnimais que chegam mortoschegam mortos Incinerador ou graxaria Curral/pocilga de chegada e seleção Inspeção ante mortem AnimaisAnimais suspeitossuspeitos Curral de observação/pocilga de sequestro Animais aptosAnimais aptos Curral/pocilga de matança Sala de abate Fonte: Dos autores (2024). A inspeção ante mortem acontece nos galpões de chegada ou na plataforma de desembarque, não sendo realizado o exame clínico individualizado de todos os animais. Assim, os animais que apresentarem qualquer tipo de sofrimento, são submetidos ao abate sanitário e, consequentemente, são destinados para Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria), sendo este o mesmo destino para os animais que já chegam mortos à indústria. MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 82 Inspeção Inspeção post mortempost mortem A inspeção post mortem é efetuada rotineiramente em todos os animais de abate e consiste no exame visual associado à palpação de órgãos e carcaças e, ainda, a realização de incisões quando for necessário ou obrigatório. É realizada nas chamadas linhas de inspeção post mortem, por agentes ou auxiliares de inspeção, treinados pelo médico veterinário inspetor, e, caso haja alguma dúvida durante os trabalhos nas linhas de inspeção post mortem, as carcaças e órgãos/vísceras são encaminhados para o DIF, onde o médico veterinário inspetor irá realizar uma inspeção mais minuciosa. No momento da inspeção post mortem só é realizado o exame macroscópico das peças e a indústria deve garantir que as peças estejam limpas e em condições de serem inspecionadas. O RIISPOA (2017), em seus artigos 112 ao 217, dispõe sobre os aspectos que envolvem o abate normal e a inspeção Consulte a LegislaçãoConsulte a Legislação post mortem de aves, lagomorfos, bovinos, búfalos, equídeos, ovinos, caprinos, suídeos e pescado. As figuras 3.5 e 3.6 apresentam um exemplo de uma representação gráfica de uma planta baixa de um abatedouro frigorífico de bovinos e suínos, respectivamente, a fim de facilitar a visualização e o entendimento das instalações e, consequentemente, das etapas que envolvem o processamento industrial. MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 83 Figura 3.5. Exemplo de planta baixa (fabril) de um abatedouro frigorífico de bovinos Fonte: Dos autores (2024). Legenda Sangria Basculante industrial Porta industrial Bebedouro Porteiras entre currais Área de vômito BS: Barreira Sanitária CO: Curral de Observação DIF: Departamento de Inspeção Final Óculo Rampa de desembarque 1: seringa 2: insensibilização 3: área de vômito 4: sangria 5: linhas A1 e A 6: início da esfola 7: serragem de peito 8: linhas B e C 9: evisceração 10: linhas D, E e F 11: serragem da carcaça 12: linhas G, H e I 13: carimbagem 14: pesagem 15: chuveiro MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 84 Figura 3.6. Exemplo de planta baixa (fabril) de um abatedouro frigorífico de suínos Fonte: Dos autores (2024). Legenda Sangria Basculante industrial Porta industrial Bebedouro Portões entre baias BS: Barreira Sanitária BSeq: Baia de Sequestro DIF: Departamento de Inspeção Final Óculo Rampa de desembarque 1: insensibilização 2: sangria 3: escaldagem 4: depilação 5: linhas A1 e G 6: evisceração 7: linhas A, B, C, D e F 8: serragem da carcaça 9: linha E 10: carimagem 11: pesagem 12: câmara-fria Depilação Escaldagem MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 85 Inspeção Inspeção post mortem post mortem de bovinosde bovinos As linhas de inspeção post mortem de bovinos envolvem o exame de órgãos e carcaças de todos os animais de abate, seguindo uma sequência cronológica de ações que determinam o ritmo do processo de abate. Em algumas linhas de inspeção post mortem (B, D, E, F, H e I), além do exame dos órgãos, também ocorre a inspeção de linfonodos, que consiste em um exame macroscópico de visualização, palpação e, obrigatoriamente, incisão, que acontece no sentido longitudinal a fim de aumentar a área de observação da peça. A avaliação dos linfonodos durante as linhas de inspeção é extremamente importante e reflete as condições sistêmicas do animal, ou seja, em caso de reatividade, isso indica a ocorrência de algum processo patológico na área de drenagem correspondente. REVISEREVISE Para compreender o funcionamento das linhas de inspeção post mortem e associá-las a ocorrência de enfermidades, os conhecimentos anatomopatológicos são essenciais para determinar o comportamento local ou sistêmico das doenças. Revise o conteúdo de anatomia dos linfonodos bem como as suas áreas de drenagem. O quadro 3.1 apresenta, esquematicamente, as linhas de inspeção post mortem de bovinos e os respectivos locais de exame de cada uma delas. MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 86 Linhas deLinhas de inspeçãoinspeção Exame dos pés e lábios Exame da glândula mamária Órgãos e partes inspecionadas (e linfonodos*)Órgãos e partes inspecionadas (e linfonodos*) A A1 Quadro 3.1. Linhas de inspeção post mortem de bovinos C B* E* D* G F* I* H* J Exame do canal alimentar, baço, pâncreas, bexiga urinária e útero Cronologia dentária Exame do conjunto cabeça-língua Exame do fígado Exame dos rins Exame dos pulmões e coração Exame da parte caudal das meias-carcaças Exame da parte cranial das meias-carcaças Carimbagem das meias-carcaças Fonte: Dos autores (2024). Exame da glândula mamária (Figura 3.7): Figura 3.7. Linha A1: exame da glândula mamária Fonte: CIDASC (2021). Consiste no exame visual, palpação e incisões no úbere. O principal objetivo é verificar a ocorrência de lesões características de mastite, que possam, em casos mais severos, indicar um comprometimento sistêmico do animal. Como este não é um órgão de consumo humano, o critério de julgamento é condenação total e o destino é graxaria. MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 87 Exame dos pés e lábios(Figura 3.8 e 3.9): É uma linha particularmente importante em estabelecimentos exportadores, tendo em vista que a febre aftosa leva a formação de vesículas nos pés, o que torna a carcaça não exportável (carimbo NE). Além das vesículas, durante o exame dos mocotós também são alterações possíveis as pododermatites. Em casos de alterações, o critério de julgamento é condenação total e o destino é a Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). Para mocotó traseiros, em virtude da baixa disponibilidade muscular e de tutano, independentemente da ocorrência ou não de alterações, o critério de julgamento é condenação total e o destino é a Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). Nesta linha, além da musculatura, também ocorre o aproveitamento das unhas e dos pés. Figura 3.8. Linha A: exame dos pés Fonte: CIDASC (2021). Figura 3.9. Linha A: exame dos lábios Fonte: CIDASC (2021). DE OLHO NA INDÚSTRIA: Nesse vídeo você poderá acompanhar como acontece o exame da glândula mamária em um abatedouro frigorífico de bovinos. MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 88 Exame do conjunto cabeça-língua (Figura 3.10): No exame da cabeça, realiza-se a incisão sagital dos músculos masseteres e pterigoides, com corte duplo, procurando possíveis alterações características de cisticercose, considerando o tropismo do agente etiológico por músculos de alta atividade. O exame da língua baseia-se na observação visual e palpação da peça, procurando possíveis alterações características de febre aftosa (vesículas) e cisticercose (cistos vivos ou calcificados). Caso seja identificado qualquer tipo de alteração, a língua é incisada. DE OLHO NA INDÚSTRIA: Nesse vídeo você poderá acompanhar como acontece a remoção das unhas de bovinos em um abatedouro frigorífico de bovinos. Figura 3.10. Linha B: exame do conjunto cabeça-língua Fonte: CIDASC (2021). Legenda: A = conjunto cabeça e língua; B = incisão do músculo masseter; C = incisão do músculo pterigóide. A B C MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE Fonte: CIDASC (2021). 89 Figura 3.11. Linfonodos da cabeça de bovinos Incisa-se, ainda, os linfonodos retrofaríngeos, mandibulares, parotidianos e atloidianos (esses últimos, se estiverem presentes) (Figura 3.11). Extirpa-se as tonsilas, que são encaminhadas para segregação e posterior incineração pois caracterizam-se Material Especificado de Risco (MER). O agente de inspeção da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (CIDASC) demonstrou como é realizada a inspeção post mortem do conjunto cabeça-língua. Assista ao vídeo! Figura 3.12. Linha C: cronologia dentária Fonte: CIDASC (2021). Cronologia dentária (Figura 3.12): Já foi considerada uma linha facultativa na inspeção post mortem, sendo geralmente realizada por estabelecimentos exportadores, porém, atualmente, é uma linha obrigatória. Tem como objetivo determinar a idade, aproximada, dos animais abatidos, baseando-se no grau de desenvolvimento dos dentes incisivos permanentes (zero dentes 42 meses) (Figura 3.13). MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 90 Figura 3.13. Cronologia dentária de bovinos Fonte: Luchiari Filho (2000). Fonte: CIDASC (2021). Exame do canal alimentar, baço, pâncreas, bexiga urinária e útero (Figura 3.14): Consiste no exame visual e palpação dos órgãos. Neste caso, as incisões não são uma prática obrigatória, sendo realizadas somente em casos em que for detectado algum tipo de alteração. Nessa linha, as doenças e lesões de maior probabilidade de serem detectadas são tuberculose, perfuração, equimoses, aderências por peritonites, parasitas, esplenomegalias por infecções, metrites e piometra. Figura 3.14. Linha D: exame do canal alimentar, baço, pâncreas, bexiga urinária e útero Além disso, uma outra importante função da determinação da idade é para a indicação da coleta do Material Especificado de Risco (MER), pois as partes coletadas variam em virtude da idade do animal. A contaminação de órgãos e carcaças por conteúdo proveniente do canal alimentar é uma possibilidade, principalmente quando o jejum pré-abate não é respeitado. Assim, em casos de ocorrência de contaminação dos órgãos, esses são condenados e destinados à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). No caso de contaminação das carcaças, essas são destinadas ao Departamento de Inspeção Final (DIF), em que o médico veterinário inspetor, com base no nível e localização da contaminação, determinará o critério de julgamento e destino. MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE O agente de inspeção da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (CIDASC) demonstrou como é realizada a inspeção post mortem do intestino. Assista ao vídeo! 91 O útero e o pâncreas, por se tratarem de órgãos não comestíveis, após a inspeção, eles são destinados diretamente à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). A bexiga urinária, assim como os intestinos, trata-se de órgão comestível, e são muito utilizados como envoltório natural na fabricação de derivados cárneos. Os estômagos (rúmen, retículo, omaso e abomaso), após inspeção, são destinados à seção denominada de bucharia. Quanto à inspeção de linfonodos, deve-se incisar, no mínimo, 10 linfonodos da cadeia mesentérica e, ainda, os linfonodos gástricos e pancreáticos. Exame do fígado (Figura 3.15): Consiste no exame visual, palpação e incisão dos ductos biliares e da veia cava. Deve-se ainda comprimir os ductos biliares para verificar a presença de parasitas como Fasciola hepática e Eurytrema sp. e, na veia cava, a procura é pela formação de trombos. Realiza-se ainda o exame da vesícula biliar. Figura 3.15. Linha E: exame do fígado Fonte: CIDASC (2021). MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 92 Os linfonodos hepáticos, portais e peri-portais devem ser examinados e incisados. Nesta linha, as alterações mais comuns são esteatose e a telangiectasia, em virtude da migração parasitária. O agente de inspeção da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (CIDASC) demonstrou como é realizada a inspeção post mortem do fígado. Assista ao vídeo! Exame dos pulmões e coração (Figuras 3.16 e 3.17): O exame dos pulmões baseia-se na visualização, palpação e incisão na altura da base dos brônquios. Os pulmões são considerados órgãos comestíveis, mas, em virtude do seu baixo valor comercial, muitas indústrias acabam o destinando para a Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). As lesões mais comuns nesse órgão são enfisema, edema, pneumonia e parasitas (Dictyocaulus viviparus). No exame de linfonodos, deve-se incisar longitudinalmente os linfonodos mediastinais e pulmonares. Figura 3.16. Linha F: exame dos pulmões Fonte: CIDASC (2021). MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 93 O exame do coração consiste na visualização e palpação da sua superfície, observando possíveis aderências e coloração do líquido pericárdico. Com a incisão do saco pericárdico, incisa-se, também, o lado esquerdo e direito, da base ao ápice do coração, para completo exame da cavidade atrioventricular. Neste órgão, as lesões mais importantes a serem detectadas são cisticercose e coração tigrado (lesão comum em casos crônicos de febre aftosa). Figura 3.17. Linha F: exame do coraçãoFonte: CIDASC (2021). O agente de inspeção da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (CIDASC) demonstrou como é realizada a inspeção post mortem dos pulmões. Assista ao vídeo! O agente de inspeção da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (CIDASC) demonstrou como é realizada a inspeção post mortem do coração. Assista ao vídeo! MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 94 O exame dos rins pode acontecer de duas formas, com ele ainda aderido à carcaça ou já na mesa de evisceração. São avaliados aspectos como coloração, volume e consistência. Figura 3.18. Linha G: exame dos rins Fonte: CIDASC (2021). Exame dos rins (Figura 3.18): Em casos de parasitoses (Dioctophyma renale e Stephanurus dentatus), congestão, nefrite e isquemia, o órgão é condenado e destinado à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria), mas, a carcaça geralmente não é apreendida. Atenção deve ser dada a lesões renais que apresentem correlações com a carcaça, como por exemplo, aquelas sugestivas de tuberculose e leucose. Nesse caso, as meias-carcaças devem ser destinadas para o DIF. No exame da meia-carcaça caudal, também chamada de meia-carcaça alta, são avaliados os aspetos visual, palpação e de coloração. Em caso de contaminação por conteúdo oriundo do canal alimentar, contusões e edema, desde que restritos a áreas pequenas, essas são removidas com margem de segurança e destinadas à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). Em casos de lesões mais extensas, as meias-carcaças devem ser destinadas ao DIF. Neste momento, também deve-se observar casos de caquexia (nutricional ou patológica) e, quando for o caso, as meias-carcaças devem ser destinadas à fabricação de derivados ou de coprodutos. Os linfonodos examinados são o ilíaco, o isquiádico, o inguinal (ou mamário) e o subilíaco, e todos devem ser incisados. Exame da meia-carcaça caudal e linfonodos (Figura 3.19): Figura 3.19. Linha H: exame da meia-carcaça caudal e linfonodos MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 95 Fonte: CIDASC (2021). Legenda: A = linfonodo poplíteo; B = linfonodo subilíaco; C = linfonodo isquiádico; D = linfonodo inguinal/mamário; E = linfonodo ilíaco. A B C C D E No exame da meia-carcaça cranial, também chamada de meia-carcaça baixa, são avaliados os aspetos visual, palpação e de coloração. Em caso de contaminação por conteúdo oriundo do canal alimentar, contusões e edema, desde que restritos a áreas pequenas, essas são removidas com margem de segurança e destinadas à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). Em casos de lesões mais extensas, as meias-carcaças devem ser destinadas ao DIF. Deve-se atentar ao exame do ligamento nucal, que está associado às lesões sugestivas de brucelose, em que há o acúmulo de pus, mas, também, à oncocercose. Uma lesão comum de se observar nessa linha de inspeção é o abscesso vacinal, decorrente, sobretudo, da vacinação de febre aftosa. O linfonodo cervical superficial deve ser examinado e incisado longitudinalmente. Exame da meia-carcaça cranial e linfonodos (Figura 3.20): Figura 3.20. Linha I: exame da carcaça cranial e linfonodos MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 96 Fonte: CIDASC (2021). Legenda: A = linfonodo peitoral; B = linfonodo cervical superficial. A B Nessa linha é realizada a carimbagem das meias- carcaças com carimbo elíptico do Serviço de Inspeção Oficial. Os locais de eleição para carimbagem são o coxão, lombo, ponta de agulha e paleta. Carimbagem das meias-carcaças (Figura 3.21):Figura 3.21. Linha J: Carimbagem das meias-carcaças Fonte: Gasparini comércio de tintas (2022). O Memorando Circular n. 13/2017 (DIPOA/MAPA/SDA) determina os modelos de carimbo do Serviço de Inspeção Federal (SIF) bem como as suas especificações. Consulte a LegislaçãoConsulte a Legislação MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 97 O Departamento de Inspeção Final (DIF) tem como finalidade a recepção das meias-carcaças, órgãos e vísceras que serão minuciosamente examinados, a fim de se chegar a uma conclusão sobre o critério de julgamento e destino mais adequados para determinadas situações que ocorrerem durante o abate. Os Materiais Especificados de Risco (MER), exclusivos para ruminantes, são os locais de predileção dos agentes causadores das encefalopatias espongiformes (Encefalopatia Espongiforme Bovina – EEB ou BSE e Scrapie). Considerando a gravidade dessas enfermidades, bem como os seus impactos no contexto de saúde pública, todos esses locais de eleição devem ser obrigatoriamente, removidos, segregados e inutilizados pelo abatedouro frigorífico, que deve promover a sua incineração. Assim, torna-se proibido o uso dos MER para alimentação humana ou animal, sob qualquer forma. DE OLHO NA INDÚSTRIA: Nesse vídeo você poderá acompanhar como acontece a remoção dos MER de bovinos em um abatedouro frigorífico de bovinos. DE OLHO NA INDÚSTRIA: Nesse vídeo você poderá acompanhar como acontece a aberta da cabeça de bovinos para retirada do encéfalo um abatedouro frigorífico de bovinos. Bovinos e Bubalinos Caprinos e Ovinos Qualquer idade: tonsilas e íleo Acima de 30 meses: encéfalo, olhos e medula espinhal Acima de 12 meses: encéfalo, olhos e medula espinhal Figura 3.22. Material Especificado de Risco conforme a espécie e idade animal MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 98 Fonte: Dos autores (2024). Figura 3.26. Medula espinhal bovina Fonte: Frivasa (2022). Figura 3.27. Globo ocular bovino Fonte: Sistema CEI (2022). Figura 3.28. Encéfalo bovino Fonte: UFG (2022). As figuras 3.23, 3.24, 3.25, 3.26, 3.27 e 3.28 ilustram a inspeção post mortem de alguns MER. Figura 3.23. Porção distal do íleo Fonte: CIDASC (2022). Figura 3.24. Tonsilas palatinas Fonte: CIDASC (2022). Figura 3.25. Tonsilas linguais Fonte: CIDASC (2022). MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 99 O agente de inspeção da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (CIDASC) demonstrou como é realizada a inspeção post mortem e remoção da porção final do íleo, que é considerado um Material Especificado de Risco (MER). Assista ao vídeo! A Portaria SDA n. 1180/2024, que entrará em vigor a partir de 02 de maio de 2025, aprova os procedimentos de vigilância e mitigação de risco da EEB nos abatedouros Consulte a LegislaçãoConsulte a Legislação frigoríficos de bovinos. O fluxograma de abate compreende todas as atividades relacionadas ao abate do animal, desde o momento da sua chegada à indústria até a conversão do músculo em carne nas câmaras frias e cada instalação detém uma função importante considerando cada etapa de abate. Em bovinos com alterações comportamentais ou neurológicas compatíveis com EEB, ou seja, que apresentem aspecto clínico da doença, deve-se realizar a coleta de amostras e enviá-las para laboratório oficial. Assim, as vísceras e carcaças provenientes de tais animais devem ser inutilizadas (incineração ou autoclavagem). O tratamento térmico deve ser realizado em temperatura de, no mínimo, 133 °C, durante, pelo menos, vinte minutos, sem interrupção e a uma pressão absoluta de, no mínimo, três bar, produzida por vapor saturado. MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 100 Nos currais de chegada e seleção e de matança (Figura 3.29) ocorre a inspeção ante mortem dosanimais, que é baseada no seu comportamento. Em casos em que for observado qualquer tipo de alteração, esses animais são encaminhados para o curral de observação (Figura 3.30), onde será realizado um exame clínico detalhado e individualizado do animal. Figura 3.29. Currais de chegada e seleção Figura 3.30 Curral de observação Fonte: Ludtke et al. (2012). Os currais de matança se comunicam com a sala de abate por meio de uma rampa a nível do solo, denominada de rampa de acesso à matança. Durante esse percurso os animais recebem um banho coletivo (Figura 3.31) com água hiperclorada (3 ppm) em temperatura ambiente durante três minutos e com pressão de água de 3 ATM, cujo objetivo é o Figura 3.31. Lavagem dos animais antes do abate na rampa de acesso à matança seu efeito sanitizante, redução do estresse térmico, vasoconstrição periférica e redução da matéria-orgânica e da carga microbiana. Fonte: Pacheco; Yamanaka (2006). Fonte: Pacheco; Yamanaka (2006). MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 101 Figura 3.32. Seringa Fonte: CIDASC (2013). A seringa (Figura 3.32) é a última instalação da área externa e consiste em um corredor mais estreito, ao final da rampa de acesso a matança. Sua capacidade deve ser de 10 % do abate/hora do estabelecimento. O objetivo da sua largura reduzida é para que os animais, uma vez na seringa, não consigam retornar à rampa de acesso à matança e que só tenham a opção de seguir em direção à sala de abate. O box de atordoamento (Figura 3.33) é a primeira seção da sala de abate e é neste local que acontece a insensibilização do animal. Tem uma porta tipo guilhotina, que é fechada logo após a entrada do animal, contendo-o dentro do box, e uma porta lateral, que, após a insensibilização, é aberta e permite que o animal role para a área ou praia de vômito. Figura 3.33. Box de atordoamento Fonte: AG (2014). DE OLHO NA INDÚSTRIA: Nesse vídeo você poderá acompanhar como acontece a insensibilização por pistola pneumática em um abatedouro frigorífico de bovinos. MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 102 Figura 3.34. Local correto para o posicionamento da pistola pneumática para insensibilização de bovinos Fonte: Ludtke et al. (2012). A insensibilização com o uso da pistola de dardo cativo não deve matar o animal, mas sim somente insensibiliza-lo. A morte do animal deve ser ocorrer por choque hipovolêmico em virtude da sangria. Por isso, é fundamental que o disparo do dardo da pistola pneumática aconteça no local indicado (Figura 3.34). Mesmo com o emprego de um método de insensibilização irreversível, o período entre a insensibilização e a sangria não deve ser maior que um minuto. A insensibilização efetiva gera um colapso imediato no animal, sua musculatura contrai, ocorre a flexão dos membros traseiros e extensão dos dianteiros, observa-se pupilas fixas e dilatadas, ausência de respiração rítmica, de reflexo corneal e de piscar espontâneo, de vocalização, do reflexo de endireitamento da cabeça e de tentativa de recuperar a postura, a mandíbula relaxada e ocorre exposição da língua (protusa). Figura 3.35. Área de vômito Como a insensibilização atinge a chamada "centro do vômito" no cérebro, quando o animal é içado por uma das pernas, para ser preso ao trilho aéreo, é comum que haja uma regurgitação e, por isso, essa área é chamada de área de vômito (Figura 3.35). Fonte: Pacheco; Yamanaka (2006). MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 103 A sangria (Figura 3.36) deve ser o que realmente irá provocar a morte do animal. Deve ter duração mínima de três minutos, garantindo que o maior volume de sangue possível seja eliminado do corpo do animal (50 % da volemia, 3,5 % do peso vivo, aproximadamente 35 litros de sangue). Esse processo é realizado por meio do corte da veia carótida e jugular de ambos os lados. A fim de otimizar o processo de sangria e promover a maior eliminação de sangue, pode-se realizar um estímulo elétrico no animal. Figura 3.36. Sangria A sangria impacta diretamente nos aspectos sensoriais e microbiológicos da carne. Uma sangria ineficiente, ou seja, que não é capaz de eliminar o máximo de sangue possível do animal, irá gerar alterações na coloração e sabor da carne e órgãos, em virtude dessa retenção de sangue. Além disso, o sangue também é um ótimo meio de cultura e, com isso, o prazo de validade da carne acaba sendo reduzido. Após a sangria de cada animal, a faca utilizada pelo colaborador deve ser imediatamente esterilizada. Para a fabricação do chouriço, derivado cuja matéria-prima principal é o sangue, é necessário o emprego de uma faca especial, denominada como faca vampira, que é responsável pela captação do sangue e o encaminha para um galão por meio de uma mangueira, sem que haja qualquer tipo de contato do sangue com as instalações e outros equipamentos do abate. Após a serragem dos chifres (Figura 3.37) e retirada dos mocotós dianteiros, inicia-se a esfola (Figura 3.38). Essa é a etapa mais demorada do fluxograma de abate, podendo durar até sete minutos. Inicia-se pela região do traseiro até a região dianteira, sendo favorecida pela gravidade, e conta com colaboradores trabalhando em diferentes alturas a partir do auxílio de plataformas. Fonte: Pacheco; Yamanaka (2006). MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 104 A oclusão do reto consiste em envolver e amarrar a região ao redor do ânus, sendo extremamente importante para evitar o extravasamento de conteúdo intestinal que, consequentemente, contaminaria a carcaça. Essa etapa é considerada um procedimento sanitário operacional (PSO). Figura 3.37. Serragem dos chifres Figura 3.38. Esfola Com a tirada do couro e dos mocotós traseiros, o corpo do animal passa a ser preso pelo jarrete. Em virtude do porte do animal, a retirada completa do couro acontece de forma mecânica, por meio do roletamento. O couro é enganchado próximo a região da cabeça e está ligado a uma corrente que, juntamente com uma roleta, vai tencionando e promovendo a remoção do couro. DE OLHO NA INDÚSTRIA: Nesse vídeo você poderá acompanhar como acontece roletamento do couro em um abatedouro frigorífico de bovinos. Fonte: Pacheco; Yamanaka (2006).Fonte: Pacheco; Yamanaka (2006). Após a remoção do couro, que é uma etapa suja, ocorre a abertura do esterno no sentido longitudinal. A partir dessa etapa, a sala de abate já é considerada como área limpa e, antes dela, como área suja. MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 105 Considerando a contaminação por sangue, assim que desarticulada, a cabeça é lavada com jato de água sob alta pressão. Ocorre, ainda, a sua numeração, juntamente com a asa do atlas. No limite entre a área suja e a área limpa deve ser instalada uma barreira sanitária, a fim de diminuir o carreamento de contaminação de uma área mais suja para uma área mais limpa da sala de abate. Os colaboradores que exercem suas funções na área suja não devem ir à área limpa, tendo em vista a quantidade de sujidades (fezes, regurgitação, sangue, couro) em sua vestimenta e sapatos. Assim, somente o médico veterinário inspetor pode transitar entre essas duas seções, mas, ainda assim, após a sua higienização na barreira sanitária. DE OLHO NA INDÚSTRIA: Nesse vídeo você poderá acompanhar como acontece a serragem de peito em um abatedouro frigorífico de bovinos. DE OLHO NA INDÚSTRIA: Nesse vídeo você poderá acompanhar como acontece a lavagem da cabeça de bovinos em um abatedouro frigorífico de bovinos. MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DEABATE DE ANIMAIS DE ABATE 106 Assim como a oclusão do reto, a oclusão do esôfago também é uma etapa crítica e importante do fluxograma de abate, pois é responsável por evitar o extravasamento de conteúdo gástrico durante a manipulação das vísceras do animal. A abertura da cavidade abdominal deve acontecer longitudinalmente, no sentido caudo-cranial, assim como a retirada das vísceras. de evisceração (Figura 3.39) que é um equipamento rolante e, em virtude do grau de contaminação local, é higienizada mecanicamente e de forma constante durante o abate. A evisceração é uma etapa crítica no fluxograma de abate, pois, caso haja o rompimento das vísceras e sua consequente contaminação por conteúdo gástrico e intestinal, essas devem ser totalmente condenadas. A evisceração acontece em sentido longitudinal até o diafragma e, após a retirada dos órgãos, esses são colocados sobre as bandejas na mesa Figura 3.39. Órgãos na mesa de evisceração DE OLHO NA INDÚSTRIA: Nesse vídeo você poderá acompanhar como acontece a abertura da cavidade abdominal e a retirada dos órgãos e vísceras em um abatedouro frigorífico de bovinos. Fonte: Pacheco; Yamanaka (2006). MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 107 A serragem da carcaça (Figura 3.40) no sentido longitudinal ao longo da coluna vertebral gera duas meias-carcaças. Como não é possível serrar exatamente no meio, uma meia-carcaça fica ligeiramente maior que a outra. Figura 3.40. Colaborador (ao fundo) serrando a carcaça A toalete final consiste na retirada de linfonodos e na apara de espículas ósseas. Após isso, já no final do fluxograma de abate, as meias-carcaças são pesadas e, é neste momento, que é determinado o valor que será pago ao produtor com base no peso das meias-carcaças. DE OLHO NA INDÚSTRIA: Nesse vídeo você poderá acompanhar como acontece a serragem da carcaça em duas meias- carcaças em um abatedouro frigorífico de bovinos. DE OLHO NA INDÚSTRIA: Nesse vídeo você poderá acompanhar como funciona a mesa rolante com higienização automática em um abatedouro frigorífico de bovinos. Fonte: Pacheco; Yamanaka (2006). Currais de chegada e seleção Rampa de acesso à matança Chuveiro (banho coletivo) Currais de matança Área de vômito Box de atordoamento SeringaInsensibilização MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 108 Em seguida, as meias-carcaças passam por um banho com água hiperclorada (Figura 3.41) e são destinadas à câmara-fria para a conversão do músculo em carne, processo este que tem duração de aproximadamente 24 horas. Depois desse processo, as meias-carcaças estão liberadas tanto para serem vendidas inteiras quanto para o processamento de cortes cárneos ou de derivados. A figura 3.42 demonstra, de forma esquemática, o fluxograma de abate de bovinos, em que estão assinalados de cor vermelha as etapas consideradas como pontos críticos de controle. Figura 3.41. Lavagem das meias- carcaças Fonte: Pacheco; Yamanaka (2006). Figura 3.42. Fluxograma de abate de bovinos PCC Continua ... Sangria Linha A Início da esfolaLinha A1 Esfola da região abdominal até a cabeça Esfola lateral Oclusão do reto Transpasse e retirada dos mocotós traseiros Roletamento do couro Limite área suja x área limpa Desarticulação da cabeça Serragem de peito Linhas B e C Separação do esôfago da traqueia Oclusão do esôfago Retirada da cabeça MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 109 PCC PCC PCC Continua ... Abertura da cavidade abdominal Retirada das vísceras Linhas D e EEvisceração Linhas G, H, I e toalete Linha F Retirada das vísceras torácicas Serragem da carcaça Linha J Chuveiro de carcaça Câmara-fria Pesagem das meias-carcaças A Race Maquinaria & Cárnicos, de forma didática, exibe como ocorre as atividades de abate. O processo é dinâmico e a utilização de maquinários tecnológicos está presente em todas as etapas produtivas. Assista ao vídeo! MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 110 Fonte: Dos autores (2024). MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 111 Inspeção Inspeção post mortem post mortem de suínosde suínos As linhas de inspeção post mortem de suínos envolvem o exame de órgãos e carcaças de todos os animais de abate, seguindo uma sequência cronológica de ações que determinam o ritmo do processo de abate. Em algumas linhas de inspeção post mortem (A1, B, D e E), além do exame dos órgãos, também ocorre a inspeção dos linfonodos, que consiste em um exame macroscópico de visualização, palpação e, obrigatoriamente, incisão, que acontece no sentido longitudinal a fim de aumentar a sua área de observação. A avaliação dos linfonodos durante as linhas de inspeção post mortem é extremamente importante e reflete as condições sistêmicas do animal, ou seja, em caso de reatividade, indica a ocorrência de algum processo patológico na área de drenagem correspondente. O quadro 3.2 apresenta, esquematicamente, as linhas de inspeção post mortem de suínos e os respectivos locais de exame de cada uma delas. Quadro 3.2. Linhas de inspeção post mortem de suínos Linhas deLinhas de inspeçãoinspeção Exame do útero Exame da cabeça e dos linfonodos da papada Órgãos e partes inspecionadas (e linfonodos*)Órgãos e partes inspecionadas (e linfonodos*) A A1* C B* E* D* G F Exame do fígado e pulmões Exame do coração e língua Exame do canal alimentar, baço, pâncreas e bexiga urinária Exame da carcaça Exame do cérebro Exame dos rins Fonte: Dos autores (2022). O agente de inspeção da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (CIDASC) demonstrou como é realizada a inspeção post mortem da cabeça e dos linfonodos da papada. Assista ao vídeo! MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 112 Exame da cabeça e linfonodos da papada (Figura 3.43): O exame da cabeça consiste na avaliação visual do órgão e das cavidades oral e nasal. Deve-se incisar sagitalmente os músculos masseteres e pterigoides na busca por lesões de cisticercose, mesmo a ocorrência destes não sendo mais tão comum na espécie. Os linfonodos parotídeos e a glândula parótida deve ser examinados visualmente e incisados. O exame da papada se dá por meio da visualização interna e externa, associada ao exame dos linfonodos da papada (Figura 3.44), cervicais, retrofaríngeos e mandibulares, os quais devem ser examinados visualmente e incisados longitudinalmente. Figura 3.43. Linha A1: exame da cabeça Fonte: CIDASC (2021). Figura 3.44. Linha A1: exame dos linfonodos da papada Fonte: Konig; Liebich (2004). O agente de inspeção da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (CIDASC) demonstrou como é realizada a inspeção post mortem das linhas A (útero), B (canal alimentar, baço, pâncreas e vesícula urinária) e F (rins). Assista ao vídeo! MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 113 Exame do útero (Figura 3.45): Consiste na visualização e palpação do órgão. São lesões comuns detectadas nesta linha de inspeção post mortem metrite, maceração ou mumificação fetal, gestação avançada e anomalias. Figura 3.45. Linha A: exame do útero Fonte: CIDASC (2021). Legenda: U = útero; O = ovário. Exame do canal alimentar, baço, pâncreas e bexiga urinária (Figura 3.46): Consiste no exame visual e palpação dos órgãos, com a condenação de intestinos intensamente parasitados, bem como de vísceras que entraram em contato com conteúdo proveniente do canal alimentar.Figura 7.4 Figura 7.5 Figura 7.6 Figura 7.7 Fluxograma de conversão do músculo em carneFigura 8.1 Comparação entre o aspecto visual e a quantidade de líquido liberado pelas carnes PSE, normal e DFD Curva do pH post mortem para carnes normais, DFD e PSE Variação na coloração da carne de acordo com as alterações do pH Aspecto visual da carne que passou por processo de wet aged Cortes cárneos com diferentes graus de maturação a seco (dry aged) Figura 8.2 Figura 8.3 Figura 8.4 Figura 8.5 Figura 8.6 Evolução do controle dos perigos em alimentos Hierarquia dos programas de autocontrole no setor de alimentos Fases da implantação das Boas Práticas de Fabricação Estrutura da segurança de alimentos Sistemas de gestão de segurança de alimentos Matriz de riscos dos alimentos Figura 9.1 Figura 9.2 Figura 9.3 Figura 9.4 Figura 9.5 Figura 9.6 Variáveis associadas ao Ciclo de Sinner Esquema de limpeza CIP Cartaz educativo de lavagem de mãos Sistema de desinfecção por spray na entrada da indústria Figura 10.1 Figura 10.2 Figura 10.3 Figura 10.4 Selo de identificação dos alimentos Kosher Chalaf, faca própria para a degola de animais abatidos pelo método religioso Kosher Espécies animais que são consideradas kosher (próprio para alimentação) (à esquerda e em verde) e não-kosher (impróprio para alimentação) (à direita e em vermelho) Cortes cárneos bovinos permitidos para o consumo kosher Esquema de abate Kosher de ovinos com emprego de box de contenção Selo de identificação dos alimentos Halal Figura 11.1 Figura 11.2 Figura 11.3 Figura 11.4 Figura 11.5 Figura 11.6 Composição centesimal da carne bovina (picanha) e suína (lombo) cruasTabela 8.1 Relação entre peso e idade ao abate das principais espécies de interesse zootécnico no Brasil Tabela 1.1 Linhas de inspeção post mortem de bovinos Linhas de inspeção post mortem de suínos Quadro 3.1 Quadro 3.2 Quadro 4.1 Quadro 4.2 Quadro 4.3 Quadro 4.4 Quadro 4.5 Diferenças entre produto cárneo, derivado cárneo e coproduto cárneoQuadro 5.1 Critérios de julgamento e destino para animais de abate adotados no Brasil Locais de eleição para pesquisa de cisticercose em bovinos e linhas de inspeção post mortem associadas Critérios de julgamento e destino para cisticercose viva e calcificada em órgãos e carcaça bovina Locais de eleição para pesquisa de cisticercose em suínos e linhas de inspeção post mortem associadas Critérios de julgamento e destino para cisticercose viva e calcificada em órgãos e carcaça suína Principais doenças bacterianas de origem alimentar e suas particularidades Outras enfermidades importantes e suas particularidades Quadro 7.1 Quadro 7.2 Diferenças entre algumas práticas Kosher e Halal em relação a alimentos permitidos e processos de beneficiamento da carne Métodos de insensibilização permitidos no Brasil e espécies autorizadas em cada método Quadro 11.1 Quadro 11.2 What? Why? Who? Where? When? How? How much? Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína Associação Brasileira de Proteína Animal Auditor Fiscal Federal Agropecuário Agência Nacional de Vigilância Sanitária Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle Artigo Ambiente Virtual de Aprendizagem Boas Práticas de Fabricação Boas Práticas de Produção Encefalopatia Espongiforme Bovina Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina Clean in place Cromatografia Líquida de Alta Eficiência Cadastro Nacional de Produtos Artesanais Conselho Nacional de Trânsito Clean out place Escherichia coli difusamente aderente Dark, firm, dry Departamento de Inspeção Final Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar Educação a distância Escherichia coli enteroagregativa Escherichia coli enterohemorrágica Escherichia coli enteroinvasiva Enzyme-Linked Immunosorbent Assay Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Estabelecimentos pré-embarque Escherichia coli enteropatogênica Estação de Tratamento da Água 5W2H ABIEC ABIPECS ABPA AFFA ANVISA APPCC art AVA BPF BPP BSE CIDASC CIP CLAE CNPA CONTRAN COP DAEC DFD DIF DIPOA DTHA EAD EAEC EHEC EIEC ELISA Embrapa EPE EPEC ETA Estação de Tratamento de Efluentes Escherichia coli enterotoxigênica Exemplo Grupo de Pesquisa e Avaliação de Carnes e Carcaças Grupo de Pesquisa em Inspeção, Tecnologia e Controle de Qualidade de Produtos de Origem Animal da Universidade Federal de Juiz de Fora Guia de Trânsito Animal Rinotraqueíte infecciosa bovina Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal Instituto Mineiro de Agropecuária Instrução Normativa International Organization for Standardization Infecções do Trato Urinário Ministério da Agricultura e Pecuária Mínimo Material Especificado de Risco Não Exportável Organização Mundial da Saúde Pará Programas de Autocontrole Programa de Alimentos Seguros Reação em Cadeia da Polimerase Polícia Federal Procedimentos Padrão de Higiene Operacional Pale, soft, exudative Procedimento Sanitário Operacional Resolução da Diretoria Colegiada Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal Responsável Técnico Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade Secretaria de Defesa Agropecuária Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas Escherichia coli septicêmica Serviço de Inspeção Serviço de Inspeção Agroindustrial de Pequeno Porte Serviço de Inspeção Estadual Serviço de Inspeção Federal Serviço de Inspeção Municipal Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal ETE ETEC Ex GEPAC GPPoa GTA IBR IISPOA IMA IN ISSO ITU MAPA Mín MER NE OMS PA PAC PAS PCR PF PPHO PSE PSO RDC RIISPOA RT RTIQ SDA SEBRAE SEPEC SI Siapp SIE SIF SIM SIPOA Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal Espécie Espécies Programa Nacional de Abate Humanitário Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar de Pequeno Porte Tabela brasileira de composição de alimentos Universidade Federal de Goiás Universidade Federal de Juiz de Fora Universidade Federal de Minas Gerais Escherichia coli uropatogênica Sistema de Vigilância Agropecuária Internacional Veículo de transporte de animais vivos SISBI-POA sp spp Steps SUASA SUSAF TACO UFG UFJF UFMG UPEC Vigiagro VTAV Ampère Arroba Asterisco Cátion hidrogenio Dióxido de carbono Graus Célcius Habitante Maior que Menor que Metro Nitrogênio número Parte por milhão Por cento Potencial hidrogeniônico Pressão atmosférica Quilômetro Real Segundo Votls A @ * H CO ºC hab > Deve-se incisar longitudinalmente os linfonodos da cadeia mesentérica. Figura 3.46. Linha B: exame do canal alimentar, baço, pâncreas e bexiga urinária Fonte: CIDASC (2021). Legenda: E = estômago; B = baço; P = pâncreas; Lm = linfonodos mesentéricos; Bx = bexiga. MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 114 Exame do coração e língua (Figuras 3.47 e 3.48): O exame do coração consiste na avaliação visual e palpação da superfície do órgão, endocárdio e das válvulas cardíacas. Deve-se observar possíveis aderências e coloração do líquido pericárdico. Após a abertura do saco pericárdico, deve-se incisar, longitudinalmente, o lado esquerdo e direito do órgão, da base ao ápice, para melhor exame da cavidade atrioventricular. O exame da língua consiste na visualização e palpação do músculo, da laringe e da faringe. Deve-se realizar, obrigatoriamente, o corte longitudinal profundo na face ventral, procurando possíveis alterações. Nessa linha de inspeção post mortem, em específico, o exame busca possíveis lesões sugestivas de cisticercose e de sarcosporidiose. Figura 3.47. Linha C: exame do coração Fonte: CIDASC (2021). Exame do fígado e pulmões (Figuras 3.49 e 3.50): Consiste no exame visual, palpação do fígado e incisão dos ductos biliares e da veia cava. Deve-se ainda comprimir os ductos biliares para verificar a presença de parasitas e da veia cava para formação de trombos. Realiza-se ainda o exame da vesícula biliar. Os linfonodos hepáticos, portais e peri-portais devem ser examinados e incisados. Figura 3.48. Linha C: exame da língua Fonte: CIDASC (2021). Legenda: 1 = visão dorsal; 2 = visão ventral após incisão. Figura 3.49. Linha D: exame do fígado Fonte: CIDASC (2021). O agente de inspeção da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (CIDASC) demonstrou como é realizada a inspeção post mortem das linhas C (coração e língua) e D (fígado e pulmões). Assista ao vídeo! MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 115 O exame dos pulmões e, simultaneamente da traqueia e do esôfago, consiste na visualização, palpação e incisão dos órgãos. Os pulmões devem ser incisados à altura da base dos brônquios, devendo ser condenados aqueles que apresentam alterações patológicas ou acidentais como: enfisema, broncopneumonia, aspiração de sangue e água e congestão. Para esses casos, geralmente não é necessária a condenação da carcaça. Deve-se inspecionar e incisar os linfonodos pulmonares, traqueobrônquicos e mediastinais. Figura 3.50. Linha D: exame dos pulmões Fonte: CIDASC (2021). Legenda: 2 = linfonodos traqueobrônquicos; 3 = linfonodo pulmonar. O agente de inspeção da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (CIDASC) demonstrou como é realizada a inspeção post mortem da carcaça suína. Assista ao vídeo! MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 116 Exame da carcaça (Figura 3.51): Consiste no exame visual das porções internas e externas das meias-carcaças, observando-se coloração, aspecto, estado de nutrição, aspecto da pele e das serosas. Deve-se verificar a presença de contusões, contaminações, abscessos, hemorragias e edemas e, desde que restritos a áreas pequenas, essas são removidas com margem de segurança e destinadas à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). Em casos de lesões mais extensas, as meias-carcaças devem ser destinadas ao DIF. Figura 3.51. Linha E: exame da carcaça Fonte: CIDASC (2021). Deve-se incisar, ainda, os linfonodos inguinal superior e ilíacos anterior e posterior. MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 117 Exame dos rins (Figura 3.52): Os rins devem ser liberados da gordura perirrenal e da cápsula, ainda sem desprendê- los da carcaça. Com a retirada do órgão da carcaça, este deve ser examinado quanto ao seu aspecto visual e sob palpação, observação coloração, aspecto, volume e consistência. Em casos de congestão, cistos urinários, nefrite, infarto e estefanurose os rins devem ser condenados, mas, geralmente, nesses casos, não há necessidade de condenação da carcaça. Deve-se atentar para possíveis correlações entre as lesões renais com doenças sistêmicas (peste suína, abscessos por Stephanurus spp.) e, quando for o caso, as meias-carcaças devem ser desviadas para o DIF. Figura 3.52. Linha F: exame dos rins Fonte: CIDASC (2021). Exame do cérebro (Figura 3.53): Essa linha de inspeção post mortem somente é executada no abate em indústrias que realizam o comércio ou a industrialização do cérebro. Figura 3.53. Linha G: exame do cérebro Fonte: Rech et al. (2014). O fluxograma de abate compreende todas as atividades relacionadas ao abate do animal, desde o momento da sua chegada ao abatedouro frigorífico até a conversão do músculo em carne nas câmaras frias e cada instalação detém uma função importante considerando cada etapa de abate. MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 118 Para o cumprimento do período de descanso, os animais são encaminhados para as baias de matança (Figura 3.54). Essas baias devem apresentar estrutura coberta, para que os animais não se lesionem em virtude da exposição ao sol, e cada baia deve ser separada da outra por alvenaria. Essa instalação se comunica com a sala de abate por meio da rampa de acesso à matança. Figura 3.54. Baias de matança Fonte: Ludtke et al. (2010). O box de insensibilização (Figura 3.55) é a primeira seção da sala de abate e é neste local que acontece a insensibilização do animal. Geralmente, comunica-se com a seringa por meio de uma porta tipo guilhotina, que é fechada logo após a entrada do animal, contendo-o no box. Nas pocilgas/baias de chegada e seleção e matança ocorre a inspeção ante mortem dos animais, que é baseada no seu comportamento. Em casos em que for observado qualquer tipo de alteração, esses animais são encaminhados para a pocilga de sequestro, onde será realizado um exame clínico detalhado e individualizado do animal. Durante esse percurso os animais recebem um banho coletivo com água hiperclorada durante três minutos, cujo objetivo é o seu efeito sanitizante, redução do estresse térmico, vasoconstrição periférica, remoção da matéria- orgânica e redução da carga microbiana. A seringa é um corredor mais estreito ao final da rampa de acesso à matança. Sua capacidade deve ser de 10 % do abate/hora do estabelecimento. O objetivo da sua largura reduzida é para que os animais, uma vez na seringa, não consigam retornar à rampa de acesso à matança e que só tenham a opção de seguir em direção à sala de abate. Figura 3.55. Suíno imobilizado no restainer Fonte: Ludtke et al. (2010). MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 119 A insensibilização é realizada por meio da eletronarcose (Figura 3.56), com um choque de cerca de 300 V e 20 A, com o uso de uma haste em formato de Y, com duração de dois a três segundos. A insensibilização demonstra-se efetiva quando o animal cai, contrai os músculos da face de forma involuntária, apresenta ausência de respiração rítmica, de reflexo corneal e de sensibilidade a estímulos dolorosos. Como esse método de insensibilização é reversível, o tempo máximo até o início da sangria deve ser de 15 segundos. A eletrocussão é uma técnica que vem sendo empregada na rotina de abate da espécie suína, e além dos eletrodos da cabeça, também conta com um outro ponto de choque próximo ao coração (Figura 3.57). Figura 3.56. Insensibilização de suíno por eletronarcose Fonte: Ludtke et al. (2010). Figura 3.57. Insensibilizaçãode suíno por eletrocussão Fonte: Ludtke et al. (2010). DE OLHO NA INDÚSTRIA: Nesse vídeo você poderá acompanhar como acontece a insensibilização por eletrocussão (três pontos) em um abatedouro frigorífico de suínos. MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 120 Apesar de não ser tão comum, a insensibilização também pode ser realizada com o auxílio da pistola de dardo cativo (Figura 3.58), contudo, neste caso, passa a ser uma insensibilização de caráter irreversível, em que ocorre a laceração cerebral. Figura 3.58. Insensibilização de suíno com pistola de dardo cativo Fonte: Ludtke et al. (2010). Em suínos ainda existe a possibilidade de realizar a insensibilização por meio de câmaras de dióxido de carbono. Nesse caso, o tempo máximo entre a saída da câmara e a sangria deve ser de um minuto. A sangria pode acontecer com o animal sobre uma mesa, que é o mais comum, ou com ele içado, assim como ocorre no abate de bovinos (Figura 3.59). Deve-se realizar o corte da veia cava (Figura 3.60) e aguardar o período mínimo de três minutos para o início das demais etapas do abate. Após a sangria de cada animal, a faca utilizada pelo colaborador deve ser imediatamente esterilizada. Figura 3.59. Sangria Fonte: GEPAC (2011). Figura 3.60. Local correto para inserção da faca de sangria em suíno Fonte: Ludtke et al. (2010). Leitura ComplementarLeitura Complementar BARBOSA, J. L. T.; MACHADO, R. A.; MARICATO, E. Abate humanitário de suínos e a insensibilização por eletronarcose em um abatedouro frigorífico sob o Serviço de Inspeção Estadual em Minas Gerais: relato de caso. In: COSTA, A. C. M. S. F.; et al. (org.). Internacional Saúde Única (Interface mundial), 6. ed. Recife: Even3 Publicações, 2023, cap. 62, p.724-737. MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 121 A etapa de escaldagem (Figura 3.61), em que o animal entra em contato direto com água hiperclorada de 62 a 72 ºC, durante dois a cinco minutos, tem como objetivo facilitar a retirada das cerdas do animal por meio da abertura do folículo piloso. Se a sangria, etapa anterior, não for realizada corretamente, ou seja, se o animal ainda estiver vivo durante essa etapa, ocorre a aspiração da água presente no tanque de escaldagem. Figura 3.61. Escaldagem Fonte: GEPAC (2011). Antes das carcaças serem direcionadas para os tanques de escaldagem, ainda durante o período da sangria, as mesmas passam pelo chuveiro a fim de retirar o excesso de sangue aderido à carcaça e minimizar a contaminação da água dos tanques de escaldagem. DE OLHO NA INDÚSTRIA: Nesse vídeo você poderá acompanhar como acontece a perfuração dos grandes vasos para a sangria correta em um abatedouro frigorífico de suínos. DE OLHO NA INDÚSTRIA: Nesse vídeo você poderá acompanhar como as carcaças passando pelo chuveiro antes de entrarem no tanque de escaldagem em um abatedouro frigorífico de suínos. MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 122 Apesar do binômio tempo-temperatura da escaldagem poder ser alterado, deve- se tomar cuidado para não cozinhar o animal em virtude de uma temperatura muito elevada da água e/ou a permanência do animal nesta etapa por tempo prolongado. Em virtude da possibilidade de proliferação de microrganismos termófilos, é necessária a troca constante da água presente no tanque de escaldagem. Durante a depilação (Figura 3.62), o animal encontra-se sob uma esteira que apresenta movimentos de trepidação e, assim, é capaz de remover as suas cerdas. A flambagem, que é a etapa seguinte, consiste em um "banho de fogo", por onde o animal passa rapidamente e já dependurado. Figura 3.62. Depilação Fonte: GEPAC (2011). Após o chuveiro, o animal passa por uma toalete de depilação (Figura 3.63), onde é realizada a depilação manual para a retirada das últimas cerdas. A oclusão do reto é realizada de forma mecânica, encostando um equipamento no ânus do animal, promovendo a sua torção, colabando completamente o orifício. É uma etapa extremamente importante para evitar o extravasamento de conteúdo intestinal que, consequentemente, contaminaria a carcaça, sendo considerada um Procedimento Sanitário Operacional (PSO). Figura 6.63. Toalete de depilação Fonte: GEPAC (2011). MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 123 A abertura da cavidade abdominal e torácica (Figura 3.64) é realizada de forma manual, com o auxílio de uma faca, iniciando o corte na região inguinal ventral. Após abertura das cavidades, é realizada a remoção das vísceras (Figura 3.65) no sentido caudo-cranial e, em seguida, essas são colocadas sob a mesa de evisceração. Figura 3.64. Abertura das cavidades abdominal e torácica Fonte: GEPAC (2011). DE OLHO NA INDÚSTRIA: Nesse vídeo você poderá acompanhar como acontece a oclusão do reto com pistola automática em um abatedouro frigorífico de suínos. Após a inspeção dos órgãos nas linhas de inspeção post mortem, as vísceras comestíveis são colocadas em um carrinho branco ou inox, com destino a outras etapas do processamento industrial. Já as vísceras não comestíveis são colocadas em um carrinho vermelho cujo destino é a Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). Atualmente, visando a otimização e segurança do processo, as indústrias adotam o sistema de "chutes", que são tubulações em que as vísceras são colocadas de acordo com o seu destino, o que elimina o uso dos carrinhos e o potencial risco de contaminação dos órgãos. Com a remoção das vísceras comestíveis e não comestíveis e carcaça segue para a etapa de serragem de carcaça que dará origem a duas meias-carcaças. MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 124 A carimbagem das meias-carcaças ocorre de maneira semelhante ao abate de bovinos, entretanto, em suínos, essa etapa não é considerada uma linha de inspeção post mortem. A carimbagem acontece na região dos cortes da paleta, pernil, lombo e barriga. A toalete final é uma etapa manual, realizada com faca, em que há remoção de espículas ósseas, gorduras e da medula espinhal. Após essa etapa, as meias-carcaças são lavadas com água hiperclorada e seguem para a pesagem. No caso de suínos, geralmente a pesagem das meias-carcaças é realizada apenas para avaliar o rendimento da carcaça, pois o pagamento ao produtor é realizado com base no peso vivo do animal. Por fim, os animais são encaminhados para as câmaras-frias para a conversão do músculo em carne e esse processo tem duração de 24. Após esse período mínimo, as meias-carcaças podem ser direcionadas para a desossa, fabricação de derivados ou podem ser expedidas como meia-carcaça inteiras. A figura 3.66 demonstra, de forma esquemática, o fluxograma de abate de suínos, em que estão assinalados de cor vermelha as etapas consideradas como pontos críticos de controle. DE OLHO NA INDÚSTRIA: Nesse vídeo você poderá acompanhar como acontece a serragem da carcaça em duas meias- carcaças em um abatedouro frigorífico de suínos. Pocilgas de chegada e seleção Rampa de acesso à matança Chuveiro (banho coletivo) Pocilgas de matança Escaldagem Insensibilização SeringaSangria Depilação Chuveiro Toalete depilação Flambagem Abertura da cavidade abdominal e torácica Linha A1 e G Abertura da papada e desarticulação da cabeça Oclusão do reto MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 125 Figura 3.66. Fluxograma de abate de suínos PCC PCC PCC PCC Continua ... Limite área suja x área limpa Evisceração Serragem da carcaça Linha E Linhas A, B, C, D e F Câmara-fria Toalete final Carimbagem dasmeias- carcaças Pesagem Essa é uma planta de um abatedouro frigorífico de suínos altamente tecnificada. Ao longo do fluxograma de abate observa-se grande automatização dos processos com pouca interação humana. Assista ao vídeo! MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 126 Fonte: Dos autores (2024). Essa é uma planta de um abatedouro frigorífico de suínos em que a suas atividades condizem mais com a realidade do Brasil. Apesar da tecnificação, há emprego de mão de obra humana ao longo de todo o fluxograma de abate. Assista ao vídeo! MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 127 Em virtude da evolução e da tecnificação da suinocultura industrial, por meio de um levantamento do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), observou-se que a ocorrência de alterações significativas durante a inspeção post mortem desses animais era pouco relevante e, com isso, um estudo da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) propôs uma nova metodologia de inspeção sanitária, com base em risco, para ser adotada no abate de suínos. A Instrução Normativa n. 79, de 14 de dezembro de 2018, do MAPA, aprova os procedimentos de inspeção ante e post mortem de suínos com base em risco. Consulte a LegislaçãoConsulte a Legislação A nova metodologia propõe, dentre outras mudanças, que não seja mais realizada a série de incisões, que até o momento são feitas, principalmente em linfonodos. Considera-se que ao incisar o órgão linfoide ocorre a disseminação de Salmonella spp., tendo em vista que este microrganismo é autóctone para suínos. Essa situação é responsável pela contaminação de utensílios e equipamentos utilizados no abate. Desse modo, as incisões só seriam realizadas nos casos em que fosse notado algum outro tipo de alteração nos órgãos e carcaças. Caros alunos, Encerramos o conteúdo de Inspeção Ante Mortem e Post Mortem de Animais de Abate. O Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) dessa disciplina está repleto de materiais para auxiliá-lo no aprofundamento dos seus estudos e você pode acessar a Plataforma de EAD da UFJF pelo link https://ead.ufjf.br/. Não deixe de conferir! MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 128 Os exercícios de fixação são uma excelente forma de verificar se você está assimilando corretamente o conteúdo abordado em aula. As questões são de múltipla escolha e versam sobre o tema: Inspeção Ante Mortem e Post Mortem de Animais de Abate. O formulário só poderá ser respondido uma única vez, portanto, tenha atenção durante a execução da atividade. Após a finalização do questionário você contará com feedbacks orientativos que poderão ajuda-lo no momento do estudo. Exercícios de FixaçãoExercícios de Fixação MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 129 ReferênciasReferências AG. Beckhauser conquista patente. 2014. Disponível em: https://edcentaurus.com.br/ag/edicao/177/materia/6088. Acesso em: 10 abr. 2022. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Memorando Circular n. 13/2017/DIPOA/MAPA/SDA. Modelos de carimbo de inspeção previstos no Decreto nº 9.013 de 29 de março de 2017. Este Memorando- Circular cancela e substitui o de n°7/2017/DIPOA/MAPA/SDA/MAPA25(87281), datado de 14 de junho de 2017. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília – DF, 28 ago. 2017. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/inspecao/produtos- animal/empresario/arquivos/Memo13modelosdecarimbos.pdf. Acesso em: 10 abr. 2022. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa n. 79, de 14 de dezembro de 2018. Aprova os procedimentos de inspeção ante e post mortem de suínos com base em risco na forma desta Instrução Normativa. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasilia - DF, 17 dez. 2018. Disponível em: https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/55444279/do1-2018-12-17- instrucao-normativa-n-79-de-14-de-dezembro-de-2018-55444116. Acesso em: 10 abr. 2022. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa n. 70, de 29 de dezembro de 2020. Aprova o modelo impresso da Guia de Trânsito Animal (GTA) para o trânsito de animais vivos, ovos férteis e outros materiais de multiplicação animal e estabelece o formato eletrônico da Guia de Trânsito Animal (GTA), na forma do modelo e-GTA, para movimentação, em todo o território nacional, de animais vivos, ovos férteis e outros materiais de multiplicação animal. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 30 dez. 2020. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/instrucao-normativa-n-70-de-29-de-dezembro-de-2020- 296876892. Acesso em: 10 abr. 2022. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Portaria n. 541, de 26 de dezembro de 2022. Altera o Anexo da Portaria nº 711, de 1º de novembro de 1995, que aprova as Normas Técnicas de Instalações de Equipamentos para abate e industrialização de suínos. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 28 dez. 2022. Disponível em: https://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-mapa-n-541-de-26-de- dezembro-de-2022-454032352. Acesso em: 27 fev. 2023. BRASIL. Ministério da Agricultura e Pecuária. Portaria n. 864, de 31 de julho de 2023. Altera a Portaria SDA Nº 365, de 16 de Julho de 2021, que aprova o Regulamento Técnico de Manejo Pré-Abate e Abate Humanitário e os métodos de insensibilização autorizados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 01 ago. 2023. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-sda/mapa-864-de-31-de-julho-de-2023-499871950? fbclid=PAAaYeePI0zeJDty7BjpNkgLKr2k8wsjcniOJCuFKY42rbX_wcG4cEtB9piGE_aem_AQ5rHnJmlvUroerB_Ymyy9Eyb WL0GjOfjx78SQppyGfxuKTbqwJc2KWtgjHK7rdOY-Y. Acesso em: 01 ago. 2023. BRASIL. Ministério da Agricultura e Pecuária. Portaria SDA n. 1180, de 9 de setembro de 2024. Estabelece as diretrizes do Programa Nacional de Encefalopatia Espongiforme Bovina para a aplicação de medidas oficiais de prevenção e vigilância. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 11 set. 2024. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-sda/mapa-n-1.180-de-9-de-setembro-de-2024-583723199. Acesso em: 12 set. 2024. CIDASC - Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina. BRF e Minerva assinam acordo para transferência de ativos e abate de bovinos. 2013. Disponível em: http://www.cidasc.sc.gov.br/blog/2013/11/05/brf-e-minerva-assinam-acordo-para-transferencia-de-ativos-e-abate- de-bovinos/. Acesso em: 10 abr. 2022. CIDASC. Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina. Inspeção Sanitária de Bovinos. 84f. Curso de capacitação promovido pelo Departamento Estadual de Inspeção. 2021. CIDASC. Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina. Inspeção Sanitária de Suínos. 47f.Curso de capacitação promovido pelo Departamento Estadual de Inspeção. 2021. FRIVASA. Medula. 2022. Disponível em: http://www.frivasa.com.br/medula.php. Acesso em: 10 de abr. 2022. GASPARINI COMÉRCIO DE TINTAS. Tinta para carnes. 2022. Disponível em: https://www.gasparinicorreiatintas.com.br/tinta-para-carnes. Acesso em: 10 abr. 2022. GEPAC - Grupo de Pesquisa e Avaliação de Carnes e Carcaças. Abate de suínos. 2011. Disponível em: http://www.uel.br/grupo-pesquisa/gpac/pages/arquivos/AULA%20ABATE%20SUINOS.pdf. Acesso em: 10 abr. 2022. KONIG, H. E.; LIEBICH, H. G. Anatomia dos Animais Domésticos: texto e atlas colorido. Porto Alegre: Artmed, 2004. 400p. (e-book) Várias dessas bibliografias estão presentes nas bibliotecas da UFJF em livros físicose em e-books. Aproveite! MÓDULO 03 | INSPEÇÃO MÓDULO 03 | INSPEÇÃO ANTE MORTEMANTE MORTEM E E POST MORTEMPOST MORTEM DE ANIMAIS DE ABATE DE ANIMAIS DE ABATE 130 BibliografiaBibliografia BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal. Portaria n. 711, de 01 de novembro de 1995. Normas de instalações e equipamentos para abate e industrialização de suínos. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 03 nov. 1995. LUCHIARI FILHO, A. Pecuária da carne bovina. 1. Ed. São Paulo: A. Luchiari Filho, 2000. 134p. (e-book) LUDTKE, C. B.; CIOCCA, J. R. P.; DANDIN, T.; BARBALHO, P. C.; VILELA, J. A.; DALLA COSTA, O. A. Abate humanitário de suínos. Rio de Janeiro: WSPA, 2010. 132p. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt- br/assuntos/producao-animal/arquivos-publicacoes-bem-estar-animal/programa-steps-abate-humanitario-de- suinos.pdf/view. Acesso em: 10 abr. 2022. LUDTKE, C. B.; CIOCA, J. R. P.; DANDIN, T.; BARBALHO, P. C.; VILELA, J. A.; FERRARINI, C. Abate humanitário de bovinos. Rio de Janeiro: WSPA, 2012. 148p. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt- br/assuntos/producao-animal/arquivos-publicacoes-bem-estar-animal/programa-steps-2013-abate-humanitario- de-bovinos.pdf. Acesso em: 10 abr. 2022. PACHECO, J. W.; YAMANAKA, H. T. Guia técnico ambiental de abates (bovino e suíno). São Paulo: CETESB, 2006. 98p. Disponível em: https://cetesb.sp.gov.br/consumosustentavel/wp- content/uploads/sites/20/2013/11/abate.pdf. Acesso em: 10 abr. 2022. RECH, R. R.; SILVA, M. C.; SILVA, V. S. Manual de necropsia para suídeos. Brasília, DF: Embrapa, 2014. 144 pp. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1014318/manual-de-necropsia-para- suideos. Acesso em: 10 abr. 2022. SISTEMA CEI. Dissecação de um olho bovino. 2022. Disponível em: https://www.sistemacei.com.br/fotos/dissecacao-de-um-olho-bovino. Acesso em: 10 abr. 2022. UFG - Universidade Federal de Goiás. Abertura do crânio e colheita de sistema nervoso central. 2022. Disponível em: https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/66/o/Colheita_SNC.pdf?1331040518. Acesso em: 10 abr. 2022. BRASIL. Presidência da República. Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal. Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal. Aprovado pelo Decreto n. 30.691 de 29 de março de 1952, alterado pelos Decretos n. 1.225 de 25 de junho de 1962, Decreto n.1236 de 02 de setembro de 1994, Decreto n.1812 de 08 de fevereiro de 1996, Decreto n.2244 de 04 de junho de 1997, Decreto n.9.013 de 29 de março de 2017, Decreto n.9069 de 31 de maio de 2017, Decreto n.10468 de 18 de agosto de 2020. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 19 ago. 2020. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Série agronegócios: Processamento da carne bovina. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2004. 184p. PARDI, M.C.; SANTOS, I.F.; SOUZA, E. R.; PARDI, H.S. Ciência, higiene e tecnologia da carne. 2. ed. Goiânia: Editora da UFG, 2006. v.1. 624p. PINTO, P. S. A. Inspeção e higiene de carnes. Viçosa: UFV, 2008. 389p. WILSON, W. G. Wilson´s Inspeção prática da carne. 7. ed. São Paulo: Roca, 2010. 308p. CRITÉRIOS DE JULGAMENTOCRITÉRIOS DE JULGAMENTO DE LESÕES NAS LINHAS DEDE LESÕES NAS LINHAS DE INSPEÇÃO INSPEÇÃO POST MORTEMPOST MORTEM DE DE BOVINOS E SUÍNOSBOVINOS E SUÍNOS As alterações anatomopatológicas identificadas nas linhas de inspeção post mortem consistem em modificações na conformação do organismo, detectadas predominantemente macroscopicamente, seja em decorrência de enfermidades nos animais ou por falhas tecnológicas durante o processo de abate. Essas lesões são identificadas por meio da execução de operações sequenciais durante o fluxograma de abate. MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 132 IntroduçãoIntrodução O principal objetivo da inspeção industrial e sanitária de carnes consiste em identificar animais doentes e carcaças e vísceras com lesões, de modo que esses tenham uma destinação adequada para que não representem nenhum tipo de risco à saúde pública. Os critérios de julgamento são normas estabelecidas pelo RIISPOA (2017) e em normas complementares que determinam qual atitude deve ser adotada mediante a observação de algum tipo de alteração. Aliado a isso, os destinos dos órgãos e carcaças, também determinados pelas legislações brasileiras, ditam para onde esses devem ser encaminhados. O quadro 4.1 apresenta, de forma resumida, os critérios de julgamento e destino que são estabelecidos pelas legislações sanitárias atualmente em vigor no Brasil adotados como conduta padrão durante a inspeção post mortem de bovinos e suínos. Em casos de alterações localizadas, somente tal porção será condenada, e o restante poderá ser consumido normalmente Parte lesada é destinada à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria) e o restante é liberado para consumo direto MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 133 Quadro 4.1. Critérios de julgamento e destino para animais de abate adotados no Brasil Fonte: Adaptado de Brasil (2017); Brasil (2020). Critério deCritério de julgamentojulgamento Carcaça e órgãos provenientes de animais saudáveis, sem nenhum tipo de alteração DestinoDestino Condenação parcial Não apreensão SituaçãoSituação Liberação para consumo direto (in natura) É necessário o cumprimento de uma condição pré- determinada para que a carcaça ou os órgãos possam ser aproveitados Condenação total Aproveitamento condicional Desossa, salga, tratamento pelo frio, esterilização pelo calor, fabricação de derivados cárneos cozidos Doenças infectocontagiosas, zoonoses, quadros graves e generalizados Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria) Autonomia para a empresa Destinação industrial Indústria escolhe qual método de aproveitamento será empregado, garantindo a segurança do alimento Nessa seção estão listadas, em ordem alfabética, as ocorrências mais comuns e importantes detectadas nas linhas de inspeção post mortem de bovinos e suínos. MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 134 Principais lesões na inspeçãoPrincipais lesões na inspeção post mortempost mortem Abscessos (Figuras 4.1 e 4.2) são acúmulos de pus no interior de uma cavidade neoformada por tecido conjuntivo. Apresenta caráter inflamatório, sendo causado por agentes infecciosos, principalmente bactérias. As lesões supuradas, em que o pus encontra-se livre (não encapsulado), são denominadas flegmão. O pus apresenta consistência líquida a pastosa (cremoso), coloração amarelo esverdeado e odor característico. O principal motivo que leva a essa ocorrência é a reação vacinal em bovinos. A vacina para febre aftosa, por exemplo, apresenta veículo oleoso e tende a formação dessa alteração na região da tábua do pescoço. Para órgãos o critério de julgamento é condenação total e o destino é a Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). Figura 4.1. Abscesso em carcaça suína (esquerda) e bovina (direita) Fonte: Veterinarios matadero (2009); CIDASC (2021). Figura 4.2. Abscesso hepático Fonte: Cadernos técnicos UFMG (2017). Para carcaça, se a lesão for isolada, realiza-se a condenação parcial com liberação do restante para consumo, enquanto a parte lesada é destinada à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). Se a lesão for generalizada, ocorre a condenação total dacarcaça. Essa alteração pode ser detectada em qualquer linha de inspeção post mortem e também em qualquer animal de abate. Entretanto, deve-se ter maior atenção para sua detecção na linha I realizada na inspeção post mortem de bovinos. MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 135 Atuação do Serviço de Inspeção Federal na remoção de um abscesso vacinal em carcaça bovina. Inicialmente, a alteração não estava perceptível visualmente, entretanto, após a palpação da área, foi possível notar um aumento de volume da região. Tal situação reforça a importância da inspeção sanitária adequada para a garantia da qualidade do produto carne. Assista ao vídeo! ATENÇÃO!ATENÇÃO! A confirmação de que uma lesão é generalizada, ou seja, que atingiu o organismo como um todo, ocorre pela inspeção dos linfonodos, que se mostram reativos, principalmente, e também pela observação de alterações macroscópicas em outras linhas de inspeção post mortem. MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 136 Actinomicose (Figuras 4.3 e 4.4) é causada pela bactéria Actinomyces spp. e afeta tecidos duros, principalmente a mandíbula imóvel, prejudicando a alimentação do animal e, como consequência, pode levar a um quadro de caquexia. Já a actinobacilose (Figura 4.5), causada por Actinobacillus lignieresii, afeta tecidos moles, principalmente a língua (ocasiona enrijecimento do órgão – língua de pau), prejudicando a apreensão do alimento e a consequentemente a alimentação, também levando a perda de peso progressiva, sendo uma enfermidade exclusiva de bovinos. O critério de julgamento/destino para cabeça, em casos de lesão isolada, é condenação parcial com liberação da carcaça para consumo direto e, em casos de lesão generalizada é condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria) (quando todos os linfonodos da cabeça estão afetados). No caso da língua o critério de julgamento é condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). Figura 4.3. Actinomicose mandibular Fonte: Universidade de Lisboa (2001). Figura 4.4. Aumento de volume da mandíbula em bovino acometido por actinomicose Fonte: Gil (2000). Figura 4.5. Língua de pau causada por Actinobacillus lignieresii (língua bovina). Fonte: Carvalho et al. (2015). Durante a inspeção notou-se o aspecto enrijecido da língua, que apresentava microabscessos e sinais inflamatórios. Assista ao vídeo! MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 137 Para a carcaça, em casos de lesão isolada na cabeça, o critério de julgamento/destino é não apreensão com liberação para o consumo direto. Em casos de lesão isolada na cabeça, mas, com comprometimento do pulmão, o critério de julgamento é aproveitamento condicional com esterilização pelo calor (fabricação de alimentos enlatados). Para lesões generalizadas o critério de julgamento é condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). Para detecção dessas alterações, especial atenção deve ser dada às linhas de inspeção post mortem de bovinos B (principalmente) e I. ATENÇÃO!ATENÇÃO! Qualquer lesão que, secundariamente, apresente comprometimento pulmonar, indica que qualquer outra parte do corpo do animal também pode estar comprometida, pois toda a circulação passa pelo pulmão. Deve-se sempre, na inspeção sanitária de animais de abate, atentar aos sinais da inflamação (dor, rubor, calor, edema) produção de pus e aumento do linfonodo mediastínico. Para lesões localizadas na carcaça o critério de julgamento é condenação parcial do linfonodo e da sua área de drenagem com liberação do restante da carcaça para consumo direto. Para lesões generalizadas sem comprometimento do estado geral da carcaça, o critério de julgamento é aproveitamento condicional MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 138 A adenite (linfadenite) consiste em um processo inflamatório em linfonodos, com o comprometimento de linfonodos de várias regiões do corpo (importante para diferenciar de processos mais locais), sendo mais comum em caprinos e ovinos (linfadenite caseosa, qual é uma doença altamente contagiosa). Os linfonodos apresentam-se reativos, aumentados de volume, com coloração mais escura e podem apresentar secreção no interior (pus, material sanguinolento). Para detecção dessas alterações, especial atenção deve ser dada às linhas de inspeção post mortem de bovinos, pequenos ruminantes e suínos em que ocorre a inspeção de linfonodos, sobretudos aqueles inspecionados nas linhas de inspeção post mortem em que se inspeciona carcaças e meias-carcaças. com destino à esterilização pelo calor. E, por fim, para lesões generalizadas, que incluem o comprometimento do estado geral da carcaça, (por ex. caquexia), o critério de julgamento é condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). A aderência é uma alteração que pode ocorrer em qualquer animal e em qualquer local do seu corpo e, por isso, deve-se atentar a ela em todas as linhas de inspeção post mortem, ocorrendo predominantemente na cavidade torácica e abdominal. Acontece devido a processos crônicos, decorrentes de inflamação. Os órgãos ficam com coloração mais apagada, com presença de tecido conjuntivo fibroso. O critério de julgamento/destino para órgãos e carcaça em que não há processo inflamatório evidente é condenação parcial com liberação do restante da carcaça para consumo direto. Para carcaças e órgãos com processo inflamatório evidente o critério de julgamento é condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 139 A adipoxantose (Figura 4.6) é caracterizada pelo acúmulo de pigmento carotenoide (betacaroteno ou simplesmente caroteno) sobretudo no tecido adiposo presente no corpo do animal, em virtude da alimentação rica nesse composto, sendo o caso, por exemplo, de bovinos com alguns tipos de capins (Jaraguá). Não apresenta nenhum risco à saúde do consumidor, pois o betacaroteno (composto lipofílico) é a pró-vitamina A. Todavia, a carcaça assume um aspecto repugnante, em virtude da alteração na sua coloração (torna-se amarelada), o que impede a sua comercialização. Figura 4.6. Adipoxantose em carcaça bovina Fonte: Veterinarios matadero (2003). Figura 4.7. Carcaça oriunda de bovino com icterícia Fonte: Universitat Autònoma de Barcelona (1992). Tal alteração é comum em animais mais velhos e, quando acontece, geralmente, envolve vários animais do lote. Na presença de solvente orgânico (água, álcool, éter) bem como quando é exposta à luz branca durante o período de 24 horas, há conversão do pigmento carotenoide em retineno (substância incolor), de modo que a carcaça retorna a sua coloração original. Essa conversão acontece na câmara de sequestro, que é aquela destinada às carcaças e órgãos submetidos ao aproveitamento condicional com tratamento pelo frio. A icterícia (Figura 4.7), por sua vez, causa coloração amarelada de mucosas, nervos e vísceras, que não descolorem (ou descolorem tardiamente) na presença de solvente orgânicoe também não retornam à coloração normal após exposição à luz branca. É importante fazer a diferenciação, durante a inspeção sanitária, entre adipoxantose e icterícia, pois as duas ocorrências levam a alterações semelhantes, porém os critérios de julgamento são diferentes em cada caso, pois a icterícia pode ser decorrente de um quadro de leptospirose, por exemplo, ou de outras zoonoses, enquanto a adipoxantose não apresenta nenhum risco à saúde humana. MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 140 É importante fazer a diferenciação, durante a inspeção sanitária, entre adipoxantose e icterícia, pois as duas ocorrências levam a alterações semelhantes, porém os critérios de julgamento/destinos são diferentes em cada caso, pois a icterícia pode ser decorrente de um quadro de leptospirose, por exemplo, ou de outras zoonoses, enquanto a adipoxantose não apresenta nenhum risco à saúde humana. O critério de julgamento/destino para adipoxantose é não apreensão com liberação de consumo direto, após retorno das meia-carcaças à coloração normal. Em contrapartida, para casos de icterícia, o critério de julgamento é condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). Para detecção dessas alterações, especial atenção deve ser dada às linhas de inspeção post mortem de bovinos H e I (principalmente), mas também na linha E (no caso de icterícia). O abate de animais jovens, de até 30 dias de vida extrauterina, deve ser evitado. Mas, caso ele ocorra, o critério de julgamento é condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). A carne proveniente desses animais tem aparência aquosa, flácida, dilacera com facilidade, e o desenvolvimento muscular está incompleto, apresentam pouca massa muscular, e até infiltração serosa e áreas edematosas. O aspecto repugnante envolve alterações de cor, odor, textura alterada, contaminação, caquexia e exsudação de líquido. Nesses casos, o critério de julgamento para órgãos e carcaças é condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 141 Figura 4.8. Broncopneumonia purulenta em bovino Fonte: Cadernos técnicos UFMG (2017). Figura 4.9. Broncopneumonia em suíno Fonte: Cadernos técnicos UFMG (2017). A broncopneumonia (Figuras 4.8 e 4.9) consiste no processo inflamatório dos brônquios e pulmões, enquanto a bronquite é o processo inflamatório somente dos brônquios. Tais alterações são caracterizadas por calor, vermelhidão, edema (sinais locais de inflamação), pulmão hipocriptante e até com aspecto mais sólido (hepatização pulmonar), exsudato e pus. Geralmente está associada ao comprometimento dos linfonodos mediastinais e pulmonares, podendo levar ainda a um comprometimento do linfonodo cervical superficial. O critério de julgamento para órgãos é condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). Já para carcaça, em casos de pneumonia infecciosa, o critério de julgamento é aproveitamento condicional com esterilização pelo calor (fabricação de alimentos enlatados), considerando que, por se tratar de uma doença causada por bactérias, fungos ou vírus, o agente também pode ter migrado para outros locais do corpo do animal. Para carcaças, em casos de pneumonia verminótica (em que há visualização do parasita), o critério de julgamento/destino é não apreensão com liberação para o consumo direto. MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 142 No caso do estabelecimento não fabricar enlatados, a carcaça pode ser vendida para uma outra indústria, desde que essa obedeça ao critério de julgamento/destino determinado pelo Serviço de Inspeção Oficial. Entretanto, essa prática é um tanto quanto complicada, pois, além de envolver o transporte de uma carga contaminada, ainda teria a desvantagem da outra indústria comprar uma matéria-prima de baixa qualidade. Portanto, nesses casos, é possível que aconteça a condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). A brucelose (Figura 4.10) é uma doença endêmica no Brasil, de notificação obrigatória. Trata-se de uma zoonose ocupacional, que pode causar artrite, picos febris, orquite, problemas reprodutivos. Figura 4.10. Lesão sugestiva de brucelose bovina localizada no ligamento nucal de bovino Fonte: Rosinha et al. (2019). A transmissão ocorre muitas vezes via ingestão de leite cru e carne malpassada oriundos de animais positivos para a enfermidade, bem como a partir do contato direto com esses animais, e não possui cura, podendo haver uma reagudização da doença de tempos em tempos. Brucella abortus é a espécie que mais acomete o homem, todavia, a mais patogênica para o homem é B. melitenses. Nos animais, causa aborto, reabsorção embrionária, má formação do feto e orquite (entretanto normalmente os machos já chegam castrados aos abatedouros frigoríficos). Nas fêmeas a vacinação é obrigatória, devendo ocorrer entre 3 e 8 meses de vida. O achado patognomônico da enfermidade é o mal da cernelha. Trata-se de uma lesão supurada, caracterizada pelo aumento do volume da região cervical, próximo ao ligamento nucal. MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 143 É muito importante diferenciar a brucelose da oncocercose, principalmente porque a brucelose é uma zoonose enquanto a oncocercose não. A oncocercose é causada pelo nematódeo Onchocerca spp. e gera a mesma lesão da brucelose, não sendo possível visualizar o parasita durante a inspeção post mortem. Como esta não é uma zoonose, em lesões na região cervical, assume-se que é brucelose e adota-se os devidos critérios de julgamento/destino (aproveitamento condicional com esterilização pelo calor ou não apreensão/liberação para consumo in natura). Todavia, isso funciona bem para regiões onde a oncocercose não tem alta prevalência, como é o caso de Minas Gerais. Em regiões do centro- oeste brasileiro, por exemplo, a incidência de oncocercose é muito superior à brucelose. O critério de julgamento/destino para órgãos e carcaças de suínos, caprinos, ovinos e bubalinos é o aproveitamento condicional com esterilização pelo calor. Já no caso de bovinos e equinos acometidos, o critério de julgamento/destino para órgãos e carcaças é não apreensão com liberação para o consumo direto. A bursite cervical consiste em uma inflamação da bursa (envoltório da articulação), gerando um aumento de volume na região cervical associado ao acúmulo de pus e engrossamento da cápsula articular, consistindo em um diagnóstico diferencial para brucelose. Na prática, é muito difícil fazer a identificação imediata de qual é o diagnóstico da alteração (bursite cervical ou brucelose), dessa forma, assume-se que todas as carcaças com essa lesão são positivas para a brucelose (também é importante avaliar se a doença é endêmica no local). Assim, o critério de julgamento/destino para órgãos e carcaças é aproveitamento condicional com esterilização pelo calor. Do mesmo modo que ocorre para detecção de brucelose, atenção especial deve ser dada à linha de inspeção post mortem I no abate de bovinos, já que é nessa linha que o ligamento nucal é inspecionado. MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAISALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 144 A caquexia (Figura 4.11) consiste na magreza patológica, normalmente associada a alguma enfermidade, como aquelas crônicas-caquetizantes, como é o caso, por exemplo, da tuberculose crônica. O abate de animais caquéticos deve ser evitado, mas caso aconteça, deve ser realizado o abate de emergência mediato. O critério de julgamento/destino para órgãos e carcaças é condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). Para detecção da caquexia, especial atenção deve ser dada às linhas de inspeção post mortem de bovinos e suínos que inspecionam meias-carcaças e carcaças, e também à inspeção ante mortem. O carbúnculo hemático (Figura 4.12), apesar de ser uma doença esporádica, é causado por uma bactéria altamente patogênica e de fácil disseminação (Bacillus anthracis), sendo esta utilizada, inclusive, como arma de bioterrorismo. Na inspeção ante mortem, observa-se dispneia e sangramento profuso em todas as mucosas e, é fundamental, que esse diagnóstico aconteça ainda durante a inspeção ante mortem, pois carcaças com suspeita de carbúnculo hemático não podem ser evisceradas. Na sala de abate observa-se, ainda na insensibilização, um sangramento intenso ocasionado pelo disparo da pistola de dardo cativo, um volume de sangue diminuído no momento da sangria e durante a evisceração há uma hemorragia generalizada. Figura 4.11. Carcaça caquética Fonte: Universitat Autònoma de Barcelona (1992). Figura 4.12. Hemorragia generalizada em carcaça proveniente de animal com carbúnculo hemático Fonte: Educapoint (2020). A ingestão de carne com a presença de cisticercos irá gerar a enfermidade conhecida como teníase, enquanto a ingestão de ovos produzidos pelo parasita adulto é que vai gerar a cisticercose. Nos animais, a forma larvar das tênias (cisticercos) tem predileção por músculos de alta atividade (coração, diafragma, masseteres e pterigóides) e no homem esta tem predileção pelo sistema nervoso central. MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 145 Se o diagnóstico for feito após a evisceração da carcaça, deve-se interromper o abate imediatamente, iniciando o abate de emergência. Deve-se realizar a limpeza e desinfecção das instalações e equipamentos com hidróxido de sódio 5 % (soda cáustica), hipoclorito de sódio 1 % (água sanitária), água quente com vapor em abundância. O critério de julgamento/destino é condenação total e incineração das carcaças (inclusive todas aquelas que estão na linha de abate anteriormente àquela alterada (até o box de atordoamento), ou seja, todas as carcaças que apresentaram contato indireto (por meio de equipamentos e utensílios) com aquela contaminada. Macroscopicamente, o cisto de cisticercose pode-se apresentar na forma viva (viável), em que o seu aspecto será mole e transparente, ou na forma calcificada (menos viável), em que o seu aspecto será firme e branco. O complexo teníase-cisticercose ocorre, atualmente, com maior frequência em bovinos devido ao manejo e período de criação, pois a suinocultura industrial é muito mais avançada nesses quesitos. Em bovinos, a forma adulta do parasita é a Taenia saginata, enquanto a forma larvar é o Cysticercus bovis. Em suínos, a forma adulta é a Taenia solium e a forma larvar é Cysticercus cellulosae. Coração e pulmões ÓrgãosÓrgãos Cabeça e língua F B Linha deLinha de InspeçãoInspeção Fígado Esôfago E D Diafragma e carcaçaH e I MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 146 O quadro 4.2 apresenta os locais de eleição para a pesquisa de cisticercose em bovinos e o quadro 4.3 apresenta os critérios de julgamento e destino de órgãos e vísceras que apresentem cistos vivos ou calcificados de cisticercose em bovinos. O quadro 4.4 apresenta os locais de eleição para a pesquisa de cisticercose em suínos e o quadro 4.5 apresenta os critérios de julgamento e destino de órgãos e vísceras que apresentem cistos vivos ou calcificados de cisticercose em suínos. Fonte: Adaptado de Brasil (2017). Quadro 4.2. Locais de eleição para pesquisa de cisticercose em bovinos e linhas de inspeção post mortem associadas Quando for detectada a presenta de um único cisto, independentemente do local, toda a carcaça e as vísceras daquele animal devem ser desviadas para o Departamento de Inspeção Final (DIF), pois o critério de julgamento e destino irá depender do número de cistos vivos (Figura 4.13) e calcificados (Figura 4.14) identificados em todos os locais de eleição para a pesquisa de cisticercose. MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 147 Fonte: Panzieira et al. (2017). Figura 4.13. Cistos viáveis de Cysticercus bovis no masseter (A) e no coração (B) bovinos Fonte: Panzieira et al. (2017). Figura 4.14. Cisto calcificado de Cysticercus bovis no músculo masseter de bovino Quadro 4.3. Critérios de julgamento e destino para cisticercose viva e calcificada em órgãos e carcaça bovina Discreta (1 cisto): aproveitamento condicional (frio a -10 ºC por 15 dias ou esterilização pelo calor) Cisticercose vivaCisticercose viva Discreta (até 1 cisto por peça): aproveitamento condicional (frio a -10 ºC por 15 dias ou esterilização pelo calor) após retirada do cisto evidente com margem de segurança Carcaça Órgãos, cabeça e língua Local deLocal de infestaçãoinfestação Cisticercose calcificadaCisticercose calcificada Discreta (até 1 cisto por peça): aproveitamento condicional (frio a -10 ºC por 15 dias ou esterilização pelo calor) após retirada do cisto evidente com margem de segurança Intensa (2 ou mais cistos por peça): condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria) Intensa (2 ou mais cistos por peça): condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). Moderada (de 2 até 7 cistos): aproveitamento condicional (frio a -10 ºC por 15 dias ou esterilização pelo calor) Intensa (8 cistos ou mais): condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria) Discreta (1 cisto): aproveitamento condicional (frio a -10 ºC por 15 dias ou esterilização pelo calor) Moderada (de 2 até 7 cistos): aproveitamento condicional (esterilização pelo calor) Intensa (8 ou mais cistos): condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria) Fonte: Adaptado de Brasil (2017). MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 148 Língua e coração ÓrgãosÓrgãos Cabeça C A1 Linha deLinha de InspeçãoInspeção Diafragma e carcaça Esôfago, pulmões e fígado E D Fonte: Adaptado de Brasil (2017). Quadro 4.4. Locais de eleição para pesquisa de cisticercose em suínos e linhas de inspeção post mortem associadas Quadro 4.5. Critérios de julgamento e destino para cisticercose viva e calcificada em órgãos e carcaça suína Discreta (1 cisto): aproveitamento condicional (frio a -10 ºC por 15 dias ou salga por 21 dias) Cisticercose vivaCisticercose viva Discreta (até 1 cisto por peça): aproveitamento condicional (frio a -10 ºC por 15 dias ou salga) após retirada do cisto evidente com margem de segurança Carcaça Órgãos, cabeça e língua Local deLocal de infestaçãoinfestaçãoCisticercose calcificadaCisticercose calcificada Discreta (até 1 cisto por peça): aproveitamento condicional (frio a -10 ºC por 15 dias ou salga) após retirada do cisto evidente com margem de segurança Intensa (2 ou mais cistos por peça): condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). Intensa (2 ou mais cistos por peça): condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). Moderada (de 2 até 3 cistos): aproveitamento condicional (esterilização pelo calor) Intensa (4 cistos ou mais): condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria) Discreta (1 cisto): não apreensão com liberação para consumo após a retirada do cisto com margem de segurança Moderada (de 2 até 3 cistos): aproveitamento condicional (esterilização pelo calor) Intensa (4 ou mais cistos): condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). Fonte: Adaptado de Brasil (2017). MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 149 ATENÇÃO!ATENÇÃO! A avaliação da carcaça consiste no somatório de todos os cistos que foram encontrados no animal juntamente aos cistos encontrados na própria carcaça, tanto em bovinos quanto em suínos. Assim, todas as partes passíveis de infestação (cabeça, língua, coração, esôfago e diafragma) devem receber o mesmo destino que a carcaça (em casos de julgamento mais brandos), independentemente do número de cistos encontrados. Vale ressaltar que o tecido adiposo pode ser aproveitado normalmente pelo abatedouro frigorífico, mesmo em casos de condenação total, para a fabricação de banha por meio da fusão pelo calor. A contaminação de carcaças (Figura 4.15) e vísceras ocorre devido ao contato com piso, paredes e conteúdo proveniente do canal alimentar, em casos de falha no processo de oclusão do esôfago ou reto. Carcaças ou partes contaminadas de bovinos e suínos não podem ser lavadas. O critério de julgamento para órgãos é condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). Figura 4.15. Contaminação de carcaça bovina por conteúdo oriundo do canal alimentar Fonte: IFOPE (2021). MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 150 Para carcaça, em casos de lesão isolada, o critério de julgamento/destino é condenação parcial (com margem de segurança) com liberação do restante da carcaça para o consumo direto. Em casos de lesão generalizada, o critério de julgamento é condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). Contusão (Figura 4.16) é uma lesão por trauma que ocorreu durante o transporte ou período de descanso (no manejo pré- abate). No local em que houve a lesão, observa-se a presença de hemorragia petequial ou em lençol. Figura 4.16. Contusão generalizada em carcaça bovina Fonte: Duarte (2017). O critério de julgamento/destino para órgãos e carcaças, em casos de lesão isolada, é aproveitamento condicional com esterilização pelo calor após remoção das partes atingidas. E, para lesões generalizadas, o critério de julgamento é condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). O edema (Figura 4.17) caracteriza-se pelo acúmulo de líquido intersticial e, deve-se sempre atentar ao fato de ser um sinal local de inflamação. O critério de julgamento para órgãos é condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). Para carcaça, em casos de lesão isolada (traumas), o critério de julgamento/destino é condenação parcial com liberação do restante da carcaça para consumo direto. Para lesão generalizada (ocasionado por insuficiência renal, insuficiência cardíaca, nutricional), o critério de julgamento é condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). Figura 4.17. Edema pulmonar em bovino Fonte: Wicpolt et al. (2014). MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 151 Endocardite (Figura 4.18), miocardite (Figura 4.19) e pericardite (Figura 4.20) consistem em processos inflamatórios no coração (camada interna, porção interna do músculo e membrana que envolve o coração, respectivamente). O líquido pericárdico pode mudar de cor, textura e apresentar-se purulento. O critério de julgamento para o órgão é condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). Para carcaça, o critério de julgamento é não apreensão com liberação para o consumo direto. Figura 4.18. Endocardite em suíno Fonte: Cadernos técnicos UFMG (2017). Essas alterações são detectadas, em bovinos, na linha de inspeção post mortem F e em suínos na linha de inspeção post mortem C. Figura 4.19. Miocardite por cisticercose em bovino Fonte: Cadernos técnicos UFMG (2017). Figura 4.20. Pericardite fibrinopurulenta em bovino Fonte: Cadernos técnicos UFMG (2017). ATENÇÃO!ATENÇÃO! Coração tigrado (órgão apresenta hialinose intracelular, com a ocorrência de manchas amareladas ou esbranquiçadas em um padrão que lembra a pelagem do tigre) é uma lesão sugestiva de febre aftosa em animais que já se recuperaram da doença. Dessa forma, quando detectado, a carcaça proveniente deste animal é marcada como não exportável (carimbo NE), mas pode ser comercializada no mercado interno. MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 152 A esteatose (Figura 4.21) é o acúmulo de gordura intracelular, principalmente em órgãos parenquimantosos, como fígado, baço e rim. O órgão aumenta de volume, assume coloração mais amarelada, ocorre mudança na sua textura, superfície pode ficar untosa, e ao corte apresenta emulsão de glóbulos de gordura na faca. Figura 4.21. Esteatose hepática em bovino Fonte: Biomin (2022). O critério de julgamento para órgãos é condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). Para carcaça, o critério de julgamento é não apreensão com liberação para consumo direto. O tempo máximo entre a sangria e a evisceração deve ser de no máximo 40 minutos, pois, acima desse tempo, podem começar a migrar microrganismos do canal alimentar para a musculatura, representando um risco de contaminação da carne. Assim, em casos de evisceração retardada, o critério de julgamento para órgãos é de condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). Para carcaça o critério de julgamento é aproveitamento condicional com esterilização pelo calor. A febre aftosa é uma doença que acomete bovinos e suínos, cujos sinais clínicos cursam com febre, aftas ou vesículas na língua, cavidade oral e/ou no espaço interdigital (Figuras 4.22 e 4.23) e claudicação. Por se tratar de uma zoonose, sua ocorrência impacta diretamente na imposição de barreiras sanitárias para comercialização internacional da carne brasileira. As meias- carcaças, durante as linhas de inspeção post mortem, recebem o carimbo de não exportável (NE), entretanto, o consumo interno dos produtos oriundos desses animais pode ser permitido. O critério de julgamento para órgãos acometidos é condenação total com destino à Unidade de Beneficiamento de Produtos Não Comestíveis (graxaria). Entretanto, para órgãos não comprometidos, o critério é não apreensão,com liberação para consumo direto. MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 153 Para carcaça, o critério de julgamento é aproveitamento condicional com destino à desossa (há quantidade elevada de Aphthovírus na medula óssea, então, com a remoção dos ossos, diminui-se o risco da presença do agente etiológico na musculatura). Figura 4.22. Lesão característica de febre aftosa, com presença de vesículas em língua bovina Fonte: CPT (2013). Figura 4.23. Lesão interdigital em bovino Fonte: Instituto Agrópolus do Ceará (2013). ATENÇÃO!ATENÇÃO! Animais com sintomatologia clínica de febre aftosa, ou que tiveram algum contato com esses animais, seja durante o transporte ou nos currais durante o período de descanso, devem sofrer abate de emergência mediato. Órgãos e meias-carcaças de todo o abate são segregados e mantidos sob controle do SI até conclusão da investigação pelas autoridades sanitárias. MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 154 A glossite (Figura 4.24) caracteriza-se como uma inflamação da língua (edema, rubor, calor) mas, normalmente, não gera reflexos na carcaça, entretanto, deve-se avaliar os linfonodos localizados próximos ao órgão como caráter confirmatório. Representa diagnóstico diferencial para febre aftosa, por isso é um achado importante. Figura 4.24. Glossite em bovino Fonte: Universidade de Lisboa (2001). O comprometimento da língua pode gerar dificuldade de apreensão de alimentos pelo animal, de forma consequente, a carcaça pode-se apresentar caquética e, assim, acabar gerando uma dúvida sobre o envolvimento daquele animal com algum tipo de enfermidade infectocontagiosa. O critério de julgamento para órgãos é condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). Para carcaça, o critério de julgamento é não apreensão com liberação para consumo direto. Línguas com lesões cicatrizadas têm como critério de julgamento o aproveitamento condicional, com destino à fabricação de derivados cozidos após a retirada do epitélio da língua. Caso a glossite seja secundária à uremia, a carcaça irá apresentar outras características, tais como odor de urina e mineralização. Nesse caso, o critério de julgamento é condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). A glossite será diagnosticada, em bovinos, na linha de inspeção post mortem B e em suínos na linha de inspeção post mortem C. MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 155 A hidatidose (Figuras 4.25, 4.26 e 4.27) é uma zoonose causada pelo agente Echinococcus granulosus, sendo comum em ovinos, cuja lesão apresenta-se periférica, calcificada e circunscrita. Acomete fígado, pulmão e musculatura esquelética, com cistos muito maiores que os característicos de cisticercose, com membranas prolígeras de coloração amarelada. Figura 4.25. Cistos hidáticos em fígado bovino Fonte: Veterinarios matadero (2007). O critério de julgamento para órgãos é condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). Para carcaça, o critério de julgamento é não apreensão com liberação para consumo direto. Em bovinos, a detecção dessa enfermidade ocorre nas linhas de inspeção post mortem D, E, F, H e I. Figura 4.26. Cistos hidáticos em coração bovino Fonte: Tessele et al. (2013). Figura 4.27. Membrana laminada do cisto hidático no baço bovino Fonte: Tessele et al. (2013). Ocorre em animais submetidos a hormonioterapia e estes podem apresentar lesões hepáticas, atrofia testicular e delimitação muscular marcante (a administração de hormônios é proibida, no Brasil, em espécies produtoras de carne). O critério de julgamento para carcaças, oriundas de animais sacrificados após a ingestão de produtos tóxicos, é condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). A ingestão de produtos tóxicos é de difícil detecção e, talvez, o animal apresente sinais de intoxicação (hemorragia, sinais neurológicos, diarreia, vômito) na inspeção ante mortem (em casos agudos; em casos crônicos é mais difícil de identificar). MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 156 A magreza é livre de processos patológicos (nutricional, animais de refugo), enquanto a caquexia é de origem patológica (doenças crônicas-caquetizantes, como tuberculose, parasitoses intensas). Mesmo assim, a fim de garantir a segurança do alimento, adota-se o critério de julgamento/destino para órgãos e carcaças o aproveitamento condicional com esterilização pelo calor. A magreza poderá ser detectada na inspeção ante mortem e nas linhas de inspeção post mortem que averiguam carcaças ou meias-carcaças. A morte nos currais/baia é acidental e, caso isso ocorra, os animais mortos devem ser imediatamente sangrados e a evisceração deve acontecer logo em seguida. Caso essa situação seja respeitada, o critério de julgamento/destino para órgãos e carcaça é o aproveitamento condicional com esterilização pelo calor. O principal motivo para a morte dos animais durante o transporte, normalmente, é o estresse de transporte e, nesses casos, a necropsia é obrigatória. O critério de julgamento para carcaças e órgãos é condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). FIQUE LIGADO!FIQUE LIGADO! Saiba mais sobre esse conteúdo acessando o Instagram @gppoa.ufjf MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 157 De acordo com o RIISPOA (2017), as fêmeas só podem ser abatidas 10 dias após o parto ou aborto. Entretanto, em seu art. 167, define- se como critério de julgamento/destino desses animais o aproveitamento condicional com esterilização pelo calor, desde que não seja evidenciado nenhum tipo de infecção. A lesão característica em suínos consiste em cistos em musculaturas de atividade intensa (língua, diafragma, músculos mastigadores), não sendo visíveis a olho nu (diagnóstico histológico é muito importante). Pelo fato de só acometer a carcaça dos animais, o critério de julgamento/destino é aproveitamento condicional com tratamento pelo frio (-15 ºC durante 30 dias; -25 ºC durante 20 dias; -29 ºC durante 12 dias). As baixas temperaturas são capazes de desidratar e, consequentemente, promover a morte do parasita. Essa carcaça não pode ser exportada, mas pode ser comercializada no mercado interno. A triquinelose é causada pelo nematódeo Trichinella spiralis, sendo uma doença reemergente importante em suínos orgânicos (criados ao ar livre). É uma zoonose contraída a partir da ingestão de carne contaminada com o parasita. Para gestação adiantada (últimos 10 % da gestação), a legislação preconiza que esse tipo de abate não deve ocorrer. Mas, caso ocorra, é permitido a coleta do soro fetal. MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 158 A tuberculose é uma enfermidade causada pelo Mycobacterium tuberculosis (humanos) e Mycobacterium bovis ou Mycobacterium avium (bovinos), tratando- se de umaenfermidade zoonótica ocasionada pelo contato direto com animais doentes e pela ingestão de produtos de origem animal (carne crua ou malpassada, leite cru). Os animais apresentam sinais de magreza e até caquexia, febre na fase aguda, secreção nasal e dispneia. Nas linhas de inspeção post mortem os principais achados localizam-se nos pulmões (Figura 4.28), com a formação de tubérculos (nódulos com aspecto enrijecidos, podendo haver necrose caseosa no seu interior e textura friável). Também são comuns lesões em linfonodos, que rangem ao corte (no caso de nódulos calcificados). Na fase aguda, em casos de lesão generalizada, o critério de julgamento para órgãos e carcaças é condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria) (animal febril, caquético, com lesões caseosas ou calcificadas generalizadas). Figura 4.28. Tuberculose em pulmão bovino Fonte: Veterinarios matadero (2007). Figura 4.29. Tuberculose em meia-carcaça bovina Fonte: Veterinarios matadero (2007). Já na fase crônica, em que não há lesão generalizada, o critério de julgamento/destino é aproveitamento condicional com esterilização pelo calor (órgãos com lesões caseosas discretas e localizadas, carcaça de animais reagentes positivos a testes sorológicos desde que não se enquadrem na condenação total). MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 159 Quando o animal já se recuperou da doença, o critério de julgamento/destino para órgãos e carcaças é não apreensão com liberação para consumo direto (carcaça com apenas uma lesão localizada e completamente calcificada em um único órgão ou linfonodo). Vale ressaltar que, carcaças com lesões oriundas de tuberculose (Figura 4.29) não podem ser exportadas e, com isso, recebem o carimbo “NE”. A seguir ilustra-se uma série de alterações encontradas nas linhas de inspeção post mortem de bovinos e suínos (Figuras 4,30, 4.31, 4.32, 4.33, 4.34, 4.35, 4.36, 4.37, 4.38, 4.39, 4.40, 4.41, 4.42, 4.43 e 4.44). Para todas elas, com exceção da sangria malfeita, o critério de julgamento para órgãos é condenação total com destino à Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria), enquanto para carcaças é a não apreensão com liberação para consumo direto. No caso da sangria malfeita, o critério de julgamento/destino da carcaça é o aproveitamento condicional com esterilização pelo calor. Leitura ComplementarLeitura Complementar DIAS, A. S.; MACHADO, R. A.; SANTOS, E. M. P. Condenações de carcaças e vísceras suínas nas linhas de inspeção post mortem e no Departamento de Inspeção Final em um frigorífico sob Serviço de Inspeção Federal em Juiz de Fora (MG). Higiene alimentar, v. 36, n. 294, p. 268-272 , 2022 Outras alterações nas linhasOutras alterações nas linhas de inspeção de inspeção post mortempost mortem MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 160 Figura 4.30. Aspiração agônica de sangue em suíno (pulmão com manchas de sangue) Fonte: Comunidade profissional suinícola (2022). Figura 4.31. Aspiração de conteúdo ruminal em bovino Fonte: Damasceno Neto et al. (2021). Figura 4.32. Cálculo renal em ovino Fonte: Santarosa et al. (2016). Figura 4.33. Cicatriz ruminal em bovino Fonte: Vieira (2017). Figura 4.34. Cisto renal em bovino Fonte: Veterinarios matadero (2007). MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 161 Figura 4.35. Dictiocaulose em bovino Fonte: Cadernos técnicos UFMG (2017). Figura 4.36. Escaldagem excessiva em carcaça suína Fonte: Sippel et al. (2015). Figura 4.37. Enfisema pulmonar em bovino Fonte: Nascimento et al. (2015). Figura 4.38. Esofagostomose em bovino Fonte: Tessele et al. (2013). Figura 4.39. Fasciolose hepática em bovino Fonte: Tessele et al. (2013). Figura 4.40 Fasciolose pulmonar em bovino Fonte: Tessele et al. (2013). MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 162 Figura 4.41. Linfossarcoma em bovino Fonte: Pansieira et al. (2014). Figura 4.43. Sangria malfeita observada em meia- carcaça bovina Figura 4.42. Melanose em pulmão bovino Fonte: Veterinarios matadero (2003). Figura 4.44. Telangectasia em fígado bovino Fonte: Ribeiro et al. (2017). Fonte: Tessele et al. (2013). MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 163 InspeçãoInspeção O RIISPOA (2017) é a legislação que rege a inspeção industrial e sanitária dos produtos de origem animal. Nela, você encontrará todos os aspectos abordados nessa aula, tanto gerais (Art. 125 a 172), quanto específicos para bovinos (Art. 183 a 189), caprinos e ovinos (Art. 190 a 193) e suínos (Art. 194 a 203). Caros alunos, Encerramos o conteúdo de Principais Alterações Anatomo- Patológicas, Critérios de Julgamento e Condenações de Órgãos e Carcaças. O Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) dessa disciplina está repleto de materiais para auxiliá-lo no aprofundamento dos seus estudos e você pode acessar a Plataforma de EAD da UFJF pelo link https://ead.ufjf.br/. Não deixe de conferir! MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 164 Os exercícios de fixação são uma excelente forma de verificar se você está assimilando corretamente o conteúdo abordado em aula. As questões são de múltipla escolha e versam sobre o tema: Principais Alterações Anatomo- Patológicas, Critérios de Julgamento e Condenações de Órgãos e Carcaças. O formulário só poderá ser respondido uma única vez, portanto, tenha atenção durante a execução da atividade. Após a finalização do questionário você contará com feedbacks orientativos que poderão ajuda-lo no momento do estudo. Exercícios de FixaçãoExercícios de Fixação MÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DEMÓDULO 04 | PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ANATOMO-PATOLÓGICAS, CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇASJULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE ÓRGÃOS E CARCAÇAS 165 ReferênciasReferências BIOMIN. Doença do fígado gorduroso. 2022. Disponível em: https://www.biomin.net/br/especies/ruminantes/fatty- liver/. Acesso em: 13 abr. 2022. BRASIL. Presidência da República. Decreto n. 9.013, de 29 de março de 2017. Regulamenta a Lei nº 1.283, de 18 de dezembro de 1950, e a Lei nº 7.889, de 23 de novembro de 1989, que dispõem sobre a inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 30 mar. 2017. Disponível em: https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/20134722/do1-2017-03-30-decreto-n- 9-013-de-29-de-marco-de-2017-20134698. Acesso em: 13 abr. 2022. BRASIL. Presidência da República. Decreto n. 10.468, de 18 de agosto de 2020. Altera o Decreto nº 9.013, de 29 de março de 2017, que regulamenta a Lei nº 1.283, de 18 de dezembro de 1950, e a Lei nº 7.889, de 23 de novembro de 1989, que dispõem sobre o regulamento da inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 19 ago. 2020. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/decreto-n-10.468-de-18-de-agosto-de-2020-272981604.cominuído) Alterações em produtos cárneos Adulterações em produtos cárneos Inspeção Referências Bibliografias 169 170 172 177 178 180 181 183 185 186 Inspeção de Produtos CárneosInspeção de Produtos Cárneos168168 Introdução Carnes insuficientes Carnes repugnantes Referências Bibliografias 188 188 190 196 196 Identificação e Inspeção de Carnes AnormaisIdentificação e Inspeção de Carnes Anormais187187 Introdução Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar Contaminação dos alimentos Contaminação da carne Características das DTHAs Principais doenças bacterianas transmitidas por alimentos Outras enfermidades importantes Prevenção e controle Referências Bibliografias 198 200 204 205 206 208 212 213 215 215 Enfermidades Transmissíveis ao Homem por ProdutosEnfermidades Transmissíveis ao Homem por Produtos de Origem Animal com Ênfase em Carnes e Produtosde Origem Animal com Ênfase em Carnes e Produtos DerivadosDerivados 197197 Introdução Conversão do músculo em carne Carnes DFD e PSE Maturação da carne Valor nutricional da carne Referências Bibliografias 217 217 219 222 224 227 227 Conversão do Músculo em CarneConversão do Músculo em Carne216216 Introdução Perigos em alimentos Evolução do controle dos perigos em alimentos Boas Práticas de Fabricação Procedimentos Padrão de Higiene Operacional Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle Legislação de controle de qualidade de alimentos no Brasil Programa alimentos seguros Estrutura da segurança de alimentos 229 230 232 234 235 236 240 241 242 Programas de Autocontrole na Indústria de Carnes eProgramas de Autocontrole na Indústria de Carnes e DerivadosDerivados 228228 Elementos básicos de um sistema de controle de alimentos Referências Bibliografias 243 247 247 Introdução Higiene das instalações Higiene de equipamentos Higiene pessoal Higiene das operações Qualidade da água Normas de higiene de estabelecimentos Princípios higiênico-sanitários-tecnológicos Referências Bibliografias 250 250 253 255 257 259 260 261 263 263 Higiene, Limpeza e Desinfecção das InstalaçõesHigiene, Limpeza e Desinfecção das Instalações IndustriaisIndustriais 249249 Introdução Abate Kosher Abate Halal Diferenças entre Kosher e Halal Abate tradicional Referências Bibliografias 260 260 264 266 267 272 272 Abates Rituais X Abate Tradicional (Humanitário)Abates Rituais X Abate Tradicional (Humanitário) 264264 Minas Gerais (2008). Atualmente é professora adjunta do Departamento de Medicina Veterinária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora e líder do Grupo de Pesquisa em Inspeção, Tecnologia e Controle de Qualidade de Produtos de Origem Animal da UFJF (GPPoa UFJF), no qual exerce atividades de pesquisa e educação continuada principalmente nos seguintes temas: controle de qualidade de produtos de origem animal, microbiologia de alimentos, segurança de alimentos. Emília Maricato possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Minas Gerais (2002), especialização em Tecnologia e Inspeção de Produtos de Origem Animal pela Universidade Federal de Minas Gerais (2003), mestrado em Medicina Veterinária, com área de concentração em Tecnologia e Inspeção de Produtos de Origem Animal, pela Universidade Federal de Minas Gerais (2004) e doutorado em Ciência Animal, com área de concentração em Medicina Veterinária Preventiva e Epidemiologia Veterinária, pela Universidade Federal de Rafaela Machado possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2022). Atualmente é bolsista do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais com área de concentração em Tecnologia e Inspeção de Produtos de Origem Animal. É membro do Grupo de Pesquisa em Inspeção, Tecnologia e Controle de Qualidade de Produtos de Origem Animal da Universidade Federal de Juiz de Fora (GPPoa UFJF), no qual exerce atividades de pesquisa, extensão e educação continuada. Foi bolsista de monitora das disciplinas Inspeção e Tecnologia de Aves, Ovos, Mel e Pescado, Inspeção e Tecnologia de Carnes e Produtos Derivados I e II e Avaliação e Tipificação de Carcaças e Qualidade da Carne (2020-2022). INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO EINTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESTECNOLOGIA DE CARNES Observa-se, ainda, infelizmente, o poder político que grandes corporações ainda exercem sobre o Estado, o que colabora, em alguns casos, para o não cumprimento de legislações. Um exemplo claro dessa situação, foi a alteração nos valores das multas após a deflagração da Operação Carne Fraca pela PF (Polícia Federal) em 2017. Inicialmente, houve um aumento considerável no valor das multas, que MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 23 A Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (IISPOA) caracteriza-se pela adoção de normas e procedimentos com a finalidade de se obter um produto de qualidade higiênico-sanitária e tecnológica, isento de qualquer risco e perigo higiênico-sanitário, e de alta qualidade comercial, sem afetar ou prejudicar o meio ambiente. ConceitosConceitos O padrão e a metodologia na inspeção preconizam a não variabilidade dos resultados e, por meio de normas, legislações e instrumentos de punição (advertência, multas, interdição), buscam garantir a produção de um alimento de origem animal de qualidade. Todavia, a inspeção sanitária apresenta algumas diferenças, de acordo com o nível em que ela é aplicada, seja ele federal, estadual ou municipal, principalmente dentro do contexto das legislações. Leitura ComplementarLeitura Complementar SILVA, J. G.; CARVALHO, L. V.; NUNES, L. V. A corrupção e seus efeitos no mercado de alimentos: o caso da Operação “Carne Fraca”. Economic Analysis of Law Review, v. 12, n. 2, p. 3-23, 2021. passaram de, no máximo, R$ 30 mil para R$ 2 milhões. Porém, a pressão dos empresários sobre o governo fez com que esses valores fossem reduzidos. MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 24 Polícia Federal deflagra operação de combate a venda ilegal de carnes. A inspeção sanitária acontece em todos os produtos cuja matéria-prima principal é de origem animal, sejam eles derivados de carne, leite, ovos, produtos das abelhas, pescado. Um produto inspecionado deve apresentar quatro qualidades simultâneas para ser comercializado, sendo elas a qualidade higiênico-sanitária (não representa risco à saúde do consumidor), qualidade tecnológica (processamento, fabricação, estocagem), qualidade comercial (apresentação, rotulagem, embalagem, comercialização) e qualidade ambiental (sem trazer prejuízos ao meio ambiente). Dessas quatro características, pode-se dizer que, considerando a realidade brasileira, a mais difícil de se alcançar é a qualidade ambiental (por exemplo, o tratamento de efluentes para a correta destinação do sangue em abatedouros frigoríficos). Todavia, as indústrias estão tentando melhorar nesse aspecto visando ao aumento das exportações de carnes, pois o consumidor do mercado externo tem uma visão mais crítica sobre o produto que irá consumir e o seus impactos sobre o meio ambiente. Associado a isso, também há uma maior preocupação com o bem-estar dos animais (superlotação, ambiente, abate humanitário). MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 25 A inspeção sanitária é realizada pelo serviço de inspeção oficial (governamental), em níveis federal, estaduais e municipais. A cadeia de produção de alimentos é formada por produção (fazendas, granjas) + indústria + comércio. No Brasil, a inspeção sanitária acontece nesses três elos da cadeia. A inspeção sanitária realizada nas unidades de produção rural e nas indústrias é regulamentada pelo MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária), enquanto no mercado consumidor ela é regida pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que é ligadaAcesso em: 13 abr. 2022. CADERNOS técnicos de veterinária e zootecnia, n. 84 (cadernos técnicos da escola de veterinária da UFMG). Atlas de patologia macroscópica de ruminantes e equinos. Belo Horizonte: FEPMVZ, 2017. 82p. CADERNOS técnicos de veterinária e zootecnia, n. 86 (cadernos técnicos da escola de veterinária da UFMG). 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Diferenças entre produto cárneo, derivado cárneo e coproduto cárneo Fonte: Dos autores (2024). Produto CárneoProduto Cárneo Ex.: comestíveis (vísceras, sangue), não comestíveis (couro, farinha, sebo) OBS.: não confundir com derivados cárneos Tudo aquilo que é obtido do animal de abate excetuando-se a carcaça Derivado CárneoDerivado Cárneo Ex.: hambúrguer, presunto, patê, embutidos, enlatados OBS.: todo embutido é um derivado cárneo, mas, nem todo derivado cárneo é embutido Produto cárneo que passou por um processamento industrial com mudança na sua estrutura (características bioquímica e sensorial) Ex.: corte cárneo e derivados cárneos OBS.: todo derivado cárneo é um produto cárneo, mas, nem todo produto cárneo é um derivado Todo produto, de consumo humano, cuja matéria-prima principal é a carne Coproduto CárneoCoproduto Cárneo FIQUE LIGADO!FIQUE LIGADO! Saiba mais sobre esse conteúdo acessando o Instagram @gppoa.ufjf Os produtos cárneos são constituídos por carne que sofreu processamento industrial com a finalidade de aumentar a vida útil (conservação) do produto ou para torná-lo mais atrativo. Para a fabricação de qualquer produto cárneo deve-se utilizar matéria- prima (carne) de origem inspecionada. MÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOSMÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOS 170 Carnes conservadas pelo frioCarnes conservadas pelo frio A cadeia do frio é empregada largamente na indústria de alimentos, tendo em vista que as baixas temperaturas apresentam efeito bacteriostático, ou seja, são capazes de impedir a multiplicação dos microrganismos. Considerando este grupo, as carnes podem ser classificadas, ainda, como frescas ou resfriadas, quando são acondicionados sob refrigeração, em temperaturas entre 4 e 7 ºC, tendo seu prazo de validade entre 72 e 96 horas; e em carnes congeladas, em que a temperatura de acondicionamento é de -10 a -18 ºC, e o prazo de validade é de 60 dias. Em temperaturas mais baixas, como é o caso da carne que passou por processo de congelamento e é acondicionada sob essas temperaturas, há uma menor proliferação de microrganismos, reações enzimáticas e físico-químicas, permitindo uma maior durabilidade do produto. Quando esses produtos são embalados sob baixa tensão de oxigênio, popularmente conhecido como “embalagem a vácuo”, a ausência de oxigênio também contribui para prolongar a shelf life do alimento. Durante a inspeção sanitária, essas carnes devem apresentar coloração vermelho-vinhosa (Figura 5.1); superfície brilhante, mas sem muco; textura firme, mas não enrijecida; ausência de larvas e insetos; e, ao corte não devem apresentar exsudação em excesso nem podem se desfragmentar. Além do exame visual, também podem ser realizados A vantagem das carnes resfriadas sobre as carnes congeladas seria do ponto de vista econômico, considerando que o custo para realização do congelamento e manutenção da carne a temperaturas muito baixas é muito superior do que o custo com a refrigeração. Como desvantagem, o prazo de validade da carne fresca, resfriada é consideravelmente inferior ao da carne congelada. MÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOSMÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOS 171 ATENÇÃO!ATENÇÃO! O congelamento de qualquer produto cárneo deve ser realizado o mais rapidamente possível, mas, em contrapartida, o descongelamento deve ser feito lentamente, para que as características sensoriais e nutricionais da carne sejam mantidas. Figura 5.1. Aspectos sensoriais da carne resfriada Fonte: G1 (2018). exames microbiológicos (pesquisa de Salmonella spp. Coliformes a 30 ºC e a 45 ºC, Contagem Bacteriana Total) e físico-químicos (pH, composição nutricional) dessas carnes. FIQUE LIGADO!FIQUE LIGADO! Saiba mais sobre esse conteúdo acessando o Instagram @gppoa.ufjf Diferentemente do que acontece na conservação pelo frio, o calor apresenta efeito bactericida, ou seja, é capaz de causar a morte bacteriana (dependendo do binômio tempo-temperatura empregado, pode ocasionar a morte de 100 % dos As carnes conservadas pelo frio serão inspecionadas durante a desossa e durante o armazenamento em câmaras frias. Caso necessário, pode-se abrir as embalagens, normalmente 1 % do lote, para coleta de prova e contraprova e realização de testes laboratoriais complementares. MÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOSMÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOS 172 Por outro lado, observa-se que a aplicação de calor à carne pode provocar alterações nas suas características nutricionais e sensoriais que, por sua vez, são preservadas quando esta é conservada pelo frio. Carnes conservadas pelo calorCarnes conservadas pelo calor A cadeia do frio é empregada largamente na indústria de alimentos, tendo em vista que as baixas temperaturas apresentam efeito bacteriostático, ou seja, são capazes de impedir a multiplicação dos microrganismos. microrganismos patogênicos e até 99,9 % dos deteriorantes, sobrevivendo apenas organismos esporulados), o que prolonga substancialmente o prazo de validade do alimento, além de torná-lo muito mais seguro. Diante deste cenário, é possível que o armazenamento desse produto seja feito sob temperatura ambiente, o que é extremamente vantajoso do ponto de vista econômico para a cadeia produtiva. A conserva enlatada é a técnica mais empregada quando se trata de conservação pelo calor em produtoscárneos. Neste caso, o produto é geralmente acondicionado em embalagem metálica estanhada (folha de flandres), mas podem ser utilizadas ainda embalagens de vidro ou de plásticos resistentes ao calor e à umidade, hermeticamente fechada (Figura 5.2), sendo submetido a temperaturas acima de 120 ºC por mais de 15 minutos, não havendo praticamente chance de recontaminação pós-tratamento térmico. A matéria-prima deve ser MÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOSMÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOS 173 Como exemplo destes produtos cárneos tem-se a carne bovina e suína em conserva, fiambre, língua enlatada, rabada enlatada, almondegas, patê e salsicha. É importante destacar que, após aberto, o alimento deve ser retirado da embalagem original, refrigerado e consumido no prazo máximo de três dias. Atualmente, alguns tipos de plásticos resistem a autoclavagem e, por isso, são empregados nessa técnica, considerando o seu menor custo quando comparado com as latas metálicas e com o vidro. Figura 5.2. Composição da lata metálica estanhada utilizada na apertização Fonte: Palmira metalgráfica (2022). carne, curada ou não, condimentada, apertizada (“estéril”) pelo calor e, imediatamente, resfriada. MÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOSMÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOS 174 VOCÊ SABIA Com certeza você já foi orientado a não comprar alimentos cuja lata esteja amassada ou estufada. Mas, você sabe o motivo para isso? As latas metálicas são envernizadas internamente afim de promover a uniformidade e garantir a proteção da embalagem. Quando a lata está amassada pode ter ocorrido um rompimento desse verniz e a consequente abertura de um micro poro, comunicando, assim, o meio externo com o meio interno da embalagem, o que favorece a entrada de microrganismos e a contaminação do alimento, representando um risco à saúde do consumidor. No caso da lata estufada, este é um indicativo de produção de gases em virtude da proliferação de microrganismos anaeróbios no interior da embalagem, geralmente ocasionada por falhas no processo de apertização. O produto cárneo curado é aquele adicionado de nitrito e/ou nitrato de sódio e/ou potássio, substância que tem aspecto semelhante ao sal (pó esbranquiçado). Inicialmente, o seu emprego tinha como objetivo a conservação do alimento, em virtude da sua boa atuação contra microrganismos esporulados anaeróbios, sendo estes justamente os agentes que se proliferam em produtos enlatados. MÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOSMÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOS 175 Com o passar do tempo, esses aditivos passaram a ser utilizados com a finalidade de produzir a coloração rósea característica de alguns produtos cárneos, pois quando submetidos a temperaturas elevadas, o calor atua como catalizador da reação, levando à modificação da coloração do alimento. Portanto, os sais de cura (nitrito e/ou nitrato de sódio e/ou potássio) são muito empregados para a produção de derivados como presunto, apresuntado, mortadela e salsicha tipo Viena, por exemplo. Entretanto, estes aditivos, após ingeridos por meio dos alimentos, conjugam-se com o grupo amina das proteínas e formam as nitrosaminas, as quais são carcinogênicas. Dessa forma, a legislação brasileira estabelece limites para a presença dos sais de cura em produtos cárneos. A Instrução Normativa n. 211, de 1º de março de 2023, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), estabelece os limites de 300mg/kg para nitrato de sódio Consulte a LegislaçãoConsulte a Legislação ou potássio, 150mg/kg de nitrito de sódio ou potássio e 150mg/kg para a combinação de nitrito e nitrato. Em virtude da sua eficiência e segurança do ponto de vista higiênico-sanitário, essa técnica de conservação também é empregada como aproveitamento condicional na indústria. Vale ressaltar que, não necessariamente, todo produto cárneo em conserva é fabricado a partir de matéria-prima carne oriunda de aproveitamento condicional. Em relação à inspeção sanitária das conservas enlatadas, o principal teste que esse tipo de produto sofre é o teste de esterilização. Este consiste na análise de, no mínimo, 1 % do lote, e essas amostras devem permanecer durante 10 dias em sala-estufa a 37 ºC. MÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOSMÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOS 176 Após esse período de armazenamento das amostras, essas são submetidas a avaliações: condição do recipiente, que deve não apresentar nenhum tipo de falha, ferrugem (oxidação por proliferação bacteriana), orifícios (passagem de microrganismos) e amassados (comprometimento da integridade da embalagem); durante a percussão, a embalagem não pode revelar som oco (presença de gás); durante a abertura da lata não pode ocorrer o desprendimento de gases nem a projeção de líquido, e a conserva que toma a forma da lata deve ser retirada em um único bloco; odor, sabor e coloração devem ser próprios de cada alimento. Também pode-se lançar mão de exames microbiológicos e físico-químicos dos produtos. Se alguma das características esperadas para o produto estiverem fora do padrão, ocorre a condenação total do lote. ATENÇÃO!ATENÇÃO! Atualmente, há uma forte tendência da adesão da inspeção com base em risco, que visa identificar os fatores de risco para a proteção da saúde dos consumidores, determinar prioridades e alocar recursos efetivamente e eficientemente (Brasil, 2019). Nesse cenário, considera-se o volume da produção, o tipo de produto, monitorando os pontos críticos de controle e mitigando os riscos, sobretudo para coleta de amostras e realização de testes laboratoriais MÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOSMÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOS 177 Durante a inspeção sanitária desses produtos, deve-se considerar a presença de odor e sabor desagradáveis e anormais; presença de gordura rançosa; aspecto amolecido, úmido ou pegajoso; áreas com coloração anormal (vermelhão, sendo indicativo de proliferação de bactérias halofílicas); e a presença de larvas e parasitas. Se o lote em questão apresentar qualquer uma dessas alterações, este deve ser totalmente condenado. Carnes conservadas pela salgaCarnes conservadas pela salga As carnes conservadas pelo método de salga também são conhecidas como carne seca, carne de sol e charque (Figura 5.3), entretanto, do ponto de vista tecnológico, existem algumas diferenças entre esses três produtos e, mais ainda, existem diferenças regionais e culturais em suas tecnologias de fabricação. O limite de umidade na porção muscular da carne é de 45 % e o resíduo mineral máximo é de 15 %, podendo haver variação de 5 % para mais ou para menos. Figura 5.3. Diferença visual entre as carnes conservadas pela salga Fonte: Qualitá (2022). Na carne bovina salgada e desidratada associam duas técnicas de conservação (salga e desidratação), o que torna o produto mais seguro, todavia, isso pode aumentar o seu custo produtivo. Esse produto pode ser feito a partir de qualquer corte cárneo, entretanto, o mais usual é o emprego de cortes menos nobres. Em suínos o corte mais utilizado é o lombo, que é um corte nobre, mas, em bovinos o corte mais utilizado é a ponta de agulha. MÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOSMÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOS 178 Já os embutidos consistem nos produtos cárneos produzidos a partir de carne, sangue, vísceras comestíveis, curados ou não, condimentos, cozidos ou não, possuindo um envoltório, seja ele natural (bexiga, intestino, esôfago) ou sintético (celulose, silicone). Carnes picadas (produtoCarnes picadas (produto cominuído)cominuído) Entre os produtos cominuídos existem os frescos e congelados e os embutidos. Como exemplo de produto cominuído fresco ou congelado há a carne moída, que é um produto cárneo obtido a partir da moagem de componentes musculares, seguido de imediato resfriamento ou congelamento, ficando a critério da indústria o uso, ou não, de aditivos (BRASIL, 2023). Seu prazo de validade é inferior ao do corte cárneo inteiro em virtude da manipulação sofrida, que é um forte geradorde contaminação. O principal objetivo da categoria de embutidos é dar rendimento ao produto cárneo, agregando valor a matérias-primas de menor valor comercial, tornando- a, ao mesmo tempo, atrativa, apetecível e de fácil conservação. Os embutidos são chamados de semiconservas, pois apresentam prazo de validade maior que o do corte cárneo, mas, inferior ao dos enlatados. Porém, o seu processo de fabricação não assegura a destruição completa da carga microbiana e também não evita a contaminação posterior a sua elaboração. Alguns fatores de conservação associados a esses produtos e que permitem o seu maior prazo de validade são as substâncias antimicrobianas (sal, nitrito, nitrato de sódio ou potássio), especiarias, MÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOSMÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOS 179 Tem-se como exemplo de embutido maturado o salaminho (Figura 5.4), que é o único embutido fermentado, com utilização de bactérias ácido láticas e carboidratos, que são adicionados intencionalmente durante a fabricação do produto. Embutidos maturados são aqueles produtos que sofrem mudanças microbiológicas, bioquímicas e físico-químicas por meio de processos tecnológicos, que fornecem aroma, sabor, cor e aspecto característico, sendo a maturação realizada em câmara com temperatura e umidade controlada. As principais mudanças sofridas pelo produto maturado são alteração de: pH (no início do processo o pH da massa varia de 6,2 a 6,5 e ao final do processo, em virtude da produção de ácido lático atinge o valor de 4,6); umidade (enquanto produtos frescos apresentam cerca de 70 a 80 % de umidade, produtos maturados apresentam 16 %, tendo em vista que o produto é submetido a processos de desidratação); condimentos, corantes, tripa natural ou sintética (barreira física), eliminação do ar em embalagens sob baixa tensão de oxigênio, desidratação, defumação, cozimento e aditivos. Figura 5.4. Tipos diferentes de salaminho Fonte: Freepik (2022). aumento da concentração dos constituintes sólidos; degradação proteica, modificação dos ácidos graxos com liberação de substâncias aromáticas; diminuição da contagem total de microrganismos; e a queda progressiva da contagem de coliformes. MÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOSMÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOS 180 As alterações zooparasitárias consistem na presença de larvas e/ou moscas (Figura 5.5) sobre o alimento e também incluem excrementos de ratos e baratas, o próprio inseto e ácaros. Alterações em produtos cárneosAlterações em produtos cárneos As alterações em produtos cárneos são de cunho não intencional, ou seja, são acidentais e, na maior parte das vezes, têm como principais causas a má qualidade da matéria-prima, falta de higiene e limpeza durante a elaboração dos produtos, assim como estocagem, transporte e distribuição inadequados. Figura 5.5. Presença de miíase em carne bovina Fonte: Folha ES (2020). O ranço oxidativo, que ocorre principalmente em produtos ricos em gordura, sendo catalizado pelo calor, luz, oxigênio e metais pesados, faz com que o alimento apresente alterações sensoriais indesejadas (Figura 5.6), mas geralmente sem comprometimento da sua segurança. Figura 5.6. Ranço oxidativo em carne bovina Fonte: Folha política (2017). A putrefação decorre da carga microbiana (principalmente, coliformes) do alimento, gerando alterações sensoriais, nutricionais além de comprometer a sua segurança. É um indicativo de qualidade do produto, que pode apresentar cor cinzenta a esverdeada (Figura 5.7), odor putrefato, sabor picante e superfície visco-mucosa. Figura 5.7. Putrefação em corte cárneo bovino Fonte: Informa cidade (2018). MÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOSMÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOS 181 Para todos os tipos de alteração mencionados anteriormente o critério de julgamento é condenação total e o destino é a Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). O amaciamento da pasta, alteração mais frequente em embutidos cozidos, como mortadela e salsicha, tem como causas falhas tecnológicas que incluem excesso de gordura, trituração excessiva no cutter, uso excessivo de vísceras (pâncreas e estômago contêm enzimas proteolíticas) e carne oriunda de animais estressados (carne PSE). Em causas microbiológicas, tem-se a presença de Bacillus spp. Adulterações em produtosAdulterações em produtos cárneoscárneos Diferentemente das alterações, as adulterações acontecem de forma intencional e, normalmente, estão associadas a fatores econômicos. Em produtos cárneos as adulterações mais comuns estão correlacionadas com a adição de algum componente não permitido ou a adição em excesso de algum componente que é permitido. Leitura ComplementarLeitura Complementar TIBOLA, C. S.; SILVA, S. A.; DOSSA, A. A.; PATRÍCIO, D. I. Economically motivated food fraud and adulteration in brazil: incidents and alternatives to minimize occurrence. Journal of Food Science, v. 83, n. 8, p. 2028-2038, 2018. A adição excessiva de vísceras também é uma prática frequente que visa aumentar o lucro da indústria. Sua detecção é difícil, devendo-se lançar mão de exames microscópicos. MÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOSMÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOS 182 A adição de água é uma adulteração bastante comum considerando que este é o ingrediente mais barato que a indústria de alimentos utiliza. Entretanto, a adição excessiva de água pode acarretar em um amaciamento da pasta. Dessa forma, para manter a textura da massa, normalmente A adição exagerada de tecido conjuntivo e cartilagem é a adulteração mais frequente em produtos cárneos. A detecção dessa adulteração acontece por meio da dosagem de triptofano (tecido muscular) e hidroxiprolina (colágeno). Já essa adulteração é associada a adição de substâncias que formam géis, como gelatina, amido, ágar e metil-celulose. O limite máximo de adição de água para embutidos não cozidos é de 3 % e para embutidos cozidos é de 10 %. A detecção dessa adulteração acontece por meio da determinação de umidade pelo teste de umidade em estufa a 105 ºC. A adição exagerada de amido também é uma adulteração recorrente, considerando que tal ingrediente apresenta efeito ligante, e auxilia na textura da massa. Os limites máximos de adição de amido são de 2 % para salsicha, 5 % para mortadela e 10 % para o patê. a dosagem de aminoácidos pode ser realizada por meio do teste de cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE ou HPLC), sendo este um teste qualitativo e quantitativo. A adição exagerada de proteína de soja tem como objetivo a diminuição do custo do produto, entretanto, a legislação determina os limites máximos para cada tipo de derivado cárneo. A detecção dessa adulteração pode ser realizada por meio do teste de cromatografia líquida de alta eficiência. Para todos os tipos de adulteração mencionados anteriormente o critério de julgamento é condenação total e o destino dos produtos cárneos é a Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (graxaria). MÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOSMÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOS 183 A adição de aditivos não permitidos ou em teores elevados objetiva mascar o produto e controlar a contaminação microbiana nesse alimento. A legislação determina os limites máximos para cada aditivo em cada tipo de produto cárneo, mas, em casos de suspeita de adulteração, pode-se lançar mão do teste de CLAE para identificar e quantificar o aditivo presente no produto. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), por meio das Instruções Normativas n. 211/2023 e n. 221/2023, estabelece os aditivos alimentares autorizados para utilização em carnes e produtos cárneos. Consulte a LegislaçãoConsulte a Legislação InspeçãoInspeção Durante a inspeção são realizados exames externo, interno e laboratoriais. O exame externo consiste na avaliação do rótulo (identificação do produto), embalagem, formato e coloração, consistência e textura, aroma, palpação e percussão e verificação da ocorrência de estufamento. No exameinterno, ao corte, observa-se características da superfície como corpo, proporção de gordura, tecidos fibrosos, adesividade do envoltório (desprendimento dos componentes) e cocção. Os exames laboratoriais avaliam a composição nutricional do alimento e características microbiológicas, sendo descritos de forma mais detalhada nos RTIQ de cada produto. Caros alunos, Encerramos o conteúdo de Inspeção de Produtos Cárneos. O Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) dessa disciplina está repleto de materiais para auxiliá-lo no aprofundamento dos seus estudos e você pode acessar a Plataforma de EAD da UFJF pelo link https://ead.ufjf.br/. Não deixe de conferir! MÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOSMÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOS 184 Os exercícios de fixação são uma excelente forma de verificar se você está assimilando corretamente o conteúdo abordado em aula. As questões são de múltipla escolha e versam sobre o tema: Inspeção de Produtos Cárneos. O formulário só poderá ser respondido uma única vez, portanto, tenha atenção durante a execução da atividade. Após a finalização do questionário você contará com feedbacks orientativos que poderão ajuda-lo no momento do estudo. Exercícios de FixaçãoExercícios de Fixação MÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOSMÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOS 185 BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Manual do DIPOA para cálculo do risco estimado associado a estabelecimentos. 1. ed. Brasília: DIPOA, 2019. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/inspecao/produtos-animal/arquivos-publicacoes-dipoa/manual-do- dipoa-para-calculo-do-risco-estimado-associado-a-estabelecimentos. Acesso em: 03 abr. 2022. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Instrução Normativa n. 211, de 1º de março de 2023. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, edição 46, seção 1, p. 110, 08 mar. 2023. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/instrucao-normativa-in-n-211-de-1-de-marco-de-2023- 468509746. Acesso em: 12 mar. 2023. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Instrução Normativa n. 221, de 17 de abril de 2023. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 24 abr. 2023. Disponível em: http://antigo.anvisa.gov.br/documents/10181/6372355/IN_221_2023_.pdf/29906a96-6634-47f4-b717- f8df24b6a7e5. Acesso em: 26 abr. 2023. FOLHA ES. Carne com larvas e pelos é apreendida em supermercado de São Mateus. 2020. Disponível em: https://www.folhadoes.com/noticia/policia-espirito-santo/59823/carne-com-larvas-pelos-apreendida- supermercado-sao-mateus. Acesso em: 03 abr. 2022. FOLHA POLÍTICA. Frigoríficos investigados vendiam carne no Brasil e no exterior. 2017. Disponível em: https://www.folhapolitica.org/2017/03/frigorificos-investigados-vendiam-carne.html. Acesso em: 03 abr. 2022. FREEPIK. Diferentes tipos de salame nas placas sobre um fundo de madeira. 2022. Disponível em: https://br.freepik.com/fotos-premium/diferentes-tipos-de-salame-nas-placas-sobre-um-fundo-de- madeira_13125576.htm. Acesso em: 03 abr. 2022. G1 - GLOBO. Carne estragada: saiba como identificar e quais substâncias são usadas para preservar o alimento. 2018. Disponível em: https://g1.globo.com/bemestar/noticia/carne-estragada-saiba-como-identificar-e- quais-substancias-sao-usadas-para-preservar-o-alimento.ghtml. Acesso em: 03 abr. 2022. INFORMA CIDADE. TCE encontra carne vencida em creche de Valença. 2018. Disponível em: https://www.informacidade.com.br/tce-encontra-carne-vencida-em-creche-de-valenca/. Acesso em: 03 abr. 2022. PALMIRA METALGRÁFICA. Lata de aço: a melhor opção para acondicionar produtos. 2022. Disponível em: https://www.palmira.com.br/lata-de-aco-a-melhor-opcao-para-acondicionar-produtos/. Acesso em: 03 abr. 2022. QUALITÁ. As diferenças entre carne de sol, carne seca e charque + dicas para prepará-las. 2022. Disponível em: https://www.casapraticaqualita.com.br/noticia/as-diferencas-entre-carne-de-sol-carne-seca-e- charque-dicas-para-prepara-las_a2418/1. Acesso em: 03 abr. 2022. ReferênciasReferências MÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOSMÓDULO 05 | INSPEÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOS 186 BibliografiaBibliografia Várias dessas bibliografias estão presentes nas bibliotecas da UFJF em livros físicos e em e-books. Aproveite! BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa n. 06 de 29 de dezembro de 2006. Regulamento técnico de atribuição de aditivos e seus limites das seguintes categorias de alimentos 8: carnes e produtos cárneos. Diário Oficial da República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 29 dez. 2006. BRASIL. Presidência da República. Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal. Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal. Aprovado pelo Decreto n. 30.691 de 29 de março de 1952, alterado pelos Decretos n. 1.225 de 25 de junho de 1962, Decreto n.1236 de 02 de setembro de 1994, Decreto n.1812 de 08 de fevereiro de 1996, Decreto n.2244 de 04 de junho de 1997, Decreto n.9.013 de 29 de março de 2017, Decreto n.9069 de 31 de maio de 2017, Decreto n.10468 de 18 de agosto de 2020. Diário Oficial da República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 19 ago. 2020. PARDI, M.C.; SANTOS, I. F.; SOUZA, E. R.; PARDI, H.S. Ciência, higiene e tecnologia da carne. 2. ed. Goiânia: Editora da UFG, 2007. v.2. 526p. PINTO, P. S. A. Inspeção e higiene de carnes. Viçosa: UFV, 2008. 389p. TERRA, N. N.; TERRA, A. B. M.; TERRA, L. M. Defeitos nos produtos cárneos: origens e soluções. São Paulo: Varela, 2004. 88p. IDENTIFICAÇÃO E INSPEÇÃOIDENTIFICAÇÃO E INSPEÇÃO DE CARNES ANORMAISDE CARNES ANORMAIS Figura 6.1. Feto em gestação adiantada Fonte: Agronomía fitotecnia y más (2020). São consideradas carnes fetais aquelas provenientes de animais abatidos em gestação adiantada ou parto recente (Figura 6.1). Esse tipo de carne apresenta elevada umidade, baixo teor proteico, perda excessiva de água durante o cozimento, o animal apresenta unhas moles e amareladas, tecido muscular mole e viscoso, há presença de mecônio e ausência de leite MÓDULO 06 | IDENTIFICAÇÃO E INSPEÇÃO DE CARNES ANORMAISMÓDULO 06 | IDENTIFICAÇÃO E INSPEÇÃO DE CARNES ANORMAIS 188 Carnes anormais são aquelas que, por algum motivo, fogem do padrão de normalidade, no que se refere às características sensoriais (cor, aroma, sabor, textura) e/ou às características nutricionais (proteína, lipídeos, vitaminas, minerais), ou seja, são carnes que apresentam mau aspecto ou que não possuem princípios nutritivos suficientes. Essas alterações são comuns na rotina de inspeção de carnes, principalmente em bovinos, cujo método e tempo de produção corroboram para isso. Além disso, as alterações podem ou não estarem associadas a ocorrência de enfermidades e, por isso, tornam-se mais importantes ainda. IntroduçãoIntrodução Carnes insuficientes são aquelas que pecam do ponto de vista nutricional, sendo classificadas em fetais, imaturas, magras e caquéticas. Carnes insuficientesCarnes insuficientes no canal alimentar. O critério de julgamento é condenação total e o destino é a Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (Graxaria). Figura 6.2. Bezerro recém-nascido Fonte: CPT (2022). Carnes magras são oriundas de animais magros, mas livres de qualquer processo patológico (Figura 6.3). Nesse caso, o abate de ser de emergência mediato, ou seja, após o abate convencional, a fim de se precaver de possíveis casos de enfermidades ainda não pronunciadas. A carcaça apresenta pouca gordura, baixo teor de vitaminas e minerais, musculatura MÓDULO 06 | IDENTIFICAÇÃO E INSPEÇÃO DE CARNES ANORMAISMÓDULO 06 | IDENTIFICAÇÃO E INSPEÇÃO DE CARNES ANORMAIS 189 Carnes imaturas são aquelas provenientes de animais com até 30 dias de vida extrauterina, entretanto, o abate desses animais deve ser evitado (Figura 6.2). Assim como as carnes fetais, também apresentam elevada umidade, baixo teor proteico, perda excessiva de água duranteo cozimento, unhas moles e amareladas, tecido muscular As carnes caquéticas, diferentemente das carnes magras, são oriundas de animais extremamente magros (emagrecimento progressivo) (Figura 6.4) e estão associadas a algum tipo de enfermidade, seja parasitoses intensas, neoplasias ou até mesmo tuberculose (as chamadas doenças crônicas-caquetizantes). mole e viscoso. O critério de julgamento é condenação total e o destino é a Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (Graxaria). Figura 6.3. Animal magro Fonte: Nogueira et al. (2015). consistente, escura e dura, sendo comum em casos dos chamados animais de refugo na espécie suína, por exemplo. Esse tipo de carne não é utilizado para cortes, portanto, o critério de julgamento é aproveitamento condicional com destino à esterilização pelo calor. Figura 6.4. Animal caquético Fonte: Canal Rural (2014). O abate desses animais deve ser evitado, porém, caso aconteça, para evitar a contaminação da sala de abate, esses animais devem ser abatidos ao final do abate convencional, ou seja, devem sofrer abate de emergência mediato. As carcaças caquéticas podem ser oriundas de hidrocaquexia, em que a musculatura apresenta-se mole, fria a úmida, e o sangue aquoso (carcaça "pingando”), ou podem ser oriundas da chamada caquexia seca em que o tecido adiposo apresenta-se esbranquiçado e com aspecto de farinha, sendo mais comum em ovinos. Para ambos os casos o critério de julgamento é condenação total e o destino é a (Graxaria). MÓDULO 06 | IDENTIFICAÇÃO E INSPEÇÃO DE CARNES ANORMAISMÓDULO 06 | IDENTIFICAÇÃO E INSPEÇÃO DE CARNES ANORMAIS 190 A carne vermelha (Figura 6.5) é decorrente de um processo de sangria deficiente, animais que foram mortos, mas que não foram sangrados, ou que morreram por sufocamento. Assumem essa coloração avermelhada os músculos, vísceras, pulmões, fígado e rins, que ficam com sangue do ocorre normalmente, vasos estão congestos e tumefeitos e cavidade abdominal com odor forte e coloração esverdeada (proliferação microbiana). O critério de julgamento é aproveitamento condicional com destino à esterilização pelo calor. As carnes repugnantes são aquelas que pecam do ponto de vista sensorial e, em muitos casos, não influenciam na segurança do produto, ou seja, não são capazes de causar nenhum malefício à saúde do consumidor. Em relação à coloração, a carne pode-se apresentar vermelha, amarronzada (vermelhão), amarela, preta ou com manchas. Carnes repugnantesCarnes repugnantes Figura 6.5. Carcaça avermelhada em virtude de sangria ineficiente Fonte: Veterinarios matadero (2003a) O vermelhão (Figura 6.6) é comum em peças salgadas em que ocorre a proteólise superficial e, de forma consequente, o mau cheiro. Nesse caso, pode haver, inclusive, a presença de bactérias halofílicas, tanto deteriorantes quanto patogênicas. O critério de julgamento é condenação total e o destino é a Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (Graxaria). MÓDULO 06 | IDENTIFICAÇÃO E INSPEÇÃO DE CARNES ANORMAISMÓDULO 06 | IDENTIFICAÇÃO E INSPEÇÃO DE CARNES ANORMAIS 191 A adipoxantose alimentar (Figura 6.7) ocorre em virtude da ingestão de alimentos que contenham altos teores de pigmentos carotenoides, como é o caso do capim Jaraguá. Nessa alteração, o tecido adiposo e o tecido conjuntivo assumem coloração amarelada. Como não se trata de uma enfermidade, após a carcaça voltar à coloração normal essa pode ser liberada para consumo direto. Há também a adipoxantose senil, comum em animais mais velhos, em que os tecidos adiposo e conjuntivo assumem coloração amarelada em A coloração amarela pode ser decorrente de adipoxantose ou de icterícia, e é extremamente importante saber diferenciar ambos os casos, considerando que, os critérios de julgamento e destino são diferentes em cada um dos casos. Figura 6.6. Carne salgada com coloração vermelho escura em alguns pontos Fonte: Cozinha bruta (2016). Figura 6.7. Carcaça com adipoxantose Fonte: Veterinarios matadero (2003b). virtude também do acúmulo de pigmentos carotenoides ocasionado pela própria idade do animal. Em contrapartida, na icterícia (Figura 6.8) as vísceras, nervos e mucosas assumem coloração amarela, a carcaça apresenta odor fecal repugnante e a carne fica com sabor amargo e textura amolecida. Como este caso é decorrente de um processo infeccioso (alterações hepáticas, leptospirose e outros), o critério de julgamento é condenação total e o destino é a Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (Graxaria). Além dos aspectos macroscópicos, a adipoxantose também deve ser diferenciada da icterícia por meio do teste rápido com solvente orgânico, em que a carne MÓDULO 06 | IDENTIFICAÇÃO E INSPEÇÃO DE CARNES ANORMAISMÓDULO 06 | IDENTIFICAÇÃO E INSPEÇÃO DE CARNES ANORMAIS 192 Figura 6.9. Carcaça com melanose Fonte: Veterinarios matadero (2010). A coloração preta (Figura 6.9) na carcaça pode ser causada tanto por melanoma quanto por melanose. Em ambos os casos, o critério de julgamento é condenação total e o destino é a Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (Graxaria). As machas por microrganismos são decorrentes do mal acondicionamento da carne (temperaturas e/ou tempos inadequados), câmaras frias com temperatura e umidade desreguladas, condensação e higienização do local de acondicionamento comprometida, o Figura 6.8. Carcaça ictérica Fonte: Dipósit digital de documents de la UAB (1992). com adipoxantose deve voltar à coloração normal após ser imersa em solução alcoólica. Outra forma é a exposição à luz branca, que irá oxidar o pigmento carotenoide em retineno, o qual é incolor. que pode acarretar na formação, mais comumente, de manchas de coloração negra (Aspergillus niger) ou de coloração esverdeada (Aspergillus glaucum, Penicillium spp., Pseudomonas evanogens). O critério de julgamento é condenação total e o destino é a Unidade de Beneficiamento de Produtos Não Cometíveis (Graxaria). Em relação ao cheiro, a carne pode apresentar odor butírico, cetônico, medicamentoso, excremencial, alimentício, sexual, urinoso e amoniacal. Essa é uma característica difícil de eliminar da carne e acaba influenciando muito no sabor da mesma. MÓDULO 06 | IDENTIFICAÇÃO E INSPEÇÃO DE CARNES ANORMAISMÓDULO 06 | IDENTIFICAÇÃO E INSPEÇÃO DE CARNES ANORMAIS 193 O odor cetônico é decorrente de infecções pós-parto (febre vitular), a partir da formação de corpos cetônicos. O critério de julgamento é condenação total e o destino é a Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (Graxaria). O odor butírico é causado por proteólise de origem bacteriana e também por carbúnculo sintomático (Clostridium chauvoei). O critério de julgamento é condenação total e o destino é a Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (Graxaria). O odor medicamentoso é comum em animais submetidos a tratamentos prolongados ou aqueles que permanecem em ambientes com altas concentrações de éter, clorofórmio e amônia previamente ao abate. O critério de julgamento é condenação total e o destino é a Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (Graxaria). O odor excremencial está correlacionado com a presença de fezes, sendo causado em virtude da evisceração tardia, em períodos superiores a 40 minutos da morte do animal, podendo estar associado também a degeneração hepática e icterícia. O critério de julgamento é condenação total e o destino é a Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (Graxaria). O odor alimentício é comum em animais que ingerem plantas, como é o caso de aves caipiras. Em suínos, está associado ao consumo de farinha de peixe, que provoca o cheiro de pescado na carne do animal. O critério de julgamento é condenação total e o destino é a Unidade de beneficiamento de produtos não comestíveis (Graxaria). O odor sexual é muitas vezes natural em animais não- castrados, criptorquidas e em caprinos (presença do ácido caprínico), enquanto o odor urinoso é causado por cio, nefrite, MÓDULO 06 | IDENTIFICAÇÃO E INSPEÇÃO DE CARNESANORMAISMÓDULO 06 | IDENTIFICAÇÃO E INSPEÇÃO DE CARNES ANORMAIS 194 Por fim, para casos de carne com odor amoniacal, essas devem ser submetidas a provas de fervura ou cocção e resfriamento a 4 ºC por 24 horas, permitindo assim a volatilização da amônia. O critério de julgamento é aproveitamento condicional com destino à fabricação de derivados cozidos, na proporção de 1:20. hidronefrose, uremia e cálculos urinários. De acordo com o RIISPOA (2020), a carne pode receber como critério de julgamento a destinação industrial. Nessa situação, a indústria determina qual será o método de aproveitamento condicional, desde que esse seja capaz de garantir a segurança do alimento. Leitura ComplementarLeitura Complementar FERNANDES, A. R.; PENA, M. S.; CARMO, M. A.; COUTINHO, G. A.; BENEVENUTO JÚNIOR, A. A. Desempenho, características de carcaça e qualidade de carne de suínos sob castração cirúrgica ou imunológica. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v. 18, n. 2, p. 303-312, 2017. Caros alunos, Encerramos o conteúdo de Identificação e Inspeção de Carnes Anormais. O Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) dessa disciplina está repleto de materiais para auxiliá-lo no aprofundamento dos seus estudos e você pode acessar a Plataforma de EAD da UFJF pelo link https://ead.ufjf.br/. Não deixe de conferir! MÓDULO 06 | IDENTIFICAÇÃO E INSPEÇÃO DE CARNES ANORMAISMÓDULO 06 | IDENTIFICAÇÃO E INSPEÇÃO DE CARNES ANORMAIS 195 Os exercícios de fixação são uma excelente forma de verificar se você está assimilando corretamente o conteúdo abordado em aula. As questões são de múltipla escolha e versam sobre o tema: Identificação e Inspeção de Carnes Anormais. O formulário só poderá ser respondido uma única vez, portanto, tenha atenção durante a execução da atividade. Após a finalização do questionário você contará com feedbacks orientativos que poderão ajuda-lo no momento do estudo. Exercícios de FixaçãoExercícios de Fixação MÓDULO 06 | IDENTIFICAÇÃO E INSPEÇÃO DE CARNES ANORMAISMÓDULO 06 | IDENTIFICAÇÃO E INSPEÇÃO DE CARNES ANORMAIS 196 AGRONOMÍA, FITOTECNIA Y MÁS. Plancentación bovina: feto bovino (macho) y cordón umbilical unido. 2020. Disponível em: https://es-la.facebook.com/agrofitoymas/photos/plancentaci%C3%B3n-bovina-feto-bovino- macho-y-cord%C3%B3n-umbilical-unido-vasos-sangu%C3%ADneos/2592356910866735/. Acesso em: 08 abr. 2022. CANAL RURAL. Saiba quais os sintomas e tratamento para tripanossomose bovina. 2014. Disponível em: https://www.canalrural.com.br/sites-e-especiais/saiba-quais-sintomas-tratamento-para-tripanossomose-bovina- 7978/. Acesso em: 08 abr. 2022. COZINHA BRUTA. Como fazer carne-de-sol em casa. 2016. Disponível em: https://www.cozinhabruta.com/single-post/2016/10/31/Como-fazer-carne-de-sol-em-casa-%C3%A9-muito- f%C3%A1cil. 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Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal. Aprovado pelo Decreto n. 30.691 de 29 de março de 1952, alterado pelos Decretos n. 1.225 de 25 de junho de 1962, Decreto n.1236 de 02 de setembro de 1994, Decreto n.1812 de 08 de fevereiro de 1996, Decreto n.2244 de 04 de junho de 1997, Decreto n.9.013 de 29 de março de 2017, Decreto n.9069 de 31 de maio de 2017, Decreto n.10468 de 18 de agosto de 2020. Diário Oficial da República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 19 ago. 2020. PARDI, M.C.; SANTOS, I.F.; SOUZA, E. R.; PARDI, H.S. Ciência, higiene e tecnologia da carne. 2. ed. Goiânia: Editora da UFG, 2006. v.1. 624p. ENFERMIDADESENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AOTRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOSHOMEM POR PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL COMDE ORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES EÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOSPRODUTOS DERIVADOS A segurança de alimentos (Food Safety) consiste em oferecer um alimento seguro à população, ou seja, é garantir, por meio do emprego de boas práticas, que o alimento não causará efeitos adversos à saúde do consumidor quando este for preparado e/ou consumido de acordo com o uso pretendido. Envolve conceitos relacionados à qualidade das matérias-primas, perigos (biológicos, químicos e físicos), processamento, utilização dos alimentos e a contaminação cruzada. Em contrapartida, a segurança alimentar (Food Security) fundamenta-se, principalmente, na garantia e direito de acesso ao alimento por todas as pessoas, em quantidades e valores nutricionais apropriados. Envolve políticas públicas, acesso, pobreza, valor nutricional, disponibilidade, mudanças climáticas e qualidade higiênico-sanitária dos alimentos. MÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DEMÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOSORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOS 198 Figura 7.1. Diagrama correlacionando segurança alimentar, qualidade de alimentos e segurança de alimentos Fonte: Adaptado de Sanity consultoria (2019). A figura 7.1 correlaciona, esquematicamente, os aspectos de segurança alimentar, qualidade de alimentos e segurança de alimentos. IntroduçãoIntrodução SEGURANÇA ALIMENTARSEGURANÇA ALIMENTAR QUALIDADE DE ALIMENTOSQUALIDADE DE ALIMENTOS SEGURANÇA DE ALIMENTOSSEGURANÇA DE ALIMENTOS Ausência de perigos químicos, físicos e microbiológicos Cor Aparência Crocância Sabor Cheiro Firmeza Aspectos nutricionais Aspectos sensoriais Solidariedade Disponibilidade permanente Quantidade suficiente Sustentabilidade Acesso regular As Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar (DTHA) consistem em uma síndrome originada pela ingestão de alimentos ou água que contenham agentes etiológicos em quantidades que afetam a saúde do consumidor, ou seja, são doenças originadas pelo consumo de alimentos contaminados, no mínimo, com a chamada dose infectante. MÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DEMÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOSORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOS 199 ATENÇÃO!ATENÇÃO! As DTHA são classificadas em três tipos de acordo com o agente etiológico: No quadro de infecção alimentar, o microrganismoé o responsável por causar a doença (ex. salmonelose). Já no quadro de intoxicação alimentar, a toxina produzida pelos microrganismos é a responsável por causar a doença (ex. intoxicação estafilocócica). E, por fim, a toxinfecção alimentar, por sua vez, caracteriza-se pela ingestão do alimento contendo os microrganismos, os quais irão produzir toxinas dentro do corpo do hospedeiro e essa será responsável por desencadear a doença (ex. clostridiose). Caracterizam-se por geralmente apresentarem curto período de incubação e os sinais clínicos envolverem o canal alimentar, em que o indivíduo poderá apresentar diarreia, náuseas, vômito, dor abdominal e mal-estar geral. Para ser definido como surto de DTHA é necessário que duas ou mais pessoas apresentem os mesmos sinais/sintomas após ingerirem alimento e/ou água da mesma origem. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar (DTHA) possuem elevada prevalência mundial, sendo responsáveis por altíssimo número de mortes em todo o mundo, caracterizando-se como uma importante questão de saúde pública, considerando que acomete, MÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DEMÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOSORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOS 200 principalmente, indivíduos imunossuprimidos, como idosos e crianças. Tal situação gera uma série de prejuízos para as indústrias de alimentos, rede de distribuição e, principalmente, para os consumidores. O tipo de alimento envolvido auxilia no diagnóstico, pois, cada tipo de agente patogênico tem uma maior ocorrência em um tipo de alimento. Como consequência do correto diagnóstico das DTHA (com identificação correta do tipo e agente causador) consegue-se estabelecer um plano de tratamento FIQUE LIGADO!FIQUE LIGADO! Saiba mais sobre esse conteúdo acessando o Instagram @gppoa.ufjf adequado, bem como adotar medidas corretivas que impeçam a contaminação do alimento. Além disso, determinar o local de consumo do alimento também é fundamental, avaliando se as condições de conservação do mesmo estavam adequadas ou não. Esse processo é chamado de investigação epidemiológica. Doenças de transmissãoDoenças de transmissão hídrica e alimentarhídrica e alimentar Estudos da OMS revelam que as DTHA são responsáveis por mais de 420 mil mortes mundiais por ano, das quais um terço são crianças. Somente no continente americano, 77 milhões de pessoas são acometidas por ano e 9 mil casos terminam em óbito, enquanto 31 milhões de crianças são acometidas por ano e 2 mil desses casos terminam em óbito. MÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DEMÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOSORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOS 201 A Organização Pan Americana de Saúde relata que existem 355 zoonoses descritas, sendo que 95 patógenos causadores de tais zoonoses são transmitidos por alimentos, o que corresponde a 27 % do total. E, ainda, 95 % das doenças diarreias são DTHA. Dados dos Estados Unidos demonstram que 1 em cada 6 americanos são acometidos por DTHA anualmente, totalizando 48 milhões de casos/ano, dos quais, 3.000 culminam em morte. O gráfico que ilustra a distribuição dos surtos de DTHA no Brasil (Figura 7.2) demonstra que a maior parte dos casos é diagnosticado por meio dos seus aspectos clínico-epidemiológicos, sem que sejam realizados, por exemplo, exames laboratoriais. Isso explica o fato de mais de 75 % dos microrganismos envolvidos nos surtos alimentares no país não serem identificados (Figura 7.3). Essas informações contrastam com as informações brasileiras (Brasil, 2024), em que no ano de 2023 houve 1162 surtos envolvendo ao todo 19.671 indivíduos, dos quais somente 31 vieram a óbito. Tais dados demonstram um reflexo nítido da subnotificação nacional. A vigilância epidemiológica brasileira dos surtos de DTHA teve seu início em 1999 e suas atividades se concentram no estudo de como as doenças se distribuem pela população, por meio da investigação. Entretanto, a subnotificação dessas doenças ainda dificulta muito esse processo. Um outro ponto interessante, ainda sobre a distribuição dos surtos, é que há uma grande porcentagem dos casos que são considerados inconclusivos ou ignorados. Essa situação é um reflexo da fragilidade do sistema de saúde, bem como dos seus profissionais, que se demonstram, em sua maioria, incapacitados para atuar de forma efetiva quando o assunto é DTHA. Isso impacta diretamente nas formas de prevenção, controle e tratamento dessas enfermidades. Os dados mais atualizados (Figura 7.4) apontam que a Escherichia coli (34,8 %) é o principal agente incriminado nos surtos de DTHA, seguido de Staphylococcus spp. (9,7 %) e Salmonella spp. (9,6 %). Apesar das causas bacterianas serem as mais comuns (84 %), as DTHA também podem ser causadas por vírus (norovírus, rotavírus). MÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DEMÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOSORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOS 202 Figura 7.2. Distribuição dos surtos de DTHA no Brasil por critério de confirmação (2014-2023*) Fonte: Brasil (2024). Figura 7.3. Microrganismos responsáveis por surtos alimentares no Brasil (2007-2016) Fonte: Brasil (2016). n= 6.422 MÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DEMÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOSORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOS 203 Figura 7.4. Distribuição dos agentes etiológicos mais identificados nos surtos de DTHA no Brasil (2014-2023*) Fonte: Brasil (2024). Figura 7.5. Distribuição dos surtos de DTHA no Brasil por local de ocorrência (2014-2023*) Fonte: Brasil (2024). Os dados demonstram (Figura 7.5), ainda, que, diferentemente do que o senso comum acredita, o local de maior ocorrência das DTHA são as próprias residências (34 %), reforçando a necessidade do emprego das boas práticas de manipulação durante o preparo e o consumo dos alimentos. Em se tratando de alimentos incriminados (Figura 7.6), os produtos de origem animal representam cerca de 20 a 25 % dos casos, muito em virtude da manipulação excessiva, acondicionamento inadequado e perecibilidade desses alimentos, fazendo com que estes representem um risco potencial para a veiculação de microrganismos. MÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DEMÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOSORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOS 204 Figura 7.6. Distribuição dos alimentos incriminados em surtos de DTHA no Brasil (2014-2023*) Fonte: Brasil (2024). Leitura ComplementarLeitura Complementar SIRTOLI, D. B.; COMARELLA, L. O papel da vigilância sanitária na prevenção das doenças transmitidas por alimentos (DTA). Revista Saúde e Desenvolvimento, v. 12, n. 10, p. 197-209, 2018. Contaminação dos alimentosContaminação dos alimentos Os alimentos, de um modo geral, podem conter microrganismos patogênicos, deteriorantes, contaminantes ambientais (agrotóxicos, elementos tóxicos, pesticidas), compostos originados do armazenamento (micotoxinas) e aditivos (nitrito e nitrato de sódio ou potássio) que podem promover, ou não, alterações no alimento. Em alguns casos, mesmo com a contaminação, pode não haver nenhuma alteração visível no alimento e, assim, torna-se mais fácil a ocorrência das DTHA. Leitura ComplementarLeitura Complementar MATEUS, L. B. O.; MACHADO, R. A.; MARICATO, E. Aspectos epidemiológicos e fatores de risco das Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar no Brasil no período de 2007 a 2022. In: COSTA, A. C. M. S. F. et al. (org.). Internacional de SaúdeÚnica (Interface Mundial). 7. ed. Recife: Even3 Publicações, 2024, p. 776- 787. MÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DEMÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOSORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOS 205 Contaminação da carneContaminação da carne Os microrganismos autóctones são aqueles que estão presentes no organismo animal sem causar nenhum tipo de prejuízo. Entretanto, quando esse organismo entra em um estado de imunossupressão, os microrganismos, que já estão presentes nele, tornam-se capazes de causar enfermidade. No caso da carne, essa tem como um dos principais patógenos a Salmonella spp., que é autóctone para suínos e frangos; Listeria monocytogenes, cuja permanência pode ocorrer em utensílios e equipamentos; Escherichia coli autóctone para bovinos; Mycobacterium spp (tuberculose); Brucella spp (brucelose); Bacillus anthracis (carbúnculo hemático), em que muitas das vezes o animal já está contaminado antes da sua chegada no abatedouro frigorífico. A transmissão de doenças entre os animais antes da chegada ao abatedouro frigorífico (endógena) ocorre de maneira natural, pelas vias digestiva, aerógena, por vetores ou por contato. Como microrganismos causadores de contaminação da carne pós-abate (exógena) pode- se citar Vibrio cholerae (cólera), Escherichia coli (colibacilose) e Staphylococcus spp. (estafilococose), cujos reservatórios são exógenos ao alimento. Para proporcionar a contaminação do alimento, é necessário que haja uma determinada carga microbiana, condições ideais de crescimento (tempo, temperatura, umidade, nutrientes) e proliferação dos agentes. HospedeiroHospedeiro AgenteAgente AmbienteAmbiente Figura 7.7. Tríade de Leavell-Clark Fonte: Adaptado de Leavell; Clark (1976). MÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DEMÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOSORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOS 206 A ocorrência de uma doença, por sua vez, é baseada na multicausalidade, ou seja, na junção de uma série de fatores que propiciam a sua ocorrência. Leavell e Clark (1976) propuseram que para que ocorra o desenvolvimento de uma enfermidade seriam necessários três elementos, denominados de Tríade de Leavell-Clark (Figura 7.7), sendo eles o ambiente, o agente etiológico e o hospedeiro. A doença seria um processo resultante de um desequilíbrio nas autoregulações existentes nesse sistema. O homem é a principal fonte de contaminação, bem como a principal via de transmissão das DTHA. Dessa forma, é fundamental que os manipuladores de alimentos sejam cautelosos quanto a sua higiene pessoal. Características dasCaracterísticas das DTHADTHA Leitura ComplementarLeitura Complementar PEREIRA, E. C.; MATEUS, L. B. O.; NASCIMENTO, A. C.; CRUZ, J. C. C..; MARICATO, E. Microrganismos contaminantes da carne bovina e seus impactos na saúde pública. In: FERNANDES FILHO, D. P.; TENÓRIO, A. L. (org.). Saúde única: uma jornada colaborativa para a promoção da saúde humana, animal e ambiental. 1. ed. Teresina: Thesis Editora Científica, 2024, cap. 6, p. 59-71. MÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DEMÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOSORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOS 207 Os alimentos que apresentam maiores riscos para a alimentação são os ovos (salmonelose), produtos de panificação (ovo, leite, manipulação intensa, exposição prolongada), refeições prontas (acondicionamento inadequado e por longo período de tempo), picolés e sorvetes (água contaminada) e produtos de origem animal em geral (derivados cárneos e lácteos, sobretudo aqueles muito manipulados). São condições favoráveis ao desenvolvimento de DTHA manipuladores contaminados, refrigeração inadequada, alimentos pré-preparados (estocagem inadequada), instalações e equipamentos, matérias-primas contaminadas, cozimento ou reaquecimento inadequados. São fatores que contribuem para a perpetuação de DTHA os microrganismos no ambiente, microrganismos mais resistentes, dose infectante pequena, maior consumo de alimentos naturais (mais contaminados e pouco processados), alterações nos hábitos de consumo de alimentos e alterações nas formas de produção e preparo dos alimentos. O ambiente também atua como fonte de contaminação, e o ar, água, solo, instalações inadequadas, equipamentos, utensílios e vestuários atuam como carreadores da contaminação. MÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DEMÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOSORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOS 208 As principais doenças bacterianas transmitidas por alimentos são a infecção por Escherichia coli (colibacilose), salmonelose, intoxicação estafilocócica, clostridiose, botulismo, febre tifoide, enterite necrótica e listeriose. Principais doenças bacterianasPrincipais doenças bacterianas transmitidas por alimentostransmitidas por alimentos O quadro 7.1 apresenta as particularidades de cada uma dessas doenças. Conhecer as características de cada doença é fundamental para a realização adequada de uma investigação epidemiológica. Assim, torna-se mais fácil implementar as ações de prevenção, controle e tratamento dos enfermos. Por outro lado, a variação do período de incubação (período entre a ingestão do alimento contaminado até o aparecimento dos primeiros sinais clínicos ou sintomas), principalmente quando ocorrem períodos mais longos, como é o caso da febre tifóide e da listeriose, torna-se um dificultador para o processo investigativo. Salmonella enterica enterica Typhi 7 a 28 dias Septicemia e envolvimento do tecido linfático, mal estar, cefaleia, febre alta e contínua, tosse, anorexia, náusea, vômito, constipação, calafrio, delírio, diarreia sanguinolenta Carnes, leite, ovos Escherichia coli MÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DEMÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOSORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOS 209 Quadro 7.1. Principais doenças bacterianas de origem alimentar e suas particularidades AgenteAgente Período dePeríodo de IncubaçãoIncubação SintomasSintomas Alimentos EnvolvidosAlimentos Envolvidos 3 a 4 dias Diarreia constante, fezes com sangue, cólica, náuseas e vômito, cansaço, febre, anorexia, infecção urinária Carne bovina 5 a 72 horas Febre, septicemia, cefaleia, vômito, diarreia, dor abdominal, mal estar Carnes (suínos e aves), ovos, leite e derivados 1 a 6 horas Náusea, salivação, vômito, diarreia, dor abdominal, prostração, fraqueza Clostridium perfringens (Tipo A) 6 a 24 horas Dor abdominal aguda, gases, diarreia profusa, náusea, vômito, febre Carne bovina e de aves Náusea, vômito, dor abdominal, diarreia, cefaleia, vertigem, visão dupla, disfagia, disfonia, ataxia, boca seca, dispneia Conservas impropriamente elaboradas, enlatados, peixes defumados Salmonella enterica enterica (sorovares Enteriditis e Typhimurium) Linguiças e queijos (alimentos manipulados e mantidos em temperatura ambiente) Enterotoxinas estafilocócicas (termoestáveis) Clostridium botulinum (neurotoxinas termolábeis) 2 horas a 10 dias (média de 12 a 36 horas) Diarreia, dor abdominal prolongada, gangrena do intestino delgado, choque, toxemia Carne suína e pescado Clostridium perfringens (Tipo C) 6 horas a 6 dias Listeria monocytogenes 1 a 8 semanas Septicemia, otite média, faringite, sinusite, conjuntivite, pneumonia, abscessos, meningite, aborto Leite, sorvete, queijo, iogurte, pescado Fonte: Dos autores (2024). MÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DEMÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEISAO HOMEM POR PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOSORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOS 210 As cepas bacterianas de Escherichia coli são: Nos casos de infecção por Escherichia coli, a gravidade dos sinais clínicos irá depender de qual classe dessa bactéria desencadeou a enfermidade. EPEC (enteropatogênica): causa diarreias não sanguinolentas epidêmicas em crianças ETEC (enterotoxigênica): associada a ingestão de comida mal cozida ou água contaminada com detritos fecais; EIEC (enteroinvasiva): são cepas invasivas e destrutivas da mucosa intestinal, causando úlceras e inflamação; DAEC (difusamente aderente): causam diarreia aquosa em crianças; EAEC (enteroagregativa): produzem toxinas semelhantes às da ETEC, resultando em diarreia aquosa ou hemorrágica persistente em crianças; EHEC (enterohemorrágica): causam diarreia aquosa inicial que pode progredir para colite hemorrágica e síndrome hemolítico- urêmica. Produzem toxina semelhante à shiga-toxina produzida pela Shigella. Podem provocar anemia, trombocitopenia e insuficiência renal aguda potencialmente perigosa; UPEC (uropatogênica): causam frequentemente infecções do trato urinário (ITU) em mulheres jovens; SEPEC (septicêmica): causam frequentemente intoxicação alimentar. As doses infectantes para cada bactéria são variáveis, sendo elas de 50 UFC/g para Salmonela spp., 100 a 200 UFC/ng para Staphylococcus spp. , 10 UFC/g para Clostridium perfringens tipo A e de 10 UFC/g para Listeria monocytogenes. Assim, como as doses infectantes para salmonelose e listeriose são pequenas, os microrganismos causadores dessas enfermidades devem estar completamente ausentes em alimentos. 5 3 MÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DEMÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOSORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOS 211 Em se tratando de taxa de mortalidade, o botulismo apresenta valores entre 50 a 60 % de letalidade, enquanto para Clostridium perfringens tipo C esse valor é de 40 %, sendo essas, as duas DTHA que representam maior risco à saúde da população. As enterotoxinas estafilocócicas são termoestáveis, ou seja, são capazes de sobreviver a tratamentos térmicos, não sendo inativadas pelo calor. Isso representa um grande problema para o contexto de saúde pública. Apesar disso, dentre as DTHA, essa é a que geralmente apresenta a sintomatologia mais branda e que os indivíduos se recuperam mais rapidamente. Já as neurotoxinas causadoras de botulismo, diferentemente das enterotoxinas estafilocócicas, são termolábeis, ou seja, são sensíveis ao calor, sendo, portanto, inativadas quando o alimento contaminado por elas é aquecido. Do gênero Listeria spp. a única patogênica para o ser humano é Listeria monocytogenes. Essa é uma bactéria psicrotrófica, ou seja, sua temperatura ótima de crescimento é a comumente utilizada na refrigeração de alimentos (4 a 7 ºC). 3 Leitura ComplementarLeitura Complementar FERREIRA, C. T. P. A. Condições higiênico-sanitárias e sua importância para a prevenção de surtos de doenças transmitidas por alimentos ocasionadas por Salmonella spp. Alimentos: Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente, v. 2, n. 4, p. 41-65, 2021. Leitura ComplementarLeitura Complementar SILVA, G. H.; ANTUNES, P. A. S. F.; VIEIRA, V. A. C.; MATEUS, L. B. O.; CRUZ, J. C. C.; NASCIMENTO, A. C.; MARICATO, E. Listeria monocytogenes e a sua relação com consumo de leite e derivados. In: FERNANDES FILHO, D. P. et al.; (Org.). A saúde humana, animal e ambiental sob uma abordagem interdisciplinar, à luz do conceito de saúde única. 1. ed. Teresina: Thesis Editora Científica, 2024, cap. 25, p. 272-285. DOI: 10.5281/zenodo.13832987. MÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DEMÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOSORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOS 212 O quadro 7.2 aborda as características de outras enfermidades importantes no contexto das DTHA que são brucelose e o complexo teníase-cisticercose. Outras enfermidades importantesOutras enfermidades importantes Brucella abortus, Brucella melitensis, Brucella suis Quadro 7.2. Outras enfermidades importantes e suas particularidades AgenteAgente Período dePeríodo de IncubaçãoIncubação SintomasSintomas AlimentosAlimentos EnvolvidosEnvolvidos 1 a 15 dias Cefaleia, febre continuada, náusea, vômito, dor abdominal, artrite, orquite Leite cru e carnes mal passada 3 a 6 meses Distúrbios nervosos, insônia, anorexia, perda de peso, dores abdominais, cólica, náuseas Carne bovina e suína contendo cisticercos 3 meses Cefaleia, distúrbios nervosos Taenia saginata, Taenia sollium Alimentos contaminados com fezes contendo ovos do parasita Cysticercus bovis, Cysticercus celullosae DoençaDoença Brucelose Teníase Cisticercose Fonte: Dos autores (2024). MÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DEMÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOSORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOS 213 Para prevenir as DTHA, deve-se preconizar a implementação das boas práticas de produção, higiene das instalações e equipamentos, higiene pessoal, programas de autocontrole como as boas práticas de fabricação, procedimentos padrão de higiene operacional; inspeção sanitária dos alimentos; e boas práticas no preparo e consumo dos mesmos. Prevenção e controlePrevenção e controle São meios auxiliares de inspeção sanitária dos alimentos as técnicas físico-químicas (por ex. cromatografia), visualização de imagens (por ex. ultrassonagrafia), técnicas moleculares (por ex. Reação em Cadeia da Polimerase - PCR), técnicas imunológicas (por ex. ELISA) e técnicas microbiológicas (por ex. para detecção de toxinas). Caros alunos, Encerramos o conteúdo de Enfermidades Transmissíveis ao Homem por Produtos de Origem Animal com Ênfase em Carnes e Produtos Derivados. O Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) dessa disciplina está repleto de materiais para auxiliá-lo no aprofundamento dos seus estudos e você pode acessar a Plataforma de EAD da UFJF pelo link https://ead.ufjf.br/. Não deixe de conferir! MÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DEMÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOSORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOS 214 Os exercícios de fixação são uma excelente forma de verificar se você está assimilando corretamente o conteúdo abordado em aula. As questões são de múltipla escolha e versam sobre o tema: Enfermidades Transmissíveis ao Homem por Produtos de Origem Animal com Ênfase em Carnes e Produtos Derivados. O formulário só poderá ser respondido uma única vez, portanto, tenha atenção durante a execução da atividade. Após a finalização do questionário você contará com feedbacks orientativos que poderão ajuda-lo no momento do estudo. Exercícios de FixaçãoExercícios de Fixação MÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DEMÓDULO 07 | ENFERMIDADES TRANSMISSÍVEIS AO HOMEM POR PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOSORIGEM ANIMAL COM ÊNFASE EM CARNES E PRODUTOS DERIVADOS 215 BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde, Unidade de Vigilância das Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar. Surtos de doenças transmitidas por alimentos no Brasil. Brasília, DF: Secretaria de Vigilância em Saúde, 2016. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Surtos de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar no Brasil: Informe 2024. 2024. Disponível em: /https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a- a-z/d/dtha/publicacoes/surtos-de-doencas-de-transmissao-hidrica-e-alimentar-no-brasil-informe-2024. Acesso em: 29 abr. 2024. FERREIRA,ao Ministério da Saúde. O responsável técnico (RT), cargo obrigatório nas indústrias produtoras e beneficiadoras de produtos de origem animal desde 1968 sendo essa obrigatoriedade ratificada judicialmente em 2018, tem como função o gerenciamento, a supervisão dos procedimentos e o amparo técnico às funções relacionadas a cadeia de produção dos alimentos de origem animal. A inspeção sanitária de produtos de origem animal tem importância em diversas esferas e, deveria ser considerada de forma efetiva, uma área de maior investimento enquanto política pública, considerando os ganhos econômicos que o setor representa para o país, mas, sobretudo, do ponto de vista de saúde da população e qualidade de vida. ImportânciaImportância A inspeção que acontece nas fazendas, tem como objetivo verificar a sanidade animal, sendo uma prática fundamental para consolidação dos programas de defesa sanitária. Nesse caso ocorre também por meio dos diversos programas de controle e erradicação de doenças, cujo objetivo principal é impedir a entrada de animais não-sadios e de seus produtos no país. MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 26 O Sistema de Vigilância Agropecuária Internacional (Vigiagro) (Figura 1.1), vinculado à Secretária de Defesa Agropecuária (SDA), atua na inspeção e fiscalização do trânsito internacional, dente outras Figura 1.1. Brasão Vigiagro Fonte: Brasil (2020). FIQUE LIGADO!FIQUE LIGADO! Saiba mais sobre esse conteúdo acessando o Instagram @gppoa.ufjf coisas, de produtos de origem animal, em portos, aeroportos, postos de fronteiras e aduanas especiais. Do ponto de vista de saúde pública, a inspeção é extremamente importante para o controle de zoonoses e de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar (DTHA) e, também, para o controle da contaminação ambiental oriunda dos processos envolvidos na cadeia produtiva de alimentos de origem animal. Considerando o aspecto zootécnico, a inspeção tornou-se uma ferramenta para o controle e padronização do abate, gerando dados estatísticos consistentes e importantes sobre o número de animais abatidos, espécies, idade, sexo, raça e qualidade da carcaça. Os fatores peso e idade são fundamentais para a determinação do momento do abate e, variam de acordo com cada espécie animal (Tabela 1.1). Tabela 1.1. Relação entre peso e idade ao abate das principais espécies de interesse zootécnico no Brasil Fonte: Dos autores (2024). EspécieEspécie 450 kg 4 - 4,5 kg 45 kg 90 - 120 kg IdadeIdade 3 - 3,5 anos 42 - 45 dias 4 - 6 meses 90 - 150 dias Bovino Aves Pequeno ruminante Suíno Peso (mín)Peso (mín) MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 27 A remuneração ao produtor de animais para abate no Brasil geralmente ocorre por quilo de peso vivo para aves e suínos, enquanto para bovinos e pequenos ruminantes é por @ da carcaça (15 kg). Por exemplo, para bovinos, atualmente, valor da @ é de cerca de R$ 340,00 (abril/2022). Essa diferença em como é estabelecida a remuneração do produtor ocorre em virtude do peso das vísceras dos ruminantes, que representam mais de 50 % do seu peso total, dessa forma, para fins de pagamento ao produtor, geralmente, não são consideradas. Na perspectiva comercial e política, a inspeção propicia a classificação e padronização dos produtos de origem animal, a conquista de novos mercados, mas, também, mas também auxilia na transposição de barreiras não-tarifárias (sanitárias). Sonegação e fraude comercial representam um grande problema econômico e até de saúde pública no Brasil. Atualmente, os dados demonstram que cerca de 50 % do abate realizado no país é clandestino, ou seja, não houve inspeção sanitária coordenada por médico veterinário durante esse processo. De forma consequente, os impactos na saúde pública são severos, principalmente do ponto de vista da segurança de alimentos. Uma tonelada de carne é apreendida em abatedouro clandestino em Ubá (MG). MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 28 A inspeção de carnes brasileira é muito valorizada em todo o mundo, isso em virtude da sua seriedade, que preconiza a fabricação de alimentos seguros do ponto de vista higiênico-sanitário e, ao mesmo tempo, viáveis economicamente. A inspeção de produtos de origem animal tem como objetivo orientar e supervisionar todo o processo de produção de alimentos de origem animal. Isso acontece por meio da fiscalização, desde a matéria-prima, durante a sua industrialização, até o produto final, sendo um processo complexo e dinâmico. FinalidadeFinalidade O Decreto nº 23.133, de 09 de setembro de 1933, reconheceu a profissão de médico veterinário no Brasil. Tal legislação determina, ainda, que é função privativa do médico veterinário atestar o estado de sanidade dos animais domésticos e dos produtos de origem animal em suas fontes de produção, fabricação ou de manipulação, tendo em vista que este é o único profissional que possui os requisitos pessoais e legais (capacidade + habilitação) para exercer essa atividade. ExercícioExercício MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 29 Isso ocorre por meio da inspeção sanitária e tecnológica de matadouros, frigoríficos, fábricas de conserva e banha, laticínios, entrepostos de pescado, ovos, mel e derivados, bem como de todos os produtos de origem animal nos seus locais de produção, fabricação e manipulação. Nessa atividade, são identificados defeitos, vícios, acidentes e doenças, peritagem e exames técnicos Com a Lei nº 5.517, de 23 de outubro de 1968, que dispõe sobre o exercício da profissional de médico veterinário e cria os Conselhos Regionais e Federal de Medicina Veterinária, também foi estabelecido que é de competência privativa do médico veterinário o exercício das atividades e funções de inspeção sanitária dos alimentos de origem animal e também de direção técnica e sanitária dos estabelecimentos industriais onde estejam animais ou produtos de sua origem. sobre os animais e seus produtos. E também ocorre por meio do exercício da responsabilidade técnica em estabelecimentos produtores, industrializadores e comercializadores de produtos de origem animal. O Decreto nº 64.704, de 17 de junho de 1969, regulamenta a Lei nº 5.517/1968 e o exercício da profissão de médico veterinário e dos conselhos de medicina veterinária, especificando as atribuições do profissional, com base no trabalho exercido e na formação acadêmica, bem como a criação de privilégios profissionais baseados no currículo escolar. Na área de inspeção de produtos de origem animal a legislação é extremamente dinâmica, e sofre alterações constantemente. A legislação irá determinar, por exemplo, como deve ser realizada a inspeção ante e post mortem de animais de abate, além de fornecer os critérios de julgamento a serem adotados durante o processo de inspeção dos produtos de origem animal. MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 30 Políticas sanitárias visam evitar situações de perigo que lesem ou ameacem lesar à saúde e a segurança dos consumidores, sendo uma função exclusiva do serviço público. Responsabilidade: Estado /Responsabilidade: Estado / iniciativa privadainiciativa privada Sua estruturação é preparada para atuar por meio de punições regulamentadas pelas legislações federal, estaduais e municipais, no contexto de higiene, segurança e saúde pública. Apesar dessa atividade ser um encargo do serviço público, os conceitos mais modernos preconizam o estabelecimento de um sistema misto que consiste em associar programas de controle de qualidade (Boas Práticas de Produção, Boas Práticas de Fabricação, Procedimentos Padrão de Higiene Operacional, Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle) implantados e coordenados pelasC. T. P. A. Condições higiênico-sanitárias e sua importância para a prevenção de surtos de doenças transmitidas por alimentos ocasionadas por Salmonella spp. Alimentos: Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente, v. 2, n. 4, p. 41-65, 2021. Disponível em: https://revistascientificas.ifrj.edu.br/revista/index.php/alimentos/article/view/1910. Acesso em: 10 abr. 2022. LEAVELL, S.; CLARK, E. G. Medicina preventiva. São Paulo: McGraw-Hill, 1976. (e-book) SANITY CONSULTORIA. Segurança de alimentos e segurança alimentar na qualidade de vida. 2019. Disponível em: https://sanityconsultoria.com/seguranca-de-alimentos-e-seguranca-alimentar-na-qualidade-de- vida/. Acesso em: 10 abr. 2022. SIRTOLI, D. B.; COMARELLA, L. O papel da vigilância sanitária na prevenção das doenças transmitidas por alimentos (DTA). Revista Saúde e Desenvolvimento, v. 12, n. 10, p. 197-209, 2018. Disponível em: https://www.revistasuninter.com/revistasaude/index.php/saudeDesenvolvimento/article/view/878. Acesso em: 10 abr. 2022. ReferênciasReferências BibliografiaBibliografia Várias dessas bibliografias estão presentes nas bibliotecas da UFJF em livros físicos e em e-books. Aproveite! FORSYTHE, S. J. Microbiologia da segurança alimentar. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. 607p. FRANCO, B.D.G.M.; LANDGRAF, M. Microbiologia dos alimentos. São Paulo: Atheneu, 2005. 196p. GERMANO, P. M. L.; GERMANO, M .I. S. Higiene e vigilância sanitária de alimentos. 5. ed. rev. e ampl. Barueri: Manole, 2015. 1112 p. JAY, J. M. Microbiologia de alimentos. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. 712p. CONVERSÃO DO MÚSCULOCONVERSÃO DO MÚSCULO EM CARNE, COMPOSIÇÃOEM CARNE, COMPOSIÇÃO QUÍMICA E VALORQUÍMICA E VALOR NUTRITIVO DA CARNENUTRITIVO DA CARNE FIQUE LIGADO!FIQUE LIGADO! Saiba mais sobre esse conteúdo acessando o Instagram @gppoa.ufjf MÓDULO 08 | CONVERSÃO DO MÚSCULO EM CARNE, COMPOSIÇÃO QUÍMICA E VALOR NUTRITIVO DA CARNEMÓDULO 08 | CONVERSÃO DO MÚSCULO EM CARNE, COMPOSIÇÃO QUÍMICA E VALOR NUTRITIVO DA CARNE 217 A conversão do músculo em carne é a etapa mais demorada do processamento de carnes, com duração de 24 horas em condições ideais de umidade e temperatura. Para carnes brancas, como é o caso da ave e do pescado, esse processo ocorre mais rapidamente. Entretanto, a prática mais comum na indústria é respeitar o período de 24 horas para a conversão do músculo em carne de todas as espécies de animais de açougue. IntroduçãoIntrodução A etapa de conversão do músculo em carne é o que vai garantir as características sensoriais da carne com odor, cor, maciez, textura e sabor, não apresentando relevância do ponto de vista nutricional. Essa conversão pode acontecer tanto em meias-carcaças quanto em cortes cárneos já desossados. O processo de conversão do músculo em carne inicia-se ainda durante a sangria, em que é preconizado o tempo mínimo de três minutos para qualquer espécie, a fim de garantir a saída da maior quantidade possível de sangue da carcaça e, caso esse período de tempo não seja respeitado, isso irá influenciar diretamente nas características sensoriais e no prazo de validade do produto. Conversão do músculo em carneConversão do músculo em carne MÓDULO 08 | CONVERSÃO DO MÚSCULO EM CARNE, COMPOSIÇÃO QUÍMICA E VALOR NUTRITIVO DA CARNEMÓDULO 08 | CONVERSÃO DO MÚSCULO EM CARNE, COMPOSIÇÃO QUÍMICA E VALOR NUTRITIVO DA CARNE 218 A queda do pH da musculatura deve acontecer lentamente durante as primeiras 24 horas post mortem, atingindo o valor entre 5,5 e 6,2. A produção e a dissipação do calor post mortem, por sua vez, favorecem essa queda do pH, que é desejada. É importante que a temperatura inicial das câmaras de conversão do músculo em carne esteja ajustada para que não haja uma queda brusca no pH em virtude do calor. A instalação do rigor mortis deve ser o mais longo possível, entretanto, isso irá depender da quantidade de reservas de glicogênio na musculatura e, consequentemente, da produção de ácido lático. Assim, quanto mais rapidamente acontecer a queda do pH, mais rápido e intenso será o rigor mortis e, como isso não é desejado, o pH deve cair lentamente, evitando a contração excessiva da musculatura. A perda da homeostasia é uma condição em que o corpo do animal não se encontra em equilíbrio para realizar as suas funções. Aliado a isso, a perda das proteções naturais favorece a invasão e proliferação de microrganismos, que deve ser controlada por meio do emprego da refrigeração da carne. Portanto, é de extrema importância que a carcaça já tenha sido eviscerada e submetida a algum processo de refrigeração quando iniciar o processo de perda das proteções naturais do organismo. A perda da integridade natural do músculo decorre de alterações proteicas e enzimáticas oriundas de processos de desnaturação. Como consequência disso, ocorre a modificação na aparência física do músculo, que tem a sua cor e consistência alteradas, adquirindo o aspecto de carne. A figura 8.1 ilustra como esse processo de conversão acontece. MÓDULO 08 | CONVERSÃO DO MÚSCULO EM CARNE, COMPOSIÇÃO QUÍMICA E VALOR NUTRITIVO DA CARNEMÓDULO 08 | CONVERSÃO DO MÚSCULO EM CARNE, COMPOSIÇÃO QUÍMICA E VALOR NUTRITIVO DA CARNE 219 Figura 8.1. Fluxograma de conversão do músculo em carne Sangria Queda do pH Dissipação de calor Queda do pH X Rigor mortis Perda da homeostasia Perda das proteções naturais Perda da integridade do músculo Alteração na aparência física do músculo Rigor mortis Fonte: Dos autores (2024). CarnesCarnes ee DFDDFD PSEPSE Quando ocorre algum erro no momento da queda do pH da musculatura, a conversão do músculo em carne é comprometida. FIQUE LIGADO!FIQUE LIGADO! Saiba mais sobre esse conteúdo acessando o Instagram @gppoa.ufjf MÓDULO 08 | CONVERSÃO DO MÚSCULO EM CARNE, COMPOSIÇÃO QUÍMICA E VALOR NUTRITIVO DA CARNEMÓDULO 08 | CONVERSÃO DO MÚSCULO EM CARNE, COMPOSIÇÃO QUÍMICA E VALOR NUTRITIVO DA CARNE 220 Se essa modificação acontecer rapidamente, ou seja, se a queda do pH for drástica, irá gerar a carne PSE (pálida, mole e exsudativa), todavia, se a queda de pH não acontecer, irá ocorrer a formação da carne DFD (escura, firme e seca), além de favorecer a proliferação de microrganismos, diminuir o prazo de validade e promover alterações nas características sensoriais do alimento (Figura 8.2). A carne PSE ocorre quando o animal é estressado no momento do abate, ou seja, sofre um estresse recente e, assim, queima todas as suas reservas de glicogênio nesse momento, produzindo ácido lático de forma intensa, o que provoca uma queda brusca do pH para valores próximos a 5, culminando na desnaturação proteica do músculo. Nesse caso, a carne assume coloração pálida, textura mole e exsudativa, tornando-a inaproveitável, em virtude da incapacidade de retenção de água. Essa ocorrência é mais comum em suínos e aves, espécies pouco resistentes ao estresse. Nesse sentido, deve-se redobrar os cuidados no momento da insensibilização, principalmente pelo fato de essa ser reversível (eletronarcose). Figura 8.2. Comparação entre o aspecto visual e a quantidade de líquido liberado pelas carnes PSE, normal e DFD Fonte: Bridi (2011). MÓDULO 08 | CONVERSÃO DO MÚSCULO EM CARNE, COMPOSIÇÃO QUÍMICA E VALOR NUTRITIVO DA CARNEMÓDULO 08 | CONVERSÃO DO MÚSCULO EM CARNE, COMPOSIÇÃO QUÍMICA E VALOR NUTRITIVO DA CARNE 221 Já carne DFD ocorre quando o animal não teve reserva de glicogênio suficiente para ser convertido em ácido lático e então promover a queda do pH da carne e a consequente conversão do músculo em carne. Nesse caso, o pH da carne continua elevado, gerando uma carne de coloração escura, textura firme e seca. Essa ocorrência, muito associada a um quadro de estresse mais antigo, é mais comum de acontecer com bovinos. Por isso, é fundamental exigir o cumprimento do período de descanso antes do abate. Quanto ao critério de julgamento e destino da carne DFD, essa pode ser direcionada para a fabricação de derivados na proporção de 1:20. A figura 8.3 ilustra, graficamente,a curva da queda do pH post mortem em casos de carne DFD, normal e PSE. Enquanto a figura 8.4 demonstra a variação da coloração da carne conforme o valor do seu pH. Figura 8.3. Curva do pH post mortem para carnes normais, DFD e PSE Fonte: Adaptado de Briskey(1964). MÓDULO 08 | CONVERSÃO DO MÚSCULO EM CARNE, COMPOSIÇÃO QUÍMICA E VALOR NUTRITIVO DA CARNEMÓDULO 08 | CONVERSÃO DO MÚSCULO EM CARNE, COMPOSIÇÃO QUÍMICA E VALOR NUTRITIVO DA CARNE 222 Figura 8.4. Variação na coloração da carne de acordo com as alterações do pH Fonte: Wrap foodpack solutions (2020). Leitura ComplementarLeitura Complementar PEREIRA, T. L.; CORASSA, A.; POLIZEL NETO, A.; KOMIYAMA, C. M.; LEITE, R. G. Manejo pré-abate, parâmetros fisiológicos do estresse e seus efeitos na qualidade da carne suína: revisão. Arquivos de Ciências Veterinárias e Zoologia, v. 20, n. 2, p. 101-108, 2017. A maturação da carne é um processo opcional na indústria e tem como principal objetivo conferir maior maciez ao produto e, consequentemente, agregar maior valor comercial a ele. Maturação da carneMaturação da carne A carne não processada é armazenada acima do seu ponto de congelamento (-1,5 ºC), normalmente sob temperaturas de refrigeração, entre 0 e 4 ºC, sendo embalada sob baixa tensão de oxigênio a fim de evitar a sua desidratação e, também, para melhorar a sua maciez por atividade enzimática, sendo essa técnica conhecida como maturação úmida (wet aged) (Figura 8.5). Existe um tecnologia auxiliar a esse processo que consiste na injeção de cloreto de cálcio na carne, estimulando a ação das enzimas endógenas calpaínas sobre as proteínas sarcoplasmáticas, miofibrilares e do tecido conjuntivo, e inibindo a ação das calpastatinas. O tempo mínimo de maturação (80 % de maturação) é de 10 dias para carne bovina e de 7 dias para carne ovina, mas, quanto maior for o período de maturação tanto maior será a maciez da carne (ideal em torno de 21 a 28 dias). MÓDULO 08 | CONVERSÃO DO MÚSCULO EM CARNE, COMPOSIÇÃO QUÍMICA E VALOR NUTRITIVO DA CARNEMÓDULO 08 | CONVERSÃO DO MÚSCULO EM CARNE, COMPOSIÇÃO QUÍMICA E VALOR NUTRITIVO DA CARNE 223 Figura 8.5. Aspecto visual da carne que passou por processo de wet aged Fonte: Grill experience (2022). A carne dry aged (Figura 8.6) é aquela que sofre maturação a seco, ou seja, sem embalagem para que aconteça a desidratação superficial. Figura 8.6. Cortes cárneos com diferentes graus de maturação a seco (dry aged) Fonte: Caseratto (2020). Desse modo, todas as superfícies da peça ficam expostas a circulação de ar, em temperatura de refrigeração (entre 0 e 4 ºC), e tem duração de 21 a 60 dias, com umidade relativa da câmara entre 75 e 85 % e fluxo de ar de 0,5 a 2 m/s. Com a desidratação, até 50 % do peso da carne é perdido. Ocorre ainda ação microbiana externa, que promove o escurecimento da carne, devendo essa parte ser removida antes do consumo. Esse processo confere à peça sabor amanteigado, de nozes e de queijo, agregando um valor considerável ao produto final. MÓDULO 08 | CONVERSÃO DO MÚSCULO EM CARNE, COMPOSIÇÃO QUÍMICA E VALOR NUTRITIVO DA CARNEMÓDULO 08 | CONVERSÃO DO MÚSCULO EM CARNE, COMPOSIÇÃO QUÍMICA E VALOR NUTRITIVO DA CARNE 224 Conheça como funciona o processo de maturação das carnes, o Wet Aged e Dry Aged, que são responsáveis por conferir mais sabor e maciez ao produto, mas de formas diferentes. Assista ao vídeo! A carne é um alimento muito rico do ponto de vista nutricional, por isso, o seu consumo deve ser incentivado. É um alimento rico em aminoácidos essenciais, energia, minerais e vitaminas. A tabela 8.1 elenca os valores relativos à composição nutricional da carne bovina e suína. Valor nutricional da carneValor nutricional da carne Leitura ComplementarLeitura Complementar FROSSARD, V. M.; CRUZ, J. C. C.; NASCIMENTO, A. C.; MATEUS, L. B. O; MARICATO, E. Maturação comercial da carne bovina: wet aged e dry aged. In: Simpósio Online Sulamericano de Tecnologia, Engenharia e Ciência de Alimentos, 3., 2024, online. Anais... Diamantina: UFVJM, 2024. MÓDULO 08 | CONVERSÃO DO MÚSCULO EM CARNE, COMPOSIÇÃO QUÍMICA E VALOR NUTRITIVO DA CARNEMÓDULO 08 | CONVERSÃO DO MÚSCULO EM CARNE, COMPOSIÇÃO QUÍMICA E VALOR NUTRITIVO DA CARNE 225 Tabela 8.1. Composição centesimal da carne bovina (picanha) e suína (lombo) cruas Fonte: TACO (2011). Picanha bovinaPicanha bovina Lombo suínoLombo suíno Umidade (%) Energia (kcal) Proteína (g) Lipídeos (g) Colesterol (mg) Carboidratos (g) Cinzas (g) 134 21,3 4,7 75 0,0 1,0 72,4 INFORMAÇÃO NUTRICIONALINFORMAÇÃO NUTRICIONAL 176 22,6 8,8 55 0,0 1,0 67,7 Caros alunos, Encerramos o conteúdo de Conversão do músculo em carne, composição química e valor nutritivo da carne. O Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) dessa disciplina está repleto de materiais para auxiliá-lo no aprofundamento dos seus estudos e você pode acessar a Plataforma de EAD da UFJF pelo link https://ead.ufjf.br/. Não deixe de conferir! MÓDULO 08 | CONVERSÃO DO MÚSCULO EM CARNE, COMPOSIÇÃO QUÍMICA E VALOR NUTRITIVO DA CARNEMÓDULO 08 | CONVERSÃO DO MÚSCULO EM CARNE, COMPOSIÇÃO QUÍMICA E VALOR NUTRITIVO DA CARNE 226 Os exercícios de fixação são uma excelente forma de verificar se você está assimilando corretamente o conteúdo abordado em aula. As questões são de múltipla escolha e versam sobre o tema: Conversão do músculo em carne, composição química e valor nutritivo da carne. O formulário só poderá ser respondido uma única vez, portanto, tenha atenção durante a execução da atividade. Após a finalização do questionário você contará com feedbacks orientativos que poderão ajuda-lo no momento do estudo. Exercícios de FixaçãoExercícios de Fixação BRIDI, A. M. Transformação do músculo em carne: manipulação e consequências. Universidade Estadual de Londrina. 43 p. 2011. Disponível em: http://www.uel.br/grupo-pesquisa/gpac/pages/arquivos/AULA%205%20- %20transformacao%20e%20propriedades%202011.pdf. Acesso em: 08 abr. 2022. BRISKEY, E. J. Etiological status and associated studies of pale, soft, exudative porcine musculature. Advances in Food Research, v. 13, p. 89-178, 1964. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/14283271/. Acesso em: 08 abr. 2022. CASERATTO. Maturação dry aged. 2020. Disponível em: https://caseratto.com.br/maturacao-dry-aged/. Acesso em: 08 abr. 2022. GRILL EXPERIENCE. Dry and wet aging: where and when? 2022. Disponível em: https://grillexperience.it/en/differences-dry-wet-aging/. Acesso em: 08 abr. 2022. PEREIRA, T. L.; CORASSA, A.; POLIZEL NETO, A.; KOMIYAMA, C. M.; LEITE, R. G. Manejo pré-abate, parâmetros fisiológicos do estresse e seus efeitos na qualidade da carne suína: revisão. Arquivos de Ciências Veterinárias e Zoologia, v. 20, n. 2, p. 101-108, 2017. Disponível em: https://revistas.unipar.br/index.php/veterinaria/article/viewFile/5233/3512. Acesso em: 08 abr. 2022. TACO - Tabela brasileira de composição de alimentos / NEPA – UNICAMP. 4. ed. revisada e ampliada. Campinas: NEPA-UNICAMP, 2011. 161p. Disponível em: https://www.cfn.org.br/wp- content/uploads/2017/03/taco_4_edicao_ampliada_e_revisada.pdf. Acesso em: 08 abr. 2022. WRAP FOODPACK SOLUTIONS. The pH of muscle/meat is a measurement of acidity. 2020. Disponível em: https://m.facebook.com/wrap.fps/photos/a.110647127378118/147902720319225/. Acesso em: 08 abr. 2022. Várias dessas bibliografias estão presentes nas bibliotecas da UFJF em livros físicos e em e-books. Aproveite! MÓDULO 08 | CONVERSÃO DO MÚSCULO EM CARNE, COMPOSIÇÃO QUÍMICA E VALOR NUTRITIVO DA CARNEMÓDULO 08 | CONVERSÃO DO MÚSCULO EM CARNE, COMPOSIÇÃO QUÍMICA E VALOR NUTRITIVO DA CARNE 227 ReferênciasReferências BibliografiaBibliografia CASTILLO, C. J. C. Qualidade da carne. São Paulo: Varela, 2006. 240p. PARDI, M.C.; SANTOS, I. F.; SOUZA, E. R.; PARDI, H.S. Ciência, higiene e tecnologia da carne. 2. ed. Goiânia: Editora da UFG, 2007. v.2. 526p. SHIMOKOMAKI, M.; OLIVO, R.; TERRA, N. N.; FRANCO, B. D. G. M. Atualidades em ciência e tecnologia de carnes. São Paulo: Varela, 2006. 236p.PROGRAMAS DEPROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NAAUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES EINDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOSDERIVADOS IntroduçãoIntrodução Com o RIISPOA (2017), os estabelecimentos sob Serviço de Inspeção Federal (SIF) passaram a ser obrigados a implantar e monitorar os PAC e devem mostrar, por meio de evidências, que os produtos fabricados e comercializados não apresentam nenhum tipo de risco para a saúde do consumidor. A segurança e a qualidade dos alimentos são fatores essenciais para a saúde pública, devendo ser pilares de referência para todas as indústrias alimentícias. Os Programas de Autocontrole (PAC) são implantados e monitorados pelo próprio estabelecimento, por meio do setor de controle de qualidade, e visa assegurar a qualidade dos produtos fabricados, considerando que este é um diferencial competitivo no mercado e uma responsabilidade da indústria. MÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOSMÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOS 229 Neste cenário, inserem-se as Boas Práticas de Fabricação (BPF) bem como os Procedimentos Padrão de Higiene Operacional (PPHO) que são pré-requisitos para a implantação e consolidação do programa de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC). Um produto cárneo de qualidade é aquele que é seguro, que está de acordo com os padrões legais, livre de matérias estranhas e com características sensorial e nutricional adequadas. A qualidade da matéria-prima carne é extremamente importante pois influencia diretamente na durabilidade (prazo de validade), rendimento, valor nutricional e características sensoriais do produto acabado. Alimentos cuja qualidade higiênico-sanitária está comprometida representam um potencial risco à saúde pública. Perigos em alimentosPerigos em alimentos Dentre os perigos químicos, encontram-se as toxinas naturais, aditivos alimentares não-permitidos ou em concentração superior ao permitido pela legislação, toxinas fúngicas (micotoxinas), metabólitos tóxicos de origem bacteriana (histamina, por exemplo), pesticidas, herbicidas, elementos tóxicos, produtos de limpeza (hidróxido de sódio), Um alimento seguro é aquele que não oferece nenhum tipo de risco à saúde do consumidor, ou seja, que não possuem nenhum perigo. Perigo, por sua vez, é definido como a contaminação inaceitável, seja ela de caráter físico, químico ou biológico, que possa causar danos à saúde ou à integridade do consumidor. MÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOSMÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOS 230 Os perigos físicos consistem em pelos, fragmentos de vidros, metais, madeiras ou quaisquer outros objetos que possam causar danos ao consumidor. Sua origem pode ser do abate, materiais de embalagem, instalações, equipamentos e utensílios. contaminantes inorgânicos que acidentalmente ou intencionalmente foram incorporadas à carne e derivados durante o armazenamento e processamento. Em casos de medicamentos, principalmente antiparasitários e antimicrobianos, deve-se respeitar o período de carência estabelecido para cada fármaco, permitindo que ele seja completamente eliminado do organismo animal antes que seja realizado o abate. As análises laboratoriais para detecção de contaminação química são dispendiosas e demoradas, não sendo possível determinar visualmente se uma carne apresenta ou não contaminação. Assim, a garantia da qualidade do alimento é ainda mais importante. Além disso, deve-se levar em consideração, ainda, as variáveis relativas ao microrganismo, como o seu potencial para causar doença (patogenicidade), a sensibilidade do microrganismo às características do alimento e às condições ambientais e a interação com outros microrganismos. MÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOSMÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOS 231 Os perigos biológicos tais como as bactérias patogênicas e suas toxinas, vírus, parasitas e protozoários, são os mais frequentemente envolvidos em casos ou surtos de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar (DTHA). Neste caso, os perigos são microscópicos, mas, há casos também, como o contato com pragas, insetos e roedores, que esses perigos são classificados como macroscópicos. Quanto ao hospedeiro, as variáveis consistem em idade, condição física, estado geral de saúde e quantidade de alimento ingerido. Alguns fatores são importantes em se tratando de contaminação de origem biológica, sendo eles o nível de contaminação (dose infectante), a sensibilidade do hospedeiro (idade, sistema imunológico, predisposição), a multiplicação do microrganismo no organismo do hospedeiro, bem como a quantidade de toxina microbiana. Os perigos biológicos, principalmente as contaminações bacterianas, são responsáveis por 50 % das perdas de matérias-primas e produtos finais nas indústrias de alimentos. Assim, torna-se fundamental o desenvolvimento de métodos de detecção de agentes causadores de DTHA que sejam interessantes do ponto de vista higiênico-sanitário, mas, também, do ponto de vista econômico, para que a sua aplicabilidade se torne uma realidade nas indústrias. Aliado a isso, a modernização dos sistemas de inspeção sanitária, aplicando os princípios de análise de perigo e pontos críticos de controle e de qualidade total apresenta-se como uma ferramenta essencial para a garantia da inocuidade dos alimentos. Evolução do controle dosEvolução do controle dos perigos em alimentosperigos em alimentos Figura 9.1. Evolução do controle dos perigos em alimentos MÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOSMÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOS 232 A segurança dos alimentos é a primeira e principal responsabilidade da indústria de alimentos. Entretanto, essa nem sempre foi a realidade do processamento de alimentos no Brasil. A figura 9.1 retrata uma linha do tempo sobre a evolução da forma de controle dos perigos em alimentos nas indústrias. Fonte: Dos autores (2022). Controle de qualidade tradicional A T É 1 9 6 0 BPF (normas e procedimentos gerais) 1 9 6 0 APPCC (acompanhamento de todo o processo) 1 9 7 0 Codex Alimentarius 1 9 9 3 PPHO (padrões elevados de higiene) 1 9 9 5 Até 1960, só existia o controle de qualidade tradicional, ou seja, só havia parâmetros referentes ao controle dos perigos sobre o produto final, não realizando nenhum tipo de acompanhamento do processamento do alimento. Entretanto, notou-se que, do ponto de vista econômico e de gerenciamento, torna-se muito mais interessante, para adoção de medidas corretivas, o acompanhamento de todo o processo produtivo e, assim, evitar o descarte dos produtos. Com isso, a partir dessa década, foram introduzidas as BPFs, que instituíram normas e procedimentos gerais a fim de tornar os processos mais seguros do ponto de vista higiênico-sanitário. PPHO BPF BPP Figura 9.2. Hierarquia dos programas de autocontrole no setor de alimentos MÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOSMÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOS 233 Em 1970, nos Estados Unidos, com a Conferência Nacional sobre Proteção de Alimentos, desenvolveu-se o sistema APPCC, que foi uma revolução no contexto de gestão de qualidade. E em 1993, a Codex Alimentarius incorporou o Guidelines for the application of the HACCP System, com diretriz final aprovada em 1997. Mais recentemente, a partir de 1995, os Procedimentos Padrão de Higiene Operacional tornaram-se parte integrante das BPF. Entre os PAC existem um grau de hierarquia de acordo com a sua complexidade, em que, automaticamente, cada um deles torna-se um pré-requisito para o outro (Figura 9.2). APPCC Fonte: Dos autores (2024). 01 02 03 04 O APPCC é um programa de autocontrole mais completo, racional e efetivo, acompanhando o alimento durante todo o seu processamento, sendo capaz de intervirnas etapas produtivas, garantindo uma melhor qualidade e segurança do produto gerado. Por isso, a sua implantação e consolidação tem se tornado um objetivo para as indústrias de alimento. Entretanto, por se tratar de um sistema complexo e específico para cada realidade, é necessário que as indústrias já tenham as BPF e o PPHO muito bem consolidados. Além desses programas, que são de responsabilidade da indústria, as Boas Práticas de Produção (BPP) também são uma ferramenta de controle e gestão muito importante, e incluem manejo sanitário, nutricional, estocagem de matérias-primas. Entretanto, essas são de responsabilidade do produtor rural. Boas Práticas deBoas Práticas de FabricaçãoFabricação As BPFs são um conjunto de princípios, regras e procedimentos que regem o correto manuseio de alimentos, abrangendo desde os cuidados com a matéria-prima até o produto final. Seu principal objetivo é a obtenção de insumos livres de contaminação, a prevenção da contaminação cruzada entre os produtos fabricados, a prevenção contra as condições que possibilitem a multiplicação de microrganismos e/ou produção de toxinas bem como a garantia da rastreabilidade do processo e produto. É composta por três fases (Figura 9.3), sendo elas a preliminar, de preparação e execução e as auditorias. Figura 9.3. Fases da implantação das Boas Práticas de Fabricação MÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOSMÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOS 234 Fonte: Dos autores (2024). Identificar os aspectos de não-conformidade com as diretrizes das BPF (check list) Elaboração e implementação dos planos de ação para correções das não- conformidades Consolidação e implantação do programa, permitindo informações para melhoria contínua do processo 1 2 3 PRELIMINAR PREPARAÇÃO E EXECUÇÃO AUDITORIA MÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOSMÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOS 235 Juntamente com as BPFs, os PPHO caracterizam-se como pré-requisitos fundamentais, constituindo-se como base higiênico-sanitária para a implantação do Sistema APPCC. As BPF englobam projetos dos prédios e instalações, limpeza e conservação das instalações, programa de qualidade da água, recebimento de matérias-primas e estocagem, qualidade da matéria-prima e ingredientes, higiene pessoal, controle de pragas, projeto sanitário dos equipamentos, manutenção preventiva dos equipamentos, calibração dos instrumentos, programa de recolhimento, garantia de controle de qualidade e programas de treinamento. Procedimentos PadrãoProcedimentos Padrão de Higiene Operacionalde Higiene Operacional Os PPHO são itens fundamentais do programa de BPF que necessitam de melhor detalhamento, monitoração, controle e verificação, sendo eles: Potabilidade da água (ingrediente e veículo de higienização – ETA, substâncias químicas e concentrações utilizadas, frequência de monitoração e análise, parâmetros físico- químicos e microbiológicos, medidas corretivas); Higiene das superfícies de contato com o produto (evitar contaminação cruzada pelo contato direto); Prevenção de contaminação cruzada (por meio de instalações, equipamentos, utensílios e manipuladores); Proteção contra a contaminação/adulteração dos produtos (5W2H); MÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOSMÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOS 236 Higiene pessoal (manipuladores, lavagem de mãos, treinamento dos colaboradores); Identificação e estocagem adequada dos produtos tóxicos (evitar contaminação de matérias-primas, ingredientes e produtos finais); Saúde dos colaboradores (exames periódicos obrigatórios); Controle integrado de pragas (tipos de iscas, armadilhas, disposição, frequência de troca, produtos utilizados). Análise de Perigos eAnálise de Perigos e Pontos Críticos de ControlePontos Críticos de Controle A cadeia de produção de carnes engloba desde os seus insumos, a produção nas fazendas, o processamento na indústria, a comercialização no varejo e o consumo pela população. Nesse sentido, o sistema APPCC é baseado em etapas do processamento do alimento, tendo como fundamento a identificação dos perigos em potencial, que possam comprometer a segurança dos produtos, bem como a execução de medidas de controle das condições que geram esses perigos, sendo uma ferramenta de gestão efetiva para o controle desses perigos. Registros. MÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOSMÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOS 237 O Sistema APPCC é racional pois baseia-se em dados registrados sobre as causas das doenças de origem alimentar e enfatiza as operações críticas em que o controle é essencial. É um sistema lógico e compreensível pois considera os ingredientes, processos e usos subsequentes dos produtos, sendo também de caráter contínuo, uma vez que os problemas são detectados antes ou no momento em que ocorrem, possibilitando que as ações corretivas sejam imediatamente aplicadas. É, ainda, sistemático, em se tratando de um plano completo, que engloba todas as operações, processos e medidas de controle, reduzindo, assim, os riscos de contaminação. Tal sistema é uma excelente ferramenta de gestão, sendo capaz de conseguir um efetivo controle dos perigos. Entretanto, a análise é específica para uma indústria ou para uma linha de processamento e para um produto considerando, não existindo uma “receita de bolo” que possa ser aplicada em qualquer realidade. O APPCC tem como objetivos estabelecer formas de controle para garantir a segurança e a inocuidade dos produtos para o consumidor, eliminar ou reduzir os perigos e as contaminações significativas no produto final, gerenciar os segmentos de produção e controlar os aspectos de qualidade e de fraude. A importância da implementação da ferramenta de APPCC na indústria é o atendimento dos requisitos legais (certificação e exportação bem como exigência do Serviço de Inspeção), diminuindo os custos operacionais e melhorando a gestão da empresa. Algumas etapas prévias ao APPCC são fundamentais para garantir o sucesso da implementação do sistema como: o empenho da gestão maior; o entendimento de que mudanças são inevitáveis; que a implantação do sistema é uma responsabilidade de todos e não unicamente do controle de qualidade; recursos; indicação do líder APPCC e capacitação de toda a equipe. MÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOSMÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOS 238 Para a implantação do Sistema APPCC é necessária uma sequência lógica de ações, iniciando com a identificação dos perigos e avaliação dos riscos em termos de segurança dos alimentos. Assim, deve-se estabelecer metodologias de controle para eliminar/reduzir os perigos que foram identificados. Para que o processo seja efetivo é necessário o monitoramento do cumprimento das medidas de controle bem como definir e implementar melhorias. As etapas precedentes à implantação incluem o comprometimento da direção da empresa, a conscientização e mobilização dos colaboradores, a formação da equipe APPCC e a disponibilização dos recursos necessários para a execução do sistema. Na etapa de elaboração é necessária uma definição clara dos objetivos, sendo estes identificados no organograma da empresa para uma avaliação e adequação de pré-requisitos. Para executar as atividades é necessária a realização de um programa de capacitação técnica da equipe APPCC, que será responsável pela descrição do produto esperado, A implementação será responsável por colocar em prática tudo aquilo que foi visualizado como necessidade de melhorias e, por meio das auditorias, serão verificadas as conformidades. elaboração do fluxograma de processo bem como da sua validação, e da aplicação dos sete princípios do APPCC. O APPCC apresenta sete princípios básicos: Análise de perigosEstabelecimento dos procedimentos de verificação Determinar os Pontos Críticos de Controle Monitoramento dos Pontos Críticos de Controle; Estabelecimento dos limites críticos; Estabelecimento das ações corretivas Estabelecimento dos procedimentos de registro e documentação MÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOSMÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOS 239 Esse programa apresenta como vantagens o oferecimento do alto nível de segurança dos alimentos, conhecimento dos controles que são críticos para o perigo significativo identificado, aumentar a capacidade de manter e atrair novos clientes, contribuir para a redução de custos por meio da utilização racional e inteligente dos laboratórios, diminuição substancial de distribuição e/ou reprocessamento de produtos estando aliado a um aumento da produtividade com qualidade e segurança, contribuir para a consolidação da imagem e credibilidade da empresa gerando maior competitividade no mercado e possibilitando a comercialização em nível internacional, apresentando ainda um ganho institucional considerando o aumento da autoestima e da importância do trabalho em equipe para os colaboradores. MÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOSMÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOS 240 Leitura ComplementarLeitura Complementar QUINTINO, S. S.; RODOLPHO, D. Um estudo sobre a importância do APPCC - análise de perigos e pontos críticos de controle - na indústria de alimentos. Revista Interface Tecnológica, v. 15, n. 2, p. 196– 207, 2018. Por outro lado, como limitações e dificuldades, encontram-se a aceitação pelos inspetores de alimentos e consumidores, a divergência na determinação dos pontos críticos de controle e a melhor forma de monitorá-los, a falsa impressão aos consumidores de que o alimento é seguro e a necessidade de contar com a educação e colaboração dos manipulares de alimentos. Legislação de controle deLegislação de controle de qualidade de alimentos noqualidade de alimentos no BrasilBrasil No cenário dos Programas de Autocontrole há uma série de legislações, tanto do Ministério da Agricultura e Pecuária quanto da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que versam sobre este tema, sendo elas: Portaria n. 1.428, de 26 de novembro de 1993 (ANVISA): regulamento técnico para a inspeção sanitária de alimentos; MÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOSMÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOS 241 Portaria n. 326, de 30 de julho de 1997 (ANVISA): boas práticas de fabricação para estabelecimentos produtores e industrializadores de alimentos; Portaria n. 368, de 04 de setembro de 1997 (MAPA): regulamento técnico de boas práticas de fabricação; Portaria n. 46, de 10 de fevereiro de 1998 (MAPA): análises de perigos e pontos críticos de controle em indústrias de produtos de origem animal; Resolução DIPOA/DAS nº.10, de 22 de maio de 2003 (MAPA): procedimentos padrão de higiene operacional nas indústrias de leite e derivados; Decreto n. 9.013, de 29 de março de 2017: RIISPOA, art. 12 a 74. Alimentação adequada e saudável é direito de todos, e esta afirmação está inclusa no conceito de segurança alimentar. No Brasil, existe um Programa de Alimentos Seguros (PAS), implantado pelo SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Programa alimentos segurosPrograma alimentos seguros Empresas), que engloba uma série de cadeias produtivas, inclusive de carne, atingindo todos os elos de produção. Lei n. 14.515, de 29 de dezembro de 2022: programas de autocontrole de agentes privados. Inspeção Análise de Perigos e Pontos Críticos de ControleProcedimentos Padrão de Higiene Operacional + Boas Práticas de Fabricação Regulamentos e guias de legislações sanitárias A inspeção e a regulamentação por meio de guias de legislação sanitárias são ações de caráter governamental, enquanto os programas de autocontrole, que englobam APPCC, BPF e PPHO são ações de caráter industrial, empresarial. MÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOSMÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOS 242 Figura 9.4. Estrutura da segurança de alimentos Fonte: Dos autores (2024). Quando se pensa na estrutura da segurança de alimentos (Figura 9.4), apesar das diferentes responsabilidades, deve haver uma concomitância entre elas visando sempre à segurança dos alimentos. Estrutura da segurança deEstrutura da segurança de alimentosalimentos Informação, educação e comunicação ao consumidor; Capacitação de todos os envolvidos na cadeia produtiva. Implantação dos programas de controle de qualidade; Legislação e regulamentos sanitários; Serviço de inspeção; Serviço de laboratórios oficiais para a confirmação de contaminação por microrganismos patogênicos, bem como para o fornecimento de dados epidemiológicos; MÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOSMÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOS 243 Os elementos básicos para o funcionamento de um sistema de controle de alimentos constituem-se em: Elementos básicos de umElementos básicos de um sistema de controle de alimentossistema de controle de alimentos Ainda considerando os programas de autocontrole, existem outros conceitos de sistemas de gestão (Figura 9.5), englobados na Matriz de Risco da Segurança de Alimentos (Figura 9.6). MÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOSMÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOS 244 Figura 9.5. Sistemas de gestão de segurança de alimentos Fonte: Adaptado de IFOPE (2020). Food Safety Food Defense Food Fraud Perigo Ameaça Vulnerabilidade Prevenção de adulteração não intencional; Bases científicas; DTHA. Prevenção de adulteração intencional; Motivação ideológica ou comportamental. Prevenção de adulteração intencional; Motivação econômica. MÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOSMÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOS 245 Figura 9.6. Matriz de riscos dos alimentos Fonte: Afam consultoria (2022). Caros alunos, Encerramos o conteúdo de Programas de Autocontrole na Indústria de Carnes e Derivados. O Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) dessa disciplina está repleto de materiais para auxiliá-lo no aprofundamento dos seus estudos e você pode acessar a Plataforma de EAD da UFJF pelo link https://ead.ufjf.br/. Não deixe de conferir! MÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOSMÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOS 246 Os exercícios de fixação são uma excelente forma de verificar se você está assimilando corretamente o conteúdo abordado em aula. As questões são de múltipla escolha e versam sobre o tema: Programas de Autocontrole na Indústria de Carnes e Derivados. O formulário só poderá ser respondido uma única vez, portanto, tenha atenção durante a execução da atividade. Após a finalização do questionário você contará com feedbacks orientativos que poderão ajuda-lo no momento do estudo. Exercícios de FixaçãoExercícios de Fixação MÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOSMÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOS 247 AFAM CONSULTORIA. A matriz de riscos da segurança de alimentos. 2022. Disponível em: https://afamconsultoria.com.br/a-matriz-de-riscos-da-seguranca-de-alimentos/. Acesso em: 08 abr. 2022. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Portaria n. 368, de 04 de setembro de 1997. Aprovar o Regulamento Técnico sobre as Condições Higiênico-Sanitárias e de Boas Práticas de Fabricação para Estabelecimentos Elaboradores/Industrializadores de Alimentos. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 08 set. 1997. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/inspecao/produtos-animal/empresario/Portaria_368.1997.pdf/view. Acesso em: 08 abr. 2022. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Agricultura. Portaria n. 46, de 10 de fevereiro de 1998. Instituir o Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 16 mar. 1998. Disponível em: https://www.defesa.agricultura.sp.gov.br/legislacoes/portaria- ma-46-de-10-02-1998,687.html. Acesso em: 08 abr. 2022. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Resolução DIPOA/DAS n. 10, de 22 de maio de 2003. Institui o Programa Genérico de Procedimentos Padrão de Higiene Operacional (PPHO). Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 28 mai. 2003. Disponível em: https://www.defesa.agricultura.sp.gov.br/legislacoes/resolucao-dipoa-10-de-22-05-2003,744.html. Acesso em: 08 abr. 2022. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 1.428, de 26 de novembro de 1993. Aprova o Regulamento Técnico para Inspeção Sanitária de Alimentos. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 29 nov. 1993. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/1993/prt1428_26_11_1993.html. Acesso em: 08 abr. 2022. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 326, de 30 de julho de 1997. Aprova o Regulamento Técnico Condições Higiênicos-Sanitárias e de Boas Práticas de Fabricação para Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 01 ago. 1997. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/svs1/1997/prt0326_30_07_1997.html. Acesso em: 08 abr. 2022. BRASIL. Presidência da República. Decreto n. 9.013, de 29 de março de 2017. Regulamenta a Lei nº 1.283, de 18 de dezembro de 1950, e a Lei nº 7.889, de 23 de novembro de 1989, que dispõem sobre a inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 30 mar. 2017. Disponível em: https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/20134722/do1-2017-03-30-decreto-n- 9-013-de-29-de-marco-de-2017-20134698. Acesso em: 08 abr. 2022. BRASIL. Presidência da República. Lei n. 14.515, de 29 de dezembro de 2022. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 30 dez. 2022. Disponível em: https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/20134722/do1-2017-03-30-decreto-n- 9-013-de-29-de-marco-de-2017-20134698. Acesso em: 25 nov. 2024. IFOPE. Food defense. 2020. Disponível em: https://blog.ifope.com.br/food-defense/. Acesso em: 08 abr. 2022. QUINTINO, S. S.; RODOLPHO, D. Um estudo sobre a importância do APPCC - análise de perigos e pontos críticos de controle - na indústria de alimentos. Revista Interface Tecnológica, v. 15, n. 2, p. 196–207, 2018. Disponível em: https://revista.fatectq.edu.br/index.php/interfacetecnologica/article/view/452. Acesso em: 08 abr. 2022. ReferênciasReferências https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/insumos-agropecuarios/aviacao-agricola/legislacao/Lei14.515de29dedezembrode2022Autocontrole.pdf/view https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/insumos-agropecuarios/aviacao-agricola/legislacao/Lei14.515de29dedezembrode2022Autocontrole.pdf/view MÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOSMÓDULO 09 | PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE NA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOS 248 INTERNATIONAL Commission on Microbiological Specifications for Foods (ICMSF). Microrganismos em alimentos 8: utilização de dados para avaliação do controle de processo e aceitação de produto. São Paulo: Blucher, 2015. 536p. JAY, J. M. Microbiologia de alimentos. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. 712p. MAACHAR, W.; SOUZA, C. C. Análise dos perigos e pontos críticos da qualidade em indústria de carne bovina: um estudo de caso em Mato Grosso do Sul. Ciencia y Tecnología Agropecuaria, v. 9, n. 4, p. 77-83, set. 2015. PINTO, P. S. A. Inspeção e higiene de carnes. Viçosa: UFV, 2008. 389p. BibliografiaBibliografia Várias dessas bibliografias estão presentes nas bibliotecas da UFJF em livros físicos e em e-books. Aproveite! CASELANI, K. Resíduos de medicamentos veterinários em alimentos de origem animal. Arquivos de Ciências Veterinárias e Zoologia, v. 17, n. 3, p. 187-195, jul/set. 2014. https://revistas.unipar.br/index.php/veterinaria HIGIENE, LIMPEZA EHIGIENE, LIMPEZA E DESINFECÇÃO DASDESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAISINSTALAÇÕES INDUSTRIAIS Limpeza consiste na remoção da matéria orgânica, enquanto a desinfecção consiste na remoção máxima da contaminação microbiana, sendo que os agentes desinfetantes geralmente não atuam bem na presença de matéria orgânica. IntroduçãoIntrodução A carga de matéria orgânica envolvida durante os procedimentos no abate é extremamente significativa e, nesse sentido, os perigos de contaminação relacionados a ela são ainda mais críticos. Assim, os cuidados com a higiene Higiene das instalaçõesHigiene das instalações Dessa forma, a higienização consiste na associação entre a limpeza e a desinfecção, sendo uma ferramenta importante para evitar o carreamento do excesso de sujeira, mau cheiro e proliferação de moscas e outros insetos e pragas nos abatedouros frigoríficos. MÓDULO 10 | HIGIENE, LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAISMÓDULO 10 | HIGIENE, LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS 250 das instalações, tanto na área externa quanto na área interna da indústria, é um ponto fundamental para minimizar a ocorrência de contaminações nos alimentos. Tais práticas impactam diretamente na saúde pública, no ponto de vista das disseminações de zoonoses e também na contaminação dos alimentos, podendo gerar, posteriormente, Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar (DTHA). Dispor de barreiras sanitárias em pontos estratégicos, a fim de minimizar o possível carreamento de contaminação, via colaborador, entre as instalações industriais A sala de abate deve: MÓDULO 10 | HIGIENE, LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAISMÓDULO 10 | HIGIENE, LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS 251 Apresentar pisos e paredes de fácil limpeza, resistentes a limpeza e abrasões, acabamentos com cantos arredondados e impermeabilizados; Não deve apresentar nenhum indício de presença de animais, como ninhos, teias de aranha, fezes, pois isso representa um risco de contaminação; A higienização da mesa de evisceração deve ser contínua, tendo em vista que este é um dos equipamentos mais contaminados em uma sala de abate; Ter carrinhos diferenciados por cor de acordo com a finalidade a qual se destinam (brancos ou metálicos para vísceras comestíveis, vermelho para vísceras não comestíveis e produtos com destino à graxaria) e não devem ser sobrecarregados, assim, no caso de grandes volumes, é recomendada a instalação de chutes (tubulação que direciona vísceras, partes comestíveis ou não para a salsicharia ou à graxaria), que devem ser higienizados diariamente com água quente e vapor; MÓDULO 10 | HIGIENE, LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAISMÓDULO 10 | HIGIENE, LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS 252 Dispor de esterilizador de facas, fuzis e serras, os quais devem ser esterilizados sempre que o instrumento tenha sofrido algum tipo de contaminação (82,2 ºC/3 minutos) – a equipe do controle de qualidade deve promover a troca desses utensílios (diferenciados pela cor do cabo) periodicamente; Ter higienização das plataformas alta e baixa ao final do dia; E, por fim, a capacidade das câmaras frigoríficas devem ser de, no mínimo, duas vezes a capacidade de abate da indústria. Sobre os sanitários, deve haver uma fiscalização a fim de garantir o uso correto dessa instalação, e esses não devem ter contato direto com a sala de abate. Dispor de trilhos aéreos limpos semanalmente, assim como as carretilhas, correntes e ganchos, a fim de evitar que qualquer tipo de sujidade recaia sobre as carcaças e, também, para facilitaro fluxo de animais; Para a desinfecção de áreas internas podem ser empregados soluções iodóforas, kilol, quaternários de amônia e hipoclorito de sódio, sendo o último aquele de melhor relação custo-benefício. MÓDULO 10 | HIGIENE, LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAISMÓDULO 10 | HIGIENE, LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS 253 Figura 10.1. Variáveis associadas ao Ciclo de Sinner Atua na remoção de partículas para prevenir a sedimentação e a readerência das partículas já desprendidas, sendo importante para reduzir o tempo dos ciclos de limpeza. É necessária para que a solução detergente penetre na sujidade, reaja e faça com que ela se desprenda da superfície, de modo que, geralmente, a eficiência aumenta com o tempo. É representada pelas soluções de limpeza, de modo que, uma ótima e adequada concentração de produtos de limpeza é fundamental para otimizar o processo de higienização. A velocidade das reações é incrementada pelo aumento da temperatura, mas, a quantidade de energia fornecida deve ser estritamente a necessária. A temperatura dependerá, ainda, do tipo de detergente e da técnica de limpeza empregada. Fonte: Adaptado de SPSP (2020). A eficiência do processo de higienização é descrita de acordo com o Modelo de Sinner, publicada por Herbert Sinner em 1960, que descreve que o processo ideal de limpeza deve conjugar ação mecânica, química, de tempo e temperatura (Figura 10.1). Tais fatores podem ser combinados de maneiras distintas, de acordo com a superfície, sujidade e ferramentas disponíveis para executar a tarefa e, por meio da sinergia entre essas variáveis, é possível garantir a maior eficiência do processo de higienização. Higiene de equipamentosHigiene de equipamentos MÓDULO 10 | HIGIENE, LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAISMÓDULO 10 | HIGIENE, LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS 254 Já a limpeza COP consiste em limpar fora do local, ou seja, o equipamento é desmontado e, portanto, é uma técnica mais demorada, de custo mais elevado, dependente de mão de obra especializada e, por isso, é menos empregada na indústria. Porém, pelo fato de permitir a escovação mecânica das partes de um equipamento, por exemplo, demonstra maior eficiência do ponto de vista higiênico-sanitário. Dois tipos de limpeza são empregados na indústria de alimentos, sendo eles conhecidos como CIP (clean in place) e o COP (clean out place). A limpeza CIP (Figura 10.2) consiste em limpar no próprio local, ou seja, sem desmontar o equipamento, sendo uma técnica mais rápida, de menor custo e, de forma consequente, é amplamente empregada na rotina de higienização industrial. Entretanto, impossibilita a realização da escovação mecânica, a qual pode ser crucial para uma maior eficiência do processo de higienização. Figura 10.2. Esquema de limpeza CIP Fonte: Biosan (2022). MÓDULO 10 | HIGIENE, LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAISMÓDULO 10 | HIGIENE, LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS 255 Os colaboradores são participantes ativos do processo produtivo e, em muitos casos, entram em contato direto com o alimento ou matéria-prima durante o fluxograma produtivo. Assim, é fundamental que todos eles tenham carteira de saúde e hábitos de higiene saudáveis, incluindo, principalmente, a lavagem de mãos constante. Higiene pessoalHigiene pessoal Quanto aos uniformes, estes devem ser de cor clara (branca) a fim de facilitar a visualização de sujidades, colaboradores devem utilizar ainda aventais plásticos, médicos veterinários e auxiliares de inspeção devem utilizar roupa branca com cruz verde e azul, respectivamente, botas brancas, bainha metálica para facas, gancho e fuzil. O uso de luvas de procedimento na indústria de alimentos é, em determinadas situações, questionado, pois há uma falsa impressão de que se usando a luva não seria necessário a lavagem de mãos, o que não é verdade. Por isso, o uso de luvas por colaboradores nos abatedouros frigoríficos somente ocorre em algumas etapas do processo de fabricação dos alimentos como, por exemplo, nas etapas de embalagem final do produto e, ainda assim, requer higienização prévia e constante das mãos, bem como a substituição periódica das luvas. MÓDULO 10 | HIGIENE, LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAISMÓDULO 10 | HIGIENE, LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS 256 É importante a disposição de cartazes educativos (Figura 10.3) em pontos estratégicos para reforçar a importância da lavagem de mãos e como ela deve ser realizada de maneira correta. Figura 10.3. Cartaz educativo de lavagem de mãos Fonte: TJPR (2020). Considerando a realidade do ambiente de trabalho nas indústrias de alimentos, com a pandemia de COVID-19, tornou-se necessária a adoção de algumas medidas preventivas, a fim de diminuir a ocorrência de casos da doença entre os colaboradores. Uma delas foi a instalação do sistema de desinfecção por spray (Figura 10.4), que pode ser empregado tanto nos colaboradores quanto nos veículos. MÓDULO 10 | HIGIENE, LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAISMÓDULO 10 | HIGIENE, LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS 257 É proibido o uso de qualquer tipo de adorno (relógio, brinco, pulseira, anel) em ambientes onde se processa ou manipula alimentos, pois esses podem se desprender e, assim, representar um perigo físico para o alimento, além de diminuírem a eficiência do procedimento de lavagem de mãos. Figura 10.4. Sistema de desinfecção por spray na entrada da indústria Fonte: Moninsc (2022). Higiene das operaçõesHigiene das operações Algumas operações durante o abate são críticas do ponto de vista higiênico- sanitário e, por isso, os Procedimentos Sanitários das Operações (PSO’s) durante essas etapas são fundamentais para minimizar o risco de contaminação da matéria-prima. Área de vômito: por se tratar de uma área muito contaminada, a higienização com pronto escoamento dos efluentes presentes nessa área deve acontecer constantemente; Evisceração: é fundamental que se evite o rompimento das vísceras; MÓDULO 10 | HIGIENE, LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAISMÓDULO 10 | HIGIENE, LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS 258 Sangria: deve-se remover frequentemente o excesso de sangue que fica acumulado na calha de sangria e no ralo, tendo em vista a tendência de coagulação do mesmo; Tempo de sangria: deve-se respeitar, rigorosamente, os três minutos de sangria, para garantir a morte efetiva do animal, para eliminar a maior quantidade de sangue possível da musculatura e para evitar alterações das características sensoriais e do prazo de validade do alimento; Faca de sangria: deve ser esterilizada após a sangria de cada animal. Mesmo que esse procedimento possa parecer trabalhoso e de difícil gerenciamento, ele deve ser rigorosamente realizado; Oclusão do reto e do esôfago: essa é uma etapa que, inclusive, é considerada um ponto crítico de controle, em virtude da possibilidade do extravasamento do conteúdo proveniente do canal alimentar e consequente contaminação da carcaça, equipamentos e utensílios; Lavagem do conjunto cabeça-língua: remoção do sangue para melhor visualização das alterações; Propulsão das carcaças em ganchos: para que não tenha nenhum tipo de contato com o piso da sala de abate; Lavagem das meias-carcaças: para retirada de sangue e espículas ósseas. MÓDULO 10 | HIGIENE, LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAISMÓDULO 10 | HIGIENE, LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS 259 Em se tratando de indústrias de alimentos e pelo fato de a água ser o principal meio utilizado para higienização, mas também por ser matéria-prima para a fabricação dos produtos, a garantia da sua qualidade é fundamental. Por isso, torna-se imprescindível o controle químico e a qualidade microbiológica da água industrial. Qualidade da águaQualidade da água Do ponto de vista microbiológico, a água pode veicular uma série de microrganismos, incluindo bactérias como Pseudomonasspp., Clostridium spp., Salmonella spp. e Escherichia coli. Assim, é necessário realizar o tratamento dessa água, que pode acontecer por meio da cloração, aquecimento, raios ultravioleta e aplicação de iodóforos. Porém, o produto mais empregado, em Do ponto de vista físico-químico, o pH da água deve ser próximo da neutralidade, evitando assim, por exemplo, a corrosão dos equipamentos e interferência negativa na eficiência dos produtos de limpeza. A sua dureza, característica dependente da concentração de sais minerais na água (cálcio, magnésio) não pode ser elevada, pois isso diminui a eficiência dos virtude do seu baixo custo, é o cloro, que deve ser encontrado na concentração de 0,5 a 1 ppm na água utilizada como ingrediente e para ingestão. produtos de limpeza e leva à formação de incrustações em equipamentos, o que, consequentemente, gera o acúmulo de matéria orgânica ideal para o crescimento de microrganismos (formação de biofilmes). A acidez total da água, que também é um aspecto físico-químico, é baseada na concentração de CO , ácidos minerais e orgânicos que liberam H na água, tornando-a ácida e, de forma consequente, tóxica e corrosiva para equipamentos e utensílios. A alcalinidade, por sua vez, é baseada na quantidade de carbonatos, bicarbonatos e hidróxido de cálcio, magnésio, ferro e manganês, que produzem a mesma incompatibilidade da dureza, gerando a formação de crostas de difícil remoção. 2 + MÓDULO 10 | HIGIENE, LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAISMÓDULO 10 | HIGIENE, LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS 260 Normas de higiene dosNormas de higiene dos estabelecimentosestabelecimentos As condições de higiene das instalações, equipamentos e até mesmo pessoal são fundamentais para garantir a qualidade do produto final e para evitar que o alimento seja contaminado durante o seu processo de fabricação. Assim, a inspeção sanitária também atua nesse segmento, a fim de garantir a segurança e a inocuidade do alimento. O RIISPOA, em seu capítulo II, que compreende os artigos 53 ao 72, aborda as condições de higiene nos ambientes industriais processadores de alimento. Consulte a LegislaçãoConsulte a Legislação Dentre os principais pontos abordados nessa legislação pode-se citar que: As dependências e os equipamentos devem estar em condições de higiene antes, durante a após a realização dos trabalhos; Os estabelecimentos devem ser mantidos livres de insetos e outros animais, devendo ser aplicado um correto controle de pragas e vetores urbanos; É proibido comer, cuspir e fumar dentro das instalações industriais; É proibido depositar itens pessoais nas instalações industriais; O Serviço de Inspeção deve determinar a substituição, pintura e reforma das instalações e equipamentos sempre que julgar necessário; MÓDULO 10 | HIGIENE, LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAISMÓDULO 10 | HIGIENE, LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS 261 Os alimentos devem ser conservados ao abrigo de contaminações; Colaboradores que apresentem dermatoses, doenças infectocontagiosas ou doenças de transmissão hídrica e alimentar devem ser afastados do trabalho; Detalhes inerentes a rede de água e esgoto são fixados pelo Serviço de Inspeção no momento de aprovação do projeto; As câmaras-frias devem ser mantidas em condições de higiene, iluminação e ventilação adequadas, sendo limpas e desinfetadas, com periodicidade determinada pelo Programa de Autocontrole (PAC). Princípios higiênico-sanitáriosPrincípios higiênico-sanitários -tecnológicos-tecnológicos Os princípios HST, ou higiênico-sanitário-tecnológico, estão incluídos nos Programas de Autocontrole de todas as indústrias e consistem em: Padronização da higiene, instalações e utensílios (rotina); Padronização da higiene das operações; Higiene pessoal; Padronização dos procedimentos de higienização; Meios auxiliares de diagnóstico (por exemplo, análises microbiológicas de superfícies de equipamentos e do ambiente industrial); Registros (POP); Auditorias internas e externas. Caros alunos, Encerramos o conteúdo de Higiene, Limpeza e Desinfecção das Instalações Industriais. O Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) dessa disciplina está repleto de materiais para auxiliá-lo no aprofundamento dos seus estudos e você pode acessar a Plataforma de EAD da UFJF pelo link https://ead.ufjf.br/. Não deixe de conferir! MÓDULO 10 | HIGIENE, LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAISMÓDULO 10 | HIGIENE, LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS 262 Os exercícios de fixação são uma excelente forma de verificar se você está assimilando corretamente o conteúdo abordado em aula. As questões são de múltipla escolha e versam sobre o tema: Higiene, Limpeza e Desinfecção das Instalações Industriais. O formulário só poderá ser respondido uma única vez, portanto, tenha atenção durante a execução da atividade. Após a finalização do questionário você contará com feedbacks orientativos que poderão ajuda-lo no momento do estudo. Exercícios de FixaçãoExercícios de Fixação MÓDULO 10 | HIGIENE, LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAISMÓDULO 10 | HIGIENE, LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS 263 BBIOSAN. O que é Clean in place (CIP) e como funciona. 2022. Disponível em: https://biosan.net.br/o-que-e- clean-in-place-cip-e-como-funciona/. Acesso em: 08 abr. 2022. MONINSC. Sistema de desinfecção por spray. 2022. Disponível em: https://www.moninsc.com.br/produtos. Acesso em: 08 abr. 2022. SPSP. Dicas de Limpeza - Ciclo de Sinner. 2020. Disponível em: https://www.spsp.com.br/post/dicas-de- limpeza-ciclo-de-sinner-p24. Acesso em: 08 abr. 2022. TJPR. Covid-19: saiba como higienizar as mãos corretamente. 2020. Disponível em: https://www.tjpr.jus.br/widget/noticias/-/asset_publisher/9jZB/content/saiba-como-higienizar-as-maos- corretamente/18319. Acesso em: 08 abr. 2022. ReferênciasReferências BibliografiaBibliografia Várias dessas bibliografias estão presentes nas bibliotecas da UFJF em livros físicos e em e-books. Aproveite! BRASIL. Presidência da República. Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal. Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal. Aprovado pelo Decreto n. 30.691 de 29 de março de 1952, alterado pelos Decretos n. 1.225 de 25 de junho de 1962, Decreto n.1236 de 02 de setembro de 1994, Decreto n.1812 de 08 de fevereiro de 1996, Decreto n.2244 de 04 de junho de 1997, Decreto n.9.013 de 29 de março de 2017, Decreto n.9069 de 31 de maio de 2017, Decreto n.10468 de 18 de agosto de 2020. Diário Oficial da República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 19 ago. 2020. CONTRERAS, C. J.; BROMBERG, R.; CIPOLLI, K. M. V. A. B.; MIYAGUSKU, L. Higiene e sanitização na indústria de carnes e derivados. São Paulo: Varela, 2002. 181p. PARDI, M. C.; SANTOS, I. F.; SOUZA, E. R.; PARDI, H. S. Ciência, higiene e tecnologia da carne. 2. ed. Goiânia: Editora da UFG, 2006. v.1. 624p. PINTO, P. S. A. Inspeção e higiene de carnes. Viçosa: UFV, 2008. 389p. ABATES RITUAISABATES RITUAIS XX ABATE TRADICIONALABATE TRADICIONAL O abate tradicional, também chamado de humanitário, foi estabelecido, ainda em 2000, pela Instrução Normativa nº 3, de 17 de janeiro de 2000, do Ministério da Agricultura e Pecuária, baseia-se nos preceitos de bem-estar animal, para que esses não sintam nenhum tipo de dor durante o processo. Em contrapartida, os abates rituais, seguem preceitos religiosos, judaicos (abate Kosher) e islâmicos (abate Halal). IntroduçãoIntrodução MÓDULO 11 | ABATES RITUAIS X ABATE TRADICIONALMÓDULO 11 | ABATES RITUAIS X ABATE TRADICIONAL 265 Atualmente, os abates de animais de produção são regidos pela Portaria Nº 365, de 16 de julho de 2021 (MAPA), que aprova o Regulamento Técnico de Manejo Pré-abate e Consulte a LegislaçãoConsulte a Legislação Abate Humanitário e os Métodos de Insensibilização, assim como prevê algumas práticas aplicadas aos abates religiosos. Os alimentos kosher (Figura 11.1) são preparados de acordo comas leis judaicas de alimentação (kashrut) e, “kosher” significa que eles são bons e próprios para o consumo, seguindo um ritual (schechitá) durante o abate, que é realizado com uma lâmina própria (chalaf). Abate KosherAbate Kosher Figura 11.1. Selo de identificação dos alimentos Kosher Fonte: Essential (2022). FIQUE LIGADO!FIQUE LIGADO! Saiba mais sobre esse conteúdo acessando o Instagram @gppoa.ufjf O abate fundamenta-se em um ritual precedido de uma oração (berakhá), não podendo haver hesitação no momento da sangria e, caso isso ocorra, o animal deve ser recusado. A sangria, que é realizada pelo rabino, acontece com o animal vivo, sem que este tenha sofrido nenhum processo de insensibilização prévia e, somente machos inteiros são aceitos. MÓDULO 11 | ABATES RITUAIS X ABATE TRADICIONALMÓDULO 11 | ABATES RITUAIS X ABATE TRADICIONAL 266 Após a sangria de cada animal, examina- se o fio da chalaf (Figura 11.2), em busca da formação de qualquer dente ou arranhão, o que, se ocorrer, torna o animal impróprio para consumo como alimento kosher. Durante a inspeção, verifica-se a presença de aderências ou malformações e, se presentes, o animal torna-se impróprio para o consumo. Figura 11.2. Chalaf, faca própria para a degola de animais abatidos pelo método religioso Kosher Fonte: Mercado livre (2022). São requisitos para a comida kosher: ruminantes e cascos fendidos (bovino, caprino e ovino); aves (frangos, patos, gansos e perus); peixes de escamas e barbatanas (peixes de couro, crustáceos e demais frutos do mar são proibidos) (Figura 11.3); não consumir produtos que contenham carne e leite simultaneamente nem utilizar os mesmos utensílios (aguardar um prazo de seis horas entre o consumo de um e outro); nunca ingerir sangue (o processo de kasherização consegue eliminar percentual elevado de sangue ainda presente na musculatura); é proibido o consumo do nervo isquiádico; vegetais, frutas, minerais e produtos de confeitaria são permitidos. MÓDULO 11 | ABATES RITUAIS X ABATE TRADICIONALMÓDULO 11 | ABATES RITUAIS X ABATE TRADICIONAL 267 Figura 11.3. Espécies animais que são consideradas kosher (próprio para alimentação) (à esquerda e em verde) e não-kosher (impróprio para alimentação) (à direita e em vermelho) Fonte: Uxcomex (2020). Existem oito injúrias que tornam o animal impróprio para consumo (não kosher): Substância venenosa introduzida no corpo do animal por presas que cortam; Paredes de órgão perfurada; Ausência de órgãos completos ou partes deles; Órgãos ou partes deles que tenham sido removidos (não- castrados); Paredes ou coberturas de órgãos rasgadas; Traumatismos por queda; Veias rompidas; Fraturas em ossos. A inspeção no abate Kosher consiste em verificar a presença de aderência na carcaça e pulmões, sendo esta realizada pelos próprios judeus, que identificam e carimbam as carcaças. Entretanto, no Brasil, os animais também são inspecionados pelo Serviço de Inspeção Federal, de maneira simultânea a essa inspeção judaica. A kasherização é um processo que objetiva a eliminação máxima de sangue da carne, devendo ocorrer até, no máximo, 72 horas após o abate. Esse processo consiste na imersão da carne em água por 30 minutos, seguida da salga a seco (sal kosher) por uma hora e, após isso, é realizada uma nova imersão em água com duração de 1 hora por cada imersão, que são realizadas consecutivamente (no total são três imersões em água seguidas de salga a seco). Obviamente, esse processo diminui o prazo de validade da carne, o seu valor nutricional, além de alterar as características sensoriais do produto. MÓDULO 11 | ABATES RITUAIS X ABATE TRADICIONALMÓDULO 11 | ABATES RITUAIS X ABATE TRADICIONAL 268 Figura 11.4. Cortes cárneos bovinos permitidos para o consumo Kosher Fonte: One kosher (2016). As porções da carcaça consumidas pelos judeus consistem, apenas, nos cortes cárneos do quarto dianteiro (peito, pescoço, paleta, acém, cupim, músculo e costelas dianteiras), enquanto os demais cortes são dispensados (Figura 11.4). Isso acontece pois os judeus não consomem nenhuma carne que esteja próxima ao nervo isquiádico. Com isso, a indústria comercializa esses cortes, que são os mais valorizados da carcaça, juntamente com os dos animais oriundos do abate tradicional. Grelhar a carne em fogo aberto é considerado uma outra técnica e o melhor processo de kasherização, pois, neste caso, consegue-se a eliminação de uma maior quantidade de sangue. Para as aves, não é permitido utilizar água quente para a retirada de penas e o pescado não necessitam de sofrer o processo de kasherização. A supervisão de todo o processo de abate é realizada pelos judeus, que irão assegurar que o produto que está sendo produzido é kosher. Essa supervisão concentra-se em duas áreas, nos ingredientes, pois todos eles devem ser kosher; e nos equipamentos que devem ter status kosher e não podem ser utilizados, simultaneamente, para o beneficiamento dos dois tipos de alimento (kosher e não-kosher). Todavia, a exigência religiosa contrasta-se com a crueldade e com a falta de cuidado quanto aos aspectos higiênico-sanitários na produção de alimentos, tendo em vista a contenção e degola cruenta, que geram efeitos estressantes nos animais abatidos, além de sinais evidentes de dor (flexão dos membros dianteiros e contração dos músculos da face). MÓDULO 11 | ABATES RITUAIS X ABATE TRADICIONALMÓDULO 11 | ABATES RITUAIS X ABATE TRADICIONAL 269 Figura 11.5. Esquema de abate Kosher de ovinos com emprego de box de contenção Fonte: Roça [s/d]. Como inovações tecnológicas, observa-se a instalação em frigoríficos de equipamentos de contenção vertical (os quais permitem uma capacidade de abate de 75 a 100 animais/hora) (Figura 11.5), eliminando a prática de suspender os animais vivos. Leitura ComplementarLeitura Complementar PAZUELLO, I. F.; RIBEIRO, L. F. Abate Kosher no Brasil: uma revisão de literatura. GETEC, v. 10, n. 28, p.93-98, 2021. O abate Halal (Figura 11.6) atende aos preceitos do Al Corão e da jurisprudência islâmica para as leis de alimentação (Shari’ah). Nesse processo, em que somente machos inteiros são aceitos, os animais são mortos sem sofrimento, de acordo com a crença islâmica, e sacrificados em homenagem a Alláh. Abate HalalAbate Halal Figura 11.6. Selo de identificação dos alimentos Halal Fonte: Inoar (2018). MÓDULO 11 | ABATES RITUAIS X ABATE TRADICIONALMÓDULO 11 | ABATES RITUAIS X ABATE TRADICIONAL 270 Leitura ComplementarLeitura Complementar BRIDI, A. M.; FONSECA, N. A. N.; SILVA, C. A.; BALARIN, M. R. S.; FLAIBAN, K. K. M. C.; COSTANTINO, C.; TARSITANO, M. A.; CARDOSO, T. A. B. Indicadores de estresse e qualidade da carne em frangos abatidos pelo método “Halal”. Semina: Ciências Agrárias, v. 33, n. 6, p. 2451-2460, 2012. O abate é fundamentado em uma degola cruenta e sem atordoamento (insensibilização) prévio, com o ritual de, no momento exato em que é feito a degola de cada animal, seja pronunciada a frase “Bismiallah Allahu Akbar” que significa “em nome de Deus”, e que no momento do abate o animal esteja voltado em direção a Meca. Para esse abate religioso não é realizado nenhum tipo de exame, não há conferência da faca assim como não há rejeição dos animais em casos de hesitação (como ocorre no abate kosher). Preconiza-se que o animal seja bem alimentado, ativo e saudável, sendo abatido somente pela razão de se tornar alimento. O corte, para a sangria é realizado no pescoço, provocando uma perda aguda de sangue, que causa um choque hemorrágico no animal, levando a uma perda de consciência quase imediata. Entretanto, nessa técnica de abate é possível observar, muitas vezes, animais apresentando contrações involuntárias tônicas e clônicas, além de convulsões. Essa situação, facilita a liberação do sangue, o que é um fator positivo para a qualidade da carne, mas, em contrapartida, a qualidade da mesma também é muito influenciada pelo estresse que o animal é submetido durante o processo. O Brasil é um grande produtor de carne de frango e, sobretudo nas últimasdécadas, vem se destacando no cenário de abate religioso. O abate Halal segue o ritual islâmico e, por isso, é necessário que a indústria realize algumas alterações a fim de estar apta a realizar esse tipo de processo. Assista ao vídeo! MÓDULO 11 | ABATES RITUAIS X ABATE TRADICIONALMÓDULO 11 | ABATES RITUAIS X ABATE TRADICIONAL 271 Alguns critérios para o abate Halal são: não causar a morte do animal antes do abate propriamente dito; ser “humanitário”, não causando estresse, dor ou sofrimento para o animal; permitir o melhor escoamento de sangue; não causar danos para a qualidade da carne; ser prático e rápido; ser econômico (poucos equipamentos); ser mais familiar ao animal (menos máquinas e contenções); e ter uma performance segura, sem uso de eletricidade ou gás. Diferenças entre Kosher eDiferenças entre Kosher e HalalHalal O quadro 11.1 apresenta as principais diferenças entre Kosher e Halal, tanto no quesito alimentação quanto nos procedimentos de abate. MÓDULO 11 | ABATES RITUAIS X ABATE TRADICIONALMÓDULO 11 | ABATES RITUAIS X ABATE TRADICIONAL 272 Quadro 11.1. Diferenças entre algumas práticas Kosher e Halal em relação a alimentos permitidos e processos de beneficiamento da carne KosherKosher Gelatinas não são permitidas Se a enzima utilizada na fabricação do queijo for de origem suína, esse alimento é proibido Pronunciam o nome de Alláh antes do abate de cada animal O abate acontece com o animal voltado em direção à Meca Não há processo de kasherização Álcool é proibido HalalHalal Gelatinas são permitidas Permite todos os tipos de queijos Não há pronúncia do nome de "Deus" durante o abate Não existe nenhuma orientação específica quanto ao local para abate dos animais A carne sofre processo de kasherização Vinhos são respeitados Fonte: Dos autores (2024). Abate TradicionalAbate Tradicional O abate tradicional, humanitário evoluiu muito ao longo dos últimos anos, tornando-se uma operação menos brutal, mais tecnificada e preocupada em garantir o bem-estar dos animais, tendo em vista que o manejo pré-abate e durante o abate influenciam diretamente à qualidade da carne. FIQUE LIGADO!FIQUE LIGADO! Saiba mais sobre esse conteúdo acessando o Instagram @gppoa.ufjf MÓDULO 11 | ABATES RITUAIS X ABATE TRADICIONALMÓDULO 11 | ABATES RITUAIS X ABATE TRADICIONAL 273 Um bom método de abate deve preconizar a calma, tranquilidade, evitando-se qualquer tipo de estresse e proibindo atitudes cruéis com os animais; a sangria deve acontecer da forma mais rápida e completa possível; as contusões nas carcaças devem ser mínimas; e o método de abate deve ser higiênico, econômico e seguro para os operadores. Em dezembro de 2007 foi realizado um acordo de cooperação técnica entre a ABIPECS (Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína), WSPA (World Society for the Protection of Animals) e o MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária), cujo objetivo era o treinamento dos colaboradores de frigoríficos para a realização do abate humanitário, promovendo a conscientização e implantando melhores práticas de manejo pré-abate e abate dos animais. Em 2009, foi lançado o Programa Nacional de Abate Humanitário (Steps), 100 % financiado pela WSPA, promovendo o treinamento de 2.000 inspetores veterinários, com o objetivo de melhorar o tratamento dado aos animais de produção durante todas as fases do manejo pré- abate e abate. A Portaria n. 365/2021 (modificada pela Portaria n. 864/2023) , que revogou a IN 3/2000, todas do MAPA, elenca os métodos de insensibilização permitidos e as espécies autorizadas em cada um deles (Quadro 11.2). Além disso, seu âmbito de aplicação é em todos os estabelecimentos industriais que realizam o abate dos animais de açougue. MÓDULO 11 | ABATES RITUAIS X ABATE TRADICIONALMÓDULO 11 | ABATES RITUAIS X ABATE TRADICIONAL 274 Quadro 11.2. Métodos de insensibilização permitidos no Brasil e espécies autorizadas em cada método Fonte: Adaptado de Brasil (2021). Método deMétodo de InsensibilizaçãoInsensibilização Aves, bovinos, caprinos, ovinos, coelhos, suídeos Aves, bovídeos, caprinos, ovinos, coelhos, equídeos, suídeos Bovídeos, caprinos, ovinos, equídeos, pescado e suídeos Aves Aves, suídeos, quelônios Aves, bovídeos, caprinos, ovinos, coelhos, equídeos, jacarés, suídeos DescriçãoDescrição Provoca contusão cerebral Promove inconsciência imediata (conduz eletricidade transversalmente no cérebro) Promove inconsciência imediata e fibrilação ventricular (conduz eletricidade transversalmente no cérebro e posteriormente ao corpo do animal) Promove inconsciência imediata e fibrilação ventricular (água eletrificada) Exposição dos animais a misturas gasosas (CO , N) para provocar anóxia Promove laceração cerebral e lesão irreversível Pistola de dardo cativo não penetrante Insensibilização elétrica (aplicação de corrente somente na cabeça) Insensibilização elétrica (aplicação de corrente da cabeça ao corpo) Corrente elétrica em tanque de imersão Atmosfera controlada Pistola de dardo cativo penetrante Espécies AutorizadasEspécies Autorizadas 2 MÓDULO 11 | ABATES RITUAIS X ABATE TRADICIONALMÓDULO 11 | ABATES RITUAIS X ABATE TRADICIONAL 275 A insensibilização deficiente/errônea é um erro grave durante a execução do fluxograma de abate. Além de provocar sofrimento ao animal, também afeta a qualidade da carne e dos produtos que serão gerados a partir dela. Tal fato é confirmado pela vocalização do animal, presença de reflexos oculares, movimentos oculares e contração dos membros dianteiros. Os animais insensibilizados corretamente devem apresentar ausência de respiração rítmica, ausência de reflexo córneo/piscar espontâneo, ausência de intenção de restabelecer posição corporal (levantar), presença de mandíbula relaxada (língua pendular), ausência de bater coordenado de asas e ausência de vocalização. Assim, apesar de todas as conquistas do ponto de vista do bem-estar, os abates rituais ainda apresentam maiores efeitos estressantes sobre os animais quando comparados com o abate humanitário. Todavia, observa- se uma maior eficiência da sangria nos abates religiosos e menor quando ocorre a insensibilização dos animais. Um outro ponto a ser levantado é o baixo custo de alguns métodos de insensibilização, como é o caso da pistola pneumática, que gira em torno de R$ 14.000,00 (agosto/2023) e da insensibilização elétrica para suínos que é de R$ 12.000,00 (agosto/2023), o que torna injustificável o abate dos animais sem o emprego de algum método de insensibilização. Caros alunos, Encerramos o conteúdo de Abates Rituais X Abate Tradicional. O Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) dessa disciplina está repleto de materiais para auxiliá-lo no aprofundamento dos seus estudos e você pode acessar a Plataforma de EAD da UFJF pelo link https://ead.ufjf.br/. Não deixe de conferir! MÓDULO 11 | ABATES RITUAIS X ABATE TRADICIONALMÓDULO 11 | ABATES RITUAIS X ABATE TRADICIONAL 276 Os exercícios de fixação são uma excelente forma de verificar se você está assimilando corretamente o conteúdo abordado em aula. As questões são de múltipla escolha e versam sobre o tema: Abates Rituais X Abate Tradicional. O formulário só poderá ser respondido uma única vez, portanto, tenha atenção durante a execução da atividade. Após a finalização do questionário você contará com feedbacks orientativos que poderão ajuda-lo no momento do estudo. Exercícios de FixaçãoExercícios de Fixação MÓDULO 11 | ABATES RITUAIS X ABATE TRADICIONALMÓDULO 11 | ABATES RITUAIS X ABATE TRADICIONAL 277 BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa n. 3, de 17 de janeiro de 2000. Aprova o Regulamento Técnico de Métodos de Insensibilização para o Abate Humanitário de Animais de Açougue. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 24 jan. 2000. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/sustentabilidade/bem-estar-animal/arquivos/arquivos-legislacao/in- 03-de-2000.pdf/view. Acessoindústrias, responsabilidade técnica (RT), denominação de origem para garantia de qualidade (selo, rastreabilidade, certificações, normas ISO) e, ainda, as atividades oficiais de inspeção sanitária dos produtos de origem animal. MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 31 Sua atuação versa sobre o conhecimento dos órgãos fiscalizadores e sobre a legislação em vigor, ele deve sempre dialogar com o Serviço de Inspeção Oficial, ministrar treinamentos para os manipuladores de alimentos, elaborar e corrigir documentos, acompanhar obras de reforma e ampliação, rotulagem e registro de produtos, avaliação do projeto arquitetônico, elaborar e corrigir fluxogramas de processos e coordenar ou acompanhar o controle de qualidade. O responsável técnico deve ser capacitado para garantir o cumprimento de padrões técnicos de produtos de origem animal durante o seu processamento e que estes sejam seguros para o consumo. Esse profissional responde técnica, ética e legalmente pelos seus atos profissionais. A inspeção permanente é aquela que acontece em indústrias que abatem animais (lidam com o animal ainda vivo), enquanto a inspeção periódica acontece em indústrias que lidam somente com os produtos de origem animal (laticínios, ovos, mel, conservas). Atualmente, existem dois tipos de inspeção sanitária: permanente e periódica. Tipos e métodos de inspeçãoTipos e métodos de inspeção A frequência da inspeção periódica é baseada em risco (IN 138/2022 – MAPA) e, nesse cenário, são considerados o volume de produção, tipo de produto e condições do programa de autocontrole. MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 32 Além disso, a inspeção também pode ser realizada por meio de técnicas visuais, de palpação e de incisões (caráter macroscópico) e por meio de exames laboratoriais. No Brasil, a inspeção de carnes é essencialmente macroscópica, enquanto a inspeção de leite, por exemplo, envolve mais os aspectos laboratoriais. Analisando criticamente e considerando a realidade brasileira, muitos questionam a efetividade da inspeção periódica, sendo este um reflexo claro do fato de que o Brasil é considerado um dos países que mais fraudam alimentos no mundo. A fase pré-industrial (início do século XX) marcou o início do setor da indústria de carnes no Brasil. Neste momento, o próprio criador dos animais era o responsável pelo abate. O comércio desse produto era completamente informal, e incluía a “carne verde” (fresca sem processamento industrial) e da charqueada (salga e desidratação aumentando o prazo de validade devido à diminuição da proliferação microbiana), sendo que a esta última já era até exportada. Evolução da inspeção de carnesEvolução da inspeção de carnes Além disso, também era comum o acondicionamento das peças imersas em gordura (banha) suína, pois essa, em temperatura ambiente, atinge forma sólida gerando a formação de um meio praticamente ausente em oxigênio, diminuindo-se, assim, a proliferação de microrganismos e, portanto, essa forma era utilizada como método de conservação do alimento. MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 33 No período pós 1ª Guerra Mundial (1918) instalaram-se no Brasil os primeiros abatedouros frigoríficos, de origem Anglo-Norte-Americana na “invernada paulista”, região estratégica estando próxima aos centros de criação e ferrovias para transporte dos animais e comercialização da carne. Nessa época o perfil da indústria consistia no comércio de carne, couro e sebo e estava centralizado nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso e, percebe-se que essas regiões são importantes até hoje para a bovinocultura de corte. BR ASI L S.I.F. I N S P E C I O N A D O 0 0 0 M IN IST ÉRIO DA AGRICULTURA Os países, que deram o ponta pé inicial na indústria de carnes no Brasil, são até hoje grandes produtores mundiais de carne, todavia, seu consumo interno é elevado, de forma que a maioria absoluta o do que é produzido é consumido internamente. Dessa forma, eles têm necessidade de importar carne de outros países. Com o Decreto nº 11.460, de 27 de janeiro de 1915, criou-se o Serviço de Inspeção de Fábricas de Produtos Animais (início dos trabalhos do SIF no Brasil), que, mais tarde, tornou-se um serviço forte e reconhecido mundialmente e, por meio do Decreto nº 14.711, de 05 de março de 1921, criou-se o Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SIPOA), que tornou a inspeção obrigatória para produtos destinados à exportação, enquanto os produtos destinados ao mercado interno não necessitavam de inspeção sanitária. MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 34 Inicialmente, e nessa época, a inspeção sanitária de carnes no Brasil foi realizada por médicos, treinados por médicos veterinários americanos e ingleses, tendo em vista que a profissão do médico veterinário só foi reconhecida no Brasil em 1933 (a primeira turma formou-se em 1917), e ainda assim a inspeção só se tornou função privativa dos médicos veterinários em 1937. Nesse cenário, com a instalação de mais indústrias estrangeiras (Wilson – 1915, Swift – 1923, Anglo – 1926), houve uma mudança no perfil da indústria que passou a realizar o aproveitamento de toda a matéria-prima do bovino, associando o abate à processos tecnológicos e, assim, aumentando as exportações. Como consequência da Guerra, houve um aumento da demanda mundial de carne, considerando que os países europeus não conseguiam produzir o suficiente, então, o Brasil começou a crescer significativamente em termos de produção deste alimento de origem animal, todavia, o aumento do abate impulsionado pela alta demanda externa, acabou desfalcando o rebanho brasileiro. No período da 2ª Guerra Mundial (1939 – 1945), houve uma reformulação das charqueadas, as quais se tornaram mais profissionalizada, com o emprego de tecnologia de fabricação e cuidados higiênicos-sanitários, todavia, a inspeção dos produtos de origem animal continuou sendo realizada somente naqueles produtos destinados à exportação. MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 35 Para recuperar o rebanho nacional, diminuído em virtude da demanda gerada pela Guerra, importou-se animais vivos, para garantir a continuidade da produção, e como a demanda externa por carne era alta, e o valor pago pelo produto era maior quando exportado, os produtores avaliaram que era mais lucrativo exportar a carne do que realizar o comércio interno, o que culminou na escassez de carne bovina no mercado interno, de forma que foi necessário que o governo intervisse por meio do estabelecimento de planos anuais de abastecimento, para garantir que uma parte da produção ficasse no mercado interno. Nessa mesma época surgiram novos setores industriais, como os de embutidos e enlatados (fabricação de derivados cárneos), que apresentavam maior prazo de validade além de serem considerados produtos mais seguros devido a sua tecnologia de fabricação. A produção e o abate de frangos também avançaram nesta época, apesar do seu processo industrial ainda ser lento e com pouca tecnologia. A primeira reforma da legislação de IISPOA deu-se com a promulgação da Lei nº 1.283, de 18 de dezembro de 1950, que é considerada a “Lei Mãe da Inspeção”, que foi regulamentada pelo Decreto nº 30.691, de 29 de março de 1952, em que se instituiu a obrigatoriedade de inspeção industrial e sanitária dos produtos de origem animal no Brasil. Além disso, criou-se uma nova legislação, em que a carne e qualquer outro produto de origem animal que fosse permanecer no mercado interno também deveriam ser inspecionados. Esse controle sanitário da inspeção sanitária dos produtos de origem animal no Brasil acontece em três níveis (Figura 1.2), sendo eles o Federalem: 08 abr. 2022. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Portaria n. 365, de 16 de julho de 2021. Aprova o Regulamento Técnico de Manejo Pré-abate e Abate Humanitário e os métodos de insensibilização autorizados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 23 jul. 2021. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-365-de-16-de-julho-de- 2021-334038845. Acesso em: 12 abr. 2022. BRASIL. Ministério da Agricultura e Pecuária. Portaria n. 864 de 31 de julho de 2023. Altera a Portaria SDA Nº 365, de 16 de Julho de 2021, que aprova o Regulamento Técnico de Manejo Pré-Abate e Abate Humanitário e os métodos de insensibilização autorizados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 01 ago. 2023. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-sda/mapa-864-de-31-de-julho-de-2023-499871950? fbclid=PAAaYeePI0zeJDty7BjpNkgLKr2k8wsjcniOJCuFKY42rbX_wcG4cEtB9piGE_aem_AQ5rHnJmlvUroerB_Ymyy9Eyb WL0GjOfjx78SQppyGfxuKTbqwJc2KWtgjHK7rdOY-Y. Acesso em: 01 ago. 2023. BRIDI, A. M.; FONSECA, N. A. N.; SILVA, C. A.; BALARIN, M. R. S.; FLAIBAN, K. K. M. C.; COSTANTINO, C.; TARSITANO, M. A.; CARDOSO, T. A. B. Indicadores de estresse e qualidade da carne em frangos abatidos pelo método “Halal”. Semina: Ciências Agrárias, v. 33, n. 6, p. 2451-2460, 2012. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/4457/445744116037.pdf. Acesso em: 08 abr. 2022. ESSENTIAL. Entenda o que é e como funciona a alimentação Kosher. 2022. Disponível em: https://www.essentialnutrition.com.br/conteudos/kosher/. Acesso em: 08 abr. 2022. INOAR. O que é Halal e o que isso tem a ver com meus cosméticos? 2018. Disponível em: https://inoar.com/09/08/2018/o-que-e-halal-e-o-que-isso-tem-a-ver-com-meus-cosmeticos/. Acesso em: 08 abr. 2022. MERCADO LIVRE. Faca chalaf especial abate kosher forjada aço cirúrgico 45cm. 2022. Disponível em: https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-953994126-faca-chalaf-especial-abate-kosher-forjada-aco-cirurgico- 45cm-_JM. Acesso em: 08 abr. 2022. ONE KOSHER. Nikur. 2016. Disponível em: https://es-la.facebook.com/onekosher/posts/1271312592882454/. Acesso em: 08 abr. 2022. PAZUELLO, I. F.; RIBEIRO, L. F. Abate kosher no Brasil: uma revisão de literatura. GETEC, v. 10, n. 28, p.93-98, 2021. Disponível em: http://www.fucamp.edu.br/editora/index.php/getec/article/view/2393/1485. Acesso em: 08 abr. 2022. ROÇA, R. O. Abate de bovinos. [s/d]. UNESP - Campus Botucatu. Disponível em: https://www.fca.unesp.br/Home/Instituicao/Departamentos/Gestaoetecnologia/Teses/Roca103.pdf. Acesso em: 08 abr. 2022. UXCOMEX. Israel e o mercado kosher. 2020. Disponível em: https://uxcomex.com.br/2020/11/israel-e-o- mercado-kosher/. Acesso em: 08 abr. 2022. ReferênciasReferências BibliografiaBibliografia Várias dessas bibliografias estão presentes nas bibliotecas da UFJF em livros físicos e em e-books. Aproveite! BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Defesa Agropecuária. Portaria n. 365 de 16 de julho de 2021. Regulamento técnico de manejo pré-abate e os métodos de insensibilização autorizados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 23 jul. 2021. 2025. UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA 7ª EDIÇÃO – 2025 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610). INFORMAÇÕES E CONTATO Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF Faculdade de Medicina Departamento de Medicina Veterinária Rua José Lourenço Kelmer, s/n, Campus Universitário, São Pedro, CEP 36036-900, Juiz de Fora, MG, BRASIL. Tel: (32) 2102-6851 E-mail: emilia.maricato@ufjf.br VET039 - INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNE E PRODUTOS DERIVADOS I(SIF), em que os estabelecimentos podem realizar comércio nacional e para o exterior, o Estadual (SIE) em que os estabelecimentos podem realizar comércio entre os municípios de um mesmo estado (intermunicipal) (MG: IMA – Instituto Mineiro de Agropecuária) e Municipal (SIM) em que os estabelecimentos podem realizar somente o comércio local dentro do município (intramunicipal). MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 36 Figura 1.2. Organograma de funcionamento do serviço de inspeção oficial Fonte: Dos autores (2024). SIFSIF SIESIE SIMSIM Comércio nacional e internacional Comércio estadual Comércio municipal (entre municípios do mesmo estado) (somente no município em que é fabricado) Vigilância Sanitária inutiliza mais de 648 quilos de alimentos durante Rock in Rio. Nessa primeira reforma também houve a criação do RIISPOA, que é o Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária dos Produtos de Origem Animal, o qual dita as normas da inspeção industrial e sanitária dos produtos de origem animal no Brasil. Também, com o mesmo Decreto, foi criado o DIPOA, que é o Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal, dentro do MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária), responsável por criar as legislações que tangem à inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal, bem como coordenar todo esse processo. MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 37 A partir dessa divisão, observou-se a existência de uma heterogeneidade na inspeção, em que o Serviço de Inspeção Federal demonstrava-se, muitas vezes, mais exigente que os demais. RIISPOA A restrição quanto às possibilidades de comércio ocorre em virtude de aspectos locais de sanidade agropecuária, pois algumas regiões são livres de doenças enquanto outras não. Então, essas barreiras comerciais de caráter sanitário têm como objetivo garantir que não haverá a introdução de doenças nos locais considerados como livres e, de forma consequente, preconizar a saúde pública. Além disso, também envolve questões federativas em relação às exigências impostas por cada estado/cidade. Por isso, no momento da escolha de qual Serviço de Inspeção aderir, a indústria deveria levar em consideração qual abrangência de comercialização ela desejaria para os seus produtos e o nível de exigência do Serviço de Inspeção (SI). Novos setores industriais surgiram nesta época, como as Unidades de Beneficiamento de Produtos Não Comestíveis (graxaria), responsável pela produção de coprodutos de origem animal que não podem ser consumidos pelo ser humano como sebo, farinha de carne, ossos, sangue, vísceras e material condenado pelo serviço de inspeção. Para as indústrias que não possuem graxaria própria é interessante vender material a ser descartado para outras indústrias. Os perfis da indústria (1960 – 1970), do mercado interno e mercado externo estavam em crescimento, e, nesta época, as indústrias estrangeiras não dominavam mais o mercado nacional. MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 38 Durante o período conhecido como industrialização (1950 – 1960), houve uma intensificação dos processos produtivos, inclusive da cadeia produtiva da carne e, neste período, começaram a surgir as grandes indústrias e marcas nacionais. O governo passou a garantir cotas de abate para as empresas que seguissem as normas e exigências da Lei nº 1.283/1950, que preconizavam a segurança higiênico- sanitária das edificações, instalações, equipamentos, utensílios e higiene pessoal, como forma de estímulo para a adesão às novas normas exigidas. No contexto da inspeção sanitária, observava-se que os abatedouros frigoríficos sob inspeção estadual e municipal não estavam funcionando adequadamente, devido a deficiências técnicas (instalações precárias), econômicas, fiscais (sonegação), inspeção ineficiente, ausência de graxaria e beneficiamento de coprodutos e colaboradores desqualificados (baixo grau de escolaridade e noções de higiene). Havia, ainda, uma série de locais que realizavam o abate, mas sem inspeção (abate clandestino). BR ASI L S.I.F. I N S P E C I O N A D O 0 0 0 M IN IST ÉRIO DA AGRICULTURA MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 39 Em contrapartida, a inspeção sanitária realizada em nível federal (SIF) apresentava resultados satisfatórios e, com isso, teve-se a ideia da federalização da inspeção. A segunda reforma da legislação de IISPOA aconteceu com a promulgação da Lei nº 5.760, de 03 de dezembro de 1971, regulamentada pelo Decreto nº 73.116, de 08 de novembro de 1973, que instituiu a federalização da inspeção industrial e sanitária dos produtos de origem animal no Brasil, marcando o fim, a esta época, dos serviços de inspeção estaduais e municipais. Porém, o resultado esperado para essa ação não foi alcançado. O serviço de inspeção federal não tinha condições de se responsabilizar por todas as indústrias já existentes no Brasil todo bem como também não tinha condições de fiscalizar todas elas e, por isso, a federalização da inspeção teve o seu fim em 1975. Atualmente, mais de 5 mil estabelecimentos estão sob Serviço de Inspeção Federal no Brasil. Crise do petróleo e do mercado interno (1973 – 1979) geraram impactos em todas as cadeias produtivas da América Latina (esta é considerada uma década perdida, em termos econômicos, para a América Latina), e isso não foi diferente para a cadeia produtiva da carne. Nesse momento, o governo estrangeiro subsidiava a produção de carne para a comunidade econômica europeia, o que tornava mais vantajoso, economicamente, consumir o produto interno do que importar e, com isso, o Brasil perdeu a competitividade de mercado. MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 40 Além dessa medida protecionista, também aumentaram as barreiras tarifárias e não tarifárias (sanitárias) para o mercado brasileiro, o que impactou gravemente o comércio de carnes no Brasil. Com isso, ressurgem práticas inadequadas e a abertura de estabelecimentos clandestinos. A fim de acabar com as barreias não tarifárias impostas para o comércio internacional de carne, o governo começou a elaborar e implantar os planos nacionais de controle e erradicação de doenças. A terceira reforma da legislação de IISPOA, com a promulgação da Lei nº 6.275, 01 de dezembro de 1975, instituiu um RIISPOA específico para pequenas e médias empresas. Porém, isso reforçava ainda mais a heterogeneidade da inspeção industrial e sanitária dos produtos de origem animal no Brasil, além de não ter sido considerado justo pelas indústrias de médio e grande porte, considerando que para pequenas indústrias as normas de inspeção sanitária passaram a ser mais brandas. Além disso, houve o estabelecimento de convênios com estados e municípios para que estes voltassem a realizar as atividades de inspeção industrial e sanitária dos produtos de origem animal no Brasil. Com a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, associada, ainda, a promulgação do Código de Defesa do Consumidor pela Lei nº 8.078, em 11 de setembro de 1990, o qual estabelece que as indústrias são responsáveis por garantir a qualidade de seus produtos até a mesa do consumidor, as empresas tiveram que se reestruturar para conseguir atender melhor o consumidor. Diante disso, estabeleceu-se uma crise no mercado interno e externo, sendo necessário alterar novamente a legislação da IISPOA. MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 41 Nesta mesma década (1980), houve uma popularização dos produtos congelados bem como da sua venda em partes (bandejas), em que a carne era consumida várias vezes por semana. Já na década de 1990, os industrializadostornaram- se mais fortes e os consumidores passaram a ditar as demandas para a indústria que se encontrava em uma necessidade constante de inovar. A quarta reforma da legislação de IISPOA ocorreu com a promulgação da Lei nº 7.889, de 23 de novembro de 1989, que reedita a “Lei Mãe”, com algumas modificações, descentralizando novamente as atividades da inspeção industrial e sanitária dos produtos de origem animal no Brasil, retornando com os níveis federais, estaduais e municipais. Também reedita o RIISPOA, estabelecendo novamente um único regulamento a ser seguido por todas as empresas industrializadoras de produtos de origem animal. Esta é uma das legislações de inspeção mais importantes em vigor atualmente no Brasil. Nos anos 2000, com a consolidação do Plano Real, o poder aquisitivo da população brasileira aumentou, em virtude da estabilização da economia e do controle da inflação. Com isso, houve o aumento do consumo de carnes e derivados cárneos, bem como o desenvolvimento de novos produtos. Tal mudança foi extremamente notória, principalmente em se tratando do consumo de frangos pela população brasileira. Além disso, também ocorreu a abertura do mercado externo com a China e a ocorrência de BSE (Encefalopatia Espongiforme Bovina) na Europa e Canadá, o que aumentou potencialmente as exportações nacionais. A quinta reforma da legislação de IISPOA, com a promulgação da Lei nº 9.712, de 20 de novembro de 1998, regulamentada pelo Decreto nº 5.741, de 30 de setembro de 2006, instituiu e regulamentou o Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (SUASA) (Figura 1.3). MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 42 O SUASA atua na vigilância e defesa sanitária animal e vegetal, inspeção e classificação de produtos de origem animal e vegetal, seus derivados e subprodutos, e fiscalização de insumos e serviços utilizados nas atividades agropecuárias, objetivando fiscalizar a produção, transformação e distribuição dos serviços agropecuários. Figura 1.3. Logo SUASA Fonte: Brasil (2022). As atividades desenvolvidas pelo SISBI-POA incluem a inspeção de produtos de origem animal, sendo organizadas em instâncias governamentais municipais, estaduais e federais. O papel do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) nesse Figura 1.4. Logo SISBI-POA Fonte: Brasil (2017). As atividades de inspeção de produtos de origem animal do SUASA são desenvolvidas pelo SISBI-POA (Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal) (Figura 1.4). cenário é, única e exclusivamente, o de coordenar, ou seja, ele não é o responsável por realizar as atividades desenvolvidas pelo sistema. A adesão ao SISBI é voluntária e é realizada pelo Serviço de Inspeção Municipal e Estadual. Como vantagens à adesão, considerando a equivalência da inspeção, torna-se possível o comércio nacional dos produtos. Porém, para que o município ou o estado consigam a adesão ao SISBI é necessário que eles padronizem as normas de inspeção industrial e sanitária dos produtos de origem animal, iniciando pelas modificações nas suas legislações, com a exigência da implantação de Programas de Autocontrole pelas indústrias, bem como realizar as demais adequações necessárias. MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 43 Dentre os requisitos gerais para adesão ao SISBI pode-se citar: Eficácia e adequação das inspeções e das fiscalizações; Que o pessoal técnico e auxiliar, que efetuam as inspeções e fiscalizações, não tenham nenhum tipo de conflito de interesses; Existência ou acesso a laboratórios, instalações e equipamentos adequados; Poderes legais necessários para as atividades, os controles e as ações de educação sanitária; Ações efetivas de combate a atividades clandestinas. A Instrução Normativa nº 672, de 08 de abril de 2024, estabelece os procedimentos para cadastro e adesão ao SISBI-POA do SUASA. Consulte a LegislaçãoConsulte a Legislação A desvantagem desse sistema consiste em a indústria não poder exportar seus produtos (neste caso é exigido que a indústria seja vinculada ao SIF) e o valor agregado ao produto inspecionado em nível federal ainda ser superior. Atualmente, cerca de 1000 estabelecimentos estão ativos e habilitados no SISBI (novembro/2024) e este número aumentou nos últimos anos, considerando que, em abril de 2022, eram cerca de 600 estabelecimentos cadastrados no SISBI-POA. MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 44 Atualmente, existem 1.146 frigoríficos ativos no Brasil, dos quais 49,9 % estão sob SIM, 33,5 % sob SIE e 16,6 % sob SIF. Apesar de ter o menor percentual de estabelecimentos, frigoríficos sob SIF são responsáveis por 52 % do abate nacional Apesar de, no Brasil, a origem dos animais de abate ser predominantemente de criações a pasto (84,38 %), nota-se uma tendência do emprego do confinamento. Isso porque esse sistema colabora para a melhoria da qualidade da carne (mais macia), diminui o ciclo produtivo (retorno do de bovinos, enquanto os SIE são responsáveis por 15 % e os SIM por 4 %. Entretanto, 28 % do abate de carne bovina no Brasil acontece sem fiscalização, ou seja, é de caráter clandestino. investimento é mais rápido), reduz a idade do animal ao abate (menor risco higiênico-sanitário). Em contrapartida, o custo desse tipo de manejo pode ser mais elevado e o risco de transmissão de enfermidades entre os animais do rebanho também pode ser maior. Atualmente, um novo programa que está surgindo é o SUSAF (Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar de Pequeno Porte). Tal sistema tem como objetivo promover a equivalência entre os serviços de inspeção municipais (SIM) e o estadual, harmonizando os procedimentos de registro, inspeção e fiscalização das agroindústrias de pequeno porte de origem animal nos estados. MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 45 Dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC) de 2022 revelam que o rebanho bovino brasileiro conta com cerca de 200 milhões de cabeças de gado, sendo responsável por 13,66 % da produção mundial Na última década (2010 – 2019), um marco para a cadeia da carne foi a Operação Carne Fraca, que investigou as principais indústrias do ramo, as quais foram acusadas de adulterar a carne que vendiam nos mercados interno e externo, comercializar carne estragada, mudar a data de vencimento, maquiar o aspecto e utilizar produtos químicos para realizar a revenda de carne estragada, além de apontar agentes do governo acusados de compactuar com essas atividades ilegais. de carne, ficando atrás somente dos Estados Unidos. O consumo per capita de carne bovina pelos brasileiros gira na casa dos 35 kg/hab. Atualmente, de acordo com o Relatório Anual mais recente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a produção brasileira de carne suína foi de 4.701 milhões de toneladas, das quais 75,81 % tiveram como destino o mercado interno, o que contribuiu para o consumo per capita dessa proteína de 16,7 kg no ano de 2022. Os 24,19 % da produção que têm como destino o mercado externo colocam o Brasil na posição de quarto maior país exportador de carne suína no mundo. Dados demonstram um aumento do consumo per capita de carne bovina em consonância com o aumento da renda per capita (Figura 1.5). Esse cenário, reforça a necessidade do aumento da produtividade pelo setor, para que seja possível produzir mais carne a partir de um menor número de animais e em menor unidade territorial ocupada. Figura 1.5. Projeção do consumo per capita de carne bovina no Brasil Fonte: UFMG (2021). A sexta reforma da legislação de IISPOA, com a promulgação do Decreto nº 9.013, de 29 de março de 2017, regulamentado pelo Decreto n. 9.069, de 31 de maio de 2017, que reformularam o RIISPOA, ocorreu justamente comouma resposta à deflagração da Operação Carne Fraca no Brasil. MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 46 Atualmente, observa-se uma tendência ainda maior das exportações brasileiras de carne e espera-se a consolidação do SISBI. A figura 1.6 ilustra, esquematicamente, uma linha do tempo, demonstrando as legislações relacionadas à inspeção industrial e sanitária de carnes no Brasil. Figura 1.6. Linha do tempo: legislações relacionadas à inspeção industrial e sanitária de carnes no Brasil Constituiu o Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SIPOA) BR ASI L S.I.F. I N S P E C I O N A D O 0 0 0 M IN IST ÉRIO DA AGRICULTURA DECRETO N. 8.331, DE 31 DE OUTUBRO DE 1910 Regulamenta o comércio nacional e internacional de animais e de produtos de origem animal DECRETO N. 11.460, DE 27 DE JANEIRO DE 1915 Aprovou o regulamento de inspeção de fábricas de produtos animais DECRETO N. 14.711, DE 05 DE MARÇO DE 1921 Continua... Aprovou o novo Regulamento da Inspeção Federal de Carnes e Derivados Instituiu a obrigatoriedade da inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal EM VIGOR Regulamentou o exercício da profissão de médico veterinário no Brasil DECRETO N. 23.554, DE 05 DE DEZEMBRO DE 1933 Proibiu a duplicidade da inspeção e fiscalização DECRETO N. 24.550, DE 03 DE JULHO DE 1934 Aprovou o novo RIISPOA DECRETO N. 30.691, DE 29 DE MARÇO DE 1952 DECRETO N. 23.133, DE 09 DE SETEMBRO DE 1933 Continua... MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 47 LEI N. 1.283, DE 18 DE DEZEMBRO DE 1950 Instituiu a federalização da inspeção Regulamentou a Lei n. 5.760/1971 Regulamentou a profissão de médico veterinário e criou os conselhos regionais e federal DECRETO N. 64.704, DE 17 DE JUNHO DE 1969 Regulamenta a Lei n. 5.517/1968 LEI N. 5.760, DE 03 DE DEZEMBRO DE 1971 EM VIGOR EM VIGOR BR ASI L S.I.F. INSPECIONADO 000 M IN IST ÉRIO DA AGRICULTURA Convênios com estados e municípios para retornar à inspeção de produtos de origem animal LEI N. 6.275, DE 01 DE DEZEMBRO DE 1975 LEI N. 5.517, DE 23 DE OUTUBRO DE 1968 Continua... MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 48 DECRETO N. 73.116, DE 08 DE NOVEMBRO DE 1975 Instituiu o Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (SUASA) Regulamentou o SUASA e o Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SISBI-POA) EM VIGOR Descentralizou a inspeção LEI N. 8.078, DE 11 DE SETEMBRO DE 1990 Criou o Código de Defesa do Consumidor Novo RIISPOA DECRETO N. 9.013, DE 29 DE MARÇO DE 2017 LEI N. 7.889, DE 23 DE NOVEMBRO DE 1989 EM VIGOR EM VIGOR EM VIGOR EM VIGOR LEI N. 9.712, DE 20 DE NOVEMBRO DE 1998 Continua... MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 49 DECRETO N. 5.741, DE 30 DE MARÇO DE 2006 Regulamenta a inspeção de produtos artesanais Aprova o Manual do Selo ARTE Modifica o RIISPOA LEI N. 13.680, DE 14 DE JUNHO DE 2018 Estabelece o processo de inspeção de produtos de origem animal produzidos de forma artesanal DECRETO N. 9.918, DE 18 DE JULHO DE 2019 EM VIGOR EM VIGOR Requisitos para a concessão do Selo ARTE INSTRUÇÃO NORMATIVA N. 28, DE 23 DE JULHO DE 2019 EM VIGOR EM VIGOR INSTRUÇÃO NORMATIVA N. 67, DE 10 DE DEZEMBRO DE 2019 DECRETO 9.069, DE 31 DE MAIO DE 2017 Continua... MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 50 Concessão do Selo ARTE para pescado artesanal EM VIGOR Atualização do RIISPOA INSTRUÇÃO NORMATIVA N. 61, DE 16 DE NOVEMBRO DE 2020 Concessão do selo ARTE para produtos cárneos artesanais EM VIGOR EM VIGOR Dispõe sobre a elaboração e comercialização de produtos de origem animal artesanais EM VIGOR PORTARIA Nº 289, DE 13 DE SETEMBRO DE 2021 Concessão do selo ARTE para produtos de abelhas e seus derivados EM VIGOR DECRETO N. 10.468, DE 18 DE AGOSTO DE 2020 PORTARIA N. 176, DE 16 DE JUNHO DE 2021 MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 51 Fonte: Dos autores (2022). DECRETO N. 11.099, DE 21 DE JUNHO DE 2022 MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 52 Em princípio, a Lei nº 13.680, de 14 de junho de 2018, não definia o que era caracterizado um produto artesanal, bem como quais tipos de produtos estariam enquadrados nessa legislação, nem a cargo de qual órgão estaria a inspeção sanitária desses produtos, apenas informava que essa seria de caráter orientador, em órgãos de saúde dos estados e Produtos artesanaisProdutos artesanais dos distritos, mas não dizia como a inspeção seria realizada, e muito menos garantia a qualidade a segurança do produto que seria comercializado. Ou seja, basicamente, o produto deve ter matéria-prima animal beneficiada na propriedade, com adoção de técnicas e utensílios predominantemente manuais na sua produção, adotando boas práticas de fabricação e boas práticas agropecuárias, com fabricação individualizada e genuína, em que o emprego de ingredientes industrializados é restrito ao mínimo necessário, respeitando a receita tradicional. A Instrução Normativa n. 28, de 17 de julho de 2019 estabelecida pelo MAPA, instituiu o manual selo arte, que é uma identificação específica para os produtos ditos artesanais, devendo conter nos seus rótulos o selo que o identifica como produto artesanal (Figura 1.6). Este selo é Fonte: CECOM SP (2022). Figura 1.6. Selo ARTE concedido pelo Estados e Distrito Federal, que reconhecem e caracterizam o tipo de produto alimentício artesanal conforme características de identidade e qualidade específica e o seu processo produtivo tipicamente artesanal. Tal concessão é regulamentada pela Instrução Normativa n. 67 de 10 de dezembro de 2019 estabelecida pelo MAPA. MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 53 Outras legislações relacionadas à produção e comercialização de produtos artesanais já foram criadas e estão em vigor no Brasil, são elas: Instrução Normativa nº 61 de 10 de novembro de 2020 – MAPA: produtos cárneos artesanais; A Instrução Normativa nº 176 de 16 de junho de 2021 – MAPA: pescado artesanal; Portaria nº 289 de 13 de setembro de 2021 – MAPA: produtos das abelhas artesanais. Atualmente (novembro/2024), os dados do Cadastro Nacional de Produtos Artesanais (CNPA) do MAPA demonstram que já foram emitidos 1380 selos para produtos artesanais no Brasil (aproximadamente 24 % de produtos cárneos), os quais foram concedidos em 17 estados diferentes e em sua maioria por SIM. O Decreto n. 11.099, de 21 de junho de 2022 (MAPA), regulamenta a Lei n. 1.283/1950 (MAPA) e a Lei n. 13.860/2019 (MAPA) e, além disso revogou o Decreto n. 9.918, de 18 de julho de 2019, dispondo sobre a elaboração e a comercialização de produtos alimentícios de origem animal produzidos de forma artesanal. Tal legislação determina as competências do Ministério da Agricultura e Pecuária, os requisitos para obtenção do selo Arte bem como confere a responsabilidade da garantia da identidade, qualidade e segurança sanitária do alimento ao produtor artesanal. Leitura ComplementarLeitura Complementar MACHADO, R. A.; MARICATO, E. Adesão ao Selo ARTE para formalização da produção e comércio de produtos lácteos artesanai. In: COSTA, A. C. M. S. F.; et al. (org.). Internacional Saúde Única (Interface mundial), 6. ed. Recife: Even3 Publicações, 2023, cap. 108, p.1244-1251. Caros alunos, Encerramos o conteúdo de Introdução à Inspeção e Tecnologia de Carnes. O Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) dessa disciplina está repleto de materiais para auxiliá-lo no aprofundamento dos seus estudos e você pode acessar a Plataformade EAD da UFJF pelo link https://ead.ufjf.br/. Não deixe de conferir! MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 54 Os exercícios de fixação são uma excelente forma de verificar se você está assimilando corretamente o conteúdo abordado em aula. As questões são de múltipla escolha e versam sobre o tema: Introdução à Inspeção e Tecnologia de Carnes. O formulário só poderá ser respondido uma única vez, portanto, tenha atenção durante a execução da atividade. Após a finalização do questionário você contará com feedbacks orientativos que poderão ajuda-lo no momento do estudo. Exercícios de FixaçãoExercícios de Fixação MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 55 ABIEC - Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne. Beef Report 2022. 2022. Disponível em: https://www.abiec.com.br/publicacoes/beef-report-2022/. Acesso em: 27 fev. 2023. ABPA - Associação Brasileira de Proteína Animal. Relatório Anual 2021. 2021. Disponível em: https://abpa- br.org/wp-content/uploads/2021/04/ABPA_Relatorio_Anual_2021_web.pdf. Acesso em: 10 abr. 2022. BRASIL. Ministerio da Agricultura, industria e Commercio. Decreto n. 8.331, de 31 de outubro de 1910. E' creado o Serviço de Veterinaria, de accôrdo com o regulamento que com este baixa. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Rio de Janeiro, 04 nov. 1910. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1910-1919/decreto-8331-31-outubro-1910-513220- publicacaooriginal-1- pe.html#:~:text=Fica%20prohibida%20a%20exporta%C3%A7%C3%A3o%20de,contagiosas%20e%20dos%20respe ctivos%20productos.&text=Art.,-22.. Acesso em: 10 abr. 2022. BRASIL. Ministerio da Agricultura, Industria e Commercio. Decreto n. 11.460, de 27 de janeiro de 1915. Reorganiza a Directoria do Serviço de Veterinaria, a cargo do Ministerio da Agricultura, Industria e Commercio, dando-lhe nova denominação, approva o regulamento respectivo. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Rio de Janeiro, 31 jan. 1915. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1910-1919/decreto-11460- 27-janeiro-1915-521782-republicacao-97700-pe.html. Acesso em: 10 abr. 2022. BRASIL. Presidência da República. Decreto n. 14.711, de 05 de março de 1921. Dá novo regulamento ao Serviço de Industria Pastoril. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Rio de Janeiro, 16 abr. 1921. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1920-1929/decreto-14711-5-marco-1921-517494- republicacao-92299-pe.html. Acesso em: 10 abr. 2022. BRASIL. Chefe do Govêrno Provisório. Decreto n. 23.133, de 09 de setembro de 1933. Regula o exercício da profissão veterinária no Brasil e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Rio de Janeiro, 18 de set. 1933. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto- 23133-9-setembro-1933-515793-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 10 abr. 2022. BRASIL. Poder Executivo. Decreto n. 23.554, de 05 de dezembro de 1933. Proíbe a duplicidade de fiscalização sanitária nos estabelecimentos que preparam, manipulam, elaboram ou industrializam produtos de origem animal para comércio internacional e interestadual. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil,: Rio de Janeiro, 09 dez. 1933. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-23554-5- dezembro-1933-530714-norma-pe.html. Acesso em: 10 abr. 2022. BRASIL. Chefe do Govêrno Provisório. Decreto n. 24.550, de 03 de julho de 1934. Aprova o Regulamento da Inspeção Federal de Carnes e Derivados. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Rio de Janeiro, 11 jul. 1934. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-24550-3-julho-1934- 521776-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 10 abr. 2022. BRASIL. Casa Civil. Lei n. 1.283, de 18 de dezembro de 1950. Dispõe sôbre a inspeção industrial e sanitária dos produtos de origem animal. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Rio de Janeiro, 19 dez. 1950. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l1283.htm. Acesso em: 10 abr. 2022. BRASIL. Casa Civil. Decreto n. 30.691, de 29 de março de 1952. Aprova o novo Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Rio de Janeiro, 07 jul. 1952. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1950-1969/d30691.htm. Acesso em: 10 abr. 2022. BRASIL. Casa Civil. Lei n. 5.517, de 23 de outubro de 1968. Dispõe sôbre o exercício da profissão de médico- veterinário e cria os Conselhos Federal e Regionais de Medicina Veterinária. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 25 out. 1968. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5517.htm. Acesso em: 10 abr. 2022. BRASIL. Casa Civil. Decreto n. 64.704, de 17 de junho de 1969. Aprova o Regulamento do exercício da profissão de médico-veterinário e dos Conselhos de Medicina Veterinária. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 19 jun. 1969. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/antigos/d64704.htm#:~:text=DECRETO%20N%C2%BA%2064.704%2C %20DE%2017,dos%20Conselhos%20de%20Medicina%20Veterin%C3%A1ria.. Acesso em: 10 abr. 2022. ReferênciasReferências MÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNESMÓDULO 01 | INTRODUÇÃO À INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES 56 BRASIL. Casa Civil. Lei n. 5.760, de 03 de dezembro de 1971. Dispõe sôbre a inspeção sanitária e industrial dos produtos de origem animal e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 07 dez. 1971. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1970- 1979/l5760.htm#:~:text=LEI%20N%C2%BA%205.760%2C%20DE%203%20DE%20DEZEMBRO%20DE%201971&te xt=Disp%C3%B5e%20s%C3%B4bre%20a%20inspe%C3%A7%C3%A3o%20sanit%C3%A1ria,animal%20e%20d%C3 %A1%20outras%20provid%C3%AAncias.. Acesso em: 10 abr. 2022. BRASIL. Casa Civil. Lei n. 6.275, de 01 de dezembro de 1975. Acrescenta parágrafo único ao artigo 3º da Lei número 5.760, de 3 de dezembro de 1971, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 05 dez. 1975. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1970- 1979/l6275.htm#:~:text=interestadual%20e%20internacional%E2%80%9D.-,Art.,necess%C3%A1rias%20ao%20fun cionamento%20das%20empresas.. Acesso em: 10 abr. 2022. BRASIL. Casa Civil. Lei n. 7.889, de 23 de novembro de 1989. Dispõe sobre inspeção sanitária e industrial dos produtos de origem animal, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 24 nov. 1989. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7889.htm. Acesso em: 10 abr. 2022. BRASIL. Casa Civil. Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 12 set. 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm. Acesso em: 10 abr. 2022. BRASIL. Casa Civil. Lei n. 9.712, de 20 de novembro de 1998. Altera a Lei no 8.171, de 17 de janeiro de 1991, acrescentando-lhe dispositivos referentes à defesa agropecuária. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 23 nov. 1998. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9712.htm. Acesso em: 10 abr. 2022. BRASIL. Casa Civil. Decreto n. 5.741, de 30 de março de 2006. Regulamenta os arts. 27-A, 28-A e 29-A da Lei no 8.171, de 17 de janeiro de 1991, organiza o Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: Brasília - DF, 31 de mar. 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/decreto/d5741.htm. Acesso em: 10 abr. 2022. BRASIL. Ministério da Agricultura,